Café e Outras Palavras n3

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Café&OutrasPalavras

outubro 2018

uma revista pra falar de café e literatura ano I | edição 3 outubro 2018

grãos de poesia

roberto prado | marcelo lemos rose tayra

o guia prático...

atravessar a rua não é tão simples assim

para tomar a dois receitas incríveis com café


www.wiplay.com.br



TOMARAM CAFÉ CONOSCO NESTA EDIÇÃO:

Rose Tayra (Nenê) Marcelo de Oliveira Lemos Roberto Prado Alexandre Costa Bárbara Daré Alice Bispo Roberto Feliciano Daniella Menezes Frederico Romanoff

9.....literaturando dicas de leitura 40...grãos de poesia breves poemas de nossos colaboradores 46...para tomar a dois receitas rápidas de delícias feitas com café 47...haicai expresso roberto prado e rose tayra-nenê capa e projeto gráfico Alexandre Costa diretor de conteúdo Roberto Prado handmadebookeditora


10...alexandre costa manual prático do atravessador de ruas 13...marcelo lemos - zé mais uma 19...bárbara daré não tenho tempo para o amor 21...daniella menezes enfim em casa 23...rose tayra- nenê a desforra a garçonete mães e mãos 27...roberto prado escrever ode aos nossos amigos 31...alice bispo a surpresa jornalista moderno e revoltado para a lucidez confusão e caminhada 35...roberto feliciano a dança ansiosaudade trident de menta 43...frederico romanoff mais belos são os descobrimentos de destinos

cafeeoutraspalavras@gmail.com



AVISO IMPORTANTE: nenhum funcionário foi à praia durante a edição deste número


café

Tome um conosco e nos conte o que achou desta edição

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literaturando

dicas de livros, sites, blogs, programas e tudo mais

LIVRO

O romance mais importante de Graciliano Ramos é “Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de hegemonia dos estudos de gênero — que matam a literatura em nome de uma ideologia primária —, nada mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo entre as mulheres, construíram tão bem um homem autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça. (Editora Record) fonte: www.revistabula.com

SITE A HISTÓRIA DO CAFÉ DO GRÃO À XÍCARA http://www.3coracoes.com.br/do-grao-a-xicara/



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alexandre costa

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Designer Gráfico, formado em Comunicação e Tecnologia. Contista e racionalista convicto. Fã incondicional de Clarice e Rubião

GUIA PRÁTICO DO ATRAVESSADOR DE RUAS Este guia dedica-se exclusivamente a pedestres experientes, maiores de idade e em pleno exercício de suas faculdades físicas e mentais Atravessar: verbo transitivo direto, significa passar para o outro lado, transpor um determinado espaço, locomover-se de um ponto ao outro – de uma margem a outra. Pedestre: aquele que anda a pé.

“Step by step the walker build your way.” Whirwin Thompson – AAW

Há um antigo ditado popular que diz: “...isto é mais velho que andar para frente.” Pois desde que o homem começou a andar, começou a atravessar rios, florestas, montanhas, cavernas, passagens secretas e, finalmente, ruas. Whirwin Thompson define muito bem em seu livro “Keep Walking Continue a Andar” - lançado recentemente pela editora costaprado -, a natureza psíquica do ir e vir do homem. Para ele, andar é existir, viver, agir, prosseguir. Este aspecto psicológico é amplamente discutido em sua obra, que explica também entre outras coisas, como o homem vem se comportando desde a mais remota lembrança do ato de andar ereto. No entanto, como anunciado no título deste texto, falarei exclusivamente do ato de atravessar ruas. Abordarei aspectos técnicos, sociais, psicológicos e lúdicos do transpor-se de um ponto ao outro. Você verá que existem mais mistérios neste ato do que supomos, mais diversão do que encontramos, mais liberdade do que imaginamos. Tentaremos entender – como na famosa piada da galinha - porque o ser humano atravessa ruas. Antes de mais nada, cada uma das duas extremidades inferiores, uma em cada membro inferior, constituídas de tarso, metatarso, e falanges dos pododáctilos, respectivas articulações, e partes moles que recobrem as ósseas, são chamadas de pé. Os pés servem para nos levar de um lugar ao outro, sustentar o peso do nosso corpo – e às vezes o corpo de outro também -, correr, pular, nadar, apoiar e – o motivo à priori de nossa discussão: atravessar ruas. O pé é uma ferramenta robusta e versátil, responsável pela agilidade adquirida ao longo da evolução, e certamente sem ele nunca poderíamos andar tão ligeiramente como fazemos, quiçá atravessar ruas.


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O aspecto técnico. Tecnicamente falando, não há muito o que dizer, não que eu não saiba ou que não possa pesquisar, mas é que é um assunto que aborrece qualquer leitor que prefira um texto mais fluente, sem se deter em aspectos literalmente “pé no saco”. O aspecto social. Se aplicarmos a definição de sociedade para os pés, poderíamos dizer o seguinte: é um conjunto de ferramentas que “vivem” em certa faixa de tempo e espaço, seguindo caminhos comuns – ou não – e que são unidos pelo “sentimento” de locomover-se. Assim, o desejo de todo o pé é viver em harmonia – assim também deveriam ser os proprietários dos pés – com seus análogos. O pé ocupa um lugar importantíssimo nessa sociedade bípede, um status quo adquirido como bem sabemos – e já comentado – desde a mais remota história do homem ereto. Entre outras coisas, podemos dizer também que o pé nos leva – literalmente – para frente, ou para trás, ou seja, metáforas são sempre bem vindas se o resultado final for recompensador. O aspecto psicológico. Psicologicamente falando, o pé exerce um fascínio extraordinariamente mitológico no homem, além de um forte poder sexual. Pés são idolatrados, fotografados, esculpidos, acariciados, usados com práticas eróticas, massageados; enfim para um incrível número de razões. O que seria de nós sem os pés? Ali, bem abaixo de nossas cabeças, observamos a ferramenta perfeita para exercer a nossa liberdade, literal ou metafórica. E é com extremo carinho e zelo que devemos tratá-los. Aliás, não faltam metáforas, frases de efeito ou piadas com os pés em toda literatura mundial: pé no saco, pé frio, pé de boi, pé quente, pé chato, pé torto etc, etc, etc! O aspecto lúdico. Como não falar do jogo que é o caminhar e o atravessar. Um jogo às vezes disfarçado, outras vezes jogado com paixão quase mortal – que me desmintam os jogadores de futebol. Enfim, atravessar ruas está para o pé como beijar está para a boca: fundamental! Atravessamos a rua para chegar ao outro lado, e não há nada mais intrigante do que se perguntar sobre isso. Não há nada que nos faça abdicar de poder transgredir a realidade e a lógica e mergulhar no universo do subjetivo quando falamos do ato de atravessar ruas.


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Assim, para atravessar uma rua faça da seguinte maneira: Ao se deparar com a borda da calçada, coloque-se a uma distância entre quinze e vinte e cinco centímetros (margem de segurança) da rua e apóie com firmeza todo o conjunto de ossos e articulações anteriormente abordado neste livro, ou seja, o seus pés deverão estar bem firmes. Em seguida e sem pressa mova a cabeça em ambas as direções – para a direita e para a esquerda – a fim de se certificar de que é seguro imprimir movimento ao seu desejo de transpor a distância que separa você do outro lado. Para o destro o pé direito, para o canhoto o pé esquerdo – não importa qual deles se moverá primeiro -, o importante é que o movimento seja sincronizado. Já nos primeiros passos pode-se sentir a pressão do solo sob nossos pés, de como o calçado se molda ao terreno para proporcionar o conforto necessário para que façamos a caminhada com segurança e destreza. Os joelhos são de grande importância também nesse processo, pois compreendem a articulação da coxa com as pernas e todas as partes moles que a circundam. É fundamental manter sempre a saúde dos joelhos em dia. Durante o intervalo de tempo entre os dois momentos - do lado em que se estava para o lado em que se quer estar podemos articular nosso pensamento, cantar uma canção qualquer, apreciar um espaço de terreno que se abrange num lance de vista, entre outras coisas. É claro que tudo isto só pode ser feito se não houver movimento na rua – que você a priori já se certificou quando olhou para os dois lados antes de atravessá-la. E finalmente, atravessar ruas é um exercício necessário, obrigatório, e inerente ao modo de vida do ser humano. Se até as galinhas atravessam a rua, por que nós não faríamos isso? A partir de hoje você dará um novo valor a este simples e imperceptível ato humano, mas extremamente importante e fundamental: o verbo transitivo direto que abre caminho entre dois pontos distintos: o lado de cá e o lado de lá!

Frase para plagear: “Se dizer a verdade for a primeira opção, descarte-a".



marcelo lemos

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marcelo lemos Mora em Pirajuí, uma cidade, que como dizem seus moradores, Bauru fica perto! É Comerciante. É Gourmand. É Gourmet. Um Bon-vivant, e (coisa raríssima), possui seu próprio campo gravitacional (gordo).

ZÉ MAIS UMA Este é sobre um tio do mineiro, o qual a família o julgava como alcoólatra e ele o via como um cara sensível e esmagado pela realidade familiar. O apelido dele era Zé Mais Uma.

Um dia, me emprestaste teu sobrinho E com o tempo, meu irmão se tornou. Lamento muito, o tomares cedo, ele de volta Mas torço o receberes, com ardor. Sensível sei que és, porque de ti, sempre falava E a bebida era o mar, onde com os sentimentos navegavas. Nestas ondas, todos a ti, eram transparentes, E ali, com amigos, se relacionava. Quem não é do mar, dificilmente entende isto, este banzo, vendo-o como um emarear. Ele sempre entendeu tudo isto e até em velejos, lhe acompanhou. Partistes há muito deste porto, e para ele, saudosa lenda, se tornou. Agora, foi a vez de teu sobrinho, que daqui, acabou de zarpar. Marque encontro onde pra ti for melhor no farol, no porto ou num bar. Receba-o bem em teu boteco. Beba com ele, todas as saudades. Celebrem junto, o presente de vossas vidas, Esta linda e eterna amizade.


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HUMMM...

O MELHOR HAMBURGUER ARTESANAL DE SANTOS



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bárbara daré

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Uma doida de quase trinta anos, mãe da Clara, otimista irremediável e escritora nas horas vagas (horas essas que quase nunca chegam). Viciada em séries, coisas nerds, dormir, cinemas e comida boa. Descobriu que nunca mais teve tempo para nada disso, mas aproveita o que dá (e como dá) como se não houvesse o amanhã.

NÃO TENHO TEMPO PARA O AMOR Não tenho tempo para o amor. Tenho contas a pagar, uma filha no banheiro gritando que precisa da toalha e uns boletos gritando desesperadamente para serem pagos. Não tenho tempo para o amor, já disse! A faculdade está uma loucura, a saga do sofrido TCC ainda está longe de acabar e meus irmãos não cansam de pedir dinheiro emprestado. Não tenho tempo para essa bobeira chamada amor. O trânsito está caótico, meu chefe está ensandecido querendo todos os relatórios de uma vida inteira de uma vez só, o cachorro do vizinho late a noite toda e meus amigos já dizem que nem lembram mais quem sou de tão ausente que sou. Sério, na boa, vou repetir: não tenho tempo para o amor. A moça do tempo disse que hoje é chuva certa e eu sequer trouxe guarda-chuva, imagine só! Vamos lá, outra vez... Não tenho tempo para o amor. Chega de conversa! Quantas vezes terei de repetir? Meus motivos? Oras, a vida tá corrida. A gasolina do carro está acabando e você viu o preço astronômico que ela está? Inadmissível! E também o trabalho, as compras do mês, a casa que ainda precisa ser limpa e aquele congresso que está marcado a meses. Tanta coisa acontecendo... Verdade! Mas depois de tantos arranjos e desarranjos dessa prosa chamada vida e tanto tomar boas pauladas na cabeça (não literalmente, ainda bem!), decidi por fim ocupar a agenda. Na realidade ela se ocupou sozinha e eu acho é bom. Amor não enche barriga mas enche as paciências de quem quase não as possui. Amor? Ah, que pena, tô sem tempo mesmo pra isso, rapaz! Mas vamos marcar qualquer dia, tá bom? Qualquer hora a gente vê isso. Abraços e passar bem!



daniella menezes

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Livreira gentil em tempo integral, gosta de declamar poesia, não gosta quando lhe perguntam por livros que tem "aquela capa varmelha".

ENFIM EM CASA

Chego ao meu destino, meio descabelada e suada, mas com o coração e a alma aos pulos. Não acredito nesse reencontro, mesmo a menos de 10 passos do portão. Atrevo-me a ir entrando, sem ser anunciada, nem por um simples: - Oh de casa! A cada centímetro vencido a euforia aumenta, meus olhos umedecem o aperto na garganta vira um engasgo. Aquela lágrima que tanto segurei na vinda, que foi se avolumando com toda aquela emoção, não consigo mais conte-la e agora escorre livre pelas minhas faces. Abro um sorriso gigante quando sinto seu cheiro, aquele aroma inconfundível, tantas lembranças. Respiro mais fundo, tentando guardar esse momento pra sempre, continuo a andar, ninguém da casa ainda percebeu a minha chegada. As cachorras tão amadas, já idosas, não despertaram de seu sono profundo. Passo por elas e vou a seu encontro. Agora já consigo vê-la, linda, enorme, frondosa. Com seus amigos passarinhos a cantar em seus galhos. Algumas borboletas voam ao seu redor, o vento brinca com suas folhas e a faz dançar. Abraço seu tronco, olho pro chão e vejo sua sombra que sempre me foi tão cara na infância, quantas tardes passadas ali, tropeçando às vezes em suas raízes fortes. Olho pro céu e o vejo através de sua folhagem, de um verde único. Minha amada goiabeira, enfim me sinto em casa...

Frase para plagear: “Se você me desse bola, eu te dava duas".



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rose tayra - nenê

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Natural de Santos. Atualmente morando no interior. Tem como "ideia fixa" destilar das cenas do cotidiano a sua mais nobre essência, tendo como posto o balcão, seu aliado, onde recebe a outorga de ouvir confissões sem ser ordenada e fazendo análises sem ser diplomada. Formada em Arte e Educação.

A DESFORRA A esposa do professor de Pilates foi visitar-nos, levando consigo a pequenina filha do casal e sua mãe. Terminada a aula, fizemos a pausa do relaxamento e por causa da visita, o assunto foi sobre sogra, nada pessoal. Sem censuras e descompromissada a conversa se estendeu até a antessala. -O problema são as noras... - Afirmou uma colega ,enquanto colocava seu calçado, pensava em voz alta : -ainda bem que não tenho... Só genros. Se dirige à outra colega, que como ela, também tem três filhas: -a senhora também não tem nora, não é? E assim, como pano de fundo, eu ouvia a conversa enquanto me preparava para sair. Chamou-me a atenção, a intervenção de um outro aluno, pois é um senhor muito reservado. Ele sofrera um acidente, pouco tempo atrás; procurando saber sobre seu estado de saúde ,parentes e amigos, rapidamente se fizeram presente . Para ter acesso ao local do acidente e para visitálo no hospital, as pessoas precisavam dizer o seu grau de parentesco. Talvez fora nessa ocasião em que se dera conta, e quantas noras tinha. E finalizando a conversa, ele diz: -Eu tenho só dois filhos e 05 noras!


rose tayra - nenê A GARÇONETE

Anos atrás foi inaugurada uma casa noturna. Um dos sócios era nosso amigo, e no dia, fomos para prestigiá-lo. A casa bem montada, uma ambientação agradável, as pessoas chegando, as mesas sendo ocupadas, tudo naturalmente transcorria... Num instante meu olhar é roubado. Uma jovem garçonete, determinada a levar o pedido sem que uma só gota fosse esperdiçada, com o corpo em diagonal, cruzava o salão em câmera lenta, sem olhar para os lados, parecia estar hipnotizada. Em uma das mãos, segurava uma pequena taça, a um palmo de suas vistas, o outro braço pendia para trás, trazendo equilíbrio para o seu esquálido corpo. Fazendo-me lembrar uma figura egípcia... Dias desses, tive notícias dessa jovem, ela tornara professora. Pelo que contava uma parente sua, foi dar aula em uma escola, que devido há vários fatores se encontra com falta de professores. Para que seus alunos, não ficassem sem aula ,ela esta se desdobrando em sua carga horária. O mundo perdeu uma garçonete e ganhou uma dedicada professora!


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rose tayra - nenê MÃES E MÃOS

A funcionária havia acabado de passar álcool nos vidros do balcão. Veio uma criancinha com sua babá, apoiou suas mãozinhas deixando as marcas. Em outra ocasião, acontece o mesmo fato, sendo que, agora esta outra criança, estava com sua mãe, que a repreende imediatamente. - Não coloca as mãos nos vidros, não tá vendo que a moça acabou de limpar?! - falou com rigidez. Depois que se foram esta cena foi tema para falarmos informalmente sobre educação, limites, aprendizado enfim os parâmetros adquiridos na infância. Hoje, veio uma menina de apenas dois anos, completados dias atrás. Enquanto eu fatiava os frios e ao mesmo tempo conversava com sua mãe, ela se dirigiu até uma prateleira. Na fase das descobertas, ela já ia colocando as mãozinhas quando sua mãe a instrui: -Olha com os olhos! Prontamente ela obedece a ordem. Coloca as mãozinhas ao lado do corpo, se equilibrando nos pequeninos pés. Como fossem seus olhos, as pontas dos dedos e sob a figura de Sherlock Holmes, ela coloca a cabecinha dentro do armário, percorrendo assim toda prateleira.



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roberto prado

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Encrenqueiro, formado em Comunicação e Tecnologia. Perpetrador de quatro livros. Atualmente dedica-se ao haicai, mais por preguiça que por talento. Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni- ALTO.

ESCREVER há há há sim somos loucos, dementes quiçá não podemos ver uma folha em branco uma tela de computador (os mais poéticos um muro ou uma parede) escrevemos, grafamos, pixamos deixando lá nossas idéias nossas histórias nossos delírios compartilhamos (ou assim pensamos) nossos sonhos e pesadelos escrevemos, escrevemos & escrevemos... mendigamos um pouco de atenção uns poucos minutos uns segundos uma vista d'olhos em nossas (bens traçadas e limadas) linhas mas quê? nada! escrevemos por quê? para quem? para quê escrever ainda? para o futuro? para a reciclagem de papel? não sei! escrevia ontem, escrevo hoje escreverei (?) amanhã nem sei mais para quê/quem escrevo... imagino leitores secretos há há há há , agora descrevo meus desatinos há há há o remédio é escrever e apagar escrever e apagar e apagar


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roberto prado ODE AOS NOSSOS AMIGOS

(ah! seus grandes afortunados!)

aos amigos que nos suportam (como uma cruz às suas costas, é bem verdade) que (às vezes) conosco se importam a esses amigos que atormentamos quer com nossa fácil presença (que é fácil-fácil de se livrarem) quer com nossas constantes homenagens sempre muito bem humoradas (segundo nosso afiado senso de humor) aos nossos amigos! que teimam em nos convidar às suas casas que nos recebem, sempre com mesa farta copos cheios resignação infinita fleuma britânica e sorrisos sinceros (e às vezes amarelos, é verdade) abraços fortes (que pensamos serem os últimos nessa vida, tamanha falta de ar nos dá) a vocês que teimam em continuarem nossos amigos das horas incertas, e às vezes bem altas... a vocês nossos amigos, que... na falta de uma palavra doce como o mel suaves como as nuvens que passam pelo céu azul leves como a brisa perfumada que balança as cortinas de vosso lar


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delicadas como a seda chinesa carinhosas como as carícias num gato gordo e velho (quem já teve um sabe o que digo) a vocês queridos e fraternos amigos mais fiéis que aqueles que possuem o mesmo sangue o temos a lhes oferecer em troca de tanta afeição? - sim. as nossas bandalheiras! feitas da mais verde bílis que corre em nossas veias (que alguns incautos, pensam ser sangue azul) mas saibam que nada em nós é mais sincero que o doce sentimento que temos por vocês mesmo quando todos à sua volta riem de nossas piadas (sobre vocês, doces irmãos) mesmo quando, por um átimo, lhes passa pela cabeça um relâmpago homicida. mesmo quando vocês se arrependem de terem retirado os cacos de vidro da sobremesa na última hora ou se perguntam por que atenderam a porta. lembrem-se, essa é a nossa forma de dizer o quanto amamos vocês. sim, triste é o vosso infortúnio, é fato! mas pensem bem: - ainda é melhor nos terem como amigos, que como inimigos...

Frase para plagear: “45 nem no microondas, à direita nem no trânsito".



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alice bispo

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Escreve sem motivos e com muitos motivos. Na forma mais clara: escrevo o que vejo e o que sinto. E, como por ironia, me transformo em minhas próprias palavras.

A SURPRESA Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência. Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chama talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo. obs: Ler Clarice é perder a autoconfiança.

JORNALISTA MODERNO E REVOLTADO De que adianta todo esse falso moralismo se vamos todos meter a bunda na cadeira macia no fim das contas? Tantas formações, mestres, doutores, professores, passando nas linhas, digitando suas mágoas e suas dores mais íntimas, esvaziam-se. Não adianta de nada ter que pôr as lentes para ver o óbvio. Eles querem mais educados, mais cultos, mais irreverentes, mais criativos, mais educados, mais centrados, cada vez mais de berço a informação. Não me livra do cansaço saber os motivos. Nem da prisão, lendo as grades. Não me alivia a fome saber por que meu prato está vazio. Então, por que tudo isso? Essa mistificação do saber e da vida? Eles dizem que corremos demais, adestrados pelas telas, mas afinal de contas, o que eles fazem a não ser vomitar e encher o bucho cheio de ganância e sobrenome? Quanta hipocrisia! Querem verdades? Não há verdades. Ajeite-se. Assista ao declínio do povo. Deleite-se com mais um furo.


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alice bispo PARA A LUCIDEZ

Eu sei que você não está aí. Não é uma surpresa interessante, estimulante. Eu andei procurando alguma coisa na sua sala e não achei nada. Eu procurei seus resíduos e não achei nada. Pouco a pouco fui me tornando pouco e nada. Repetindo as repetições até cansar de repetir. E recomeçava, sem nunca parar para refletir na repetição. Hoje já é tão solitário que falar de ontem é exagero. Do tempo das descobertas e das estranhezas. Onde a sujeira nas mãos, os ralados nos joelhos, significavam alegria, destreza. Nós éramos bons no que fazíamos. De verdade. A gente ria a risada, comia o vômito, deles vivíamos felizes. Sem nada! Mas agora nada mais é suficiente. Nem o tempo que antes era lento, penoso, saudade... Nem ele se safou. Agora corre à procura de alguma coisa fresca, que renove a vida e se esqueça, assim, a repetição. Eu não sabia que era tão bom. Nem sabia que precisaria me redobrar para bater à sua porta todos os dias. Sem sono, com preguiça, sem desculpas para as lágrimas. Afinal a vida era de tristezas também. De corridas idiotas, complementos vazios, emoções cínicas. Eu crescia pouco a pouco. De caco em caco. Envelhecia na esperança de amadurecimento. Enquanto eles me pediam as cascas, a carcaça, a indiferença.

acesse aqui todo o conteúdo do blog de roberto prado


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alice bispo CONFUSÃO E CAMINHADA Se era uma paisagem bonita ou não, isso não importava. Aquele fardo da escrita descritiva, lançando imagens toscas e cansativas a um leitor fanático e desdenhoso. Se era um lugar ao sul ou ao norte, na margem mais fúnebre do rio mais denso, isso era inútil ao humano. Se servia pra alguma coisa era pra amansar as vistas. E só. Pra mais nada servia. Em nada cabia aos escritos do mundo. Tudo superficial. A criação dos grandes gênios, metódicos de carteirinha, buscando os clichês da filosofia de palavras. Isso é um saco. Viver esperando o grande dia da criação mais sinistra que venda milhões. Harry Potter só tem um. A bíblia é uma só, a besteira foi uma só, mas foi desastrosamente feliz. O nojo. Aquele resto de tristeza, com umas porções frias e salgadas de indiferença. O nojo. O meio termo entre a inveja e a pena. Aquele revirar de olhos adolescentes. Tenho alguns episódios que me virei bem com o nojo. Chega de nojo. Era um fim de tarde desestimulante. Suponho que se começasse pela paisagem me contradiria. Começarei então pela paisagem, gosto de contradições. Um céu cinza de fim de tarde. As cabeças pressentindo a chuvinha, como consequência do ar abafado. Um ar mais preguiçoso que o normal. A minha caminhada era meio tonta, prestava mais atenção em minha cabeça do que na rua. Eu sei que pareço muito triste e enjoada na maior parte do tempo. É que eu realmente sou triste. Enjoada nem tanto, só nas segundas. Mas triste, bem triste. Eu os via todos os dias. As mesmas caras em pessoas diferentes. Eu sempre os via. Mesmo não querendo eu os via. E toda vez tinha que espremer alguma coisa dentro de mim pra que houvesse humanidade. Mas você sabe que não é fácil assim. Eu não sou gélida. Sou é carrancuda, desinteressada pelas coisas, indiferente às coisas todas. Vamos à sinceridade, afinal, já que a confusão de palavras já foi feita. A minha angústia era enorme. O meu choro ficou sem motivo e o olhar baixo, instintivo. Eu crescia tão lento. Lento, lendo, lento, lendo. Lento até suar, pego a toalha, me seco da vida enjoativa, rotineira, calada. Cavar o buraco. Cave-o. Sorria. Retire um pouco de vontade. Prossiga. É uma bela oportunidade! Aceite, tolo. Aceitei. Eu me virei um pouco mais que o normal essa noite. Ele sorriu pra mim. Voltemos à caminhada. Cheguei ao ponto. Sorri para o amigo. Subi no ônibus. Cheguei em casa. A casa que nem era minha, nem de ninguém. Era de pessoas emprestadas a vestidos humanos. Nem precisa de descrição, você já sabe como é.



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roberto feliciano

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Livreiro, formado em jornalismo e escreve no site 'estante caótica'. Não sabemos se ele aborrece com cores de capas de livros.

A DANÇA Sugestão de trilha sonora: Purple Rain (Prince) Foi preciso muito ensaio antes de te chamar para dançar comigo naquela festa. Ensaiei o jeito como olharia para você de longe, o modo como me aproximaria de ti, que a essa altura estaria dançando sozinha. Treinei as palavras que eu diria para te convencer e, principalmente, pratiquei muito os movimentos, porque seria ridículo prometer uma boa dança e te decepcionar. Eu sei. Era pretensão demais fazer você olhar para mim. Eu achava aquele seu vestido roxo lindo e só isso já me fez parar na porta por uns 15 minutos (ou foram três semanas?) antes de ir até você, de um jeito completamente diferente do que havia planejado. Assim seria com quase tudo dali por diante. Você me olhou, sorriu e aceitou o meu convite. Mais fácil seria se fosse para uma cerveja, cinema ou sorvete. Mas foi para dividir comigo alguns passos sôfregos naquela salão apertado. Se eu te disser que ainda hoje me lembro daqueles primeiros passos, você vai me achar maluco? No começo eu só conseguia olhar para os seus pés. O sapato combinava com o brinco (ou era com o colar?), que era de uma dessas cores que eu não sei o nome, e contrastava com o roxo do vestido (você ainda tem ele?). Você sorria a cada giro que dávamos quando o refrão da música chegava e gargalhava do desajeito de cada um dos meus erros e saídas do ritmo. E em algum momento daquela noite fria a gente acabou se acostumando ao corpo um do outro. Os giros eram praticamente automáticos, os sorrisos foram substituídos por uma expressão de concentração, de foco em fazer aquilo dar certo de qualquer maneira. Dançávamos bem, melhor do que muitos à nossa volta, muito melhor do que no começo. Mas quer saber? Pode parecer estranho, mas eu sentia falta das gargalhadas. Daquele medo que eu senti antes de te perguntar se você queria dançar comigo. A vantagem era que, com a perda do nervosismo, eu tinha mais tempo para reparar em você, no seu perfume, na maciez da sua pele, do seu cabelo. Foi aí também que eu reparei que aquele vestido roxo talvez não fosse tão confortável (você já deve ter doado). E eu não errava mais passo nenhum. Os pés com sapato-de-


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cor-que eu-ainda-não-identificava agradeciam. Mas eu acabei me desconcentrando. Os giros com o refrão não eram tão empolgantes como nos primeiros minutos da música. Eu já quase tinha esquecido como era sua gargalhada e os sorrisos ficaram raros e resignados. Errávamos muito, não só eu. Cada um queria ir para um lado e percebemos que estávamos completamente fora do ritmo da música, cada um em seu movimento individual. Você afastou meu corpo do seu com a mão nos meus ombros. Sorriu o sorriso mais triste que eu já havia visto em você ou em qualquer outra pessoa e disse que precisava beber água e respirar um pouco de ar puro. Quando paramos completamente de nos mover, você falou que tinha adorado dançar comigo e fomos cada um para um lado do salão. Ainda tínhamos algumas horas de festa pela frente e eu sabia que nos veríamos novamente. E certamente você estaria dançando com outra pessoa.E eu também.

roberto feliciano ANSIOSAUDADE A estrada é repleta de saudade e ansiedade. Ansiedade. Saudade. E o maior obstáculo é me dar conta de que ninguém vai corrigir a rota ou melhorar minha trajetória daqui pra frente. A não ser eu mesmo. Houve um tempo em que acordar e encarar o teto branco era uma tentativa de prever o que viria pela frente, planejar, projetar. O dia, a semana, o mês. Hoje olho apenas para um retrato rasurado de minhas imperfeições e oscilações, dos erros que cometi e continuo cometendo. E sonho. Sonho com o que passou. Em um piscar de olhos volto a ter 10, 15, 18 ou 25 anos. Não sei se é saudosismo. Estou na minha antiga rua, no colégio, na faculdade, em um trabalho que tinha tudo para dar certo. O que eu não consigo nesse sonho é enxergar onde é que foi. Hoje, levantar da cama é difícil. Fisicamente, claro. As minhas costas doem o tempo todo e eu ainda não sei o que isso significa. Mas, mais do que isso, há algo de estranho no movimento de girar as pernas para fora da cama enquanto


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meu tronco se inclina deixando o lençol escorregar. Adoraria acreditar que a maneira como deixei os chinelos na noite anterior é capaz de ditar como será meu dia. Mas os chinelos não indicam nada. Tudo não passa de uma repetição de tediosos movimentos programados. Até as saídas do trajeto são minuciosamente calculadas. E lá vou eu de novo, brasileiro que não desiste nunca, com muito orgulho, com muito amor, para mais um dia. Acorda, escova os dentes, toma café, lê alguma coisa, almoça, toma banho, vai para o trabalho, volta, vê TV em vez de uma série da Netflix, lê mais um pouco, fica de frente para o computador, consome lixo descartável atrás de lixo descartável e escreve alguma coisa. Geralmente, mais lixo descartável. Essa pergunta estúpida é uma variação de muitas outras que me faço todos os dias. No fundo, espero uma resposta que venha de fora. Estagnado, perdido, inútil e fracassado. A sensação é forte e presente o tempo todo, na conversa com o amigo que faz o que gosta, no atendimento a um cliente que está passeando num sábado à tarde. Dou risada, faço piada ruim, finjo saber o que estou fazendo e que sou intelectualmente superior. Mas a quem quero enganar? Ninguém vai me dar a resposta que eu espero. Ninguém vai me dar resposta nenhuma. Jovens sonhadores se transformam em adultos pragmáticos para não serem engolidos. Ideias e projetos se transformam em conversas saudosistas de bar que pego pela metade, porque só participo delas mais tarde, quando finalmente saio do trabalho. Amanhã é outro dia. E vou olhar com olhos de rancor quem não tem culpa, me sensibilizar com qualquer gesto bonito, com uma música que não escuto faz tempo. Dar risada quando escutar uma besteira, perguntar o placar do jogo que não vou poder ver, beber água, comer dois pães com recheio gorduroso de lanche. Vou tentar ser eu mesmo—e falhar miseravelmente. Porque eu mesmo me perdi em algum ponto dessa estrada. E só olhar pelo retrovisor não vai adiantar nada.


roberto feliciano TRIDENT DE MENTA

Eu nunca entendi você direito. O jeito como me olhava e as coisas que me dizia, como se não fizesse a menor diferença se estava ou não ao meu lado. Você sempre estava. Quando brigávamos por besteira, eu sempre ficava com a sensação de que era melhor isso do que não estarmos próximos, não nos falarmos. Você sempre foi uma pessoa muito mais descolada do que eu e sempre teve ideias melhores a respeito do que quer que fosse. E eu, com um copo de CocaCola na mão, ficava olhando tua eloquência de bar, teus cabelos bagunçados e teu sorriso debochado. Aí um dia a gente saiu do bar e você precisava ir ao mercado comprar comida para o cachorro. Fui pensando que se tratava apenas de comprar comida para o cachorro. Você falava devagar, andava devagar e sorria devagar. Me explicou mais uma vez os motivos para não gostar da minha banda favorita e o que gostava em mim. Dizia que meu senso de justiça sempre foi afiado. E eu gostei e assimilei o elogio, mas nunca achei que esse fosse o melhor de mim. Só que àquela altura, se você estava dizendo, é porque deveria ser verdade. Na volta para o bar a gente estava andando tão devagar, mas tão devagar, que em algum momento nós naturalmente paramos. Paramos em frente a uma casa de muro baixo, você tentando me explicar o que aconteceu daquela vez em que simplesmente sumiu depois que eu pedi para você ficar. Era sempre assim, passávamos uma semana nos entendendo bem pra caralho e você, no último dia, fazia alguma coisa que me empurrava pra longe. Era o momento de você admitir que fazia de propósito. Que sabotava a ideia de que pudéssemos dar certo. Você me olhou desafiadoramente nos olhos, sorrindo de um jeito sacana de quem sabe que a partir daquele ponto não haveria volta, não haveria boicote nenhum que separaria a gente. E toda a eletricidade que eu


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sentia percorrer o meu corpo quando você chegava bem perto de mim para dizer bom dia se elevou a níveis incalculáveis. Você pegou minha mão e colocou na sua cintura, um gesto que eu jamais vou me esquecer, e pediu que eu me acalmasse, como se você tivesse um estetoscópio natural que medisse o ritmo dos batimentos cardíacos dessa pobre criatura. E foi só quando você chegou ainda mais perto e eu senti o cheiro do teu Trident de menta é que percebi que eu não voltaria (e nem queria) mais para o bar naquela noite.

Pessoal. Não esqueçam de divulgar nossa revista em suas redes sociais. Obrigado!


LUA

café&outraspalavras

grãos de poesia AH, OS MANSOS

Cuidado com os mansos Eles não latem nem rosnam Mas babam e mordem Eles te olham de soslaio Sorriem docemente Mas o fel lhes corre nas veias Eles riem com você E riem de você Cuidado nas ruas escuras Olhe para os dois lados (sempre) Os mansos são perigosos Eles sempre traem Sempre!

roberto prado

ENTÂO...

Lua que espia Inspira Me faz suspirar!

rose tayra - nenê

A VIDA NOS DÁ a vida nos dá muito mais do que aparentemente nos tira como a primavera, que, em seu resplendor, repõe o que o outono levou

marcelo lemos

SOLIDÃO

solidão só lidar l i d a r s ó. a existência é uma sacola pesada para ser carregada por uma alça só.

marcelo lemos

ODE AOS OITENTA

enfim os oitenta me vejo no espelho e nada me consola olho para os pés e vejo que mijei neles outra vez fecho o zíper da calça e prendo o saco mordo os lábio para não gritar e constato que ia sair sem a dentadura outra vez

pousa na pauta um ponto. pausa!

roberto prado

CHUVA

diante da mesma chuva, a mesma gota me faz sentir, alegria da esperança, de fertilidade a certeza de frutos, carícia na terra , agora molhada!!

rose tayra - nenê

lá embaixo pessoas me esperam já nem lembro para quê e nem lembro mais quem são outra vez há! são os meu filhos, ou creio que sejam! minhas mãos tremem, mas não de emoção... pela cara esqueci os comprimidos. outra vez procuro pelos óculos e rezo para que não tenha dado a descarga neles outra vez e eles querem comemorar o quê?

roberto prado


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frederico romanoff

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Frederico Romanoff do Vale nasceu em Santos/SP nas imediações do canal 4, hoje vive no Rio de Janeiro onde desenvolve estudos na área de antropologia do ritual e da religião. Acredita na mudança e busca caminhos por entre a escuridão. A escrita então funciona como um dos instrumentos por excelência desta busca. O autor gostaria de lembrar ainda que qualquer definição homogeneíza, mas como se pede, o envio desta mini -bio se realiza. Paz.

MAIS BELOS SÃO OS DESCOBRIMENTOS DE DESTINOS Essa semana está sendo como um filme de terror que eu não pedi para assistir. Esse ambiente político é detestável, e é detestável porque aquele candidato que a pouco eu negava a existência está aí. E está com 38% dos votos válidos. É um discurso de ódio disparado em primeiro lugar. Sabe..., odiar é muito fácil, se rebelar contra a própria vida, dizer que tudo está uma merda e atribuir a culpa ao outro é muito fácil. O que me ajuda a pensar esse momento é o que o teórico argentino Ernesto Laclau escreveu sobre discurso. Criam-se "palavras-chave" que condensam toda insatisfação e sentimentos em uma cadeia discursiva que ganha força por conta do seu caráter eminentemente populista. Dos dois lados isso existe. A diferença é que do lado de lá é puro ódio e irracionalidade. Gente do bem, seres humanos, filhos de Deus votam nele porque eminentemente sentem medo. Medo de serem roubados, de serem mortos, de perderem seu status.... Acontece que o medo em um nível irracional não ajuda em nada, ele cria ilusões e se passa a acreditar nessas ilusões. Nenhum salvador da pátria tem o poder de terminar com esse sentimento, o choque de ordem só serve como maquiagem e como um processo produtor de mortes daqueles grupos que historicamente sofrem. O outro lado dessa atmosfera é o amor e a esperança que podem existir no ambiente político. O amor e o ódio são sentimentos da mesma vibração em polos opostos, é preciso vencer o medo, entender o ódio e se permitir amar. Política também se faz com amor. Ela é o que operacionaliza e traz materialidade aos discursos. Uma força política sem amor cria discursos com um poder material de destruição. As minorias políticas deste país são assassinadas na proporção de centenas todos os anos, figuramos entre os piores índices de violência para com estas populações em todo o mundo. O discurso em voga ignora o quadro e incentiva a perseguição e a guerra. Só alguém muito machucado mesmo para fazer isso. Só alguém que se perdeu muito feio pode imaginar que o ódio é um caminho. Não sei onde tudo isso vai dar, só não acho que um modelo de guerra assassino vai ajudar nenhum país a sair da crise. Existem alternativas.


Nossos colaboradores agradecem cada minuto precioso do seu tempo, ganho, em ler nossa revista!


Depois dessa leitura, vocĂŞ merece um cafĂŠ!


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Para tomar a dois

FRAPPUCCINO CLÁSSICO Ingredientes – 500 ml de água filtrada ou mineral (a 90°C ou um pouco antes de ferver) – 100 ml de leite frio – 1 Colher de sopa de chocolate em pó. – Açúcar (a gosto) – 6 pedras de gelo – Chantilly – 2 Colheres de sopa de Café do Ponto Extraforte, que tem o aroma intenso e envolvente. Modo de preparo – Coloque o café no coador com o filtro e despeje a água em movimentos circulares. – Coloque o leite, 100 ml de café, chocolate em pó, açúcar e gelo no liquidificador. – Bata por 30 segundos até que a mistura fique homogênea. Despeje a bebida no copo e sirva-se.


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COMPENSAÇÕES calor começa a chegar que inferno! ao menos tenho os biguás no canal

afazeres da casa café quentinho dividindo o dia na cabeça os "haicais" no cabelo o sabonete ai...me distraí matemática sendo inteiro,senti falta como é bom partilhar festa no jardim-brisa as primaveras desinibidas vestiram-se de pink

CÍNICA CONSTATAÇÃO o verão é bom quando o ar-condicionado é melhor AQUELA LEMBRANÇA NA PAREDE o cuco do meu avô a cada meia hora me faz lembra-lo NA PRAIA água (salgada) nos pés um cachorro foge da onda fim de tarde...

as tenras folhas olham para o céu saboreando café, observo

SEM TÍTILO a rede balança vazia vazia a gaiola nenhuma fruta nas árvores

no quintal cachorra corre, pássaros fogem cadê o meu almoço?!

SIMPLES DESEJO mais que querer a chuva e seu frescor quero o canto das rãs

rose tayra - nenê

roberto prado


ler Ê andar a passos largos em direção ao conhecimento


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>48 49> Você conhece o café transparente? ... muitas pessoas não conseguem passar um dia sem beber uma xícara de café. As vezes misturado com açúcar sorvete, leite, creme ... existem vários tipos de café pelo mundo, mas você conhece o café sem cor? (clear coffee é o nome original) Assim como água, ele vem em uma garrafa transparente. Os criadores desta invenção são os irmãos David e Adam Naggy, os empresários da CLR CFF. A ideia veio após muitas pessoas se queixarem continuamente de dentes manchados com café e como não havia esse produto no mercado, eles então decidiram inventar este café transparente ( para beber gelado) O processo é ainda guardado em segredo, mas os criadores garantem que seu produto é natural, sem ingredientes químicos, sem convervantes e nem açúcares artificiais. O café é atualmente disponível apenas no Reino Unido, mas existe o comércio on-line, onde você pode comprar de acordo com as normas do país onde você mora. Você gostaria de tentar? fonte: https://pt.petitchef.com/


COMPARTILHANDO Fiquei arrebatada com edição número 02, e já encantada havia ficado com a número 01. Vamos aos comentários: 1. Mini conto triste aquele Aniversário. 2. Ideia maravilhosa desses Grãos de Poesia. 3. Maravilhosa redundância Haicai Expressos. Vi com prazer a presença de nova colaboradora, Alice Bispo, parabéns. Espero que vocês se superem na edição nº 03. Os editores estão de parabéns pela iniciativa, longa vida ao Café com Palavras! Quem sabe, um dia, a encontraremos nas bancas de jornal? PS: Adorei a receita do café!

JULIA LEMOS - SÃO VICENTE/SP

Parabéns aos criadores desta maravilhosa e revista que, com apenas duas edições lançadas já nos brindaram com diversos textos publicados de seus colaboradores... Parabéns em especial a Alice Bispo e ao meu amigo Frederico Romanoff.

LUIZ CARLOS PIRES JR SÃO VICENTE/SP

Ihuull! Sucesso! Gratidão querido amigo. E esse tal carrasco tem alguma inspiração material? Gostei! Ahhah. Já divulguei na minha rede do facebook! O agradeço pelo espaço! Vamos que vamos! Abraços cariocas!

FREDERICO ROMANOFF – RIO DE JANEIRO/RJ


A página da cadeira nos aguardando, foi muito valiosa, pude até sentir seu frescor. Como numa conversa informal com amigos, poder arejar a mente, se deixar levar, se deixar estar e o mais valioso, se permitir ser. Foi delicioso tomar café com vocês.

ROSE TAIRA - PIRAJUÍ/SP

Adorei a revista! Estão de parabéns! Aguardando a próxima edição. Abraço

MARCELO GOUVINHAS - SANTOS/SP

“Café e Outras Palavras” ficou bem condizente com o nome... Gostei demais do fato de apresentar textos "crus" de pessoas que simplesmente amam escrever.

ALICE BISPO - SÃO VICENTE/SP


Café e Outras Palavras

retornará...

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