Café e Outras Palavras n. 04

Page 1

issuu.com/cafeeoutraspalavras

Café&OutrasPalavras

uma revista pra falar de café e literatura ano I | edição 4 novembro 2018

café universo

novembro 2018

10 benefícios do café para a saúde

reflexões pós-eleições

Frederico Romanoff faz uma análise crítica sobre a hostilidade, as pessoas e tudo mais

quem conta um conto aumenta um leitor que o diga nossos autores


www.wiplay.com.br



TOMARAM CAFÉ CONOSCO NESTA EDIÇÃO: Rose Tayra (Nenê) Marcelo de Oliveira Lemos Roberto Prado Alexandre Costa Alice Bispo Roberto Feliciano Daniella Menezes Frederico Romanoff Renato Lima

9.....livros&sites dicas de leitura 35...o amante passional quadrinhos para descontrair 40...grãos de poesia breves poemas de nossos colaboradores 48...para tomar a dois receitas rápidas de delícias feitas com café 49...haicai expresso roberto prado e rose tayra-nenê

capa e projeto gráfico Alexandre Costa diretor de conteúdo Roberto Prado

Quer colaborar com nossa revista? Mande e-mail para nossos editores: cafeeoutraspalavras@gmail.com

cafeeoutraspalavras@gmail.com


OS AUTORES 10/11 alexandre costa | repartido 14/15 marcelo lemos | o que nos toca 18/19 rose tayra | momentos mágicos 26/27 roberto prado | a ameaça do quase memoralista 32/33 alice bispo | raiva e um pouco de verdades 36/37 roberto feliciano | equanto chove 42/23 frederico romanoff | reflexões pós-eleições 46/47 renato lima | delírio de um coração que não deixa de sonhar



AVISO IMPORTANTE: não encontramos nenhum funcionário vegano transitando pelos corredores de nossa redação!


café

Tome um conosco e nos conte o que achou desta edição

cafeeoutraspalavras@gmail.com


café&outraspalavras

livros&sites dicas de livros, sites, blogs, programas e tudo mais

LIVRO

Neste clássico da consagrada escritora de suspense e terror, Agatha Christie, dez pessoas são convidadas a passar o fim de semana em uma ilha por um anfitrião desconhecido. No entanto, todos começam a morrer – um a um. Resta ao leitor descobrir quem é o assassino, em meio a uma narrativa instigante e aterrorizante, características típicas da autora Agatha Christie. fonte: blog.estantevirtual.com.br/2017/09/28 /10-livros-para-despertar-o-prazerda-leitura/

SITE TUDO SOBRE CAFÉ www.graogourmet.com



café&outraspalavras

alexandre costa

>10 11 >

Designer Gráfico, formado em Comunicação e Tecnologia. Contista e racionalista convicto. Fã incondicional de Clarice e Rubião

REPARTIDO

I Seria possível estar em vários lugares ao mesmo tempo?, seria possível estar em vários corpos?, se se estivesse inteiro ou pela metade isto ainda seria estar? Eu sabia que seria possível e, naqueles décimos de segundos da decisão, eu já havia escolhido há muito tempo. Eu poderia ser muito mais do que apenas um ou poderia estar em outros corpos vagando por esse mundo gigantesco. Eu poderia em determinadas situações ver, sentir, saborear, correr, pular e até, decidir algo muito importante que faria toda a diferença. Eu só não sabia quando nem em que circunstância eu poderia servir ao meu propósito, mas enfim este dia chegou. Foi no fim de um outono bem típico e cronometrado em toda sua duração quando eu não fazia ideia de como a vida precisava de mim, da minha colaboração. Na verdade, da minha incondicional devoção pelo que eu achava até aquele momento irrelevante. Foi quando Anna Segóia se foi para sempre dessa existência e nenhuma lembrança material me confortava, tudo me feria e nada me curava depois, nada me confortava, eu precisava de mais, algo dentro de mim que me ligasse a ela por toda a vida. Eu ainda queria que Anna fosse parte de mim como era antes, não de uma maneira romântica ou metafórica, de uma maneira física literalmente. Aquele sentimento de perda durou dentro de mim por muito tempo, acho que por toda uma vida, até o momento em que eu pude entender a diferença entre vida e existência. E foi num golpe de mestre, desse universo consistente na maneira de gerir certas situações e destinos, que tudo aconteceu como deveria, hoje eu sei. Fazia seis anos que eu tentava seguir em frente, entre tropeços e arrancadas, passos firmes, mas pernas tortas, sonhando sem motivo e recordando sem juízo na tentativa de me confortar e fugir de mim mesmo, mas a coisa só piorava. Era outono mais uma vez, nossa estação


café&outraspalavras

preferida, mas esse era diferente, mais quente, mais úmido, irritantemente fora dos padrões para a época. Para mim, nada fazia sentido quando via meus amigos se comportando como tolos estóicos esperando que tudo se ajustasse novamente. Para nós, aquela época era perfeita para estarmos juntos, se completando e se somando às artimanhas de cada um. Não era outono para nós, era nossa estação e todos sabiam disso. Ninguém se igualava a nós, ninguém poderia desmentir nossa interação com nossa estação preferida. Eu me recordava muito bem disso ano após ano, mas agora a umidade foi me amolecendo por dentro, criando um bolor fétido e escuro em minha alma, se juntando ao meu sangue e diluindo a minha vontade. Vagarosamente eu fui me entregando a esse destino. Munch na parede era o que mais fazia sentido para mim agora. Ao fim daquele dia eu deveria estar no escritório, então entrei no carro em direção a cidade vizinha. A rodovia larga e bem sinalizada parecia sem fim. Quando fixei o olhar no horizonte, por um instante tudo que havia ao redor desapareceu e eu só enxergava um ponto fixo no infinito, eu estava estático ao volante, era um sentimento entorpecente e ao mesmo tempo angustiante, nada que eu havia experimentado antes. Em um instante senti meu corpo inteiro como se eu pudesse entender todas as interações que ele estava fazendo naquele momento, e depois não sentia mais, e quando olhei para minhas mãos no volante, não pareciam minhas mãos, e vi pelo retrovisor interno que não era meu rosto refletido, não era eu. Seria possível que eu estivesse em um estado de infarto?, seria possível dizer que eu possivelmente fui vítima de um grande estresse? De repente não havia estrada, nem carros de um lado para o outro, não havia lembrança em mim de que eu havia saído de casa para o escritório, na verdade eu estava em casa ainda, tomava café, mas havia algo diferente agora, uma inquietude em minha alma que não era ruim, mas também não era boa. Então era outono e como sempre eu tomava café enrolado no cobertor, pantufas com meia, xícara cheia e o aroma do café no fogão. Ouvi Anna tossindo. Como você está hoje amor? Melhor, querido, vai passar, sempre passa, eu sou assim no outono, você sabe? É, sei! Anna sentou-se ao meu lado e terminamos o café. Preciso ir para o escritório! Eu te espero para o almoço querido. Nos abraçamos e nos beijamos. Os próximos meses seriam os melhores, estávamos na nossa estação. No carro eu fazia planos para o fim de semana. Os dias se passaram, o final de semana chegou, Anna havia piorado muito da tosse, os médicos disseram que era tuberculose, eles estavam certos, Anna não teve chance, nem eu. No quarto eu segurava sua mão quando fui arrancado repentinamente de lá. Um soco no estômago e o gosto de sangue na boca, depois senti uma pancada em meu rosto, e senti minhas mãos batendo contra o painel e meus ossos quebrando. O sangue que escorria pela minha testa entrava


café&outraspalavras

em meus olhos e se misturava com minhas lágrimas salgadas, uma força poderosa sacudiu meu corpo contra o banco e o vidro dianteiro do carro, senti um forte cheiro de diesel e borracha queimada, meus olhos se escureceram, perdi a audição, o sentido de tudo estava apagado de mim, aí veio o frio e muita dor, depois o nada e enfim eu vi a escuridão ao meu redor, eu vi o silêncio e, por fim, senti um agradável calor voltando ao meu corpo, só então, depois de tudo, eu pude ver a cor opaca da morte. A pik-up atravessou as quatro faixas da pista contrária e me pegou de cheio, não houve nenhuma chance para nós dois. As quatro rodas passaram por cima de mim e esmagaram completamente o cockpit, a pik-up capotou mais duas vezes antes de parar com as quatro rodas para o ar ainda girando ferozmente por conta do acelerador emperrado. II Vamos retirar o fígado, os rins, os pulmões, o coração, os olhos ainda estão bons, eles podem sair também, leve imediatamente, existem pessoas que já estão esperando há muito tempo por isso. Sim, doutor, agora mesmo. Seria possível estar em vários lugares ao mesmo tempo?, seria possível estar em vários corpos? De que maneira eu poderia estar em mais de um lugar que não fosse por meio de um milagre da ciência? Sim, a ciência fazia todo sentido para mim agora, porque dava sentido ao que eu considerava o propósito da minha vida e mais, além da vida, de uma existência fora de meu corpo. Eu me sentia útil, necessário, eu estaria batendo forte dentro do peito de alguém, eu estaria respirando profundamente o ar mais puro, estaria destilando as impurezas que se apoderam de nosso corpo e enfim, eu estaria enxergando uma vida nova cheia de possibilidades, eu estaria vivo novamente. Eu daria a todas essas pessoas algo que eu não tive, a presença física de alguém dentro de mim. Eu precisava dela, que fosse uma pequena parte, mas que eu sentisse que era parte de mim também. Era isso, esse vazio como se faltasse um órgão no meu corpo, era essa a falta que ela me fazia. Ela se foi muito antes de combinarmos isso, não tivemos tempo para planejar a falta que um faria ao outro, tínhamos tanto tempo que perdemos a noção de que ele não era nosso. Não somos donos de nada nessa vida. Mas eu pude dar um pouco mais de vida para quem quer se planejar sem medir o tempo ou o humor do universo. E foi assim, de um consistente desejo incontrolável desse universo de separar e juntar, que me curei de toda dor. Enfim eu estava agora em vários lugares ao mesmo tempo, em vários corpos, repartido em pequenos pedaços de vida.



marcelo lemos

café&outraspalavras

marcelo lemos

>14 15 >

Mora em Pirajuí, uma cidade, que como dizem seus moradores, Bauru fica perto! É Comerciante. É Gourmand. É Gourmet. Um Bon-vivant, e (coisa raríssima), possui seu próprio campo gravitacional (gordo).

O QUE NOS TOCA

1 Não há dúvidas que “nunca antes na história deste planeta” (desculpe-me, não consegui resistir), o homem foi tão consumista. Não estamos falando de consumo de subsistência, sendo este, naturalmente incrementado pela evolução dos meios produtivos e seu respectivo barateamento. O foco aqui são as últimas inutilidades, das quais, não sabemos como vivemos sem, até agora. É um Everest de quinquilharias a tentar preencher este vazio de nossas almas. Pior, consumimos pessoas da mesma forma que consumimos as coisas, e assim também, nos deixamos consumir. 2 Há muito, trabalhando com alimentos, fiquei chocado em saber que não bastava apresentar o produto, narrar um pouco de sua história, discorrer como e de que era feito. Isto não bastava! Era preciso descrever os sabores que o cliente deveria perceber quando o fosse consumi-lo. A pessoa já não confiava mais nos próprios sentidos! Goebbels disse que “uma mentira repetida mil vezes, se torna uma verdade fundamental”. Esta sua máxima, descreve de forma muito clara o nosso cotidiano. Para mim, o suprassumo da exemplificação disto, é um, certo salgadinho, o qual não tem sabor, somente sal, muito sal, aroma, textura de isopor e muito marketing. Um sucesso! E ainda tem mais... No tocante aos seus aromas, só encontram paralelo com certas emanações aromáticas do corpo humano. Dá para entender? Somente o marketing explica. 3 -Tenho 3500 amigos no Face. Participo de 50 grupos do “ZAP”. Tenho quase 3000 seguidores em minha página... Tomo Prozac a 3 anos e não vivo sem. Mas saio sorrindo em todos as minhas selfs! Exceto claro, em as que estou fazendo biquinho. Isto mesmo


meus amigos! Agora os homens também fazem biquinhos em selfs. Desculpe-nos frei Armindo O próprio conceito de self, é o retrato de nossa imersão nesta piscina de mazelas. -Estou só, mas sorrindo... Neste tempo de escassa habilidade para o convívio do que não seja meu imediato desejo, vejo-nos também perdendo a vontade de diferente sermos. Para estes cânions existências, os quais cavamos diariamente de colherinha, em breve, não haverá montanha de Marte que os preencha. 4 Ainda analisando as relações interpessoais pelo prisma dos hábitos de consumo, me toca muito, quando consumo algo, seja bebida, comida, um veículo, etc, e este passar todo o cuidado, todo o trabalho, os quais foram nele empregado, até chegar em nossas mãos. Isto me emociona. São estes momentos que enxergamos com lupa, a diferença entre preço e valor O que custa pouco, mas não nos atende, é caro! 5 Já nos é o normal, ingerirmos marcas, marketing e não produtos. Minha sugestão é subvertermos este mercado de relações Criemos assim uma nova demanda! assemos a consumir pessoas de melhor qualidade, que realmente atenda as nossas reais necessidades e que não sejam mais para preencher um vazio de nossas estantes. A estante já está cheia..., de vazios! A terceirização da felicidade provou-se que não funciona. Ninguém tem a capacidade de tornarmos felizes. Podemos permitir que assim procedam, mas se o fazem, é porque lhe concedemos este poder. Pensemos bem a quem entregaremos o martelo de Thor. A minha proposta é que procuremos pessoas e coisas que nos tornem melhores, mais vivos, que nos reinventem. Não precisamos de coisas/pessoas para passar o tempo, porque este, passa a despeito de nós. Precisamos de pessoas e coisas que façam nosso finito tempo valer a pena.


marcelo lemos

CATÂNO! Hoje acordei homem, porque até ontem, me descobri menino. Menino, porque tinha tu para se preocupar por mim, para corrigirme, me chamar de telhudo, quando precisava, ou sempre! Rei da gambiarra, nada faltava, sempre deu teu jeito... mágico! Como num balé, na vida mostrava leveza e graciosidade, ou melhor, tuas gracinhas, quando na realidade, ocultava todo o esforço para nos poupar das asperezas por que passara. Éramos pobres e nunca suspeitamos, porque nos fazia nobres, especiais. Longe, muito longe de ser perfeito, fostes mestre do se aperfeiçoar, nos ensinando e aprendendo conosco, sendo sempre, melhor que no dia anterior. O Lemos, o Toninho da Associação, o Homem do Corrupião, lecionastes em uma vida toda, a arte de fazer amigos. Aprendeu quem quis, quem não quis, que dó! Quantos amigos em uma vida? Quantos amigos teus filhos perderam para ti? Amigo, esta talvez seja a melhor definição que eu possa hoje encontrar para ti, que embalou o menino até que... o obrigou a ser homem. - Catâno! Ri, agora! Ri, agora! Faz tuas gracinhas, teus trocadilhos... Eu sei que os estás fazendo! Tu sempre irás fazer... Obrigado Pai.

acesse aqui todo o conteúdo do blog de roberto prado



café&outraspalavras

rose tayra - nenê

>18 19 >

Natural de Santos. Atualmente morando no interior. Tem como "ideia fixa" destilar das cenas do cotidiano a sua mais nobre essência, tendo como posto o balcão, seu aliado, onde recebe a outorga de ouvir confissões sem ser ordenada e fazendo análises sem ser diplomada. Formada em Arte e Educação.

MOMENTOS MÁGICOS crônicas do cotidiano

Enquanto fazia a preparação do almoço fui pega, levada por pensamentos... ...hoje fui acordada pela madrugada com o caminhão dos coletores de lixo e alguns cachorros latindo; mais tarde o telefone toca e ninguém na linha... E fui cada vez mais e mais me entranhando nos pensamentos. ...hoje teve mais lirismo na cidade, pois aqui não ouvi nenhum galinho... Embora com panelas no fogo, som na casa vizinha, crianças de férias me vi num silêncio... De repente, como para me desmentir, ouço o chilrear dos passarinhos, eles pareciam me chamar e fui... ...lá fora as folhas das bananeiras começaram a balançar, o sol radiante e uma leve brisa me fizeram despertar...


Senhor motorista, o uso da seta para virar à esquerda ou direita não provoca câncer*.

USE SEM MEDO

>Uma campanha da Associação Brasileira dos Pedestres Atropelados ou Mortos por Motoristas Imbecis que não dão Seta

<ABPAMMS>


*Estudo feito com mais de quinhentos mil motoristas em todo o mundo pela Universidade de Hazard provou que o uso de seta não está associado a nenhum tipo de câncer. O problema mesmo é burrice, preguiça cerebral e má vontade.


caféuniverso TUDO SOBRE A BEBIDA MAIS CONSUMIDA NO MUNDO

222


10 BENEFÍCIOS DO CAFÉ PARA A SAÚDE

Câncer, Alzheimer, depressão, estresse, diabetes, ajuda na digestão e até rejuvenesce as células do corpo. Esses são alguns dos benefícios que um café especial pode representar para sua saúde quando consumido diariamente. Num passado não muito distante, a ciência se ocupou em entender e esclarecer alguns mitos que envolvia o grão. Essa busca resultou em diversas conclusões que quase ninguém imaginava. OS 10 BENEFÍCIOS 1 – Evitar Câncer Segundo o site Saúde Dica, a incidência do câncer de mama, cancro da faringe e oral, próstata, fígado e esofágico pode ser evitada com a ingestão de pelo menos uma xícara de café por dia. Por ser rico em antioxidantes listados acima, ajuda a evitar a degradação e alteração das células. Prevenindo, assim, o surgimento de mutações que podem resultar em tumores. 2 – Aliviar o Stress Em um estudo feito simultaneamente nos Estados Unidos, Portugal e Brasil ficou comprovado que o café e sua cafeína ajudam a melhorar o humor, aliviar o estresse e ainda garante mais desempenho no tempo de reação, memória e raciocínio. A pesquisa (leia na íntegra em inglês aqui) foi realizada com ratos e nesse experimento, os animais passaram por situações estressantes como banho gelado e inclinação na gaiola. Durante três semanas, metade deles tomou água com cafeína e a outra metade tomou água normal. Depois desse tempo, notou-se que consumiram apenas água normal

23

apresentavam níveis alterados de estresse perceptíveis quimicamente no cérebro e no comportamento. Os animais cafeinados não apresentaram alterações. O estudo ainda não é conclusivo, mas os cientistas acreditam que houve um bloqueio de receptores que causam o estresse ao ingerir a cafeína. 3 – Rejuvenesce Não é de hoje que o poder rejuvenescente do café é explorado principalmente pela indústria de cosméticos. Marcas como Natura, Avon e Attrato apostam nas substâncias antioxidantes do café verde para melhorar ainda mais a eficácia de seus produtos. Inclusive, a marca Kapeh dedicou-se única e exclusivamente no café para desenvolver diversos produtos de seu portfólio. Todo esse interesse se dá pela presença de muitos componentes do grupo dos polifenóis e antioxidantes (responsáveis por atrasar o processo de envelhecimento e o aumento da esperança de vida). Além de ajudar na saúde, os extratos do grão verde são os mais utilizados na produção de cremes antirugas. 4 – Estimula a Digestão Mesmo sendo um sucesso absoluto depois do almoço, poucos sabem que o café é recomendado para estimular a digestão. De acordo com o Dr. Darcy Lima, a bebida estimula os intestinos, o reflexo do estômago e do retosigmoide (parte final do intestino grosso), aumentando assim o movimento gastrointestinal e facilitando a digestão. O remédio para a preguicinha pós-almoço pode também ser sua salvação quando você exagerar na quantidade de comida ou nas quartas-feiras de feijoada. 5 – Diabetes Ficou comprovado que os ácidos clorogénicos e trigonelina alcalóide presenteso no café ajudam na redução de glicose e insulina. Segundo o experimento realizado na Escola de Saúde Pública de Harvard (Harvard School of Public Health /


HSPH), pessoas que aumentaram o consumde café por dia num período de quatro anos tiveram um risco 11% menor de desenvolver o diabetes tipo 2. Para aqueles que diminuíram o consumo da bebida, registrou-se um aumento de 17% para desenvolver a doença. 6 – Depressão Outra descoberta do Dr. Darcy Ribeiro foi o efeito positivo do café na luta contra a depressão. Ficou comprovado que a incidência da doença é menor entre adultos e crianças que tomam até quatro xícaras de café por dia (quando comparado às pessoas que não tomam café ou uma menor quantidade). 7 – Café Emagrece A resposta é SIM! E a grande responsável por estimular e aumentar o desempenho em exercícios físicos é a cafeína. Além desse estímulo extra, o café ajuda na liberação de ácidos graxos da gordura estocada no corpo, em termos mais simples, a queima de gordura. 8 – Osteoporose Houve-se um tempo em que médicos e nutricionista julgavam o café e a cafeína como os vilões da osteoporose. Acreditava-se que a bebida impedia a absorção do cálcio no organismo, enfraquecendo assim os ossos. Dr. Darcy Lima, porém, comprovou há pouco tempo que tudo isso se trata de um grande engano. Segundo seu artigo (publicado na íntegra aqui), “O cálcio tem seu metabolismo rigorosamente controlado por uma série de hormônios e vitamina (vitamina D), de forma que dos 1.200 mg que ingerimos diariamente, apenas 300 mg são absorvidos. Caso precisemos de mais cálcio, o intestino apenas aumenta sua absorção. O consumo moderado de cafeína não causa osteoporose em idosos nem aumenta o risco de fraturas”, explica. 9 – Alcoolismo e Drogas Assim como o café pode ajudar no combate da depressão, ele pode inibir o alcoolismo

e o consumo de drogas. A conclusão foi feita pelo Dr. Darcy Ribeiro, que afirma que os ácidos clorogênicos e os quinídeos formados na torra adequada do café podem até ser mais importantes que a cafeína na bebida e de grande ajuda na prevenção e controle da depressão e suas conseqüências como suicídio e o alcoolismo, uma forma lenta de suicídio e suas conseqüências, como a cirrose. É importante entender que muitos medicamentos contra essas doenças contam com medicamentos com propriedades antagonistas opióides, como o naltroxone e o nalmefene. E o café possui naturalmente potentes antagonistas opióides como os quinídeos formados na torra do café a partir dos ácidos clorogênicos. 10 – Café faz bem ao coração Por essa, nem Drauzio Varela esperava! Segundo a pesquisa realizada no InCor em parceria com o Consórcio Pesquisa Café, da Empraba Café, não existem evidências de que o café faça mal para pessoas com problemas no coração. O estudo, que começou em 2009 na Unidade Café e Coração (localizada dentro do Instituto do Coração), analisou o comportamento e os resultados de uma bateria de exames feitos periodicamente em mais de 100 pacientes que tomavam café.

FONTE: www.graogourmet.com/blog/10beneficios-do-cafe-para-a-saude


hora de escolher o que você mais gosta de fazer

decorar a estante da sala com o melhor livro que já leu em toda sua vida

colocar uma roupa confortável e dormir até ao meio dia de amanhã

ler um livro de poesia enquanto escuta uma música de meditação

sentar confortavelmente em um puf de livraria e perder a hora de tanto ler

ler três livros ao mesmo tempo e contar para todos os amigos que fez isso

Sinta-se feliz de qualquer jeito | uma campanha handmakebooks



café&outraspalavras

roberto prado

>26 27>

Encrenqueiro, formado em Comunicação e Tecnologia. Perpetrador de quatro livros. Atualmente dedica-se ao haicai, mais por preguiça que por talento. Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni- ALTO.

A AMEAÇA DO (QUASE) MEMORIALISTA

O carpete está coalhado de garrafas de conhaque e cerveja, a mesa coberta de folhas e lenços de papel, os olhos injetados de sangue, os cabelos desalinhados, o cinzeiro transbordante de bitucas de cigarro. Blocos de anotações espalhados pela sala testemunham seu esforço em pesquisar fatos, datas, nomes, endereços... Maldita hora em que encasquetou que seria um memorialista. Jurou que iria passar a limpo sua vida pregressa, daria nome aos bois, tudo o que lembrasse – pouco até agora – seria impresso. Suas memórias dariam – segundo ele: – Pelo menos oito volumes de aproximadamente oitocentas páginas... Boquirroto, espalhou aos quatro ventos seu projeto. Ameaçou pessoas, chantageou cunhados e primos; advertiu antigas namoradas que não pouparia detalhes por mínimos que fossem. Recebeu telefonemas ameaçadores, cartas anônimas – embora reconhecesse a caligrafia do missivista... - Nada nem ninguém me impediram de escrever tudo T U D O! O prazo de entrega dos originais está terminando e até agora isso: I ...e nós três subíamos o morro de madrugada, uma hora, duas da manhã, e nada acontecia, não tinha perigo, além, é claro, de tropeçar numa pedra ou num degrau e se machucar. Vinho vagabundo na cabeça, girando, girando. Chegávamos lá em cima, na casa, bem de mansinho, sem fazer barulho, com os sapatos nas mãos para não acordar a mãe dela, e forrando o chão com qualquer trapo, caímos mortos e só acordando com o sol brilhando sobre as águas do cais do porto, que sempre nos remetia a um samba antigo: - “Alvorada, lá no morro, que beleza, ninguém chora não há tristeza, ninguém sente dissabor, sol


café&outraspalavras

colorindo, é tão lindo, é tão lindo”... ' – que cantávamos com ressaca e desafinados. Aquela luz arrebentando as nossas retinas...! Então, acordados, ou quase, descíamos e íamos trabalhar, com um café ralo no estômago e gosto de corrimão de bordel de terceira categoria na boca pastosa. A vida era boa, éramos jovens e nada parecia ter prazo de validade, tudo parecia ser para sempre, mas como hoje sabemos: - ”O pra sempre, sempre acaba...” A vida nos levou por outros descaminhos; ela, sofrendo um desencanto amoroso entregou-se à fé, tornou-se religiosa, sumiu no mundo como missionária, o outro, por suas opções, morreu na flor da juventude e eu envelheci com as memórias e as lembranças desse um tempo. Ultimamente tenho revisto as pessoas daquela época, nos reunimos, bebemos bons vinhos, e conversamos com calma, pausadamente, hoje já não temos aquela urgência de antes, queremos até, que o tempo comece a ficar um pouco mais lento, e nos recordamos desses amigos perdidos pelo mundo. De certa forma, estamos naquele ponto em que, inconscientemente começamos a fazer um balanço de vida, contabilizamos as perdas e ganhos, olhamos para trás e nos sentimos vitoriosos, afinal ainda estamos realmente vivos! II Éramos jovens e por seguinte, vítimas de leituras, mais precisamente “O Encontro Marcado”, do Fernando Sabino, então um dia, com a cabeça cheia de vapores de vinhos vagabundos, combinamos nos encontrar dali a quinze anos, no mesmo lugar, às 19h00minhs de (não me lembro mais o ano, NOTA: preciso achar a agenda daquela época...), assinamos até uma ata para sacralizar o acordo, e fizemos Tim-Tim com mais vinho vagabundo (NOTA: pesquisar a marca). Mas pelos motivos acima descritos, nunca voltamos a nos ver. Pergunto-me, hoje, como teria sido o encontro? Sinceramente não faço a menor ideia, mas pelo andar da carruagem à época, creio que não teria sido um grande encontro, duro de admitir, mas com o tempo nosso ego teria sido um grande empecilho à nossa amizade. Olhando em perspectiva, acho que foi muito bem assim, guardo boas lembranças e quase nenhuma mágoa. Sinto pelas mortes, tantos as físicas como as espirituais, pelas encruzilhadas, pelas trilhas pedregosas que escolhemos, mas a vida é assim mesmo, muitas perdas e ganhos me vieram depois disso! Ontem pela manhã o síndico do prédio junto com bombeiros e uma exnamorada apavorada arrombaram a porta de seu apartamento e o encontraram em profundo coma alcoólico, junto ao notebook esfacelado esse bilhete manuscrito: O projeto – que seria longo - para por aqui, pois as memórias foram-se assim como se foram aqueles dias... Suspiros foram ouvidos em muitos lares e bares.


café&outraspalavras

roberto prado

O CAFÉ NO DIA SEGUINTE À ELEIÇÃO Passava o meio-dia. Já estava na cafeteria. O assunto eram as eleições de ontem. “Meu candidato ganhou, meu candidato perdeu” aquele balanço de perdas e ganhos e a conclusão de que ninguém ganhou. Veio o café, impressionantemente bebível, depois de uma temporada de cafés ruins essa xícara de hoje devolveu-me a esperanças em dias melhores, pelo menos na cafeteria. Ainda discutíamos os resultados da eleição, mas mais por amor a uma discussão que pelos partidos e/ou candidatos eleitos ou não, quando eu – sempre eu meu Deus! – comentei que não estava contente com os “apoiadores” do candidato vencedor. Deixei claro que não achava legal, digo, certo e/ou mesmo honesto igrejas (no minúsculo mesmo) dando apoio a esse ou aquele partido em troca do voto dos seus acólitos. Igrejas (agora no maiúsculo) devem somente se preocupar com as coisas espirituais. Que pastor tal ou padre qual, deveriam ficar em seu templo e/ou igreja e se preocupar somente com o bem estar imaterial de seu rebanho. E acabei por deixar bem claro enquanto misturava o adoçante no meu café - de forma pouco incisiva, verdade seja dita minha antipatia por esse ou aquele religioso. É importante frisar que em nenhum momento expressei juízo de valor. Nesse momento o caldo entornou... A moça que nos servia, claramente uma “neo-cristã” soltou os cachorros sobre mim, naquela demonstração de falta de cérebro, de autocrítica, de inteligência e independência intelectual... Uma defesa absurda e abjeta dos seus líderes religiosos. Lideres para ela, humorista para nós... Uma pena, aquela explosão patriótico-cristã pôs as semanas de esperanças num café bom numa segunda-feira de ressaca politica e ódio religioso... Amanhã tomarei meu cafezinho lá no bar do argentino que era uruguaio.


AS FAIXAS NAS RUAS E AVENIDAS NÃO SÃO PARA VOCÊ PARAR SOBRE ELAS.

RESPEITO É BOM E TODO MUNDO GOSTA!


>Uma campanha da Associação Brasileira dos Pedestres Atropelados ou Mortos por Motoristas Imbecis que não dão Seta

<ABPAMMS>



café&outraspalavras

alice bispo

>32 33>

Escreve sem motivos e com muitos motivos. Na forma mais clara: escrevo o que vejo e o que sinto. E, como por ironia, me transformo em minhas próprias palavras.

RAIVA E UM POUCO DE VERDADES

Ontem, logo após um programa de culinária dos mais injustos - o confeiteiro que eu não queria acabou saindo - acabei colocando num programa mais legal. Esperei até o jornal que antecede acabar, sempre com as "notícias" intercaladas com futebol e outros troços e com um olhar meio flutuante sobre o mundo. Quando o jornal acabou, o programa se iniciou. O apresentador, de sua forma polida e bem humorada, com uma ótima articulação, chamou ao palco, aos aplausos, o economista e escritor Fulaninho da Silva. Fulaninho da Silva, como todos os homens que vestem terno e calça social num programa de tevê foi logo cruzando as pernas e agradecendo à plateia. Essa mesma, acostumada a entrevistas vazias, com cantores bonitinhos e sarados, logo viram que seria papo chato. “Porra, a gente vem da puta que pariu pra ver esse cara calvo falar que a gente tem 'complexo de vira-lata”? As expressões, quando não diziam isto, eram bem por essa linha. A entrevista se desenrolou e, honestamente, me surpreendi. O cara falava de forma certeira, de maneira clara e sempre visando o público, como se fosse seu dever alertar quem fazia o Brasil, quem habitava o Brasil, ou os vários Brazis. Dessa forma prendeu minha atenção e gerou uma reflexão acerca desse tipo de conversa que tanto nos rodeia no círculo midiático. Para quem, afinal, prestava um Brasil todo acabado, derrubado, cheio de miserável, de operário vivendo à custa de um salário que não dá pra nada, nem pro cheiro da mistura? Para quem servia um país onde a violência é a regra e não a exceção? Para quem? Quem circulava dentre o povo, quem vivia, quem era o povo? Esse complexo era necessário para a nutrição de uma política suja e para os privilégios serem dados àqueles que nem sequer sabem como é enfrentar um ônibus lotado, todos os dias; Eles viviam tirando do prato de crianças que, por não terem nascido com a etiqueta de sobrenome rico, viviam buscando seus brinquedos e


café&outraspalavras

diversões da maneira mais ingênua possível. São instigadas a crerem que é assim mesmo. Que a desigualdade é necessária, que o seu pai é pobre porque mereceu ser pobre. Sua mãe limpa as casas das madames porque engravidou cedo. Que sua escola era precária pelo desinteresse dos alunos e que a falta de incentivos à leitura não era obrigação do governo. O governo que se diz tão envolvido na educação, tão envolvido na prestação de serviço, é o mesmo governo que enche o rabo de dinheiro, que entope dezenas de cofres e contas secretas, até mesmo no exterior; É o mesmo que sem consciência nenhuma deixa uma criança entrar no mundo do crime e depois a culpa e a deixa apodrecendo na cadeia. A vítima é vista como a culpada. A cultura brasileira é estampada de forma ridícula e o que a gente é induzido a consumir pelos publicitários nada tem a ver com nossa realidade cotidiana e social. O rico depende que haja desigualdade porque assim ele planta o terreno de seu privilégio. E, ah, se você vier com discurso de cidadania eles apontam o dedo e te xingam de comuna. A minha raiva é muito grande. E vê-la sendo falada numa emissora entupida de indução social me deixou mais intrigada. Eles cospem na nossa ignorância. Eles estampam o panorama social como se fossem alienígenas que não vivem no Brasil. Um monte de canudos universitários em meio ao povão analfabeto. Agora, me diz, como falar de política, de cidadania, de desigualdade, num país que nem ao menos se entende como atuante de seu próprio destino? Num país que não se organiza? Num país que é marionetado o tempo todo e nem sequer sente as cordas acima de suas cabeças? A utopia de que todos os economistas falam, independente de serem ou não pessimistas, está diretamente ligada à desinformação. Desde os primeiros degraus da educação primária no Brasil, a gente entende que está sendo sabotado. Seja implicitamente, ou explicitamente, por meio dos professores. Se você não tem papaizinho que banque os estudos até a universidade pública, você vai ser operário. É fato. E, ah, se acostume aos dedos apontados em sua direção. Eles dirão que é sua culpa, seu desinteresse, sua falta de motivação para "vencer a defasagem no ensino". Não é obrigação de o estudante lidar com a matéria subaprendida. É obrigação do Estado. Nesse ponto, nada vai mudar. O país vai continuar com a coleira, adestrado pela mídia vendida para a publicidade, e ainda vai tomar a cerveja de fim de semana, coroando a bela merda que a vida dele se tornou. Mas, fique tranquilo, senhor político, a semente tá sendo muito bem regada nas cabeças. Na verdade, em TODAS as cabeças.

34


435

O AMANTE PASSIONAL



café&outraspalavras

roberto feliciano

>36 37>

Livreiro, formado em jornalismo e escreve no site 'estante caótica'. Não sabemos se ele aborrece com cores de capas de livros.

ENQUANTO CHOVE

Naquele fim de tarde, eu sentei de frente para a janela no mesmo instante em que começava a chover lá fora. A ameaça pairava sobre nós desde os primeiros minutos de claridade do dia. Quando toda a água caiu, eu já tinha ido ao banco, jogado na loteria, comprado um quilo de contrafilé e comentado com a dona Noêmia sobre a porta emperrada. E agora tomava café da tarde sem pretensão de fazer mais nada até a hora de dormir. Suzana me disse que iria embora um pouco antes. Acho que ela sacou que iria chover aquele tanto. Nos últimos dias, quando chovia, não era pouco. Começava com pingos finos e ia aumentando. Alagava tudo, entrava água pela janela e, se era madrugada, o barulho de uma goteira na caixa do ar-condicionado não nos deixava dormir. Talvez ela estivesse de saco cheio disso. Era uma rotina desgastante. Eu até gosto de chuva. Do som, do cheiro, da temperatura. Eu gosto de olhar para o outro lado da rua através da cortina de água que se forma na janela. Gosto de ver como a violência do temporal mexe as árvores do quintal do Sr. Augusto. Às vezes até me divirto ao ver Tatu, o golden retriever dele, parado na janela olhando para tudo aquilo com o mesmo olhar que eu. Será que o Tatu pensava o mesmo de mim? Mas naquele dia a chuva doeu. Olhando os faróis dos carros que passavam devagar, eu me lembrava do momento em que Suzana entrou no Uber. Ela não olhou para cima como fazia sempre. Eu tinha uma ligeira esperança de que ela fizesse isso, como sinal de que também daquela vez ela voltaria. Quando o carro (um Fiat Argo, placa UXV 5489) virou a esquina, olhei para o céu e vi os primeiros pingos da chuva. Não deu tempo de lamentar, reclamar ou chorar. Eu tinha que fechar as janelas do quarto e


café&outraspalavras

da área de serviço. Depois disso, a rua começou a encher enquanto eu pensava nos possíveis motivos pelos quais ela tinha ido embora. Tudo estava muito difícil. Eu sabia que eu não era o que ela queria ou precisava, que os dias de sol não iluminavam suficientemente bem o momento nublado pelo qual passávamos. Eu sabia. Mas, assim como a previsão do tempo não evita o temporal, saber não evitava sua partida e nem diminuía a frustração. A luz de um dos postes, o da esquina, se apagou. Naquele horário, muita gente estava voltando do trabalho. Ainda não era noite, mas o tom sépia do fim de tarde já embalava os passos das pessoas nas ruas. Tinha gente de guarda-chuva, tinha gente de capa, tinha gente sem nada disso. Todos voltavam para suas casas. Por mais que a chuva pegasse essas pessoas desprevenidas, ainda havia motivo para voltar para casa. Não para Suzana. Depois de um tempo paralisado, percebo que o café está no fim, a novela das seis está acabando e vai começar o telejornal regional com notícias de alagamento, corrupção e perfumaria. A fúria das águas começa a se acalmar, depois de quase uma hora. Os carros ainda passam devagar, Tatu ainda está impaciente trancado dentro de casa, as pessoas ainda estão chegando encharcadas de seus trabalhos. E Suzana ainda foi embora.

O DESTINO DA SEGUNDA CARTA DE AMOR Era 1989. Ano da queda do muro de Berlim, das manifestações estudantis na China e da eleição do Collor. Ano de lançamento do Brain Drain, dos Ramones, e de Bleach, o primeiro do Nirvana. Eu tinha nove anos e estava na quarta série do primário. E também estava apaixonado. Não da mesma forma como estaria apaixonado anos mais tarde, na adolescência, tantas e tantas vezes. Muito menos como na vida adulta me arrebatariam diferentes tipos de paixão. Mas eu definitivamente estava apaixonado, como protagonista de um filme do John Hughes. Karina era perfeita. Melhor aluna da classe e com os olhos mais bonitos. Falava com doçura, sorria com o rosto inteiro e, na festa junina daquele ano, era a caipira mais linda de todo o “arraiá”. E nunca deu a mínima para mim. Eu fazia de tudo para chamar a sua atenção. Caprichava no futebol, no recreio, se sabia que ela estava na plateia. Elogiava seu tênis


roberto feliciano

café&outraspalavras

Bamba e sempre oferecia meu Mirabel de chocolate para ela. Mas nada adiantava. Foi então que tive a melhor ideia que eu poderia ter: escrever uma carta de amor. Anônima, é claro. Fiquei dias pensando de que forma poderia fazer isso sem ela saber de minha autoria. E em como conseguir transpor para o papel tudo o que eu sentia. Xeretei a estante de livros do meu pai, em busca de livros de poesia, e puxei pela memória as melhores cenas dos filmes a que tinha assistido até então. Em um domingo, na casa da minha avó, pedi emprestada a máquina de escrever da minha tia e coloquei uma folha de sulfite. Iria datilografar para ter mais certeza do anonimato. E caprichei. Claro que errei muito no começo e logo havia diversas bolinhas de papel ao meu redor. Uma carta de amor que se preze não pode ter rasuras, não pode ter corretivo. Mas, em algum momento daquela tarde de domingo (antes de começar o programa d'Os Trapalhões, é lógico), a carta ficou pronta. Senti um certo orgulho. Toda a minha paixão estava ali. Rimei bastante amor com dor, contei das minhas intenções de ficar com ela por toda nossa vida, falei do quanto seu cabelo me hipnotizava e de como não me cansava de olhar para ela na classe. Por fim, assinei: “seu admirador secreto”. No dia seguinte, cheguei mais cedo, com a folha dobrada e dentro de um envelope. Deixei embaixo da mesa (que a gente chamava de carteira) dela. Voltei para o pátio para subir com os outros coleguinhas, como se nada estivesse acontecendo, como se minha vida não fosse mudar radicalmente depois daquele dia. Não demorou e ela descobriu o envelope. Abriu delicadamente e leu com atenção (acho até que duas vezes). Ela começou a sorrir; e eu, a me encher de esperança. Na hora do recreio, mostrou a carta para a melhor amiga e as duas andaram suspirando pelo pátio da escola. Ela apertava a carta contra o peito, como se não quisesse nunca perdê-la. Foi o dia mais feliz da minha vida até então. Eu precisava fazer alguma coisa. Passei o resto da semana pensando em como revelar minha identidade e lhe reafirmar, olho no olho, tudo o que a carta dizia. Mas antes eu precisava reforçar suas impressões. Então, escrevi uma segunda carta. Caprichei ainda mais. Descobri rimas novas para a palavra amor, falei do seu sorriso, dos olhos, da festa junina, dos planos que tinha para nossas vidas dali pra frente. Novamente dentro de um envelope, deixei a carta lá, antes de todo mundo subir para a classe. E mais uma vez não demorou para que ela descobrisse o envelope embaixo da carteira. Leu tudo até o fim atentamente. Dessa vez, não tive a impressão de uma segunda leitura. E o que ela fez a seguir me deu a certeza de que ela já descobrira a identidade de seu “admirador secreto'”. Ela se levantou de sua cadeira e, no caminho até a frente da classe, foi rasgando a carta em 2, 4, 8, 16, 32 pedaços. Por fim, jogou os fragmentos na lata de lixo e voltou para o seu lugar. Sem sequer olhar para trás.


café&outraspalavras

A BELEZA

grãos de poesia

a beleza como uma invenção de lumiere, é a luz por traz das córneas que se projeta na paisagem

AMIZADE, SEIVA RICA Amizade, seiva rica, que a todos enobrece. Sou grato a meus amigos, que de mim se compadecem.

Meu respeito é muito grande, aos amigos que me são caros. Sou leal a todos eles, que de poucos, são quase raros. A vida nos cozinha, em fogo brando, como no fogão. Nossos valores nos sublima, fazendo do supérflo a redução. Essencial, meu caro, cheguei a conclusão. É viver entre bons amigos, o restante, é só ilusão.

marcelo lemos

marcelo lemos

DIAS DE SHANGRI-LÁ SONS...

na imensa escuridão enquanto o morro dorme, os grilos cricrilam, coaxam os sapos "martelo"

ainda soa o batuque de um tambor em algum terreiro... logo cedo o galo já anuncia se a cigarra cantar hoje vai dar praia!

rose tayra - nenê

TUDO TÃO VAGO... HIPOCRISIA

de saudade, chora-se pra dentro de arrependimento, prá fora e com plateia... (aplausos, aplausos)

eram copos e corpos eram mãos e nãos... vaga era luz tudo era tão vago...

roberto prado

roberto prado

VEJO PELAS RUAS... cidade uma bosta calçadas de ouro que caem dos ipês

roberto prado

40


041

cafĂŠ&outraspalavras



café&outraspalavras

frederico romanoff

>42 43 >

Frederico Romanoff do Vale nasceu em Santos/SP nas imediações do canal 4, hoje vive no Rio de Janeiro onde desenvolve estudos na área de antropologia do ritual e da religião. Acredita na mudança e busca caminhos por entre a escuridão. A escrita então funciona como um dos instrumentos por excelência desta busca. O autor gostaria de lembrar ainda que qualquer definição homogeneíza, mas como se pede, o envio desta mini -bio se realiza. Paz.

REFLEXÕES PÓS-ELEIÇÕES De que serve tanta hostilidade? Para o que ou quem ela serve? Meu ponto de vista não enxerga utilidade, por mais que sentir raiva não seja pecado, o que esse sentimento encaminha? Qual mensagem ele transmite? Se relacionar com alguém hostil é muito ruim, você se sente mal, com baixa estima, precisa responder "a altura" e essa altura é colocada em tons inacreditáveis de decibéis e gestos e mais gestos, gestos. Ao fim me parece que a hostilidade só serve mesmo para gerar mais hostilidade. Não quero ser hostil. Quero levar a minha vida como um passarinho que alimenta seus filhos. Quero procurar por este momento em todos os meus atos e relações, quero poder fruir o sentimento de amor, cuidado e carinho que esse momento representa. Não ser hostil em um mundo de hostilidade requer muita vigília, muita atenção. Criar novas realidades depende de um trabalho conscientemente empregado no sentido de. Assim é que se torna possível o devir gentileza. Assim é que o resultado pode ser leveza e amor. Assim é que quero caminhar. Assim é que desejo caminhar com aqueles que buscam também algo parecido com esse momento dos passarinhos. Ao poucos, bem devagar como a gestação de um novo pássaro ainda no ovo há de se construir formas de relações gentis e amáveis. Ao fim que possamos todos ser como os passarinhos que recebem e dão bom alimento.


Nossos colaboradores agradecem cada minuto precioso do seu tempo, ganho, em ler nossa revista!


Depois dessa leitura, vocĂŞ merece um cafĂŠ!



>46 47>

renato lima Eu sou uma fabrica de devaneios e uma máquina de abraços. Nas horas vagas faço trabalho voluntário dirigindo o busão do Karma

DELÍRIO DE UM CORAÇÃO QUE NÃO DEIXA DE SONHAR Ambiciosamente tento forjar arte e poesia, astucia essa mesclada de ingenuidade e de presunçosa sabedoria. Enquanto tento atracar meu pequeno barco na ilha da tua vida, preparo meu oficio. Faço-me um alquímico de ideias e deposito todo meu entusiasmo no horizonte do teu ser. Porém, todos os meus cinco sentidos são ineficientes para capturar tua simetria. Pergunto-me se devo usufruir dessa miscelânea de regozijo que me despertas ou se devo tentar acordar desse devaneio. Volto-me ao meu exercício. Das tuas lagrimas faria monumentos e com os sorrisos faria paisagens... Ah eu os faria! Divertiria-me com a menina dos teus olhos e da tua íris inventaria outras aquarelas. Degustaria teus lábios de vinho e da tua língua faria uma montanha russa. Tocaria tuas cordas vocais como Mozart, e então navegaria no timbre dos teus suspiros e gemidos. O girassol que te dei, te bronzeia e aquece... O tato diz pra eu despir tua pele de pêssego e da tua transpiração destilar meu mais novo antidoto, mas a maçã do teu rosto já me envenenou e me fez pecar. Ao te oferecer uma rosa, tua cor primária diz que o vermelho de timidez se tornou rubro de paixão... Bem, talvez o espinho da rosa te de uma cicatriz sem razão, mas o que seria do céu sem o chão? Do calor sem o frio? E do amor sem a dor? Não seja minha, mas esteja comigo. Talvez eu não te dê o mundo, mas vou te fazer sentir como se fosse à única que vive nele! Sobre sentir, ouvir, ver ou tocar não quero nada além de genuinamente aprender a amar. Afinal, não custa nada sonhar... Coisa que o homem contemporâneo desaprendeu e talvez eu esteja prestes a compartilhar. Imodéstia? Utopia? Apenas delírio de um coração que não deixa de sonhar!


café&outraspalavras

Para tomar a dois

CAFÉ CÍTRICO Ingredientes: cafeteira italiana, limão, tangerina (ou laranja mais doce) e pó de café de moagem média. Preparo: misture na cafeteira o pó de café, o sumo de meio limão, sumo de 1/4 de laranja e deixe por infusão por 2 minutinhos. Depois é só passar e pronto!

ESPRESSO + MARTINI 2 Partes de Absolut Vodka, 1 Parte de Licor Kahlúa 1 Parte de Café Espresso (frio) ½ Parte de Xarope simples (1 xícara de açúcar, 1 xícara de água mexendo em fogo médio até começar a ferver, quando o fogo deve ser apagado). Encha uma coqueteleira com cubos de gelo e adicione todos os ingredientes. Agite e coe em uma taça de coquetel resfriada. Decore com grãos torrados. Apesar do preparo simples, tem um visual muito atraente e sabor excepcional. Uma boa pedida!

48


849

café&outraspalavras

SÉRIE PARANAPIACABA Serra - a névoa Densa - na grama, o galinho vermelho

SOB O CÉU DE PIRAJUÍ

sob o céu azul o galho pêndulo balança a flor brinca com a abelha na cabeça os "haicais" no cabelo o sabonete ai...me distraí matemática sendo inteiro, senti falta como é bom partilhar manhã de terça o sol delicadamente dá basta às nuvens cheias manhã de frio e chuva-cinzenta diante do seu poema, me curvo aceito e agradeço - bom dia! ontem dia trancado marcelo frio, febre, dor hoje a porta se abriu!! cada dia, um dia na mesma tarde outro dia rose tayra - nenê

da cidade alta à cidade baixa a névoa que cobre a ponte cenário terrível um doce pavor já passa das duas um big-bem de fantasma gente nas névoas cidade doutros tempos o trem já não passa passa o tempo de devagar e devagar rói tudo sem sol sem lua sempre a névoa o trem já não passa devagar passa o tempo e sem pressa (ele) rói tudo roberto prado


ler é viajar com o espírito para onde o corpo não vai


café&outraspalavras

HUMMM... O MELHOR HAMBURGUER ARTESANAL DE SANTOS

Baixe nosso app e

aproveite os

descontos


COMPARTILHANDO A dica sobre o livro de Clarice Lispector foi uma excelente escolha. Ela é minha autora favorita e deve ser lida por todos que querem descobrir as profundezas da alma humana.

Luiza Sales/MG

Uma das minhas partes favoritas além dos textos é claro, são os grãos de poesia. Espero ansiosa pelo próximo número desta revista.

Mara Brado/SP

O conto sobre como atravessar a rua é muito lúdico e divertido, uma leitura sem pretensões e com uma filosofia simples. Gostei e espero mais textos assim nas próximas edições.

Valter Konami/ES

525


53

Tenho uma dicas para as edições posteriores. Gostaria de ver algumas crônicas cotidianas e mais curiosidades sobre café e outras coisas interessantes. Acho a revista boa, mas pode melhorar. Indiquei para meus amigos, vamos esperar que eles comentem também. Abraços aos editores.

Luiz Carlos Assedo/SP

Adorei a revista! Estão de parabéns!

Vania Santos/MT


Café e Outras Palavras

retornará...

Leia café&outraspalavras onde você quiser Baixe o app do issuu e acesse issuu.com/cafeeoutraspalavras


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.