Cumbre Vieja, Etna e Fagradalsfjall: três fúrias acordadas na Europa — e a memória dos Capelinhos O da Islândia será o menos perigoso. Em Portugal, a memória mais recente remonta ao que aconteceu no vulcão dos Capelinhos, nos Açores. A destruição galopante causada pela recente erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, chocou — e acordou — o mundo para os riscos da atividade vulcânica — que até então dormitava silenciosamente. Mas está longe de ser o primeiro acontecimento vulcânico a decorrer este ano. Aliás, neste momento, junta-se a outros dois principais vulcões em atividade na Europa: o Fagradalsfjall, na Islândia, e o Etna, em Itália. O único traço que partilham é a produção de lavas basálticas, um tipo de lava relativamente primitiva e menos explosiva, explica José Pacheco, diretor do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR), nos Açores. Os ambientes em que cada vulcão se situa diferem bastante, resultando em características variadas.
Por: Inês Moura Pinto
Espanha: Cumbre Vieja
Itália: Etna
Islândia: Fagradalsfjall
Desde o início do ano, o vulcão Etna, na ilha
O vulcão Fagradalsfjall está há seis meses em
acordada. O vulcão Cumbre Vieja entrou em
italiana
erupção — o fenómeno mais longo em 50 anos
erupção no dia 19 de Setembro e, desde então,
quatro vezes — a última na mesma semana em
na
com alguns períodos de maior explosividade, já
que o Cumbre Vieja despertou La Palma, e
Surtsey que durou quase quatro anos. No final
devastou cerca de 240 hectares de terrenos
menos
de
num perímetro de cerca de 16 quilómetros —
anterior. É o vulcão mais ativo da Europa, e
interpretada
prejuízos estimados em cerca de 400 milhões
um dos mais ativos do mundo.
profundidade,
Vamos
à
primeira,
e
mais
recente,
fúria
de euros.
de
Sicília,
de
um
já
mês
entrou
após
em
a
erupção
sua
erupção
Em Fevereiro, o vulcão entrou em erupção
Islândia,
desde
fevereiro,
a
uma
como
erupção
forte
à
ilha
crise
intrusão
levou
na
de
de
sísmica,
magma
primeira
em
erupção
histórica do vulcão a 19 de março de 2021.
No sábado, o cone principal do vulcão sofreu
duas vezes em menos de 48 horas. A primeira,
A lava começou a ser expelida de uma fissura
um colapso parcial. No total, calcula-se que o
e poderosa, ocorreu no dia 16, e fez com que
perto do Monte Fagradalsfjall, na península de
número de casas e estruturas destruídas tenha
grandes fluxos de lava descessem para leste e
Reykjanes,
chegado
viajassem cerca de quatro quilómetros. Já a
primeiro
pessoas das milhares que foram retiradas já
segunda,
formaram
puderam
percorresse
aos
400.
Entretanto,
regressar
a
cerca
casa,
de
160
após
a
no
dia
18,
cerca
fez
de
1,3
com
que
a
lava
quilómetros
pelos
uma
a
mês
cratera
metros,
da paragem na erupção na segunda-feira, a
céu atingiu mesmo alturas de cerca de 700
Science.
No
corrente
metros.
estimam
que
chegou
finalmente
ao
mar
As
cinzas
nesta quarta-feira numa zona de penhascos
Catânia
na costa de Tazacorte.
temporário do aeroporto.
As
ilhas
das
de
encerramento
o
ativa,
vulcão
não
Apenas
com
Institute
os
que
334
of
Earth
investigadores adormeça
em
breve. O
espetáculo
vezes
de
lava
e
uma
atração
com
piroclastos,
hotspot. “É uma espécie de anomalia térmica
na encosta. Na semana passada, no dia 21 de
com
que se situa no interior do manto terrestre e
setembro,
erupção, segundo o Iceland Tourist Board.
que possibilita a ascensão de magma. Não é
localidades
uma
De acordo com a atualização mais recente
que haja nenhum afastamento ou choque de
coluna de fumo que atingiu os nove metros de
do observatório Volcano Discovery, no dia 26
placas, mas essa ‘anomalia’ causa a génese de
altura, e libertou fluxos de lava que cessaram
de
magma
cerca de oito horas após a erupção.
onde se depositava e cortou mais um trilho de
planeta,
que
depois
ascende, consegue perfurar a crusta terrestre e chegar à superfície”, descreve José Pacheco.
A
Etna
transportou
vizinhas,
atividade
cinzas
provenientes
vulcânica
do
Etna
de
até
resulta
do
lentas
por
lava e precipitou cinzas em algumas aldeias
o
escoadas
natural,
ponto quente, cientificamente designado por
do
sobre
ao
cidade
crateras.
o
entanto,
fissuras,
A 30 de Agosto, o vulcão expeliu fluxos de
interior
situam-se
obrigaram
a
com
No
um
no
Canárias
e
cobriram
pequenas
acordo
Reykjavik.
dez
permanece
flancos sul do vulcão. A lava disparada para o
lava
de
de
abriram-se
sete
estabilização dos indicadores de risco. Depois
de
sudoeste
tornou-se
mais
de
Setembro,
caminhada
300.000
a
até
lava
ao
expulsões
visitantes
da
turística desde
transbordou
local
de
a
a
cratera
erupção.
Neste
choque de duas placas litosféricas, em que
momento encontra-se em alerta de pequena
vulcões
uma mergulha sob a outra. Ao mergulhar, o
atividade ou erupção.
centrais, como o Teide, em Tenerife, em que
aumento da pressão e da temperatura sobre a
existe
a
placa que vai mergulhando faz com que ela se
limite
ou
altere e facilita a fusão do material que está
definem
menos pelo mesmo sítio, uma chaminé central.
acima — promovendo a génese de magma. “É
planeta e que se movem de acordo com a
Por outro lado — e é este o caso do Cumbre
um
dinâmica
Vieja —, pode originar atividade fissural, onde,
também está mais ou menos centrada numa
encontra-se
em
determinada
tenha
duas placas, a americana e a euro-asiática, se
uma faixa de várias falhas alinhadas ao longo
várias bocas que vão entrando em atividade
estão a afastar. Este afastamento cria espaço
de
em várias alturas”, observa.
e
Este
fenómeno
uma
alimentação
uma
vez
uma
de
pode
câmara das
uma
magmática
erupções
se
alimentação
determinada
fraqueza
provocar
que
o
faz
chegar à superfície”, explica.
toda mais
central,
direção. magma
e
existe
“Constituem
vai
usar
para
maciço
Trata-se
vulcânico
de
região,
um
em
que
embora
vulcão
o
muito
a
atividade
Etna
persistente:
O vulcão está situado numa região que é um de
placas o
do
permite
possa
limite
litosféricas mais
interior
que
se
ascender
gere
aquelas
externo
da
exatamente
—
Terra. no
e
magma,
rapidamente.
fino
A
local
e
que do
Islândia onde
que A
as
este vasta
desde há muitos anos que tem tido atividade
disponibilidade de magma na Islândia resulta
quase
em erupções que podem ser muito longas ou
anualmente.
“Daí
que
a
atividade
vulcânica do Etna seja uma atração turística
frequentes.
quando permite a observação”, aponta.
Artigo originalmente publicado no jornal Público a 30 de Setembro de 2021