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CAPITAL HUMANO
Educação coorporativa Sim, você pode
Quando foi prestar vestibular, em 2002, a mineira Kamila Pagel de Oliveira sabia de uma coisa: queria entrar no curso de administração. Entrou (e se formou em 2006). Mas não vi rou administradora de empresas. Kamila é administradora pública. Mais precisamente especialista em políticas públicas e gestão go vernamental. Ela foi aluna da 12ª turma do curso de graduação em administração pública da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, da Fundação João Pinhei ro. É o único curso universitário do país onde os alunos saem dos ban cos da faculdade diretamente para um cargo na administração pública do estado. O caso de Minas Gerais é considerado o melhor exemplo da universidade corporativa voltada ao serviço público.
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“Eu também tinha passado no vestibular da Universidade Federal. Mas acabei optando pela graduação em administração pública”, conta Kamila, que ficou sabendo do curso por acaso, ao ouvir o comentário de uma colega do cursinho. Acabou se tornando a primeira funcionária pú blica da família. Depois de formada, trabalhou com gerenciamento de projetos na Secretaria de Planeja mento e Gestão. Em 2010, voltou à Escola de Governo como professo ra e subcoordenadora do curso de administração pública. “O governo tem tido resultados excelentes com os alunos. Eles têm toda uma rele vância no processo da gestão, têm ânimo e disposição. São pessoas que estão à frente das mudanças”, garante Kamila, hoje com 28 anos.
Para Denize Dutra – que atua com educação corporativa, progra mas de desenvolvimento de pessoas e coaching junto a organizações públicas e privadas no Brasil e no exterior – o principal desafio, tanto das empresas privadas quanto do serviço público, é a educação. Na opinião dela, como o nosso sistema de ensino ainda tem muitas defici ências, a universidade corporativa preenche esta lacuna. No caso das empresas privadas, o foco é no tipo
de negócio das companhias. “Mas blica, que já contabiliza 22 turmas os princípios podem ser usados, e 725 pessoas formadas. O curso sim, no serviço público. A competi existe desde 1992, é gratuito e o tividade, por exemplo, deve ser volaluno recebe uma bolsa mensal no tada para o desenvolvimento econôvalor de um salário mínimo. Mas é mico e social da região. A educação preciso se comprometer a ficar três é um caminho importante para me anos no serviço público depois de lhorar a qualidade da nossa gestão contratado. pública.” Se o administrador decidir sair
Denize também acredita que o antes do prazo, precisa indenizar paradigma do serviço público como o governo. E 35% saem, segun porto seguro para quem procura do Kamila. Mas saem para outras apenas estabilidade e boa remune carreiras públicas, especialmente ração começa a ser mudado com a no governo federal. Os ensinamen disposição dos governos em inves tos, portanto, não são perdidos. Por tir na educação dos funcionários. isso, na educação corporativa pú “Ainda é pontual. Mas hoje os fun blica é preciso deixar claro sempre, cionários já começam a ter orgulho que, apesar de existirem semelhan de serem servidores públicos.” Ela ças com o setor privado, também ressalta, no entanto, que é preciso existem diferenças. E os servidores pensar no pro devem ter isto cesso de educação continuada. INVESTIMENTOS EM bastante cla ro na cabeça, Não adianta o servidor fazer EDUCAÇÃO DERRUBAM como ressalta o professor Luiz um curso e mais ANTIGOS PARADIGMAS Leal, gerente de nada. A atuali zação deve ser DO SERVIÇO PÚBLICO projetos para grandes organi permanente e zações da Funatrelada à progressão funcional. dação Dom Cabral. Até porque em “Quanto mais eu melhoro na minha uma gestão privada, os objetivos carreira, mais tenho reconhecimen são mais nítidos e fáceis de perce to não apenas emocional, mas salaber: aumento de receitas e lucros, rial também.” redução de custos.
Kamila Pagel lembra que a es “No caso de um órgão público ou trutura de cargos foi modificada em de todo um governo, o lucro é outro. 2010 no governo de Minas Gerais. O lucro é social”, destaca Leal. Reco Existe agora uma pontuação que nhecendo que a gestão pública é diincentiva a formação continuada. A ferente, a fundação criou há um ano cada cinco pontos, há a progressão. um núcleo específico, que desenvol A cada 50, o servidor é promovido. ve pesquisas sobre administração A realização de cursos de especia pública. Também oferece um curso lização, mestrado, doutorado, uma padrão para os executivos de gover nova graduação acelera a pontua no, chamado Fronteiras em Gestão ção. “Quem tem interesse em conPública, além de programas custo tinuar a formação, tem incentivo e mizados, desenvolvidos de acordo benefícios”, reforça a subcoordena com a necessidade de um determi dora do curso de administração púnado governo, secretaria ou órgão “ O governo de Minas tem tido resultados excelentes com os alunos. Eles têm toda uma relevância no processo da gestão, têm ânimo e disposição. São pessoas que estão à frente das mudanças”
Kamila Pagel Oliveira, administradora pública

Fotos: Daniela Nader

CURSOS oferecidos pelo Governo de Pernambuco e pela UPE são disputados
público. A fundação já desenvolveu ações para a Prefeitura de Belo Hori zonte, os governos de Minas, do Espírito Santo, do Mato Grosso do Sul, da Bahia, do Ceará. “Não restam dú vidas de que devemos capacitar não só os executivos, mas todos.”
A capacitação, segundo Luiz Leal, faz o servidor “ganhar” mais tempo. Isto é, o desenvolvimento é acelerado. O ex-secretário de Ad ministração e atual secretário de Educação de Pernambuco, Ricar do Dantas, concorda. “O servidor que se interessa em melhorar sua qualificação melhora também a produtividade e sobe na carreira. A consequência disso tudo é um ser viço público cada vez melhor para o nosso cidadão.” Segundo ele, a ideia é transformar a educação continuada em uma parte impor tante da avaliação de desempenho do servidor, com o reflexo óbvio no plano de cargos e, claro, no con tracheque. Isso já é uma realidade nas novas carreiras de analista de planejamento e gestão, analista de administração, e na controladoria geral do estado.
Segundo Ricardo Dantas, os ser vidores têm se mostrado cada vez mais interessados em incrementar a capacitação. As vagas nos cur sos de graduação em administração pública e na pós-graduação em
EM PERNAMBUCO, DEMANDA POR CURSOS CRESCE E VAGAS AUMENTAM
gestão governamental são bastante disputadas. Os dois são realizados em parceria com a Universidade de Pernambuco e voltados exclusiva mente para os servidores. O curso de graduação está na quarta turma. Para ingressar é preciso passar por uma espécie de vestibular. Quem passa faz o curso – que é reconheci do pelo Ministério da Educação – de graça. São dois anos de aula. Já a pós-graduação, é aberta também a funcionários que têm cargos comis sionados (que têm metade do curso custeada pelo estado).
“Nossa ideia inicial era ter uma turma de graduação a cada dois anos. Mas a procura foi tão grande que tivemos de colocar uma tur ma de 50 alunos por ano”, conta o secretário. Para Ricardo Dantas, a disseminação da educação cor porativa no ambiente do funcionalismo público ajuda a direcionar a capacitação para as deficiências que os servidores apresentam. Luiz Leal reforça que o trabalho desen volvido pela educação corporativa nunca deve estar descolado da meta principal de um governo, que é o de servir a sociedade. “O últi mo resultado de um governo é trabalhar para o bem da sociedade. A palavra servidor vem de servir. Ele existe, portanto, para servir a so ciedade.”
Uma cinquentona bem moderna
Pode não parecer, mas a educação corporativa já tem mais de cinco décadas de existência. Em 1955, a General Electric (GE) criou o Cro tonville Management Development Institute, considerada a primeira universidade corporativa. Mas foi no final dos anos 1980 que o conceito pegou de jeito as empresas norte - -americanas. Em 1988, havia cerca de 400 universidades corporativas nos Estados Unidos. Dez anos de pois, o número saltou para 2 mil.
POR MAURÍCIO CRUZ
Uma nova experiência de educação corporativa foi introduzida em Pernambuco em 2011, com re sultados animadores. Com a responsabilidade, expressa em Lei, de prover a cada um dos analistas de planejamento e gestão 80 horas anuais de formação continuada em gestão pública, o Instituto de
Gestão de Pernambuco estrutu rou, ainda em 2010, um programa de alto nível. Ele é voltado para a preparação dos novos profissionais da Secretaria de Planejamento (SEPLAG) para conduzir, com efici ência, as diversas tarefas inerentes ao Modelo Todos por Pernambuco. Optou-se pelo compromisso com a preparação integral do ana lista, e não no simples cumprimento de carga horária mínima exigida em Lei, com cursos em nível avan çado, de conteúdo e abordagem se
A primeira experiência brasileira foi a Academia Accor, em 1992. Depois surgiram a Universidade Brahma (1995), a Universidade do Hamburguer da McDonald’s (1997) e outras tantas. A ideia hoje não é da universidade em um local físi co apenas. Ela engloba todo um processo de gestão estratégica do conhecimento. No caso, o conheci mento aplicado para o desenvolvimento dos empregados e da própria empresa. melhantes aos módulos de cursos acadêmicos de especialização. No Programa de Formação
Continuada – PFC – foi mapeado o estoque de conhecimentos trazidos por cada profissional, bem como os saberes necessários ao exercício de suas funções específicas. Com o uso do Treinograma de Azoubel, es sas duas matrizes foram cruzadas, resultando em um programa per sonalizado de cursos a ser cumprido em três anos por cada analista. Em 2012, ao final do segundo ano de operacionalização do Pro grama, 89 cursos já tinham sido realizados, atendendo a 196 pro fissionais com um total de 1.688 horas/aula. Quarenta por cento dos instrutores foram mestres e doutores de uma universidade es pecialmente contratada, 35% foram gestores públicos do estado e
Em maio de 2004, foi criada a Associação Brasileira de Educação Corporativa, que teve como fundado ras a Petrobras, a Embratel, a Vale, a Caixa Econômica Federal, o Insti tuto Albert Einstein, a Fundação Unimed, a Eletronorte e a Isvor Fiat. A associação estima que existem hoje no país mais de 300 organizações brasileiras ou multinacionais – tanto na esfera privada e quanto na públi ca – operando sistemas de educação
A experiência de Pernambuco
corporativa. 25% foram os próprios analistas. O grau de satisfação dos treinandos com o conteúdo e o formato dos cursos superou os 95%.
Para 2013, último ano do cum primento da grade definida em 2011, nova rodada de mapeamen to de saberes e necessidades de treinamento será realizada, dando continuidade à formação continu ada desses profissionais de forma individualizada.