Biblioteca Escolar Almeida Garrett EX LIBRIS 05
Capa do livro, com desenho de António Dacosta

Autor: Adolfo Casais Monteiro
Título: Europa

Ano de publicação: 1946
Local de publicação: Lisboa.
Ilustração de António Dacosta, ao lado da folha de rosto
Editora: Editorial Confluência, exemplar n.º 118 de 200.
Descrição física: 38 [2] páginas, 25 cm.
Registo N.º 5883
Observações: Contém o carimbo da Biblioteca da Escola Industrial e Comercial de Angra do Heroísmo. É o exemplar n.º 118 (manuscrito) de 200, sobre o qual surge o carimbo da Editorial Confluência Lda.
Homem interessado pela política e pela defesa da dignidade humana, Adolfo Casais Monteiro cedo revela a sua faceta poética e interventiva. Membro da direção das revistas A Águia e Presença (1931), divulga artistas europeus, desconhecidos dos leitores portugueses.
As suas posições antirregime levaram-no ao exílio no Brasil. Mas, antes desta partida, o poeta e crítico protestou «contra a guerra, contra o terror cego (…) das lutas entre povos e nações». Surge, assim, Europa (1946) – livro escrito entre 1944/1945, composto por um longo poema, dividido em cinco partes, sobre o velho continente, descrito como uma Europa angustiada, a necessitar, urgentemente, de renascer e de se regenerar, após a segunda guerra.
Poeta crítico perante a decadência europeia, Adolfo Casais Monteiro não esconde a sua revolta contra ditaduras, questionando o nazismo e os «homens / que queimaram vivos outros homens?» (Europa, V; v. 21).
Europa é uma obra poética isenta de harmonia, transborda palavras trágicas, violentas, secas e lúcidas, cujo autor surge como um homem que sonha com a paz e liberdade, que resiste ao fascismo e à prisão política, que é impedido de lecionar e que é condenado ao exílio.
AO ANTÓNIOPEDRO
Verdadeira lição de liberdade, Europa foi lida aos microfones da BBC de Londres, a 23 de maio de 1945, duas semanas apenas depois do fim da II Guerra Mundial, na emissão em língua portuguesa, por António Pedro, que testemunhou os últimos ataques a Londres, a quem Casais Monteiro dedica o livro (que difere da publicada na parte III), mas silenciada pela ditadura… Em Portugal, a censura não deixou escutar o grito de desespero do poeta.
Dedicatória
QUE FOI NA HORA PRÓPRIA A VOZ DE TODOS OS PORTUGUESES QUE NÃO ESQUECERAM A SUA CONDIÇÃO DE EUROPEUS E CIDADÃOSDOMUNDO
Na capa e no interior, António Dacosta, através do desenho, ilustra esta disforia poética, uma angústia no grito surdo da mãe, que perde o filho. No seu interior, esta obra inclui mais uma ilustração de Dacosta, um cenário de caos, de desordem e dor, causados pela guerra. Assim, numa harmonia entre palavra e poesia, conhecemos os horrores da guerra, que nunca está demasiado longe, num poema que, aquando da Europália 91, na Bélgica, com Portugal como país-tema, foi traduzido para francês, inglês e neerlandês e foi considerado por José Augusto Seabra “um poema para a Europa”.
III
Na erma solidão glacial da treva os que não morreram velam.
Em vagas sucessivas de descargas A morte ceifou os nossos irmãos. O medo ronda, o ódio espreita. Todos os homens estão sozinhos. A madrugada ainda virá?
Vão caindo um a um na luta sem trincheiras, e a noite parece que não terá nunca madrugada, mas cada gota de sangue é agora semente de revolta, da revolta que varrerá da face da terra os sacerdotes sinistros do terror.
A revolta a florir em esperança dos braços e das bocas que ficaram...
A traição ronda, A morte espreita
Uma comoção de bandeiras ao vento... Clarins de aurora, ao longe...
Os que não morreram velam.
(pp. 25-26)
Adolfo Vítor Casais Monteiro
(Porto, 4. julho.1908 – São Paulo, 23. julho.1972)
Nascido no seio de uma família burguesa portuense, Adolfo Casais Monteiro, formado em Ciências Históricas e Filosóficas, cedo revelou propensão artística, ora na poesia, ora no ensaio, por exemplo, sobre Fernando Pessoa.
A vida atribulada e a resistência política levaram-no, como exilado, para o Brasil (1954), onde continua a sua atividade poética e crítica. Foi colaborador na comunicação social, na gigante Globo e exerceu a docência em várias universidades brasileiras.
A sua vasta obra revela-se em títulos de poesia como Confusão (1929), Sempre e Sem Fim (1937), Canto da Nossa Agonia (1942), Noite Aberta aos Quatro Ventos (1942) ou no seu único romance, Adolescentes (1945), entre outros.

Morre o autor, em 1972, mas a sua obra permanece e continua a ser publicada. É o caso de As obras Completas de Adolfo Casais Monteiro, cuja (re)publicação está ao encargo da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Em 1992, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a título póstumo.
Bibliografia e Webgrafia




Monteiro, A. C. (1991). Europa (pref. José Augusto Seabra; posf. José Augusto França). Europália91 – Portugal: Nova Renascença Saraiva, A. J., Lopes, Ó. (1979). História da Literatura Portuguesa (11.ª ed.). Porto: Porto Editora. Imagem retirada de http://1.bp.blogspot.com/-S4kxANcw9Gc/U4OjLSfDiI/AAAAAAAAHnM/YpmX7iTqY9Y/s1600/images.jpg (acedido a 02.07.2021)
Adolfo Casais Monteiro. (2020, setembro 26). Wikipédia. Retrieved 09:16, setembro 26, 2020 from https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Adolfo_Casais_Monteiro&oldid=59447547.
António Dacosta. (2021, junho 21). Wikipédia. Retrieved 07:00, junho 21, 2021 from https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ant%C3%B3nio_Dacosta&oldid=61435027.
https://www.instituto-camoes.pt/activity/centro-virtual/bases-tematicas/figuras-da-culturaportuguesa/adolfo-casais-monteiro (acedido a 02.07.2021)

https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=330 (acedido a 02.07.2021)
e Revisão de Carlos M Severino