
4 minute read
ESTRATÉGIA
MODELO JK fez de Brasília símbolo do seu Governo que previa 50 anos de crescimento em cinco
Quando a alma do negócio é a estratégia
Advertisement
Juscelino Kubitschek era um sujeito ousado. Ousou man dar construir Brasília no meio do nada. Ousou imple mentar um plano que tinha como objetivo fazer o Brasil crescer 50 anos em apenas cinco. O Plano de Metas de JK – com 31 objetivos – trouxe excelentes resultados, como a modernização da indústria. Mas houve efeitos colaterais desagradá veis: o aumento da dívida externa e a inflação foram dois deles. Ousa dias presidenciais à parte, Juscelino mostrou como a estratégia funciona na administração pública. E que ela é bem diferente daquela que os ad ministradores aprendem nos bancos das universidades.
“Michael Porter (maior especia lista mundial em competitividade, autor do modelo das ‘cinco forças’) afirma que a estratégia serve para abordar o mercado, para uma em presa ganhar mercado em cima da concorrência. Só que o estado não tem concorrente”, lembra Maurício Cruz, secretário executivo de De senvolvimento do Modelo de Gestão de Pernambuco. Na administração pública, a estratégia deve ser usa da para alcançar os objetivos estabelecidos pelos governos. E esses objetivos, naturalmente, precisam oferecer uma prestação de serviço com melhor qualidade à população. Ou pelo menos deveriam.
Ao adotar uma administração estratégica, os governos fazem le vantamentos, estabelecem “missões”. Mas precisam ter um acompanhamento de perto para que o que é proposto seja efetivamente cum prido. Eficácia, eficiência e efetividade formam um verdadeiro mantra na moderna administração pública. A operacionalização dos conceitos fez surgir uma série de experiências Brasil afora. Talvez o mais famoso deles seja o Choque de Gestão, ado tado pelo governo de Minas Gerais a
Raphael Marques/Divulgação
ZOGHBI: criminalidade no alvo

Na administração pública, estratégia é o caminho para atingir objetivos
partir de 2003. O conjunto integrado de políticas e ações de gestão foi orientado para desenvolver progra mas e cumprir metas de curto, médio e longo prazo.
O Plano Mineiro de Desenvolvi mento Integrado (PMDI) começou a ser elaborado tendo como base qua tro questões: Onde estamos? Aonde queremos chegar? Onde queremos estar? Como chegar lá? Os aspectos socioeconômicos foram avaliados para chegar a um raio-X da situação econômica do Estado. Os progra mas foram concebidos e passaram a ser operacionalizados com a re organização e modernização do setor público, o tal Choque de Gestão. Num primeiro momento, ele bus cou o equilíbrio fiscal. Depois veio a melhoria do desempenho gerencial visando aos resultados. Agora o de safio é governar com o cidadão.
Um pouco mais para o litoral, no Espírito Santo, o governo estadual lançou em agosto de 2012 o Pro grama de Gestão para Resultados (Realiza+). “O programa tem como objetivo ampliar a capacidade do go verno de realizar programas e projetos e entregar resultados à sociedade. Para alcançarmos isso, usamos uma série de ferramentas. O gover no é estruturado em oito comitês estratégicos”, explica Joseane Zoghbi, subsecretária de Planejamento e Projetos. Um dos programas que vem recebendo bastante atenção é o Estado Presente. Pudera. Ele tem como objetivo reduzir a criminalida de no Estado que é considerado um dos mais violentos do país.
O Estado Presente envolve a participação de várias secretarias em 30 regiões diferentes. São reali zadas ações nas áreas de educação, saúde, cidadania, esportes, lazer, cultura, segurança, além de quali ficação profissional e novas oportunidades de emprego e renda. “Você não consegue reduzir a criminali dade se não der educação, acesso à saúde, lazer para a comunidade. Já começamos a ter resultados positi vos”, garante Joseane. Este e todos outros programas e projetos são analisados e avaliados nas reuniões com os comitês estratégicos. Elas acontecem uma vez por semana, em sistema de rodízio.
As reuniões contam sempre com a presença do governador, do vice-governador, dos secretários das pastas envolvidas e gerentes. E nelas não dá para ninguém “enrolar”. Tudo o que está acontecendo nos 18 pro gramas estruturantes e 186 projetos está inserido no Siges (Sistema de Gerenciamento Estratégico de Proje tos): objetivo, público alvo, cronograma de entregas, indicadores, quem são os responsáveis, quem vai se beneficiar, quanto já foi e será gas to. O governador tem acesso a uma versão mais “amigável” do sistema e pode acompanhar se a estratégia está sendo seguida. E cobrar. Afinal, há muito investimento em jogo.
Serão R$ 6 bilhões em investi mentos até 2016. Parte desse dinheiro, o Governo foi buscar através de empréstimos junto ao BNDES e ao Banco Mundial. Segundo Joseane Zoghbi, a estratégia de conseguir dinheiro “fora” para tocar os pro jetos em andamento já levou em consideração as possíveis perdas do Estado com a nova lei dos royalties do petróleo. “Quando começaram as discussões sobre os royalties, os projetos já estavam licitados, já havia obras em andamento. Você não tem como parar. Se parar, quem se prejudica é a sociedade. Quando você paralisa uma obra, é o dinheiro público jogado fora.”