Jornal do Ônibus ed 558

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JOR NAL D O

CUIABÁ, AGOSTO DE 2019 | EDIÇÃO 558 | ANO XX

EM CHAMAS

Mês de agosto registra 809 incêndios em Mato Grosso

SAÚDE

Especialista alerta: Idosos e crianças têm riscos dobrado com as queimadas edição 552indd CURVAS.indd 1

FATOS & MEMÓRIAS

Conheça a história da chegada do transporte moderno em Cuiabá

TEATRO

Cuiabano faz releitura de ‘’Romeu e Julieta’’ e aborda o racismo 26/09/2019 13:23:09


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Jornal do Ônibus

CAMPANHA DE VACINAÇÃO

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Cuiabá, agosto de 2019

Várzea Grande intensifica ação para crianças de 6 meses a menores de 1 ano MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

A meta é vacinar 2.712 crianças dentro desta faixa etária Da Redação A secretaria municipal de Saúde de Várzea Grande intensifica a Campanha de Vacinação contra o Sarampo, para todas as crianças de seis meses a menores de um ano, que devem ser vacinadas. A imunização não tem prazo para encerrar. Apesar de Mato Grosso não apresentar nenhum caso confirmado da doença, a medida é preventiva em decorrência do aumento de casos da doença em outros Estados. Várzea Grande deve vacinar 2.712 crianças dentro desta faixa etária. A dose extra, chamada de “dose zero”, não altera o Calendário de Vacinação, que determina a aplicação da dose aos 12 e 15 meses. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) já foi acionado para liberar um novo lote de vacinas para o estado de Mato Grosso que repassará ao município. Por enquanto, Várzea Grande possui doses suficientes para dar inicio à vacinação do público alvo. Todos os Postos de Saúde estão aptos para aplicação da vacina. A superintendente da Vigilância em Saúde

de Várzea Grande, Relva Cristina de Moura, explica que o objetivo é intensificar a vacinação desse público-alvo, que é mais suscetível a doença. “Essa é uma medida preventiva do Ministério da Saúde. Nós estamos preocupados com essa faixa etária

DIRETOR DE REDAÇÃO: RUI MATOS EDITOR: CARLA NINOS REVISÃO: DORALICE JACOMAZI DIAGRAMAÇÃO: FERNANDO INÁCIO FOTO CAPA: MAYKE TOSCANO/SECOM-MT FOTOGRAFIA: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL, ALAIR RIBEIRO, LULA MARQUES, WALDEMIR BARRETO/

porque em surtos anteriores foram crianças menores de um ano que evoluíram para casos mais graves e óbitos. Por isso, é preciso que todas as crianças na faixa prioritária sejam imunizadas contra o vírus do sarampo, considerando a possibilidade de trânsito de

AGÊNCIA SENADO, SECOM-VG, MAYKE TOSCANO/SECOM-MT, ICMBIO, CORPO DE BOMBEIROS-MT/ DIVULGAÇÃO, EVELSON DE FREITAS/ AGÊNCIA ESTADO, JACKELINE SOUSA/UNIMED CUIABÁ, IURY LUPAUDI, ARQUIVO PESSOAL, ARQUIVO CCI MARIA IGNÊS, MICHELLE CÂNDIDO, LUIZ ALVES, RAPHAEL THORINO, MEL MENDES

pessoas doentes para regiões afetadas e não afetadas”, esclarece a enfermeira. O Sarampo é uma doença infecciosa grave, causada por um vírus, que pode ser fatal. Sua transmissão ocorre quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de

COLABORADORES: MICHELLE CÂNDIDO, EVELYN SOUZA, LUCAS LEITE, MAILSON PRADO ADMINISTRATIVO FINANCEIRO: ARTUR DIAS DA FONSECA NETO (65) 3623-1170 | (65) 9 9682-1470 COMERCIAL: comercial@jornaldoonibusmatogrosso.com.br DISTRIBUIÇÃO/CIRCULAÇÃO: ADEMIR KUHNEN GALITZKI

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outras pessoas. A única maneira de evitar o sarampo é pela vacina. Os sintomas são febre acompanhada de tosse, irritação nos olhos, nariz escorrendo ou entupido, mal-estar intenso. Em torno de 3 a 5 dias, podem aparecer outros sinais e sintomas, como

manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo corpo. Após o aparecimento das manchas, a persistência da febre é um sinal de alerta e pode indicar gravidade, principalmente, em crianças menores de 5 anos de idade.

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ESTAÇÃO MATO GROSSO

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FRASES

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Cuiabá, agosto de 2019

Reprodução

Reprodução

“Não é o governador que vai definir candidatura. É o partido. Mauro não é dono do partido, ele faz parte do partido. Evidentemente, que a opinião dele é muito forte. Podemos até dizer que alguns dentro do partido acompanham o que ele falar. Mas não é meu caso, não é caso de Jayme Campos, não é o caso de Julio Campos, não é o caso de muitos dentro do partido”

Reprodução

“Eu não preciso ser amiguinho do governador, amigo do governador, ou conviver com o governador, para ele poder honrar seus compromissos com Cuiabá. Eu só quero que ele cumpra com Cuiabá. São R$ 142 milhões. R$ 60 milhões em débitos, que Cuiabá tem direito. E os R$ 82 milhões da emenda parlamentar para equipar o HMC. Só quero que ele cumpra. O que for de direito, eu não abro mão e vou cobrar”

“Nos últimos anos, os setores exportadores do país tiveram grande trabalho de refazer essa imagem do Brasil e mostrar que temos controle de desmatamento e de todas as questões ambientais. Tínhamos conseguido superar bem esse assunto. Mas agora teremos que refazer tudo isso. É preciso separar o joio do trigo. Somos favoráveis às aplicações das leis, queremos competir com o mundo dentro das regras estabelecidas”

EM DINHEIRO PÚBLICO

CAMPANHA 2016

Recém-efetivado no comando da Secretaria de Saúde, Luiz Antônio Possas de Carvalho, afirma que atuará com pulso firme na Pasta e disse não tolerar desvio de dinheiro público ou desmandos. Em 2018, a Secretaria foi alvo da Operação Sangria, deflagrada pela Delegacia Fazendária, para apurar irregularidades em licitações e contratos firmados com empresas e o Município de Cuiabá. Entre as primeiras ações de Possas contra corrupção na Saúde está a instauração de seis procedimentos administrativos disciplinares (PADs) contra funcionários acusados de praticar desvios de medicamentos e insumos dentro do Pronto-Socorro da Capital. Alair Ribeiro

Waldemir Barreto/Agência Senado

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) anulou a cassação da prefeita de Várzea Grande, Lucimar Campos (DEM), do seu vice José Hazama e do vereador Chico Curvo (PSD), pela acusação de abuso de poder político e compra de votos. Ela havia sido cassada em 2017, por decisão do Carlos José Rondon Luz, da 20ª Zona Eleitoral de Várzea Grande, que atendeu a um pedido formulado pela coligação “Mudança com Segurança”, encabeçada pelo candidato derrotado a prefeito, Pery Taborelli (PSC). A juíza-membro Vanessa Curti Perenha Gasques, em seu voto, afirmou que nos autos não ficaram provadas as acusações.

Secom-VG

Alair Ribeiro

Lula Marques

“FACADA”

ELEIÇÕES 2020

SEM REPASSE

O senador Jaime Campos (DEM) classificou como “facada” em Várzea Grande as obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que estão paralisadas desde a metade de 2014. Segundo ele, o modal quebrou uma série de empresários e ainda causa transtornos no trânsito da cidade. O parlamentar espera que o governador Mauro Mendes (DEM) decida o quanto antes o futuro do modal de transporte. Atualmente, a obra está sob análise de uma comissão

O deputado estadual Lúdio Cabral defendeu que o Partido dos Trabalhadores (PT) se junte a outras siglas de centro-esquerda e lance uma “terceira via” para a Prefeitura de Cuiabá, nas eleições de 2020. O grupo, segundo ele, deve disputar contra a reeleição do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) e um candidato ligado ao governador Mauro Mendes (DEM). Lúdio afirma, ainda, que o PSOL poderia compor o grupo se não tivesse uma posição isolacionista em Mato Grosso. No plano

A deputada federal Rosa Neide (PT) disse não acreditar que o FEX (Fundo Estadual de Auxílio à Exportação) chegue aos cofres públicos de Mato Grosso, apesar de haver uma forte cobrança da bancada mato-grossense junto ao Governo Federal. O FEX é um recurso repassado pela União aos Estados, como uma forma de compensação pelas perdas com a Lei Kandir – que trata da isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nos produtos de

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montada pela Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério de Desenvolvimento Regional, em parceria com Mato Grosso. O prazo é de 120 dias para apresentar uma solução.

nacional, a sigla compôs em diversas ocasiões. Já aqui, o principal nome, o procurador da Fazenda Nacional Mauro César Lara de Barros, conhecido como Procurador Mauro, não permite que a sigla faça coligação.

exportação. O fundo, em 2018, está estimado em mais de R$ 450 milhões, mas sem previsão de repasse pela União. 26/09/2019 13:23:17


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ACONTECE EM BRASÍLIA

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Projeto de lei sobre abuso de autoridade é aprovado no Congresso Michelle Cândido A Câmara dos Deputados aprovou, em regime de urgência, no dia 14 de agosto, o projeto de lei 7596/17, que visa combater o abuso de autoridade, que até o momento aguarda a análise do presidente da República, Jair Bolsonaro. O texto caracteriza situações de abuso cometido por servidores públicos e membros dos três poderes (Legislativo, Executivo, Judiciário), do Ministério Público, dos Tribunais e Conselhos de Contas e das Forças Armadas. Segundo o texto aprovado, poderá ser considerado crime decidir por prisão sem amparo legal, submeter o preso ao uso de algemas quando não há resistência à prisão, decretar condução coercitiva sem antes intimar a pessoa a comparecer ao juízo, obter provas por meio ilícito, invadir imóvel sem determinação judicial e estender a investigação de forma injustificada. O texto presume, em alguns casos, pena de prisão para pro-

motores e juízes. O Projeto também prevê a criação do crime de ‘caixa 2’ em campanha eleitoral, compra de votos e o aumento de pena para o crime de corrupção, tornando a prática hedionda em alguns casos. O objetivo dos parlamentares é coibir ações ilegais, como apontam o que aconteceu na Operação Lava Jato, por conta de interferências do atual ministro da Justiça, Sergio Moro, nos andamentos dos trabalhos da operação. A proposta apresenta 37 ações que poderão ser consideradas abuso de autoridade, quando praticadas com a finalidade específica de prejudicar alguém ou beneficiar a si

mesmo ou a terceiro. Desde a aprovação do projeto, iniciou-se uma mobilização nas redes sociais com a hashtag #vetabolsonaro, com o objetivo de pressionar o presidente. A coerção para o veto também foi tema das manifestações de rua do último domingo de agosto (25), que aconteceu em várias regiões do país. A aprovação gerou reação também nas categorias afetadas, no qual alegam que o projeto tira a liberdade de investigação de órgãos independentes e constrange a atuação dos funcionários. A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP)

enviou um ofício ao presidente da República pedindo o veto integral do PL 7596/17. No documento, a CONAMP apresenta uma série de argumentos técnicos e jurídicos quanto às inconstitucionalidades (inclusive por vícios formais), inadequações e riscos da proposição ao funcionamento do sistema de Justiça. Entidades afetadas pelo projeto protestaram em frente ao Palácio do Planalto pedindo o veto parcial do texto. O manifesto de senadores pedindo que Jair Bolsonaro vete integralmente a Lei de Abuso de Autoridade chegou a 35 assinaturas. Elizane Gama, do Cidadania do Maranhão, e Maria do Carmo Alves, do DEM de Sergipe, apoiaram a petição. O porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro vetará, ao menos em parte, o Projeto de Lei 7.596/17, que define os crimes de abuso de autoridade.

Alair Ribeiro

Marcelo Camargo/Agência Brasil

O texto caracteriza situações de abuso cometido por servidores públicos e membros dos três poderes, MPs, Tribunais e Conselhos de Contas e Forças Armadas

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei do Abuso de Autoridade com 36 vetos dos 108 dispositivos aprovados pelo Congresso Nacional. Os 36 itens vetados estão contidos em 19 artigos. A lei e os vetos foram publicados em edição extra no “Diário Oficial da União”. Para o promotor de justiça especialista em Direito Penal e Direito Público e presidente da Associação Matogrossense do Ministério Público (AMMP), Roberto Aparecido Turin, os vetos do presidente Jair Bolsonaro promoveu uma melhora substancial no texto e acabaram por melhorar uma proposta de lei, tecnicamente, muito mal redigida.

“Os vetos, embora parciais, foram proveitosos e atenderam aos interesses maiores da nação e do Ministério Público, sem nenhuma dúvida preferíamos um veto integral e, ainda, persistem no texto sancionado dispositivos abertos e imprecisos que podem dar margem a interpretações que se prestam a tentar dificultar a atuação do Ministério Público, como, por exemplo, os artigos 27 e 31, sem falar na inconstitucionalidade formal decorrente da violação ao processo legislativo constitucional. Nessa perspectiva, manifestamos pela AMMP nossa concordância com a continuidade ao trabalho de mobilização para que sejam mantidos os termos do veto parcial realizado pelo presidente da República e buscamos contar com o apoio de cada deputado federal e cada senador do estado de Mato Grosso a fim de se alcançar a manutenção do veto”.

DESMATAMENTO ILEGAL

Governador Mauro Mendes afirma que infratores irão “pagar caro” Da Redação O governador Mauro Mendes (DEM) afirma que o Estado irá adotar uma “política de tolerância zero” em relação ao desmatamento ilegal em Mato Grosso. O governador vai editar um decreto suspendendo, até o dia 30 de novembro, a emissão para autorização de desmatamento no Estado.

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Mayke Toscano/Secom-MT

Na última semana de agosto foram emitidas multas que somam mais de R$ 60 milhões para aqueles que praticaram atos em desacordo com a legislação ambiental

O governador, ainda, avisou que vai prorrogar o período de proibição de queimadas até o dia 30 de

novembro. Desde o dia 1º junho, o ato está proibido em áreas rurais. O decreto iria expirar no dia 15 de setembro. “Nós iremos adotar uma política de tolerância zero com o desmatamento ilegal no Estado. Quem duvidar disso vai pagar caro. Vai custar muito caro se apostar que nós seremos ineficientes, negligentes nessa questão”, afirmou. O governador ainda

afirma que o Estado está concentrando toda a energia, recursos e equipamentos no combate ao desmatamento e às queimadas ilegais. Somente na última semana de agosto foram emitidas multas que somam mais de R$ 60 milhões para aqueles que praticaram atos em desacordo com a legislação ambiental. Mendes afirma que as

ações tomadas até o momento visam minimizar o impacto negativo que o episódio tem gerado no exterior. Isso porque o democrata teme que haja embargos dos países que consomem os produtos do agronegócio matogrossense. “Nós estamos muito conscientes do papel que o Estado tem dentro do contexto da economia nacional na questão do agronegó-

cio e vamos fazer todo o esforço para mostrar que nós estamos amplamente aliados com aquilo que o mundo pensa, em termos de questões ambientais”, afirmou. “Estamos fazendo aqui um esforço gigantesco para estarmos na legalidade e um esforço gigantesco para contribuir com o clima e com os aspectos ambientais do planeta”, concluiu.

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EM CHAMAS

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Mês de agosto registra 809 incêndios em Mato Grosso Lucas Leite Com supervisão da editora-chefe

de Proteção Ambiental (APA). O bioma Cerrado já registrou 28 mil focos de calor desde janeiro, o que corresponde a 30% das queimadas no Brasil. As duas áreas vêm sendo alvo de incêndios desde o início da temporada de seca no estado e o Corpo de Bombeiros, por meio do Batalhão de Emergências Ambientais (BEA) e do Grupo de Aviação Bombeiro Militar (GavBM), estão atuando no combate a essas ocorrências. “A demanda em Chapada é emergencial nós estamos com três equipes de intervenção, uma base centralizada que fica em

Chapada e duas equipes que já estava no local. Tivemos o acionamento nível 2. O nível 1 é aquele atendimento em que as equipes de resposta que estão próximos vão ao local e tentam debelar ou controlar o foco”, informa o Tenente-coronel Dercio Santos. O Grupo de Aviação Bombeiro Militar fez uma linha de lançamento de água de 450 metros ao redor da área atingida pelas queimadas. Além disso, realizou o combate de um foco que estava próximo ao morro São Gerônimo. “Uns focos foram contidos, mas, houve uma Corpo de Bombeiros-MT/ Divulgação

Cinco estados tiveram um maior aumento no número de queimadas no Brasil desde o início do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado: Mato Grosso do Sul, com uma alta de 260% em relação a 2018; Rondônia, com 198%; Pará, com 188%; Acre, com 176%; e Rio de Janeiro, com 173%. Se tomarmos como base apenas os números, Mato Grosso é líder, com 13.641 focos, o que representa 19% do total nacional. Foram 2.181 incêndios em vegetação que cobre terrenos urbanos e incêndios florestais, só este ano. Em abril foram registrados apenas 29 incêndios. Já no mês de julho esse número saltou para 667 incêndios e, em agosto, chegou a 809 incêndios. No dia 26 de agosto iniciou uma grande queimada entre Cuiabá e o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Segundo o Corpo de Bombeiros, 3.893 hectares atingidos ficam dentro do Parque Nacional e 6.540 hectares na Área

Imagem mostra área destruída pelas queimadas.

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mudança de vento e agora o objetivo tático operacional é impedir que umas das frentes – que está indo em direção ao rio – e a outra frente – está indo em direção à comunidade do morro. Então, o objetivo principal é conter esses flancos que estão indo em direção as duas áreas acessíveis”, afirma o Tenentecoronel. Devido ao tamanho das áreas atingidas e visando minimizar o impacto ambiental, o Corpo de Bombeiros trabalha em conjunto com outras instituições como o Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) e a Brigada Descentralizada do Corpo de Bombeiros Militar (BDBM). “Se as equipes não têm êxito, ou não tem capacidade operativa para lidar com o incêndio devido à extensão da área e às condições climáticas, o chefe de equipe da operação solicita reforço, como foi feito. Então, à parte desse pedido nós solicitamos o voo de reconhecimento com helicóptero, que já foi feito. E, ainda, nós já estamos com mapas temáticos, mapas de rotas de acessos de aceres

ICMBio

ICMBio

O fogo atingiu 3.893 hectares dentro do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães e 6.540 hectares na Área de Proteção Ambiental

Área do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães atingida pelo fogo.

naturais, tipos de relevo, e também acionamos as aeronaves de combate ao incêndio. Já foi acionado, também, o reforço de recursos humanos”, informa o Tenente-coronel Dercio. Período Proibitivo Diante dos índices de queimadas, o governador Mauro Mendes (DEM) anunciou, no dia 30 de agosto, a prorrogação do

período proibitivo de queimadas até 30 de novembro. Ele também suspendeu todas as autorizações para desmate que poderia ser concedidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). Serviços Telefone 1: 193 para o serviço de Emergência Telefone 2: 0800647736 para Denúncias

O que fazer quando tem um foco de fogo? O ideal é, primeiramente, ligar para a central de atendimento do Corpo de Bombeiros, mas, caso a pessoas tenha condições, verificar a direção em que o vento joga o fogo, não usar chinelo de borracha, não permitir que crianças possam ajudar a controlar o fogo, colocar uma mascara, reunir máximo de pessoas possível para apagar ou amenizar o foco de incêndio, e depois, ligar para a central e aguardar a equipe do Corpo de Bombeiros.

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SAÚDE

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Especialista alerta: Idosos e crianças têm riscos dobrado com as queimadas

Se não bastasse o calor intenso e o tempo seco, o cuiabano sofre com as queimadas. Segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), gerados com base em imagens de satélite; o estado de Mato Grosso lidera a lista dos estados que registraram aumento no número de queimadas de janeiro a agosto de 2019 (com 13.641 focos, o que representa 19% do total nacional, dados referentes até o mês de agosto). Com tanta fumaça, respirar é um problema para a saúde. Levando em consideração a baixa umidade relativa do ar – que nessa época do ano é mais baixa que o normal –, mais o processo de filtragem dos pulmões, é difícil manter a saúde estável. Segundo a médica pneumologista e coordenadora do Programa Inspirar da Unimed Cuiabá de Cessação do Tabagismo, Keyla Maia, o corpo humano, no geral, precisa e busca por situações de equilíbrio, ou seja, nem quente e frio ou nem úmido demais e nem seco demais. Tudo que for

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contra esse preceito força o corpo a usar seu mecanismo de adaptação e defesa, ficando vulnerável e suscetível a doenças. Para a especialista, o perigo das queimadas é continuo, tendo em vista as suas proporções e reações do nosso sistema. “Nós temos dois filtros no corpo, o pulmão e o rim. Nosso pulmão tem a função de filtrar um ar que já não é 100% puro, cerca de 21%, levando em consideração a poluição, mais as partículas de fumaças que, quanto menores mais perigosas, indo mais fundo no nosso sistema respiratório, onde o ar é trocado e lá se deposita. Com isso, a tendência do nosso aparelho respiratório é ficar todo inflamado o que possibilita o aparecimento de doenças conhecidas, como: sinusite, rinite, faringite e bronquite”, explica. A doutora alerta, ainda, para a exposição da pele

sob o tempo seco e, principalmente, na fumaça das queimadas, caso sejam de partículas corrosivas ou tóxicas, o contato com a pele pode ser prejudicial. “Nessa época do ano também é propícia a proliferação de viroses, que se aproveitam das características já citadas como a baixa umidade do ar e a desidratação das células e do sistema respiratório. E, ainda, às reações do corpo como irritabilidade e dores no geral, que podem significar a ausência de água e minerais no organismo. Tudo isso, pode ser classificado de acordo com a tolerância de cada pessoa para com o calor e a maneira que o corpo pode ou não reagir”, analisa. As buscas por atendimento hospitalar no estado crescem nessa época, inclusive de pessoas que não costumam ter problemas respiratórios. Mas, cerca Corpo de Bombeiros

Mailson Prado Com supervisão da editora-chefe

Bombeiros militares combatem dia e noite incêndios florestais

de 20% da população que busca por atendimento é por causa das alergias. A professora Maria Alice Dias, 32 anos, procurou o Pronto Socorro de Cuiabá para levar a filha Gabriela de 4 anos. Ela reclama da irresponsabilidade das pessoas que provocam queimadas. “Esse tempo gasto dentro do hospital por conta da cidade seca e as queimadas, podia ser evitado se as pessoas tivessem consciência desses atos criminosos”, desabafa a mãe com a criança no colo sofrendo com a garganta inflamada. A aposentada Josefa Ferraz, 78 anos, foi ao Pronto Socorro levar a neta Manuela, 11 anos, que estava com dificuldades para respirar. “Comecei a sentir o peito chiando sem conseguir respirar. Nessa época do ano sempre fica ruim de respirar, com muita poeira e sujeira”, conta a menina. Todos os problemas respiratórios podem ser ainda mais sérios quando envolve a capacidade de respiração do paciente. Nesses casos, existe a possibilidade da pessoa começar a respirar pela boca, fazendo com que o ar não passe pelo nariz e não seja filtrado, o que aumenta a possibilidade de contrair uma infecção na garganta. As consequências A doutora Keyla Maia explica que há casos de complicações respiratórias que envolvem algumas condições especificas, como em crianças, idosos, fumantes ativos e passivos, e pessoas que sofrem com obesidade. Com as crianças, a parte que gestora a respiração ainda está em formação podendo assim ser afetada com maior facilidade pelas queimadas.

Iury Lupaudi

: Evelson de Freitas/Agência Estado

Fumaças oriundas das queimadas de incêndios florestais e urbanos atacam pulmões e coração

Queimadas em um terreno no bairro Bosque da Saúde, zona urbana de Cuiabá.

Já com os idosos os efeitos são contrários, levando em consideração que o mesmo vai perdendo a capacidade de filtrar com eficácia o ar, ficando suscetíveis as complicações. Já no caso dos fumantes, tanto o ativo (que fuma por vontade própria) quanto o passivo (que respiram a fumaça dos cigarros), existe uma possibilidade do comprometimento na respiração ser ainda maior pelo dano causado pelo cigarro e a fumaça. E no caso dos obesos a situação é ainda pior. “A pessoa com sobrepeso apresenta um caso em que o pulmão se esforçar para respirar em relação ao peso, e com a fumaça das

queimadas, é um risco dobrado”, afirma. Vale ressaltar a importância de passar por uma consulta médica tendo em vista as queimadas e a total ausência de chuvas. Para amenizar as consequências de uma queimada é recomendável fechar a casa para não inalar a fumaça. Ou, se o cenário for de baixa umidade do ar, “recomenda-se que busquem deixar o ar mais respirável através de assadeiras com água, para que o ar evapore e umidifique o local, ou com toalhas molhadas pela casa em busca de um ambiente mais propício a saúde”, conclui a médica.

Médica pneumologista e coordenadora do Programa Inspirar da Unimed Cuiabá de Cessação do Tabagismo, Keyla Maia

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Fatos & Memórias

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Cuiabá, agosto de 2019

Conheça a história da chegada do transporte moderno em Cuiabá Bondinho com tração animal, jardineiras, primeiros carros e outras curiosidades FOTOS: Arquivo Pessoal

çanha, porém sem sucesso, somente no ano de 1889 – 18 anos depois – dois comerciantes portugueses, com um recurso de 90 contos de réis, deram início à obra da linha de bondes, a empresa Companhia Progresso

Carro modelo Landaulet Fiat, vermelho, com D. Aquino Corrêa, presidente do Estado em 1920; foi o primeiro a chegar a Cuiabá. Ao lado, a chegada dos carros da Ford modelo T, sendo abençoados pelo padre da Província. Por último, a chegada das Ramonas da Chevrolet.

Michelle Cândido Na segunda reportagem especial da série Fatos & Memórias – produzida pelo Jornal do Ônibus com o objetivo de dar luz aos grandes eventos e marcos desses 300 anos de história da capital de Mato Grosso – você vai conhecer os primeiros meios de transporte modernos a desembarcar em Cuiabá. Os transportes são o reflexo do crescimento de uma cidade, à medida que a tecnologia evolui, a maneira de se locomover pelos centros urbanos também ganham novos ares. A Cuiabá do século XIX contava apenas com cavalos, carruagens e carroças. Naquela época a capital recebia muitos viajantes e mercadorias, que desembarcavam no cais do porto e percorriam cerca de quatro quilômetros pelas ruas, que eram de pedras cristais, para

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chegar ao centro da cidade. Esse trajeto, segundo o pesquisador e escritor Aníbal Alencastro, era muito cansativo, pois as carruagens trepidavam nas pedras e deixava a viagem desconfortável para os passageiros. No Brasil, as principais capitais já possuíam o sistema de bondinhos puxados a parelhas de burros (tração animal), o que causou anseio na so-

ciedade cuiabana por um transporte coletivo que ligasse o porto ao centro da cidade. Em 1871, surgiu a lei provincial que dava a concessão de 25 anos para qualquer empresa que se habilitasse a construir uma linha férrea urbana que suprisse essa carência. Bondinho A partir daí, um grupo de empresários tentou realizar a fa-

novo sistema de locomoção dos cuiabanos era também denominado de “Transway”

Cuiabano, formada pela dupla, trouxe uma empresa de engenharia da França para concretizar o projeto. O tão sonhado bondinho foi inaugurado no dia 30 de abril de 1891, onde os trilhos se estendiam por dois ramais, um que passava pela Avenida 15 de novembro, Rua 13 de junho, contornando a Praça da República, o Jardim Alencastro, Rua 11 de Junho (Pedro Celestino) e outro que fazia o itinerário pelas Ruas Primeiro de Março (Galdino Pimentel) e 7 de Setembro, ambos ligavam o Porto ao largo da Mandioca (Praça da Mandioca), que era o ponto final dos bondinhos. De acordo com trecho do

livro de Aníbal Alencastro, o novo sistema de locomoção era também denominado de “Transway”. Em cada bonde havia um cocheiro condutor e um cobrador e o preço de cada passagem era de 200 réis. Depois de um tempo, uma segunda companhia assumiu a administração e almejava mais velocidade para os bondinhos, foi quando substituíram o sistema de tração animal por motores a

vapor (locomotivas), duas delas chegaram a ser inauguradas, mas não deram certo. “A bitola estreita dos trilhos não permitia a velocidade um pouco mais desenvolvida pelas máquinas, que ora e outra se descarrilava, voltando a funcionar com parelhas de burros”, conta Aníbal. O bondinho funcionou entre os anos de 1891 a 1919, em comemoração ao bicentenário de fundação

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Fatos & Memórias Cuiabá, agosto de 2019

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dos Estados Unidos, que segundo o historiador, era mais fácil de chegar a Cuiabá do que o modelo Fiat. Depois, os irmãos Cândia começaram a comercializar as famosas Ramonas da Chevrolet. Como alguns carros chegavam desmontados, a fábrica da Ford enviou um mecânico Frederico Tomem para realizar a montagem As jardineiras foram os primeiros transportes urbanos de Cuiabá, que também faziam linha para cidades próximas, como Poconé e Rosário Oeste

Algo engraçado que acontecia era que quando alguém ia sair com seu carro na rua mandavam avisar os outros motoristas para eles não saírem de casa, a fim de evitar batidas da cidade de Cuiabá (08/04/1919), os bondes de tração animal foram substituídos pelos primeiros automóveis e auto-ônibus. Primeiros Carros O Landaulet Fiat foi o primeiro carro que chegar a Cuiabá em 1919, era vendido pelos irmãos Dorsa. De acordo com Aníbal Alencastro quem comprou o primeiro carro foi o presidente da província Francisco de Aquino Correia, “Dom Aquino”. Os carros da Fiat vinham da Itália em lanchas, ficavam todos enfileirados na praça do porto prontos para serem vendidos. Uma curiosidade era que Dom Aquino queria dirigir seu carro, mas não existiam ruas, então, ele mandou arrumar todas as ruas da cidade para poder pas-

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Primeira frota de carros do Detran/MT. E a carteira de habilitação da época.

sear com seu carro. Na época existia cerca de sete carros em Cuiabá, “algo engraçado que acontecia era que quando alguém ia sair com seu carro na rua mandavam avisar os outros motoristas para eles não saírem

de casa, a fim de evitar batidas”, relata Aníbal. No ano 1920, aparecem em Cuiabá outros representantes de veículos, como a firma Barros Leite, que representava a marca Ford, que vendia o carro modelo T que vinha

dos automóveis na capital, era o único mecânico na época. “O mecânico realizava a montagem dos carros na beira do cais mesmo, e dali já ficava pronto para ser vendido”, disse Aníbal Alencastro.

Ponto de Ônibus das jardineiras ao lado do Palácio da Instrução

Jardineiras Com a chegada dos automóveis, surgem às jardineiras (ônibus aberto nas laterais) em 1927, que eram montadas a partir dos chassis dos carros, as jardineiras faziam o transporte urbano na capital, bem como para outras cidades próximas, como Poconé e Rosário Oeste. Existia naquele tempo um ponto de ônibus das jardineiras ao lado do Palácio da Instrução. Com os chassis (estrutura inferior dos carros) também se montava pequenos caminhões. Todos os carros eram movidos a gasolina que também vinha de fora em latas de 20 litros, quem montou o primeiro posto de gasolina foi a empresa Cândia. Táxi Já em 1950, com a modernidade em alta, aparecem os chamados carros de praças (táxis), que atendiam, na maioria das vezes, os viajantes e a elite cuiabana. As pessoas ligavam para o ponto de automóveis e solicitavam as corridas, existia

um ponto fixo ao lado da Igreja da Matriz. Detran O governador Mario Correa da Costa criou, em 1920, a inspetoria de trânsito, que depois virou o Departamento de Trânsito (DETRAN), em 1966, na administração de Pedro Pedrossian. O historiador Aníbal lembra que os exames para tirar a habilitação era somente o teste prático e oral, “nesta época eu era perito de trânsito e resolvi junto com meu colega de trabalho Eduardo Lima incluir no exame de habilitação o teste teórico que exigia conhecimentos das regras de trânsito. Lembro-me que quem não era aprovado tinha uma segunda chance para estudar e fazer o exame novamente. A partir de 1966, o exame passou a ter três etapas, o teste prático, oral e teórico”. Aníbal ainda recorda que os sinaleiros eram manuais, “o guarda de trânsito era quem girava a manivela onde abria e fechava o sinal, no meio da Avenida Getulio Vargas existia um sinaleiro manual”.

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ENTREVISTA

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Jornal do Ônibus

Cuiabá, agosto de 2019

Setembro Amarelo: como identificar os sinais de risco de suicídio no cotidiano e nas redes sociais

Mel Mendes Especial para o Jornal do Ônibus A cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o órgão, o Brasil registrou 13.467 casos de suicídio no período de 2016 a 2019, a grande maioria – 10.203 – entre homens. Com o objetivo de prevenir novos casos e reduzir esses números, a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina organizam nacionalmente, desde 2015, o Setembro Amarelo, mês dedicado à sensibilização da sociedade sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. Confiram nesta entrevista, exclusiva para o Jornal do Ônibus, as orientações do médico psiquiatra e coordenador médico do Progra-

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ma Mente Saudável da Unimed Cuiabá, Pedro Henrique Balata, sobre o tema. Os números apresentados pela OMS são assustadores. A questão do suicídio, principalmente entre os jovens, tem aumentado bastante nos últimos anos. Quais seriam as causas desse aumento? De maneira geral podemos afirmar que estamos vivendo atualmente uma epidemia de suicídio. Os dados da OMS mostram que o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, atrás apenas dos acidentes de trânsito. Na faixa etária de 15 a 19 anos o suicídio é a segunda causa de mortes entre as meninas e a terceira causa entre meninos. Precisamos ter claro que o suicídio é uma

questão multifatorial, que envolve desde situações genéticas, biológicas, questões sociais e psicológicas. Mas podemos apontar alguns fatores de risco como divórcio ou término de relacionamentos, histórico de traumas na infância, transtornos de humor, entre outros. Alguns especialistas já apontam também uma relação entre o aumento do suicídio de jovens e o isolamento social provocado pelo maior acesso à tecnologia. Sim, a tecnologia tem suas vantagens, mas também traz desvantagens. O que eu observo é que a tecnologia aproximou quem está distante, e isso é ótimo, mas afastou quem está perto. Então agente vive hoje um contexto onde a comunicação interpessoal está prejudicada. No contexto

familiar, a conversa na hora do jantar, aquilo que era muito comum antes, quase não se vê mais. A tecnologia, na maioria dos casos, está nos deixando mais isolados socialmente, principalmente, entre os jovens. De certa forma ela tem alterado nosso convívio em sociedade. Precisamos resgatar o convívio humano, a interação, porque com este isolamento a gente acaba não falando sobre as nossas angústias, sobre as nossas dificuldades de lidar com alguma situação. Precisamos voltar a compartilhar e reaprender a ouvir o outro. Isso é importante, pois temos que ter em mente que 9 em cada 10 suicídios poderiam ser evitados com medidas preventivas, pois estão associados a algum tipo de transtorno mental.

Ao nos voltarmos mais para o outro, prestar atenção, quais os sinais de alerta para uma possível intenção suicida? Como a gente pode saber que alguém está precisando de ajuda e contribuir para a prevenção de um suicídio? Diferente do que muita gente pensa, quem quer se matar dá avisos. Alguns são mais claros, outros sutis. Alterações comportamentais, mudanças repentinas em relação às atividades – o que antes animava e motivava, agora não dá mais prazer – e isolamento social, tristeza profunda e falta de ânimo geral podem ser sinais importantes. As comunicações implícitas também são sinais de alerta, como uma verbalização recorrente de sofrimento como “não tenho mais interesse nas coisas”, “queria sumir”, “nada me anima”, enfim, uma série de comunicações que podem se manifestar nas entrelinhas demonstra sofrimento psicológico, um

Vivemos em uma sociedade ansiogênica que, a todo o momento, nos bombardeia com informações e cobranças. Todos vivemos, hoje, em pré-mobilização ansiosa que, muitas vezes, pode sair desse limiar da ansiedade natural para uma ansiedade patológica que merece atenção. Por isso, a discussão sobre saúde mental é tão importante quadro depressivo. Diante de um caso como esse, temos que ter uma postura acolhedora, sem julgamentos e orientar a busca por ajuda profissional. É essa postura que vai estabelecer um vínculo inicial e dar o start para que a pessoa se abra e procure ajuda. Divulgação

Divulgação

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos e essa é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos

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ENTREVISTA

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Cuiabá, agosto de 2019

Mel Mendes

Jornal do Ônibus

O senhor falou sobre quadro depressivo. Ainda há muita desinformação sobre a depressão. As pessoas, por vezes, “banalizam” o sofrimento e acabam não dando atenção para um problema que é sério e real. Como se caracteriza a depressão? É preciso diferenciar o que é tristeza e o que depressão. Tristeza é algo momentâneo, algo que passa. É um evento comum na vida do ser humano. Um fato que nos deixa para baixo e depois passa. Tem um motivo, uma causa bem definida. Já a Depressão é uma doença. Sendo uma doença, tem tratamento. Um quadro depressivo é algo mais prolongado, uma tristeza profunda que está associada a uma perda de interesse pela vida, perda de energia e do prazer

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naquilo que antes era agradável. É um estado prolongado de humor depressivo, como se o indivíduo entrasse em um estado pleno de tristeza sem sentido, nada que possa ser justificado por um fato. Na depressão há uma perda libidinal, seja por sexo, pelo trabalho ou relações interpessoais e familiares. Depressão causa tristeza profunda e pessimismo, sentimentos que podem culminar em comportamentos suicidas. A pessoa em quadro depressivo pode apresentar também irritabilidade, ansiedade, angústia, desânimo, cansaço fácil, diminuição ou incapacidade de sentir alegria, aumento de sentimentos de medo e baixa autoestima, dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e episódios fre-

quentes de esquecimento e alterações no apetite, comer menos que o normal ou comer excessivamente. Depressão tem cura e ajuda profissional é fundamental. Assim como a depressão, os casos de Ansiedade têm crescido bastante nos últimos tempos, principalmente, entre os jovens. A Ansiedade também é uma doença muito incompreendida, sobre a qual ainda existem muitos preconceitos. Fale um pouco sobre ela: A depressão e a ansiedade são os dois maiores fatores de sofrimento psíquico de jovens na atualidade que podem levar a comportamentos suicidas. O sentimento de ansiedade é algo instintivo do ser humano, um fator natural do qual

precisamos para nos mobilizar. Porém, temos que diferenciar o que é uma ansiedade passageira, natural, de uma ansiedade patológica. A ansiedade patológica é caracterizada por um estado de preocupação excessiva, pensamentos ruminantes ou obsessivos – que são uma série de ideias geradas pelo medo e pela preocupação que nos perturbam recorrentemente – e podem causar alterações somáticas, que são sintomas físicos de sofrimentos emocionais como dor de estomago, palpitação, dores de cabeça e alterações no sono. A Ansiedade Patológica é um estado de adoecimento. Vivemos em uma sociedade ansiogênica, que, a todo o momento, nos bombardeia com informações e cobranças. Nós

todos vivemos hoje, em pré-mobilização ansiosa que, muitas vezes, pode sair desse limiar da ansiedade natural para uma ansiedade patológica que merece atenção. Por isso, a discussão sobre saúde mental é tão importante. Nesse contexto, como podemos cuidar de nossa saúde mental? Quais as principais orientações? Primeiro, é preciso que falemos mais sobre isso. A saúde mental é sempre vista de uma forma ampla e multifatorial. Uma boa alimentação, noites bem dormidas, prática de atividade física e o estabelecimento de vínculos e relações interpessoais são fundamentais para esse bemestar. É necessário buscar identificar atividades que promovam conforto e acolhimento. Nesse

sentido a espiritualidade também é uma coisa que deve ser bem desenvolvida, que ajuda muito no equilíbrio mental, independente da religião que se siga ou não. A prática de meditação, um grupo de jovens, um clube de leitura; qualquer espaço ou grupo que promova acolhimento é essencial. E, tão importante quanto: na presença de um sofrimento mental agudo, procure ajuda especializada sempre. O psiquiatra seria o profissional mais habilitado para o tratamento de patologias da saúde mental, porém, todo profissional de saúde está habilitado por formação a identificar um paciente ou individuo em sofrimento psíquico. Existem serviços gratuitos, como o CVV. O SUS oferece atendimento nos Centros de Apoio Psicossociais, os CRAS. Busque o que estiver ao seu alcance, mas procure ajuda. O sofrimento que parece não ter fim pode ter tratamento e cura e isso pode salvar vidas.

Mente Saudável A Unimed Cuiabá oferece, gratuitamente, a seus beneficiários o Programa Mente Saudável, uma linha de cuidados voltada para a promoção da saúde mental e, ao mesmo tempo, prevenção de transtornos mentais graves. As ações envolvem cuidado primário, de prevenção em saúde e incentivo a hábitos saudáveis para mais qualidade de vida; cuidado secundário, com atendimentos de psicologia e psiquiatria; e terciário, com o Núcleo de Atenção Especializada (NAE) para atendimento à pacientes em sofrimento mental agudo. Mais informações: (65) 3612-8848 e www. unimedcuiaba.coop.br

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GERAÇÃO SAÚDE

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Cuiabá, agosto de 2019

Idosos 2.0 ultrapassam limites e dão lição de vida sobre envelhecer bem e feliz

Michelle Cândido O conceito de que um idoso é incapaz de viver sozinho ou que não dispõe de saúde está cada vez mais sendo desconstruído. As pessoas acima de 60 anos têm buscado por qualidade de vida e isso está refletindo no crescimento da população idosa no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 18% desse grupo etário, que vem se mostrando cada vez mais significativo no Brasil. As projeções indicam que, em 2060, o país terá 58,4 milhões de pessoas idosas, o que representará 26,7% da população. O índice de sobrevida e longevidade está aumentando ao ponto das políticas públicas do Brasil não conseguirem acompanhar esse crescimento para oferecer melhores condições vida para quem está nessa faixa etária. Em Cuiabá, muitos idosos vivem em busca da independência e do bem-estar, exemplo disso, são os que participam dos Centros de Con-

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vivência de Idosos (CCI) existentes na capital. Só no Centro de Convivência Dra. Maria Ignês França Auad, no bairro CPA 3, cerca de 520 idosos realizam diversas atividades que proporcionam bem-estar físico, mental, psicológico, emocional, além da busca pela alfabetização que muitos ainda não possuem. Para o aposentado Claudomiro Martins da Silva, participar das atividades do CCI é uma distração. “Nos traz alegria, novas amizades, disposição, as atividades físicas nos ajudam a ter uma saúde melhor, a gente fica com o corpo mais leve, aprende a ter independência, além de ajudar as pessoas que tem problemas com depressão, aqui nós fugimos da solidão”, conta. De acordo com coordenador do CCI Maria Ignês, Natalino Alves da Silva, os trabalhos desenvolvidos por eles são voltados para promoção da saúde, bem-estar e socialização dos idosos. No local os idosos podem fazer hidroginástica, hidroterapia, academia ao ar livre, ginástica, trabalhos de artesanato, pintura em tecido, bordados

Alfabetização O casal, Helena da Silva Pinto, 69 anos, e Vitorio Batista Pinto, 77 anos, participam das aulas de alfabetização há quatro anos “Eu iniciei as aulas primeiro, depois de um tempo trouxe o Vitorio para participar, a gente chegou no CCI sem saber quase nada e hoje,

graças a esse serviço, nós já sabemos ler, escrever e fazer contas, agora somos totalmente independentes”, disse Helena. Emocionada dona Helena conta que quando criança seu pai permitiu que ela estudasse, por que mulher tinha que cuidar da casa e estudo era só para homem. “Uma vez fui comprar passagem na rodoviária no final do processo a

Odete Ortega Cassiano e Ivo Santana da Silva se conheceram no bailão e estão casados há cinco

MICHELLE CÂNDIDO

em chinelos, laboratório de informática, como também jogos de salão (Sinuca). Todas as ações são acompanhadas pela equipe do CCI que é composta por um médico geriatra, enfermeira gerontóloga, fisioterapeuta, técnica de enfermagem e professores de alfabetização. “Temos uma parceira com a secretaria de educação através do EJA que disponibiliza a alfabetização primária aos idosos e também alguns passeios esporádicos que levamos os idosos para conhecer pontos turísticos da região. Todas as quartas-feira realizamos um baile com música ao vivo e um lanche reforçado para dar mais sustância aos amantes da dança”, destaca Natalino. Atualmente, estamos com três salas de aula, com 20 alunos em cada. “A gente trabalha a inicialização da alfabetização para dar independência ao idoso para que ele consiga assinar documentos, ler letreiro de ônibus, olhar preço de produtos no mercado, mexer com dinheiro, entre outros”.

Idosos do centro de convivência em dois momentos, durante exercícios e em atividades na piscina

MICHELLE CÂNDIDO

ARQUIVO CCI MARIA IGNÊS

Em Cuiabá, cerca de 2000 idosos buscam centros de convivência para estudar, fazer exercícios, dançar, paquerar e curtir a vida

atendente me pediu para assinar, disse que não sabia escrever, ela falou em tom alto que era bom eu estudar, foi muito constrangedor para mim, as pessoas julgam sem saber porque a gente está naquela situação, mas, graças a Deus, hoje, eu não passo mais por isso”, relata. Amor na Terceira Idade Frequentadores assíduos do baile o casal de aposentados Odete Ortega Cassiano, 67 anos, e Ivo Santana da Silva, 77 anos, se conheceram no bailão e estão casados há cinco. Segundo dona Odete foi amor a primeira vista. “Nós dois éramos viúvos, nos conhecemos em um dia e no outro já estávamos morando juntos, foi tudo muito rápido, mas, sei

que vai ser pra vida toda, a gente dá muito certo os dois gostam de dançar, frequentamos bailes de terça a domingo, isso faz muito bem para nossa saúde e auto-estima”, relatou Odete. Natalino explica que muitos idosos chegam com problemas de saúde e com o passar do tempo eles tem uma evolução significativa. “A pessoa começa fazendo a hidroterapia com o fisioterapeuta, depois vai para a hidroginástica, quando de repente eles já estão no salão dançando”. “Eu sou feliz na minha vida por frequentar o CCI há 15 anos, minha saúde é ótima devido às atividades que faço, eles fornecem um lanche bom, fiz muitas amizades, não podemos ficar parados se não enferruja tudo”, declarou o aposentado de 76 anos, Eraldo da Silva. A interação deles é tanta que até se organizam em grupos e vão para cinemas, teatros e outros bailes. “A auto-estima deles cresce muito, eles passeiam, dançam, namoram, já tivemos até casamento que foi realizado aqui”, informou o coordenador.

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DIGNIDADE

Jornal do Ônibus

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Programa Bem Morar beneficia 300 famílias em Cuiabá FOTOS: Luiz Alves

Com ajuda de custo de 12 mil reais, moradores poderão reformar suas casas

Lucas Leite Com supervisão da editora-chefe O Programa Bem Morar é um projeto que fornece recursos para famílias carentes reformarem seus imóveis. O programa é inovador em Cuiabá e vai beneficiar famílias de baixa renda. Cada família, agraciada nessa primeira etapa, recebeu um cartão reforma, em que o valor é destinado para a compra de material de construção e para pagamento de mão de obra. O valor máximo do benefício, por família, chega a R$ 12 mil. Do valor destinado, 25% vai para compra do material e 75% para a mão de obra. Os beneficiários vão receber uma visita de vistoria com arquitetos, en-

genheiros e equipe social da prefeitura. O recurso para atender a demanda é oriundo da Fonte 100 do Município. Emanuel Pinheiro conta que o Bem Morar nasceu na época em que ele começou entregar as obras asfálticas em bairros da Capital. O chefe do Executivo disse que ao olhar para as ruas pavimentadas e contrapor

com as casas das famílias sem estrutura, viu que precisava ampliar o processo para dentro desses lares. “Pensei, como posso entregar ruas pavimentadas para que as pessoas andem sem sujar seus pés, se ao adentrar as suas residências, vão se deparar com uma realidade totalmente indigna. Preciso fazer algo para que esse trabalho seja completo. Foi então, que junto à equipe de Habitação começamos a desenhar esse programa. Quero poder ampliá-lo, para que chegue nas quatro regiões de Cuiabá, abrangendo mais famílias, ajudando-as a morar com conforto, segurança e dignidade”, afirma o prefeito. O programa foi lançado em abriu, no mês do

Beneficiários do Programa Bem Morar

aniversário de Cuiabá. E para essa primeira etapa foram escolhidos cincos bairros da capital, inseridos na zona especial de interesse social, são eles: Jardim Umuarama 2, Planalto, 3 Barras, Vale do Carumbé e Altos da Glória. Ao todo 300 famílias foram beneficiadas e vão reformar suas casas. “Esse projeto realmente vai poder mudar a vida de varias famílias que não podem realizar o sonho de reformar a sua casa. Trazendo mais conforto e comodidade para as famílias”, analisa o Secretário de Habitação, Air Praeiro. Para participar do programa tem que se encaixar nos seguintes critérios; renda de até dois salários mínimos, fazer parte do grupo prioritário, idoso, pessoas com deficiência e mulheres vítimas de tenta-

tivas feminicídio. “Usamos os critérios sociais e de engenharia, para beneficiar aqueles que realmente precisam, para ter a sua moradia digna, visando em dar uma conotação de sustentação de legalidade e de competência. Após o recebimento dos cartões, a nossa equipe vai de casa em casa para fazer a vistoria no local, para que possamos saber o que deve ser feito na casa, se o banheiro,

cozinha, sala, pintura, arrumar piso ou até mesmo ter que construir uma nova encanação”, conta a gerente do Programa, Thais Nascimento. O Vale do Carumbé foi o primeiro bairro a receber a visita da vistoria, os próximos bairros a receber são: Planalto, Jardim Umuarama 2, Altos da Glória e 3 Barras. “Após a nossa visita, temos até 15 depois para abastecer o cartão com o valor estabelecido, para as compras de matérias que for necessário e para a mão de obra, que deixamos a escolha do morador, pois às vezes a família pode ter um parente que pedreiro que vai fazer a obra cobrando um valor mais em conta”, finaliza Air Praeiro.

Secretário Municipal de Habitação, Air Praeiro

Profissões

DO FUTURO Autor de Jornadas de Realidade Aumentada: Será responsável por projetar, escrever, criar, calibrar, construir e personalizar jornadas de realidade aumentada. Conhecimentos necessários: Deverá ser criativo, ter conhecimento em jogos competitivos, multiplayer e, familiaridade com tecnologias de ponta no setor. Controlador de Tráfego Multidimensional: Será responsável pelo controle e geren-

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ciamento do espaço rodoviário e aéreo, considerando inclusive drones e veículos autônomos. Conhecimentos necessários: O candidato a essa profissão deverá ser apto para lidar com ferramentas de Inteligência Artificial sofisticadas.

Corretor de Dados Pessoais: Será responsável por acompanhar e comercializar dados pessoais de um cliente na busca de potencializar os ganhos em bolsas de dados nacionais e in-

ternacionais. Conhecimentos necessários: Deverá ter perfil analítico, conhecimento do ambiente regulatório global e noções de finanças. Gerente de Facilities: O Gerente de Facilities é o responsável por cuidar da gestão de todos os serviços terceirizados de uma organização, deixando livres os outros gestores para cuidar do core business. Conhecimentos necessários: Economia, Engenharia ou Ad-

ministração de Empresas. Desenvolvedor de Aplicativos Móbile: O desenvolvedor de aplicativos mobile pode atuar como freelancer ou como membro de uma equipe de uma empresa. Com a formação

dentro da área de programação de computadores, o profissional desenvolvedor mobile deve dominar tecnologias como HTML, CSS, Javascript, Java, Dot Net entre outras. Conhecimentos necessários: Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

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ARTIGO

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Cuiabá, agosto de 2019

A salvação do churrasco Na bela Toscana, na Itália, Dario Cecchini aprendeu importantes lições antes de se tornar um dos açougueiros mais famosos do mundo. Ao herdar o negócio da família, ele não considerava justo matar o animal e muito menos apenas por alguns nobres cortes. Foi então que ouviu de um colega mais experiente: “Enquanto o animal está vivo, tentamos lhe dar do bom e do melhor. Quando o animal morre na nossa mão, tentamos respeitar o que ele nos proporciona. Você está lidando com vida. Nunca se esqueça disso”. Com a fala inspiradora em mente, Dario, entre outras coisas, aproveita todas as partes do animal e não apenas os cortes considerados nobres. Nada é desperdiçado.

Posso dizer que me identifico muito com Dario. Eu estou no time que não se encaixa em nenhum dos lados da polarização entre vegetarianos/veganos e carnívoros. Estou consciente da emissão de gases efeito estufa e do consumo de água para produção da carne. Me preocupo com o bem-estar animal, busco refeições e receitas exclusivamente a base de vegetais. Me revirei pelo avesso quando ouvi um produtor dizer que era impossível produzir no Pantanal sem matar onças. E, apesar de tudo isso, não resisto a um churrasco. É, o ser humano é assim mesmo por vezes contraditório e belo em sua complexidade. Não vou entrar no debate da morte em si, porque este tema real-

mente merece atenção especial. Vou me ater, nesse primeiro momento, ao bem-estar animal enquanto ele vive. E cuidar do bem-estar dos animais, significa, veja só: dobrar o rebanho, neutralizar a emissão de carbono e evitar derrubada de vegetação nativa para dar lugar a novos pastos. Parece um contrassenso ou até mesmo clichê dizer que com amor, carinho e propósito o negócio prospera. Pois não sou eu quem diz isso. Pesquisas apontam que um pasto bem manejado significa ter mais alimento disponível e com isso passar de um para dois bois por hectare, ou seja, dobrar a produção. Segundo pesquisadores da Embrapa, o solo pode funcionar como

dreno ou fonte de carbono para atmosfera. Sendo assim, pastos bem cuidados e com investimento de tecnologia “retêm mais carbono nas culturas e pastagens do que perdem pela emissão de gases de efeito estufa, obtendo saldo positivo de carbono”. Ou seja, sabe a preocupação com os gases emitidos pelo pum ou arroto do boi? Essa inquietação deixa de existir, já que sistemas pecuários bem manejados podem neutralizar a emissão de carbono e até mesmo fixá-lo. Pesquisadores, criadores, consultores, exportadores e defensores da carne não se cansam de dizer que não é preciso derrubar uma única árvore para aumentar a produção da pecuária no Brasil e que a produção

pode ser totalmente carbono neutro. Dar do bom e do melhor ao animal enquanto ele vive é melhorar sua alimentação e condições de vida. É investir em tecnologia, sustentabilidade e rastreabilidade. Que as novas tecnologias se disseminem pelo campo. Que os consumidores saibam

a verdadeira origem dos alimentos que compram. Pelo bem-estar animal, pela redenção do churrasco e pela qualidade do meio ambiente. Juliana Carvalho é jornalista e mestre em Comunicação pela Université Grenoble Alpes

CANTINHO DA POESIA

Um lance de infinito avesso ao chorar Por Rodrigo Meloni A cria crescia assim como se nada pudesse impedi-la; Para de tomar corpo, de gritar mais alto, de chorar mais longe, de chegar mais perto do umbigo do universo; Nada daquilo parecia ser possível; afinal, uma cria deve, tem, é obrigado, célula após célula, a crescer. Com o filho de dona Xingá não foi diferente. Cresceu até atingir a altura do firmamento, de tão grande era aquele corpo. Cabia no mundo mais não. Era maior que tudo, que todos, era maior que o mundo, que outros planetas, que o universo. Era um lance do infinito. Era algo que só fazia chorar, pois espaço para aquilo não havia. Tudo lhe era pequeno, e o ar lhe faltava. Estava perdido dentro de sua grandeza, que não sabia mais pra onde estender seus braços, longos tentáculos. Aquilo que era de dona Xingá, e que nunca parara de crescer, não lhe era um filho: era uma grande dor que lhe doía o peito. E era uma dor infinita, por que doía a morte de todos os seus desejos.

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COM CRUCIFIXO EM PUNHO, PRIMEIRO BISPO DE CUIABÁ SAIU ÀS RUAS ROGANDO POR PAZ A Praça Bispo Dom José, antigo Largo do Mundéu, leva o nome do bispo primaz de Cuiabá, dom José Antônio dos Reis, que viveu na capital entre 1833 e 1876. Ele tentou impedir a participação de inúmeras pessoas na sangrenta revolta que ocorreu em 30 de maio 1834. Determinado, Ele erguia pelas ruas um enorme crucifixo, ao mesmo tempo em que condenava a violência e o uso de armas, exigindo paz. A revolta conhecida como “A Rusga” se encerrou com o morticínio de milhares de portugueses. O bispo dom José foi deputado em São Paulo, seu estado, e nomeado bispo, em 1832. Além da formação em Filosofia e Teologia, também foi o primeiro aluno formado em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco-SP, que completou 191 anos em 1827. Dom José também foi idealizador do Seminário do Porto, no morro atual do Seminário, em Cuiabá, contrariando a Diocese, que queria outro local. Dom José fez questão de edificá-lo junto à Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, onde a obra foi concluída em 1882. O primeiro bispo de Cuiabá faleceu em 11 de outubro de 1876, com 88 anos e, segundo registros, está sepultado na Catedral Metropolitana de Cuiabá. Fonte: Almanaque Cuyabá

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TEATRO

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Diretor cuiabano faz releitura do clássico ‘’Romeu e Julieta’’ para tratar sobre liberdade e racismo RAPHAEL THORINO

Na historia original de Shakespeare, o jovem casal termina de maneira trágica um dos romances mais conhecidos do mundo

Mailson Prado Com supervisão da editora-chefe

britânico não mostraria”, analisa Jeferson. A história por trás da releitura trás um panorama social, abordando a importância das questões ligadas ao preconceito, racismo e xenofobia. Começando pelo título do espetáculo da versão de Jeferson, que dá ênfase à representatividade feminina: “Julieta e Romeu”, cuja protagonista não só é uma voz feminina, mas, ainda, negra e angolana que sofreu todos os tipos de preconceito ao chegar ao Brasil. Weza Kissanga – esMICHELLE CÂNDIDO

Escrito no final do século XVI por Willian Shakespeare, Romeu e Julieta se tornou um clássico da literatura mundial. O romance retrata a historia de dois jovens apaixonados em um romance proibido, já que as famílias grandes inimigas. O texto tem vários elementos para prender a atenção do leitor, um casal jovem descobrindo o amor, famílias rivais com histórico de confronto, o amor proibido e um final arrebatador.

Fazer uma releitura de um clássico é sempre desafiador, mas não intimidou o diretor e escritor cuiabano, Jeferson Bertoloti, pelo contrário, serviu de inspiração para abordar temáticas tão atuais como liberdade e racismo. “Eu cresci ouvindo sobre Romeu e Julieta e com o tempo fui pesquisando e estudando a história deles. Quando morrem no fim, o ódio, a mágoa e toda a raiva das famílias não morrem, continua. Eu levo em consideração, principalmente, nesse espetáculo, as coisas que talvez o romantismo

A atriz que interpreta Julieta, Weza Kissanga, e o diretor do espetáculo, Jeferson Bertoloti

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com dados sobre as temáticas abordadas como a violência sexual, padres que deixam o sacerdócio para constituir famílias, racismo, etc. O espetáculo conta com elementos da cultura cuiabana e mato-grossense. “Nós temos uma representação bem importante com uma música das mulheres

Eu busquei referências de personagens negros que já tivessem interpretado a obra para me espelhar, mas não encontrei. O texto final fala muito sobre liberdade e respeito e é bem forte, ainda mais, por ser uma atriz negra falando isso. É bem impactante para a platéia. Viver essa personagem tem sido bem gratificante

Cena do espetáculo “Julieta e Romeu”

tudante de Ciência e Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – é atriz na Bentivi Academia de Artes, de Jeferson e Juninho Carvalho, e foi criteriosamente escolhida para dar vida à nova Julieta. Para Weza, protagonizar essa releitura é um desafio e, ao mesmo tempo, um prazer, pois ela pode transmitir sua essência em temáticas vivenciadas na vida real. “Eu não poderia sonhar com isso, ainda mais sendo uma obra de Shakespeare com tamanho prestígio. É muita responsabilidade fazer esse personagem, ainda mais por eu ser negra. As pessoas te rotulam só pela sua imagem. Eu busquei referências de personagens negros que já tivessem interpretado a obra para me espelhar, mas

não encontrei. O texto final fala muito sobre liberdade e respeito e é bem forte, ainda mais, por ser uma atriz negra falando isso. É bem impactante para a platéia. Viver essa personagem tem sido bem gratificante”, conta Weza. Jeferson conta que as mudanças na peça não param por ai, por exemplo, o personagem Frey Lourança, interpretado pelo ator Altiery Dallys, deixa a congregação para dedicar um tempo para sua vida, não como uma forma de confrontar a igreja, mas para se abrir ao amor. Outra diferença é a releitura dada ao personagem Rosalina Capuleto, vivida pela atriz Anna Pellizon, que é violentada pelo irmão adotivo. Durante a apresentação do espetáculo, Jeferson faz questão de colocar em um telão várias informações

de Vila Bela da Santíssima Trindade, que tem um significado especial chamada Adeus Passarinho”. O Jeferson Bertoloti e Weza Kissanga deixam o convite aos amantes do teatro para assistir a peça. “Eu desejo que a pessoa vá com a mentalidade e coração abertos. É uma imersão no respeito e na escolha, seja da Julieta ou de Romeu, do Frei ou de qualquer um deles. E depois refletir sobre, como por exemplo, se você está do lado do oprimido ou do opressor?”, finaliza Jeferson. Serviço O grupo se prepara para sair em turnê pelo estado com o apoio da Assembleia Social – antiga Sala da Mulher – da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT).

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