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sociedade

reportagem

Há que combater o estigma da obesidade A obesidade é uma doença que vai para além do excesso de peso. Lélita Santos, coordenadora da Unidade Nutrição e Dietética dos HUC, lembra que "o mais importante é a composição corporal do indivíduo". Isto porque a obesidade, definida pela OMS, é o excesso de gordura. Assim, "interessa-nos saber o tipo de obesidade e a distribuição da gordura", revela. "Uma pessoa que seja obesa e tenha o depósito de gordura a nível central, tem uma maior propensão para as lesões vasculares. Até pode não ser mais pesada do que outra pessoa – com uma distribuição mais periférica - mas é uma situação mais grave", acrecenta. Os problemas de saúde inerentes à obesidade são a diabetes e a hipertensão, bem como a propensão para enfartes e acidentes vasculares cerebrais. Quando a obesidade é mais periférica – em particular nas mulheres, na zona das ancas – existem patologias mecânicas, como as artroses. No entanto, há outro problema: as doenças do sono. "Hoje está comprovado que as pessoas com obesidade central têm uma predisposição para patologia do sono: desde alterações do sono até apneias

gravíssimas", sublinha Lélita Santos. Nos HUC existem consultas dedicadas para tratamento da obesidade. "É feita uma análise da distribuição de gordura corporal, bem como um historial dos alimentos que o doente costuma consumir e a evolução do peso do indivíduo desde que nasceu", conta a responsável. Depois começa-se o tratamento, que é "dietético e implica uma mudança de estilo de vida". Orientado "por um nutricionista que modula os hábitos, o doente reduz um bocadinho a dieta. Não pomos metas, só dizemos que tem de ir diminuindo devagar, mas bem", completa. Quase nunca se aplicam tratamentos farmacológicos, pois não existem quase nenhuns medicamentos que inibam o apetite como deve ser. "Quando a situação é muito grave, podemos, em última instância, partir para a cirurgia bariátrica", conclui. Para Lélita Santos, o importante para prevenir e tratar o problema é fazer-se uma alimentação saudável, criar-se um hábito. "Perder peso, mais do que sacrifícios, implica disciplina". Confrontada com a popularidade de um programa de televisão que foca a questão da perda

de peso, Lélita Santos considera-o contraproducente. "Aqueles tipos de programa são péssimos, até para educar os obesos. As pessoas são humilhadas, não são tratados como doentes", refere a médica, sublinhando que a obesidade é uma doença crónica e os doentes merecem sempre muito respeito. "O imenso esforço que essas pessoas fazem não traz nenhuma vantagem, porque não há nenhuma educação alimentar". E, para o público em geral, acaba por ser ainda mais estigmatizante. "A obesidade já é estigmatizada e não o devia ser porque é uma doença. Os obesos ficam muito mais estigmatizados, não concordo nada. Acho que é péssimo e contraproducente", completa. A opinião é a mesma em relação a dietas e programas alimentares que surgem em força nesta altura do ano. "Muitas dessas dietas que andam por aí fazem perder peso, mas à custa de massa muscular – é pior a emenda que o soneto, que leva a obesidade ioiô", defende. "Até se pode perder 20 quilos, mas não vai fazer isso toda a vida e, inexoravelmente, volta a recuperá-los. Volta a fazer o mesmo, não foi educado", explica.

erros alimentares mais comuns Os erros alimentares são muitos e variam de pessoa para pessoa. Mélanie Coelho, nutricionista, aponta os mais comuns: Começar o dia sem tomar pequeno-almoço. É fundamental tomar o pequeno-almoço, porque o nosso corpo já esteve muito tempo sem comer e necessita da energia dos alimentos para recuperar e para se preparar para o dia que se segue. Comer em grandes quantidades e poucas vezes ao dia. Quando se come poucas vezes ao dia, a consequência mais natural é que se vá comer mais de cada uma dessas vezes e, além disso, que vá comer pior – alimentos mais calóricos e menos saciantes. Saltar refeições. O que a acontece quando salta uma refeição é que fica com mais fome e depois tem menos cuidado com o que escolhe para comer e além disso come mais, mais

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depressa e pior. Temos que comer para não ter fome, pois quando temos fome, por norma devoramos tudo o que se vê à frente. O pequeno-almoço, o almoço e o jantar são refeições fundamentais e devem ser respeitadas. Não ter horários para as refeições O ritmo frenético, o stresse, as correrias ou o excesso de trabalho fazem com que não se consigam estabelecer horários certos para as refeições. É um erro, porque o nosso organismo, tal como nós, também precisa de regras. Fazer do jantar a refeição mais importante e completa Depois de um dia de trabalho, onde provavelmente se comeu pouco e a correr, sabe muito bem sentar a uma mesa farta e comer e beber tudo aquilo que nos dá prazer. O jantar, para quem não trabalha pela noite dentro, é a refeição que antecede muitas horas de repouso do corpo, e em repouso o corpo precisa de poucas calorias para desempenhar as funções que ficarão activas.


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