Páginas Volantes nr. 4- Lendas do Imaginário Açoriano

30 minutos a ler VII Comemorar as Bibliotecas Escolares Páginas volantes - 4 Avelino Santos e Lúcia Santos, As Lendas no Imaginário Açoriano

Para quem aprecia lendas e histórias que refletem as crenças e a mundividência das gentes dos Açores, propomos As Lendas no imaginário açoriano, de Avelino Santos e Lúcia Santos (Terceira: Blu ed., 2011).

As lendas, segundo os autores, refletem as tradições de um povo que permanecem vivas e que cada geração recebe e guarda como uma herança.

Constroem histórias que explicam a origem de fenómenos, de povoamentos, de lugares e de comportamentos, tecendo, com estas narrativas que se recontam, a memória individual e coletiva dos membros de uma comunidade.

Palavras-chave: lenda; Açores; tradições.

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As Bestas Encantadas Certa vez, quatro amigos da freguesia de S. Sebastião que não entregaram os seus taleigos ao moleiro não tiveram outro remédio senão irem a pé, com as sacas às costas, até à freguesia da Agualva. Como iam de noite mal conseguiam ver onde punham os pés e a viagem tornou-se muito penosa e demorada. Ao chegarem ao fim de mais uma canada encontraram na berma da estrada quatro lindas bestas e imediatamente pensaram em aproveitar a oportunidade para tornarem a viagem mais rápida e cómoda.

Depois de terem colocado os taleigos em cima das bestas, montaram os animais e continuaram a viagem satisfeitos. Passado um bocado, chegaram junto de uma lagoa e os animais, sem qualquer indicação, dirigiram-se para lá a toda a pressa como se tivessem sede. Os homens não estranharam e deixaram os animais continuarem o seu caminho.

No entanto, e para grande espanto dos quatro amigos, quando as bestas chegaram à beira da água, não pararam e continuaram lagoa adentro. Os homens não percebiam o que se estava a passar e quando deram por si estavam dentro de água no meio da lagoa. Para aumentar ainda mais o seu espanto, começaram a ouvir umas enormes gargalhadas que saíam do escuro. A muito custo os homens conseguiram sair da lagoa e compreenderam que tinham sido enganados por quatro feiticeiras que às suas custas davam grandes gargalhadas.

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A Lança de D. Sebastião Quando no século XVI, D. Sebastião partiu para Lisboa a caminho do Norte de África, uma violenta tempestade obrigou-o a desviar-se da sua rota e a procurar abrigo junto da ilha do Pico na baía da Calheta do Nesquim.

Encantado com a visão da ilha, D. Sebastião resolveu visitar pessoalmente a ilha. Em terra, e perante a beleza das suas paisagens e delicadeza das suas gentes, embrenhou-se cada vez mais para o interior até que encontrou um monte com dois cumes, que tinha avistado do mar.

Quando atingiu o monte, ficou deslumbrado com a magnífica vista e resolveu descansar nesse local. Nesse instante, desembainhou a sua espada real e num gesto espontâneo enterrou-a na terra negra da ilha, prometendo que só a retiraria quando voltasse da sua missão.

Com pena de deixar a ilha, regressou ao barco e levantou ferros a caminho de Alcácer Quibir de onde nunca mais regressou.

Com o passar do tempo, a lança ganhou ferrugem e perdeu o seu aspeto imponente e nobre acabando por desaparecer. No entanto, ficou para sempre gravada na memória das gentes e da ilha, pois o monte onde D. Sebastião enterrou a sua espada ganhou o nome de Cabeça da Lança.

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O Amor Eterno entre Angra e o Monte Brasil Há muitos séculos atrás, o senhor dos mares apaixonou-se por uma linda princesa que só tinha olhos para um jovem príncipe por quem se tinha apaixonado perdidamente.

O rei dos mares, desgostoso com a falta de atenção da princesa, sentia crescer, dentro de si, o ciúme e o ódio pelos causadores da sua infelicidade. Certo dia, na sequência de um ataque de ciúmes, lembrou-se que no fim do seu reino vivia uma bruxa que tinha fama de ter muitos poderes. Sem demora, mandou-lhe recado para que viesse urgentemente ao seu palácio.

A bruxa conhecedora dos sentimentos do rei do mar e amando perdidamente o príncipe sentiu naquele chamamento uma forma de conseguir satisfazer o rei e a si própria, ficando com o príncipe que ela tanto desejava.

Sem perder tempo, a bruxa apresentou-se no palácio real e confirmou as suas suspeitas. Sem demora, começou a preparar as suas poções e a lançar os seus feitiços sobre os dois apaixonados. No entanto, por mais que desejasse, e tentasse, o amor entre os dois apaixonados aumentava, de dia para dia, na mesma proporção da fúria e do ciúme dos mares.

O rei farto de esperar, e cego pelo ciúme, mandou chamar novamente a bruxa à sua presença e ordenou-lhe que eliminasse definitivamente o príncipe, mas que nada de mal fizesse à princesa.

A bruxa viu nesta ordem um meio de se vingar da princesa que tinha cativado o homem que ela desejava para si. Silenciosamente dirigiu-se para a praia onde a princesa descansava nos braços do seu amado e rapidamente lançou aos dois o seu feitiço mais poderoso. Num abrir e fechar de olhos, o príncipe transformou-se num imponente rochedo todo coberto com a mais luxuriante verdura e a princesa transformou-se numa bela cidade para sempre unida ao seu amado.

Deste modo, no meio do Atlântico, permanecem unidos a princesa e o príncipe, dando lugar à bela e delicada cidade de Angra amparada pelos braços protetores do Monte Brasil.

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