Revista RDM ed 286

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www.rdmonline.com.br ANO XXII EDIÇÃO 286 R$ 8,90

MATO GROSSO

DESIGN DE VAREJO Retail Design usa arquitetura para proporcionar uma boa experiência de compra em lojas varejistas

HOSPITAL DO CÂNCER Conheça histórias de luta e superação

AGRONEGÓCIO

Conheça o primeiro hub de inovação de MT que vai conectar empresas, produtores e startups



SUMÁRIO.

CARTA DO EDITOR.

ANO XXII | EDIÇÃO Nº 281 MARÇO/ABRIL 2019 DIRETOR DE REDAÇÃO JÕAO PEDRO MARQUES

ANO XXII | EDIÇÃO Nº 286 COORDENAÇÃO DE JORNALISMO OUTUBRO/2019 CARLA NINOS DIRETOR DE REDAÇÃO EDITOR JOÃO PEDRO MARQUES GLÁUCIO NOGUEIRA

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COORDENAÇÃO DE JORNALISMO EDITOR CARLA NINOS SECOM/MT EDITOR GERAL FOTOGRAFIA: CARLA NINOS MAISLON PRADO, UNIMED CUIABÁ, CHARLES FONSECA TORRES, SECOM/MT, LORRANA CARVALHO, RAFAELLA FOTOGRAFIA: JIRAPONG MANUSTRONG/GETTY IMAGES, ZANOL E JÚNIOR SILGUEIRO. FORBES BRASIL, SECOM/MT, TMG/ DIVULGAÇÃO, ARQUIVO HCANMT, DIAGRAMAÇÃO/ARTE: VANIA COSTA, |MAILSON PRADO, CRIS NASCIMENTO CRIS@CNJOB.COM.BR BANCO MUNDIAL/ONU, ARQUIVO/ ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL REVISÃO:

Retail Design muda o conceito de varejo em Mato Grosso

DORALICE JACOMAZI DIAGRAÇÃO/ARTE FERNANDO TEXTO:INÁCIO CARLA NINOS, *MAILSON PRADO (*Com supervisão REVISÃO da coordenação de jornalismo) DORALICE E LORENA JACOMAZI LACERDA

TEXTO: REDAÇÃO: MAILSON PRADO, MICHELLE (65) 3623-1170 / 3622-2310 CANDIDO, RUI MATOS, VANIA COSTA REDAÇÃO@REVISTARDM.COM.BR

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Hospital do Câncer: Conheça histórias de luta e superação

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REDAÇÃO: (65) 3623-1170 / 3622-2310 redação@revistardm.com.br RDM NÃO SE RESPONSABILIZA POR MATÉRIAS E ARTIGOS ASSINADOS, QUE NÃO REFLETEM RDM NÃO SE RESPONSABILIZA POR NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DA REVISTA. AS MATÉRIAS E ARTIGOS MATÉRIAS ESPECIAIS PUBLICADAS NA RDM SÃO ASSINADOS,DE QUESEUS NÃO REFLETEM DE COLABORAÇÃO AUTORES E CEDIDAS NECESSARIAMENTE ESPONTANEAMENTE, SEM FINS LUCRATIVOS. A OPINIÃO DA REVISTA. AS MATÉRIAS ESPECIAIS PUBLICADAS NA RDM SÃO DE COLABORAÇÃO DE COMERCIAL/MÍDIA: SEUS AUTORES E CEDIDAS ESPONTANEAMENTE, SEM FINS ARTUR DIAS DA FONSECA NETO LUCRATIVOS. (65) 3623-1170

DOENÇA CELÍACA: a intolerância ao glúten atinge 150 mil brasileiros por ano

(65) 9682-1470

COMERCIAL/MÍDIA: ARTUR EVELIN DIAS DA DEIRANE FONSECA NETO (65)99988-1317 (65) 3623-1170 (65) 99682-1470 mídia@revistardm.com.br

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AGRONEGÓCIO: AgriHub Space vai incubar e acelerar startups de tecnologia voltadas ao agronegócio

comercial@revistardm.com.br

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midia@revistardm.com.br comercial@revistardm.com.br

BECO DO CANDEEIRO: Obra sobre os 20 anos de chacina precisa de financiamento

ADMINISTRATIVO CENTRAL: (65) 3623-1170 ADMINISTRATIVO CENTRAL (65) 3623-1170

Tiragem: 30 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO/CIRCULAÇÃO A REVISTA ADEMIR RDM MATO GROSSO É PUBLICAÇÃO DO KUHNEN GALITZKI

EM FOCO

TIRAGEM: 30 MIL EXEMPLARES A REVISTA RDM MATO GROSSO É PUBLICAÇÃO DO

Oncologista desvenda mitos e crenças sobre o câncer de mama ENTREVISTA: médico oncologista, clínico do Hospital de Câncer de Mato Grosso, Eduardo Romero, orienta sobre prevenção ao câncer

GALERIA 504 – RUA BRIGADEIRO EDUARDO GOMES, 504 BAIRRO POPULAR, CUIABÁ/MT CEP: 78045-300

Novos conceitos e inovação! EXPEDIENTE.

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ANO XXII | EDIÇÃO Nº 281

2019 sta edição da Revista RDM trás naMARÇO/ABRIL capa reportagem sobre o novo DIRETOREm DE REDAÇÃO conceito de varejo, em Mato Grosso. um mundo de negócios JÕAO PEDRO MARQUES cada vez mais competitivo, ter um diferencial é essencial para COORDENAÇÃO DE JORNALISMO conquistar o cliente e manter o empreendimento rentável. Um CARLA NINOS destes diferenciais é transformar a marca, produto, loja ou estabelecimento EDITOR GLÁUCIO NOGUEIRA comercial em algo necessário ao consumidor. O Retail Design pode ser EDITOR proporcionar uma boa definido como o uso da arquitetura João voltada para SECOM/MTMarques Pedro experiência de compra. O conceito agradou!

Diretor

Editorial.

FOTOGRAFIA: MAISLON PRADO, UNIMED CUIABÁ, CHARLES FONSECA TORRES, SECOM/MT, LORRANA CARVALHO, RAFAELLA ZANOL E JÚNIOR SILGUEIRO.

Destacamos também o Hospital do Câncer de Mato Grosso, que realiza um belo trabalho nesses 20 anos de existência. Na reportagem, você vai DIAGRAMAÇÃO/ARTE: CRIS NASCIMENTO | CRIS@CNJOB.COM.BR conhecer algumas histórias de luta e superação.

O tempo está acabando REVISÃO: DORALICE JACOMAZI

Nesta edição, você verá, também, uma entrevista com o médico oncoTEXTO: CARLA NINOS, *MAILSONGrosso, PRADO (*Com supervisão logista e clínico do Hospital de Câncer de Mato Eduardo Romero, Diretor da coordenação de jornalismo) que alerta sobre o estilo de vida das pessoasE LORENA que LACERDA pode ser determinante na prevenção do câncer. REDAÇÃO: (65) 3623-1170 / 3622-2310 REDAÇÃO@REVISTARDM.COM.BR

Editorial.

echando o aprimeiro A caderno expectativa diante decom tantas Além disso, edição traz um sobreéoque, Agronegócio uma trimestre de 2019, o dificuldades em articular sua baseo reportagem especial sobre o primeiro hub de inovação de Mato Grosso, RDM NÃO SE RESPONSABILIZA POR MATÉRIAS ânimo dos empresários, etapa da REFLETEM reforma proda ARTIGOS ASSINADOS, QUE NÃO “AgriHub Space”. Projeto quena tem primeira oE propósito de conectar empresas, NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DA REVISTA. AS MATÉRIAS ESPECIAIS NA RDM entenda SÃO À frente investidores e previdência, o PUBLICADAS de dutores rurais, startups eda o ecossistema agrícola egoverno de inovação. da DE COLABORAÇÃO DE SEUS AUTORES E CEDIDAS SEM FINSVentures. LUCRATIVOS. população se os arrefeceu. uma ESPONTANEAMENTE, vez poretodas que, ainda que se operação estão parceiros Sistema Famato LM Ainda que fosse esperada, respeite a separação e a independência echando o primeiro COMERCIAL/MÍDIA: E ainda, depoispolítica de dois anos trabalho intensos, trimestre de 2019, o a demora da classe dosdepoderes, é precisoo jornalista participare proda ARTUR DIAS DA FONSECA NETO ânimo dos empresários, fessor cuiabano Johnny Marcus, 50 anos, realiza antigo sonho de escrever (65)propostas 3623-1170 como um todo em aprovar as tramitação das no Legislativo. investidores e da (65) 9682-1470 um livro-reportagem sobre a chacina Beco do mas enfrenta reformas necessárias para a retomada Bastado que o Candeeiro, país avance nas população se arrefeceu. EVELIN DEIRANE (65)99988-1317 dificuldades financeirasdo para publicar o livro intitulado “Beco do desenvolvimento está passando reformas necessárias para Sem queSaída: o Ainda que fosse esperada, mídia@revistardm.com.br a demora da classe política A Chacina do Beco do Candeeiro 20 Anos Depois”. limite. otimismo,comercial@revistardm.com.br arrefecido com os recentes como um todo em aprovar as reformas Essa lentidão em promover as acontecimentos, volte a reinar e que os necessárias para a retomada ADMINISTRATIVO CENTRAL: leitura! do desenvolvimento está passando do mudanças esperadas pela população investimentos(65) 3623-1170 prometidos, Boa esperados limite. Tiragem:ocorram 30 mil exemplares e manifestadas nas urnas, em outubro e necessários e a retomada do lentidão em promover as Essa João Pedro Marques mudanças esperadas pela população A REVISTA RDM MATO GROSSO É PUBLICAÇÃO DO do ano passado, tem preocupado as crescimento ocorra de fato. e manifestadas nas urnas, em outubro chamadas “vozes das ruas”, que temem do ano passado, tem preocupado as chamadas “vozes das ruas”, que temem João Pedro Marques que tais transformações, por ocorrerem que tais transformações, por ocorrerem Diretor Editorial tarde demais ou de forma muito tímida, tarde demais ou de forma muito tímida, GALERIA 504 – RUA BRIGADEIRO EDUARDO GOMES, 504 não surtam os efeitos esperados. não surtam os efeitos esperados. BAIRRO POPULAR, CUIABÁ/MT CEP: 78045-300

João Pedro Marques

O tempo está acabando A expectativa é que, diante de tantas dificuldades em articular sua base na primeira etapa da reforma da previdência, o governo entenda de uma vez por todas que, ainda que se respeite a separação e a independência dos poderes, é preciso participar da tramitação das propostas no Legislativo. Basta que o país avance nas reformas necessárias para que o otimismo, arrefecido com os recentes acontecimentos, volte a reinar e que os investimentos prometidos, esperados e necessários ocorram e a retomada do crescimento ocorra de fato.

João Pedro Marques Diretor Editorial

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EM FOCO.

Jirapong Manustrong/Getty Images

Mato-grossenses menos endividados

Aneel

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu abrir consulta pública para rever as regras que tratam da chamada geração distribuída, modalidade na qual os consumidores também podem gerar a própria energia elétrica em suas residências, geralmente, por meio de painéis solares ou outra solução com fontes renováveis. As contribuições poderão ser recebidas entre 17 de outubro e 30 de novembro. Está prevista também a realização de uma audiência pública em Brasília para manifestações presenciais no dia 7 do mês que vem. A Aneel quer reduzir subsídios do consumidor que gera a própria energia. A proposta que a Aneel vai colocar em consulta prevê um período de transição para as alterações nas regras. Quem possui o sistema vai permanecer com as regras atuais em vigor até o ano de 2030. 6 - RDM | 2019

Inflação

O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) teve inflação de 0,77% em outubro deste ano. A taxa é superior à observada no mês anterior, que teve uma deflação (queda de preços) de 0,29%. O índice acumula índice de inflação de 4,42% no ano e de 2,97% em 12 meses. A alta da taxa de setembro para outubro foi puxada pelos preços no atacado, medidos pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo, que tiveram inflação de 1,16% em outubro. No mês anterior, o atacado havia tido deflação de 0,57%. Por outro lado, os preços no varejo, medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor, tiveram deflação de 0,06% em outubro. Em setembro, o índice havia tido inflação de 0,05%. O Índice Nacional de Custo da Construção também teve queda, mas continuou registrando inflação. A taxa recuou de 0,79% em setembro para 0,09% em outubro.

Secom/MT

Produtores rurais e cooperativas de produção que tiveram problemas climáticos ou de comercialização poderão ter acesso a uma nova linha de crédito para refinanciar a dívida. Em reunião extraordinária o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu as condições para o novo financiamento. Nessa composição de dívidas, os bancos concedem novo crédito para a liquidação integral de débitos. Ao todo, o governo vai oferecer até R$ 1 bilhão para a composição de dívidas de empréstimos de custeio e investimento rural contratadas até 28 de dezembro de 2017. Cada produtor só poderá contrair até R$ 3 milhões para a composição de dívidas, com juros efetivos de 8% ao ano e prazo de pagamento de até 12 anos. O beneficiário terá 36 meses de carência, só começando a pagar a nova linha de crédito três anos depois da contratação.

FMI corta projeção do PIB do Brasil O Fundo Monetário Internacional reduziu a projeção de crescimento para o Brasil, em 2020, para 2% e avaliou que os desequilíbrios fiscais do país são um dos fatores que vão contribuir para manter a atividade econômica na América Latina com expansão anual abaixo de 3% no médio prazo. No relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado no dia 15 de outubro, o Fundo estimou que o Brasil deve crescer um pouco mais em 2019 do que o projetado anteriormente, mas mostra uma recuperação mais fraca no ano que vem. O FMI vê agora crescimento de 0,9% do Brasil em 2019, um aumento de 0,1 ponto percentual em relação à estimativa feita em julho, na atualização de seu relatório. Entretanto, para 2020 o organismo cortou sua previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) a 2,0%, de 2,4% antes.

Reprodução

Reprodução

De acordo com o levantamento feito pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em setembro deste ano, os dados apontam que o número de dívidas em atraso de moradores de MT caiu ‐3,71%, em relação a setembro de 2018. O dado ficou acima da média da região Centro‐ Oeste (‐6,27%) e abaixo da média nacional (‐2,51%). Na passagem de agosto para setembro, o número de dívidas de Mato Grosso caiu ‐0,74%. Na região Centro‐Oeste, nessa mesma base de comparação, a variação foi de ‐2,28%. O setor com participação mais expressiva do número de dívidas em setembro foi Bancos, com 33,16% do total de dívidas. Em seguida, comércio, água e luz, comunicação e outros.

Produtor Rural

Forbes Brasil

DA REDAÇÃO

Levantamento entre Capitais

Geração de Empregos

A planta da Delta Biocombustíveis foi inaugurada em Cuiabá no inicio do mês, no Distrito Industrial. A nova planta terá capacidade de produção de até 1 milhão de litros de combustível limpo por dia, sendo a sétima maior planta do mercado de biodiesel brasileiro, e será responsável pela geração de cerca de 100 empregos diretos. “Economicamente, o País começa a dar sinais de recuperação e é preciso que o governo continue fazendo a sua parte que é dar maior agenda de eficiência para levar a um cenário de investimento. A produção de biocombustível é uma estratégia que é acertada por ser uma alternativa sustentável e com grande geração de valor. A indústria é a prova de confiança de que o empresariado enxerga Mato Grosso com bons olhos”, comenta Gustavo de Oliveira, presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT).

O preço médio para se comer fora em Cuiabá é o 9º menor entre as capitais brasileiras, com R$ 31,59. O valor foi divulgado pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT). Para se chegar a esse valor médio, foram usados preços do prato feito e da comida por quilo em diversas cidades do país. Em Cuiabá, a média que se paga por um prato feito ou prato comercial é de R$ 31,09, já a comida a quilo sai por R$ 28,85. Essa refeição é composta por prato principal, bebida, sobremesa e cafezinho. Esses valores são usados como referência por empresas que concedem benefícios como auxílio-alimentação ou vale-refeição. Na comparação com os outros estados do Centro-Oeste, Cuiabá fica em segundo no ranking das mais baratas, atrás de Goiânia, que tem preço médio da refeição fora de casa por R$ 31,13.

Tributos Recolhidos

Às 12 horas do dia 11 de outubro, o governo estadual já havia arrecadado um valor estimado de R$ 25.900 bilhões em tributos pagos pela população, no estado em 2019. No Dia das Crianças (12), a arrecadação do estado atingiu a casa dos R$ 26 bi pagos em impostos, taxas, multas e contribuições. Dados da CNDL e SPC Brasil, em parceria com o Sebrae, mostram que para 96% dos empresários brasileiros, a alta carga tributária e a complexidade do sistema de arrecadação são as principais barreiras para o desenvolvimento do país. A pesquisa revela, ainda, que 49% deles apontam como um obstáculo aos negócios o excesso de burocracia para abrir, manter e fechar empresas, além da contratação e dispensa de funcionários. Já 44% veem os altos juros como dificultador para o crescimento, e 41% reclamam da tributação da folha de pagamento de funcionários. 2019 | RDM - 7


DESIGN DE VAREJO.

Retail Design muda o conceito de varejo em Mato Grosso

O importante é gerar um tipo de experiência para o consumidor onde o DNA da marca esteja reproduzido nessa experiência

Retail Design pode ser definido como o uso da arquitetura voltada para proporcionar uma boa experiência de compra FOTOS: Divulgação

dade da marca são planejados de forma integrada, de forma a criar uma experiência marcante para o consumidor e fazer com que aquele produto, marca ou estabelecimento não seja esquecido”, aponta Danilo. Arquitetos antenados com tendências e necessidades do mercado.

a organização do espaço, tanto interno ou externo. O objetivo final é estimular o aumento da venda de produtos, bens ou serviços ao seu consumidor”, explica o publicitário Danilo Rondinelli, da Total Varejo. A ferramenta tem sido usada especialmente por supermercados, mas outros segmentos também estão se beneficiando deste conceito, como res-

taurantes, pet shops, lojas de roupas e calçados, farmácias e até açougues. O conceito é relativamente novo em Mato Grosso, mas já é usado há bastante tempo em outros países e grandes centros. “O importante é gerar um tipo de experiência para o consumidor onde o DNA da marca esteja reproduzido nessa experiência. No Retail Design a operação, identidade arquitetônica e identi-

Novo Conceito Para o arquiteto da Total Varejo, Attilio Rondinelli, o Retail Design é diferente de um projeto de arquitetura e decoração normal. “É necessário entender o negócio ou o produto oferecido, desenvolvendo um projeto não apenas do ponto de vista estético, mas operacional e de marca. É preciso muita pesquisa para elaborar uma proposta em consonância com a proposta do negócio, em que mercado ele está inserido, quais as operações necessárias, as ten-

Supermercado Aurora, tradição valorizada em novo layout Da Redação

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m um mundo de negócios cada vez mais competitivo, ter um diferencial é essencial para conquistar o cliente e manter o empreendimento rentável. Um destes diferenciais é transformar a marca, produto, loja ou estabelecimento comercial em algo necessário ao consumidor, uma experiência positiva, que desperte o desejo de repetir e repassar aos outros. Neste quesito, o empresário conta com uma ferramenta, cujo conceito é relativamente novo e que alia conhecimento de mercado e projetos arquitetônicos, o Retail Design. Pode ser definido como o uso da arquitetura voltada para proporcionar uma boa experiência de compra. É pensar no ponto de venda como um espaço que define as características da marca. Onde

tudo está integrado - cores, iluminação, comunicação visual, equipe de vendas e produto – formando um ambiente harmônico e funcional. Onde o DNA da marca está reproduzido na experiência vivida pelo cliente. Essa nova modalidade de projetos arquitetônicos cria personalidade ao negócio, fazendo com que a marca tenha um significado. A ferramenta é utilizada para que todos os potenciais que a marca oferece sejam utilizados e assim fidelizar o cliente. “O Retail Design, ou Design de Varejo, é uma ferramenta fundamental para transferir a essência e valores das marcas ao seu público. Seja na hora de projetar espaços comerciais criativos, ou ressignificar uma loja existente, alinhados claramente com os objetivos das marcas, levando em consideração Em Sorriso, supermercado alia ares de modernidade e conforto

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OUTUBRO ROSA.

Divulgação

DESIGN DE VAREJO.

Comodidade e praticidade na nova sede do Guia do Marceneiro

dências do segmento”, destaca. O objetivo é criar lojas confortáveis, atrativas, em que o cliente se sinta à vontade e queira voltar, às vezes sem nem saber explicar o motivo, mas querer voltar. A funcionalidade é fundamental. A loja deve estar organizada e os produtos expostos de forma que os consumidores possam percorrer o ambiente e conhecer os produtos sozinhos, sem a necessidade de um atendente, otimizando a equipe de trabalho. O conceito atinge também os funcionários que se sentem mais confortáveis, dispostos e valorizados por trabalharem em um lugar pensado, projetado, bonito e organizado. Estas mudanças estéticas e conceituais em lojas físicas são mais notáveis em marcas de moda. As grifes conseguem apresentar suas coleções de produtos alinhadas com suas propostas de lojas, tendência que vem se aplicando em outros setores do varejo, em escalas diferentes. Empresas que cada vez mais apresentam projetos mais elaborados e fundamentados nos conceitos de suas marcas. 10 - RDM | 2019

Projeto Prévio Não é somente na parte estética que o Retail Design entra. Na organização dos espaços, na ambientação, exposição dos produtos, acabamento, entre outros itens. Em um supermercado, por exemplo, o conceito pode ser usado na organização dos estoques. Por falta de conhecimento, alguns estabelecimentos chegam a ter vários espaços para estoques, o que demanda um número maior de colaboradores e tempo. “Utilizando o conceito, este estoque pode ser otimizado em um espaço só, economizando tempo, otimizando a operação e exigindo um número menor de colaboradores”, diz Danilo. Entre os erros cometidos por lojas, supermercados e outros estabelecimentos que emperram o crescimento do negócio ou podem levar ao seu fim, estão a forma equivocada da entrada da loja, que pode ser confusa, corredores estreitos que dificultam o fluxo de pessoas, um layout não balanceado, cores equivocadas, equipamentos desatualizados, uma comunicação visual ultrapassada e operações onerosas. Outro equívoco comum é copiar ou

querer imitar outra loja, marca ou produto. O cliente, sempre antenado, vai perceber que não é algo inovador e, na maioria das vezes, rejeitar. Pode-se inspirar no conceito de sucesso de algum outro negócio, mas com outra abordagem, nunca copiar layout, cores, formas, entre outros itens. “Não se deve subestimar o público. Ele está a cada dia mais informado, quer coisas boas, quer ter uma experiência diferente, não importa a classe social e financeira”, aponta Danilo. As empresas também erram quando investem na ambientação e apresentação correta, mas deixam de lado o bom atendimento e um produto de qualidade. Estes dois itens são essenciais para que o cliente tenha uma boa experiência com o negócio. É fundamental o estabelecimento estar integrado com a qualidade do produto e do atendimento. Os especialistas apontam ainda que, antes de iniciar qualquer tipo de negócio físico – lojas, mercados e outros - é preciso ter um projeto prévio, que vem antes mesmo da elaboração do projeto de marketing e divulgação.

Aparição do câncer também está ligado aos hábitos de vida de cada mulher

Oncologista desvenda mitos e crenças sobre o câncer de mama Mesmo com ampla divulgação sobre a doença e a campanha Outubro Rosa, ainda circulam muitas informações que prejudica o tratamento

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Da Redação

esde 2002 no Brasil, a campanha do ‘Outubro Rosa’foi estabelecida no calendário do Ministério da Saúde e ganhou ampla divulgação no país. Atualmente é um dos principais movimentos de conscientização trabalhado em diversas entidades e empresas. Mesmo com esse panorama, a desinformação das pessoas em re-

lação a doença, ao tratamento e o diagnóstico ainda é muito alta. Um estudo da revista Breast Cancer Researchand Treatment publicado em 2016, analisou mais de 1 milhão de posts publicados sobre o câncer de mama, e detectou que 38% das publicações tratavam sobre as dificuldades relacionadas ao diagnóstico e tratamento da doença.

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20 ANOS.

O oncologista André Crepaldi, da Clínica Oncolog, alerta para os principais mitos da doença. “Um dos grandes mitos sobre o câncer de mama é sobre o autoexame como única forma de diagnóstico. As pessoas acreditam que todo caroço que aparecer no seio pode ser câncer de mama e isso não é verdade. A maioria dos caroços das mamas são nódulos chamados de fibroadenoma. O que as mulheres devem saber é que após sentir esse nódulo é ideal que busque um mastologista para ampliar a investigação”, afirma. O oncologista aponta que outra crença bastante comum é em relação a genética. “Nós sabemos que o histórico familiar interfere no surgimento da doença, mas isso não significa que se uma sua mãe teve câncer de mama, a filha terá a doença com toda certeza. As probabilidades são maiores, mas a aparição do câncer, também está ligado aos hábitos de vida de cada mulher”, relata. Algumas mulheres também acreditam que a prótese de silicone impede a realização da mamografia. “Isso não é verdade, a mulher pode fazer a mamografia normalmente. Quando chegam as imagens nós conseguimos ver a prótese como uma mancha branca e o tecido mamário continua em volta, por isso, conseguimos ver bem se existe alguma anomalia naquela mama”, descreve o oncologista. Se houver dúvida, exames mais especializados como a ressonância da mama podem ser realizados. “Outros mitos sobre o câncer de mama estão relacionados a utilização de desodorante e ao uso de sutiã apertado. Essa é uma informação completamente errada. Não existem estudos e nem comprovações de que uma coisa está relacionada a outra. Outro mito para destacar é o de que mulheres com seios menores tem menos chances de ter câncer de mama e isso não existe. Todas as mulheres podem ter essa doença”, afirma. Devido ao alto número de informações disseminadas, as pessoas não conseguem distinguir o que está correto ou não, fator prejudicial para o diagnostico e tratamento da doença. É possível destacar algumas verdades sobre o surgimento e causas do câncer de mama, entre elas, a amamentação e a prática de exercícios como prevenção da doença. “As mulheres que amamentaram têm menos chance de ter câncer de mama e já as mulheres que menstruam muito cedo, que são mães depois dos 30 tem maior probabilidade de desenvolver o câncer de mama. Além disso, essa é uma doença que acomete homens também, então é um mito dizer que somente mulheres estão predispostas”, ressalta André. De acordo como Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão ligado ao Ministério da Saúde, o câncer de mama é uma das principais causas de morte das mulheres no Brasil, somen-

te em 2017, foram 16.724 vítimas dessa doença. As estatísticas anuais apontam que são 59.700 novos casos no Brasil. Dr. André afirma que o aumento de casos está ligado aos hábitos de vida das pessoas. “A rotina das pessoas está diretamente ligada ao aparecimento do câncer. A maioria das pacientes com câncer de mama fazia uso excessivo de álcool, cigarro, alimentos embutidos, além do sedentarismo e o sobrepeso. Existem algumas formas para prevenir, que pode ser alimentação saudável, evitar uso de anticoncepcionais, hormônios sintéticos e terapias de reposição hormonal quando possível”, afirma. O câncer de mama é uma doença altamente tratável, se for detectada no início, possui chances altas de cura. Procure um ginecologista pelo menos uma vez ao ano e faça os exames de rotina. Movimento Rosazul Com o objetivo de ampliar a campanha do Outubro Rosa e incluir a conscientização sobre o câncer de próstata, o Complexo Hospitalar de Cuiabá inovou com a implantação do Movimento ROSAZUL que tem o objetivo de unir as ações do Outubro Rosa e o Novembro Azul para potencializar as campanhas de prevenção ao câncer de mama, do colo do útero e próstata. O movimento ficará em atividade durante todo o mês de outubro e novembro no hospital. O “Dia D” promovido pela unidade hospitalar acontece no dia 1 de outubro, onde serão realizadas diversas ações no auditório, com palestras de especialistas e sorteio de brindes. Este é o II Encontro de Conscientização e Prevenção ao câncer de mama e do colo do útero. As ações têm o objetivo de mostrar a atual realidade da doença para sensibilizar as colaboradoras mulheres e a população em geral, sobre a importância da prevenção e detecção precoce, visando à qualidade de vida. O câncer de mama é uma das principais causas de morte das mulheres no Brasil, somente em 2017, foram 16.724 vítimas dessa doença. As estatísticas apontam que são 59.700 novos casos no Brasil por ano que é altamente curável se descoberta precocemente. O “Dia D” marca a abertura dos demais projetos que serão desenvolvidos pelo Complexo Hospitalar de Cuiabá, como o de conscientização dos homens em novembro. A “II Caminhada Novembro Azul” será realizada na Orla do Porto em prol da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Outro fator importante das ações dos projetos é de habilitar, educar e sensibilizar a equipe multidisciplinar, com capacitação preparatória para realizar um contato com pacientes e colaboradores mais humanizado.

Câncer de mama é uma das principais causas de morte das mulheres no Brasil, em 2017, foram 16.724 vítimas dessa doença

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Arquivo HCanMT

OUTUBRO ROSA.

Hospital do Câncer: Conheça histórias de luta e superação Em 2018, o hospital realizou 108.046 atendimentos e visitou 53 municípios com a Campanha de Prevenção promovendo 15.662 atendimentos Michelle Candido

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câncer é a segunda principal causa de morte no mundo, segundo dados divulgados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a doença foi responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018, uma em cada seis mortes é relacionada à patologia. Dessas estatísticas surgem histórias de luta, superação, coragem, perseverança e paciência na busca pela cura. Diariamente, diversas pessoas recebem o diagnóstico de que contraíram algum tipo de câncer e, com isso, aprendem a encarar a vida de maneira diferente, a batalha dos pacientes disputada entre baterias de exames e sessões exaustivas de quimioterapia e radioterapia, alcança o terreno familiar e impõe mudanças na rotina. Foi o que aconteceu com a agricultora Rosa dos Santos, 59 anos, que abriu mão de tudo para dedicar mais atenção a sua neta que está doente. “Peguei a guarda dela, pois minha filha também está com problemas de saúde e não tem condições de dar o suporte necessário. Apesar de tudo, eu me sinto feliz em poder acompanhar minha pequena guerreira nessa luta diária, aprendi muitas coisas nesses anos e vou levar como lição para a vida. Isso me mantém firme, estou pronta para qualquer combate, porque quero ver ela curada. Eu sou a força da minha neta e ela é razão da minha vida”, conta emocionada. Aos dois anos de idade, Mariane dos

Santos – nascida em Terra Nova do Norte e neta de Rosa – sofreu uma queda em casa que a deixou inchada e com hematomas pelo corpo, ao fazer exames, foi diagnosticada com fibromatose infantil, um tipo de câncer considerado raro, que se manifesta quase que, exclusivamente, na região dorsal e lateral dos dedos das mãos e dos pés. Desde 2012, Mariane faz tratamento no Hospital de Câncer de Mato Grosso. “Uma vez ela me questionou porque ela era desse jeito, eu falei que quando Deus dá alguma coisa para gente temos que aceitar, porque ele tem um propósito para tudo. Então, ela se aquietou e disse, é vovó tem gente pior do que eu né, não posso reclamar. Por ter pouca idade, a compreensão dela me incentiva”, declara Rosa. A agricultora conta, ainda, que a menina é muito forte e alegre, não se deixa abater. “Mariane não reclama da vida, por onde passa minha pequena faz amizades e contagia a todos com sua animação. Muitas vezes, seus coleguinhas de tratamento estão tristes, então ela faz de tudo para levantar o astral dos amiguinhos seja contando uma história ou dando carinho. Sinto muito orgulho dessas atitudes dela, isso enche meu coração de esperança e me faz acreditar que dias melhores virão”. Nesse processo de tratamento a equipe do Hospital de Câncer oferece todo suporte necessário, além do acompanhamento médico, Mariane também estuda. “Um fato engraçado que aconteceu foi

que a professora chamou Mariane para aula, mas ela disse que não poderia, pois estava de resguardo porque tinha ganhado uma boneca reborn, que ela batizou de Eloíza. Esse episódio arrancou sorrisos de todos. Eu perguntei o que ela queria ser quando crescer, a resposta foi, quero ser mãe e avó esse é meu grande sonho”, comenta Rosa. O caso de Mariane é delicado, os médicos afirmam que o tratamento deverá ser realizado durante toda a vida. O câncer está nos nervos, por isso Mariane não pode ficar muito tempo deitada ou sentada, ela precisa estar em movimento para que os nervos não atrofiem, “mas isso não é problema para Mariana, que não para o dia todo, nem um segundo, acho que é por isso, também, que sua saúde está controlada”, revela a avó. “Hoje, minha neta está com dez anos de idade, sou grata a Deus pela vida dela. Aos familiares que também estão passando por essa mesma jornada, digo para terem muita fé em Deus, lutem e sigam em frente que uma hora a vitória chega”, declara Rosa. União e cuidados Um tratamento dentário pode revelar muito sobre a saúde, foi assim que Admilson Aranha, 51 anos, que trabalhava como frentista no município de Colíder, descobriu há três meses que estava com câncer no maxilar, que foi removido logo após o diagnóstico. 2019 | RDM - 13


A agricultora Rosa dos Santos. Ao lado, Rosa com a neta, Mariane dos Santos.

“Estávamos confiante de que o câncer teria sido 100% eliminado, mas quando retornamos para saber como estava o resultado do procedimento cirúrgico, foi detectado que o tumor tinha voltado e agora será preciso fazer uma nova cirurgia”, conta Josué Aranha, irmão de Admilson. “Não é fácil passar por esse processo, é complicado tanto para o paciente como para a família. Meu irmão não é casado, não tem filhos, nossa mãe faleceu com a mesma doença e ficou mais difícil por causa disso. Nós, irmãos, temos que ficar revezando para cuidar dele. Ainda bem que nossa família é unida. Eu moro em um sítio e tive que deixar minha esposa e filhos lá, me afastei do trabalho para cuidar do meu irmão, muitas coisas estão sendo sacrificadas, mas creio que Deus está no controle e no final vai dar tudo certo”, relata Josué. Josué ressalta que o tratamento do Mailson Prado

hospital é muito bom, é nítido que a equipe médica faz de tudo para deixar o paciente saudável. “Meu irmão está bastante abatido, sei que minha presença fortalece ele. Nesse processo a família tem que estar unida em prol da recuperação do seu familiar. É importante não desanimar e saber que a última palavra vem de Deus, temos que confiar que a cura vai vir”.

Josué Aranha acompanha o irmão em tratamento no hospital 14 - RDM | 2019

Hospital de Câncer O Hospital de Câncer de Mato Grosso é uma instituição filantrópica que atua, há 20 anos, na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer oferecendo, ainda, atendimento multidisciplinar em diversas especialidades em Mato Grosso. A dedicação dos parceiros e doadores se reflete nos resultados. Em 2018, o hospital realizou 108.046 atendimentos e visitou 53 municípios com a Campanha de Prevenção promovendo 15.662 atendimentos. Foram 69.467 atendimentos de radioterapia, 18.698 atendimentos de quimioterapia, 4.233 cirurgias e 3.896 internações. Dos atendimentos prestados, mais de 90% são serviços voltados para o Sistema Único de Saúde (SUS) e mais da metade são representados por pacientes do interior do estado. São mais de 100 mil atendimentos ao ano, fruto de muito trabalho e solidariedade. “A missão do Hospital, desde sua fundação, é cuidar de pessoas e salvar vidas. Para isso, contamos com o apoio da sociedade que realiza eventos, doações, projetos e trabalhos para ajudar o Hospital de Câncer de Mato Grosso a manter o alto padrão de qualidade mes-

Mailson Prado

Mailson Prado

ENTREVISTA.

Mailson Prado

20 ANOS.

Silvia Negri, administradora do Hospital de Câncer de Mato Grosso

mo com a demanda crescente por tratamento oncológico”, afirma a administradora do Hospital de Câncer de Mato Grosso, Silvia Negri. Em comemoração aos 20 anos da instituição, será realizado um show com o cantor Daniel, no dia 8 de novembro, na Musiva, em que toda renda arrecadada será revertida para manutenção do Hospital de Câncer. Silvia esclarece que todas as melhorias feitas na estrutura do hospital são graças às doações, parcerias e campanhas para concretizar os projetos. “É através das doações que nós continuamos atendendo os nossos pacientes de forma igualitária, humana, sempre buscando melhorar todos os dias. Se não fosse essas ações da sociedade seria impossível manter a estrutura que nós temos hoje; e mesmo com as doações, ainda fica difícil, porque sempre tem contas em aberto, mas a nossa vontade e necessidade dos pacientes supera tudo isso e, no final, conseguimos vencer”, finaliza Silvia Negri. Serviço Ação: Show do Daniel em comemoração aos 20 Anos do Hospital de Câncer Dia: 08/11/2019 Local: Musiva, às 22 horas Ingressos: HCanMT, Casa de Festas e venda online pelo link eventos.hcancer.com.br Valor: a partir de R$ 50 Para realizar doações ao hospital entre contato com a central de captação nos telefones: (65) 3648-7540 ou (65) 3648-7567.

Estilo de vida pode ser determinante na prevenção do câncer OMS indica que, em 2025, os casos de câncer cresçam em até 50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população

Michelle Candido

U

m terço das mortes causadas por 20 tipos de câncer no Brasil poderiam ser evitadas com mudanças no estilo de vida. Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física são fatores de risco associados a 114 mil casos da doença (27% do total) e 63 mil mortes (34% do total) por ano no Brasil. Os dados, publicados na revista Cancer Epidemiology, fazem parte de um estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que, em 2025,

os casos de câncer cresçam em até 50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população. Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país. Para falar mais sobre a doença e os desafios da oncologia, a Revista RDM falou com exclusividade, com o médico oncologista clínico do Hospital de Câncer de Mato Grosso, Eduardo Romero. Confira a entrevista! Os casos de câncer estão aumentando ou essa é uma impressão devido ao tema estar mais em evidência? É um pouco das duas coisas, os casos estão aumentando mesmo, temos mais pacientes com câncer e é uma tendência de que seja a doença que mais mate no mundo até 2030, superando as doenças cardiovasculares. Inclusive em algumas cidades

do país como Rio Grande Sul e Paraná já superou. Outro fator que influi nesse aumento é o fato de que, nos dias atuais, nós conseguimos descobrir o câncer mais do antigamente, hoje, os pacientes fazem mais exames. Diminuiu também o medo de falar e discutir sobre câncer, então, isso fez com que começássemos a diagnosticar mais casos de câncer. Antes, o brasileiro descobria a doença em estado mais avançado. Podemos dizer que a população está mais atenta quanto à prevenção? Houve uma melhora, mas ainda continua ruim, a gente ainda recebe muitos pacientes no serviço público, como é o caso do Hospital de Câncer, que chegam com a doença em estado avançado, por conta de não procurar médico ou ficar postergando quando aparece alguma coi2019 | RDM - 15


O TRABALHO QUE PROMOVE DIGNIDADE É FEITO A MUITAS MÃOS. INCLUSIVE A SUA.

LEI Nº 10.745, DE 29 DE AGOSTO DE 2018 - D.O. 29.08.18

Dispõe sobre o atendimento diferenciado à mulher chefe de família, à mulher idosa e à mulher com deficiência nos programas habitacionais populares do Estado de Mato Grosso.

Elaborar leis, fiscalizar a administração pública e promover discussões para o desenvolvimento são exemplos do trabalho feito todos os dias pelos deputados estaduais em importantes decisões para nosso estado. Participe você também: acompanhe as ações da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e ajude a construir uma sociedade melhor para todos.

TRABALHO ACESSE. O DA ASSEMBLEIA ASSISTA. ESTÁ SEMPRE OUÇA. À MÃO.

Perto de você para a mudança acontecer.


O fumo contribui para mortes em todo o planeta. Dez por cento da população brasileira é de fumantes.

sa diferente e não busca ajuda especializada; e pela dificuldade de acesso para fazer os exames, como a mamografia e papanicolau que são exames simples, mas muitos pacientes não conseguem fazer porque não tem local que realiza ou a pessoa nem sabe o que é o exame. No sistema privado encontramos menos casos avançados, infelizmente, o Brasil tem esse déficit na rede pública. Qual o motivo de termos tanto medo do câncer? Eu acho que é, justamente, por nós termos essa visão de que o câncer era uma doença considerada quase que um atestado de óbito, pelo fato de descobrir a doença já em estágio avançado. Vemos tantos casos em que a pessoa é diagnosticada e falece rápido, por conta disso criou esse estigma em cima do câncer, de ser uma doença que vai levar a morte, mas isso vem diminuindo justamente pelo tema estar sendo mais discutido, e nós sabemos que o câncer se descoberto no começo a grande maioria tem chance de cura. Precisamos investir em prevenção e diagnóstico precoce. Antes, as famílias buscavam esconder o verdadeiro diagnóstico dos pacientes de maneira a preservá-los. O fato de o paciente saber sobre a doença ajuda na recuperação? Com certeza ajuda, porém a gente sempre discute com a família e o paciente essa questão de saber ou não, eu acho 18 - RDM | 2019

que todo paciente tem o direito de saber da doença dele e da gravidade, até porque o maior interessado é ele, mas muitas vezes a própria família pede para o paciente não saber da real gravidade, por achar que ele pode se abalar mais, isso é uma conversa muito pessoal com cada família, mas é um direito de todos saber. É muito importante alguém da família ou o paciente saber da gravidade da doença porque, muitas vezes, o câncer está em fase terminal e eles precisam se preparar para aceitar melhor isso. O acompanhamento psicológico também é essencial? É fundamental o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, a oncologia não trata o paciente sozinho ele precisa da assistência de todos os profissionais, psicólogo, cirurgião, radioterapeuta, patologista, nutricionista, dentista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, isso é necessário por tudo que envolve para o enfermo e para família, tem que ter acompanhamento geral. É uma fase muito difícil para todos, portanto, o psicólogo é essencial em todo o processo. A menor incidência de casos que terminam em morte é ligada à evolução dos estudos e tratamentos? Como está o desenvolvimento de pesquisas no Brasil e na comunidade científica internacional? Os três pilares para curar o câncer é prevenção, tentar fazer as coisas certas

para evitar ter a doença que é alimentação saudável, atividade física e fazer exames que diagnostiquem precocemente; e a pesquisa clínica é primordial para o paciente que tem a doença, quanto mais desenvolver os tratamentos as chances de cura aumentam, existe casos que, antigamente, não tinham solução, um exemplo clássico é o melanoma que é um tumor muito agressivo de um prognostico muito ruim quando já se espalhou para outras partes do corpo, mas que melhorou muito, temos estudos recentes que mostram pacientes com metástase fazendo tratamento ou que já fizeram por um tempo e parou, vivendo mais de cinco anos coisa que não se via antes. Então, a pesquisa clínica é fundamental para pensar na cura, no Brasil a gente tem muita dificuldade de fazer por conta de toda burocracia que temos, para conseguir fazer uma pesquisa clínica no nosso país demora muito tempo e, por isso, o Brasil acaba sendo deixado de lado desses estudos grandes. No mundo, toda a pesquisa clínica para câncer toda semana tem coisa nova, isso é uma tendência na oncologia. Estamos próximos da cura de todos os tipos de câncer? É difícil falar de uma forma geral, o câncer é uma doença muito complexa, cada câncer é de um jeito, então, aquela visão de tratamentos milagrosos que aparecem como a pílula do câncer, infelizmente, é ilusão. A gente nunca vai ter um remédio que cure todos os cânceres, isso é humanamente impossível por causa das diferenças que o câncer reage em cada individuo. Existem muitos charlatões que aproveitam para ganhar dinheiro à custa do sofrimento dos outros, essas curas milagrosas não existem. O correto é fazer a prevenção a fim de evitar, pois mesmo prevenindo ninguém está isento de ter a doença, o diagnóstico precoce sim pode curar o câncer, fazer exames periódicos e pesquisa clínica para quem já tem câncer ter, cada vez mais, um tratamento melhor e mais personalizado. O uso das tecnologias como a robótica é uma tendência? A cirurgia é um tratamento muito importante para o câncer e ela vem moder-

nizando com o tempo, a robótica é minimamente evasiva, porém não é qualquer lugar que realiza, e tem o fator de ser mais caro. Cada caso é diferente, muitas vezes ela pode não ser melhor que a cirurgia normal, mas é um novo tratamento disponível e ajuda muito, em Cuiabá ainda não é usado esse método. Quais são os desafios para da Oncologia? Nosso maior desafio é começar a investir nas coisas básicas, para a descoberta da doença, como medicina de família no posto de saúde, prevenção, a população precisa de orientação, por exemplo, a vacina de HPV e contra hepatite é uma forma de prevenir o câncer, porque a maioria das vezes que o paciente procura ajuda quando a doença está em estado avançado. Disponibilizar exames que possam diagnosticar precocemente a doença como mamografia e exame da próstata, essa é a maior dificuldade e também investir em pesquisa clínica e de acesso porque não conseguimos ter acesso a todos os medicamentos que tem no mundo por dificuldade de autorização, ANVISA, ANS, o básico seria prevenção, diagnostico precoce e pesquisa clínica. É possível ter qualidade de vida após o câncer? Quais as orientações? É possível sim ter qualidade de vida pós-câncer, tem alguns efeitos colaterais que ficam, não só da doença, mas também do tratamento da quimioterapia e radiote-

rapia que, às vezes, permanecem por anos ou para o resto da vida. A orientação médica da equipe multidisciplinar é essencial nesse processo para estimular a pessoa a ter hábitos mais saudáveis, muitas vezes, o próprio paciente muda a vida dele por decisão própria mesmo, para de fumar, começa a fazer atividades físicas, isso ajuda na qualidade de vida pós-câncer.

ceres tem chance de cura. Quais são os fatores de risco para desenvolvimento do câncer, os hábitos influenciam no desenvolvimento da doença? Os hábitos influenciam muito, a pessoa que não cuida da saúde, não vai ao médico fazer exames de rotina, faz uso de bebida alcoólica, cigarro, sedentarismo, sobre peso, comida industrializada, são fatores que aumentam a chance de contrair câncer.

O tratamento integral é importante nessa superação? O tratamento integral é muito importante para o paciente, a integração de toda equipe é fundamental para decidir o que fazer para melhoria do paciente.

Existe o fator de hereditariedade para contrair o câncer? Existe sim o fator hereditário para ter o câncer, até 30% dos casos podem ter relação com o fator genético, isso depende muito de cada família, se existe muitos casos ou pessoas jovens, homem com câncer de mama isso aumenta a chance do familiar ter câncer, o fator genético também aumenta a chance de contrair a doença.

Falando em equipe, qual a situação do Brasil em relação ao aprimoramento dos profissionais da área? Hoje, temos acesso às coisas mais fáceis pela internet para atualizar os conhecimentos, é possível acompanhar estudo em tempo real, temos muitas informações disponíveis com novidades de tratamentos e vários congressos de oncologia.

O câncer é uma loteria ou nós que provocamos? Um pouco das duas coisas, nós somos responsáveis pelos nossos hábitos, mas existe a questão do histórico familiar que não temos a opção de escolher, e tem casos de azar mesmo em que a pessoa não tem o fator hereditário, goza de uma vida saudável e, ainda assim, contrai a doença; porque o câncer é célula que multiplica e começa a crescer desordenado que o corpo não consegue controlar, infelizmente todos estão expostos ao câncer.

Qual o câncer mais agressivo para o paciente? Os mais agressivos são os câncer de pulmão, estômago, esôfago, intestino, sarcoma, melanoma, tumor cerebral, mas isso depende muito de quando se descobre a doença, porque todo câncer que é constatado avançado se torna grave, pois a chance de cura fica menor, mas com o diagnóstico precoce, quase todos os cânArquivo/Rovena Rosa/Agência Brasil

Banco Mundial/ONU

ENTREVISTA.

Atividades físicas contribuem para elevar qualidade de vida e reduzir risco de doenças.

Quais os tratamentos mais eficazes no combate do câncer? Em média o tratamento dura quanto tempo? O tratamento básico é a cirurgia, quimioterapias, radioterapia, têm tratamentos mais modernos que é a Imunoterapia, as terapias alvos que é quando se trata mutações específicas, hormônio, no geral, basicamente, é isso que tem de tratamentos. O tratamento ele varia muito, depende de cada doença, há pacientes que tratam pelo resto da vida, já outros podem tratar por meses ou anos, o câncer é uma doença que o individuo vai ter que fazer acompanhamento por toda vida mesmo se tiver curado. 2019 | RDM - 19


FOTOS: Mailson Prado

DOENÇA AUTOIMUNE.

Doença celíaca, caracterizada pela intolerância ao glúten, atinge 150 mil brasileiros por ano Essa condição impossibilita ingestão de glúten e pode estar relacionada às mortes por câncer de quem possui a doença

Leda Alves (camisa branca) e Silvia Jecev (camisa preta) afirmam que a informação é crucial para lidar com a doença celíaca

Mailson Prado, com supervisão da editora-chefe

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á algumas décadas existia um pão especial para quem queria emagrecer: era o pão de glúten! O glúten já foi utilizado em produtos para perda de peso. Mas, o que aconteceu para que ele se tornasse um vilão? O glúten é uma proteína vegetal presente em cereais, como trigo, centeio, cevada, aveia e em todos seus derivados, como farinha, farelos, gérmen, etc. Algumas pessoas podem apresentar hipersensibilidade ao glúten. Nestes casos, a ingestão de alimentos que contenham glúten pode gerar danos a mucosa (parede) intestinal e prejudicar a digestão e absorção dos alimentos e nutrientes. Entre os sintomas, podem ocorrer diarréias, vômitos, irritação e mau humor, falta de apetite, déficit de crescimento em crianças, distensão abdominal e até câncer de intestino, em casos mais graves. O nome dessa intolerância é a doença celíaca ou enteropatia sensível ao glúten. Os pacientes portadores não podem consumir nada que possua essa proteína em sua composição. Doença autoimune Essa condição genética de alergia extrema ao glúten atinge mais de 150 mil pessoas no Brasil por ano. A doença autoimune ocorre quando as células de defesa imunológica do corpo agridem as células 20 - RDM | 2019

do organismo, causando um processo inflamatório. É uma doença provocada pelo contato com o glúten. Para se ter uma ideia, a doença é tão restritiva que atinge até um produto feito em contato com os derivados da proteína, como por exemplo, um pão sem glúten que foi feito em uma maquina com farelos de glúten, também chamada de contaminação cruzada. Grupo de Celíacos Em Mato Grosso, o Grupo de Celíacos foi criado para amparar, trocar experiências, informações e cuidados entre os portadores. A fotógrafa Silvia Jecev é portadora da doença celíaca, mãe de um portador da doença e representante do grupo no estado. Ela conta que tudo começou há quatro anos quando, em uma publicação no facebook, ela sugeriu um piquenique para as pessoas celíacas trocarem informações e se conhecerem. Nesse período, o grupo nasceu e, hoje, através de um grupo de WhatsApp, reúne pessoas 250 pessoas de todo estado. Para Silvia, uma das preocupações que motiva o grupo a manter contanto constante, são os cuidados extremos que os portadores precisam ter para não serem contaminados. “Um caso que aconteceu com o meu filho foi que a escola dele tinha a lista de precauções sobre a condição dele e, mesmo assim, sem saber por qual motivo, ignoraram essas restrições. Ele teve conse-

Lidar com as restrições alimentares já é difícil, e ainda tem o bullying, a descriminação que as crianças sofrem por uma condição que eles não escolheram

quências por conta da negligencia escolar e pelo contato com massinha de modelar que contem o glúten, que o deixou internado por quatro dias”, conta Silvia. A fotógrafa conta, ainda, que muitas outras pessoas tomaram conhecimento do grupo depois do acontecimento com seu filho, ela ganhou visibilidade para falar da doença nas mídias sociais. Hoje, já são mais de 300 famílias cadastradas no grupo de celíacos do estado. O grupo conta também com a voz de Leda Alves, outra mãe que lida, há sete anos, com a doença celíaca do filho, que tem o agravante de ter alergia à proteína do leite da vaca. Ela faz parte do grupo e participa de audiências públicas, espaços que debatem a condição da doença. Para Leda, essa condição alimentar tem características muito próximas de alergias alimentares por conta da dieta que é, totalmente, restritiva ao glúten e a contaminação cruzada dos alimentos. A condição é ainda mais agressiva não só por se tratar das doenças, mas também das restrições do convívio social, como consequência. “Quando o assunto é com a gente que sabe se defender, está tudo bem. Mas, quando é com um filho ou com uma criança que está exposta e nós somos a voz deles, ai a proporção é gigante. Lidar com as restrições alimentares já é difícil e, ainda, tem o bullying, a descriminação que as crianças sofrem por uma condição que eles

não escolheram. Nós podemos afirmar que essa doença não é uma opção, é uma questão de vida ou morte”, explica Leda. Na esfera civil, os portadores da doença têm como órgão de auxílio à Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), uma associação sem fins lucrativos e sem vínculo político que abrange as Associações de Celíacos existentes no país.

A Federação tem a finalidade de integrar as atenções voltadas ao atendimento, orientação e a defesa dos direitos e interesses dos celíacos. Já na esfera governamental não existe uma coordenação de trabalhos voltados aos grupos. Outro parceiro importante que, recentemente, deixou de fazer parte dos trabalhos voltados aos celíacos era o Conselho Nacional de Segurança Ali-

mentar e Nutricional (Consea), que foi destituído pelas mudanças realizadas do atual governo federal. O Conselho Nacional de Saúde é outro parceiro importante nos trabalhos desenvolvidos na fase inicial da doença, pois realiza a gestão dos diagnósticos e acompanhamentos. Em média, um paciente que busca por exames para descobrir as reações do organismo junto ao glúten, até chegar de fato a descobrir que é celíaco, pode levar vários anos por se tratar de uma doença inespecífica na maioria das vezes. A pessoa celíaca tem um risco aumentado de câncer de intestino delgado, incluindo linfoma e adenocarcinoma, por conta da condição alimentar, segundo o Instituto Oncoguia, que informa sobre os assuntos relacionados à celíaca. Silvia alerta que, muitas vezes, a própria família acabada dando brechas para a situação sair do controle. “Às vezes, a sociedade no geral não é muito mais acolhedora para quem vive nessa condição. Você vai a uma reunião de família e os parentes pensam que a doença é brincadeira e oferecem alimentos proibidos mesmo em pequenas quantidades sem autorização, achando que é ‘frescura’ da mãe. Isso pode matar nossos filhos, o glúten é altamente prejudicial para nossa saúde”. Pelas condições e a quantidade das pessoas cadastradas como portadores da doença, Silvia deixa chama atenção para possíveis casos da doença. “Se pararmos para pensar, de cada 100 brasileiros um pode ser portador, é alarmante ver que tem muitas pessoas estão sem o diagnóstico, elas precisam saber para poder ter um acompanhamento e ter as condições necessárias para viver”, finaliza. 2019 | RDM - 21


Q

ualquer dente que se perca, até os de leite, pode desviar a mandíbula (maxilar inferior) e com isto formar uma escoliose na criança. A escoliose é o desvio da coluna na vista frontal do corpo é tida como idiopática (sem causa definida), porém a odontologia funcional estuda há anos as interferências da boca sobre o corpo e constata que a boca é o causador mais influente da curvatura da coluna. Segundo Bernard Bricot, que é um fisioterapeuta francês de renome internacional, uma autoridade no assunto, autor do livro Posturologia, o corpo possui 4 captores (regiões ou órgãos que influenciam na postura). Coclea (labirinto ou de se dá o equilíbrio), olhos, boca e pés. Todos devem estar com seu plano paralelo entre si e paralelos ao solo. Porém a boca é a mais vulnerável e também influente. Ainda que com todos os dentes, uma simples mordida cruzada é o suficiente para causar alteração na coluna. Por isso, sou contra a ortodontia que busca descruzar a mordida com aparelhos, sem levar em consideração que as funções que causarão as alterações nos dentes. Assim como o sapato torto é porque o pé pisa torto, então o que deve ser corrigido não é o sapato, mas sim as funções do corpo como a marcha e a postura. Os dentes são posicionados pelas funções, então o que deve ser corrigido não são os dentes, mas sim as funções da boca que quando em desequilíbrio, estas que causam os encurtamentos dos músculos do pescoço (escalenos, esternocleidomastóide, trapésio). Nos

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casos de dores de cabeça, testa ou nuca e até os ombros, tendem a aparecerem no lado mais funcional, assim como a compressão da ATM (articulação da boca), podendo alterar o labirinto e ouvido causando labirintite, perda auditiva e zumbido. Certa vez, escrevi um artigo onde destaquei os males que a ortodontia causa nas crianças porque estão em crescimento e os aparelhos travam, contem e desequilibram o crescimento dos ossos e músculos da face. A influência muito sutil de uma restauração na proporção de um grão de areia no dente de uma criança simplesmente altera o modo de mastigar ocorrendo um desvio na boca que leva a um domínio mastigatório de apenas um lado da boca, que influencia nos músculos do pescoço do lado da mastigação causando encurtamento nestes músculos e levando a escoliose ou seja o desvio da coluna, mudando o centro de gravidade da cabeça em relação ao corpo, com isto a pelve (quadril) se desloca também para compensar a mudança da cabeça ocorrendo assim o desvio do plano da pelve em relação ao solo, ou melhor se instala o não paralelismo dos planos do corpo em relação ao plano horizontal do solo, um lado da pelve fica mais alto e o lado mais baixo deixa a perna mais comprida em relação ao chão e com isso esta perna sofrerá um encurtamento torcendo o pé e fazendo o joelho dobrar levemente concluindo assim a alteração postural por compensação causada por uma simples restauração no dente da infante levando o corpo inteiro mudar seu centro de gravidade e

ECONOMIA | TECNOLOGIA | ALGODÃO | PRODUTIVIDADE

Vania Costa

Maior parte de casos de desvio da coluna tem origem na boca

Arquivo pessoal

ARTIGO.

alterar até os pés. Praticamente todos os adultos possuem uma alteração postural causada pela boca, pois, raramente, alguns deles não precisam fazer intervenção em dentes ou até mesmo a extração. Portanto quando levar uma criança ao dentista o objetivo maior não deve ser tratar dos dentes, mas sim EQUILIBRAR AS FUNÇÕES DA BOCA QUE SÃO RESPIRAÇÃO, DEGLUTIÇÃO E MASTIGAÇÃO. Dentes devem ser preservados, mas isto é muito pouco. É o mínimo. A partir de três anos existe recurso sem uso de aparelho ortodôntico que trata de todas estas funções em uma ou duas seções. Então pais, a partir de agora, leve seus filhos ao dentista para equilibrar sua postura e as funções corpóreas. Dr. Rosário Casalenuovo Júnior é diretor clínico do Instituto Machado de Odontologia; co-autor do livro ‘Cirurgia Ortognática e Ortodôntica’ e presidente da ABOR-MT (Associação Brasileira de Ortodontia – SEC.MT)

AgriHub Space vai incubar e acelerar startups de tecnologia voltadas ao agronegócio À frente da operação estão os parceiros Sistema Famato e LM Ventures Vania Costa – Especial para a Revista RDM

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Sistema Famato apresentou o conceito do primeiro hub de inovação de Mato Grosso, o “AgriHub Space”. O projeto tem o propósito de conectar empresas, produtores rurais, startups e o ecossistema agrícola e de inovação. Fazem parte desse hub as empresas parceiras Amaggi, Agro Amazônia/ Sumitomo Corporation, Tropical Melhoramento e Genética Ltda (TMG)

e a Rede de Fazendas Alfa. À frente da operação estão os parceiros Sistema Famato e LM Ventures. O lançamento aconteceu em outubro durante uma coletiva de imprensa. “O AgriHub Space não vai transformar Mato Grosso em um novo Vale do Silício e muito menos em um Vale do Suplício. O que mais se comenta no mundo inteiro é que nossa produção não está em equilíbrio com o meio

ambiente, ou que nós produtores não respeitamos as leis ambientais. Isso não é verdade. Investimos em tecnologias para produzir mais e melhor, mas, principalmente, para mostrar que não estamos aqui para destruir o que consideramos a nossa mesa de trabalho, o meio ambiente. O agro, especialmente em Mato Grosso, vai em busca do que é mais moderno para que possamos produzir de forma correta. 2019 | RDM - 23


FOTOS: Vania Costa

HUB DE INOVAÇÃO

Eu confio plenamente nesse projeto”, afirma o presidente do Sistema Famato, Normando Corral. O espaço físico e digital de 400 m² que está instalado no Edifício Famato deve ser inaugurado em dezembro deste ano e funcionará como uma incubadora de startups e ponto de conexão. O local tem com salas de reunião, salas para parceiros, salas flex, mini auditório com capacidade para 35 pessoas. Além do espaço físico, o hub contará com profissionais que darão suporte às empresas parceiras, provedores de tecnologias e as startups incubadas. Para as startups, o AgriHub Space vai oferecer um programa de nove meses, sem custo de participação. Durante o período, elas receberão um pacote de serviços gratuitos para ajudá-las a se desenvolver. Poderão usufruir do espaço físico e digital, e ainda terão acesso a um programa de ajuda comercial para se conectarem com as empresas parceiras e os produtores da Rede de Fazendas Alfa. “O trabalho com as startups será duplo. De um lado aplicaremos nossa metodologia para ajudá-las a se desenvolverem como empresa, de outro, buscaremos efetuar projetos pilotos, para testar na prática a aderência do produto ou serviço no mercado, seja com grandes empresas ou com produtores, visando uma relação comercial futura que beneficie startups e empresas”, explicou o sócio proprietário da LM Ventures, Magnus Arantes . No ambiente também será oferecido uma rede de serviços aos empreendedores e agentes de inovação, com o intuito de acelerar novos negócios e aproximar o mercado e as agtechs. Serão oferecidos ao mercado treina24 - RDM | 2019

COMPETITIVIDADE NO CAMPO

mentos, workshops, painéis temáticos, desafios de inovação, projetos abertos, meet-ups cursos de mentores, dias de mentorias a startups entre outros. Com as empresas parceiras serão trabalhados três horizontes de inovação: o primeiro é ajudar a empresa a inovar no que ela já faz, porém de maneira mais acelerada e rentável; o segundo horizonte é ajudar a empresa a inserir uma atividade nova, próxima ao que ela já faz, como criar uma nova linha de receita, um novo produto ou serviço, e o terceiro horizonte é o disruptivo, o que significa ajudar a empresa a mapear novos negócios ou tecnologias que podem transformar completamente o seu ramo de atividade, como por exemplo, o hamburger sintético ou de plantas, como também produção agrícola em estufas. Caberá às startups se plugar em um dos três horizontes. Um diferencial do projeto é que as empresas parceiras e seus colaboradores poderão trocar experiências e desenvolverem projetos e negócios em conjunto, além de se conectarem com startups e com o ecossistema de inovação. A equipe técnica do AgriHub Space

realizou um diagnóstico das principais necessidades das empresas já parceiras, Amaggi, Agro Amazônia/Sumitomo Corporation e TMG. Esses diagnósticos serão utilizados para a seleção das startups que devem apresentar soluções e aplicações práticas de tecnologias que resolvam problemas levantados neste primeiro levantamento. De acordo com Magnus Arantes, o AgriHub Space provavelmente será o maior hub de inovação em Agro do Brasil, já que está no maior estado produtor de grãos do país e por ser uma iniciativa do Sistema Famato, entidade que representa os produtores rurais. O agronegócio está entre as atividades econômicas mais produtivas do Brasil, e Mato Grosso, como maior estado produtor, naturalmente torna-se protagonista neste cenário. Isso possibilita o entendimento das demandas e tendências do campo, o que promove oportunidades e facilita o desenvolvimento de novos negócios favoráveis ao setor. Essa proximidade com o cliente em potencial, que apresenta interesses semelhantes, pode favorecer o desenvolvimento e efetivação de produtos e serviços que sejam de real necessidade do campo.

TMG/divulgação

Cultivares de algodão TMG mostram diferenciais competitivos em qualidade de fibra Resultados foram divulgados pelo Centro de Análise de Fibras de Algodão da Abapa e são referentes à região Matopiba, que abrange quatro estados Da Redação

O sócio proprietário da LM Ventures, Magnus Arantes

levantamento do mês de setembro do Centro de Análise de Fibras de Algodão da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), entidade que é referência em análise de qualidade de fibra no Brasil, apontou, na região Matopiba (que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que as cultivares de algodão TMG 44B2RF e TMG 47B2RF

apresentam diferenciais competitivos que podem gerar ágio aos produtores rurais no momento da entrega para a exportação da pluma. De acordo com os dados, características intrínsecas da qualidade de fibra das duas variedades, como comprimento (mm) e micronaire, estão dentro do intervalo de recebimento de prêmio, conforme os critérios da Agência Nacional dos Exportadores

de Algodão (Anea) para intervalo de ágio e deságio. Os resultados comprovam que as duas cultivares de algodão TMG testadas, entregam qualidade de fibra premium, ou seja, de padrão internacional de exportação. O laboratório da Abapa analisou 107,3 mil amostras da TMG 44B2RF e mais de 56 mil da TMG 47B2RF até o dia 4 de setembro de 2019. Na característica comprimento, mais de 2019 | RDM - 25


FERIDA ABERTA.

Reprodução

COMPETITIVIDADE NO CAMPO

Regionalmente tivemos ótima resposta e isso fez com que decidíssemos pelo aumento da área com a cultivar que oferece segurança e economia. O cotonicultor explica que em suas áreas a redução de aplicações de fungicidas é de 40% a 50% com o plantio das cultivares com o benefício. Sobre o plantio de variedades TMG, Marcelo afirma que a tomada de decisão é feita a partir de análises internas e com os dados do laboratório da Abapa. Na próxima safra verão, a TMG 44B2RF estará em suas lavouras, em razão da estabilidade de produção, qualidade de pluma e flexibilidade de manejo pela presença da Tecnologia RX. “Regionalmente tivemos ótima resposta e isso fez com que decidíssemos pelo aumento da área com a cultivar”, explica. 90% das amostras de ambas as cultivares estariam aptas para receber ágio de exportação. Na análise de micronaire, 100% das amostras estão de acordo com os critérios da Anea e não sofreriam deságio (desconto). Sérgio Alberto Brentano, gerente do Centro de Análise de Fibras de Algodão da Abapa, comenta que os dados do levantamento abrangem um excelente número de amostras, de uma região extensa de produção de algodão e envolve diferentes produtores. “O levantamento tem muita confiabilidade, é um resultado robusto estatisticamente falando”, destaca. Ramulária Considerada a principal doença fúngica da cotonicultura, a ramulária pode causar enormes prejuízos. Uma das formas de manejo para reduzir os danos causados pela doença é a escolha de variedades tolerantes. A Tecnologia RX, desenvolvida pela TMG, agrega tolerância à ramulária nas cultivares TMG 44B2RF e TMG 47B2RF. 26 - RDM | 2019

Experimento realizado em área de pesquisa de Campo Verde (MT) na safra 2018/19 e apresentado no XI Encontro Técnico de Algodão da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária (Fundação MT), mostra diferenças significativas na evolução da doença em plantas das duas cultivares, com relação a variedades concorrentes. Realizado entre os meses de abril e junho, o ensaio definiu que as variedades da TMG apresentaram no máximo 7% de severidade, enquanto que cultivares concorrentes chegaram a índices de severidade próximos de 70%, ao final desses 2 meses. Além de auxiliar no controle da ramulária, a Tecnologia RX permite ao produtor reduzir custos na lavoura, pois cultivares com este benefício necessitam de 20% a 50% menos aplicações de fungicidas com alto nível de controle. Marcelo Kappes, produtor de algodão na Bahia e no Piauí e presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais da Bahia (Cooperfarms), também avalia que a Tecnologia RX é uma ferramenta

Produtividade O portfólio de algodão da empresa também se destaca pela média de produtividade obtida pelas diversas variedades na safra 18/19. Na Bahia, a TMG 44B2RF obteve resultado médio de 389 @/ha, em 2.289 hectares. Um dos resultados mais expressivos dessa cultivar no estado foi de 430 @/ha, em área de 148 hectares. Também no oeste baiano, a TMG 47B2RF alcançou a média de 360 @/ ha, no total de 2.272 ha, e o resultado excelente de 416 @/ha em uma área comercial de 100 ha. Rendimento de fibra Na safra 18/19 a TMG trouxe ao mercado o lançamento TMG 61RF, cultivar indicada para refúgio e que se diferencia por apresentar alto rendimento de fibra, em torno de 48%, enquanto que no mercado brasileiro o rendimento da maior parte das cultivares chega a no máximo 42%. Em áreas comerciais parceiras da TMG, a variedade apresentou 53,1% de rendimento de pluma (Mato Grosso), 47,36% (Bahia) e 50,5% (Minas Gerais).

Crimes antológicos num beco sem saída Jornalista conclui obra sobre os vinte anos da chacina do Beco do Candeeiro, mas não consegue apoio financeiro para publicação Rui Matos

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epois de dois anos de trabalho intensos, o jornalista e professor cuiabano Johnny Marcus, 50 anos, realiza antigo sonho de escrever um livro-reportagem sobre a execução a tiros de Adileu Santos, o Baby, 13; Edgard Rodrigues, o Indinho, 14; e Reginaldo Dias Magalhães, o Nado, 16, no Beco do Candeeiro, centro histórico de Cuiabá, em 10 de julho de 1998. “Beco Sem Saída: A Chacina do Beco do Candeeiro 20 Anos Depois” mostra como os três meninos trocaram o aconchego do lar pela rudeza das ruas, ao mesmo tempo em que esmiúça as investigações feitas pelo Ministério Público, em parceria com o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e Polícia Civil. Em seu escritório, com a escrivaninha abarrotada de anotações e os cinco volumes dos autos do processo, paradoxalmente, o olhar do repórter demonstra mais frustração do que satisfação com o trabalho concluído. “Quando comecei a trabalhar no projeto, tinha convicção, de que pela relevância do assunto, não seria difícil conseguir apoio financeiro para a publicação. Todo autor quer ver seu livro publicado”, explica. Com sua voz grave (ele também é radialista), Johnny explica que levou o projeto às secretarias municipal e estadual de Cultura, falou com Ministério Público, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, ONGs e

Todo autor quer ver seu livro publicado, mas as dificuldades são muitas”, diz Jhonny Marcus

entidades civis em busca de patrocínio. Até mesmo campanha de financiamento coletivo foi tentada. “Tudo em vão. Por diferentes motivos, essa história parece não interessar a ninguém. Do ponto de vista do Poder Público, o fato de um crime hediondo ficar sem solução por mais de vinte anos parece cutucar uma ferida que não deve ser reaberta. A sociedade, cada vez contaminada com essa onda neofascista que vem tomando conta do mundo, e em especial do Brasil, parece ter perdido a capacidade de demonstrar empatia”, desabafa. Os únicos apoios vieram de pequenas doações de amigos. Monumento Um mês depois da chacina, o artista plástico Jonas Corrêa esculpiu no local uma estátua como tributo a Baby, Indinho e Nado. “Essa estátua tem um valor semiótico interessante. Ao mesmo tempo em que homenageia os meninos e grita às autoridades que aquelas mortes jamais serão esquecidas, também serve de decoração para uma sala de estar virtual das dezenas de homens e mulheres que ainda moram lá, se drogando em plena luz do dia. Cômico se não fosse trágico, a maioria do povo que passa pelo local e vê a estátua não faz a menor ideia do que ela representa”, afirma. O escritor conta que o momento mais tenso da apuração foi quando esteve com as mães de Adileu, Edgard e Reginaldo. “São

pessoas sofridas, mulheres muito humildes. Que mãe não se revolta em ter o filho morto de forma tão violenta? Tudo o que elas querem é justiça”, afirma. Um crime sem autor Johnny Marcus fala de forma pausada, como que a medir cada palavra que será dita. Enfático, diz que “em nenhum momento ‘Beco Sem Saída’ tentou fazer o papel de Polícia e resolver o caso”. Questionado sobre quem acha ter cometidos os crimes, ele tergiversa: “Cara, a única certeza que tenho é que três menores foram covardemente assassinados. Já ouvi pelo menos dez versões diferentes para o caso, cada uma com um assassino diferente. Até cabo o famoso Hércules aparece na história”. Johnny esteve várias vezes no Beco do Candeeiro e até conversou com moradores que faziam parte daquele grupo da década de 1990. “Um deles me contou que os meninos do beco já estavam jurados de morte. Esse homem relatou que noite anterior ele mesmo tinha levado um tiro no ombro enquanto dormia sob o toldo da fachada de uma loja. No dia seguinte tratou de alertar de que o atirador prometera voltar. Baby, Indinho e Nado não deram ouvidos. O desfecho todos conhecemos”, diz. A tese mais defendida é que os garotos foram mortos a mando dos comerciantes da região, cansados com intermináveis assaltos. 2019 RDM | RDM - 2727 | 2017


FERIDA ABERTA.

O Beco do Candeeiro foi primeira via iluminada de Cuiabá e palco de dezenas de crimes.

Somente um suspeito pela “Chacina do Beco do Candeeiro”, como o caso ficou conhecido, foi levado a julgamento. Em 2014, dezesseis anos depois dos crimes, o ex-policial militar Adeir de Souza Guedes Filho, conhecido nas ruas como “Zé do Caixão”, por supostamente dormir em um caixão de defunto, foi absolvido por quatro votos a três em júri popular. Apesar de ter a prerrogativa, o Ministério Público não quis recorrer da decisão e o caso foi dado com encerrado. O julgamento do soldado Filho, segundo Johnny Marcus, é um dos pontos mais controversos do livro. “Os relatórios da investigação simplesmente não mostram de forma concreta como o Gaeco chegou a Adeir. Ele simplesmente aparece na história depois de depoimento de Edilson Verminose, único sobrevivente da chacina”, conta. Com muita coisa interessante pra contar e peça-chave dentro da história, Edilson não foi localizado pelo autor. “Falei com um rapaz que supostamente seria primo dele. Esse rapaz me disse que Verminose estava foragido, ‘vivendo no mato’, depois de colocado em liberdade condicional”. Silêncio Com certa dose de sorte, há alguns meses o repórter conseguiu falar com Adeir Filho. “A conversa foi informal, ele não quis dar entrevista. Argumentou que agora era evangélico e queria esquecer uma história que quase destruiu a sua vida”. Compreensível que Adeir opte pelo 28 - RDM | 2019

silêncio, mas para Johnny é inaceitável que as autoridades do poder Judiciário que trabalharam no caso não queiram falar. “Protocolizei ofício pra quase todo mundo pedindo entrevista. Foi um não atrás do outro. A impressão que dá é que o MP tem vergonha de ter tido uma atuação tão inepta”, revela. Provocado a dar um exemplo da suposta inépcia, o jornalista é taxativo: “Dá pra acreditar que os quatros cartuchos disparados e que foram recolhidos na cena do crime simplesmente sumiram de dentro do Fórum de Cuiabá?” Os cartuchos serviriam para um exame de balística para ver se os tiros tinham partido de uma pistola modelo 7,65, de propriedade do cabo Hércules que, à época, ainda não tinha se constituído no “pistoleiro de Arcanjo”. A arma havia sido apreendida, semanas depois da chacina do beco, por um delegado durante a investigação de um outro crime. Reações Durante o período de produção do livro, o jornalista Johnny Marcus fez palestras e concedeu inúmeras entrevistas. A receptividade da obra, ele imaginava, estava sendo totalmente positiva, até que recentemente um site fez uma matéria sobre o livro. “Ao ler os comentários pude ver o quanto ainda prevalece a máxima do ‘bandido bom, bandido morto’”, afirma. “Era insulto atrás do outro, inclusive ameaças”, completa. De acordo com Johnny Marcus, seu

livro-reportagem não se propõe a maquiar a realidade. “É fato que Indinho, Baby e Nado eram usuários de drogas e praticavam furtos para manter o vício. E meu livro é uma contribuição para tentarmos entender como que essa situação é construída. Matar usuários não resolve nada. Um processo de eugenia não é a solução. Tanto que o Beco do Candeeiro está até hoje lotado de gente se drogando sob o olhar complacente do poder público e da sociedade. Goste-se ou não, Indinho, Baby e Nado são vítimas e o Estado tem a obrigação de criar políticas públicas para que esses jovens tenham uma outra possibilidade de futuro que não seja a morte prematura”, finaliza. Beco da Morte Primeira rua de Cuiabá, o Beco do Candeeiro (originalmente 27 de Dezembro) tem esse nome por ter sido também, alguns anos depois da fundação de Cuiabá, a primeira via pública iluminada da cidade. Como a luz elétrica só viria décadas depois, a iluminação era feita através de candeeiros. Por causa da proximidade com o córrego da Prainha, o setor comercial acabou se concentrando por ali. Um desses estabelecimentos era uma estalagem de propriedade de um português, que tinha como companheira uma índia de estonteante beleza. O historiador cuiabano Aníbal Alencastro conta que o português nutria um ciúme doentio por sua “amásia”. Certo fim de tarde, já na hora do “lusco-fusco”, o comerciante teria saído para fazer uma entrega e quando voltou foi avisado de que havia um homem estranho no quintal da propriedade. Suspeitando que o homem poderia estar com a índia, o comerciante armou-se de um facão e foi tirar a história a limpo. Quando chegou no quintal, contudo, viu somente um homem deitado numa rede. Cego em sua fúria, desferiu um golpe certeiro na cabeça do estranho. Foi quando a índia apareceu voltando da rua com um vaso de água na cabeça e desesperada gritou: “Homem, o que você fez? Esse é seu pai que acabou de chegar de viagem para te visitar”. Interessados em colaborar: (65) 9 9928-0283 (65) 9 8404-8047 (WhatsApp) johnnymarcus@gmail.com



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