Poesia Emoldurada | BIPAC 2021

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Poesia Emoldurada

Acervo digital das publicações do Projeto Poesia Emoldurada (maio a julho/2021).

Elaborado por: Gustavo Avelino da Silva

Apucarana, 2021

CADÊ O SORRISO QUE “TAVA” AQUI?

Vamos brincar?

Cadê o sorriso que “tava” aqui?

A angústia levou. Cadê a angústia?

Amigou com a tristeza.

Cadê a tristeza?

Foi dormir com a escuridão. Cadê a escuridão?

Foi aliciar a alma.

Cadê a alma?

Acendeu uma luz. Cadê a luz?

Iluminou o sorriso. Cadê o sorriso? Encontrou o amor.

Cadê o amor?

Tá procurando você... Então lá vai o amor pegar você

Lá vai o amor pegar você... Pegou!

Alda M. S. Santos

QUAL O BARULHO DO SEU SILÊNCIO?

Qual o barulho do seu silêncio? Ele grita alto, é ensurdecedor Aperta sua voz, é sufocador Ou se recolhe, renovador?

Qual o barulho do seu silêncio? Forte como águas de uma cachoeira Suave como banho na banheira Ou sedutor como moça namoradeira?

Qual o barulho do seu silêncio? Reflexivo, introspectivo, envolvente Extrovertido, audaz, caliente

Ou pacífico, calmante, atraente?

Qual o barulho do seu silêncio?

Emocionante como lágrima que cai Entorpecente como a dor que se vai Eloquente como o amor que nos atrai?

Qual o barulho do seu silêncio?

E SE FOSSE AUTORIZADO?

E se num desses momentos loucos

Em que a Terra parece ter parado sua translação

A gente pudesse girar para onde quisesse Fazendo nossa própria rotação?

E se nessa parada amalucada Pudéssemos dar uma guinada

A ida para frente ou para trás autorizada Onde você iria fazer sua parada?

Buscaria no passado algo que deixou Aquilo que não fez, naufragou

O amor que não viveu, acovardou?

Ou no futuro a felicidade estaria Mais experiente, o amor buscaria

E, sem medos, um beijo roubaria...

Alda M S Santos

Um filme

Meus dedos entrelaçavam-se em seus cabelos Na nossa cama tínhamos o melhor cenário E o melhor ato do roteiro

No plano de fundo lençóis desarrumados Palavras sussurradas

Para o nosso amor não censurado Nossos corpos eram meros coadjuvantes

Onde nossas almas se conectavam Interpretando seus papéis de amantes Nossa cena ia além do prazer carnal Era um filme de romance

E você era a personagem principal.

Anderson Oliveira

Doces Lembranças

Memórias, sorrisos Uma vida toda a ser compartilhada

Que engraçado a dor gerar Lembranças Nos faz embarcar na doce memória

Refletir o quanto a vida foi generosa Perdas e doces Lembranças Queria que os meus que partiram pudessem estar aqui Me fazendo rir e me fazendo sentir o que eles eram dentro de mim.

De onde vêm meus pensamentos?

Alguns eu invento, outros do vento. Nem tento entender, eu não preciso saber

Nosotros

E de repente, ela estava em tudo E eu fazia questão de vê la em tudo Penso que a borboleta resolveu pousar.

Já não era mais só eu, Como se passássemos do horizonte de eventos Desde o começo, nos atraímos ao nós.

Os opostos se atraem? Puuuuf, é conversa!

Os dias já não são mais os mesmos, Durmo e acordo pensando naquele beijo, Naquele sorriso, Naquele cabelo... Ahhhh, no conjunto inteiro!

Era tarde, Me cativou Conquistou o seu espaço Bem ao lado esquerdo do peito

De repente, estamos nos tornando nós.

Coisa de louco E nós somos um pouco Um poquito loucos Um pelo outro!

Gustavo Avelino

A Vida no Campo

É no campo de verdade que sinto a serenidade brotando dentro de mim e vejo que a liberdade não acaba com a saudade de um amor que não tem fim

Ouvir corujas piando, aves no bosque cantando faz meu coração sorrir e sorrindo vou amando pelos caminhos sonhando que ele vai voltar pra mim

Nas águas da cachoeira rolando pela palmeira sinto o cheiro do jasmim e vou de qualquer maneira, sorrindo, toda faceira, sentindo sobremaneira, o vento a me olhar assim

Uvas, embriões do vinho, e o algodão que gera o linho auxiliam na existência, e como a ave no ninho, na fortaleza do pinho, caminhando de mansinho, vou sentindo a tua ausência

Ao trotar do meu cavalo ouço cantar o galo nas madrugadas febris, se o meu destino é amá lo, estarei sempre a esperá lo almejando a ser feliz

Sonhando que canto um fado, pro meu bem, homem sarado, acordo ouvindo um gorjeio e ouço o mugir do gado lá no pasto atarantado sofrendo com meu anseio

Pra além daquela porteira, num mundo de brincadeira vou vagando a sonhar, com meu chapéu de madeira do caule da laranjeira feito em noite de luar

E vendo flores campestres, aves e animais silvestres nos campos onde lamento, vou lembrando dos meus mestres, murmurando uma prece, sentindo o sabor do vento

Nas asas de um beija flor vou ressaltar o amor pela natureza enfim, louvando ao Nosso Senhor, pela pureza da cor das asas de um Querubim Hilza Barranco

METADE 20.21

*paráfrase de Metade de Oswaldo Montenegro*

Que a força do medo que tenho Não me impeça de agir. que a morte de tudo que acredito não me faça mudar, pois metade de mim é gana de fazer acontecer, é revolução e a outra metade... será que tem medo de fracassar?

que a justiça não seja enxergada tão longe que a liberdade seja para sempre conservada mesmo que conquistada (na marra) pois metade de mim é urgência de reparação histórica a outra metade é quase ódio

que as palavras que falo não sejam ouvidas como loucuras, nem repetidas como extremismo Apenas respeitadas como a única coisa Que resta a uma mulher num país que queima. pois metade de mim é impulso de viver a outra metade é medo

Que 524 mil mortes Não sejam nunca ignoradas que o país que bate recorde em feminicídio Me permita ao menos respirar pois metade de mim é um coração batendo e a outra metade quer continuar assim

que me seja permitido mais um abraço de meu pai e mais um beijo de meu amor. que mais nenhuma mãe padeça sob o peso de perder o filho e que mais nenhum filho chore sobre a mãe, sem poder tocá la Pois metade de mim é tristeza de ser órfã de um Estado Mas a outra metade é esperança de um mundo melhor.

Isadora Carvalho Almeida

precaução

ninguém sabe quando será o último abraço então por precaução (ou sensatez) abrace sempre como se fosse a última vez

Definições

Eu te amo não define meu amor por você

O que vê no espelho não define a beleza que enxergo

A voz que escuta de si não define a melodia que ouço

Quando se toca, seu tato não define a maciez que imagino sentir

O seu aroma que me traz recordações, para você é só uma fragrância de que gosta

Na ilusão que acidentalmente criei, um universo paralelo ao seu Cada qual com seus significados e pontos de vista Que talvez um dia, espero, se definam em um só

Ela e o Sol

Quando o Sol nasce

E seus raios a alcançam Aqueles olhos tímidos e castanhos Cor de mel e ávidos se lançam

Seus cabelos escuros da noite Fazem a fotossíntese da manhã E bailam nesse vento manso Com cheiro de relva, café e hortelã

Essa pele macia e bronze Na luz se aquece e arrepia Deixe me sentir e tocar E tornar real o que é utopia

Juliano Fabro

Jardim

Quero te dar uma flor Coloque a entre seus cabelos Vá e pegue um pouco de Sol Deixa eu te irrigar com o meu pranto Faça se o meu jardim mais lindo E cultive o mais puro amor

Juliano Fabro

Efemeridade

Os feixes de luzes adentram o quatro

As copas das árvores dançam conforme o vento Como uma linda moça com um exuberante talento

E o assobio ecoa esplendorosamente por um pássaro harto

Neste momento a paz se instala no âmago d’alma De modo que qualquer ser errante sentiria a calma

Que distende e espalma em infinitas direções

Tal qual desfere uma magnificência de emoções

Enquanto o dia segue vastamente esperançoso

O anoitecer iminente traz o obscurecimento da essência

Que sucumbe gradativamente à decadência

No fim a ilusão dum momento pleno se torna apenas uma reminiscência

Amor louco

E rasga, fere esta carne ávida da tua boca, Dilacera me com esse desejo de paixão, Arrasta este corpo, arranca o do caixão Onde se desfaz esta minha existência oca.

Vem, ama me como se fosses tu, louca, Sedenta deste sangue que corre em vão, Desvario que me cega e tolda a razão

E que aqui me amesquinha e me apouca.

Anda, anda comigo para veres quem sou

No vermelho da chaga que n'alma tenho, Desse que fui e o que dele pouco restou

Desde que me esqueci ao que aqui venho

Por te amar na morte que de tudo me levou Quando, demente, por ti da vida m'abstenho.

Luís Corredoura dixit ©

Divindade

Por ti, matei-me quando de mim te salvaste, Não d'amor, mas por algo que transcende

Esse sentir que com essa palavra s'ofende E se não foi amor, foi loucura quanto baste.

Sim, louco fiquei porque, afinal, não amaste Quem te ama além do querer que me prende No que não sei ser e que de mim me suspende Se tão facilmente deste meu viver te livraste.

E agora, sem me ter e nada de ti possuindo, Por aí tenho andado, sem rumo, sem destino, Pois há muito não vivo, vou apenas existindo

Nisto que não sei, que desprezo e abomino, Estando morto quando respiro e não me findo Se o que por ti sinto é o que tenho de divino...

Luís Corredoura dixit ©

Construção do belo

Ela chegou simplesmente Nos olhos um brilho festivo Na boca um leve sorriso E nos disse bom dia! Vestia roupas que a deixavam bem à vontade

Os pés descalços tocavam o chão Pegou o pincel e começou a rabiscar o quadro Seus riscos eram livres Sem preocupações com a estética ou com formas geométricas Com maestria misturava as tintas

E arrancava do painel formas só por ela vistas. A pintura a cada toque ia ganhando vida, beleza

As cores misturadas originavam outras e mais outras

Ela dizia: pinte simplesmente Dê asas à imaginação Voe, viaje! Na arte tudo é permitido Não há limite para sonhar... Em instantes sua obra estava pronta Linda, expressiva, maravilhosa! Perguntei lhe o significado da obra “apenas o meu estado de espírito, pinto o que sinto, disse”. Olhando o quadro pude ver

A necessidade da mistura das cores

A beleza, a harmonia estavam presentes Pude ver todos os espaços brancos da tela preenchidos. E vi que o diferente, que a diversidade, que o contraditório São absolutamente necessários na construção do belo.

O belo não existiria sem a combinação das cores E percebi a perfeição da natureza Gerando e parindo uma explosão de cores infinitas. Senti me fazendo parte dessa natureza Onde sou apenas mais uma cor

Absoluta

Soprou um vendaval. Chuvas de verão na mocidade. Muitas paixões, para alimentar a vaidade. Mas

No meio daquela paisagem Conheci minha amada. Como as folhas de outono Você chegou. Deslizando sobre meus sonhos. E com seu calor aqueceu meu inverno. Encheu de sorrisos meu universo. Floriu na primavera. Criou raízes. Deu sabor aos frutos.

E aqui no meu colo, permanece. Linda, absoluta. Dona do amor que me aquece.

Livre sou

Hoje meu voo é livre.

Livre para novas histórias. Para alcançar outras direções. Hoje meu voo é livre Para novas opiniões viver loucas ilusões. Libertei me dos grilhões da insensatez, da minha própria insensatez. Da pequenez que morava em minha alma. E na calma do momento vou voar sobre os mares respirar outros ares trazer de volta meu Verdadeiro “Eu”!

Mãe

Por seus filhos chora. Se desdobra. Se renova. Se transforma. Doa mel e às vezes Colhe fel. Vira borboleta... Esconde se no casulo! Derrama lágrimas no escuro; Vive no oculto! No âmago de sua alma traduz o valor da criação... Com gotas de felicidade E força que vêm do coração.

Rosenilda Gonçalves

Impiedosa Madrugada....

Estamos a sós, os três, a sós...

Eu, a madrugada e a tua falta, De longe, somente a lua e as estrelas, A contemplarem em mim tamanha tristeza.

À madrugada, confesso a minha fraqueza, O medo de perdê la. Mas ela, impiedosa à minha dor, Faz com que as horas passem devagar.

A tua falta a apertar me o peito, faz sangrar a alma, Solitária alma.

Meu pensamento voa longe, entorpecido em tua imagem, Iluminado apenas pelas frágeis luzes de neon da cidade adormecida.

O relógio em seu cantar sombrio... tic, tac, tic, tac..., tic. A me lembrar do triste e lento avançar das horas, amargas horas A me distanciarem de ti. Por onde andarás agora, amor, por onde andarás??? A brisa noturna me traz o teu cheiro, sinto na boca o sabor do mel, na pele a maciez da flor.

A madrugada, covarde e carrasca, a me torturar, aos poucos se encerra, Os neons brilhantes no horizonte da janela se desfazem, Pouco a pouco o sol a nascer, aquece o frio da solitária madrugada. O avançar das horas faz despertar a cidade, antes adormecida, me traz você.

Agora juntos, eu, você e o dia,

A cidade agitada não nos incomoda, O atormentável tic, tac do relógio nós travamos, E parados no tempo, de cortinas fechadas, nos amamos.

Silvio Souza

Nada é mais como era antes...

Ouça o silêncio que faço agora, nada é como outrora, O horizonte antes azul, hoje repleto de cinzas, Nem mesmo o sol que irradia, consegue iluminar o dia, Nada é como antes e tudo se faz de incertezas.

Meus olhos são imensas cachoeiras de onde vertem as lágrimas, E o que vejo não se traduz em luz, a escuridão me domina, O medo se faz presente até mesmo no suspirar E ofegante, me tranco entre quatro paredes.

Os dias que se passam, minuto a minuto, como em conta gotas, São doses de um cruel veneno a me diluir por dentro, Corro à janela do décimo primeiro andar e grito, mas o socorro não vem. De companhia somente o espelho, com quem converso em desespero.

Até mesmo minha alma parece querer me deixar, A cidade inerte, as ruas vazias de gente... vazias de vidas, Sinto me só na imensidão do mundo... medo??? Talvez!!! Mas me acalmo ao degustar a última taça do vinho seco. Converso agora comigo mesmo em pequenos textos que escrevo, O tapete da sala submergido em bolas de papel com frases inexprimíveis, Tão sufocado quanto eu, neste pequeno pedaço de mundo. Lanço me ao som do piano de Richard Clayderman... sem sono, sem sonhos. Meu sorriso ofuscado aos olhos, não me traduz, O tocar de minhas mãos não mais aquece, O meu cantar não mais encanta E meus versos se desfazem ao vento.

Nada.... Nada é mais como era antes.

Hipnos

Durma tranquilo, oh anjo meu! Repousa tua cabeça no meu colo

Entrega te ao mais profundo sono Nos braços de Morfeu viaja pelo mundo dos sonhos

E junta te a mim

Que vivo sempre assim, a te esperar em cada sonho. Dorme, amor meu! Jamais esquece que te amo E quando despertares, estarei aqui Sempre te aguardando

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