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Body-Positivity and Body
Mundo de Todos
Nós e o Espelho:
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Body Positivity e Body Neutrality
Maria Nunes Gomes, 4.º ano Os ideais de beleza inalcançáveis foram talhados desde muito cedo na história da humanidade, variando entre gerações e culturas. Com as redes sociais, essas mesmas aspirações de beleza são constantemente divulgadas. O endeusamento das mais notórias personalidades leva-nos a tentar replicar as suas aparências e, com tudo isto, fica o onírico exterior, o impalpável visual e a inevitável objetivação do corpo, especialmente o da mulher. Numa tentativa de quebrar este ciclo e construir resiliência em relação à imagem corporal, formaram-se diversas ações coletivas e dinâmicas que importam destacar.
Body positivity é um movimento social que afirma que todas as pessoas merecem ter uma imagem corporal positiva de si mesmas, pretendendo: desafiar a visão da sociedade em relação ao corpo; promover a aceitação de todos os corpos; fomentar a autoconfiança, autoaceitação e contestar os padrões corporais irrealistas.
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Contudo, este movimento não se limita à celebração de todos os tipos de corpo. Reconhece que a maioria dos juízos de valor se baseiam em fatores como sexo, raça, sexualidade e incapacidades. Teve início há algumas décadas e, originalmente, focava-se em exclusivo na aceitação da gordura corporal. Foi em 2012 que transitou da “aceitação do peso” para “todos os corpos são bonitos”. A conexão entre “como nos vemos” e “como nos sentimos” é inevitável. Vários estudos sugerem que ter uma imagem corporal negativa de si próprio, aumenta o risco de desenvolver patologias psiquiátricas, como depressão e distúrbios alimentares. O movimento “positividade corporal” procura ajudar-nos a reconhecer o que influencia a forma como vemos o corpo. Contudo, foi alvo de várias críticas, devido a: não incluir a comunidade negra e LGBTQ+, que foram fulcrais na sua expansão, perpetuando-se assim o conceito eurocêntrico de beleza; o foco do movimento tender para a imagem corporal, negligenciando os outros elementos que compõem a nossa identidade. Diversos estudos mostram que esta autoobjetificação é frequente no sexo feminino (embora progressivamente crescente nos homens) e limita a performance praticamente em todas as áreas, desde modalidades desportivas a exames cognitivos; empresas fazem campanhas dietéticas, autointitulando-se Body Positive sem o realmente ser e destroem o conceito para benefício próprio; o movimento não é uma solução transversal. A sociedade afirmar que todos somos imperfeitos mas, ao mesmo tempo, dita que devemos ter uma atitude positiva em relação a isso, o que gera ansiedade. Algumas investigações feitas neste sentido mostram que, quando pessoas com baixa autoestima repetem afirmações positivas nas quais, na realidade, não acreditam, ocorre um efeito rebound e acabam por agravar o seu estado inicial. Para ultrapassar estes problemas, é necessário redefinir não só o conceito de beleza,

mas também o de saúde. Este último deverá ser independente do primeiro, para que joguem a nosso favor e não nos impeçam de progredir. Nasceu, assim, uma nova abordagem: Body Neutrality, na qual adorar todo o corpo deixa de ser condição obrigatória. Podemos ser neutros ou indiferentes a ele, pois o nosso valor não se mede pelo nosso aspeto. Ao invés de destacar a valorização e a beleza de todos os tipos de corpo, body neutrality dedica-se à valorização da Pessoa. Apesar de reconhecer a correlação entre a imagem corporal e autoperceção, salienta que estas não são tudo na vida. O movimento Body Neutrality requer um esforço prolongado e contínuo, mas a meta passa por eliminar os padrões de pensamento negativo. Juntamente, enfatiza o corpo como um instrumento para nosso uso e intransmissível, independentemente da sua aparência. Pretende atingir um estado de autossatisfação e gratidão que permita dar ao nosso organismo aquilo que realmente necessita, promovendo o seu bom funcionamento e longevidade. “É desafiante, mas libertador”, afirmam os seus defensores. Não existem regras no que diz respeito à imagem corporal, nem atalhos fáceis para obtermos a tão desejada tranquilidade e estabilidade com o nosso corpo. É um trabalho mutável, para praticar ao longo de toda a vida, em parceria com os outros e, acima de tudo, connosco próprios.
