Revista Schola 2009/2010

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ALVES DOS REIS – O MAIOR BURLÃO DA 1ª REPÚBLICA – UM CASO INTEMPORAL Artur Virgílio Alves dos Reis nasceu em 1896, em Lisboa, no seio de uma família modesta. Apraz-me questionar-me a mim mesma o porquê da maioria das biografias das personalidades de notável relevo na História se iniciarem com a típica frase: «Nasceu no seio de uma família modesta». Ainda começou um curso de Engenharia, mas não passou para além do 1.º ano (se fosse actualmente conseguiria acabar o curso facilmente, desde que tivesse o domingo livre…), devido ao casamento com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, em 1916, facto que o isentou da mobilização para a Primeira Guerra Mundial. Nesse mesmo ano parte para Angola, onde trabalhará nas Obras Públicas, chegando a ser inspector. Foi também director dos Caminhos de Ferro naquela colónia. Este cargo foi obtido a partir da sua primeira burla conhecida, quando forjou um diploma de Engenharia pretensamente obtido em Oxford, com capacidades para gestão industrial e financeira. Retiro o que disse, afinal Alves dos Reis não finalizou o curso mas conseguiu, sem esforço algum, e sem prescindir dos seus domingos, um diploma, portanto conseguiu ser mais esperto que alguns «engenheiros» do século XXI. A partir de 1919, Alves dos Reis dedicou-se ao comércio de produtos entre a colónia e a metrópole, sempre com golpes e ilegalidades. Acumulou algum capital, regressando a Lisboa em 1922, onde criou a firma Alves dos Reis, Ldª. Investiu também numa empresa mineira em Angola, assumindo-se cada vez mais como um grande empresário, quiçá se ele ainda estivesse vivo não estaria também envolvido no Caso Freeport. No entanto, tanto Portugal como a sua colónia de Angola, sentiam de forma profunda a grave crise económica europeia resultante da Grande Guerra. Alves dos Reis ressentiu-se imenso dessa situação difícil, embora tenha encontrado maneiras de a superar. Como sempre alimentara o sonho angolano, acreditava firmemente que seria aquela colónia a sua rampa de lançamento para negócios em maior escala, fosse de que maneira fosse. Assim, virou-se para a Ambaca, empresa ferroviária estatal de Angola, a qual queria controlar através da posse da maior parte das suas acções. Estas, conseguiu-as adquirir através de uma nova fraude, um cheque sem cobertura do National City Bank, de Nova Iorque, onde tinha conta. Alves dos reis pretendia


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