Página Volantes - 1 Mitos e Lendas Grécia Antiga

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Marília P. Futre Pinheiro, Mitos e Lendas Grécia Antiga

Marília P. Futre Pinheiro é Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Para ela, “Escrever sobre os mitos e lendas gregos é uma tarefa aliciante. O tema é, no entanto, tão vasto e complexo, que não nos restou outra solução senão fazer uma seleção dos mais importantes, daqueles que mais têm alimentado a curiosidade e a vontade de saber de múltiplas gerações.

Todo o mito encerra um paradoxo. É falso e ao mesmo tempo verdadeiro. É real e ao mesmo tempo imaginário. Mas tem um poder que transcende todas estas limitações e que lhe advém, em parte, do mistério que irradia. O mito pode ser ou não ser isto ou aquilo. Nunca deixa, porém, de ser uma história.”

O mito que apresentamos foi retirado do livro Mitos e Lendas da Grécia Antiga e fala-nos de Prometeu, que enfrentou os deuses e acabou por ser castigado.

Adaptado de: Portal da Literatura, Sinopse da obra: Mitos e Lendas da Grécia Antiga por Marília P. Futre Pinheiro - Portal da Literatura (acedido de 03/03/2022)

Palavras-chave: mitos; lendas; Grécia Antiga; Prometeu.

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Prometeu

Prometeu, filho do titã Jápeto e da oceânide Clímene (ou de Ásia, também ela filha de Oceano), era irmão de Epimeteu, Atlas e Menécio. Era também o mais inteligente e astuto de todos os Titãs. Uma prova disso é que, quando estalou a guerra entre a nova geração dos deuses, comandada por Zeus, e os Titãs, se colocou ao lado dos primeiros, o que lhe valeu ter sido poupado ao castigo do Senhor do Universo. Prometeu que, segundo a etimologia mais provável, significa «o que prevê, o que que percebe de antemão», ficou famoso por ter criado os homens a partir de um bloco de argila misturado com água, modelando-os à sua própria imagem e à dos deuses. Depois, Atena ter-lhe-á dado poderes para lhes insuflar vida. Esta versão, no entanto, não é atestada em Hesíodo, que o apresenta somente como benfeitor de uma Humanidade já criada. Essa filantropia, aliás, custou-lhe muito caro. Foi pelos homens que Prometeu enganou Zeus, seu primo, por duas vezes.

A primeira foi em Mecone (antigo nome de Sícion, cidade da Acaia), quando os deuses e os homens se separam. Essa partilha de competências devia-se à desconfiança dos primeiros em relação a uma raça protegida pelo filho de um dos Titãs que acabavam de ser vencidos por Zeus. Além disso, à medida que os homens se multiplicavam, os deuses exigiam-lhes uma parte do produto das colheitas, como paga da terra que ocupavam. Essas exigências iam sendo cada vez maiores, à medida que aumentavam as reservas dos mortais. Os deuses exigiam, sobretudo, sacrifícios de animais. Face a tal situação, Prometeu resolveu intervir em defesa dos seus protegidos, ludibriando Zeus. Apresentou, então, um boi enorme dividido em duas porções: de um lado, colocou a carne e as entranhas, cobertas com a pele do animal, do outro os ossos envolvidos por uma grande camada de gordura branca. Dirigiu-se então a ele o «pai dos homens e dos deuses», não se apercebendo do logro, e disse-lhe em tom malicioso: «Filho de Jápeto, ó mais ilustre de todos os deuses e meu amigo, foste bem parcial a dividir o quinhão!»

Respondeu-lhe o malicioso Prometeu, com um leve sorriso: «Zeus, ó mais ilustre e poderoso dos deuses sempre eternos! Escolhe então destas partes aquela que no peito o coração te ditar.»

Ora Zeus, que é conhecedor de todos os desígnios, não ignorou o engano; mas, como estava a maquinar a ruína dos mortais, viu aqui um pretexto para depois se vingar. Escolheu os ossos e a gordura e deixou a melhor parte para os homens, gesto que estará na origem das práticas rituais do sacrifício na religião grega, e no hábito de se oferecerem aos deuses apenas a gordura e os ossos das vítimas animais. Foi então que «… a cólera encheu a sua alma e o ódio subiuPágina 1 de 4

lhe ao coração quando viu os ossos brancos do boi» (Teogonia, 554-555), prova evidente do ardil astucioso. E o terrível castigo não se fez esperar: o pai dos deuses privou os homens do dom civilizacional do fogo, guardando-o ciosamente no Olimpo. Mas Prometeu «soube enganá-lo e escondeu, no caule oco de uma férula, o brilho irradiante do fogo infatigável» (Teogonia, 565-566) e trouxe-o para a Terra. (…) Desde então, os homens deixaram de se alimentar de carne crua, como os animais, e passaram a cozinhar os alimentos.

Prometeu era também o mais sabedor dos da sua raça: de Atena obtivera amplos conhecimentos de arquitetura, astronomia, matemática, navegação, medicina, metalurgia e outras artes, que transmitiu à Humanidade. Mas Zeus altitonante irritou-se de novo quando viu, do alto do Olimpo, a centelha de fogo celeste aumentar os talentos e poderes daquela raça maldita, que a todo o custo queria exterminar.

«Não te proibi que revelasses ao homem o segredo do fogo?», perguntou ele. «Não vês que é uma arma nas mãos do homem, e que este um dia a vai utilizar para desafiar o poder dos próprios deuses?»

E, não convencido com os argumentos de Prometeu, ordenou a dois Gigantes que capturassem o Titã e que o levassem para o cume mais alto do Cáucaso, onde foi acorrentado por Hefesto a um rochedo. E, não estando ainda saciada a sua sede de vingança, uma águia feroz ia todos os dias devorar-lhe o fígado, que continuamente se refazia, de modo que todos os dias a tortura recomeçava. E, a fim de assegurar que essa punição seria eterna, Zeus jurou pelo Estige que nunca iria desacorrentar Prometeu. (…)

Assim, o rebelde é punido de maneira exemplar, e o mito, na sua versão mais antiga, termina aqui. No entanto, o criador e benfeitor da Humanidade não podia ser para sempre objeto de uma tal maldição. É isso que explica que o mito tenha uma sequência: Héracles, no decurso das suas deambulações em demanda das maçãs de ouro, ao passar pelo Cáucaso, teria pedido conselho a Prometeu, que tinha o dom da adivinhação, sobre o caminho a seguir. Este tê-lo ia informado que só Atlas as poderia colher no Jardim das Hespérides. Como prova de agradecimento, Héracles matou, com uma flecha, a ave rapina que o torturava e libertou Prometeu das cadeias a que tinha estado agrilhoado durante três mil anos.

Contam outros que Zeus lhe perdoou após o Titã lhe ter prestado serviço precioso: informou-o que a ninfa Tétis, por quem o pai dos deuses estava apaixonado, estava destinada a ter um filho que seria mais poderoso que o próprio pai. Aterrorizado com esta profecia, Zeus imediatamente se escusou a desposar a deusa, que viria a ser futuramente a mãe de Aquiles, Página 1 de 4

fruto da sua união com Peleu. (…). Mais tarde, Prometeu aceitou tornar-se imortal em vez do centauro Quíron, que sofria atrozmente por causa de uma ferida provocada acidentalmente, por uma flecha de Héracles. Por esse motivo, Quíron ofereceu a sua imortalidade a quem aceitasse trocar com ele a condição de mortal. E foi assim que Prometeu acedeu à existência eterna.

Imagem retirada de: https://pt.dreamstime.com/illustration/prometeu.html (02/03/2022)

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