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Palavra do Conselho Diretor

Jamais o narcisismo irá apagar a História da Ciências Médicas

A Ciências Médicas começou como um sonho, um ideal.

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Vários idealistas da Corporação de Médicos Católicos sonharam juntos com Dom Antônio dos Santos Cabral, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, para criar uma Faculdade de Medicina, que seria o embrião da Universidade Católica de Minas Gerais. O sonho foi se transformando em realidade com a integração de luminares da Medicina Mineira, constituindo-se assim o grupo de fundadores e o primeiro corpo docente da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais por idealistas e sonhadores, que doaram seu conhecimento e “expertise” para o sucesso da empreitada.

Seguiu-se um período de muitas dificuldades para a construção da estrutura física da Faculdade, que iniciou suas atividades em uma sede provisória cedida pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte até que fosse construída sua sede definitiva na Alameda Ezequiel Dias, onde se encontra até hoje. Nesse período, os idealistas e muitos outros sonhadores, que passaram a integrar o corpo docente, doaram o seu trabalho e seus salários para garantir a sobrevivência da instituição.

Um sério imprevisto ocorreu quando os alicerces do novo prédio começaram a ceder, sendo necessário reforçar a estrutura, o que demandou muitos investimentos inesperados. Porém, em meio a obras e andaimes, a Ciências Médicas nunca deixou de funcionar, destacando-se nesse período a liderança do professor Elias Murad e a dedicação do corpo docente.

No final dos anos 1980, a redemocratização do Brasil, a nova Constituição Brasileira e a criação do Sistema Único de Saúde tornaram indispensável adequar a Faculdade à nova realidade. Iniciou-se então um processo de profunda reforma curricular que teve dois pilares fundamentais: a Integração Docente-assistencial e a profissionalização do corpo docente. áreas básicas da formação médica junto aos programas de Saúde Coletiva. O currículo passou a incluir atendimento ambulatorial, desde o primeiro ano do curso (Medicina Social e Psicologia), o Internato Rural, o Internato em Medicina de Urgência, e o Internato Metropolitano na periferia de Belo Horizonte.

Vieram então o Ambulatório Central, os ambulatórios na periferia, em convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte, os convênios com a FHEMIG para o Internato de Medicina de Urgência no Hospital de Pronto Socorro João XXIII e o Centro Geral de Pediatria e a Maternidade Odete Valadares para os estágios de Pediatria e Obstetrícia.

Para o Internato Rural, foram realizados convênios com várias prefeituras do interior de Minas Gerais e dois hospitais de referência para o Internato Rural em Moema e Santo Antônio do Amparo. Nesses hospitais, foi criada a primeira residência médica em Medicina Geral e Comunitária do Brasil, preparando profissionais para exercer a Saúde da Família.

Em resposta a essas necessidades, a Faculdade Ciências Médicas - MG foi pioneira para implantação do Programa de Saúde da Família e dos Consórcios Intermunicipais de Saúde em Minas Gerais e no Brasil.

Para dar suporte a toda essa revolução curricular, não faltaram investimentos em infraestrutura: nova biblioteca, novos laboratórios, elevadores, cantina, biotério, Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Acompanhando as reformas do curso de Medicina, foram reformulados os cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, com a construção de ambulatórios, introdução dos estágios e do Internato Rural também para alunos desses cursos.

O segundo pilar da reforma, a profissionalização do corpo docente, contemplou as alterações de carga horária, estabelecendo os regimes de 10, 20 e 40 horas semanais para substituir gradativamente os professores horistas, com remuneração condigna, incentivando a titulação acadêmica de mestres e doutores com o correspondente adicional de salário e a realização de concursos para admissão de professores e para

professores titulares. Foram esses os primeiros passos para a instituição da carreira de magistério.

Coroando todo esse processo de renovação, profissionalização e adequação à realidade brasileira iniciado em 1988, dois anos após, em 1990, a Faculdade recebeu em comodato por 30 anos com o Governo do Estado de Minas Gerais o Hospital São José, desativado há mais de uma década.

No entanto, o que era uma “joia” para a Instituição tornou-se um desafio gigantesco, pois foi preciso montar e equipar todo o hospital: enfermarias (250 leitos), bloco cirúrgico, CTI , serviços de imagem e endoscopia, pronto-socorro, laboratórios e equipes multiprofissionais (médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, nutricionistas, assistente social e funcionários) somando mais de 800 colaboradores para oferecer atendimento de qualidade científica e humana para os nossos pacientes.

Tudo pronto, com investimentos que endividaram a Instituição, à custa de aval pessoal dos seus diretores, inclusive envolvendo seus familiares, fomos atingidos pela implantação do Plano Real com uma medida injusta e inesperada, que foi a correção das tabelas de remuneração dos procedimentos do SUS, com redução de 30% na conversão da Unidade Real de Valor (URV) para o Real.

Graças às reformas didáticas e curriculares e ao seu incontestável compromisso social, aliados à profissionalização da gestão da Feluma, em que se destacam o professor Wagner Eduardo Ferreira - Presidente e o Superintendente Geral Flávio Amaral, a Faculdade superou todas as dificuldades: criou novos cursos (Psicologia e Enfermagem), recebeu nota máxima (5) na avaliação do Ministério da Educação e Cultura com autorização para 400 vagas/ano no curso de Medicina, e ampliou o Instituto de Pós-graduação para mais de 4 mil alunos, incluindo o curso de mestrado “strictu sensu” e o curso de pós-graduação em Odontologia.

Mantendo sua tradição de pioneirismo, a Ciências Médicas abriga um dos melhores laboratórios de Simulação Realística da América Latina. E, desde 2016, introduziu, em Minas, um dos maiores avanços tecnológicos da Medicina moderna, que é a Cirurgia Robótica. Em pouco mais de quatro anos, o Instituto de Cirurgia Robótica treinou mais de 50 cirurgiões nas áreas de Cirurgia Gastroenterológica, Coloproctologia, Urologia, Ginecologia e Cirurgia Torácica, e realizou mais de 2 mil cirurgias. Para dar suporte a tantos avanços, novos cursos e aumento de vagas, grandes investimentos em infraestrutura foram realizados, com novos ambulatórios, nova biblioteca, editora Ciências Médicas, auditório e teatro.

Esta sinopse se fez necessária para corrigir uma lacuna imperdoável de relatos que pretenderam marcar como obscuro o período de 15 anos em que muitas mudanças institucionais foram implementadas à custa de muita dedicação e sacrifício dos gestores da época, que lançaram as bases para o florescer da Faculdade.

Falou-se até em omissão e corrupção e de tentativas de correção de rumos movidas por interesses próprios, sem competência e sem respeito, pechas que jamais podem ser atribuídas aos dirigentes da Fundação, como Ludércio Rocha de Oliveira e os saudosos e dignos professores Mahrdas Salvador Nankran e Cláudio Almeida de Oliveira.

Que Narciso olhe-se no espelho, recolha-se em seu casulo de vaidades e respeite a História da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.

EM TEMPO: HOMENAGEM ÀS DIRETORIAS DO PERÍODO 1987-1999

FELUMA

1988/1989 | Presidente: Ludércio Rocha de Oliveira

1990/1995 | Presidente: Mahrdas Salvador Nankran

1996/1999 | Presidente: Cláudio Almeida de Oliveira

Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

1987/1991 | Diretor: José Rafael Guerra Pinto Coelho 1º Vice-diretor: Adilson Savi 2º Vice-diretor: Ajax Gonçalves Ribeiro

1991/1995 | Diretor: José Rafael Guerra Pinto Coelho 1º Vice-diretor: Adilson Savi 2º Vice-diretor: Marcelo Miranda e Silva

1995/1999 | Diretor: Adilson Savi 1º Vice-diretor: Marcelo Miranda e Silva 2º Vice-diretor: Lucas Monteiro Machado Neto

José Rafael Guerra Pinto Coelho

Cirurgião Geral, Ex-diretor da Faculdade Ciências Médicas – MG (1987 – 1991 / 1991 – 1995), Ex-diretor do Instituto de Cirurgia Robótica Ciências Médicas – MG (2016 – 2018) e Ex-coordenador da disciplina optativa de Cirurgia Robótica da Faculdade Ciências Médicas – MG.

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