BEAG - Ex Libris 02 - Teófilo Braga (coord.), "Obras Completas de Almeida Garrett" (1904)

Biblioteca Escolar Almeida Garrett

EX LIBRIS 02

Autor: Almeida Garrett (prefaciada, revista, coordenada e dirigida por Teophilo Braga).

Título: Obras Completas de Almeida Garrett – Grande Edição Popular, Illustrada (2 volumes).

Ano de publicação: 1904.

Local de publicação: Rio de Janeiro; Lisboa.

Editora: H. Antunes Livraria Editora; Empreza da Historia de Portugal Sociedade Editora.

Descrição física: 2 volumes: (59+ 836) + 840 páginas; 29x20 cm.

Registos N.º 4013 e 4014.

Observações: Ainda que as capas sejam iguais, os dois volumes diferem no nome das editoras e respetivas moradas. O Vol. I apresenta a H. Antunes, com presença no Rio de Janeiro e em Lisboa; o Vol. II refere a Empreza da Historia de Portugal, com a Livraria Moderna, na rua Augusta, e sua tipografia.

Em dois volumes, Teófilo Braga (1843-1924) prefaciou e reviu de acordo com as várias edições das obras individuais de João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (04.02.1799-09.12.1854), indicando, no final de cada parte, as notas de rodapé a cada uma das obras.

A edição abre com uma alusão de página inteira ao quinquagenário (50.º) da morte do polígrafo português: 1904.

A edição é ricamente ilustrada por gravuras, cujo autor não foi possível Almeida Garrett retratado por Pedro Augusto Guglielmi (fl. ca identificar com certeza, da pintura de 1837-1852) – Biblioteca Nacional de Portugal.

Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) e algumas em colaboração deste com Manuel de Macedo (18391915).

Cada volume surge dividido em diferentes secções e partes.

O Volume I começa com uma introdução de Teófilo Braga, com 58 páginas, na qual resenha a vida e obra de Garrett, defendendo que “No estudo de uma alta individualidade, que subsiste além da vida por uma acção social e historica, ha a considerar o elemento psychologico revelando-lhe a personalidade, e os impulsos latentes da sua época” (p. 7), o que faz com que Almeida Garrett se destaque pelo seu carácter nacional.

Teófilo Braga divide a sua introdução em quatro épocas, que são bastante ilustrativas do percurso do escritor e do seu contributo para o país: 1.ª Nascimento no Porto – Angra, (nos Açores) – Educação – Universidade – Secretaria de Estado – Queda da Constituição: Emigração em 1823.

2.ª Estudos mais sérios. Poemas Camões, D. Branca, etc. – Volta a Portugal. Política. Imprensa – Segunda emigração.

Portugal na Balança da Europa. Da Educação. Porto.

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3.ª Entrada na carreira diplomática. Volta a Lisboa. Deputado às Cortes constituintes. Literatura. Opiniões. Impressão das Obras.

Teatro – Conservatório – Entra na oposição de 1841. Mais outras várias… de 1847. Porquê? Comerage literária.

4.ª Regeneração – Chamado aos negócios públicos.

Teófilo Braga analisa e articula vida e obra com bastante cuidado dando particular importância ao contexto político, no qual Almeida Garrett teve tanto presença. De seguida, recupera uma autobiografia, escrita na 3.ª pessoa, que Garrett publicou em 1843 e surge, para concluir, uma bibliografia do escritor e político, com indicação das várias edições e representações da obra do autor.

A Secção I do vol. I é dedicada à Poesia. A parte I (pp. 1-130) à Poesia Arcádica, onde se “A joven Rainha de Portugal pode encontrar, entre outros, então de onze annos, e a joven Imperatriz do Brasil com poucos Retrato de Vénus, Lyrica de mais, partiram de Inglaterra em João Mínimo, onde o poema 1829 n’uma fragata brazileira, “A Victoria na Praia” evoca a accompanhada por dois navios de Guerra da mesma nação. Horas vitória de batalha da Praia a antes da sua partida chegava a 11 de agosto de 1829, e Inglaterra a noticia da victoria da Fábulas e Contos, presentes Praia, nos Açores. Esta notavel coincidencia inspirou o presente também nesta parte I. Todos poemeto, que primeiro se publicou são classificadas como “o em Londres no jornal portuguez complemento de FLORES SEM intitulado O Chaveco, num. III de 23 de septembro d’aquele anno, com FRUCTO” (p. 43), que surge já na o titulo: A Lealdade, ou a Victoria da parte II (pp. 131-397), “Período Terceira, canção.” (p. 167) Romântico”.

Neste período, encaixam ainda “Folhas Cahidas” e Camões, poema encomiástico do vulto português composto em 10 cantos como Os Lusíadas, e D. Branca, sobre a infanta D. Branca de Portugal (1259-1321), filha de D. Afonso III, senhora de Montemoro-Velho, em Portugal, e de Alcocer e Briviesca em Espanha. Neste período, incluem-se as quatro “cantigas” de “Adozinda” e alguns 3

“Romances reconstruídos – (Balladas)”, como “Noite de San’João” (inspirada numa “cantiga popular do Minho”, p. 391) ou “Rosalinda” (inspirada nos trovadores, surge em nota uma versão inglesa atribuída ao rei Herzog Heinrich von Pressela IV (1260-1299) – pp. 392/395 – i.e., Henrique IV, duque de Varsóvia, princeps da Polónia).

A parte III (pp. 398-520) é dedicada à recolha das “Tradições Populares Portuguezas” e engloba os “Romances Cavalheirescos (versões oraes)” (N.º 1-32) – como são “Bella Infanta”, “Donzella que vae à Guerra”, “Nau Catrineta”, e os “Romances com forma litteraria” (N.º 33-37), nos quais, por exemplo, traduz Don Duardos de Gil Vicente, que o escrevera em castelhano.

A Secção II deste vol. I é dedicada ao Theatro, em prosa e verso. A parte I (pp. 521-624) refere-se ao Período Arcádico. A primeira é Catão, obra que “lançou os fundamentos do teatro contemporaneo” (p. 523), na qual defende os ideais liberais, e que contou – raríssimo – com 4 edições em vida de Garrett: 1822, 1830 (Londres), 1839, 1845. No final das 52 notas, Teófilo Braga apresenta as variantes: momentos da 1.ª, 2.ª e 3.ª edições “inteiramente supprimidos ou completamente alterados na segunda” (p. 581), num total de 45.

Ainda estão outras peças, mas destaca-se Mérope por ser a primeira peça de teatro que escreveu, com apenas 18 anos, e dedicá-la à mãe, D. Ana Augusta de Almeida Leitão.

A parte II (pp. 625-766) diz respeito ao Período Romântico, no qual se incluem, e.g., Um Auto de Gil Vicente, Filipa de Vilhena, 4

Alfageme de Santarém ou a comédia Falar a Verdade a Mentir, “uma graciosa composição”, que “é um verdadeiro e portuguezissimo quadro de genero” (p. 720).

Na introdução que fez a Um Auto de Gil Vicente, Almeida Garrett afirma que “Em Portugal nunca chegou a haver theatro; o que se chama theatro nacional, nunca” (p. 627), ou seja, depois de Gil Vicente, o teatro português é parco até Almeida Garrett reclamar esse papel para si. É com esta peça que, como referem os editores, “se começou a pensar que podia haver theatro portuguez” (p. 631).

A parte III (pp. 767-828) diz respeito ao Período Universalista, no qual se incluem Frei Luiz de Sousa e A Sobrinha do Marquez.

No caso de Frei Luiz de Sousa, além da memória ao Conservatório Real, surge ainda uma nota inicial, datada de 31 de dezembro de 1843, em que Almeida Garrett indica os atores que representaram o drama num pequeno teatro da quinta do Pinheiro, da família Duarte de Sá.

Nessa ocasião, o próprio dramaturgo fez de Telmo.

Na Nota D, ao ato II, pode-se ler: “De todos os retratos de D. Sebastião que sei existirem, creio que o mais authentico é o que está, ou estava pelo menos até 1832, em Angra na ilha Terceira, no palacio do governo que antigamente fôra Collegio dos Jesuitas.

E’ tradição ter sido para alli mandado por el-rei mesmo em sua vida. Muitas vezes contemplei longamente aquelle retrato na minha mocidade, e por elle é feita a descripção que puz na bocca de Maria” (p. 799).

O Volume II inclui as Prosas e começa com a Secção III, dedicada à Prosa, na qual a parte I (pp. 1-276) inclui os romances 5

Arco de Sant’Anna, Helena e Viagens na minha Terra. Garrett classifica o primeiro como “o pobre, triste […] romancito” (p. 1) e, em nota (p. 103), sabemos que o romance foi começado e adiantado no convento dos “Grilos”, no Porto, onde o corpo académico do “exército Libertador” liberal estacionou, depois da entrada na cidade, a 9 de julho de 1832.

Viagens na Minha Terra surgem acompanhadas do prólogo da segunda edição (1846), a primeira que saiu em livro, já que a obra foi inicialmente publicada “em fragmentos na Revista [universal lisbonense]” (p. 149). A obra conta com 18 ilustrações.

A parte II1 (pp. 277-502) dedica-se aos “Estudos pedagógicos, políticos, literários, Memorias biographicas”, devendo-se destacar, e.g., primeiro, Tratado da Educação (cartas dirigidas a uma senhora illustre encarregada da instituição de uma joven princeza) e, de seguida, Bosquejo da História da Poesia e Lingua Portugueza.

Em relação ao primeiro, Almeida Garrett dirigiu as cartas à aia e mestra da futura rainha D. Maria II, D. Leonor da Câmara (1781-c.1850), primeira e única marquesa de Ponta Delgada, filha do Conde da Ribeira Grande (Luís António José Maria da Câmara) e da sua segunda mulher, D. Maria Rita de Almeida, irmã mais nova da Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida Portugal.

O Bosquejo é um texto editado em Paris, em 1846, com um resumo da poesia portuguesa, dividido em seis épocas (a sexta é a contemporânea do autor), nas quais sobressaem poetas hoje pouco conhecidos: Gabriel Pereira de

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Este exemplar tem um erro na numeração e repete “PARTE I”.

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Castro, Pe. José Agostinho de Macedo, Filinto Elísio ou Manuel Maria Barbosa du Bocage.

A parte III (pp. 503-775) tem como tema aglutinador a Política, com “reflexões, folhetos, correspondencia diplomática.

Discursos Parlamentares”. É de destacar “Portugal na Balança da Europa”, que ocupa 75 páginas e analisa a situação de Portugal na crise da época.

No final da introdução do documento, lê-se: “Em tal crise é dever de todo o bom cidadão, de todo o homem verdadeiro amigo de sua pátria junctar quanto cabedal de luzes lhe deu Deus, quanto ganhou em estudo e experiencia, e acender seu pequeno pharol para o grande luminar da instrucção do povo.” (p. 532).

A parte IV (pp. 777-829) – “Cartas de Almeida Garrett” –, além das cartas íntimas, termina com o testamento de Garrett, onde reconhece como sua filha única Maria Adelaide de Almeida Garrett e indica que deveriam ser mandadas rezar 12 missas pela sua alma: 3 na freguesia a que pertencesse quando morresse; 3 no altar de Nossa Senhora da Madre Deus, na igreja do mesmo orago, em Lisboa; 3 na igreja de Santo António dos Capuchos em Angra do Heroísmo, ou, não havendo esta igreja, na sé de Angra, “no altar de Senhor Jesus, não me lembra de que invocação, mas é a segunda capella do lado do evangelho, e onde meu pae costumava sempre ouvir missa nos últimos annos de sua vida”; as 3 últimas na paróquia de Santo Ildefonso, no Porto, sede continental da revolta liberal.

Prof. Carlos Severino, 2019

Joaquim TEÓFILO Fernandes BRAGA (Ponta Delgada, 24.fevereiro.1843 – Lisboa, 28.janeiro.1924) Filho de um professor de liceu e muito cedo órfão de mãe, Teófilo Braga estudou em Ponta Delgada e, mais tarde, fez a universidade de Coimbra, onde se formou em Direito, em 1867. Doutorou-se no 7

ano a seguir e, em 1872, conquista o lugar de professor no Curso Superior de Letras.

Teve uma intervenção ativa na política e foi presidente da república em 1915, ao mesmo tempo que participou em diversas atividades literárias, como a comemoração do tricentenário de Camões (1880) ou a recolha exaustiva de contos populares da tradição portuguesa. Também se inspirou na tradição popular e oral para compor algumas das suas obras, como Os Doze de Inglaterra (1902) e Viriato (1904), “narrativa épico-histórica”. A sua História da Literatura Teófilo Braga em 1915.

Portuguesa (1870) foi a primeira neste Fotografia de António Novaes. campo e uma das mais exemplares.

Como referiu prado Coelho (19813: 119), “raro exemplo de força de vontade, lutou com desespero pela conquista dum lugar que permitisse prosseguir uma obra gigantesca e exercer no país ampla acção estimulante e renovadora”.

Bibliografia e Webgrafia Coelho, J. Prado (dir.) (19813). Dicionário de Literatura. Porto: Figueirinhas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Te%C3%B3filo_Braga (acedido a 31.01.2019). https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=204 acedido a 31.01.2019). http://tribop.pt/TPd/01/70/Obras%20completas%20de%20Almeida%20Garret (acedido a 28.01.2019). www.bdalentejo.net/bdaobra/obras/191/BlocosPDF/bloco34-299_308.pdf (acedido a 29.01.2019) http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/2014/01/arco-de-santanaporto.html (acedido a 29.01.2019) http://visao.sapo.pt/actualidade/visaose7e/garrett-e-o-arco-de-santa-ana=f651034 (acedido a 29.01.2019) https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonor_da_C%C3%A2mara (31.01.2019) https://pt.wikipedia.org/wiki/Te%C3%B3filo_Braga#/media/File:Te%C3%B3filo_Braga,_ 1915_-_Ant%C3%B3nio_Novais_(cropped).png (acedido a 31.01.2019). https://pt.wikipedia.org/wiki/Almeida_Garrett (acedido a 31.01.2019).

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