Travessia nº80 - Setembro de 2025

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Águas do Velho Chico chegam ao Rio Grande do Norte

Gestão 2021-2025: coordenadores das CCRs fazem balanço

Entenda a importância da Caatinga. Leia a entrevista com o agrônomo Aldrin Perez

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Avanços, Parcerias e Compromisso com o Futuro da Bacia

Nos últimos meses, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) tem intensificado suas ações para fortalecer a gestão participativa da água e promover impactos positivos para as comunidades da Bacia. A participação do Comitê no 26° ENCOB – Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, em Vitória (ES), reafirma nosso compromisso com a integração e a troca de experiências entre comitês, gestores, sociedade civil e academia, fortalecendo políticas públicas voltadas à segurança hídrica e à resiliência dos territórios.

Seguindo esse propósito, avançamos nas articulações para viabilizar a construção da Estação de Tratamento de Esgoto em Passa Tempo (MG). Em reunião com autoridades estaduais e municipais, reforçamos a importância da união entre os parceiros para garantir saneamento de qualidade à população local, preservando os rios e garantindo saúde e dignidade às comunidades.

Outro marco recente foi a chegada das águas do Rio São Francisco ao Rio Grande do Norte, um momento histórico que beneficiará milhões de pessoas e evidencia o papel estratégico do PISF. Estivemos presentes para acompanhar o evento, reforçando a importância da revitalização da bacia doadora e da gestão eficiente dessas águas, garantindo que os municípios que dependem do Velho Chico continuem a ter acesso seguro e sustentável à água.

No âmbito interno, a gestão das Câmaras Consultivas Regionais – 2021 a 2025 mostra resultados consistentes em projetos de saneamento, abastecimento, recuperação ambiental e educação ambiental. Cada região da bacia avançou em programas que fortalecem a participação das comunidades e a eficiência das políticas hídricas, consolidando um legado de integração e cooperação entre os membros do Comitê.

Também celebramos conquistas concretas junto às comunidades. A entrega do sistema de esgotamento sanitário rural em Mata do Milho, João Dourado (BA), beneficiando centenas de famílias, reforça nossa missão de promover saneamento sustentável em

áreas rurais, garantindo qualidade de vida e proteção ambiental. Paralelamente, investimos na requalificação da Central de Triagem e da Unidade de Transbordo de Propriá (SE), modernizando a coleta e a reciclagem de resíduos sólidos e fortalecendo a economia local e a gestão ambiental da região do Baixo São Francisco.

Nosso compromisso também se reflete na promoção do conhecimento científico. A entrevista com o Dr. Aldrin Perez, do Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), destacou a importância da Caatinga como ativo estratégico para a mitigação das mudanças climáticas, preservação da biodiversidade e promoção de práticas sustentáveis, lembrando que a água, o solo e a vegetação são elementos indissociáveis na construção de um futuro mais resiliente.

Cada ação, cada projeto e cada parceria reafirma o propósito do CBHSF: proteger, gerir e revitalizar o Rio São Francisco, garantindo água em quantidade e qualidade para esta e para as próximas gerações. O trabalho que realizamos, em diálogo constante com comunidades, comitês afluentes, órgãos públicos e parceiros, mostra que a gestão participativa é a ferramenta mais eficiente para enfrentar os desafios ambientais e sociais da bacia.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) marcará presença no 26° Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (ENCOB), de 8 a 13 de setembro de 2025, em Vitória (ES).

Com o tema “Emergência Climática: Povos

e Territórios – Água é o que nos une”, o evento reunirá gestores, usuários da água, sociedade civil e academia para discutir os desafios da crise hídrica e fortalecer a governança das águas.

Hidrográfica do Rio São Francisco

O CBHSF terá um estande compartilhado com os Comitês do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba, mostrando a integração das bacias e o compromisso com políticas públicas que promovam segurança hídrica, inclusão social e resiliência territorial.

Maciel Oliveira Presidente do Comitê da Bacia

CBHSF REFORÇA ARTICULAÇÃO PARA VIABILIZAR ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO EM PASSA TEMPO

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), representado pelo coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, participou de uma reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para avançar nas tratativas que visam à construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em Passa Tempo (MG). O encontro reuniu representantes da Prefeitura, da Agência Peixe Vivo, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad/MG) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG), além do gabinete do deputado estadual Gustavo Santana.

Passa Tempo foi um dos oito municípios contemplados pelo Ato Convocatório nº 10/2023, que destinou cerca de R$ 70 milhões para

obras de esgotamento sanitário na bacia do São Francisco. Enquanto as demais localidades avançaram nos trâmites, o município ainda enfrenta entraves técnicos e documentais, como a regularização da matrícula do imóvel onde será implantada a ETE.

Para o coordenador da CCR Alto São Francisco, Altino Rodrigues, a mobilização liderada pela Prefeitura foi fundamental para alinhar os atores envolvidos. “Essa união mostra a importância do projeto, tanto para garantir o saneamento nas bacias do Rio Pará e do São Francisco, quanto para não perdermos uma oportunidade única. Hoje foi assumido um compromisso e acredito que teremos avanços concretos”, afirmou.

O prefeito Juscelino Rocha destacou o otimismo após a reunião: “Enfrentamos burocracias que travaram o processo, mas agora estamos unidos com o mesmo propósito: concretizar a Estação de Tratamento de Esgoto, um sonho antigo da nossa população”.

Representando a Semad, o secretário adjunto Leonardo Monteiro reforçou o compromisso do Estado com o saneamento: “É nossa prioridade apoiar soluções como esta e não deixar que o esforço coletivo se perca”. Já o chefe de gabinete do deputado Gustavo Santana, Adair Vidal, salientou que a proposta permitirá tratar 100% do esgoto urbano de Passa Tempo, trazendo ganhos à saúde pública e à preservação dos rios.

Segundo a Agência Peixe Vivo, os chamamentos públicos estão sendo revisados para assegurar que todos os municípios contemplados iniciem as obras até 2026.

Texto e fotos: João Alves
Representantes do CBHSF, do Governo de Minas, do município de Passa Tempo e da Agência Peixe Vivo se reuniram na ALMG para viabilizar a ETE

ÁGUAS DO VELHO CHICO CHEGAM AO RIO GRANDE DO NORTE EM MARCO HISTÓRICO

Texto: Juciana Cavalcante fotos: Marcelo Camargo / Agência Brasil e Vanessa Crises

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Maciel Oliveira, integrou a comitiva que participou do marco histórico da chegada das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) ao Rio Grande do Norte. A agenda, realizada no dia 19 de agosto, teve início com visita à estação de captação e tratamento da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), às margens do Rio Piranhas, e seguiu para a abertura das comportas da Barragem de Oiticica, em Jucurutu.

O evento contou com a presença do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, da governadora Fátima Bezerra, além de representantes políticos e dos comitês de bacias receptoras do PISF. Pela primeira vez, o estado passa a receber de

forma regulamentada as águas do Velho Chico, medida que fortalece a segurança hídrica de uma região marcada pela seca.

Com investimento de R$ 500 milhões do Novo PAC, as obras de recuperação e ampliação do Eixo Norte duplicaram a capacidade de bombeamento, beneficiando cerca de 8,1 milhões de pessoas em 237 municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O trajeto das águas parte de Cabrobó (PE) e percorre 412 km até chegar à Barragem de Oiticica.

A governadora Fátima Bezerra ressaltou a importância histórica do dia para o povo potiguar. “Esse 19 de agosto de 2025 entra para a história. Falamos em nome de gerações que sofreram com a seca e hoje celebram um sonho realizado”, declarou emocionada. O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios PiancóPiranhas-Açu, Ricardo Ramalho Reis, reforçou o simbolismo do ato: “Como sertanejo, digo que esta é a redenção, o fim da insegurança hídrica”.

O ministro Waldez Góes lembrou que a atual gestão precisou incluir no orçamento recursos que não estavam previstos anteriormente para assegurar a recuperação do Eixo Norte, garantindo a chegada das águas ao Rio Grande do Norte.

O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, e a governadora do RN, Fátima Bezerra, com a comitiva que prestigiou a chegada das águas do Velho Chico ao RN

Durante a cerimônia, Maciel Oliveira destacou a relevância do momento, mas chamou atenção para a necessidade urgente de revitalização da bacia doadora. “Foi uma festa justa e emocionante, mas aproveitamos para reforçar que, sem revitalizar o Velho Chico, não há como garantir o abastecimento para os estados receptores e nem para os municípios que já dependem dele e enfrentam escassez. Nosso papel como comitê é acompanhar, cobrar eficiência na gestão das águas e garantir participação dos comitês receptores”, afirmou.

O presidente do CBHSF defendeu ainda maior articulação política em torno da pauta. “Solicitamos união para fortalecer a política de gestão de recursos hídricos no Brasil. A revitalização é uma necessidade imediata e inadiável”, completou.

O impacto já é perceptível: o nível do Rio Piranhas subiu 20 centímetros na última semana. A água destina-se a reforçar reservatórios estratégicos como a Barragem de Oiticica, com capacidade para 742 milhões de m³, e a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, a maior do estado, com 2,4 bilhões de m³.

Considerado a maior obra de infraestrutura hídrica do país, o PISF possui 477 km de extensão distribuídos entre os eixos Leste e Norte. Ao todo, beneficia 12 milhões de pessoas em 390 municípios do Nordeste Setentrional.

COORDENADORES DAS CÂMARAS

CONSULTIVAS REGIONAIS

DO

CBHSF

FAZEM BALANÇO DA GESTÃO 2021-2025

Texto: Juciana Cavalcante

O ciclo de gestão 2021-2025 do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) foi marcado por desafios políticos, financeiros e ambientais, mas também por conquistas importantes. Os coordenadores das Câmaras Consultivas Regionais (CCRs) –Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco – fizeram um balanço das ações e apontaram metas para o próximo período (2025-2029).

Entre os maiores entraves estiveram ameaças à Política Nacional de Recursos Hídricos, como os projetos de lei 2918/21, 4546/21 e 2159/21, considerados riscos à própria existência dos comitês. Para Altino Rodrigues, da CCR Alto São Francisco, a coesão interna foi essencial na mobilização contra essas iniciativas. Ele também destacou o enfrentamento à inadimplência na cobrança pelo uso da água e a necessidade de acompanhar questões críticas, como barragens de rejeitos, uso de painéis fotovoltaicos em Três Marias e monitoramento de vazões.

Na CCR Médio, Ednaldo Campos apontou a redução de 33% no orçamento e o alto índice de inadimplência como obstáculos à execução de projetos. Apesar disso, a região avançou em saneamento rural, urbano e abastecimento em comunidades quilombolas.

O Submédio, sob coordenação de Cláudio Ademar, priorizou a aproximação com comunidades indígenas, quilombolas e pescadores, alcançando municípios de baixo IDH fora da calha principal do rio. A campanha Eu Viro Carranca foi levada a localidades inéditas, marcando o processo de interiorização das ações do Comitê.

Já no Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda destacou as consequências das baixas vazões, como a perda de biodiversidade, avanço da cunha salina e piora da qualidade da água. Problemas agravados pela ausência de saneamento, carreamento de agrotóxicos e baixa fiscalização.

AVANÇOS CONQUISTADOS

Apesar das dificuldades, os coordenadores listam conquistas significativas. No Alto, a mobilização resultou em grande adesão aos editais, com destaque para projetos de saneamento e para o avanço do enquadramento dos rios em parceria com o IGAM. Programas como Produtor de Água e Águas São Franciscanas também ganharam força.

No Médio, projetos de impacto social se destacaram: banheiros com fossas agroecológicas em Lapão e João Dourado, obras de abastecimento em comunidades quilombolas e tratamento de água e esgoto em Correntina. “Deixo um legado que ficará para a história”, avaliou Ednaldo Campos.

O Submédio avançou na execução de projetos, superando o histórico de baixa implementação, e fortaleceu a descentralização das decisões, ampliando a participação democrática dos membros.

No Baixo, a normalização dos investimentos após a pandemia permitiu retomar e concluir projetos pendentes, com editais que contemplaram saneamento, abastecimento, recuperação hidroambiental e capacitação. Entre os destaques está o Plano Diretor do Canal do Sertão de Alagoas, viabilizado com a intervenção da CCR.

METAS PARA 2025-2029

Os coordenadores também projetam metas para a próxima gestão. No Alto, a prioridade é ampliar parcerias e integrar ações com comitês afluentes, fortalecendo o PDRH e garantindo voz do Comitê na formulação de políticas públicas.

No Médio, a meta é continuar expandindo o saneamento rural, aliado a programas de educação ambiental estruturados desde a infância. “Sem educação ambiental, não chegaremos a lugar nenhum”, afirmou Campos.

No Submédio, o foco será aprofundar o debate sobre gestão de recursos hídricos e implementar medidas concretas contra a desertificação.

No Baixo, Miranda defende a construção de um programa interinstitucional de qualidade da água, a retomada do Pacto das Águas, a adoção de vazões ambientais e investimentos em recuperação de matas ciliares, nascentes e pesquisas em parceria com instituições científicas.

LEGADO

O balanço revela que, mesmo diante de cortes orçamentários, entraves burocráticos e ameaças à política de recursos hídricos, as CCRs conseguiram fortalecer a participação social, ampliar projetos estruturantes e preparar a base para novos avanços. Para os coordenadores, a união e o diálogo seguirão como as principais ferramentas para garantir água em quantidade e qualidade às atuais e futuras gerações.

Da esquerda para a direita: Altino Rodrigues (CCR Alto), Cláudio Ademar (CCR Submédio), Ednaldo Campos (CCR Médio) e Anivaldo Miranda (CCR Baixo)

O coordenador da CCR Médio SF, Ednaldo Campos, na solenidade de entrega do Sistema de Esgotamento Rural, junto com o prefeito de João Dourado, Di Cardoso, e outras autoridades

CBHSF ENTREGA SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO RURAL EM MATA DO MILHO, JOÃO DOURADO (BA)

Texto e fotos: Rangel Menezes

No dia 08 de agosto, a comunidade de Mata do Milho, no município de João Dourado (BA), viveu um momento histórico. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), por meio da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Médio São Francisco, realizou a entrega de um sistema de esgotamento sanitário rural que promete transformar a realidade local, trazendo mais saúde, dignidade e preservação ambiental.

O evento contou com ampla participação de autoridades, parceiros institucionais e moradores da comunidade. Entre os presentes estavam Ednaldo Campos, coordenador da CCR Médio São Francisco, Paulo Sérgio da Silva, coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, o prefeito de João Dourado, Di Cardoso, o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Fábio Pereira, o engenheiro Wallas Moreira, da Joamar Construtora, responsável pela execução da obra, e Iraci Pereira, presidente da Associação de Moradores de Mata do Milho. Representantes do poder legislativo e da sociedade civil também marcaram presença, reforçando o caráter participativo e coletivo da iniciativa.

Com investimentos de quase R$ 4 milhões, o sistema de esgotamento sanitário rural beneficia diretamente 236 residências, oferecendo soluções adequadas e ambientalmente corretas para o tratamento dos efluentes domésticos. A estrutura implantada inclui tanques de evapotranspiração, biodigestores, módulos sanitários e sumidouros, garantindo que o esgoto seja tratado de forma segura e sustentável. O objetivo principal é proteger o

lençol freático da região e, ao mesmo tempo, proporcionar melhores condições de saúde e qualidade de vida para a população.

Durante a solenidade, Paulo Sérgio da Silva, coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, ressaltou os impactos positivos do projeto. “Nós sabemos que há diversos problemas de saúde relacionados à falta de saneamento, seja pela contaminação do solo ou pela contaminação da água. O que se espera de um projeto como esse é a melhoria da qualidade de vida na comunidade, tanto no que se refere ao meio ambiente como em questões sanitárias”, destacou.

O prefeito de João Dourado, Di Cardoso, também fez questão de agradecer ao CBHSF pela parceria e pelo empenho em atender às demandas da região. “O que dizer dessa parceria entre o Comitê e a prefeitura? O resultado está aí, todos nós podemos ver. Ednaldo, quero agradecer por todo o empenho em prol de Mata do Milho. Eu, em nome da nossa cidade, quero dizer que nos sentimos honrados por sermos contemplados com este projeto”, afirmou.

Já o coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, emocionou-se ao relembrar a trajetória da obra, iniciada em agosto do ano passado, e destacou a acolhida dos moradores. “De lá para cá, realizamos seminário inicial, oficinas e algumas visitas técnicas. Eu sou testemunha do carinho que vocês tiveram com este projeto. Não me resta outro gesto que não seja a gratidão pela forma como vocês abraçaram a ideia de um saneamento moderno e inovador”, disse.

A presidente da Associação de Moradores de Mata do Milho, Iraci Pereira, também manifestou sua satisfação com a conquista, lembrando que o projeto é fruto de uma luta coletiva e que representa uma vitória para todos os habitantes da comunidade. Segundo ela, o novo sistema de esgotamento simboliza não apenas um avanço em infraestrutura, mas sobretudo um passo importante para garantir mais dignidade e saúde para as famílias beneficiadas.

A cerimônia foi encerrada com gestos simbólicos que marcaram a entrega oficial: dez moradores receberam certificados representando os beneficiários do projeto, houve a assinatura do termo de entrega e o descerramento da placa comemorativa.

Mais do que números, o sistema entregue em Mata do Milho é um exemplo concreto de como os recursos da cobrança pelo uso da água, geridos pelo CBHSF, retornam em forma de benefícios reais para a população. Projetos como este evidenciam o compromisso do Comitê em promover a revitalização da bacia do São Francisco de forma integrada, garantindo que comunidades rurais, muitas vezes invisibilizadas, recebam investimentos que transformam seu cotidiano.

Ao implantar um sistema de saneamento moderno em uma localidade como Mata do Milho, o CBHSF reafirma sua missão de unir gestão participativa, tecnologia social e compromisso com a saúde e o meio ambiente, fortalecendo a conexão entre as pessoas e o Velho Chico.

COMITÊ DO SÃO FRANCISCO INVESTE

NA COLETA E RECICLAGEM DO LIXO DE PROPRIÁ (SE)

A Central de Triagem de Materiais Recicláveis e a Unidade de Transbordo de Propriá (SE) passarão por uma ampla reforma e requalificação com o uso de recursos da cobrança pelo uso da água bruta do rio São Francisco. A iniciativa, aprovada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), foi fruto de um projeto elaborado pelo Consórcio de Saneamento Básico do Baixo São Francisco Sergipano (CONBASF) e recebeu a chancela da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco (CCR – Baixo SF). O investimento representa um avanço significativo para a gestão de resíduos sólidos nos municípios consorciados da região.

A Agência Peixe Vivo, entidade delegatária e braço executivo do Comitê, assinou a ordem de serviço que autorizou o início das obras. A medida beneficiará diretamente o CONBASF e todos os municípios integrantes do consórcio. A Central de Triagem é o espaço destinado ao recebimento, separação e correta destinação dos resíduos recicláveis, enquanto a Unidade de Transbordo garante o transporte adequado dos rejeitos até o aterro sanitário, cumprindo a legislação ambiental e evitando descartes irregulares.

As melhorias previstas abrangem desde a pavimentação completa da área, que facilitará o trânsito interno inclusive em dias de chuva, até a instalação de pisos de alta resistência nos galpões, assegurando melhores condições de trabalho para os cooperados. Também será implantada uma balança rodoviária, que trará mais precisão ao controle do peso dos resíduos transportados pelos caminhões coletores. Além disso, a área destinada à cooperativa de catadores será ampliada, aumentando a produtividade e oferecendo melhores condições de trabalho. O projeto contempla ainda a implantação de paisagismo, reforçando o compromisso do consórcio com a sustentabilidade e a qualidade de vida.

Outros avanços incluem a construção de uma nova rampa de transferência de resíduos, maior e coberta, que facilitará o descarregamento e trará mais segurança para os operadores. A

estrutura contará ainda com passarela para movimentação segura dos funcionários, estacionamento coberto, além de área de descanso para motoristas e auxiliares dos municípios consorciados.

Para Lucas Freire, presidente do CONBASF, a obra representa um verdadeiro divisor de águas para a região. Segundo ele, a requalificação da Central de Triagem e da Unidade de Transbordo vai garantir estrutura, dignidade e eficiência tanto para os trabalhadores da cooperativa quanto para os municípios consorciados. O entusiasmo foi compartilhado por Anivaldo Miranda, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco, que ressaltou a importância do investimento realizado pelo Comitê. Para ele, a decisão do CBHSF demonstra sensibilidade para uma pauta estratégica: “É como digo sempre, do limão fazemos uma limonada. Este investimento é fundamental para reduzir a quantidade de lixo encaminhada aos aterros sanitários, prolongando sua vida útil e diminuindo impactos ambientais.”

Lucas Freire também aproveitou a ocasião para agradecer aos parceiros institucionais, em especial ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, à Agência Peixe Vivo e aos representantes locais que contribuíram para que o projeto se tornasse realidade. “Nosso reconhecimento ao presidente Maciel Oliveira, ao coordenador da CCR Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda, e à nossa parceira de todas as horas, Rosa Cecília. A confiança depositada no CONBASF nos dá ainda mais motivação para transformar essa realidade em benefício dos municípios e da população”, destacou.

A reforma e requalificação da Central de Triagem de Materiais Recicláveis e da Unidade de Transbordo de Propriá reforçam a importância de integrar gestão de resíduos e gestão de recursos hídricos. Ao investir em infraestrutura que promove a reciclagem, reduz a pressão sobre os aterros e fortalece a consciência ambiental, o CBHSF contribui diretamente para a melhoria da qualidade de vida das populações do Baixo São Francisco.

Separar e destinar corretamente os resíduos é fundamental para fortalecer a economia circular e reduzir impactos ambientais

Texto: Deisy Nascimento | Foto: Michele Parron

Aldrin Perez

Dr. Aldrin Martin Perez-Marin é nicaraguense de origem, brasileiro por opção e nordestino de coração. Especialista em desertificação e agroecologia, lidera a elaboração do 2º Plano Brasileiro de Ação de Luta contra a Desertificação (PAB) e atua como correspondente científico brasileiro na UNCCD. Agrônomo, com mestrado, doutorado e pós-doutorado, desenvolveu pesquisas sobre agroecologia na Universidade da Califórnia, Berkeley, em colaboração com o Prof. Miguel Altieri.

Atualmente, integra o Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), onde coordena o Observatório da Caatinga e Desertificação, além de atuar como professor nos programas de pós-graduação da UFPB e da UEPB. Reconhecido por sua contribuição à pesquisa e à prática da agroecologia na América Latina, trabalha pela construção de um modelo de desenvolvimento sustentável que una justiça social, biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

DOIS DEDOS DE PROSA

A Caatinga é muitas vezes subestimada. Do ponto de vista ecológico, por que ela se destaca?

A Caatinga se destaca por ser a maior floresta tropical seca do mundo, e ainda assim é frequentemente subestimada. É uma região com uma biodiversidade única, um verdadeiro santuário natural que abriga espécies valiosas para o planeta. Para compreender seu valor, é fundamental estudar seu clima e a diversidade de solos – cerca de 625 tipos diferentes –, que dão origem a oito ecorregiões distintas, conferindo ao bioma uma riqueza biológica extraordinária.

As pesquisas, cada vez mais, comprovam o potencial da Caatinga no sequestro de carbono. O que isso significa?

Mesmo sob condições de estresse hídrico, a Caatinga sequestra entre 1,5 e, em áreas mais jovens, até 7 toneladas de carbono por hectare. Cerca de 58% desse carbono é retido no solo, um índice muito superior ao de outros biomas brasileiros – na Amazônia, por exemplo, varia de 2 a 15%. Estudos recentes, como “Análise comparativa dos inventários de gases de efeito estufa dos biomas brasileiros”, indicam que, em 2012, a Caatinga respondeu por cerca de 50% de todo o sequestro de carbono do país. Com isso, o bioma se torna a segunda floresta seca mais eficiente do mundo nesse processo, demonstrando seu papel crucial no enfrentamento da crise climática global. Com todo esse potencial, a Caatinga pode se tornar uma commodity, como outras fontes de energia?

A Caatinga é, sem dúvida, uma potência climática e econômica, mas seu valor não deve ser mercantilizado. O seu potencial precisa beneficiar diretamente as populações locais – agricultores, quilombolas e comunidades indígenas – e não

se transformar em um negócio como ocorre com parques eólicos. Por isso, estamos promovendo um processo de certificação participativa de carbono, que busca quebrar o monopólio das grandes empresas de créditos de carbono, garantindo que os benefícios retornem às comunidades que preservam o bioma.

Diante desses dados, a Caatinga se mostra também eficiente no combate aos avanços das mudanças climáticas?

Sim. A Caatinga é mais do que um mosaico de vida resistente; ela é um ativo estratégico para o Brasil e o mundo. Sua vegetação, adaptada a longos períodos de estiagem, desempenha um papel essencial no sequestro de carbono, contribuindo para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Além disso, oferece soluções baseadas na natureza, integrando conservação, mitigação e adaptação, aproximando ciência, políticas públicas e comunidades locais. Estudos do Observatório da Caatinga e Desertificação mostram que, além de sua resiliência à escassez de água, o bioma é vital para manter o equilíbrio ambiental e gerar benefícios econômicos, se preservado adequadamente.

Qual é a mensagem central sobre a Caatinga que o senhor gostaria de transmitir?

A Caatinga, muitas vezes lembrada apenas por suas dificuldades, é, na verdade, um território repleto de oportunidades e inovação. Sua riqueza a torna guardiã indispensável do clima e da vida. Preservar e restaurar a Caatinga é mais do que um dever ambiental: é uma responsabilidade histórica com as futuras gerações.

Ouça a entrevista em: bit.ly/PodTrav205

Presidente: José Maciel Nunes Oliveira

Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano

Secretário: Almacks Luiz Carneiro Silva

Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br

Atendimento aos usuários de recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607

Notícias do São Francisco

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br

Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis

Edição e Assessoria de Comunicação: Mariana Martins

Textos: Deisy Nascimento, João Alves, Juciana Cavalcante e Rangel Menezes

Fotos: João Alves, Juciana Cavalcante, Marcelo Camargo (Agência Brasil)

Michele Parron e Vanessa Crises

Diagramação: Sérgio Freitas

Impressão: ARW Gráfica e Editora

Tiragem: 4.000 exemplares

Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Entrevista: Juciana Cavalcante
Apoio Técnico Realização

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