


EDITORIAL
Educar, cuidar, esperançar: um chamado coletivo à missão da educação católica no VII Congresso Nacional de Educação Católica
A educação católica e seu compromisso com a garantia de direitos constitucionais fundamentais
Comunicar a fé em um mundo multifacetado: desafios e estratégias de fortalecimento da identidade confessional na Educação Católica
ANEC lança documento inédito com diretrizes pastorais para escolas católicas 2025-2030
Governança de instituições católicas para um futuro promissor: transparência, responsabilidade, sustentabili- dade e autonomia
Educação Católica Inclusiva Espaço de acolhimento e respeito a todas as pessoas
Educação em tempos de emergência climática
A agenda da ecologia integral na gestão, no currículo e na formação de atitudes para uma consciência planetária
Salas temáticas focadas em temas fundamentais para a educação católica
Construindo pontes, semeando a tolerância
O currículo do Ensino Religioso na promoção do respeito e da coexistência pacífica
A compreensão do sofrimento psíquico e o cuidado com a Saúde Mental: o que queremos por Projeto de Vida e humanismo solidário
Mercado de capital aberto, concorrência e as estratégias de mercado para a educação católica
Gestão do CEBAS: longevidade organizacional com compromisso social na educação
Marketing contra-intuitivo como prioridade estratégica para a consolidação e expansão das instituições católicas
Financiamento e gestão da educação superior: o mercado educacional, os cenários econômicos e as alternativas
Os novos marcos regulatórios das licenciaturas e da educação a distância: a urgência da inovação, o desafio da consistência
Lifelong learning, soft skills, educação híbrida, IA: o que as tendências do Ensino Superior 5.0 dizem do nosso presente e do nosso futuro
Educar a fé, educar para a fé: existência humana e evangelização na pastoral escolar e universitária
Diálogos pedagógicos-pastorais: currículo evangelizador e aprendizagem-serviço
Profissionalização da Pastoralidade em ambientes educativos: indicadores, gestão de pessoas e resultados
Inclusão e diversidade na Educação Católica: políticas públicas e os desafios pedagógicos e institucionais para a educação básica e superior
Disrupção tecnológica no contexto educacional: Uso de mídias, pós-verdade, deep fake, desinformação e senso crítico
Ecologia Integral, 10 anos depois: o que estamos colhendo e o que nos resta fazer?
Educação que emociona: arte e cultura também marcaram o Congresso
Inteligência artificial e desenvolvimento humano integral Perspectivas éticas, pedagógicas e sociais para uma educação humanizada
A agenda da educação católica para as futuras gerações é tema da Conferência de Encerramento
ANEC celebra 80 anos de história durante solenidade especial no VII Congresso Nacional de Educação Católica
Confira o mural de fotos e relembre os melhores momentos do VII Congresso Nacional de Educação Católica.
ExpoANEC reúne cerca de 100 marcas e mais de 300 estandes em edição histórica em Fortaleza
Conheça quem esteve ao nosso lado na maior edição da ExpoANEC já realizada até hoje!
Próximo destino!
Estimadas(os) Congressistas,
Com alegria e gratidão a Deus e a Nossa Senhora, Mãe Educadora, encerramos o VII Congresso Nacional da Educação Católica, realizado em Fortaleza, como uma expressão itinerante que valoriza a diversidade regional e fortalece a unidade nacional.
O tema “Educação que transforma: educar, cuidar e esperançar” iluminou toda a programação técnica e científica do evento, como resposta aos desafios contemporâneos enfrentados pela educação católica no Brasil.
Celebramos a história viva e profética dos 80 anos da ANEC, reafirmando seu compromisso com uma educação integral e de qualidade social. São oito décadas de presença efetiva, coerente e apaixonada pela missão de educar à luz do Evangelho, em diálogo constante com a cultura, a ciência, a sociedade e o tempo presente.
Como sinal de nossa fé e da missão evangelizadora, lançamos o ícone “Jesus, Mestre da Esperança”, criado especialmente para este jubileu, e o entregamos aos coordenadores dos Conselhos Estaduais da ANEC, para que percorra as escolas como símbolo de sinodalidade e de fortalecimento da identidade e da missão confessional católica.
Também lançamos a segunda edição das Linhas de Ação Pastoral da ANEC, que servirão de inspiração, reflexão e orientação para as escolas católicas.
Nestes dias, vivenciamos uma intensa experiência de encontros, aprendizados, conexões, alianças e perspectivas, que contribuíram para revigorar nossas forças, desejos e esperanças, a fim de seguirmos fiéis à nossa missão educativo-pastoral, como continuadores do mandato de Jesus, em sintonia com a especificidade do carisma de nossos fundadores.
Ao circularmos por este maravilhoso espaço, ouvimos e sentimos expressões e testemunhos de gratidão, não apenas pela qualidade técnica da programação, mas também por sua dimensão científica e humanitária, que nos congregou como grande família ANEC.
Sentimo-nos mais irmanados e acolhidos de forma muito calorosa por nosso Arcebispo, Dom Gregório, que teve a sensibilidade pastoral de permanecer conosco e participar ativamente de todo o Congresso. Contamos ainda com belas manifestações artístico-culturais, que expressaram a riqueza, a beleza e a força do povo cearense.
Tivemos representações significativas, como a presença de cinco bispos da CNBB, membros do clero, provinciais, representante do governo geral de congregação, além de representantes do MEC, do CNE, da CAPES, da Secretaria da Educação, do governo do Estado, do poder legislativo federal, do Ministério Público e de outras entidades da sociedade civil. Todas essas presenças demonstraram apreço e reconhecimento pela atuação da ANEC como expressão de representatividade, incidência, competência e responsabilidade.
Este Congresso contou com a participação de 2.500 congressistas, 48 palestrantes em conferências e mesas-redondas, 15 salas temáticas replicadas e diversas programações paralelas na ExpoANEC. A feira reuniu 330 estandes com soluções inovadoras, representadas por cerca de 500 patrocinadores e expositores.
Neste evento, transformamos o Centro de Eventos de Fortaleza na Casa do Pão, da Palavra e da Comunhão. A espiritualidade nos fortaleceu e iluminou para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. A dimensão da identidade e da missão permeou todas as temáticas e reflexões, impulsionando-nos a superar as limitações do presente com respostas inovadoras, eficazes e sustentáveis.
Durante o Congresso, reforçou-se que a formação continuada de todos os atores da comunidade educativo-pastoral é cada vez mais necessária e urgente, a fim de garantir processos pedagógicos, carismáticos, administrativos e pastorais que contribuam para o desenvolvimento de pessoas capazes de articular direitos humanos e ecologia integral, visando a um futuro justo, pacífico, democrático, inclusivo e sustentável para as novas gerações e para o planeta.
Refletimos que, para garantir a força de nossa identidade e a longevidade de nossa missão, precisamos aprimorar os nossos modelos de governança corporativa, que envolvem compliance, políticas institucionais, processos de decisão colegiada, além de qualificar nossa gestão com foco na valorização das pessoas. Dessa forma, poderemos construir culturas organizacionais baseadas em valores carismáticos, que comuniquem, com transparência, integridade e credibilidade, o modo como conduzimos nossas instituições.
O tema da inclusão, iluminado por experiências práticas, pesquisas, diretrizes e normas legais, sensibilizou-nos para a necessidade de um acolhimento mais humanizador e profissional. No entanto, continua sendo um grande desafio para nossas escolas, conforme evidenciado na segunda pesquisa de inclusão realizada. Diante disso, a ANEC reafirma seu compromisso com diversas ações no campo pedagógico e de assessoria jurídica, com o objetivo de apoiar e orientar as nossas instituições.
As 15 salas temáticas abordaram desafios e oportunidades relacionados às áreas pedagógico-pastoral, de gestão, ensino religioso, marketing, saúde mental, tecnologia, regulamentação para o ensino superior, gestão do CEBAS, ecologia integral, financiamento, inclusão e diversidade. Evidenciaram temas que, de algum modo, condicionam, atravessam e/ou vocacionam a educação a se reinventar de modo ágil e consistente, pois o futuro não tolera nem perdoa a falta de preparo.
A história da ANEC é tecida pelas biografias de educadoras e educadores que se devotaram ao propósito da educação. Por isso, neste Congresso, a ANEC reconheceu, com mérito de honra, quatro personalidades – Ir. Irani Rupolo, Ir. Paulo Fossatti, Ir. Adair Aparecida Sberga, Ir. Marli Araújo da Silva – que contribuíram de modo significativo para a educação católica no Brasil. Também agradecemos a tantas religiosas, religiosos, educadoras e educadores que, de forma silenciosa e muitas vezes anônima, se dedicam à missão de transformar vidas por meio da educação, de norte a sul do país, nos diversos contextos em que a ANEC está presente.
Agradecemos ao Conselho Estadual da ANEC do Ceará pela generosa acolhida, pela dedicação, pela arte e pela primorosa contribuição.Gratidão à Santuário Nossa Senhora Aparecida, ao seu pároco P. Rafael, aos seminaristas e ao Coral Arquidiocesano de Fortaleza, regido por Angelo La Serra, bem como a todos que contribuíram nos momentos de espiritualidade, orações e celebração eucarística.
Também agradecemos aos Colégios Juvenal de Carvalho, dirigido pela Irmã Rita de Cássia, que também é membro do Conselho Estadual do Ceará; ao Colégio Nossa Senhora das Graças, dirigido por Nara Rodrigues; ao Colégio Santa Cecília, dirigido por Ana Lúcia; ao Maestro Tiago Nogueira e ao Colégio Marista de Aracati, Ir. Humberto Lima Gondim, que abrilhantaram nosso Congresso com a presença de crianças, adolescentes, jovens e educadores nas apresentações culturais.
Agradecemos aos palestrantes e expositores que enriqueceram nossas mentes e corações, colocando nossos pés no caminho da transformação. Agradecemos o empenho de todos os participantes, das dioceses, congregações, educadores e daqueles que se sacrificaram para estar aqui presentes, assim como das caravanas organizadas com tanto entusiasmo e motivação.
Agradecemos a todos os colaboradores da ANEC que não mediram esforços para organizar um brilhante encontro, e ressaltamos a Diretoria, o Conselho Superior, os Conselhos Estaduais, a Comissão Científica.
A todos, a nossa gratidão!
Trechos retirados da Carta de Encerramento do Congresso, lida
A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil tem como finalidade atuar em favor de uma educação de excelência, promover uma educação cristã evangélico-libertadora, entendida como aquela que visa à formação integral da pessoa humana - sujeito e agente de construção de uma sociedade justa, fraterna solidária e pacífica segundo o Evangelho e o ensinamento social da Igreja.
CONSELHO SUPERIOR
Pe. Sérgio Eduardo Mariucci - Presidente
Ir. Adair Aparecida Sberga - Vice-Presidente
Ir. Maria Aparecida Matias de Oliveira - Secretária
Pe. Luís Henrique Eloy e Silva - Conselheiro
Dom João Justino de Medeiros Silva - Conselheiro
Vidal Serrano Nunes Júnior - Conselheiro
Ir. Paulo Fossatti - Conselheiro
Ir. Patricia Silva de Vasconcelos - Conselheira
Pe. João Carlos Almeida - Conselheiro
Carmem Murara - Conselheira
Deivid Carvalho Lorenzo - Conselheiro
Ir Rogério Renato Mateucci - Conselheiro
DIRETORIA NACIONAL
Ir. Iraní Rupolo – Diretora Presidente
Pe. Charles Lamartine – 2° Vice-Presidente
Pe. Geraldo Adair Da Silva – Diretor 1° Secretário
Ir. Marisa Oliveira De Aquino – Diretora 2° Secretária
Ir. Marli Araújo da Silva – Diretora 1ª Tesoureira
Ir. Carolina Mureb Santos – Diretora 2ª Tesoureira
CONSELHO EDITORIAL
Guinartt Diniz - Secretário-Executivo
Fabiana Deflon - Gerente da Câmara de Mantenedoras
Gregory Rial - Gerente da Câmara de Ensino Superior
Roberta Guedes - Gerente da Câmara de Educação Básica
Anna Catarina Fonseca - Gerente de Comunicação e Marketing
ASSESSORIA PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Comunicação Conectada
DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Agência Kharis
BANCO DE IMAGENS
Freepik
REVISÃO DE TEXTOS
Raquel Cruz
A Revista EDUCANEC é uma publicação da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) .
As matérias publicadas nesta Revista representam a opinião de seus autores
Educar, cuidar, esperançar: um chamado coletivo à missão da educação católica no VII Congresso Nacional de Educação Católica
A cidade de Fortaleza, no Ceará, acolheu, de 2 a 4 de julho de 2025, o VII Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), em um momento emblemático: a celebração dos 80 anos da instituição. E os números falam por si — 2,5 mil congressistas reunidos em um único propósito: refletir, partilhar e construir caminhos para uma educação católica mais humana, evangelizadora e inovadora.
O Congresso teve início com a celebração da Santa Missa, presidida por Dom Gregório Paixão, arcebispo de Fortaleza, e com o lançamento do ícone “Jesus, Mestre da Esperança”, sinalizando o espírito de fé e compromisso que guiaria toda a programação.
A conferência inaugural, conduzida por Dom Francisco Agamenilton, reforçou o papel das instituições católicas como promotoras dos direitos fundamentais e da dignidade humana, mostrando que educar é também evangelizar.
Foram mais de 80 horas de conteúdo, com mais de 50 palestras, mesas-redondas e salas temáticas, que abordaram desde identidade confessional e governança até inteligência artificial, inclusão e ecologia integral. Em paralelo, a ExpoANEC 2025 ocupou mais de 9 mil metros quadrados, com cerca de 300 estandes, transformando o espaço em um grande polo de inovação, relacionamento e troca de experiências entre instituições, editoras, fornecedores e organizações parceiras.
A pluralidade de olhares, realidades e experiências deu o tom de uma caminhada coletiva, na qual tradição e inovação, fé e técnica, escuta e ação se entrelaçaram. Temas, como governança, pastoralidade, sustentabilidade, currículo, espiritualidade e tecnologia, emergiram à luz da missão da escola católica.
O evento também foi espaço para lançamentos importantes, como o documento Linhas de Ação Pastoral para Escolas Católicas e o relatório da Pesquisa de indicadores de Educação Inclusiva nas
instituições associadas à ANEC, resultados de escutas com redes e instituições associadas.
Um dos momentos mais emocionantes foi a celebração dos 80 anos da ANEC, repleta de homenagens e memórias, reafirmando a história da Associação como referência nacional em defesa de uma educação comprometida com o bem comum e com os valores do Evangelho.
Na conferência de encerramento, Ir. Adair Aparecida Sberga e Ir. Paulo Fossatti trouxeram uma mensagem de esperança, reforçando o papel da escola como espaço de espiritualidade, acolhimento e transformação social. A leitura da carta oficial de encerramento, feita pela Ir. Adair Sberga e pelo Pe. João Batista, sintetizou os aprendizados e acendeu novos compromissos para os próximos anos.
Nas páginas a seguir, você confere a cobertura completa de cada palestra, mesa-redonda e momento especial vivenciado em Fortaleza. E descobrirá, ainda, qual será o destino do próximo Congresso, em 2027! Que esta leitura reavive, em cada leitor, o chamado à missão educativa que transforma vidas e constrói o futuro.
Educar, cuidar, esperançar: um início marcado por fé e compromisso
Missa e mesa de abertura lançam as bases do VII Congresso Nacional de Educação Católica
O VII Congresso Nacional de Educação Católica começou no dia 2 de julho, em Fortaleza (CE), com dois momentos que expressaram a missão da escola católica no Brasil: a celebração da Santa Missa e a mesa solene de abertura. A espiritualidade, a presença das lideranças e o reconhecimento da trajetória da ANEC deram o tom da abertura oficial, em um congresso que marca os 80 anos da instituição.
A Missa foi presidida por Dom Gregório Paixão, arcebispo de Fortaleza, que, na homilia, destacou a urgência de escolas que formem para a vida com base nos gestos de Jesus:
“Nossas escolas precisam ser escolas de fé, para se tornarem cada vez mais escolas de humanidade.”
Durante a celebração, foi apresentado o ícone “Jesus, Mestre da Esperança”, imagem que acompanhou os congressistas durante todo o evento como símbolo da missão evangelizadora da educação católica.
Em seguida, a mesa de abertura reuniu representantes da ANEC, da CNBB, do poder público e do parlamento. Em sua fala, o Pe. João Batista Gomes de Lima, diretor-presidente da ANEC, destacou o papel da educação na transformação de pessoas e sociedades:
“Que este congresso nos renove na missão e no compromisso com uma educação de qualidade, guiada pela fé e pela esperança.”
Ir. Irani Rupolo, vice-presidente da ANEC, chamou os participantes a aprofundarem reflexões e práticas conectadas à realidade brasileira:
“Precisamos formar instituições que sejam o coração pensante da sociedade, voltadas à justiça, à solidariedade e ao desenvolvimento sustentável.”
Pela CNBB, Dom João Justino de Medeiros Silva lembrou que a força do Congresso está no que ele mobiliza nas comunidades educativas:
“O pós-congresso se vive nas escolas, nas universidades, nas bases, onde o trabalho silencioso forma gerações.”
Reconhecimento institucional e parcerias em defesa da educação
A mesa de abertura contou, ainda, com falas de autoridades civis. A secretária de Educação do Ceará, Ciza Viana, afirmou que o estado se orgulha de ser parceiro de instituições que investem em uma educação com propósito. Já o representante do Ministério da Educação, Rafael Furtado, reconheceu o papel das instituições católicas na formação cidadã e destacou os desafios enfrentados por instituições comunitárias e confessionais diante da lógica de mercado.
O deputado Luiz Gastão (PSD-CE), presidente da Frente Parlamentar Católica, defendeu a ampliação do acesso à educação religiosa nas escolas públicas, como direito à formação espiritual das famílias que assim desejarem.
Na sequência, Dom Carlos Lema, bispo auxiliar de São Paulo, afirmou:
“Educar é como reflorestar. Plantamos hoje para colher no futuro. Nosso diferencial está nos valores: formar pessoas conscientes, éticas e comprometidas com o bem comum.”
Lema destacou também a responsabilidade das universidades católicas em articular fé e razão, oferecendo conteúdos que ampliem a formação ética e espiritual dos estudantes em todas as áreas do conhecimento.
Com esperança no centro sob o tema “Educar, cuidar, esperançar”, o Congresso foi oficialmente aberto com um convite à missão da educação católica: formar seres humanos completos, com base no Evangelho e atentos às realidades do mundo.“Se vivermos o novo de Deus, viveremos o novo da humanidade”, afirmou Dom Gregório ao encerrar sua homilia — frase que ecoou como marco simbólico da abertura do maior encontro da educação católica do país.
Durante a conferência de abertura do VII Congresso Nacional de Educação Católica, Dom Francisco Agamenilton Damascena, bispo diocesano de Rubiataba-Mozarlândia e bispo eleito de Luziânia, conduziu uma reflexão sobre o papel da educação católica na sociedade brasileira atual.
Diante de uma plateia formada por educadores, gestores e representantes de diversas regiões do país, ele retomou os fundamentos constitucionais do Brasil e os articulou com a missão evangelizadora da Igreja no campo da educação. A sua fala na abertura do evento se destacou por seu caráter formativo e por lançar luz sobre os desafios e compromissos das escolas e universidades católicas diante das transformações do mundo contemporâneo.
A conferência teve como eixo central a relação entre a educação católica e os direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal de 1988. Partindo da Doutrina Social da Igreja, Dom Agamenilton sublinhou como a instituição católica, ao educar, também evangeliza — e, ao evangelizar, transforma a sociedade.
A presença da fé cristã no ambiente escolar, segundo ele, não se opõe à laicidade do Estado, mas oferece um testemunho concreto da dignidade humana, da liberdade e da justiça, contribuindo ativamente para o bem comum. Com linguagem acessível, exemplos concretos e perguntas incisivas, o conferencista instigou os participantes a pensar como os valores cristãos são efetivamente vividos nas instituições educacionais.
Na sequência, Dom Agamenilton abordou a natureza e a missão da educação católica, destacando que “a escola católica é parte integrante da missão da Igreja, inspirada no mandamento de Cristo: ‘Ide e ensinai’”. Nessa missão, ela “forma pessoas à luz da fé, promovendo a cultura, a razão e a espiritualidade”. Assim, ela evangeliza ao mesmo tempo que educa, oferecendo um serviço à pessoa humana ao estilo de Jesus: com amor, verdade e serviço.
Dom Agamenilton afirmou que a escola católica é “lugar de aprendizagem para enfrentar os desafios e solucioná-los à luz do Evangelho”. É o desafio de colocar em prática, no cotidiano da escola, o evangelho e suas consequências. “Desta maneira, a escola católica prepara a pessoa para realizar o bem da cidade.”
Ele propôs a reflexão sobre três grandes desafios: a dignidade humana, a liberdade e a justiça, todos profundamente ligados à missão da Igreja e à Doutrina Social, além de estarem consagrados na Constituição Federal. E lançou a seguinte provocação: “Os professores conhecem a Doutrina Social da Igreja? Que formação é oferecida a eles sobre o magistério social católico? Os professores conhecem, recebem formação, aceitam a sabedoria eclesial e a ensinam aos alunos? Utilizam da Doutrina Social da Igreja como critério de decisão para os problemas da escola e da universidade?”.
Segundo Dom Agamenilton, em um contexto escolar marcado por desigualdades e tensões culturais, o reconhecimento da dignidade humana é caminho de promoção da vida humana e sentido último do agir pedagógico. Ele alertou: “sem esse reconhecimento, podemos nos tornar desalmados cumpridores de leis, peças inconscientes de um sistema”.
Em sua fala, o palestrante trouxe uma vivência quanto à questão da inclusão. “Fui convidado para falar sobre as pessoas com deficiência e educação. O debate era em torno da nova legislação goiana. Perguntei aos professores por que eles eram obrigados a acolher na escola as pessoas com deficiência; por que o Estado ditava aquela lei e qual era o sentido dela? As respostas giraram em torno da lei: porque há uma lei que me obriga a fazer isso. Nenhum professor disse que era por causa da dignidade humana”, exemplificou.
Com base nesse relato, ele reforçou que temos, no ordenamento da escola católica, a dignidade humana como valor fundamental, assim como na Constituição Brasileira. E questionou: “Que caminho percorrer para que discentes e docentes reconheçam essa dignidade?”. Para ele, a resposta é também um caminho para a superação do racismo, intimidação sistemática, discriminação de toda espécie e promoção da vida desde a sua concepção até a sua morte natural.
Por fim, ele trouxe um sinal de esperança por meio de outro depoimento. “Lembro-me de um engenheiro elétrico ter elaborado um projeto de iluminação para um abrigo de idosos em vista da redução de custo da conta de energia. Perguntado por que ele tinha feito aquilo, ele respondeu: a dignidade humana foi minha motivação”, citou.
Neste segundo tópico, Dom Agamenilton destacou que a escola, assim como o mundo, “é um lugar de conflito de liberdades”. Todos desejam algo, mas nem sempre conseguem o que querem. A questão central é: o que é liberdade?
Ele explicou que existem diversas concepções. “Se sou um relativista, eu direi que sou livre para fazer o que eu mesmo decidi como verdadeiro ou bom, sem me referir a nenhuma verdade objetiva. Eu sou a medida da liberdade.” Já sob uma visão materialista, a liberdade seria apenas o resultado de condicionamentos biológicos e sociais.
Mas, segundo a visão cristã, a liberdade é sinal da imagem divina em cada um de nós e de nossa dignidade. É a capacidade de dispor de si em vista do autêntico bem, no horizonte do bem comum universal’ (DSI, n. 200). Neste contexto, ele pergunta: “Qual é o autêntico bem? Quem o define? A verdade sobre o bem é o ser, o real e não as minhas ideias”. Ao responder seu próprio questionamento, relembrou as palavras do Papa Francisco: “a realidade é superior à ideia” (EG, n. 231).
Para ele, a verdade é uma pessoa: Jesus Cristo. “Ele é a luz da liberdade. A liberdade movida por Jesus Cristo liberta a própria liberdade”, explica. E completou com a citação de Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!” (Confissões, Livro X, 27).
Durante o tópico, trouxe mais perguntas à reflexão: “Que liberdade é apresentada nas instituições católicas de ensino? Que lugar a verdade ocupa no exercício da liberdade? Como é exercida a liberdade? A liberdade cristã é um bem para o Brasil?”.
Também foi abordado o desafio de conectar as liberdades pessoais a um projeto comum. Conforme explica, é “fatigoso” conduzir os alunos de modo que as liberdades deles se conectem a ponto de garantir a escola como um lugar de humanização e santificação. Sendo assim, as liberdades devem ser
orientadas para o bem comum, pois, como ensina a Doutrina Social da Igreja, “somente há liberdade ‘quando laços recíprocos, regidos pela verdade e pela justiça, unem as pessoas’” (DSI, n. 199).
Em sua fala, Dom Agamenilton alertou contra o individualismo contemporâneo. “As pessoas têm se tornado tão individualistas que falar de projeto comum é quase pronunciar uma palavra indecifrável”, afirma. “De fato, há hoje a tendência para uma reivindicação crescente de direitos individuais — sinto-me tentado a dizer individualistas —, que esconde uma concepção de pessoa humana separada de todo o contexto social e antropológico, quase como uma ‘mônada’ (μονάς) cada vez mais insensível às outras ‘mônadas’ ao seu redor”, explicou, citando o Papa Francisco.
O terceiro desafio apresentado por Dom Agamenilton foi a prática da justiça nas instituições católicas de ensino. Ele questionou como anda a prática da justiça em nossas escolas, os exemplos oferecidos aos alunos, a resolução dos problemas da escola e da universidade, entre outras situações. “No Brasil ‘vale tudo’ para ser bem-sucedido ou se enriquecer? Como os alunos compreendem o fenômeno da cola e do plágio?”, provoca.
“Justiça é uma virtude e, portanto, é a ‘vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido’ (DSI, n. 201)”, destaca. No pensamento católico, a justiça social ganha destaque, de maneira que as escolas católicas, segundo ele, são chamadas a ir além da legislação.
“As escolas católicas, movidas pela Doutrina Social da Igreja, são comprometidas com a Constituição Brasileira e vão além de suas determinações, sem contradizê-las. Faz parte do ensinamento católico, a compreensão de que a justiça sozinha não basta; ela precisa caminhar junto com a caridade e a solidariedade (cf. DSI, n. 203). Por isso, formamos as pessoas com duas asas: justiça e caridade”, explica.
No encerramento da conferência, o bispo reforçou o compromisso da educação católica com o Brasil. Ele destacou dois documentos essenciais para essa missão: o Pacto Educativo Global, lançado pelo Papa Francisco em 2019, e a encíclica Fratelli Tutti.
As escolas e universidades católicas unindo fé e razão, promovendo o primeiro anúncio e se abrindo as suas consequências, se tornam ‘laboratórios do bem comum’ onde não apenas se descobre a verdade, o bem e o belo, mas também onde eles já são vivenciados de modo pascal, isto é, constantemente passando do sacrifício de si mesmo para a alegria da vida mais fraterna, mais parecida com a comunidade de amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”
Dom Agamenilton concluiu, reafirmando que a educação católica, enraizada na fé e no Evangelho, se mantém “comprometida com a Constituição e com a dignidade da pessoa humana, as escolas e universidades católicas continuam sendo espaços de transformação social e de esperança”.
Veja como foi a abertura oficial do evento: escaneie o QR Code ao lado e confira os destaques.
da ANEC, Irmã Carolina Mureb Santos, participaram da primeira mesa-redonda sobre “Comunicar a fé em um mundo multifacetado: desafios e estratégias de fortalecimento da identidade confessional na Educação Católica”.
Dom Justino destacou os temas centrais discutidos e os desafios que acompanham a missão educadora da Igreja no Brasil. Ele destacou que a constante transformação da sociedade exige que as escolas confessionais repensem suas práticas sem perder sua essência. “A percepção de que vivemos em um mundo em transformação nos desafia a revisitar o essencial da tradição cristã-católica”, afirma.
Segundo o arcebispo, é preciso abrir espaço para o diálogo com o mundo contemporâneo, sem renunciar aos fundamentos da fé cristã. Isso implica cultivar valores como acolhimento, fraternidade, cultura da paz e cultura do encontro — temas amplamente valorizados pelo magistério da Igreja, inclusive pelo Papa Francisco.
Dom Justino também citou a instrução publicada pelo Dicastério para a Cultura e Educação em
cristão: alguém aberto ao outro e comprometido com os ensinamentos evangélicos”, pontuou.
Ao abordar os impactos da tecnologia, o arcebispo reconhece que a inteligência artificial inaugura novas possibilidades, mas também impõe dilemas éticos e limitações pedagógicas. Ele mencionou que até mesmo o Papa Leão XIV, recém-eleito, destacou essa questão como um dos grandes desafios de seu pontificado.
O palestrante alerta para a influência das redes sociais no comportamento de estudantes, educadores e famílias. Plataformas, como o TikTok, tornam o consumo de informação cada vez mais veloz, breve e superficial. “O mundo das redes sociais nos transforma em consumidores — primeiro de dados, depois de produtos”, observa.
Nesse contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de manter sua relevância e autoridade, adaptando-se a um ritmo de mudança acelerado. “Embora vivamos esse tensionamento, as instituições continuam sendo referência. Um currículo validado por instituições renomadas segue sendo desejado”, ressalta.
O arcebispo também abordou mudanças no campo religioso. Apesar do avanço do laicismo e da associação equivocada entre fé e irracionalidade, ele acredita que o ser humano conserva sua sede de transcendência. “A dimensão religiosa é constitutiva do existir humano, ainda que se manifeste de
católica, enquanto 9,28% se declaram sem religião. Entre os jovens, esse último grupo já representa a maior parcela — tendência observada também em Goiânia, onde 30% dos jovens dizem não ter religião, superando os 27% de evangélicos e os 23% de cató licos.
ocorreu em um momento simbólico de transição na Igreja, com o início do pontificado de Leão XIV. Para Dom Justino, esse novo ciclo representa uma chance de renovar a paixão pela missão educadora.
ao debate sobre o papel das instituições educacio nais da Igreja em uma sociedade em constante transformação. Ela trouxe uma provocação impor tante: como compreender e preservar a identidade das instituições católicas diante de um cenário social marcado pela fragilidade das relações huma nas, pela liquidez das ideias e pela volatilidade dos projetos?
sobre a identidade — seja ela pessoal, institucional ou cultural — se tornou urgente. Como destacou a palestrante, é necessário entender de que lugar estamos falando quando propomos cuidar da identidade das instituições de educação católica.
Inspirando-se nas reflexões do educador Tomaz Tadeu da Silva sobre os estudos culturais, a palestrante argumentou que a identidade não deve ser vista como uma essência fixa ou monolítica. “Ao contrário, trata-se de um processo contínuo, em constante evolução, moldado pelas relações que construímos. Nesse sentido, a identidade é também performática: ela se revela e se desenvolve conforme é vivida, concretizada e expressa em ações”,
Porém, há riscos quando se busca respostas fáceis para garantir essa identidade. Um deles é o saudosismo institucional — a tentação de recuperar modelos do passado acreditando que podem servir como solução para os dilemas do presente. A repetição acrítica de práticas pedagógicas ou eclesiais que funcionaram em outros contextos pode limitar a capacidade de resposta criativa às demandas contemporâneas.
Outro risco é o fechamento ao que é diferente. Em tempos de insegurança e crise, o que é estranho pode ser interpretado como ameaça. “Mas, do ponto de vista da fé cristã, o estrangeiro — aquilo que é diferente de nós — deve ser acolhido, pois pode trazer a novidade e a presença de Deus. O Papa Francisco já alertou sobre os perigos dos nacionalismos e da construção de muros que, sob a
A ANEC lançou oficialmente, durante o evento, o documento “Linhas de Ação Pastoral para Escolas Católicas 2025-2030”, apresentado pela Irmã Carolina Mureb.
O texto foi construído de forma coletiva, com base em escutas realizadas junto às redes associadas à ANEC. Segundo a Irmã Carolina, o documento “não é uma imposição ou normativa”, mas nasce “com a força das escolas católicas, daquilo que elas vivem e sonham”.
A proposta busca orientar a pastoral escolar a partir de quatro horizontes centrais:
1. Identidade Católica — como diferencial da educação.
2. Integração Pedagógica — superando a separação entre formação acadêmica e humana.
3. Evangelização Transformadora — entendida como o anúncio da Boa Notícia.
4. Humanização Solidária — com uma fé que transforma condutas e forma cidadãos éticos.
Cada horizonte é acompanhado de “coragens” e “caminhos”, indicando atitudes e ações concretas para as instituições. Sobre a “Evangelização Transformadora”, a Irmã Carolina ressaltou que evangelizar é “anunciar uma boa notícia”, e as instituições católicas têm essa missão importante para o mundo.
“Quando a gente evangeliza, a gente não está repetindo uma doutrina, a gente não está repetindo uma lista de normas, a gente está dizendo para o mundo que existe uma boa notícia e que essa boa notícia é de que existe um Deus que nos ama, que se fez um de nós para caminhar conosco, para nos salvar e para mostrar que vale a pena ser gente, ser humano e construir um mundo diferente” declarou.
O documento também traz dois anexos práticos: um modelo de planejamento pastoral e uma lista de documentos da Igreja sobre educação católica. “É um texto completo, feito para inspirar e apoiar o trabalho pastoral das nossas escolas”, concluiu a Ir. Carolina.
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Governança de instituições católicas para um futuro promissor: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia
Na 2ª mesa-redonda do primeiro dia do VII Congresso Nacional de Educação Católica, intitulada “Governança de instituições católicas para um futuro promissor: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia”, Geani Moller e Jorge Siarcos discutiram os desafios e os caminhos para aprimorar a governança em instituições católicas, com foco na garantia de sua continuidade, relevância e coerência com a missão evangelizadora. O debate girou em torno de eixos fundamentais para o presente e o futuro dessas instituições: transparência, responsabilidade, sustentabilidade e autonomia.
Geani Moller, consultora, gestora e professora universitária com três décadas de atuação, iniciou o debate compartilhando a sua experiência ao destacar como os pilares da governança — como transparência, equidade e sustentabilidade — podem e devem ser integrados à identidade cristã das instituições. Ela defendeu que os princípios técnicos da boa gestão precisam caminhar junto aos valores evangélicos, assegurando que as decisões estratégicas estejam sempre alinhadas à missão institucional.
Para Geani, a corresponsabilidade entre leigos e religiosos é um elemento essencial na construção de
uma governança sólida, ética e transparente. Em sua exposição, destacou que os modelos de governança precisam considerar a complexidade das instituições confessionais e que "governança não é só estrutura formal, mas é coerência entre quem decide e como se decide”.
Ela também enfatizou a importância de incorporar à gestão princípios de sustentabilidade e inovação. A sustentabilidade, em sua visão, vai além da questão ambiental: envolve responsabilidade social e econômica, garantindo que a instituição seja capaz de cumprir sua missão sem depender excessivamente de recursos externos. Já a inovação torna os processos mais transparentes, eficientes e adaptáveis, fortalecendo a tomada de decisões e a resiliência organizacional.
“A missão se sustenta no tempo quando está acompanhada de uma gestão eficiente e de escolhas responsáveis”, afirma. Também abordou a importância da inovação no contexto atual: “inovar, para nós, é manter o carisma vivo diante das mudanças, é responder aos novos tempos sem perder nossa identidade”.
Ela concluiu destacando que o verdadeiro sentido
da governança em instituições católicas é "organizar a gestão em torno da missão", e que isso só é possível quando se promove “transparência, participação e compromisso com os valores fundantes da instituição”. “ Arriscar é tomar riscos, mas não arriscar pode ser fatal”
Jorge Siarcos, reitor da FAE Centro Universitário, reforçou que exercer a governança em instituições católicas exige coragem — no sentido profundo da palavra: agir com bravura, inteligência e firmeza de propósito. “Coragem não é tomar decisão inconsequente. A origem da palavra está lá: é uma ação que vem do coração, é agir com bravura, é tomar decisão com inteligência, é ser firme”, explica.
Para ele, a coragem se expressa em decisões estratégicas como desenvolver pessoas, iniciar novos projetos, investir em tecnologia e manter a identidade institucional mesmo em contextos desafiadores. “Coragem de me posicionar: quem eu sou, meus valores. [...] Os valores franciscanos são inegociáveis. Transformamos muito a nossa instituição nesses quase 130 anos, mas os nossos valores permanecem.”
Segundo Jorge, a governança mista — que envolve a atuação conjunta de religiosos e leigos — é uma via eficiente para preservar os princípios fundacionais e, ao mesmo tempo, promover a excelência acadêmica. Ele destacou ainda a comunicação clara e alinhada como um dos eixos estruturantes da governança: quando bem conduzida, ela permite que os valores, decisões e a cultura institucional sejam compreendidos e vivenciados por toda a comunidade educativa.
“A comunicação tem que ser transparente para todos. Não só quem está no nível de gestão, no nível de liderança, mas todos os colaboradores têm que saber qual é a missão da instituição, onde queremos chegar, o porquê que existimos desde a fundação e o que está acontecendo agora”, afirma. “Se alguma decisão tomada em conjunto é respondida de forma diferente por leigo e religioso, quebra esse alinhamento.”
Para equilibrar autonomia e sustentabilidade financeira sem abrir mão da missão, Jorge defendeu modelos como os Conselhos Estratégicos e os Centros de Serviços Compartilhados — especialmente em redes com atuação nacional. Já sobre inovação, reforçou que a espiritualidade franciscana inspira uma educação centrada na pessoa, protagonista de sua própria história e agente de transformação social.
Por fim, ele conclui trazendo como base nas palavras do Papa Francisco, que a qualidade educacional repousa sobre três pilares: investimento em pessoas, infraestrutura adequada e gestão humanizada. “Em uma gestão humanizada, o protagonista é o ser humano”, conclui.
Confira os destaques do primeiro dia, escaneando o QR Code ao lado.
A 3ª mesa redonda do VII Congresso Nacional de Educação Católica, da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, abriu o segundo dia do evento com um tema central e urgente: “Educação Católica Inclusiva: espaço de acolhimento e respeito a todas as pessoas”. A discussão, mediada pelo Pe. Diego Andrade de Jesus Lelis, seguiu o momento de oração e adoração eucarística, e aprofundou o compromisso cristão com a inclusão como missão educativa.
Pe. Diego iniciou destacando que acolher vai além de abrir portas: é abrir a alma, escutar e reconhecer o outro como um mistério sagrado. “Falar em educação católica inclusiva é admitir que ainda temos muito caminho a percorrer”, alertou. A fala provocou o público a refletir sobre os desafios de tornar a escola um ambiente onde ninguém precise esconder sua identidade para existir.
Inclusão além do laudo
Primeiro participante da mesa, o psicólogo Patrick Wagner de Azevedo — doutor em Psicologia, deficiente visual e professor em uma instituição salesiana —
trouxe uma crítica direta à seletividade das escolas católicas: “Não consigo compreender que há escolas que se baseiam apenas em laudos. Eu não vejo um laudo, eu vejo pessoas”.
Com um testemunho contundente, Patrick expôs o sentimento recorrente de solidão por ser, com frequência, o único professor com deficiência nos espaços acadêmicos. “Onde estão as pessoas com deficiência? Por que não estão aqui?”, questionou. Ele defendeu uma virada de chave na forma como enxergamos a compaixão. A partir da leitura de Nietzsche, contrapôs a compaixão piedosa que inferioriza à compaixão solidária, que caminha junto, sem decidir pelo outro. “A inclusão não pode ser um gesto de caridade isolado. Deve ser um ato de reconhecimento da potência que cada um carrega. Ter pessoas com deficiência ou de grupos estigmatizados entre nós amplia a força do coletivo”, afirmou.
Currículo antirracista como expressão de fé
Na sequência, a professora Rosemary Francisca, doutora em Ciência da Religião, propôs um olhar direto e corajoso sobre o racismo nas instituições
educacionais católicas. “O racismo é uma negação da nossa fé. Se cremos que todos são um em Cristo, não podemos normalizar estruturas que silenciam e excluem.”
Defendendo que “ser negro ou negra é um ato diário de resistência”, ela apresentou um plano prático para construção de um currículo antirracista, destacando a urgência de ações, como a formação continuada de professores; a revisão dos materiais didáticos; a criação de espaços de escuta e participação ativa de estudantes negros; a celebração da diversidade no projeto pedagógico; a presença de lideranças negras nos quadros da escola.
“Um currículo antirracista é o evangelho encarnado. É o Reino de Deus começando nas salas de aula”, declarou, ao lembrar que a luta contra o racismo não é ideológica, mas profundamente cristã.
Encerrando a mesa, a pedagoga Suely Menezes, conselheira do Conselho Nacional de Educação, reforçou a importância de articular os princípios da educação católica com os da inclusão, sem perder de vista o cenário atual.
“O mundo mudou. A escola precisa mudar também. Estamos preparando nossos alunos para conviver com o mundo como ele é, com suas tecnologias, complexidades e pluralidades?”, provocou. Para Suely, a dignidade humana é o eixo simbólico que une a missão católica à proposta inclusiva.
“A pluralidade não é obstáculo; é a condição real para o desenvolvimento humano e espiritual.”
Ela também enfatizou que o desafio da escola católica hoje é conviver com a diferença: de ideias, culturas, religiões, sexualidades. Segundo a professora, a inclusão está alinhada com os princípios católicos. “Não se trata de tornar as pessoas parecidas, mas de respeitar e valorizar o que cada um é”, afirma.
Educação inclusiva na educação católica
Um estudo aprofundado da ANEC, realizado em 2025, revelou dados importantes sobre a Educação Inclusiva nas escolas católicas do Brasil.
Leia o relatório na íntegra, lançado durante o Congresso, escaneando o QR Code ao lado.
Confira o VideoCast sobre Educação inclusiva com os palestrantes Patrick Wagner, Rosemary Francisca e Suely Menezes.
Educação em tempos de emergência climática: a agenda da ecologia integral na gestão, no currículo e na formação de atitudes para uma consciência planetária
A 4ª mesa-redonda do VII Congresso Nacional de Educação Católica tratou do tema “Educação em tempos de emergência climática: a agenda da ecologia integral na gestão, no currículo e na formação de atitudes para uma consciência planetária”. O encontro reuniu Marina Oliveira, Aleluia Heringer e Ir. Afonso Murad, que dialogaram sobre o papel das instituições educacionais católicas diante da crise climática e dos desafios de implementação da ecologia integral, conforme os princípios da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.
A emergência climática foi apresentada como uma realidade já em curso, exigindo ações concretas, tanto nas práticas pedagógicas quanto na gestão institucional. Os palestrantes convergiram ao apontar a necessidade de que a ecologia integral esteja integrada de forma transversal no cotidiano escolar, como uma postura ética, espiritual e educativa. O evento propôs um olhar crítico sobre como as escolas têm contribuído — ou deixado de contribuir — para a formação de uma consciência planetária.
Ao longo da mesa, foram abordadas experiências
concretas, critérios de autoavaliação e propostas pedagógicas que articulam currículo, gestão, espiritualidade e comunidade. As falas dos três palestrantes trouxeram elementos complementares para pensar a ecologia integral como eixo estruturante da missão educativa das escolas católicas.
A primeira fala da mesa foi de Marina Oliveira, coordenadora do Movimento pela Ética Ambiental e moradora de Brumadinho (MG). Sua trajetória pessoal foi marcada pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em 2019, tragédia que afetou profundamente a sua comunidade.
A partir dessa vivência, ela trouxe reflexões sobre os impactos ambientais e sociais da lógica extrativista e o papel das escolas na formação de sujeitos comprometidos com o cuidado da Casa Comum. “Não dá mais para ter um projeto bonito na escola e, ao mesmo tempo, não ter coleta seletiva, não ter cuidado com a energia, não discutir com os estudantes o que é a crise ambiental.”
Marina afirmou que o território precisa ser parte do currículo escolar, no qual os processos educativos devem considerar os contextos locais e as realidades vividas pelas comunidades. Ela enfatizou que a educação ambiental não pode ser somente informativa, mas transformadora. “Estamos em um momento em que a emergência climática exige que a escola seja formadora de uma nova mentalidade, de novos hábitos”, afirma.
Durante sua fala, Marina defendeu que a ecologia integral precisa se expressar na forma como a escola se organiza, se alimenta, consome e constrói relações. Para ela, o discurso ambiental nas instituições educativas deve se traduzir em práticas cotidianas coerentes, para não perder seu valor pedagógico.
Currículo, gestão e protagonismo institucional
Na sequência, a professora Aleluia Heringer, doutora em educação (UFMG) e ambientalista, aprofundou o debate ao provocar uma reflexão sobre a presença real — e não apenas retórica — da ecologia integral nos projetos pedagógicos e na organização das instituições educativas. Partindo da pergunta “a agenda ecológica está posta na nossa programação?”, ela desafiou os educadores a perceberem a distância entre o discurso e a prática cotidiana. “Grande parte tem [a ecologia integral nos referenciais], mas ainda é discurso. Nós precisamos fazer com que isso sejam práticas vivas.”
Para Aleluia, a formação para a consciência planetária precisa começar pela gestão e pelo currículo. Ela defendeu que a ecologia integral exige uma mudança de estilo de vida, de cultura e de atitude, não sendo possível delegar essa responsabilidade a setores isolados da escola.
Ela ainda destacou que a emergência climática é paradoxal: “É a emergência mais fajuta que existe. A sirene está tocando, o corpo de bombeiros e a ambulância estão vindo com todo vapor, e todo mundo fazendo ‘cara de peixe’. Ninguém reage.” Para ela, essa imobilidade diante da crise climática revela uma desconexão entre o conhecimento disponível e a ação concreta, e a educação tem papel decisivo para reverter essa lógica.
A palestrante também enfatizou a importância da responsabilidade institucional e do planejamento estratégico. “Vocês, presidentes, diretores, coordenadores, têm uma responsabilidade a mais. Vocês determinam espaços, tempos, estrutura, orçamentos”,
destaca. A agenda ecológica, segundo ela, só entra na escola se for entendida como valor, e não apenas como resposta a pressões externas. “Se a cultura ecológica não nos toca existencialmente, ela não vai entrar na pauta.”
No campo curricular, Aleluia alertou para a necessidade de rever os itinerários formativos, questionando a coerência entre escolaridade e sustentabilidade. “Os países e as pessoas com mais escolaridade no mundo são as que mais aceleram a mudança climática. Se ter escolaridade significa viver de forma insustentável, devemos rever nossas noções sobre o que significa ser educado”, explica.
Como exemplo de prática concreta, ela compartilhou uma experiência da Rede Lius, dos agostinianos de Minas Gerais, onde os coordenadores pedagógicos mapearam sistematicamente como e onde a temática ecológica era abordada em cada etapa da educação básica. Esse diagnóstico permitiu avaliar e planejar a alfabetização ecológica dos estudantes durante a sua jornada educativa.
Encerrando a mesa, Ir. Afonso Murad, professor universitário e pesquisador na Faculdade Jesuita (FAJE), logo no início de sua intervenção, convocou os presentes a uma postura de esperança ativa. “Acho que a gente tem que estar alegre, porque vários de nós que estamos aqui já começamos um movimento de ecologia integral que repercute de frente com a questão das mudanças climáticas”, destaca. Uma das principais provocações do religioso foi o chamado a superar uma abordagem limitada ao currículo e avançar em direção a mudanças concretas na infraestrutura e na cultura institucional. Ele propôs uma autoavaliação prática, sugerindo que os participantes atribuíssem notas de 0 a 2 ou 0 a 1 em diferentes dimensões da atuação escolar em relação à ecologia integral — como currículo, espiritualidade, energia, resíduos, alimentação, arborização e transporte.
Ao abordar o currículo, Ir. Murad enfatizou a importância das atividades interdisciplinares que integrem os saberes em torno da ecologia, destacando que essa integração deve acontecer desde a educação infantil até o ensino médio. Contudo, ele foi além da dimensão pedagógica, argumentando que a mudança precisa alcançar também o coração e a sensibilidade. “Para mudar a nossa mentalidade, o nosso coração, a gente precisa de experiência sensível. Isso nos leva a esse encantamento, à conversão.”
Ele criticou práticas escolares que ignoram a natureza, mesmo quando cercadas por ela, e reforçou que a espiritualidade ecológica nasce do encantamento, do louvor à criação, da consciência de fazer parte da Terra. “A gente não se deu conta de que a espiritualidade ecológica é essa da gratidão, do louvor a Deus, do se sentir parte”, ressaltou.
Encerrando sua fala, o Ir. Murad fez um chamado enfático à conversão e ao compromisso prático com a ecologia integral. “Nosso desejo é que, ao sair daqui, cada um vá para casa, para o seu colégio, para a sua mantenedora, e dê um passo a mais no sentido da ecologia integral. Nós não podemos voltar para casa do mesmo jeito que a gente chegou”, conclui.
Assista aos destaques da manhã do segundo dia, escaneando o QR Code ao lado.
Salas temáticas focadas em temas fundamentais
O Congresso contou com uma ampla programação de salas temáticas, direcionadas à Educação Básica, ao Ensino Superior e às Mantenedoras. A seguir, você confere os temas discutidos em cada uma delas.
Construindo itinerários de diálogo entre a família e a escola na sociedade hiperconectada
Durante a palestra “Construindo itinerários de diálogo entre a família e a escola na sociedade hiperconectada”, o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey fez um chamado direto e necessário: escolas e famílias precisam reatar laços, mas sem ilusões. Segundo ele, a escola não pode ser refém de famílias adoecidas emocionalmente, nem abrir mão de seus valores fundamentais. Ao mesmo tempo, não deve tratar os pais como inimigos, e sim como parceiros essenciais, ainda que frágeis.
Considerado um fenômeno nas redes sociais, o psicólogo destacou que muitos pais, hoje, estão perdidos. Literalmente, não sabem como lidar com os próprios filhos e terceirizam a educação emocional para a escola. “Quando um pai diz ‘não sei o que fazer com essa criança’, não é uma metáfora. Eles estão perdidos. E nós não podemos olhar para a família como inimiga, mas como um índice importante da escola, que precisa ser acolhido e convidado a amadurecer”,
Klinjey complementou essa visão, alertando para a idealização equivocada de ambos os lados. “A escola idealiza a família, a família idealiza a escola. Mas temos que lidar com o que é real”, disse. Entre as sugestões práticas, o especialista propôs que as escolas chamem as famílias não só para apontar problemas, mas também para celebrar acertos, compartilhar estratégias que funcionam e construir redes de apoio. O letramento emocional, que algumas escolas já vêm adotando, também precisa incluir os pais. Afinal, educar é missão compartilhada — e urgente.
Segundo Rossandro, o papel da escola católica é manter firme seus valores inegociáveis, mesmo diante da pressão de pais que, muitas vezes, querem pautar a instituição segundo suas fragilidades ou expectativas idealizadas. “Acolher não é se submeter. A escola precisa se manter como referência. Especialmente a escola católica, que tem uma missão que não é apenas transmitir conhecimento, mas formar pessoas”. O psicólogo também criticou o abandono emocional por parte das famílias e a terceirização da educação afetiva para a escola. Disse que muitos pais alegam
falta de tempo, mas, na prática, priorizam mal. “Eu costumo dizer aos pais: se você der 10% do tempo que dá para o celular ao seu filho, sua casa já começa a mudar. O problema não é a falta de tempo — é onde estamos colocando esse tempo”, afirmou.
Klinjey ainda reforçou que o envolvimento das famílias é essencial para o sucesso da educação, e que esse envolvimento não pode acontecer só em reuniões de crise. “A escola precisa chamar os pais também para dizer o que está dando certo, compartilhar boas estratégias, criar redes de apoio. Temos uma rede enorme, com muito saber acumulado. Precisamos usar isso”, finalizou.
Responsabilidade compartilhada e escuta ativa
Com base em sua experiência à frente da Educa — programa de educação socioemocional que já impacta mais de 200 mil alunos em todo o Brasil —, Klinjey compartilhou que tem sido possível construir “itinerários que acolhem, orientam e acompanham”, especialmente quando há “espaço real para presença, escuta e confiança”.
O professor apresentou cinco pontos essenciais para fortalecer a aliança entre família e escola:
• “Estabelecer canais de escuta ativa e verdadeira entre escola e família”.
• Educar emocionalmente os adultos envolvidos no processo educativo”.
• “Fomentar espiritualidade vivida dentro das famílias, para que o Evangelho não seja apenas conteúdo, mas cultura relacional”.
• “Valorizar a corresponsabilidade, entendendo que o sucesso formativo não é fruto da excelência de um lado só, mas do compromisso conjunto”.
Entre os canais de escuta, destacou que a comunicação digital “pode ser uma ponte maravilhosa — se usada com consciência e sensibilidade”. No entanto, fez um alerta importante: “comunicar não é apenas transmitir dados: é nutrir relações”.
Nesse sentido, ele defende que os canais digitais sejam repensados a partir de uma lógica relacional, e não meramente informativa. “Hoje, mais do que nunca, pais e educadores precisam de canais que sejam simples, acessíveis e afetivos. Que permitam não apenas saber ‘como foi o boletim’, mas também perguntar ‘como está o coração’”, explicou.
Embora reconheça os limites da comunicação virtual, o professor acredita que ela pode humanizar o contato entre escola e família, desde que “mantenha a empatia como norte”. Assim, mesmo à distância, é possível
Construindo pontes, semeando a tolerância: o currículo do Ensino Religioso na promoção do respeito e da coexistência pacífica
A convivência em sociedades marcadas pela diversidade cultural e religiosa exige da educação um compromisso cada vez mais claro com a formação para o respeito e a tolerância. Diante dos desafios impostos pela intolerância, pelo extremismo e pelas múltiplas formas de discriminação, o espaço escolar torna-se estratégico na construção de uma cultura de paz. É nesse cenário que o Ensino Religioso assume um papel pedagógico de grande relevância.
Nas instituições confessionais, cuja missão educativa está intrinsecamente vinculada a valores como o diálogo, a justiça e a solidariedade, o Ensino Religioso pode e deve ir além da transmissão de conteúdos doutrinários. Ele se apresenta como um componente curricular capaz de oferecer aos estudantes ferramentas para compreender o mundo em sua pluralidade e para desenvolver competências socioemocionais fundamentais à convivência ética e democrática.
A palestra “Construindo pontes, semeando a tolerância: o currículo do Ensino Religioso na promoção do respeito e da coexistência pacífica”, ministrada por Francine Porfirio, psicóloga clínica e mestra em educação, convida educadores a refletirem sobre essa
função formadora do Ensino Religioso. A partir de uma abordagem crítica e metodologicamente fundamentada, a proposta da palestrante é destacar caminhos para que o currículo contribua efetivamente na superação da intolerância e na promoção do diálogo inter-religioso e intercultural.
O Ensino Religioso como eixo formativo para a cultura de paz
Porfirio parte da compreensão de que “a intolerância é um fenômeno estrutural e cultural”, cuja presença nas escolas não pode ser ignorada. Segundo ela, é preciso “reconhecer essas expressões de preconceito, discriminação e extremismo” e enfrentá-las por meio de estratégias educativas consistentes. O Ensino Religioso, nesse sentido, torna-se uma ferramenta pedagógica fundamental por sua capacidade de mediar o contato com diferentes tradições religiosas e filosofias de vida, oferecendo ao estudante uma compreensão mais ampla da pluralidade cultural e espiritual da sociedade.
A palestrante ressalta que esse componente curricular, quando orientado pelas Ciências da Religião,
“expõe os alunos ao conhecimento estruturado das diversas tradições religiosas e filosofias de vida como patrimônios culturais das sociedades”. A partir de uma abordagem laica, plural e reflexiva, esse conhecimento permite aos estudantes perceberem o fenômeno religioso como expressão legítima da experiência humana e, com isso, desenvolverem uma postura crítica e respeitosa frente à diversidade.
Além do conteúdo em si, a especialista destaca a importância das metodologias utilizadas na sala de aula. Ela argumenta que “as metodologias ativas de ensino passam a ser estrategicamente necessárias” diante de um cenário em que crianças e adolescentes estão expostos a altos níveis de estresse, acarretando desregulação emocional e baixa capacidade de controle de impulsos. Nesse contexto, o Ensino Religioso pode contribuir para a formação intelectual, além de promover saúde emocional e convivência ética no espaço escolar.
Educação para o respeito: fundamentos e práticas
Entre os materiais que embasam sua abordagem, Porfírio mencionou a coleção Cadernos Pedagógicos para o Ensino Religioso, publicada pela Editora Vozes. A obra apresenta roteiros de atividades e propostas metodológicas voltadas ao desenvolvimento das competências socioemocionais e do respeito à diversidade religiosa.
A obra apresenta roteiros de atividades e propostas metodológicas voltadas ao desenvolvimento das competências socioemocionais e do respeito à diversidade religiosa. Segundo a palestrante, trata-se de um material “coerente com as habilidades socioemocionais que se quer ensinar por meio deste componente curricular aos alunos”, favorecendo relações mais saudáveis entre os estudantes e um ambiente escolar mais acolhedor.
Na palestra, ela também enfatizou o papel do Ensino Religioso na promoção de uma consciência crítica sobre o amor ao próximo em contextos de diversidade e conflito. “Ao entrar em contato com diferentes cosmovisões e valores éticos presentes nas tradições religiosas, os alunos são levados a refletir criticamente sobre a prática do amor ao próximo e reconhecê-la como um princípio ético comum”, explicou. Essa prática se expressa na promoção do diálogo, da empatia e da não violência — valores fundamentais para a construção da paz em contextos educativos.
Por fim, a palestrante considera essencial que o currículo do Ensino Religioso seja compreendido como base para a superação da violência simbólica e estrutural que afeta o ambiente escolar. Para ela, vivemos um tempo em que “a violência social invade cada vez mais o espaço escolar”, e por isso é imprescindível uma ação educativa que vá além da instrução formal, promovendo o respeito e a coexistência pacífica como princípios norteadores da prática pedagógica.
A compreensão do sofrimento psíquico e o cuidado com a Saúde Mental: o que queremos por Projeto de Vida e humanismo solidário?
A compreensão do sofrimento psíquico e o cuidado com a saúde mental foi tema de uma das quinze salas temáticas do VII Congresso Nacional de Educação Católica. O assunto foi abordado pelo psicólogo Aldi Roldão, mestre em Psicologia Social e do Trabalho e doutor em Direitos Humanos e Cidadania.
Aldi conduziu uma reflexão importante sobre o sofrimento psíquico na contemporaneidade, propondo uma abordagem
que vai além da ótica individual e fisiológica. Para ele, é necessário compreender esse sofrimento como um fenômeno coletivo e próprio do nosso tempo, que exige soluções igualmente atuais — fundamentadas na humanização e na solidariedade.
Segundo o psicólogo, a escola católica tem um diferencial valioso nesse processo: ela pode ser um espaço de formação integral, capaz de contribuir para a construção de um "homem novo para um mundo novo". Essa missão ganha ainda mais relevância no cenário pós-pandemia, em que a saúde mental tornou-se uma urgência evidente, especialmente entre crianças e adolescentes.
“O primeiro passo”, afirmou o psicólogo, “é desenvolver processos de escuta ativa e de presencialidade.” Segundo ele, o distanciamento social agravou o isolamento emocional, prejudicando seriamente o bem-estar psíquico dos alunos.
Por isso, recuperar a importância do contato humano, da escuta atenta e da presença real — não apenas física, mas afetiva e acolhedora — é essencial para qualquer escola que deseje cuidar de verdade.
Em um tempo marcado por ansiedade, solidão e sobrecarga emocional, Aldi Roldão aponta o caminho: mais presença, mais escuta e mais humanidade. E nisso, a escola católica tem muito a oferecer além de uma instituição de ensino, em especial como espaço de cuidado, fé e esperança.
“A pandemia nos trouxe um aumento do distanciamento, um aumento do isola-
A palestra “Mercado de capital aberto, concorrência e estratégias de mercado para a educação católica”, ministrada por Christian Coelho — especialista em estratégias de desenvolvimento de negócios e inovação no setor educacional —, trouxe uma análise detalhada sobre o cenário competitivo do setor educacional e os caminhos para a sustentabilidade das instituições confessionais.
Durante a sua exposição, o palestrante apresentou dados que evidenciam as recentes transformações no mercado educacional brasileiro e os impactos diretos sobre as escolas católicas. Ele destacou que a entrada de grandes grupos e investidores intensificaram a concorrência, exigindo estratégias eficazes para se posicionar sem abrir mão de seus valores. Além disso, fatores, como a queda na taxa de natalidade e o fortalecimento de parcerias público-privadas, reduziram o público-alvo potencialmente no mercado educacional.
Conforme explica Coelho, apesar de 2024 ter registrado um crescimento de 7% no número de alunos na rede
privada, as escolas católicas apresentaram um desempenho abaixo da média — principalmente na captação de novos estudantes. “Temos instituições que entregam um ensino consistente e profissionais experientes, mas que ainda falham em comunicar isso ao mercado. O desafio não está no que oferecem, mas em como se posicionam.”
A importância da modernização e presença digital Nesse contexto, a modernização das abordagens comerciais e de marketing se torna indispensável. O palestrante ressaltou a importância de construir uma presença digital, fortalecendo a comunicação e a captação de alunos. A adoção de estratégias de branding e storytelling também contribuem para reforçar a identidade institucional e a conexão emocional com o público-alvo.
Outro ponto relevante abordado foi a Teoria do Oceano Azul e Oceano Vermelho, de W. Chan Kim e Renée Mauborgne. Coelho explicou que o setor educacional passou de um ambiente de baixa concorrência (Oceano Azul) para um mercado
altamente competitivo (Oceano Vermelho). Para evitar uma disputa baseada apenas em preços, as instituições católicas devem apostar na qualidade do ensino, na excelência dos serviços e no fortalecimento da experiência do aluno e da família.
Estratégias para sustentabilidade e crescimento
O sucesso dessas escolas depende da implementação de diretrizes estratégicas bem definidas, que envolvem melhorias na gestão, um atendimento comercial eficiente, parcerias estratégicas e uma comunicação mais estruturada. Pequenos problemas administrativos, como a alta rotatividade de professores e falhas na comunicação interna, podem comprometer a imagem da instituição, tornando essencial a busca por excelência em todas as áreas.
Segundo o especialista, para o planejamento de 2025/2026, as escolas confessionais devem reforçar
sua identidade institucional por meio de uma abordagem coesa e bem estruturada. A construção de uma imagem forte, aliada a um atendimento eficiente e a uma comunicação clara, será determinante para consolidar sua relevância no mercado. “Profissionalizar a área comercial e investir em marketing digital não é abrir mão da essência. Pelo contrário: é garantir que mais famílias conheçam a proposta de formação integral das escolas católicas”, ressaltou.
Diante desse cenário desafiador, Christian destaca que o alinhamento entre tradição e inovação é o caminho para o fortalecimento das instituições católicas. “O investimento em comunicação, captação estruturada e ensino de excelência será essencial para garantir a sustentabilidade e atrair um público que valoriza a formação integral oferecida por essas escolas”, conclui.
Gestão do CEBAS: longevidade organizacional com compromisso social na educação
de Educação”, ministrada por Liliane Pellegrini, execu tiva com ampla experiência em Sustentabilidade, Governança, Diversidade & Inclusão, e Luciana Fernandes, profissional com vasta experiência no Terceiro Setor, aprofundou a compreensão sobre a certificação como parte integrante da missão institucional das entidades educacionais filantrópicas.
O tema foi abordado sob perspectivas diferentes, mas complementares: de um lado, os desafios administrativos e legais da gestão eficiente do CEBAS; de outro, o reconhecimento do instrumento como política pública e expressão da responsabilidade social das instituições de ensino.
“O CEBAS representa mais do que um mecanismo jurídico de acesso à imunidade tributária: é um
A apresentação também evidenciou a importância de integrar o CEBAS à gestão organizacional como um processo contínuo, transparente e colaborativo. Trata-se de uma exigência que ultrapassa o cumprimento de metas quantitativas, como a oferta de bolsas de estudo, para alcançar também aspectos qualitativos, como o impacto social do ensino oferecido, a governança responsável e o diálogo com os públicos de interesse. Ao fazer isso, a certificação assume um papel estruturante na atuação institucional, contribuindo para a longevidade das organizações educacionais e para o cumprimento de sua função social em contextos de crescente vulnerabilidade.
CEBAS: Gestão, cultura organizacional e responsabilidade social
Sob a ótica de Luciana Fernandes, o foco recai sobre a necessidade de uma gestão eficiente do CEBAS, que compreenda a certificação não como um fim, mas como meio para promover a longevidade organizacional e impactos sociais relevantes. Essa gestão exige atenção aos critérios legais, como a oferta de bolsas de estudos e benefícios , a manutenção de escrituração contábil regular, a comprovação documental das atividades e a prestação de contas periódicas. Tais práticas devem ser parte da rotina institucional, articuladas a uma visão estratégica e integrada à cultura organizacional.
Fernandes reforçou que o CEBAS deve estar inserido no “DNA” da instituição, como expressão de um compromisso contínuo com a inclusão educacional. O cumprimento da legislação é, portanto, o ponto de partida — não o ponto de chegada. A certificação, quando conduzida de forma estratégica, se torna um mecanismo de fortalecimento institucional e de coerência entre os valores anunciados e as práticas efetivamente realizadas. É nesse sentido que o CEBAS contribui para consolidar uma gestão orientada por missão, integridade e impacto social.
Liliane Pellegrini, por sua vez, abordou o CEBAS a partir de uma perspectiva histórica e política, compreendendo-o como uma política pública consolidada, ainda que nem sempre reconhecida formalmente como tal. “Ao longo da nossa história, as entidades filantrópicas, hoje conhecidas como portadoras do CEBAS, atenderam as necessidades da população que o sistema de governo da época não estava apto a prover, tornando-se parceiras do Estado na execução de políticas públicas nas áreas de Educação, Saúde e Assistência Social”, explica. Nesse contexto, além de legitimar a atuação das entidades, o CEBAS atua no reconhecimento de sua contribuição concreta e
duradoura para a construção de uma sociedade mais justa.
A palestrante apontou ainda que, embora a contrapartida da imunidade tributária seja definida por parâmetros objetivos, como a concessão de bolsas de estudo, a responsabilidade social vai além da métrica quantitativa. A qualidade do ensino ofertado, o atendimento às necessidades complexas das famílias em vulnerabilidade e o diálogo constante com os beneficiários são dimensões que ampliam o alcance da política pública. Por isso, é necessário que as instituições estejam preparadas para escutar e responder às expectativas dos públicos que atendem, incorporando essas demandas em suas práticas educacionais e sociais.
A palestra reforçou que o CEBAS, longe de ser um procedimento meramente burocrático, é um instrumento de transformação institucional, cujo potencial está vinculado à sua compreensão como parte do projeto educativo, da cultura organizacional e do compromisso com a justiça social. Para as instituições confessionais, isso implica manter viva a coerência entre missão e gestão, entre evangelização e responsabilidade social, entre fé e serviço. É nesse entrelaçamento que o CEBAS encontra seu sentido e sua relevância para o presente e o futuro da educação filantrópica no Brasil.
expansão das instituições católicas”, ministrada por Fabrício Félix, especialista em marketing. A atividade propôs um olhar técnico e aprofundado sobre o marketing como ciência aplicada às estratégias de gestão.
Ao apresentar o marketing como ciência e não como um conjunto de ações promocionais, a palestra apontou caminhos para que instituições confessionais possam ampliar sua presença no mercado educacional, mantendo sua essência evangelizadora. A experiência do estudante, a coerência da proposta institucional e a percepção de valor da marca tornam-se, nesse contexto, componentes-chave de um processo articulado entre análise do contexto mercadológico, implementação de recursos tecnológicos de marketing, ideias criativas de comunicação, ações de atração, conversão e nutrição de relacionamentos e análise de performance da marca.
A centralidade da temática para o setor educacional católico reside justamente na necessidade de construir estratégias sustentáveis, que fortaleçam a missão institucional, ao mesmo tempo, em que respondam com profissionalismo às dinâmicas do mercado. Para isso, é necessário compreender o marketing não como antagonista da espiritualidade, mas como instrumento técnico capaz de traduzir com clareza os valores cristãos em linguagem acessível, relevante e eficaz.
tais: C.ontexto, R.ecursos, I.deias, A.ções e R.esultados. Essa estruturação permite identificar os pontos fortes e vulneráveis da atuação institucional, enquanto orienta o desenvolvimento de estratégias integradas, alinhadas às demandas do mercado e aos valores cristãos da organização.
O “Contexto” diz respeito à compreensão do ambiente no qual a instituição está inserida: o mercado educacional, os concorrentes, os perfis das personas e, sobretudo, a clareza sobre a proposta de valor que diferencia a marca. Já os “Recursos” referem-se tanto à estrutura humana quanto às ferramentas tecnológicas que viabilizam a implementação de estratégias com eficiência — um ponto sensível em muitas instituições que precisam equilibrar investimento com as novas tecnologias que se atualizam a cada dia.
As “Ideias” representam a etapa de criação: o desenvolvimento de narrativas, conteúdos, interfaces e experiências que traduzem o posicionamento institucional de forma relevante. A partir delas, são desenhadas as “Ações”, ou seja, os processos operacionais de atração, conversão e relacionamento com os diversos públicos — especialmente os estudantes em potencial. Por fim, os “Resultados” fecham o ciclo metodológico ao incorporar indicadores de desempenho, pesquisas de percepção e análises preditivas que orientam ajustes de rota com base em evidências.
O grande diferencial da metodologia, segundo Félix, está no seu caráter analítico e estratégico. O modelo oferece dois frameworks complementares: um diagnóstico gráfico da efetividade do marketing (considerando a relação entre eficiência e eficácia das ações institucionais) e um guia para o desenvolvimento de planos estratégicos baseados em dados. A proposta permite, por exemplo, identificar se uma marca está em uma zona de risco, obsolescência, oportunidade ou liderança, favorecendo decisões mais seguras e alinhadas com o planejamento institucional.
Entre a marca e o mercado: o marketing como ponte
Um dos pontos centrais da palestra foi a reflexão sobre o papel do marketing na mediação entre os princípios educativos católicos e as exigências do ambiente mercadológico. Para o especialista, o marketing, quando compreendido em sua dimensão científica, pode ser um poderoso aliado na missão evangelizadora das instituições. Isso porque ele não impõe uma narrativa artificial sobre a marca, mas potencializa sua autenticidade, tornando sua proposta de valor mais visível, compreensível e relevante para os públicos com os quais se relaciona.
Nesse sentido, o marketing deixa de ser um conjunto de táticas promocionais para se tornar um campo de decisão estratégica. Ele é o espaço no qual a instituição reafirma seus princípios — como o compromisso com a formação integral, a ética cristã, a solidariedade e o humanismo — e os traduz em propostas pedagógicas, experiências de acolhimento e trajetórias significativas para seus estudantes. Ao fazer isso, contribui diretamente para a fidelização, para o fortalecimento do pertencimento e para a sustentabilidade da missão educacional católica no longo prazo.
“Marketing é uma ciência atemporal e contra-intuitiva, que transcende sobrenomes e tendências geracionais. Marketing é marketing, e pronto. Seja qual for a ferramenta ou tecnologia utilizada, os princípios fundamentais do marketing permanecem os mesmos”, explica.
“Marketing atemporal não se prende a rótulos, sobrenomes, prefixos ou sufixos (...) Deve adaptar suas bases científicas a qualquer contexto para criar estratégias efetivas às demandas do seu tempo. Afinal, a evolução do mundo acontece em escala exponencial, com novas tecnologias, novos comportamentos dos consumidores, novas demandas e infinitas possibilidades”, conclui.
A crescente complexidade do cenário da educação superior no Brasil, marcada por transformações econômicas, mudanças regulatórias e novas demandas do mercado de trabalho, tem exigido das instituições de ensino uma postura cada vez mais estratégica. Foi nesse contexto que se inseriu a palestra “Financiamento e gestão da educação superior: o mercado educacional, os cenários econômicos e as alternativas”, ministrada por Márcio Sanchez, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista no setor. A apresentação, baseada em estudos conduzidos pelo Semesp, buscou oferecer um panorama das principais tendências do setor e propor caminhos possíveis para lidar com os desafios atuais e futuros.
A partir de uma análise baseada em dados do Mapa do Ensino Superior e de uma pesquisa com especialistas do setor, Sanchez organizou sua palestra em torno de dois eixos principais: a caracterização do mercado educacional, com ênfase na evolução da oferta e da demanda por cursos, e a discussão sobre os modelos de financiamento mais adequados à realidade socioeconômica dos estudantes. Neste sentido, a proposta central foi apresentar estratégias que auxiliem as instituições, especialmente aquelas de pequeno e médio porte, a encontrar alternativas sustentáveis diante da redução de recursos públicos e do aumento da concorrência.
Para as instituições confessionais, em especial as filantrópicas, o conteúdo da palestra se mostra particularmente relevante. Em um momento em que o financiamento público, como os programas FIES e Prouni, perde espaço e os estudantes enfrentam dificuldades para arcar com os custos da formação, essas instituições possuem diferenciais que podem e devem ser valorizados. A capacidade de oferecer bolsas com recursos próprios, ancorada no compromisso social e em marcos legais específicos, pode representar uma vantagem competitiva decisiva — desde que acompanhada por uma gestão estratégica e tecnicamente preparada para lidar com os desafios do setor.
“Gosto sempre de lembrar que o futuro é incerto, mas podemos buscar sinais no presente e no passado para tentar construir um cenário mais consciente. Pode parecer que estamos olhando pelo retrovisor, mas é justamente ali que vemos os sinais dos desafios que as instituições terão que enfrentar nos próximos anos”, destacou Sanchez.
Entre os principais movimentos observados na evolução recente da educação superior brasileira, destaca-se o crescimento dos cursos da área da saúde,
com ênfase especial para Psicologia. Esse crescimento, impulsionado por fatores relacionados à pandemia e à valorização de temas ligados ao bem-estar, tem se mantido consistente, mesmo diante das limitações de vagas. Ainda nesse eixo, o curso de Medicina continua apresentando alta demanda, embora o aumento da oferta — em grande parte judicializada — esteja forçando instituições a reverem preços e modelos de gestão.
Outro ponto relevante é a persistente atratividade do curso de Direito, sobretudo no período noturno. Mesmo com mudanças no mercado e nos perfis de formação, a procura por esse curso permanece estável, o que o torna uma aposta segura para instituições que buscam manter um portfólio competitivo. “Hoje, uma instituição que tem uma boa estrutura na área da saúde e um curso de Direito consolidado no período noturno está com um mix bastante favorável”, ressaltou o palestrante.
Em paralelo, ganha força o campo das Tecnologias da Informação, devido à crescente exigência por formações mais orientadas ao mercado de trabalho. “Muitos alunos que antes escolhiam Engenharia estão migrando para TI, e aqueles que buscavam Administração — um curso mais genérico e voltado para múltiplas áreas — estão preferindo cursos tecnológicos mais objetivos, como Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Sistemas de Informação, Inteligência Artificial, entre outros”, explica Sanchez.
Em contraste com essas tendências de crescimento, o especialista destaca que os cursos de Engenharia, Administração e Áreas Contábeis têm apresentado desempenho abaixo do esperado. “Fora algumas exceções de instituições tradicionais e especializadas, a maioria das escolas que têm esses cursos como carro-chefe enfrenta dificuldades para preencher vagas, especialmente no formato presencial.”
Segundo Sanchez, uma coisa que precisa ficar clara é que hoje, no Brasil, existem dois mercados muito bem definidos: o mercado do ensino presencial e o mercado do ensino à distância (EaD). Segundo os dados apresentados, as dez maiores instituições do setor são responsáveis por cerca de 90% da oferta e da captação de estudantes. Isso cria um ambiente competitivo e, ao mesmo tempo, de difícil sustentabilidade para instituições menores que tentam entrar nesse mercado sem escala ou diferenciação clara.
O palestrante explica que o modelo EaD é sustentado por margens muito baixas e exige eficiência operacional e forte investimento em tecnologia e marketing. Nesse contexto, as instituições que não conseguem atingir escala mínima, frequentemente, operam com prejuízo.
Além disso, a expectativa de lucro fácil nesse segmento contrasta com a realidade enfrentada por muitas instituições, que precisam rever suas estratégias ou buscar nichos mais específicos. Para Sanchez, a aprovação do novo Marco Legal do EaD é a alternativa que poderá trazer mudanças importantes nesse cenário.
Financiamento e alternativas institucionais
No que se refere ao mercado presencial, o palestrante destacou a crescente dificuldade dos estudantes com o financiamento de seus estudos. A pesquisa apresentada revela que, apesar do desejo da população jovem em ingressar na universidade, a barreira financeira continua sendo o principal obstáculo. Frente a esse cenário, muitas instituições recorrem ao desconto direto como estratégia de captação, o que acaba gerando um ciclo difícil de romper — tanto para a sustentabilidade financeira das instituições quanto para a autonomia dos estudantes.
“As pesquisas mostram que o aluno já chega à instituição esperando conseguir uma bolsa ou algum tipo de financiamento. E o que acontece? A solução mais comum acaba sendo o desconto. O aluno já vem com essa cultura de que ‘a única forma de eu estudar é com desconto’, e as instituições reforçam esse comportamento — o que vira uma profecia autorrealizável”, explicou.
Conforme apresentou Sanchez, as pesquisas apontaram que o aluno brasileiro tem receio de financiamentos bancários ou de instituições que não sejam a própria escola. Diante deste cenário, o especialista defende a substituição gradativa dos descontos por modelos estruturados de crédito próprio, que permitam aos estudantes diluir os custos da formação ao longo do tempo.
“As instituições precisam se preparar para oferecer gratuidade parcial com recursos próprios. Nesse sentido, as instituições confessionais, como as católicas, têm uma vantagem competitiva por serem filantrópicas. A filantropia precisa ser valorizada, por permitir oferecer bolsas de forma relativamente mais simples — trabalhosa, sim, mas eficaz”, afirmou. Sendo assim, ao conjugarem seu compromisso social com a flexibilidade administrativa, as instituições confessionais possuem maior capacidade de desenhar soluções sob medida para seus públicos.
Por fim, a palestra reforçou a importância de não abandonar por completo os programas públicos de financiamento e incentivo. Ainda que tenham perdido protagonismo nos últimos anos, iniciativas como o FIES e o Prouni seguem sendo relevantes para muitas instituições e podem compor um portfólio de soluções financeiras diversificadas.
futuro da formação docente e a expansão do ensino superior no Brasil. A crescente demanda por qualidade e coerência entre modalidades presenciais e virtuais, aliada à indefinição sobre as normas que devem nortear essa oferta, coloca as instituições de ensino diante de um cenário repleto de incertezas.
Foi nesse contexto que se inseriu a palestra “Os novos marcos regulatórios das licenciaturas e da educação a distância: a urgência da inovação, o desafio da consistência”, ministrada por Alexandre Nicolini, professor e pesquisador com atuação próxima aos órgãos reguladores e às políticas públicas da área.
Publicado em maio de 2025, o Decreto nº 12.456/2025 estabelece um novo marco regulatório para a oferta de cursos de EaD no país. A medida traz mudanças expressivas, com foco na melhoria da qualidade do ensino, além de reforçar a exigência de atividades presenciais e avaliações obrigatórias nas modalidades EaD e semipresencial.
“O novo marco da EaD passou por diversos adiamentos, e muitos esperavam um desastre. Mas houve diálogo, negociações e escuta. Quando enfim foi publicado, a maioria acolheu as mudanças. Quem saiu
estudante compra uma promessa, se endivida para pagar, e no fim não recebe nada em troca”, enfatiza.
Principais alterações do decreto
Atividades presenciais obrigatórias: todos os cursos EaD deverão incluir pelo menos 20% da carga horária em atividades presenciais ou síncronas, promovendo maior interação e engajamento dos estudantes.
Avaliações presenciais com peso significativo: as avaliações passam a ser realizadas de forma presencial por unidade curricular, impactando diretamente a nota final dos alunos.
Reformulação nos cursos de saúde e licenciaturas: cursos nessas áreas não podem mais ser ofertados integralmente a distância. A partir de agora, devem seguir os formatos presencial ou semipresencial, com práticas obrigatórias que assegurem a formação técnica e pedagógica adequada.
Abertura de polos vinculada à qualidade institucional: instituições com melhores avaliações no sistema de regulação poderão abrir um número maior de polos educacionais, incentivando a expansão com base em mérito.
Recredenciamento: extinção e prorrogação de prazos. Alguns processos regulatórios, como o recredencia mento tradicional e o específico para EaD, foram extintos. Os atos institucionais vigentes permanecem válidos até maio de 2027.
Para as instituições confessionais — em particular, aquelas com tradição na oferta de cursos de licencia tura — o tema reveste-se de importância ainda maior. A busca por uma formação integral, comprometida com valores éticos e com o desenvolvimento de competências profissionais, exige coerência entre o discurso institucional e as práticas pedagógicas.
Ao mesmo tempo, muitas dessas instituições atuam em regiões onde o EaD é, senão a única, uma das poucas formas viáveis de acesso à educação superior. Diante disso, compreender as mudanças em curso e os critérios que estão sendo discutidos para a regulação torna-se essencial para garantir a sustentabilidade e a relevância de seus projetos acadêmicos.
Regulação das licenciaturas: novas diretrizes e desafios da formação em serviço
A publicação de uma nova diretriz curricular e a aplicação de um Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) específico para os cursos de formação de professores indicam um movimento mais exigente por parte do Ministério da Educação.
Entre as principais mudanças, destaca-se a limitação da carga horária a distância a no máximo 50% do total do curso — o restante deve ocorrer de forma presencial. Mais do que uma simples exigência de localidade, essa diretriz visa valorizar a formação em serviço: o futuro professor deve vivenciar a prática em sala de aula, acompanhado por educadores experientes, de maneira semelhante ao estágio clínico nos cursos da área da saúde.
“Assim como o estágio clínico do enfermeiro é uma formação em serviço, o futuro professor também precisa de uma experiência prática ao lado de um professor experiente”, destacou Nicolini. Para ele, esse componente prático representa o cerne da formação docente de qualidade. No entanto, sua implementação enfrenta desafios, especialmente em regiões onde a oferta de escolas e de profissionais capacitados é escassa. “Em vários municípios onde o EaD leva capilaridade, não há estrutura suficiente, como escolas para estágios”, alertou.
A evasão nas licenciaturas expõe fragilidades do ensino à distância. Apesar do aumento expressivo nas matrículas de cursos de licenciatura na modalidade EaD, o número de concluintes segue praticamente estagnado. A evasão, já apontada como um obstáculo nacional, escancara os desafios enfrentados pela educação superior brasileira.
Instituições públicas permanecem sem crescimento significativo na oferta de vagas. Enquanto isso, as faculdades privadas com fins lucrativos assumem a liderança na formação de futuros professores. Contudo, o desempenho dessas instituições revela uma grave contradição: altas taxas de ingresso, mas baixíssimo índice de sucesso na conclusão dos cursos. Em outras palavras, captam mensalidades, mas não entregam o serviço completo.
O Enade é um termômetro relevante dessa realidade. Segundo dados recentes, 72% dos concluintes em cursos de pedagogia na modalidade EaD se formaram em instituições com conceito 1 ou 2 no exame — os mais baixos da escala. Isso significa que, a cada três novos professores, dois se diplomaram em cursos mal avaliados.
Ainda mais preocupante é o desempenho médio dos estudantes: apenas 36% de acertos na prova. Um cenário inquietante, considerando que esses profissionais estarão, teoricamente, à frente da educação de nossas crianças. A pergunta que ecoa é clara — estamos mesmo preparando educadores capazes de iluminar futuros?
Qualidade, desempenho e novas exigências
Dados recentes mostram que estudantes de EaD apresentam, em média, desempenho inferior ao de seus colegas do presencial em exames como o Enade.
“Dois em cada três estudantes que tiraram notas 1 e 2 no Enade em cursos de licenciatura vieram de cursos EaD”, observou o palestrante. Em outras áreas, como Administração, o cenário se repete. “Na administração, cerca de 68% com notas baixas são de cursos a distância.”
Além das questões tecnológicas, há também um desafio regulatório. Os referenciais de qualidade atualmente utilizados pelo MEC avaliam majoritariamente os processos institucionais: infraestrutura, planos de curso e qualificação docente. “A maioria das instituições tira notas altíssimas nesse aspecto. Mas isso não se traduz em desempenho dos estudantes”, pontuou Nicolini.
A solução, segundo ele, passa por uma regulamentação mais focada nos resultados de aprendizagem: “O que falta, então? Falta o governo estabelecer um padrão mínimo de desempenho, como fez no último Enade das licenciaturas. O edital já dizia que seria exigido um padrão mínimo. Só que isso ainda não foi regulamentado”.
Segundo ele, esse desempenho mais fraco é multifatorial. “Nas minhas pesquisas, percebo que instituições mais antigas têm melhor desempenho no Enade. Por quê? Porque têm um corpo docente mais estável, anos de experiência, metodologias consolidadas”, explicou. Mesmo com metodologias bem organizadas, o EaD enfrenta limitações. A chegada de novas tecnologias, como ferramentas de inteligência artificial generativa, adiciona uma camada extra de complexidade. “Com ferramentas como ChatGPT e Copilot, ficou ainda mais difícil para o professor avaliar se o aluno realmente aprendeu”, afirma.
Para as instituições confessionais, o momento é de atenção redobrada. Combinando compromisso social com capacidade de resposta institucional, essas entidades estão em posição favorável para liderar processos de inovação regulatória e acadêmica. Entretanto, para que isso ocorra, o especialista afirma que será necessário compreender em profundidade as transformações em curso, antecipar os impactos das novas exigências e construir respostas integradas que alinhem missão institucional, sustentabilidade financeira e qualidade acadêmica.
Lifelong learning, soft skills, educação híbrida, IA: o que as tendências do Ensino Superior 5.0 dizem do nosso presente e do nosso futuro
A revolução em curso no Ensino Superior desafia as instituições a repensarem seus modelos formativos diante de um cenário de rápidas transformações tecnológicas, sociais e culturais. A Educação 5.0, conceito que surge como resposta às exigências da sociedade 5.0, propõe um novo equilíbrio entre inovação e humanismo, entre tecnologia e propósito. Nesse contexto, temas como aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning), desenvolvimento de soft skills, educação híbrida e uso da inteligência artificial ganham centralidade nos debates educacionais contemporâneos.
A palestra de Vidal Martins, intitulada “Lifelong learning, soft skills, educação híbrida, IA: o que as tendências do Ensino Superior 5.0 dizem do nosso presente e do nosso futuro”, apresenta uma nova perspectiva sobre essas questões à luz da missão formativa das instituições confessionais. O encontro teve como proposta uma reflexão sobre o papel da educação na formação integral do ser humano, articulando competências técnicas e valores éticos e sociais.
Uma vez que a Educação 5.0 resgata a centralidade da pessoa e valoriza dimensões essenciais da formação humana, este tema se apresenta ainda mais relevante para as instituições confessionais. Em um ambiente onde a inteligência artificial e os modelos híbridos de ensino avançam rapidamente, permanece o desafio de educar para a autonomia, o discernimento ético e o compromisso com o bem comum.
Educação 5.0: tendências, desafios e a missão das instituições
A palestra começa com a apresentação do conceito de Educação 5.0, que será comparado aos modelos anteriores — da Educação 1.0 a 4.0. “A compreensão desse conceito passa pela comparação com os movimentos anteriores [...] e pela análise dos desafios da sociedade 5.0”, afirma. A partir dessa introdução, o palestrante aborda os impactos que esse novo paradigma já tem provocado no ensino superior e as principais tendências para os próximos
Ao analisar tendências como a aprendizagem contínua e a integração da inteligência artificial ao cotidiano acadêmico, Martins propõe uma leitura crítica e propositiva das transformações em curso, com atenção especial às oportunidades e riscos dessas ferramentas no ambiente universitário.
Um dos principais desafios apontados pelo palestrante diz respeito ao equilíbrio entre formação técnica e o desenvolvimento de competências socioemocionais. Para ele, esse equilíbrio é essencial: “As soft skills por si só não são suficientes para resolver problemas complexos. Por outro lado, hard skills sem empatia, comunicação eficaz, colaboração e trabalho em equipe, pensamento crítico e criativo, resiliência e adaptabilidade, liderança, responsabilidade social e ética limita demais o potencial de mobilização das hard skills”.
Esse desafio é especialmente relevante para instituições confessionais, cujo projeto educativo
envolve a formação de sujeitos éticos, críticos e comprometidos com a transformação social. A palestra, portanto, não se limita a uma abordagem técnica ou operacional, mas amplia o olhar sobre os caminhos possíveis para uma educação superior verdadeiramente integral.
A palestra de Vidal Martins convida os participantes a refletirem sobre o presente e o futuro da educação superior, com um olhar atento às mudanças que já ocorrem e às que se anunciam. Em um mundo marcado pela aceleração tecnológica, a missão das escolas católicas permanece atual: educar com qualidade, sentido e compromisso com a dignidade humana. Ao apresentar as tendências do Ensino Superior 5.0, Martins propõe que essas instituições assumam um papel ativo e protagonista, não apenas acompanhando as transformações, mas ajudando a moldá-las à luz de seus valores e identidade.
Educar a fé, educar para a fé: existência humana e evangelização na pastoral escolar e universitária
Refletir sobre a fé no contexto educacional não deve se tratar de uma questão de doutrina, mas de vida. Foi com essa abordagem que o Pe. Charles Lamartine conduziu sua palestra “Educar a fé, educar para a fé: existência humana e evangelização na pastoral escolar e universitária”, direcionada a educadores e agentes pastorais. Ele partiu da definição de fé apresentada no Catecismo da Igreja
Católica, mas foi além da teoria, propondo uma reflexão sobre como vivemos e educamos a fé nos ambientes escolares e universitários.
Segundo ele, não basta apenas crer: a fé cristã deve iluminar nossas atitudes e decisões no mundo. “A partir do crer em Deus, que é a certeza de um amor extremo, de um amor supremo, nós iluminamos as
nossas atitudes no mundo à luz desta fé.” Por isso, a missão das instituições educacionais de inspiração cristã é assumir um papel formativo, articulando fé e vida por meio de práticas pedagógicas e pastorais coerentes com essa espiritualidade.
Nesse sentido, a pastoral escolar e universitária não pode ser periférica. Ela precisa pensar o sentido da vida e da fé, e contribuir para formar sujeitos comprometidos com um humanismo solidário, com a fraternidade universal e com o cuidado com a casa comum — pilares constantemente destacados pelo Papa Francisco desde Evangelii Gaudium até o Pacto Educativo Global.
A partir dessa visão, Pe. Charles defendeu que a pastoralidade das escolas e universidades católicas deve ser vivida como um processo educativo integral. “Mais do que nunca, a pastoral precisa pensar o sentido da vida, o sentido da fé, e precisa iluminar nossas decisões e nossa forma de nos colocarmos no mundo”, afirmou.
Isso significa integrar a fé às práticas pedagógicas e à convivência cotidiana, fazendo com que ela seja presença viva nos projetos institucionais. “Nós precisamos, de fato, formar para um humanismo solidário, para a fraternidade universal, para o cuidado com a Casa Comum. E a nossa pastoral precisa se alimentar e iluminar suas práticas a partir desses referenciais”, destaca.
Outro ponto central da fala foi a cultura do encontro. Pe. Charles lembrou que todos os espaços da escola educam — inclusive o jardim, o recreio e a arquitetura. Ele contou a experiência de uma escola construída no formato de uma mão, com a pastoral situada no centro: “Esse lugar é um lugar central, não é um lugar periférico”. Esse simbolismo revela como o projeto evangelizador deve ocupar o coração da proposta educativa.
Assim como propôs o Papa Francisco, a cultura do encontro exige um olhar de empatia e acolhida. Ele fala sobre a Igreja “em saída”, que precisa saber ir ao encontro”, afirmou, lembrando a imagem de um pajé que se agachava para falar com as crianças. “Elas não conseguem ficar do nosso tamanho, mas a gente consegue ficar do tamanho delas”, exemplificou. Para Pe. Charles, esse gesto resume a atitude essencial que um educador cristão deve ter.
O belo, a arte e a ética como caminhos de evangelização
A palestra também abordou a importância da arte e da beleza como ferramentas evangelizadoras, especialmente em tempos de grande sofrimento emocional entre os jovens. “A geração do quarto” — expressão usada para se referir ao isolamento de muitos adolescentes — demanda uma pastoral capaz de mobilizar afetos, sentidos e experiências. Nesse contexto, ele defendeu uma pedagogia do belo e da contemplação. “A ética e a estética como um lugar onde a educação e a pastoralidade como um todo precisam habitar”, explica. Para ele, evangelizar é também ensinar a contemplar o belo nas suas múltiplas expressões, inclusive no âmbito religioso.
Por fim, Pe. Charles reiterou que a fé deve colocar a pessoa no centro do processo educativo. “A pastoral é chamada a contribuir para a formação integral da pessoa humana, promovendo o desenvolvimento das dimensões muitas vezes esquecidas na lógica tecnicista da educação, como a interioridade, o valor do silêncio, o discernimento ético, a escuta, a gratuidade, o cuidado com o outro, a abertura ao mistério”, destacou. Ele relacionou esse princípio à Laudato Si’, na qual o Papa Francisco denuncia a destruição da Casa Comum e convida à conversão ecológica.
Ele destaca que colocar o ser humano no centro implica formar para a empatia, o cuidado, o bem comum e a escuta das dores dos outros. Como concluiu o palestrante, “as instituições educacionais católicas devem cultivar ambientes onde todos se sintam reconhecidos, acolhidos e desafiados a crescer”.
Apresentando uma reflexão crítica sobre a integração entre a dimensão pastoral e a proposta pedagógica nas escolas confessionais, a palestra “Diálogos pedagógicos-pastorais: currículo evangelizador e aprendizagem-serviço”, ministrada por Gregory Rial e Roberta Guedes, convida educadores a integrar os aspectos cognitivos, éticos, espirituais e sociais no processo de aprendizagem. Os palestrantes abordaram como a aprendizagem-serviço pode tornar-se uma metodologia concreta para articular fé e vida no cotidiano escolar.
As instituições de ensino confessionais carregam consigo a missão de formar cidadãos comprometidos com o bem comum, sem dissociar os conhecimentos acadêmicos dos valores evangélicos. Nesse sentido, o currículo não pode ser concebido como um espaço neutro. Ao contrário, conforme destacou Gregory Rial, “o currículo evangelizador é aquele que integra fé e vida, conteúdo e valores, e que encontra na aprendizagem-serviço um método privilegiado de articulação com a realidade”. Tal concepção exige uma mudança de paradigma que rompe com a separação tradicional entre o fazer pedagógico e as ações pastorais.
Roberta Guedes, por sua vez, reforçou essa perspectiva ao enfatizar que “o diálogo entre pastoral e currículo deve ser visto como complementar e sinérgico, promovendo uma educação que forma para a cidadania global, a solidariedade e o compromisso com o bem comum”. Para ela, a aprendizagem-serviço é o caminho para concretizar esse diálogo, ao permitir que os estudantes vivenciem conteúdos escolares em ações sociais, desenvolvendo simultaneamente competências acadêmicas e valores cristãos.
Durante a palestra, Gregory enfatizou que “o foco é mostrar como esses dois campos, muitas vezes separados, podem gerar inovação educativa quando colocados em interação viva”. Ele defendeu a superação da dicotomia entre “conteúdo” e “valores” e ressaltou que a pastoral deve ser compreendida como dimensão transversal, e não como um “extra” na rotina escolar. “Um currículo evangelizador não se faz apenas com aulas de Ensino Religioso ou eventos litúrgicos, mas com intencionalidade
Ambos reforçaram que a identidade confessional da escola não se constrói apenas por meio de símbolos religiosos ou momentos litúrgicos, mas, sobretudo, na coerência entre o que se ensina, o que se vive e o que se propõe como horizonte de formação. Nesse contexto, o currículo torna-se espaço de sentido, onde o conhecimento é colocado a serviço da vida e da transformação social.
Aprendizagem-serviço como ponte entre fé e ação
A metodologia da aprendizagem-serviço foi abordada por ambos os palestrantes como instrumento pedagógico e pastoral que concretiza a proposta do currículo evangelizador. Guedes destacou que ela “permite que os estudantes aprendam conteúdos curriculares enquanto se engajam em ações concretas de transformação social, vivenciando valores cristãos como solidariedade, justiça e empatia”. A proposta, portanto, rompe com práticas educativas fragmentadas, promovendo a articulação entre teoria e prática, fé e compromisso.
Segundo Rial, a aprendizagem-serviço representa um espaço privilegiado onde “a fé se torna ação e o conhecimento se torna cuidado”. Ao integrar os saberes escolares com as necessidades reais da comunidade, essa metodologia contribui para o desenvolvimento de competências acadêmicas, éticas e espirituais, fortalecendo a missão educativa da escola católica.
A abordagem exige, no entanto, investimento na formação docente. “É essencial investir em formação continuada para os educadores assumirem essa integração com liberdade e competência”, afirmou Rial. Ele acrescentou que a escuta ativa dos estudantes e do território é outro aspecto fundamental para que a aprendizagem-serviço seja realmente formativa e relevante.
Durante a apresentação, os palestrantes citaram importantes documentos que fundamentam a proposta de integração entre currículo, evangelização e serviço. Entre eles, destacam-se o Pacto Educativo Global, a Evangelii Gaudium e a Gravissimum Educationis, além das Diretrizes da Pastoral da Educação e dos materiais produzidos pela ANEC. Guedes também indicou as competências gerais da BNCC, especialmente as que tratam de cidadania, responsabilidade e autoconhecimento, além dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como referências para a construção curricular.
Esses documentos reforçam a ideia de que formar é sempre um ato que envolve visões de mundo, valores e compromissos. Por isso, para Rial, a integração entre currículo evangelizador e demandas acadêmicas não deve ser vista como uma sobreposição de agendas, mas como um projeto comum. “O desafio não é equilibrar duas agendas, mas construir um projeto que parta da pergunta: que ser humano queremos formar?”, afirmou.
A avaliação, dentro dessa perspectiva, também deve ser repensada. Guedes apontou ser necessário considerar não somente o desempenho acadêmico, mas também o impacto das ações na aprendizagem ética, social e espiritual dos estudantes. Dessa maneira, as escolas confessionais poderão fortalecer sua identidade e responder com coerência e relevância aos desafios contemporâneos da educação.
Profissionalização
Pastoralidade em ambientes educativos: indicadores, gestão de pessoas e resultados
A palestra “Profissionalização da Pastoralidade em ambientes educativos: indicadores, gestão de pessoas e resultados”, ministrada por Joaquim Alberto Silva, doutorando em Educação e especialista em gestão educacional e direitos humanos, propõe uma reflexão necessária e estratégica para as instituições católicas de ensino. Ao sugerir um novo olhar sobre a pastoralidade, o palestrante defende a urgência de um movimento que reforce sua relevância institucional, por meio da organização e do profissionalismo.
“A pastoralidade nos nossos espaços educacionais católicos muitas das vezes é confundido com um trabalho ‘de favor’, um trabalho que, mesmo sendo um trabalho realizado por religiosos e religiosas, está em uma caixinha de pastoral que se confunde muito com somente um local para rezar, sendo que é muito maior que isso”, explica.
A partir dessa abordagem, o palestrante amplia a compreensão do que a pastoralidade representa nas escolas católicas, como também reposiciona sua importância nos processos estratégicos institucionais. Para Joaquim, tratar a pastoralidade com
seriedade organizacional é reconhecer que ela deve ter planejamento, metas e indicadores, de maneira que seja possível fazer gestão das pessoas que atuam nesse espaço. Trata-se, portanto, de integrar a pastoralidade à gestão escolar como dimensão essencial da missão educativa e evangelizadora.
No atual contexto sociopolítico, eclesial e a conjuntura existente na educação católica do Brasil, Silva destaca a importância do VII Congresso Nacional de Educação Católica, discutir essa temática, representando um compromisso com a identidade e a sustentabilidade das instituições confessionais. A proposta reforça que não basta nomear a pastoral como parte da escola: é preciso estruturá-la, fortalecê-la e reconhecê-la como núcleo integrador.
A palestra parte da premissa de que o principal diferencial da escola católica é, justamente, a pastoralidade. O especialista argumenta que “toda escola, confessional ou não, vai ter um sistema de ensino, vai acolher, vai trabalhar as questões voltadas, por exemplo, para o meio ambiente, vai seguir a BNCC, mas o que vai dar um tom diferente para
aquele espaço educativo é a pastoralidade”. Esse diferencial, entretanto, só se sustenta se for conduzido com critérios e intencionalidade — não de forma improvisada ou apenas simbólica.
Planejamento, indicadores e resultados: a pastoral como eixo articulador
Ao tratar da profissionalização da pastoralidade, Silva propõe que ela seja assumida com o mesmo rigor aplicado a outros setores da escola: planejamento estratégico, gestão de pessoas, metas claras e avaliação de resultados. Essa compreensão rompe com uma visão reducionista da pastoral e a reposiciona como estrutura que sustenta a identidade confessional e evangelizadora. Como ele explica, “profissionalizar a pastoralidade tem a ver com planejamento, com estratégia”, exigindo a criação de indicadores e o acompanhamento contínuo do que se realiza nesse campo.
Esse movimento também contribui para uma atuação mais integrada entre os diferentes setores da escola. Ao invés de se restringir a uma sala ou departamento, a pastoral pode atuar como eixo transversal e articulador, favorecendo a formação integral, o cuidado com as relações e o compromisso com os valores institucionais.
Segundo Silva destaca, a pastoralidade também é fundamental na personalização das pessoas, visto que é um fator estruturante na vida de uma instituição educacional católica — e que é também comunitária. “[A pastoralidade] favorece um ir além, ir em saída, de favorecer experiências de constituição de aldeia educativa e de chegar a locais onde a missão nos impele”, afirma.
Capacitação contínua: a formação como alargamento de horizontes
Outro ponto central da palestra é a formação dos agentes de pastoral. Silva reforça que a capacitação contínua é fundamental para responder aos desafios atuais da educação, e que ela precisa ser contextualizada, respeitando as realidades locais: “processos formativos que sejam contínuos, que sejam gradativos, que sejam respeitosos com a realidade de cada localidade, ou seja, que não sejam homogêneos”
“
processos formativos que sejam contínuos, que sejam gradativos, que sejam respeitosos com a realidade de cada localidade, ou seja, que não sejam homogêneos”
Mais do que responder a lacunas, os processos formativos têm como papel ampliar possibilidades, reconhecer práticas bem-sucedidas e renovar o entusiasmo missionário. “Acho que processo formativo também possibilita alargar as tendas, contemplar os horizontes que se descortinam para a gente potencializar a nossa missão”, afirma. Dessa forma, a formação torna-se também espaço de esperança e de escuta das potencialidades já presentes nas comunidades educativas.
A profissionalização da pastoralidade, portanto, não representa uma burocratização da fé, mas a busca de coerência entre missão e prática. Ao propor essa reflexão, o palestrante convoca as instituições confessionais a assumirem, com intencionalidade e organização, aquilo que é seu maior diferencial: uma educação evangelizadora, fundamentada em valores e aberta à transformação da sociedade.
públicas e os desafios pedagógicos
institucionais
A presença da diversidade nas instituições de ensino é uma realidade que desafia gestores, educadores e comunidades escolares a desenvolverem práticas pedagógicas coerentes com os princípios da justiça social e da dignidade humana. Em um cenário de constantes transformações sociais e culturais, a Educação Católica é chamada a afirmar, de maneira clara, seu compromisso com a formação integral de cada pessoa.
A palestra “Inclusão e diversidade na Educação Católica: políticas públicas e os desafios pedagógicos e institucionais para a educação básica e superior”, ministrada por Adriane Menezes, pedagoga, doutora em Educação Especial, mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, propôs uma reflexão sobre como a identidade católica pode e deve ser vivida de forma autêntica, sem renunciar a seus princípios fundantes, mas com abertura para o acolhimento e o respeito às singularidades.
“Educação Católica pode promover a inclusão como expressão da dignidade humana, articulando políticas públicas e justiça social”, afirma. Para as instituições confessionais, este é um chamado a
repensar políticas e práticas institucionais à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja, que reconhecem na inclusão uma expressão concreta de fé.
Para Adriane, é urgente se preocupar com os desafios da inclusão da diversidade nas escolas. Ela também enfatiza o papel dos princípios e valores presentes nas instituições católicas como fundamentais para promover avanços na educação inclusiva. “É essencial uma formação integral que atenda a todos os indivíduos de forma acolhedora, independente de suas características ou condições”, defende.
Como formadora, ela observa que as escolas já demonstram compromisso com a formação inclusiva e têm trabalhado de forma contínua nesse sentido. “As políticas inclusivas exigem investimentos permanentes, envolvendo toda a equipe escolar — desde o porteiro até o diretor”, ressalta. Adriane reforça que a inclusão deve ser uma iniciativa institucional e coletiva, afetando todos os aspectos da gestão escolar, desde o relacionamento com famílias até a comunicação interna.
Para Adriane, a inclusão deve ser assumida como missão institucional em todos os níveis da educação básica e superior, articulando-se com políticas públicas e com o compromisso com a Palavra de Deus. “Incluir não é uma concessão, mas um dever legal, ético e cristão”, reforça. Sendo assim, promover a equidade no acesso, na permanência, na participação e na aprendizagem deve ser uma prioridade.
“A inclusão deve ser compromisso de cada instituição, de cada educador, de cada um de nós, que do lugar que ocupamos, temos a contribuir para um mundo melhor, mais socialmente justo e solidário, em que não haja dúvidas sobre o direito de todos a
em que não haja dúvidas sobre o direito de todos a uma educação de qualidade e que todos, indistintamente, temos capacidade de aprender”, evidencia a palestrante.
Por fim, para Menezes, a inclusão deve ser compreendida como uma resposta concreta ao Evangelho. “Viver o Evangelho é promover a dignidade de todas as pessoas”, afirma. Ao reconhecer a diversidade como um dado constitutivo da humanidade, as instituições católicas são chamadas a promover ambientes educacionais marcados pelo acolhimento, pela equidade e pelo compromisso com a formação integral dos sujeitos — ambientes nos quais cada pessoa possa ser reconhecida, respeitada e amada em sua singularidade.
tecnológica no contexto educacional: uso
A aceleração tecnológica dos últimos anos tem transformado radicalmente os modos de viver, comunicar e aprender. No campo da educação, essa transformação traz oportunidades, mas também riscos, especialmente quando o uso de mídias digitais é atravessado por fenômenos como a
pós-verdade, a desinformação e os conteúdos manipulados por inteligência artificial. Em um cenário no qual a confiança social e o senso crítico estão em xeque, pensar o papel da escola — e, mais especificamente, das escolas católicas — torna-se uma tarefa urgente.
Nesse contexto, a palestra “Disrupção tecnológica no contexto educacional: uso de mídias, pós-verdade, deep fake, desinformação e senso crítico”, ministrada por Israel Batista, Conselheiro Nacional de Educação e Mestre em Políticas Públicas propõe uma reflexão sobre como a escola pode se posicionar diante da crise de credibilidade nas informações e da manipulação digital. A palestra pretende olhar para além das ferramentas tecnológicas, colocando no centro do debate as rupturas nas relações de confiança, escuta e discernimento que impactam diretamente a formação das novas gerações.
Ao tratar o tema no contexto de um evento voltado exclusivamente a instituições católicas de ensino, Batista reforça a importância de integrar espiritualidade, ética e pensamento crítico no enfrentamento da desinformação. A tradição pedagógica dessas instituições — marcada pela valorização da verdade, do diálogo e da formação integral — oferece um terreno fértil para abordar os desafios atuais de forma propositiva e humanizadora.
Restabelecendo a confiança: diagnóstico, formação e ação
A palestra se estrutura em três camadas complementares. A primeira delas é o diagnóstico crítico, sustentado por exemplos reais que evidenciam o alcance da manipulação digital. Entre os casos citados estão a imagem falsa do Papa Francisco vestindo uma jaqueta de luxo, o vídeo deep fake de Volodymyr Zelensky anunciando uma rendição fictícia, rumores infundados sobre urânio brasileiro e campanhas antivacina com forte impacto na opinião pública. Para o palestrante, esses casos não afetam apenas a política ou a cultura, mas também “a formação das consciências nas escolas”.
A segunda camada diz respeito à formação do senso crítico, com destaque para o papel da escola como espaço de mediação ética e de leitura crítica do mundo. "A escola precisa ser o lugar onde o pensamento desacelera, onde o discernimento é cultivado e onde se provoca um reencantamento pela busca pela verdade, especialmente entre crianças e adolescentes", afirma Batista. Mais do que ensinar a identificar notícias falsas, trata-se de promover o cultivo da escuta, do questionamento e da responsabilidade.
Por fim, a palestra apresenta propostas práticas, baseadas em documentos nacionais e internacionais, como o AI Competency Framework for Students and Teachers (UNESCO, 2024) e as Diretrizes Operacionais do CNE (2025). Entre as propostas estão o desenvolvimento de competências
digitais, a formação docente continuada, a reflexão ética sobre o uso da inteligência artificial e o fortalecimento da educação integral em um ambiente digital fragmentado.
O papel da escola católica como espaço de resistência ética
Batista chama atenção para um ponto central: “A maior disrupção não está nas tecnologias em si, mas na ruptura da confiança, da escuta e do juízo.”
Diante disso, ele defende que as escolas católicas têm uma responsabilidade ainda maior na atualidade: devem se posicionar como espaços de resistência ética, onde fé, ciência e tecnologia dialogam a serviço da dignidade humana.
A construção de um pacto comunitário que envolva escola, família, fé e política é vista como essencial para enfrentar os impactos da inteligência artificial de forma humanizada. “Os educadores precisam ser compreendidos não como ‘vigilantes da tecnologia’, mas como mediadores críticos da experiência digital dos alunos”, destaca. Nesse sentido, cabe a eles formar jovens capazes de perguntar com profundidade: “quem disse?”, “com que intenção?” e “a quem interessa?”.
Um dos pontos que Batista reforça é a importância de se trabalhar, desde a educação básica, as competências digitais e midiáticas previstas na BNCC, especialmente no que se refere à formação de cidadãos críticos e éticos. Essa formação passa por um olhar consciente sobre algoritmos, dados e inteligência artificial, mas também pela capacidade de construir sentido e valores em meio à velocidade informacional.
A palestra propõe um itinerário de formação que não separa tecnologia de ética, nem ciência de espiritualidade. Ao contrário, valoriza a formação integral como caminho para o enfrentamento dos desafios atuais. A proposta se insere em uma tradição educativa comprometida com a formação de consciências, reafirmando o papel das escolas católicas como guardiãs de valores fundamentais e promotoras de um futuro onde a verdade, a justiça e o discernimento continuem a ter lugar.
Dez anos após a publicação da encíclica Laudato Si’, escrita pelo Papa Francisco, o debate sobre ecologia integral ainda desafia a sociedade a repensar a sua relação com o planeta. No VII Congresso Nacional de Educação Católica, a doutora em educação e ambientalista Aleluia Heringer conduziu uma reflexão sobre os caminhos trilhados desde então e, principalmente, sobre os passos urgentes que ainda precisam ser dados.
Com olhar crítico e profundo, Heringer convidou o público a revisitar os ensinamentos da encíclica, não como um texto de referência, mas como uma diretriz prática de vida. Ela destacou que, embora muitos avanços
tenham ocorrido em termos de discurso, a prática ainda está aquém do necessário. “A Laudato Si’ não é uma carta sobre meio ambiente, mas sobre um novo modo de habitar o mundo”, afirmou.
A palestra foi marcada por reflexões, exemplos concretos e um apelo à transformação pessoal e institucional. Para além das denúncias ambientais, a teóloga buscou sensibilizar os participantes para uma mudança cultural e espiritual, na qual a ecologia integral seja vivida no cotidiano, nas relações humanas e na organização das instituições. Com essa abordagem, ela estruturou sua fala em torno de três eixos fundamen-
papel das instituições educacionais e a responsabilidade coletiva.
conversão ecológica como ponto de partida
A palestrante lembrou aos congressistas que, sem conversão ecológica, qualquer iniciativa corre o risco de ser apenas uma ação isolada. Conforme explica, a ecologia integral não pode ser vista como um conjunto de boas práticas sustentáveis, mas como um novo modo de enxergar o mundo, os outros e a si. Essa mudança começa internamente, com uma transformação de valores, hábitos e estilo de vida.
agir por convicção,
espiritualidade, tem mística, um deslocamento interior que te impele, motiva, encoraja e dá sentido , pontuou. Essa conversão, entretanto, precisa ir além do individual.
Ela defendeu que esse movimento deve ser vivido em comunidade, como um processo coletivo de reeducação do olhar e das práticas. Sem isso, os esforços pessoais acabam sufocados por estruturas que continuam operando de forma insustentável. É nesse ponto que a fé, a espiritualidade e a ética cristã se conectam com a urgência ambiental.
Educação e exemplo: as instituições como modelo de cultura ecológica
Diante deste cenário, a teóloga destacou que qualquer instituição de ensino (básico ou superior) católicas têm a missão de não somente ensinar sobre sustentabilidade, mas pôr em prática os princípios da ecologia integral em todas as suas dimensões: pedagógica, administrativa, estrutural e relacional.
No encerramento, a palestrante reforçou que a ecologia integral é uma tarefa de todos. Cada indivíduo, ao rever seu modo de consumir, de se relacionar com os bens naturais e com os outros, pode desencadear um processo de transformação mais amplo.
“Quando alguém visita nossa escola, consegue perceber sinais de uma conversão ecológica?”, questionou. Para a palestrante, o discurso, muitas vezes, não se traduz em prática. Desde a gestão de
Ela apresentou o conceito de “massa crítica” para explicar como pequenos gestos, quando multiplica dos, ganham força e podem influenciar políticas públicas, práticas de mercado e decisões institucio nais.
Por fim, Heringer deixou uma mensagem de espe rança: a mudança é possível e está ao nosso alcan ce, desde que seja movida por convicção, fé e
resíduos até o consumo consciente de energia, passando pela alimentação e pelas escolhas de fornecedores, tudo deve refletir o cuidado com a vida em todas as suas formas.
Mais do que isso, Heringer propôs uma reflexão sobre a coerência entre os valores anunciados e os hábitos vividos no dia a dia escolar. A cultura ecológica, segundo ela, precisa ser sentida no ambiente, nos relacionamentos e nas decisões cotidianas.
“Nossas instituições precisam ser sinais proféticos de um novo tempo. Se não forem, estamos ensinando nossos alunos a conviver com a contradição entre o que se fala e o que se faz”, alertou.
compromisso. A ecologia integral é um caminho exigente, mas também libertador: um convite permanente a redescobrir a beleza do cuidado, da simplicidade e da vida em comunhão com todas as criaturas.
O Congresso foi, também, um espaço de celebração da arte e da cultura. Entre os dias 2 e 4 de julho, tivemos o privilégio de assistir a apresentações culturais inesquecíveis, fruto da dedicação e do talento de instituições educacionais do Ceará. Contamos com os corais dos Colégios Juvenal de Carvalho, Nossa Senhora das Graças e Santa Cecília, com o Colégio Marista de Aracati, que trouxe uma belíssima performance musical, e com a quadrilha de estudantes do Instituto Frei João Pedro de Sexto.
Nosso muito obrigado a todos os artistas!
da”, os especialistas refletiram sobre os impactos da IA no contexto educacional, os desafios éticos associados à sua adoção e as oportunidades que essa tecnologia oferece para transformar práticas pedagógicas, sempre preservando a centralidade do ser humano no processo de ensino-aprendizagem.
A discussão girou em torno da importância de uma abordagem crítica, consciente e ética da inteligência artificial, destacando também as novas demandas de formação docente frente às transformações tecnoló-
gicas. Fernando Trevisani, consultor educacional, doutor em inteligência artificial e metodologias ativas, mestre em tecnologias digitais na educação e especialista em educação inovadora, trouxe uma análise profunda sobre o papel do educador na era da IA.
Ele alertou para a importância da formação e do papel dos docentes na construção de experiências de aprendizagem que colocam os estudantes no centro do processo, tendo os recursos de IA como aliados dos professores durante o planejamento das aulas. Segundo o palestrante, a inteligência artificial pode ser uma aliada poderosa, desde que os docentes estejam bem formados e compreendam seus limites e potencialidades.
Para ele, a IA é uma ferramenta que, se usada com responsabilidade e intencionalidade pedagógica, pode ajudar a otimizar o tempo do educador e a dar ideias possíveis de serem colocadas em prática, além da possibilidade de contribuir com a avaliação dos estudantes — tornando o processo mais eficaz e alinhado com as suas necessidades. No entanto, alertou que certas dimensões da educação são, e devem continuar sendo, essencialmente humanas: a escuta ativa, o vínculo afetivo, a mediação de conflitos, a criatividade e a formação ética e espiritual.
Trevisani também defendeu a construção de uma cultura de colaboração entre educadores para compartilhar boas práticas com o uso da IA, principalmente nas escolas católicas, onde a valorização da pessoa humana é um pilar. Entre os pontos centrais de sua fala estiveram a importância da formação docente para a elaboração de bons comandos (prompts), o uso da IA no apoio ao planejamento de aulas em metodologias ativas e a necessidade de repensar o modelo educacional vigente, ainda muito pautado pela transmissão de conteúdo.
Limites, riscos e potencialidades da IA no processo educativo
Rosa Maria Vicari, professora titular do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora da Cátedra UNESCO em Tecnologias de Comunicação e Informação na Educação, enfatizou os limites da inteligência artificial atual — ainda baseada em modelos preditivos — e os riscos associados a uma educação excessivamente personalizada. Segundo ela, a IA não consegue operar com raciocínios causais ou contrafactuais e, por isso, ainda está longe de substituir a capacidade humana de criatividade e pensamento crítico.
descobertas
Em sua apresentação, Trevisani compartilhou os caminhos e as descobertas de seu doutorado, voltado ao uso da inteligência artificial generativa para o planejamento de aulas com metodologias ativas. A proposta, ainda pouco conhecida entre os professores segundo suas referências sobre literacia de prompt, apresenta uma inovação significativa no campo educacional.
Vicari alertou para o perigo do isolamento educacional, uma possível consequência da personalização intensiva promovida pela IA, que pode enfraquecer a dimensão coletiva e social da aprendizagem. Por outro lado, reconheceu que a tecnologia pode ser poderosa para nivelar aprendizagens e oferecer suporte individualizado, desde que utilizada com equilíbrio e intencionalidade pedagógica.
Para a pesquisadora, é urgente que escolas e famílias compreendam as implicações do uso da IA na educação e que se promovam reflexões sobre quais competências precisam ser fortalecidas nos estudantes do século XXI. Nesse sentido, Vicari defendeu uma formação integral que mantenha o foco na interação humana e no desenvolvimento das habilidades que a IA não é capaz de replicar.
Ele introduziu um vídeo sem edições com duração de cinco minutos, apresenta uma sala de aula real do oitavo ano, onde estudantes e professores vivenciam pela primeira vez o uso da IA em práticas pedagógicas. Embora o salto no desempenho de um dos alunos após o projeto não possa ser mostrado ali, o especialista garante que o impacto foi expressivo. “A apresentação deixa claro que a inteligência artificial, quando bem aplicada, pode transformar não somente o planejamento pedagógico, mas também a experiência dos alunos em sala de aula — e que estamos apenas começando a explorar esse potencial”, afirma Trevisani.
Além disso, a aula registrada no vídeo carrega dois níveis de intencionalidade: o objetivo explícito comunicado pela professora à turma, e o objetivo implícito, fruto do planejamento conjunto entre o pesquisador e a docente, alinhado também às diretrizes da instituição.
As discussões da mesa-redonda evidenciaram que a inteligência artificial tem potencial para enriquecer práticas pedagógicas, desde que integrada com ética, intencionalidade e foco na formação integral dos estudantes. Os especialistas ressaltaram a importância da formação docente, a preservação dos vínculos humanos na educação e a necessidade de repensar o modelo escolar vigente, garantindo que a tecnologia seja aliada no desenvolvimento de experiências de aprendizagem centradas na pessoa. A IA, quando usada com consciência e colaboração, pode transformar o cotidiano escolar sem perder de vista aquilo que é essencialmente humano. Assista ao videocast sobre o tema e aprofunde-se na discussão!
A conferência de encerramento do VII Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil, foi conduzida por Ir. Adair Aparecida Sberga, vice-presidente do Conselho Superior da ANEC, e pelo Ir. Paulo Fossatti, conselheiro do CNE e membro do Conselho Superior da ANEC. Em formato de conversa interativa, o momento reuniu diferentes educadores e trouxe uma reflexão profunda sobre os caminhos que a educação católica precisa trilhar para continuar relevante e formadora de sentido diante dos desafios contemporâneos.
A proposta da mesa-redonda foi ampliar a escuta, promover o diálogo e refletir sobre os rumos da formação integral em um tempo marcado por transformações rápidas, complexidade crescente e novas exigências socioculturais. Em meio a esse cenário, a educação católica é chamada a renovar sua fidelidade à missão evangelizadora e ao serviço à pessoa humana.
Ir. Adair destacou que a educação católica, para manter-se significativa, deve “empoderar os estudantes para que se tornem agentes de transformação social”, atentos às exigências do tempo presente e comprometidos com uma cidadania “responsável, equitativa, pacífica e inclusiva”. Neste sentido, Ir. Paulo ressaltou o sentimento de pertencer a uma comunidade “por meio da participação em ações que levem à responsabilidade social com engajamento que faça sentido na vida pessoal-profissional”.
Permanecer relevante: caminhos para a educação católica
Segundo Ir. Adair, a educação católica se distinguiu historicamente por sua “relevância, inovação e espírito de vanguarda”, fundamentada em uma sólida cultura científica, antropológica, filosófica, pedagógica e evangelizadora. Para continuar trilhando esse caminho, ela afirma que é essencial manter-se fiel “ao serviço de uma cosmovisão cristã da vida, ou seja, comprometida com os valores do evangelho conforme os ensinamentos de Jesus Cristo”.
Para que isso aconteça na Educação Católica, ela explica que a pedagogia precisa estar fundamentada na antropologia filosófica — que se encarrega do estudo filosófico do ser humano, a fim de compreender a intencionalidade de sua existência e a sua relação com os demais seres, no contexto da vida real.
Além disso, a pedagogia deve estar integrada à antropologia teológica, visto que “a educação é uma obra que deve adentrar até o profundo da alma do ser humano, já que é aí que está a sua essência pessoal que deve se desenvolver até o último momento da sua vida terrestre, em abertura para a eternidade”. Neste sentido, o que se propõe é uma educação para a interioridade, com o propósito de que a pessoa se empenhe na busca da sua melhor performance, da sua santidade, ou seja, na configuração a Cristo.
Além disso, Ir. Adair propõe um currículo que esteja orientado por “práticas de aprendizagem-serviço e aprendizagem solidária”, que dialogue com “os novos paradigmas das abordagens científicas e culturais, os avanços e limites da tecnologia digital, os processos pedagógicos voltados à construção de habilidades e competências, bem como as demandas da realidade juvenil”.
Ela também destaca a importância de considerar aspectos fundamentais como “questões psicoemocionais e de saúde mental, a educação para o futuro, o projeto de vida dos estudantes, a formação espiritual”, integrados por metodologias que estimulem o protagonismo, a autonomia, o espírito crítico e o compromisso ético.
Para Ir. Paulo, em uma realidade que reconhece nossos jovens como “geração ansiosa”, precisamos, cada vez mais, trabalhar os itinerários formativos que levem à elaboração do projeto de vida dos jovens. “Nestes itinerários é preciso recuperar o eixo da espiritualidade como dimensão antropológica para além das religiões ou igrejas”, explica. “Somente a integração físico-psíquico-racional-espiritual vai dar unidade e sentido à existência humana”.
Formação integral: um compromisso inegociável
A conferência ressaltou a centralidade da formação integral nas instituições católicas. Para a vice-presidente Ir. Adair, esse é um traço distintivo e irrenunciável da identidade da escola católica. “A Educação Católica sempre se destacou por priorizar a formação integral do ser humano, promovendo o desenvolvimento pleno dos estudantes — e é esse o compromisso que deve continuar orientando sua missão.”
“Nenhuma das dimensões antropológicas pode ser negligenciada no processo educativo, pois, como afirma a Laudato Si’, tudo está interligado”, explica. Essa interligação exige um olhar atento à totalidade da pessoa: corpo, mente e espírito.
Na conferência, também foram abordados temas, como: o voluntariado educativo, o engajamento social, e, ainda, a neurodiversidade, a gestão do cuidado, as competências socioemocionais e a complexidade do contexto contemporâneo, como a questão das guerras que envolve a todos nós e é completamente oposto à evangelização da cultura que é o que devemos fazer. O objetivo foi refletir sobre como a escola católica pode continuar formando pessoas completas, capazes de pensar, sentir, escolher e agir a partir de valores que promovem a vida para todos.
“Mais do que um físico, um somático, um corpo, nós somos seres espirituais. E, nesta conferência, destacamos que as mazelas do mundo — aqueles sintomas que discutimos aqui no Congresso, como questões ambientais, sociais, culturais, as diversas crises que estamos vivendo — são sintomas. Elas são consequências de uma vida que perdeu o sentido, porque nós perdemos a nossa essência de seres espirituais, enquanto dimensão antropológica”, afirma Ir. Paulo.
Diálogo com as novas gerações
Ir. Adair reconhece a diversidade das juventudes e a complexidade de suas demandas. No entanto, aponta que há algo que atravessa os diferentes perfis: o desejo de ser acolhido e amado. “Os jovens de hoje anseiam por se sentir acolhidos, pertencentes, valorizados, reconhecidos, amados... Eles têm sede de encontrar espaços e pessoas que lhes favoreçam experiências capazes de promover razões de vida e esperança.”
Em seus contatos cotidianos com estudantes, ela percebe que muitos identificam na escola católica um ambiente humanizador e acolhedor. “Eles salientam que a Escola Católica tem esse perfil acolhedor e humanizador, dizendo que esse diferencial é percebido desde a acolhida na recepção da escola ou universidade”, ressalta.
Os jovens relatam que encontram uma verdadeira “atmosfera de harmonia e cuidado”, tanto nos espaços físicos quanto nas relações humanas. Segundo a Ir. Adair isso é algo que precisamos estar atentos, para “acolher verdadeiramente como Jesus faria”, dando maior atenção aos que têm mais dificuldade de aprendizagem, aos que se isolam, aos que manifestam desafios de ordem pessoal ou familiar, relacional, profissional etc.
A experiência relatada por muitos jovens é de uma escola marcada pela fraternidade, proximidade e sentido de comunidade. “Vive-se um verdadeiro ‘espírito de família’, manifestado em clima de amizade, alegria, respeito, participação espontânea, festividades, correção fraterna, confiança, fraternidade e solidariedade”, afirma Ir. Adair. Para muitos, os momentos de espiritualidade e compromisso social vivenciados no ambiente escolar são sinais concretos da presença de Deus, que impulsiona o amor ao próximo e fortalece o compromisso com os mais pobres.
O conselheiro Ir. Paulo Fossatti ainda reforça que o discurso da educação católica carrega em si a riqueza dos valores evangélicos, de uma antropologia cristã, dos quais não podemos abdicar. “Estes, precisam ser encorajados por meio da pedagogia do diálogo, da escuta, da acolhida e orientação assertiva junto às novas gerações.”
Pertencer para transformar: o papel das escolas católicas na construção do bem comum
No Congresso, foram apontados vários pontos para direcionar esse diálogo, dos quais Ir. Paulo reforça, por exemplo, a vivência por meioatravés da recuperação dos propósitos de uma comunidade, do trabalho em grupo, do trabalho em equipe. “Responsabilidade social, projetos sociais, voluntariado, agremiações — ou seja, o ser humano se realiza, se reconhece na missão, primei ro, de estar com os seus”, destaca.
“Então, as nossas escolas e universi dades não são apenas instituições; elas são comunidades onde precisa mos fazer a experiência de estar com o outro, para podermos, de fato, agregar valor e sentido humano” explica. Por fim, o Ir. Paulo deixou um reconhecimento aos educadores presentes no Congresso e seu papel fundamental nas salas de aula.
“Deus se utiliza de nós o tempo inteiro para transformar vidas. [...] Nós saímos da vida de tantos e tantos alunos, mas tenho certeza: saímos fisicamente, mas permanecemos exis tencialmente com eles, inspirando. Nós temos muitos seguidores — seguidores enquanto instrumentos desse Deus que nos usa para levar o bem a tantas pessoas. Obrigado a todos por sermos instrumentos de Deus para aqueles que Ele nos confia, ontem, hoje e amanhã”, conclui.
Na tarde do dia 3 de julho, durante a programação do VII Congresso Nacional de Educação Católica, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) celebrou um marco histórico: seus 80 anos de fundação. A solenidade, marcada pela emoção, homenagens e profundo espírito de comunhão, reuniu líderes eclesiais, autoridades civis, representantes de instituições associadas e parceiros da educação católica de todo o país.
A abertura foi conduzida com palavras de acolhida que exaltaram a trajetória da ANEC como expressão do “tempo de Deus tecido em nossa história”. A cerimônia celebrou mais que o tempo cronológico, mas a missão construída ao longo de oito décadas em prol de uma educação que forma pessoas com fé, justiça e compaixão.
Estiveram presentes bispos, parlamentares, representantes do Ministério da Educação, do INEP, da CAPES, do Conselho Nacional de Educação, do Fórum Nacional de Educação e da Receita Federal do Brasil, além de lideranças das instituições de ensino católicas, conselhos da ANEC e associações congêneres.
O presidente da ANEC, Padre João Batista Gomes de Lima, e a 1ª Vice-Presidente do Conselho Superior, Irmã Adair Aparecida Sberga, trouxeram mensagens que reforçaram o compromisso da entidade com a missão da Igreja e com uma educação de excelência.
Um dos momentos mais simbólicos da celebração foi a entrega do ícone comemorativo “Jesus Mestre da Esperança” aos coordenadores dos Conselhos Estaduais da ANEC. O ícone peregrinará por escolas e universidades católicas em todo o Brasil, como símbolo de unidade e esperança. A bênção de envio foi realizada por Dom Gregório Paixão, arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza.
Na sequência, o público assistiu ao vídeo memorial dos 80 anos da ANEC, que resgatou momentos marcantes desde sua criação nos anos 1940, reforçando o legado de articulação da educação católica em todo o território nacional.
A solenidade também foi palco para a entrega do Prêmio Mérito Educacional Católico, instituído em 2023. Foram homenageadas personalidades que se destacaram por sua dedicação e contribuição significativa à educação católica e ao Pacto Educativo Global:
• Irmã Iraní Rupolo, reitora da Universidade Franciscana e 1ª vice-presidente da ANEC.
• Irmão Paulo Fossatti, presidente do Conselho de Administração do Grupo UBEC, conselheiro do CNE e membro do Conselho Superior da ANEC.
• Irmã Adair Sberga, diretora dos Institutos Superiores de Ensino do CENSA, vice-presidente do Conselho Superior e presidente da Câmara de Educação Básica da ANEC.
• Irmã Marli Araújo da Silva, diretora do Colégio das Neves e 1ª tesoureira da ANEC.
A cerimônia foi encerrada com um coquetel comemorativo na ExpoANEC, selando com alegria, música, reencontros e esperança esse momento especial.
Mais do que relembrar o passado, a ANEC celebrou o presente com os olhos voltados para o futuro, reafirmando seu papel como referência na articulação da educação católica no Brasil. Que os próximos 80 anos sigam sendo de comunhão, transformação e missão a serviço da vida e do bem comum.
Confira o mural de fotos e relembre os melhores momentos do VII Congresso Nacional de Educação Católica.
Para mais registros especiais, acesse o álbum completo no Flickr da ANEC!
A ExpoANEC 2025, realizada em Fortaleza durante o VII Congresso Nacional de Educação Católica, foi marcada por encontros inspiradores, inovação e um número recorde de participantes. Com a presença de aproximadamente 100 marcas e mais de 300 estandes, o evento consolidou-se como o maior ponto de encontro do setor educacional confessional do Brasil.
A feira proporcionou um ambiente de troca e conexão entre instituições educacionais católicas, parceiros estratégicos, expositores no geral e representantes de diferentes setores públicos e privados. A diversidade de soluções apresentadas — da educação tecnológica à literatura, passando por políticas públicas, sustentabilidade, inovação e espiritualidade — tornou a ExpoANEC uma verdadeira vitrine da missão educativa da Igreja no país.
Para Padre Sérgio Augusto, diretor-geral da editora Edebê, “é uma alegria participar da ExpoANEC porque compartilhamos a mesma missão da educação católica, do desenvolvimento de um projeto humanista integral, e isso sempre visa colaborar e ajudar a crescer essa dimensão nossa no Brasil, fortalecer os vínculos, também oferecendo produtos de qualidade.”
O diretor da FTD Educação, Paula Morégola, também celebrou a participação e adiantou a expectativa para o próximo encontro: “Estamos muito felizes com tudo o que realizamos aqui e já sonhando com o que podere mos alçar no Rio de Janeiro, onde acontecerá a próxi ma ExpoANEC”.
Representantes de instituições públicas também marcaram presença, como o Ministério da Educação, a CAPES, e o INEP, aproximando políticas públicas das instituições educacionais católicas. “É um prazer estar na ExpoANEC com a instituição CAPES, que concede bolsas de estudo para mestrado, doutorado, fomenta a pós-graduação no país. É importante estar com os nossos parceiros aqui, com o público que tem interesse na pesquisa. Vale muito a pena visitar a feira e participar dos próximos congressos.”
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) participou pela primeira vez da ExpoANEC e celebrou o espaço de visibilidade dado aos povos da Amazônia. “Foi gratificante ver que a educação é transformadora também nesse espaço. Talvez agora tenha surgido uma conscientização maior sobre a importância da Amazônia e seus
feira foi mais uma vez uma experiência de alto impacto:
“É muita interação bacana com professores, com gestores. Sempre conseguimos colher muita coisa boa desse evento. Indico e sugiro que todos participem das próximas edições”.
Empresas e editoras também valorizaram a qualidade do público presente. “É um evento de muito potencial. As pessoas estão focadas em buscar soluções. Para a Layers Education, é de extremo orgulho e satisfação estar aqui”, destacou Danilo Yoneshige, cofundador e CEO da empresa. Já a National Geographic ressaltou a sinergia com a missão das escolas católicas:
“Conversamos com várias pessoas e demos grande visibilidade à nossa marca e àquilo que acreditamos”.
A ExpoANEC 2025 também contou com a presença de instituições de ensino superior, como a Unisinos, que destacou o papel do evento na reafirmação da identidade da educação católica em um mundo em constante transformação, e de escritórios que atuam com instituições educacionais, como a Alcoe Advogados Associados.
“É um grande prazer estar aqui com vários players da educação católica, partilhando desse momento, experiências, relacionamentos e, em especial, esse contato direto com as instituições para que nós possamos auxiliar na solução de problemas que elas possam ter”, destaca o sócio-diretor.
Mais do que uma feira, a ExpoANEC foi um espaço de
CONFIRA TRECHOS DA EXPOANEC 2025 E SAIBA COMO FOI INCRÍVEL PELO QR CODE AO LADO
A Editora do Brasil criou soluções que acompanham cada etapa da aprendizagem. Assim, sua escola pode oferecer um material didático de qualidade a todos os seus estudantes, promovendo uma educação mais completa e eficiente.
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Encerrando com chave de ouro esta edição, foi anunciado que o próximo Congresso Nacional de Educação Católica acontecerá em 2027, na cidade do Rio de Janeiro. O anúncio simboliza a continuidade de uma caminhada conjunta em defesa de uma educação integral, comprometida com o humano e inspirada no Evangelho. Anote na agenda: dias 7, 8 e 9 de julho de 2027, estaremos novamente reunidos pela Educação Católica!