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PALAVRA DO CONSELHO DIRETOR

Dinamismo e grandes mudanças científicas e tecnológicas

A biologia, nossa ciência-mãe, tem passado por uma revolução quase sem precedentes na história do conhecimento humano. Nunca tivemos uma compreensão tão profunda dos mecanismos e estruturas essenciais da vida; indo além, somos hoje capazes de visualizá-los, manipulá-los e alterá-los com precisão sem precedentes. As consequências disso são tão deslumbrantes quanto assustadoras. Como ocorreu diversas vezes ao longo da história da civilização humana, desenvolvemos um ferramental cuja utilização racional necessitará de um novo nível de discernimento.

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Talvez a grande mudança que mais se assemelhe a essa revolução, ora em curso, seja o que aconteceu com a física na virada do século XIX para o XX: o desenvolvimento da teoria quântica. Grandes nomes como Planck, Bohr, Einstein, Fermi, Dirac, Pauling, Heisenberg, De Broglie, Schrödinger e Born, entre outros, abriram caminho para um mundo até então inimaginável. Se por um lado parecia quase absurda por contrariar o realismo dominante na época, a teoria quântica permitiu a elucidação de fenômenos naturais, como a fotossíntese, e o estabelecimento de um novo modelo atômico. Seu mais impactante desdobramento, entretanto, foi possibilitar o nascimento de um novo ramo da física: a eletrônica.

A revolução biológica acontece a olhos vistos e nos toca de maneira ainda mais direta do que as que a precederam. Além de seu caráter transformador, a velocidade com que seus resultados se tornam disponíveis amplifica ainda mais seu impacto na sociedade. Vivemos hoje um exemplo evidente disso: a resposta da ciência à Covid-19. Nunca um agente patogênico foi estudado de maneira tão

completa e em tão pouco tempo. Nunca se respondeu de forma tão célere e eficaz a uma pandemia. A despeito de eventuais imperfeições e de dúvidas ainda não elucidadas, a ciência pôs em prática grande parte de seu novo arsenal. Entretanto, muito mais ainda está por vir.

Grandes mudanças na ciência e na tecnologia têm acontecido graças à aproximação de disciplinas normalmente distantes entre si. Quando, no fim da década de 1970, um médico e um engenheiro nos EUA decidiram juntar esforços e pensar fora da caixa, surgiu a ultrassonografia com Doppler, que causou uma profunda transformação na medicina diagnóstica. Não é à toa que a tecnologia por trás da biologia molecular é conhecida como “engenharia genética”: a manipulação do DNA para se alterar a estrutura, atividade e função de proteínas passou a ser tratada de forma interdisciplinar, abrindo caminho para novas possibilidades até então inimagináveis. As novas técnicas de sequenciamento genético, que constituem parte essencial dessa revolução biológica, só se tornaram possíveis graças à convergência da biologia com disciplinas tecnológicas. Além disso, sua prática cotidiana depende, fundamentalmente, de outro exemplo de convergência, a bioinformática.

Todos nós temos que estar preparados para essas mudanças, quer sejamos atores diretos, quer sejamos meros observadores. A relativa facilidade de utilização de algumas das técnicas envolvidas, bem como seu fácil acesso, pode fazer com que aspectos éticos sejam negligenciados. Consequências em médio e longo prazo, além de efeitos indiretos, devem ser consideradas. Por outro lado, há que se atentar para os benefícios a despeito do caráter preponderantemente disruptivo de novas práticas. Não é suficiente revolucionar a ciência: temos que fazer com que essa revolução chegue até o cidadão comum.

Nós, da Feluma, estamos empenhados em participar ativamente desse processo. O Instituto de Inovação e Incorporação Tecnológica Ciências Médicas, o mais novo integrante do sistema Feluma, tem gerado resultados importantes em seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento, notadamente por meio de suas plataformas tecnológicas de diagnóstico molecular in vitro e de redes neurais artificiais aplicadas à análise e classificação de imagens microscópicas. Nossas atividades estão fortemente voltadas à translação para a prática médica e são realizadas em colaboração estreita com os demais Institutos. Estamos confiantes de que, assim como já ocorre em outras tantas frentes, a Feluma terá o destaque que merece também na pesquisa de ponta, sempre no intuito de trazer benefícios diretos à sociedade.

Hércules Pereira Neves, Ph.D.

Coordenador Científico do Instituto de Inovação eIncorporação Tecnológica Ciências Médicas