Os apelos do Espírito Santo para as escolas católicas
Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
(Jo 17, 20-21)
Sumário
Editorial
Igreja
O Sínodo de 2024 e seus frutos
06
Comunicação ANEC 08
Dilexit nos – Um chamado para a educação do coração
Comunicação ANEC 10
CF 2025 – Ecologia integral, os 10 anos da Laudato Si´ e um recado para a educação católica
Comunicação ANEC 13
O Jubileu de 2025 e as escolas católicas
Comunicação ANEC 15
Arquidiocese do Rio de Janeiro realiza o IV Simpósio Arquidiocesano de Educação Católica
Vicariato Episcopal para a Educação da Arquidiocese do Rio de Janeiro 17
Identidade
A escola católica: um espaço de evangelização articulada
Sérgio Rogério Azevedo Junqueira e Terezinha Sueli de Jesus Rocha 19
Pastoral e sinais dos tempos: apelos do Espírito Santo às escolas católicas
Gregory Rial 42
Contribuições epistemológicas a partir de Paulo Freire e do Papa Francisco em prol de uma educação crítica e criativa
Jean Alves Lima 47
Voluntariado e a sensação de pertencimento
Helen Luana Thelen Cabral, Frei Samuel Cavalcanti do Amaral, OFM e Wellington Minoru Kihara 58
Gestão
Gestão ESG e a contribuição à educação católica
Júlio César de Macedo Souza 62
A importância da gestão coletiva do tempo nas atividades pastorais
Jean Michel Alves Damasceno 65
A coordenação pedagógica na escola católica em uma perspectiva de sinodalidade: reflexões sobre a escola em pastoral
Wanderson Raposa Ferreira 68
Ecologia Integral
Sustentabilidade para uma formação integral: planos de ação na educação básica via ecologia integral
Graciele Batista Gonzaga e Elaine Cecília de Lima Oliveira 71
Educação e Pastoral para a ecologia integral: cultivando um futuro sustentável
Guilherme Felipe Santos Rocha 75
Infância
Unindo forças: a importância da família na evangelização das infâncias
Camilla Danielly Silva das Neves 80
Fórum de Pastoral Infantil do SAGRADO – Rede de Educação
Irmã Lucilene Chiciuc e Tiago Aparecido Rodrigues 82
Relatos de experiências
Projeções, perspectivas e realizações – Idas e vindas de uma pastoralista na busca de melhor serviço entrelugares
Núbia Maria Calazans Guimarães Casais 84
Integração do fazer pastoral e pedagógico à luz de Maria Ir. Regiane Maria do Nascimento 95
Experiência Paz e Bem
Acolhida da semana: uma proposta pastoral-pedagógica na formação da cultura do encontro no processo de aprendizagem
Jean Michel Alves Damasceno 104
Janaína Martins Toledo e Simone Moura Rosado 102 Caminho, amor e mais caminhos…
Yan da Silva Jardim Vieira 109
Espiritualidade
Ensinando como São Francisco nos ensinou Lindair de Cristo e Mariana Rogoski Bernz 111
Garimpo
O novo material do Pacto Educativo na expectativa do Jubileu
Comunicação ANEC 113
Como fermento na massa: um livro para fazer crescer a educação católica
Comunicação ANEC 114
Expediente
CONSELHO SUPERIOR
Pe. Sérgio Eduardo Mariucci - Presidente
Ir. Adair Aparecida Sberga - Vice-Presidente
Ir. Maria Aparecida Matias de Oliveira - Secretária
Pe. Luís Henrique Eloy e Silva - Conselheiro
Dom João Justino de Medeiros Silva - Conselheiro
Maria Amalia Pie Abib Andery - Conselheira
Ir. Paulo Fossatti - Conselheiro
Ir. Patricia Silva de Vasconcelos - Conselheira
Pe. João Carlos Almeida - Conselheiro
Carmem Murara - Conselheira
Deivid Carvalho Lorenzo - Conselheiro
Ir. Rogério Renato Mateucci - Conselheiro
DIRETORIA NACIONAL
Pe. João Batista Gomes de Lima – Diretor-Presidente
Ir. Iraní Rupolo – Diretora 1a Vice-Presidente
Pe. Charles Lamartine – 2° Vice-Presidente
Pe. Geraldo Adair Da Silva – Diretor 1° Secretário
Ir. Marisa Oliveira De Aquino – Diretora 2° Secretária
Ir. Marli Araújo da Silva – Diretora 1a Tesoureira
Com alegria, apresentamos as edições 16 e 17 da Revista de Pastoral da ANEC, um volume especial, que reúne reflexões e inspirações práticas para a Pastoral Escolar e Universitária. Neste número, celebramos a riqueza da diversidade de temas que têm alimentado a caminhada das nossas escolas e universidades católicas, enquanto olhamos para os desafios e as oportunidades que se desenham no horizonte.
Os artigos desta edição convidam-nos a mergulhar em questões centrais para a evangelização no contexto educacional. O Sínodo de 2024 e seus frutos são destacados como uma experiência rica de resgate da espiritualidade mais original da Igreja, que nos aponta para uma renovação pastoral. O artigo sobre a encíclica Dilexit nos lembra-nos do chamado à educação do coração, um convite à formação integral, tão necessária nos nossos tempos.
A temática da ecologia integral se faz presente em diferentes perspectivas: refletimos sobre os 10 anos da Laudato Si’, em sintonia com a Campanha da Fraternidade de 2025, que convida a educação católica a um compromisso efetivo com o cuidado da Casa Comum. Além de aprofundarmos os fundamentos teóricos, são indicadas ações práticas para a educação básica em prol da sustentabilidade.
A Pastoral como espaço de articulação e evangelização ganha destaque em artigos que exploram desde os apelos do Espírito Santo nos sinais dos tempos até o papel da coordenação pedagógica em uma perspectiva sinodal. A reflexão sobre Paulo Freire e o Papa Francisco traz contribuições epistemológicas valiosas, unindo uma educação crítica e criativa ao compromisso com a formação de sujeitos transformadores.
Outros artigos nos conectam com experiências concretas e inspiradoras. O Vicariato da Educação da arquidiocese da Arquidiocese do Rio de Janeiro compartilha a realização do IV Simpósio Arquidiocesano de Educação Católica, enquanto o Fórum de Pastoral Infantil do SAGRADO – Rede de Educação – nos recorda a importância de evangelizar as infâncias em diálogo com as famílias. Experiências, tais como os projetos “Paz e Bem” e a “Acolhida Semanal”, destacam práticas pastorais inovadoras, as quais cultivam a cultura do encontro nos nossos espaços educativos.
A integração entre o fazer pastoral e pedagógico também é iluminada por reflexões sobre a sinodalidade, o voluntariado e a gestão coletiva do tempo. Outros temas, como a gestão ESG, o Jubileu de 2025 e o novo material do Pacto Educativo Global, trazem à tona perspectivas que alinham as urgências do mundo contemporâneo à missão evangelizadora da educação católica.
Por fim, esta edição marca um momento especial na trajetória da Revista de Pastoral da ANEC, projeto, que, ao longo dos anos, se consolidou como um espaço de
partilha de conhecimento teológico e pedagógico, e que agora se transforma e assume novos formatos e linguagens, mais alinhados às demandas comunicacionais do nosso tempo. A essência da revista – fomentar a reflexão, valorizar as experiências e contribuir para o fortalecimento da Pastoral – permanece viva, mas com uma nova roupagem, mais ágil e acessível.
Agradecemos a todos os que contribuíram para que a Revista de Pastoral da ANEC se tornasse uma referência segura e inspiradora na educação católica: conselheiros editoriais, autores, revisores, leitores e a todos que acreditaram na força da comunicação pastoral. Que esta transformação continue a alimentar o sonho de uma educação comprometida com a construção do Reino.
IGREJA
O SÍNODO DE 2024 E SEUS FRUTOS
Comunicação ANEC
A Assembleia do Sínodo dos Bispos de 2024 marcou a culminância de um processo de reflexão que iniciou em 2021, com o objetivo de renovar a Igreja por meio de uma abordagem mais participativa e inclusiva. Em uma estrutura que se estendeu por várias fases, com debates em diferentes níveis, o sínodo concluiu com a publicação de um documento final, que traz propostas concretas e estruturais para a Igreja do futuro. Marco inédito é que, por decisão do Papa Francisco, esta edição do Sínodo não ensejará a publicação de uma exortação apostólica e o documento final será um texto de cunho magisterial.
O processo sinodal vivido entre 2021 e 2024 foi um marco significativo na história da Igreja, uma vez que buscou aprofundar o conceito de sinodalidade, entendida como “o caminhar juntos“ dos fiéis na direção de uma Igreja mais unida, aberta e missionária. Desde a abertura, o sínodo incluiu amplos debates sobre diversos temas, como o papel das mulheres, a descentralização da autoridade e a maior participação dos leigos na tomada de decisões dentro da Igreja. Os debates resultaram em um documento que não será seguido por uma exortação apostólica, mas que, segundo o Monsenhor Riccardo Battocchio, secretário Especial do Sínodo, faz parte do Magistério da Igreja, oferecendo diretrizes para o futuro.
O
DOCUMENTO FINAL
O documento final, com 155 parágrafos e peso de Magistério, foi organizado em cinco partes principais.
1. O Coração da Sinodalidade: trata da conversão necessária da Igreja e da escuta do Espírito Santo, destacando o chamado à sinodalidade como uma expressão de unidade e diversidade.
2. Juntos, na Barca de Pedro: foca na conversão das relações, enfatizando a importância da comunhão e da colaboração entre todos os membros da Igreja.
3. Sobre a Tua Palavra: destaca a conversão dos processos, incluindo uma maior valorização da Palavra de Deus e da catequese.
4. Uma Pesca Abundante: refere-se à conversão dos laços, com propostas para fortalecer a relação da Igreja com as diversas culturas e contextos regionais.
5. Eu Também Te Envio: trata da formação de discípulos missionários, com foco na formação integral e contínua, especialmente no contexto da liderança eclesial.
Entre os pontos destacados no documento, está a ênfase na participação ativa dos leigos, com maior envolvimento nas assembleias eclesiais, nos processos de discernimento e na tomada de decisões. Também se propõe um maior papel para as mulheres, especialmente no que se refere ao ministério diaconal, que continua sendo um tema em aberto.
POLÊMICAS E FRUTOS
O documento final reflete um consenso, mas também expõe pontos de divergência, principalmente em questões como o papel das mulheres na Igreja e a descen-
tralização da autoridade. O parágrafo sobre as mulheres, por exemplo, recebeu 97 votos contra, sinalizando que ainda existem resistências e expectativas divergentes. Embora o texto reconheça as contribuições das mulheres, o acesso delas a posições de liderança e o ministério diaconal permanecem em aberto, com a sugestão de continuar o discernimento teológico sobre o assunto.
Além disso, a questão da descentralização e a revisão das competências das Conferências Episcopais geraram 45 votos contrários, com receios sobre possíveis interpretações divergentes da doutrina em diferentes regiões. O parágrafo sobre liturgia também recebeu votos contrários, abordando a relação entre sinodalidade e liturgia, bem como propondo um grupo de estudo para aprofundar essa reflexão.
Outro aspecto importante foi o apelo a uma “conversão relacional”, com ênfase na abertura para o outro e na escuta mútua, algo que se considera essencial para superar as divisões do mundo
moderno, como as guerras e a exploração das pessoas e da criação.
O PORVIR DA IGREJA
Com a aprovação do documento pelo Papa Francisco, o Sínodo de 2024 propõe uma reconfiguração da Igreja como uma instituição mais sinodal, ou seja, mais participativa e colaborativa, em que cada membro desempenha um papel significativo. Contudo, a implementação dessas propostas será um processo gradual, com a continuação de grupos de estudo até 2025, os quais irão trabalhar em questões delicadas e assegurar que a sinodalidade se torne uma realidade vivida e não apenas teórica.
Dessa forma, o Sínodo de 2024 representa apenas uma renovação do espírito de missão e de comunhão dentro da Igreja Católica, por meio de mudanças estruturais que acolham os novos tempos da humanidade, com um olhar atento às questões contemporâneas e à necessidade de adaptação a contextos culturais diversos.
IGREJA
DILEXIT
NOS – UM CHAMADO PARA A EDUCAÇÃO DO CORAÇÃO
Comunicação ANEC
A nova encíclica Dilexit nos, publicada pelo Papa Francisco, chega em um momento de grande desafio para a humanidade. Em meio às crises sociais, políticas, econômicas e ecológicas, o Papa nos chama a uma reflexão profunda sobre o sentido da vida e a importância de educar o coração. O texto, que significa, literalmente, “Ele nos amou”, surge como um convite a redescobrir e valorizar o que é genuíno, verdadeiro e integral no ser humano. Por meio da metáfora do coração, Francisco propõe uma educação que vá além do intelectual e do técnico, que alcance, também, as dimensões afetiva e espiritual. Em um mundo fragmentado e marcado por ritmos acelerados e uma cultura de consumo, ele nos desafia a desenvolver uma pedagogia do amor e da compaixão, com raízes profundas e verdadeiras. Esse chamado amplia o entendimento da educação católica para além do conhecimento formal, apontando para uma educação integral que não se limita a formar mentes, mas também corações.
O novo escrito do Papa é um verdadeiro tratado de antropologia teológica contemporânea. Ao descrever o ser humano a partir da experiência humano-divina de Jesus Cristo, Francisco oferece uma visão que resgata uma devoção antiga – o Sagrado Coração de Jesus – e a insere nas questões mais urgentes do nosso tempo. Com isso, ele não apenas evoca uma prática espiritual piedosa e tradicional, mas também coloca a Igreja na vanguarda do pensamento católico atual, abordando o ser humano como
uma unidade de corpo, mente e espírito, em busca de autenticidade e significado. A encíclica dialoga diretamente com as necessidades e feridas do homem contemporâneo, bem como propõe a educação do coração como caminho para a formação integral e verdadeira da pessoa humana.
No primeiro capítulo, “A Importância do Coração”, o Papa Francisco sublinha a centralidade do coração como símbolo da essência humana e da autenticidade. A encíclica retoma o entendimento do coração não apenas como um órgão físico, mas como o centro da alma e da vida interior, onde se encontram o desejo, a razão, a emoção e as decisões fundamentais. Esse símbolo aponta para o desafio de superar a superficialidade e o consumismo, que levam o ser humano a viver sem sentido, desconectado da própria interioridade e da busca por propósito. Na educação católica, esse chamado representa uma responsabilidade urgente de cultivar em cada aluno um olhar voltado para a profundidade das próprias vidas e para o que há de mais verdadeiro em sua existência: a capacidade de amar e se comprometer com um sentido maior (DN, n. 2).
Ao enfatizar o coração como um ponto de união entre racionalidade e emoção, o Papa nos convida a reconhecer o ser humano em sua complexidade. Segundo ele, o coração é um lugar onde a razão e a emoção se encontram e onde cada pessoa encontra a integridade como um “complexo anímico-corpóreo” (DN, n. 3).
Na prática educativa, essa visão requer uma abordagem que integre mente e coração, razão e sensibilidade. A educação católica, nesse sentido, não pode se limitar a desenvolver habilidades cognitivas ou técnicas; precisa cuidar do ser humano de forma integral, reconhecendo que emoções, espiritualidade e intelecto formam uma unidade que exige atenção e desenvolvimento. Esse compromisso com a formação completa responde a uma necessidade urgente na nossa sociedade, que valoriza, excessivamente, a eficiência técnica e o sucesso exterior, mas, frequentemente, esquece-se de cultivar o interior dos indivíduos.
Outro ponto essencial destacado pelo Papa é a autenticidade, a qual nasce do autoconhecimento e da sinceridade. Ele defende que o coração é o “lugar da sinceridade”, onde não se pode esconder as intenções e onde reside o que há de mais autêntico em cada pessoa (DN, n. 5). Para a educação católica, isso implica promover um ambiente onde os estudantes possam explorar suas identidades e intenções de maneira verdadeira e sem máscaras. Em um mundo dominado pelas aparências e pela pressão de conformar-se a ideais superficiais, formar pessoas autênticas é uma missão que exige coragem e compromisso, convidando os jovens a serem eles mesmos, a olharem para dentro e a conhecerem o próprio valor interior. Trata-se de um desafio pedagógico profundo, o qual requer que a escola católica não apenas informe, mas também transforme, ajude cada aluno a encontrar o próprio caminho de verdade e autoconhecimento.
A encíclica também aborda o autoconhecimento como uma fonte de cuidado pessoal. Inspirado no livro dos Provérbios, Francisco lembra que “nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso”, e que devemos “velar com cuidado sobre o coração, porque dele jorram as fontes da vida” (DN, n. 6). No
contexto educativo, esse ensinamento nos lembra da importância de cultivar o autoconhecimento como parte fundamental da formação dos alunos. Estar em contato com os próprios sentimentos e desejos, aprender a discernir entre as vozes interiores e cultivar uma vida coerente são práticas que tornam o indivíduo mais resiliente e mais capaz de enfrentar as complexidades do mundo moderno. Isso envolve não apenas um aprendizado intelectual, mas um cuidado que deve ser cultivado com atenção e responsabilidade, tanto por parte dos educadores quanto dos próprios alunos.
No segundo capítulo, “Gestos e Palavras de Amor”, o Papa Francisco explora o amor de Cristo como um modelo de educação. Para ele, o Coração de Cristo é o centro do amor divino e humano, sendo também o núcleo do “primeiro anúncio” da fé cristã (DN, n. 32). Na educação católica, isso representa um chamado a praticar o amor por meio de ações concretas, indo além do discurso sobre virtudes e valores. Assim como Jesus demonstrava amor nos gestos, a educação católica deve inspirar os alunos a exercerem o amor em atos de solidariedade, compaixão e generosidade. Para Francisco, Cristo é o exemplo do educador próximo e sensível às necessidades dos outros, sempre buscando o encontro e a comunhão com o outro. A prática educativa, então, é convidada a seguir esse exemplo, incentivando a vivência de uma fé que se manifesta na prática e que forma pessoas comprometidas com a construção de uma sociedade mais justa e humana.
Esse modelo de proximidade de Cristo também sugere a importância de criar um ambiente de acolhimento e pertencimento nas escolas. Francisco lembra que Cristo “veio para os seus” e nos considera parte da família (DN, n. 34). Para a educação católica, isso significa estabelecer um espaço onde cada aluno se sinta
educa para a vida, que acompanha e sustenta cada aluno na caminhada de descoberta e crescimento.
Por fim, a encíclica nos chama a superar o medo e a desconfiança. Francisco nos lembra que Jesus, em sua ternura, diz aos seus: “Filho, tem confiança” (DN, n. 37). No ambiente educativo, esse é um convite a proporcionar aos alunos um espaço seguro, onde possam experimentar, errar e crescer sem medo de serem julgados. Trata-se de cultivar uma pedagogia da confiança e da misericórdia, na qual a busca pelo conhecimento seja um caminho livre de opressão e de exigências que pesam sobre os ombros. A escola católica, assim, torna-se uma extensão do amor de Deus, um lugar onde o aluno se sente respeitado, desafiado e amado.
Dessa forma, a encíclica Dilexit nos apresenta um manifesto para uma educação do coração, uma formação que não apenas instrui, mas que cuida e transforma. O Papa Francisco nos convida a reconstruir o papel educativo das instituições católicas a partir de uma aborda-
torna-se não apenas relevante, mas essencial para que possamos construir uma sociedade enraizada na verdade, na autenticidade e no amor.
A encíclica Dilexit nos, do Papa Francisco, é um verdadeiro tratado de antropologia teológica contemporânea. Ao descrever o ser humano a partir da experiência humano-divina de Jesus Cristo, Francisco oferece uma visão que resgata uma devoção antiga – o Sagrado Coração de Jesus – e a insere nas questões mais urgentes do nosso tempo. Com isso, ele não apenas evoca uma prática espiritual piedosa e tradicional, mas também coloca a Igreja na vanguarda do pensamento católico atual, abordando o ser humano como uma unidade de corpo, mente e espírito, em busca de autenticidade e significado. Dilexit nos, assim, propõe uma espiritualidade e uma pedagogia de vanguarda, que elevam a educação católica a um projeto de renovação pessoal e social fundado na compaixão, na autenticidade e na proximidade, capazes de tocar e transformar o coração de cada ser humano.
CF 2025 – ECOLOGIA INTEGRAL, OS 10 ANOS
DA LAUDATO
SI´
E UM RECADO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA
IGREJA
vando a reflexão e a ação ecológica sob uma perspectiva holística, que ultrapassa as questões ambientais e avança em direção ao compromisso com toda a Criação, integrando o respeito, a justiça e a paz.
Apesar de avanços nos últimos anos, a educação ecológica ainda precisa se concretizar de forma plena, mesmo no contexto das instituições católicas. A Campanha da Fraternidade de 2025 reforça que a responsabilidade ecológica vai além de práticas isoladas e que a educação para a ecologia integral deve perpassar os currículos e projetos pedagógicos de maneira sólida e coerente. É preciso cultivar uma formação que promova uma nova mentalidade nos estudantes e, ao mesmo tempo, um compromisso com ações concretas para a preservação e recuperação do meio ambiente, ampliando o entendimento sobre os impactos sociais e humanos que a crise ecológica provoca.
O conceito de ecologia integral, proposto por Francisco na Laudato Si’, permite enxergar a ecologia não apenas como uma preocupação ambiental, mas como uma questão de justiça social, econômica e política. Esse olhar integral aborda o impacto que as questões climáticas têm na vida dos mais vulneráveis e denuncia o modelo de desenvolvimento que prioriza o lucro em detrimento do bem comum. Assim, a ecologia integral nos convida a compreender que a Criação não é apenas o ambiente que nos rodeia, mas inclui as relações sociais, culturais e espirituais entre as pessoas e entre elas e o Criador. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade 2025 se torna um verdadeiro chamado pedagógico-pastoral para que escolas e IES católicas formem jovens conscientes de que o compromisso com a ecologia é, simultaneamente, um acordo com a dignidade humana e com a justiça social.
Do ponto de vista pedagógico, a CF 2025 propõe uma riqueza de possibilidades. A transdisciplinaridade se destaca como uma abordagem poderosa para expandir a campanha para além dos espaços convencionais de pastoral e do Ensino Religioso. Assim, ao tratar de ecologia integral, as escolas e IES católicas podem explorar temas ecológicos em aulas de Ciências, Geografia, História, Filosofia e até Matemática, abordando desde os fundamentos biológicos da biodiversidade até os impactos econômicos das mudanças climáticas. Esse movimento de transversalidade permite que os alunos compreendam a complexidade das questões ecológicas e as integrem com valores cristãos e humanistas. Além disso, essa integração favorece a construção de um conhecimento que transita entre a teoria e a prática, incentivando os estudantes a desenvolverem projetos, práticas cotidianas e iniciativas comunitárias em favor da sustentabilidade.
A CF 2025, ao unir o décimo aniversário da Laudato Si’ e os 800 anos do Cântico das Criaturas, se apresenta como uma oportunidade educativa que vai além de uma simples campanha temática. Ela representa um convite para que as instituições educacionais católicas encarnem, na prática e no ensino, os princípios da ecologia integral. Essa tarefa pedagógico-pastoral visa formar estudantes que reconheçam o próprio papel no cuidado com a Casa Comum e que compreendam que a verdadeira transformação do mundo depende de uma conversão de mentalidades e atitudes. Assim, a CF 2025 inspira a educação católica a não só discutir e refletir sobre a ecologia integral, mas a vivenciá-la e promovê-la, formando cidadãos comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e sustentável para todos.
IGREJA
O JUBILEU DE 2025 E AS ESCOLAS CATÓLICAS
Comunicação ANEC
Em 2025, a Igreja Católica celebrará o Jubileu Ordinário com o tema “Peregrinos da Esperança“. Esse tempo jubilar oferece às escolas católicas uma oportunidade única de reafirmar o compromisso com a educação, não só como um espaço de aprendizagem, mas também como um ambiente que promove a esperança e a construção de um futuro melhor para a sociedade.
O Jubileu de 2025, como um ano santo, é mais que uma festividade religiosa: é um convite à renovação espiritual e social. Para as escolas católicas, o momento se apresenta como uma ocasião de integração entre fé e educação, em que a esperança — princípio fundamental do Jubileu — torna-se o fio condutor de atividades, projetos e reflexões. A educação, neste contexto, é vista como um caminho de “esperançar”, termo popularizado pelo educador Paulo Freire, que destaca a necessidade de uma esperança ativa, que não espera, mas age e transforma. Celebrar o Jubileu de 2025, nas escolas católicas, não se resume a eventos pontuais, mas envolve uma série de iniciativas pedagógicas e pastorais que se conectam com a vivência da fé e com a construção de valores humanos e cristãos. O jubileu deve ser uma ocasião para fortalecer a identidade e a missão dessas escolas, que, além de ensinar, são chamadas a ser testemunhas vivas de esperança em um mundo que enfrenta crises e desafios crescentes.
Entre as ações que podem ser desenvolvidas nas escolas católicas, destaca-se a criação de projetos pastorais que incentivem os estudantes a refletirem sobre a esperança e a praticarem a solidarieda-
de. Atividades como jornadas de oração, retiros e momentos de adoração podem proporcionar aos alunos a oportunidade de aprofundar o vínculo com a fé e de experimentar a esperança de uma maneira mais concreta. Além disso, ações comunitárias, como campanhas de solidariedade e ajuda aos mais necessitados, refletem a prática do amor ao próximo e demonstram que a esperança se manifesta, sobretudo, em atitudes de cuidado e serviço.
Os projetos pastorais, nas escolas católicas, são um meio eficaz de semear a esperança. Para isso, transformam ideias e valores em práticas que cultivem um ambiente educativo de paz, justiça e empatia. Iniciativas, como “Jornadas da Esperança”, podem envolver toda a comunidade escolar em atividades que incentivem o olhar para o próximo e promovam o diálogo, o respeito e a fraternidade. Da mesma forma, a realização de palestras, debates e reflexões em sala de aula sobre a importância do Jubileu pode inspirar os jovens a se tornarem agentes de mudança, comprometidos com o bem comum e guiados pela esperança cristã.
Além disso, o Jubileu de 2025 marca uma ocasião muito especial para a ANEC, que também celebra os 80 anos de luta pela educação católica no Brasil. Esse Jubileu duplo serve como um momento de agradecimento à dedicação e ao compromisso com a formação integral de milhares de estudantes em todo o país, reafirmando a educação católica como um instrumento de transformação social e evangelização.
IGREJA
ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO REALIZA O IV SIMPÓSIO ARQUIDIOCESANO DE EDUCAÇÃO CATÓLICA
Vicariato Episcopal para a Educação da Arquidiocese do Rio de Janeiro
O Simpósio Arquidiocesano de Educação Católica é um marco para as instituições educacionais cariocas ligadas à Igreja. Iniciativa do Vicariato Episcopal para a Educação, órgão oficial da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, responsável pelo acompanhamento espiritual e pastoral das escolas católicas, ocorre anualmente, sempre no mês de outubro, com o objetivo de tratar algum tema relevante relacionado à educação católica.
Neste ano de 2024, foi realizada a 4ª edição do Simpósio, com o tema “A identidade da educação católica na era da inteligência artificial”. Esse assunto, tão falado ultimamente não só no ramo da educação, mas também em diversos setores do mercado, devido às amplas possibilidades e aos cuidados necessários, foi o escolhido a fim de elucidar pontos importantes, como desafios, oportunidades, soluções, e, claro, sempre tendo a fé e a doutrina como plano de fundo para o debate.
O evento ocorreu no Colégio de São Bento, no Centro do Rio de Janeiro, das 8h às 18h, no dia 26 de outubro, com 205 participantes, representantes das escolas católicas, como diretores, coordenadores pedagógicos e de pastoral, professores de Ensino Religioso e outras disciplinas, e outras pessoas que vivem, direta ou indiretamente, da educação católica.
O Vicariato Episcopal para a Educação contou com a ajuda de algumas parcerias, cruciais para uma experiência memorável a todos os participantes. Em primeiro lugar, o Colégio São Bento, por ter oferecido sua casa e disponibilizado sua prestativa equipe de trabalho. Outra parceria foi com a SM Educação, instituição especializada na gestão de ensino; com o restaurante Couveflor, que preparou e organizou toda a alimentação do evento; e com as livrarias Paulus, Paulinas e Lumen Christi, que expuseram seus livros durante todo o encontro.
Em relação aos palestrantes, estiveram presentes o Pe. Anderson Alves, da Diocese de Petrópolis e doutor em Filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce em Roma; a Ir. Adair Sberga, vice-presidente do Conselho Superior da ANEC (Associação Nacional de Educação Católica); palestrantes da SM Educação, especialistas em soluções educacionais, incluindo Francisco Angel Morales Cano, Luciana Lauria e Leonardo Rabelo, discutindo sobre o tema em uma mesa-redonda; e Dom André Bertini, monge beneditino, professor de Ensino Religioso do Colégio de São Bento e de Teologia da Faculdade de São Bento.
Ao fim de um dia de palestras, conferências e trocas de experiências, o IV Simpósio Arquidiocesano de Educação Católica encerrou-se com um coquetel, enriquecido com música ao vivo, o que
proporcionou um último momento de partilha e de laços estreitados entre aqueles que, todos os dias, se doam pela educação católica.
IDENTIDADE
A ESCOLA CATÓLICA: UM ESPAÇO DE EVANGELIZAÇÃO ARTICULADA
Sérgio Rogério Azevedo Junqueira e Terezinha Sueli de Jesus Rocha¹
Desde que os primeiros religiosos e religiosas organizaram as instituições escolares no Brasil, verificou-se que a organização dos currículos, os prédios escolares, os recursos de apoio ao ensino-aprendizagem foram sendo alterados. Não apenas por questões de tecnologia e de novas exigências das legislações no campo educacional, nem pelo aprimoramento das teorias pedagógicas, mas também porque o modo de ver o mundo e a compreensão religiosa das famílias e dos estudantes foram alteradas. Passamos da perspectiva de um país com uma religião oficial a um Estado laico que acolhe e respeita a diversidade religiosa.
Porém, as escolas confessionais católicas, ao longo dessa história, perceberam e procuraram articular o próprio papel na sociedade – garantir
uma qualidade educacional, mas também oferecer um espaço de evangelização. No atual contexto, pensar uma educação humanizadora, em uma escola com identidade que procura articular o pastoral e o pedagógico, é, com certeza, o desafio das equipes de gestores de cada unidade escolar.
Para isso, propomos uma reflexão a partir da leitura de uma educação evangelizadora na escola católica, do compromisso proposto pelo Papa Francisco de um Pacto Educativo Global que favoreça uma escola em pastoral e uma Pastoral Escolar em diálogo com o currículo evangelizador, sistematizado a partir de um projeto objetivo, que poderá dar suporte à escola em diálogo com a ciência, a cultura e as escolhas religiosas da comunidade escolar.
Sérgio Junqueira
¹ Livre docente e pós-doutor de Ciência da Religião pela PUCSP; pós-doutor em Geografia pela UFPR; pós-doutor em Ciência da Religião na UEPA; doutor e mestre em Ciência da Educação pela Universitá Pontificia Salesiana de Roma; especialista em Metodologia do Ensino Religioso pela PUCSP; especialista em Metodologia do Ensino Superior pelo CEPEMG; licenciado em Pedagogia pela UNIUBE; bacharel em Ciências Religiosas pelo CEPEMG.
Terezinha Sueli
¹ Mestrado em Teologia (PUCPR), especialização em Administração de Empresas (FAE/CDE); especialização em Metodologia do Ensino Superior (FAE/CDE) e é licenciada em Pedagogia (PUCPR).
1. Educação evangelizadora e a escola católica
A educação é a melhor ferramenta para mudar o mundo, já que nos ajuda a crescer em liberdade, verdade e bondade. Diante dos desafios constantes do presente, ela nos proporciona habilidades para enfrentá-los e construir pontes de fraternidade entre os seres humanos. Compreendendo que o pedagógico é essencial à aprendizagem como mudança da sociedade, tanto no âmbito profissional quanto no lazer cotidiano, deve estar imbuído de valores que expressam atitudes de respeito, compaixão, responsabilidade, justiça, comunhão com os diferentes e mudança de paradigma segundo os tempos, as exigências e os lugares. A educação não pode ser um acontecimento apenas parcial ou periférico; ela deve atingir a integralidade do humano, conferindo-lhe responsabilidade e, ao mesmo tempo, oferecendo-lhe os meios necessários para um profícuo autodesempenho nas tarefas do mundo. Considerando que a educação precisa de uma grande aliança entre os pais e todos os educadores para propor uma vida plena, boa, rica de
sentido, aberta a Deus, aos outros e ao mundo. Essa aliança é ainda mais necessária, porque a educação é uma relação pessoal. Ela é um percurso que revela o lado transcendental da fé, da família, da Igreja e da ética, insistindo na dimensão comunitária.
Compreende-se que pensar na educação é pensar nas gerações futuras e no futuro da humanidade, o que exige unir esforços para alcançar uma aliança educacional ampla, a fim de formar pessoas maduras, capazes de reconstruir o tecido relacional e criar uma humanidade mais fraterna. O Código do Direito Canônico, promulgado em 1983, ao oferecer orientações para a educação, afirma que “a verdadeira educação deve promover a formação integral da pessoa humana, em vista de seu fim último e, ao mesmo tempo, do bem comum da sociedade; as crianças e jovens sejam educados de tal modo que possam desenvolver harmoniosamente seus dotes físicos, morais e intelectuais, adquirir senso de responsabilidade mais perfeito e correto uso da liberdade, e sejam formados para uma participação ativa na vida social” (CIC, cân. 795).
Uma educação que humaniza não se limita a fornecer um serviço de formação, mas cuida dos resultados no quadro geral das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo; não pede simplesmente ao professor para ensinar e ao aluno para aprender, mas exorta cada um a viver, estudar e agir de acordo com as premissas do humanismo solidário; não prevê espaços de divisão e contraposição. Pelo contrário, oferece lugares de encontro e debate para realizar projetos educativos válidos; trata-se de uma educação – ao mesmo tempo – sólida e aberta, que derruba os muros da exclusividade, promovendo a riqueza e a diversidade dos talentos individuais e expandindo o perímetro da própria sala de aula a cada âmbito da experiência social em que a educação pode gerar solidariedade, partilha, comunhão.
A educação católica orienta como princípio a busca do ser humano para dar sentido à própria existência, de forma a tornar a condição da descoberta da sua Identidade Confessional como missão no mundo. Tal descoberta não prescinde da participação social, mas insere-se nela. Trata-se de uma educação comprometida com alguns princípios fundamentais, tais como a valorização da vida, a ética, a integridade, a honestidade, a defesa dos vulneráveis, o cuidado pela natureza e o equilíbrio ambiental. Verificamos, na educação católica, os esforços pedagógicos que se aliam a valores, como solidariedade, justiça, fraternidade, liberdade e equidade. Isso com a perspectiva de orientar a uma proposta educativa em um horizonte maior, como o do sentido da vida ultrapassando valores, atrativos e facilidades geradas pelo consumismo, por exemplo. Por isso, é comum encontrar, nas escolas católicas, diferentes ações sociais que favoreçam a população com maior vulnerabilidade,
tais como projetos e articulações que, envolvendo a comunidade, ultrapassam a mera dimensão acadêmica, visando uma formação integral. De forma geral, a ênfase recai sobre o caráter confessional, na centralidade da pessoa de Jesus Cristo, e situa a escola católica na linha da nova evangelização. Por essa razão, quando se fala da educação na perspectiva cristã, referimo-nos, explicitamente, à opção por uma ética do respeito ao outro, do diálogo e da fraternidade, acentuando o caráter comunitário e, portanto, o relacionamento social como fator básico do processo educativo.
Ao pensar a escola como um todo, compete a todos os segmentos encaminhar as crianças e os jovens para o respeito mútuo, despertando-lhes a atenção e a estima pelos direitos humanos, pela prática da justiça e pelo cumprimento do dever, sensibilizando-os para as exigências de uma fraternidade universal e concreta. A educação evangelizadora assume e completa a noção de educação libertadora, porque contribui para a conversão do ser humano total, orientando-o radicalmente para a genuína libertação cristã, que o torna acessível à plena participação no mistério de Cristo ressuscitado, isto é, à comunhão filial com o Pai e à comunhão fraterna com todos os seres humanos, seus irmãos. Portanto, urge uma verdadeira formação cristã sobre a vida, envolvida nas dimensões do ser humano, que corrija os desvios de certas informações que são recebidas na sociedade; uma educação para a liberdade, um dos valores fundamentais da pessoa. É também necessário que a educação cristã se preocupe em educar para o trabalho, especialmente nas circunstâncias da cultura atual. A educação propõe uma solidariedade que convida as pessoas a confrontarem-se com os desafios da convivência multicultural.
Nas sociedades globais, convivem, diariamente, cidadãos de tradições, culturas, religiões e concepções de mundo diferentes, e daí surgem, muitas vezes, incompreensões e conflitos. Em tais circunstâncias, as religiões são frequentemente consideradas estruturas de princípios e valores monolíticos, intransigentes, incapazes de conduzir a humanidade à sociedade global. A Igreja Católica, pelo seu lado, “nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo”, é seu dever “anunciar a cruz de Cristo como sinal do amor universal de Deus e como fonte de toda a graça”. Está igualmente convencida de que, na verdade, as dificuldades, geralmente, são resultado de uma ausência de educação para o humanismo solidário, baseada na formação da cultura do diálogo.
O Concílio Vaticano II ponderou a importância da educação mediada pela escola, enumerando algumas de suas
funções: entre todos os instrumentos da educação, possui a escola importância peculiar. É por força de sua missão que ela aperfeiçoa, com desvelo ininterrupto, as faculdades intelectuais, desenvolve a capacidade de julgar com retidão, faz participar no patrimônio cultural adquirido por gerações passadas, promove o sentido dos valores, prepara a vida profissional, faz nascer relações de amizade entre os alunos de índole e condições diversas e, assim, favorece a disposição mútua de se entenderem.
Compreendendo que a escola continua sendo o lugar onde as pessoas podem ser reconhecidas como tais, acolhidas e promovidas, ainda que não deixemos de criar uma dimensão válida de eficiência e eficácia na transmissão de conhecimentos que permitam a seu público construir um lugar na sociedade, é essencial que sejamos “mestres da humanidade”. Há de se buscar meios
aptos para que a existência humana se transforme em uma força viva e atuante na história e no mundo humano.
Efetivamente, na escola, propomos a evangelização e a promoção do encontro com uma pessoa, isto é, com Cristo – e este é o objetivo de toda obra evangelizadora –, que é capaz de mudar a vida das pessoas e, por conseguinte, de convertê-las. Cristo não é uma ideia, mas um alguém. E o encontro com essa pessoa histórica torna-se extemporâneo à medida que o acesso a essa pessoa se dá por sua Palavra, seus ensinamentos, seu jeito de ser. A Evangelização consistiria, portanto, na apresentação dessa pessoa, no caminho de discipulado que, muito concretamente, significa aprender quem é Jesus, o que Ele fez, o que Ele ensinou, o que Ele significou na história do mundo para que também nós, que estamos há muitos séculos de distância dele, nos tornemos outros “Cristos” na história. Tal é, portanto, o objetivo da Evangelização na escola católica: que todos os envolvidos na educação se aproximem de Cristo para imitá-lo e, imitando-o, possam fecundar o mundo real dos homens com o mesmo amor que Cristo, misteriosamente, fecundou a história humana.
Portanto, a comunidade escolar não só precisa ter contato com atividades pedagógico-evangelizadoras-pastorais em seu currículo que potencializem a experiência de uma educação integral e pautada em competências acadêmicas, mas também socioemocionais, e não somente mercadológicas. Assim, a escola católica acredita no currículo evangelizador, centrado na missão de Jesus Cristo, em que há a proposta de uma escola em pastoral, que caminha em consonância com as ações pedagógicas e não seja apenas uma retórica, mas que possibilite aos estudantes, por meio dos diversos componentes curriculares e projetos desenvolvidos, a experiência do
compromisso cristão com um mundo mais justo e fraterno. A confessionalidade, tradicionalmente, se expressa em diversos elementos da vida escolar, de modo a compor uma identidade visível. Dentre os elementos mais tradicionalmente associados à identidade confessional, destacam-se: 1) elementos estéticos: presença de imagens de santos fundadores, crucifixo nas salas de aula, cartazes e murais com temática religiosa, hábito das(os) religiosas(os), hinos; 2) elementos religiosos: orações de abertura e encerramento de atividades, celebrações litúrgicas em ocasiões especiais; 3) elementos pastorais: catequese, encontros de jovens e de famílias, preparação para sacramentos, mobilizações e campanhas sociais com inspiração religiosa ou eclesial, participação em eventos da Igreja local; 4) elementos históricos: a instituição, tradicional, conhecidamente católica, antiga e com alguma história relevante para a comunidade em que se insere.
Por essa razão, a escola confessional católica necessita ter muito presente, no projeto pedagógico, qual a essência e o porquê (motivo) de sua identidade e missão. O currículo deve ser evangelizador. A escola católica é, também, um espaço eclesial, por isso, tem sentido enquanto for um espaço de vivência e perpetuação do carisma. Algo nos diz que não é fácil, mas, com uma formação sólida dos agentes da educação – inserindo, nesse contexto, primeiramente, os professores e os funcionários – haverá um forte indicador de que tudo acontecerá. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em seus princípios e objetivos, fortalece e propõe uma formação integral oriunda da consciência do fazer e do ser pedagógico, dando condições para que o aluno seja protagonista de sua história e da vida em comunidade. Por isso, ao falar de uma escola confessional, com um
currículo evangelizador, deve-se pensar em um espaço-tempo que proporcione experiências significativas nas diversas dimensões da vida humana, seja acadêmica, pastoral, afetiva, psicomotora, política etc. De preferência, com várias delas conectadas ao mesmo tempo, uma vez que somos seres complexos, e nem as pessoas, nem as experiências, estão separadas pelas dimensões na vida.
Efetivamente, a instituição escolar, independentemente de ser católica ou não, é interpelada pelo contexto sociocultural do momento, o que exige discernimento para buscar uma resposta adequada às questões da atualidade. No atual contexto, lida-se com um forte pluralismo social que incide, de maneira especial, no campo educacional, ao ficar descartado um sistema único de pensamento, ao ser questionada a hierarquia única de valores, ao se multiplicarem indefinidamente as ofertas de compreensão do mundo e orientações para a vida. De fato, o pluralismo social, com incontestáveis aspectos positivos, favorece o cultivo de um relativismo constante, produzindo um “pensamento frágil” e uma “religião da moda”, uma indefinição na maneira de viver e a rejeição às opções que conduzem a vida a uma determinada direção.
O processo de evangelização no espaço da escola católica, sempre mediado por três dimensões – anúncio, serviço e celebração – e articulando-se em todos os segmentos escolares, permitirá o estabelecimento de um efetivo projeto para a Pastoral Escolar nas unidades de educação básica a partir dos diferentes carismas. Para a escola católica dar conta da sua função social desde o pressuposto antropológico, coloca-se a demanda da formação por uma racionalidade em favor da vida. A escola torna-se lugar de humanização, já que se utiliza do conhecimento e da apropriação
das culturas e colabora com a abertura de novos horizontes, de forma a conduzir o indivíduo a fazer-se plenamente humano. O serviço da escola não implica apenas oferecer conhecimentos acadêmicos ou fazer escolhas de bons conteúdos, mas, principalmente, optar por conhecimentos que se tornem referenciais e se transformem em valores de vida.
Portanto, compete à escola católica: ser uma verdadeira comunidade formada por todos os elementos que a integram; integrar-se na comunidade local e estar aberta à comunidade nacional e latino-americana; ser dinâmica, viva e estar em contínua experimentação franca e leal; estar aberta ao diálogo ecumênico; partir da escola para a comunidade, transformando a mesma escola em centro cultural, social e espiritual da comunidade; partir dos filhos para chegar aos pais e à família; partir da educação escolar para chegar aos demais ambientes educacionais (cf. DMd, p. 55).
Sendo a ação concreta da escola católica para a sociedade e a atuação de serviço impulsionada pelo “anúncio” da Boa-Nova de Jesus aos que estão em processo de formação, exatamente, por essa razão, onde se institui a “celebração” de uma comunidade com os mesmos fins, como espaço concreto de simbologias e ritos, que dão significação e sentido para o projeto cristão de vida. A escola católica é um espaço privilegiado e próprio para realizar um autêntico encontro com as culturas, na pluralidade de ideias. É um espaço primoroso de encontro de pessoas em vista de uma nova história a ser pautada e construída a partir das novas gerações. É essa cultura do encontro que simultaneamente faz a escola católica ser um espaço contundente e provocador de comunhão entre pessoas, de diálogo e de partilha de conhecimentos acadêmicos que busquem compreender e promover a vida. Por princípio cristão, é território de “paixão e amor educativo, expressão do amor de Cristo pelos pobres, pelos pequenos, pela multidão à procura da verdade”. Nesse sentido, uma escola em pastoral seria aquela que está a serviço, que prioriza o cuidado com a pessoa, sua integralidade, que promove a inclusão e a justiça, que trabalha para ressaltar a dignidade de todos, seja qual for sua condição. É a imitação do Cristo Pastor. Esse espaço de realização da missão evangelizadora da Igreja busca concretizar sua tarefa, educa de um jeito próprio, a partir dos valores do Evangelho em comunhão com a Igreja. Assim, cabe ao Projeto Educativo da escola católica apresentar e assumir nos seus propósitos e nas suas ações uma síntese entre cultura e fé, ao mesmo tempo que salvaguarda a sua identidade confessional e a realização do papel social.
A escola trabalha no sentido de formar seres humanos, profissionais éticos, responsáveis, comprometidos,
competentes e solidários. Porém, esse agir necessita de uma perfeita sintonia com a cultura da comunidade. É a forma pela qual um povo se organiza política, econômica e socialmente e uma demonstração clara e visível de quais valores estão na base das instituições, bem como da definição de pessoa humana que dá sustentação e baliza as estruturas sobre as quais a sociedade está organizada. Ao conceito de educação católica, subtende-se que a pessoa humana é vista como a presença viva de um Cristo que deu a própria vida para que todos se tornassem seres livres e felizes. Isso implica o conceito de próximo que temos; perguntar-se o que significa ser membro de uma comunidade e qual o comprometimento para com ela; o nível de consciência que possuímos de que a realização do eu passa, necessariamente, pela do outro; a consciência de que a felicidade se constrói na medida em que somos capazes de ser para e com os outros e de que somos livres para, consciente e despojadamente, fazermos nossas opções, a fim de sermos os construtores de nós mesmos e, assim, nos realizarmos. A escola católica é um espaço profético missionário da Igreja, presente no campo da cultura acadêmica. Enquanto Igreja, por sua missão primeira, a escola católica evangeliza pela sua presença e atuação, sendo sinal de Deus entre crianças e jovens estudantes e toda a comunidade educativa. De acordo com o Código de Direito Canônico, para dar conta de tal múnus, a escola católica precisa ter presente todas as dimensões de ser humano, anelando desenvolver com maestria e dignidade o afetivo, o psíquico, o cognitivo, o físico e o espiritual de cada um e de todos os seus membros para que “adquiram um sentido mais perfeito da responsabilidade e o reto uso da liberdade, e sejam preparados para participar ativamente na vida social” (CIC, can. 795).
movimento processos de mudança para que o mundo seja cada vez mais fraterno. Assim, por meio do projeto educativo da escola e do projeto de vida de cada educador e de cada educando, torna-se possível atender aos desejos mais profundos e às necessidades de realização para reinventar e recriar cotidianamente a realidade. Essa é a função mediadora exercida pela Pastoral Escolar, que ajuda na tomada de consciência para levar a mudanças internas e externas, ampliando a possibilidade de novos aprendizados e de um tipo de intervenção no meio para transformar e gerar vida plena para todos.
A escola católica é convocada, por seu ambiente, a desenvolver atividades de instrução e aprendizagem que favoreçam valores propostos pelo Evangelho, mesmo na pluralidade dos contextos culturais e na variedade de possibilidades educativas, que colaborem na formação do respeito pela dignidade de cada pessoa e pela sua unicidade, visando ao equilíbrio nos aspectos cognitivos, afetivos, sociais,
Efetivamente, a escola católica é um espaço privilegiado e próprio para realizar um autêntico encontro com as culturas, na pluralidade de ideias. É um espaço primoroso de encontro de pessoas em vista de uma nova história a ser pautada e construída a partir das novas gerações. É essa cultura do encontro que, simultaneamente, faz a escola católica ser um espaço contundente e provocador. Essa escola é instada a discutir continuamente a própria identidade para responder aos novos desafios e simultaneamente dialogar com os novos contextos. Para tanto, os últimos documentos do Dicastério para Educação Católica, bem como eventos que discutem a educação confessional dessa denominação, retomam aspectos das discussões desde a Gravissimum Educationis e desafiam a propor perspectivas frente à pluralidade e aos novos contextos sociais.
Nas escolas católicas, especialmente no Brasil, convencionou-se criar o setor de Pastoral Escolar para sistematizar as atividades evangelizadoras como sinal de
compromisso com sua missão eclesial. A mudança de legislação e do perfil de famílias e estudantes – nem todos católicos – que buscavam a escola em pastoral também exigiu reformulação na forma de cumprir o propósito. A diminuição de religiosos e religiosas nas instituições foi o fator que, em muitos casos, acelerou esse processo. Começou-se, então, a falar de “escola em pastoral”, remetendo à necessidade de a escola, neste novo e plural cenário, permanecer fiel à proposta inicial enquanto ocorria uma reorganização do lugar da catequese, das aulas de religião e do Ensino Religioso. Portanto, é necessário perceber a natureza da pastoral de maneira sistêmica em relação aos demais profissionais da equipe pedagógico-educacional e compreender a dinâmica dos serviços pedagógicos que se colocam em estreita relação com toda e qualquer situação presente na escola. Toda e qualquer atividade escolar pressupõe objetivos a serem alcançados e devem estar inseridos em um planejamento específico.
Já a ação evangelizadora, na sua amplitude, é o que explicita um Projeto Político Pedagógico da Escola Católica. É esse que mostra o rumo que a escola se propõe percorrer e construir.
Presente na Constituição Federal brasileira, o respeito às diversas formas de crer vem ao encontro da própria proposta de Jesus, uma vez que Ele anunciou e desejou vida em abundância a todos, e não só aos que criam n´Ele. Afirmar a própria identidade confessional em um contexto de diversidade, mantendo o diálogo e o respeito, e contribuir no discernimento e na elaboração do projeto de vida, de crianças, jovens e adultos é compromisso da educação. No caso das escolas confessionais católicas, a filiação à Igreja Católica Apostólica Romana assume várias possibilidades e dimensões. Talvez, a que mais nos interesse seja a dimensão
eclesiológica da confessionalidade, uma vez que as escolas são presença da Igreja e, por isso, compartilham da mesma missão evangelizadora da Igreja. O contexto em que a maior parte das escolas confessionais brasileiras se encontram exige debate estratégico acerca da sustentabilidade financeira, retenção e captação de estudantes e entrega de resultados acadêmicos reconhecidos pela sociedade. Nesse contexto, deve-se evidenciar dois elementos. O primeiro deles diz respeito à permanência do conceito “curriculum evangelizador” e “escola em pastoral”. A insistência em utilizá-los é um reforço para que não se esqueça da missão essencial pela qual as escolas confessionais iniciaram e pela qual ainda permanecem.
Para um percurso de evangelização que se propõe conhecer as narrativas sobre Jesus, seria suficiente ter na escola católica um ou dois períodos semanais de Ensino Religioso em uma perspectiva confessional. Ao fim da educação básica, os estudantes estariam subsidiados de informações sobre a fé cristã. Uma alternativa, neste modelo restrito aos relatos cristãos, seria a oferta compulsória de catequese dentro do ambiente escolar, ou em uma comunidade próxima.
2. Compromisso da evangelização –Pacto Educativo
“Evangelizar” indica que elementos característicos do Evangelho estão presentes na convivência humana. A ação desse verbo implica levar a proposta de Jesus a outras pessoas. E isso não se restringe a levar as narrativas históricas. Existe uma frase atribuída a São Francisco de Assis que revela esse sentido: “Evangelizai sempre. Se necessário, utilizai palavras”. Essa afirmação mostra que o Evangelho não está naquilo que se comunica
verbalmente, mas no que se anuncia com toda nossa forma de agir.
A Constituição Apostólica Gaudium et Spes evidencia o mundo contemporâneo e o cuidado que a Igreja pode e deve oferecer ao ser humano, visto que a missão do Redentor é salvar a humanidade. São Paulo VI afirmava que a Igreja é a “serva da humanidade”. Assim, a evangelização vem sendo entendida como o anúncio explícito de Jesus Cristo vivo e o cuidado com a pessoa em todas as suas dimensões e condições, sobretudo na urgência de resgatar a dignidade da pessoa humana perante a sociedade de consumo, do descartável, da exclusão. Há uma diferença substancial ao considerar os Evangelhos, uma vez que eles já foram escritos, e não se pode continuar escrevendo-os. Por outro lado, “evangelizar”, enquanto verbo, indica a ação de um texto. Se a essência do termo indicasse simplesmente a reprodução (decorar, ler literalmente...), não necessitaria ser esta – evangelizar – uma palavra em específico, poderia se utilizar “ler a narrativa da vida de Jesus”.
Um dos ambientes privilegiados para o anúncio do Evangelho é a escola. E, por ser um ambiente tão diversificado, o desafio permanece ainda maior e mais gratificante, principalmente nos dias atuais, em que acontecem transformações em ritmo frenético e, então, as formas de se chegar até a juventude ficam mais exigentes. Vale ressaltar, ainda, que o ato de evangelizar exige que, pelo menos, duas pessoas estejam conectadas aos valores do Evangelho: a pessoa ou as pessoas protagonistas da ação e a pessoa que está sendo convidada a se juntar a ação. É um ato de relações, que permite troca e ressignifica ação constante. Dessa forma, o discurso sobre esse espaço caracteriza-o como instituição social e responsável pelo processo contínuo de
que visa formar as pessoas que estejam dispostas a se colocarem ao serviço educativo da sua comunidade. Uma pedagogia concreta – baseada em testemunho, conhecimento e diálogo – é um ponto de partida para uma mudança pessoal, social e ambiental. Por essa razão, é necessário um “amplo pacto educativo, capaz de transmitir não só o conhecimento dos conteúdos técnicos, mas também e, sobretudo, a sabedoria humana e espiritual, feita de justiça” e comportamentos virtuosos capazes de
O Pacto Educativo Global demonstra que não é possível educar isolados, compartimentados, fragmentados, pois, para Francisco, “não é possível educar sem induzir à beleza, sem induzir o coração à beleza. E o caminho da beleza é um desafio, que deve ser enfrentado”. Para dar conta dessa convocação e do apelo a um novo pacto educativo, o Papa Francisco propõe compromissos a serem assumidos e vivenciados. São eles: colocar a pessoa no centro de cada processo educativo; ouvir as gerações mais novas; promover a mulher; responsabilizar a família; abrir-se à acolhida; renovar a economia e a política; cuidar da casa comum. Para que essa proposta possa acontecer, é preciso que nos unamos na reconstrução de um Pacto Educativo Global, traduzido em uma ampla Aliança Educativa, que envolva todos. Toda mudança significativa exige estratégias bem pensadas, planejadas; a educação é a aposta e a porta para essa mudança acontecer. Para isso, uma “aldeia educacional” precisa ser construída, pois a abertura ao outro como fundamento entende também que: há um pacto quando, mantendo as recíprocas diferenças, se opta por colocar as próprias forças ao serviço do mesmo projeto; há um pacto quando se reconhece no outro o diferente, não uma ameaça à identidade, mas um
companheiro, em que se descobre nele o esplendor da imagem de Deus.
Nesse aspecto, os professores são “artesãos” das gerações futuras, o que faz ser de suma importância investir constantemente na formação dos educadores. É preciso investir com os mais elevados padrões de qualidade e condições, ou seja, em todos os níveis acadêmicos, razão pela qual se coloca
evangelização da cultura. Portanto, pronunciamo-nos por uma educação cristã desde a e para a vida, no âmbito individual, familiar, comunitário e do ecossistema, que fomente a dignidade da pessoa humana e a verdadeira solidariedade; educação a ser integrada por um processo de formação cívico-social inspirado no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja.
e gestores/as) e a visão sistêmica da escola são fundamentais para que se concretize a identidade da escola católica, afinal, não se propõe que as coordenadas do Setor de Pastoral entendam de matemática, por exemplo, tanto quanto a pessoa docente, mas que compreendam a dinâmica dessa aula para poder subsidiar a docência com o viés pastoral. Essa interface deveria estar tão óbvia que não seria necessário ser evidenciada por meio do termo “Escola em pastoral” ou “curriculum evangelizador”. Há uma crítica recorrente aos conceitos ao afirmar que, em uma escola, todos desenvolvem um papel educativo e nem por isso se fala em “escola em pedagógico”. Contudo, a evidência que os termos relacionados à evangelização querem ressaltar ainda se faz necessária. A função pedagógica já está mais clara a todos. A evangelizadora ainda necessita ser mais vivida e aprofundada.
Entretanto, há diferentes compreensões acerca da expressão. Para alguns, o termo “escola evangelizadora” seria mais apropriado; para outros, ser escola confessional já implica a ação evangelizadora. Independentemente dos termos, é importante compreender o que implica participar da ação evangelizadora da Igreja para além dos momentos celebrativos e das atividades propostas pela Pastoral Escolar. Atividades são estratégias que levam a resultados, que são passíveis de avaliação e ajustes, e devem estar interligadas ao contexto e com propósito definido. Esse modelo de antropologia –cristã – coloca-se no papel de levar o rebanho todo, ou seja, toda a comunidade educativa, a boas pastagens. É necessário que toda a instituição, toda a estrutura, a cultura e o currículo de escola católica estejam colocados a serviço de uma educação verdadeiramente cristã, o que implica assumir e constituir o processo de
humanização na plenitude. Para isso, a responsabilidade das relações saudáveis, dos conteúdos significativos, das experiências transformadoras e todas as demais atuações de fazer educação colocam-se na perspectiva e adentram na dimensão de uma escola que se faz evangelizadora; portanto, de uma escola em pastoral, do cuidado primoroso da vida na integralidade.
Por fim, vale ainda destacar que, numa escola em pastoral, a que vivencia um curriculum evangelizador, não existe a dicotomia entre ser excelente academicamente e vivenciar os valores cristãos. Talvez nunca tenha existido, apesar de tentativas de justificar, especialmente em propagandas ao estilo “nesta escola seu filho passa na universidade reconhecida” ou “ensinando valores”. A Pastoral Escolar como elemento orgânico das escolas só tem razão de existir naquelas escolas que são confessionais. Não faz sentido, em razão da laicidade do Estado, que uma escola pública, por exemplo, tenha um “departamento de pastoral”, ainda que seja missão da Igreja acompanhar pastoralmente a educação pública por meio da Pastoral da Educação. Nesse sentido, um primeiro elemento unificador emerge: a confessionalidade. Uma escola confessional é aquela que, publicamente, confessa uma fé.
Essa pastoral é um serviço eclesial à sociedade e pelo qual se imprimem conceitos de caridade, bondade, justiça, solidariedade, entre outros; o que, no entanto, não basta. O termo “pastoral”, por sua vez, remete à ação do pastor que cuida do seu rebanho, provendo-lhe as necessidades. Jesus é o modelo de pastor. Ele mesmo se apresenta como o que busca a ovelha ferida (Mt 18,08-14), que não foge ao ver o lobo (Jo 8,12), que dá a vida por suas ovelhas (Jo 8,11). É a partir de seus gestos que a Igreja cunha o termo “pastoral” e modela sua ação no
mundo. Portanto, a missão de cuidar e proteger se faz na dimensão de uma educação que seja libertadora e integral. A Pastoral Escolar pressupõe não somente disponibilidade para trabalho em equipe, mas forte inclinação e capacidade para tal. Nesse aspecto, coloca-se a correlação entre a teologia e a pedagogia como duas ciências das áreas humanas que possuem cientificidades próprias e, ao mesmo tempo, interdependentes. Ou seja, articular pedagogicamente o projeto de Deus, visando o fortalecimento da integridade e da identidade do ser humano como sujeito na e da história, dentro de um contexto escolar aberto e inclusivo, auxiliando, dessa forma, o corpo docente, discente e administrativo. Constituindo, então, como o conjunto orgânico de estruturas formais educacionais necessárias para levar à prática um projeto educativo integral, envolvendo toda a comunidade escolar. Entretanto, a Pastoral Escolar via-se diante do perigo de assumir sozinha a tarefa evangelizadora na escola católica, ou seja, a identidade confessional. Pressupondo não somente disponibilidade para trabalho em equipe, mas forte inclinação e capacidade para tal.
Quanto a esse aspecto, coloca-se a correlação entre a Teologia e a Pedagogia como duas ciências das áreas humanas que possuem cientificidades próprias e, ao mesmo tempo, interdependentes. Compreendendo que a Pastoral Escolar se coloca mediante o novo arquétipo de ser humano, fruto da pós-modernidade, ou segunda modernidade. Um indivíduo muito informado e cada vez mais desestruturado, mais adulto e mais instável, mais volúvel, menos ideológico e mais tributário dos modismos. Mais aberto às novidades e mais influenciável, mais crítico e mais superficial, mais cético e menos profundo.
A Pastoral Escolar só é possível e se torna conveniente em uma escola que se constitua em uma escola em pastoral. Ou seja, quando toda a escola, quer em seus princípios, quer em suas ações, preocupa-se com a dimensão do cuidado profundo com cada pessoa, com o ambiente, com o planeta, enfim, com a vida toda no seu sentido mais amplo. Portanto, são a atuação e a intervenção que criam condições e estratégias para contagiar cada membro da comunidade escolar, cada setor da escola, para que os princípios cristãos sejam assumidos e testemunhados por todos. A ação dos professores, por exemplo, na abordagem dos conhecimentos, pode ser a de portadores e transmissores de princípios antropológicos da fé cristã de forma atual, acadêmica científica.
Propomos alguns elementos que funcionam como amálgama das muitas
experiências de Pastoral Escolar ao especificar que ela tem por tarefas: contribuir para a confessionalidade da instituição ao intervir na gestão, na construção do currículo e na criação de práticas pedagógicas em consonância com o Evangelho; sustentar o carisma, permitindo que ele se manifeste de maneira atualizada e encarnada no cotidiano da escola; evangelizar da maneira que lhe é própria. Coloca-se, assim, a Pastoral Escolar em vista da participação e da transformação da sociedade, assegurando a efetividade de um projeto pedagógico que assuma valores a partir do Evangelho. É crível que, devido ao próprio contexto, a Pastoral Escolar é determinada pela dimensão pedagógica. Isso significa que a base na qual se apoia a Pastoral Escolar é educacional. Desconsiderar essa situação implica construir uma perspectiva de trabalho sobre uma base instável e descontextualizada. Portanto, é necessário perceber a natureza da pastoral de maneira sistêmica com os demais profissionais da equipe pedagógico-educacional, bem como compreender a dinâmica dos serviços pedagógicos que se colocam em estreita relação com toda e qualquer situação presente na escola.
Assim, à Pastoral Escolar cabe intencionalmente promover a mediação entre as pessoas e Deus, das pessoas com outras pessoas, e das pessoas consigo mesmas e, dessa forma, resgatar as esperanças e promover a dignidade do ser humano, por meio de três dimensões: anúncio, serviço e celebração.
O anúncio do Evangelho é a missão por excelência de toda pessoa que manifesta sua fé e sua confiança no Deus Criador do Universo. O anúncio do Reino é o compromisso de todo aquele que acredita na fraternidade, pois o Reino de Deus é uma realidade que precisa ser
socializada, enriquecida, comunidade vivida entre os cristãos. O grande compromisso do cristão é atender ao chamado de Deus para ser instrumento do bem, da paz e da solidariedade, promovendo a libertação e a promoção do ser humano, a fim de que encontre seu caminho, integrando-se na sociedade, para promover sua dignidade e sua integridade. O anúncio do Reino é missão do cristão: “Vai e anuncia o Reino de Deus” (Lc 9,60b).
A dimensão do “serviço” se coloca na ação contextualizada da escola católica e da sociedade em colaboração com as demais instituições sociais que também instruem. Porém, é, especialmente, em parceria com as famílias que necessitam educar/formar seus Filhos que o serviço toma forma e se constitui, promovendo ainda um sentido de responsabilidade que acompanha cada um para que desenvolva uma atitude crítica, mas
também criativa perante a sociedade em que vive. Além disso, entende que o “corpo” físico é o meio de comunicação e o instrumento que manifesta o entendimento e a aplicabilidade do conhecimento. Portanto, precisa ser orientado para experiências afetivas e de respeito à própria sexualidade. Para isso, incentiva a cuidar do ambiente social por meio de uma ação pessoal e solidária em face da construção de situações que irão favorecer a realização pessoal, afetiva, profissional e espiritual. As celebrações no ambiente confessional compõem um quadro ritual que são uma “linguagem em gestos”, que expressam o relacionamento com Deus, espiritual e corporalmente. “Os ritos religiosos procuram situar o homem em um tempo e em um espaço sagrado que irão dar sentido as suas atividades no tempo e espaço profano”, de forma mais simples ou elaborada, com mais uso dos gestos ou das falas. O lugar de destaque nas celebrações é o da Palavra de Deus. Nenhuma celebração na escola católica deve prescindir da leitura da Sagrada Escritura. É essencial que toda ação evangelizadora na escola seja animada pela Palavra de Deus, tendo-a como “força motriz de todas as atividades”, para “imprimir um jeito de ser e atuar próprio do cristão que segue o Caminho que é Jesus Cristo”. Já em Aparecida, reconheceu-se a Palavra de Deus como lugar privilegiado para o encontro com Jesus (DAp, p. 247-249). Toda ação pastoral tem a Palavra de Deus como sua fonte, logo, as celebrações devem ser o lugar privilegiado para a escuta da Palavra.
Para a Igreja Católica, o rito responde à concretização de fidelidade à Aliança e à memória, entendida como manter viva a ação de Deus na história, como testemunha a Sagrada Escritura em seu conjunto. Por isso mesmo, a estrutura básica compõe-se de palavra-sacramento. Ele compreende a
escuta da Palavra de Deus e a ação sacramental que traz em si eficácia, mas que também leva a adesão e a vivência de valores éticos no tempo presente. Ganham sentido o tempo, o espaço, as relações, as etapas da vida, as condições sociais, enfim, abrangem e ressignificam todo o ser e agir da pessoa. Para isso, a Pastoral Escolar necessita ancorar-se e estar apoiada em uma antropologia cristã, conceito que leva o ser humano a articular sua existência com o mistério central da vida de Jesus Cristo desde sua Encarnação, Paixão, Morte até a Ressurreição. Por fim, a Pastoral Escolar como organismo dentro das instituições é responsável pela evangelização. Cabe à Pastoral propor caminhos de evangelização – de encontro com Cristo, com o Evangelho, com os irmãos. Essa evangelização acontece de muitas formas e por diversos meios, mas sempre atenta ao espaço específico da escola e suas limitações. Logo, a evangelização promovida pela Pastoral Escolar não é igual àquela que compete à paróquia ou a movimentos eclesiais. Existe algo que lhe especifica e que lhe compete dentro da escola/universidade católica: na escola, a evangelização está relacionada à própria tarefa de educar, portanto, trata-se de um evangelizar educando e educar evangelizando. Por isso, a Pastoral Escolar participa da constante atualização do currículo, para que ele seja evangelizador; há uma diferenciação na linguagem, visando incluir outras experiências de fé, uma vez que, na escola confessional católica, existem estudantes e educadores não católicos, e há um forte componente propositivo e pouco apelo dogmático, visando uma evangelização mais voltada a criar um humanismo solidário do que, necessariamente, produzir uma adesão de fé. Isso não significa, contudo, que o elemento religioso esteja ausente, mas que é ressignificado e ampliado de acordo com a dinâmica pedagógica.
Portanto, a escola será em pastoral ao assumir uma Pastoral Escolar que a todos e a cada um proponha ir construindo paulatinamente uma identidade pessoal e coletiva dentro de uma sociedade que se constitui em uma aldeia global, causa pela qual o espaço escolar é um espaço eclesial onde se realiza o desejo de oferecer a todos a possibilidade de instrução e de formação humana e cristã e inserção no mundo, tendo acesso aos meios necessários para a realização própria. Temas, como a solidariedade, a sustentabilidade, as múltiplas diferenças sociais e culturais, o diálogo em todas as suas esferas, entre outros, fazem parte da proposta educativa católica. Os dias atuais são marcados pela complexidade, pela fluidez das relações, pela imprevisibilidade e pela velocidade com que tudo acontece, colocando em discussão a ética das nossas decisões, seja na esfera individual, seja na esfera coletiva.
Uma ação pastoral na escola católica não implica apenas realizar celebrações, mas fazer com que seja compreendido o sentido do que está sendo celebrado. A ação celebrativa deve ser vivida, e não apenas assistida. Uma comunidade educativa católica ciente de sua missão evangelizadora, além de criar um ambiente de vivência dos valores do Evangelho, deve, também, se sentir responsável pela experiência do encontro com Deus nas celebrações, buscando especialmente os responsáveis pela evangelização, que são os educadores, aprofundar-se nesta experiência e no conhecimento do mistério contido nas mais diversas expressões celebrativas. Mais do que realizar missas ou outras celebrações, trata-se de significar tais momentos, mesmo os que não são vividos na escola. Seria bom saber que os estudantes e ex-estudantes da escola católica participam das celebrações dominicais,
das festas litúrgicas e de práticas devocionais de forma consciente e
têm denominado esse processo como “escola em pastoral” que reuniria o modo de toda a escola ser. Diz respeito à identidade, à espiritualidade e à missão, ao modo de ensinar e, também, ao curriculum evangelizador ao conteúdo que ensina. Desse modo, a escola em pastoral não reduz a missão evangelizadora a um setor dentro da escola. A ideia de um curriculum evangelizador rechaça qualquer tipo de segmentação do saber ou de qualquer cisão entre o pedagógico e o pastoral como fizeram algumas instituições confessionais que, ou davam ao Ensino Religioso a função de cumprir a Pastoral Escolar, ou de separar totalmente, de
modo que professores e agentes de pastoral sequer se conhecessem. É preciso conectar todas as aprendizagens da escola, uma vez que o ambiente escolar é vivo, dinâmico, complexo e
vivenciado em um mesmo ambiente, por
A identidade cristã da instituição deve ser celebrada de forma a se ressaltar a unidade que o currículo evangelizador expressa. Dessa forma, a escola pode oferecer o momento litúrgico, estar como interface no planejamento de todos os docentes e ser uma dimensão essencial da formação dos colaboradores, e assim por diante. Além dessa, são conhecidas as teorias tradicionais e as teorias pós-críticas. As teorias tradicionais têm um sentido mais utilitarista, em que a escola é vista como uma preparação, ou para o mercado de trabalho (Babbit) e, portanto, deve funcionar como uma empresa, ou para a vida em sociedade (Dewey), e funciona
como uma comunidade. Os temas recorrentes dessas teorias são disciplina, organização, tempo e ensino. Ao olhar para a multiplicidade de teorias sobre os currículos, percebemos que a elaboração e o planejamento de um curriculum são situações de disputas. Dentro do currículo, disputam-se visões de mundo, de educação, de subjetividade, de educador. Nesse sentido, como se comporta um currículo evangelizador e o que seria ele?
Iniciemos com os conceitos básicos da vivência e do processo do currículo evangelizador. A palavra “currículo” é a expressão de um somatório de aprendizagens que se formaram ao longo de semestres e anos letivos, tendo como meios os componentes curriculares, os eventos ocorridos, os projetos realizados, as observações contidas nos quadros e nas escritas das paredes das escolas, assim como palestras e visitas a campo. Seus vieses são fundamentados em valores, princípios, diretrizes que expressam o carisma, a identidade e a missão clara de ser um currículo evangelizador. Isso requer dos agentes da escola, incluindo pais e sociedade, que acolham o currículo como processo para seu autoconhecimento e para sua prática cristã. Já as teorias pós-críticas problematizam, além das relações de poder, especialmente a cultura. “Quem são as pessoas e os grupos representados?” e “Os saberes de quais povos estão contemplados?” são perguntas recorrentes. Não comprometeria o currículo formal na grade de horários, mas garantiria o acesso às informações consideradas essenciais. Contudo, o que se defende neste texto é que ter acesso somente às narrativas e às doutrinas cristãs não garante um processo significativo de evangelização. O currículo evangelizador nada mais é do que uma pastoral educativa assumida por todos os
professores e funcionários da escola. É como uma cascata, que parte do testemunho da gestora central, perpassando todos os serviços pedagógicos, administrativos, famílias, alunos, até chegar à menor criança que há na escola.
Os conceitos de curriculum, escola em pastoral e excelência, por si só, remetem à ideia de complexidade, ou seja, de que são necessárias várias atuações conjuntas para que sua efetivação seja plena. Talvez, no período histórico em que se esteja vivendo no século XXI, essa complexidade faça ainda mais sentido. Não se pode reduzir todo o desenvolvimento de uma criança e adolescente em vários anos na educação básica a um único resultado, como se esse fosse suficiente para balizar o que viveu e o que está por vir. E o conjunto dessas experiências que fazem ou não sentido, mesmo que uma mais que as outras. E, quando se fala em um conjunto, significa que são possíveis diversas vivências ao longo da vida escolar, sejam elas do currículo formal, informal ou oculto. Para se chegar a definições acerca do currículo evangelizador, antes se faz necessário trazer elementos dos conceitos “currículo” e “evangelização”. Há uma curiosidade no termo “evangelizar”, que é, ao mesmo tempo, reveladora para que se possa compreendê-la. Note-se que este é o único gênero literário que, estando no infinitivo, indica que o próprio texto está em ação. Ao falar, por exemplo, de dissertar, está se indicando a ação de escrever uma dissertação. Da mesma forma, pode-se referir aos gêneros, quando escrito, “narrar”, “descrever”. Se fosse o caso de indicar para a vivência daquilo que se está escrito, os gêneros textuais, em geral, necessitariam de um outro verbo como complemento, como “viver a poesia”, “realizar o que diz a dissertação”, e assim por diante.
Pode-se citar como exemplo aqui o time de basquete da escola, os grupos pastorais, catequeses etc. Também existe o currículo oculto, o mais difícil de se fazer a gestão, pois sua presença é sempre difusa nas práticas pedagógicas. Trata-se, antes de tudo, da cultura da instituição – modos de operar, de vislumbrar a educação – e da intencionalidade com a qual se trabalha. Heloisa Lück coloca a cultura como um elemento central na dinâmica da escola, pois nela expressa-se o modo real de ser e de fazer da escola, isto é, sua personalidade coletiva, que é constituída a partir de como as pessoas, em seu conjunto, pensam e agem.
Sobre as intencionalidades, trata-se do sentido pelo qual se fazem as coisas dessa ou daquela forma. Percebe-se a intencionalidade não apenas nos documentos formais da instituição, mas especialmente no cotidiano. A intencionalidade do currículo e a pergunta do porquê por detrás de cada prática pedagógica podem ser relacionadas às teorias críticas do currículo, as quais operam uma inversão dos fundamentos das teorias tradicionais. Por esse viés, o foco não está apenas na aprendizagem técnica, mas em um questionamento dos próprios pressupostos do saber sociotécnico, percebendo que tal postura acrítica é o que legitima as desigualdades e injustiças sociais. Assim, para as teorias críticas do currículo, “o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz”. Compreendem a ideia de currículo como a “pista de corrida” na escola, um percurso que cada estudante irá passar.
Mesmo que o caminho planejado seja o mesmo para todos, a experiência que cada pessoa fará no trajeto será única. Sacrista diz que a intenção do currículo (formal) é organizar a vida estudantil nas
escolas, dividindo alunos por idade, tempos e aprendizagens a serem adquiridas. Os exemplos citados até agora foram de currículo formal, ou seja, aquele que está planejado por quem de direito o pode e divulgado pela instituição. Normalmente, refere-se à grade dos períodos, divulgando quais são os componentes curriculares aos quais as turmas da escola terão acesso e quais os conhecimentos nele pautados. Pode indicar, também, se assim o for pensado, experiências que os estudantes precisam vivenciar, como voluntariado, celebrações litúrgicas, momentos cívicos, entre outros. Existe, ainda, o currículo extra ou informal, isto é, aquele que está legitimado pela instituição, mas que não possui, necessariamente, todos os detalhes, ou os saberes, pré-definidos.
5. Projeto para evangelizar
acompanharão por toda a vida e os transformarão em pessoas que trabalham por uma sociedade mais justa, equitativa e solidária.
Como uma experiência educacional, integra uma pedagogia inovadora com a maneira de viver e entender o mundo por meio do Evangelho, proporcionando direcionamento e acompanhamento aos educadores e pastoralistas.
O que significa, hoje, ser uma escola católica e transmitir a mensagem de Jesus? Significa promover o desenvolvimento pessoal em todas as suas dimensões, formando indivíduos capazes de enfrentar os desafios do mundo atual. Para isso, deve-se integrar, na essência pedagógica e curricular, uma proposta combinada e flexível, para que nossos alunos adquiram as habilidades necessárias ao cotidiano. Esse projeto potencializou a tarefa de humanização da educação – como proposto pelo Papa Francisco de colocar a pessoa no centro de todo o processo educativo –, organizou o trabalho evangelizador aos novos tempos e guiou os estudantes para o encontro com Jesus.
Nesse projeto, articula-se a proposta curricular em conteúdos e metodologias inovadoras para acompanhar docentes e estudantes; fomenta-se a construção conjunta de um projeto educativo pastoral comprometido com a sociedade; e apoia-se o acompanhamento das famílias na construção de um presente e um futuro promissor para seus filhos, compartilhando conhecimentos e práticas para o lar. Para isso, reconhece-se a importância da participação das famílias na educação, oferecendo um suporte a elas, por meio de propostas de celebrações de dias festivos, atividades de leitura compartilhada para fomentar o tempo de qualidade entre familiares e vídeos com especialistas abordando temas
relevantes para auxiliar e confortar as famílias na criação de crianças e adolescentes.
Para tal, esse projeto é sustentado em cinco pilares: 1. Viver o Evangelho hoje, a partir do compromisso do Pacto Educativo Global, promovendo o diálogo entre o pedagógico e o pastoral, apoiando uma leitura da escola em pastoral. 2. Acompanhar toda a comunidade educativa com propostas dirigidas aos docentes, visando a reflexão sobre a prática educativa na escola católica, oferecer celebrações para apoiar a espiritualidade da comunidade, assim como esquemas para as famílias a partir de temas, como: educação socioemocional, uso responsável da tecnologia, educação na fé e educação em valores. 3. Transformar a experiência educativa em ações para apoiar a formação dos estudantes, por meio de planos de leituras, aproximação do currículo das diferentes áreas de conhecimento em diálogo com os temas do pacto global, como: Casa Comum, cultura do encontro, humanização do uso da tecnologia, a esperança e o compromisso social em busca de um aprender com sentido a partir de uma abordagem para a evangelização. 4. Construir com as famílias: este pilar visa apoiar o percurso dos pais e responsáveis, a partir de vídeos que pretendem acompanhar e inspirar as famílias na educação dos filhos com várias temáticas, como: educação socioemocional; educação na fé; educação em valores; e o uso responsável de tecnologia. Também são oferecidos roteiros celebrativos a partir do ano litúrgico, para que possam apoiar momentos de espiritualidade nas casas, bem como roteiro de reflexão com propostas de leitura em família de obras de literatura infantojuvenil visando à formação em valores humanos e cristãos. Esses quatro primeiros pilares apoiam uma perspectiva de uma escola em
pastoral. Já o quinto pilar refere-se a APRENDER PARA A VIDA: formado por propostas de trabalho de um projeto por ano, organizado em quatro etapas que convidam os alunos a refletirem e a desenvolverem um projeto de vida. Temos, ainda, um conjunto de orientações e roteiros para a organização de grupos de crianças e adolescentes que desejam desenvolver a vida cristã, bem como de grupos para a realização de convivências e de manhãs de formação.
Considerações
Esta reflexão visa propor que os conceitos como Escola em Pastoral, Pastoral Escolar e Currículo Evangelizador não sejam apenas desejos, discursos a serem realizados, mas que, a partir de um projeto concreto, possamos apoiar a identidade das escolas católicas como espaço de diálogo entre o pedagógico e o evangelizador, com atenção aos diferentes participantes da comunidade escolar, com ênfase nos estudantes e nas famílias, visando a consolidação de uma escola que contribui para a formação de um cidadão e de um cristão atento aos desafios da nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, J.; JUNQUEIRA, S. Aprender para a vida. Coleção Cremos – Vol. 04. Brasília: Edições CNBB, 2023. p. 88-105.
DEGRANDIS, F. Currículo evangelizador. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 189-196.
FERREIRA, A.; FERNANDES, P. A escola católica na atualidade: tradição, inovação e patrimônio espiritual. In: Acompanhar toda a comunidade educativa. Coleção Cremos – Vol. 02. Brasília: Edições CNBB, 2023. p. 18-35.
ITOZ, S. In: JUNQUEIRA, S.; BRANDENBURG, L.; KLEIN, R. Compêndio do Ensino Religioso. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2017. p. 391-397.
ITOZ, S. Um novo pacto pela vida: Pacto Educativo Global. In: Viver o evangelho hoje. Coleção Cremos – Vol. 01. Brasília: Edições CNBB, 2023. p.90-105.
JUNQUEIRA, S.; ITOZ, S.; NETO, J. Pastoral e Educação: estudo e reflexão sobre pastoral escolar. Curitiba: Editora Piá, 2016.
JUNQUEIRA, S.; ITOZ, S.; ROCHA, T.; LEAL, V. Dimensões para a Pastoral Escolar. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 106 – 123.
JUNQUEIRA, S.; ROCHA, T. Pedagogia libertadora de Jesus. São Paulo: Fonte Editorial, 2014.
JUNQUEIRA, S; Educação. In: PASSOS, J.; SANCHEZ, W. Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus/Paulinas, 2015. p. 335-337.
JUNQUEIRA, S; GRAVISSIMUM EDUCATIONIS. In: PASSOS, J.; SANCHEZ, W. Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus/Paulinas, 2015. p. 414-146.
KLEINKE, R. A escola católica: uma instituição que educa a partir de suas concepções. In: Acompanhar toda a comunidade educativa. Coleção Cremos – Vol. 02. Brasília: Edições CNBB, 2023. p.78-95.
LEAL, V.; ITOZ, S. Escola em Pastoral. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 100-105.
MOURA, L. A educação católica no Brasil. São Paulo: Loyola, 2000.
PAVIANI, I. Currículo Evangelizador. In: Transformar a experiência educativa. Coleção Cremos – Vol. 03. Brasília: Edições CNBB, 2023. p.18-31.
REFERÊNCIAS
RESENDE, J. Fala com sabedoria, ensina com amor. In: Viver o evangelho hoje. Coleção Cremos – Vol. 01. Brasília: Edições CNBB, 2023. p.18-35.
RESENDE, J. Pastoral da Educação. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 87-94.
RIAL, G.; CHESINI, C. Evangelização. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 83-86.
RIAL, G.; CHESINI, C. Pastoral Escolar. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 95-99.
ROCHA, T.; S.; LEAL, V. Identidade confessional. In: JUNQUEIRA, S.; LEAL, V.; RIAL, G. Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica. Brasília/Petrópolis: Edições CNBB/Vozes, 2021. p. 72-79
IDENTIDADE
PASTORAL E SINAIS DOS TEMPOS: APELOS
DO ESPÍRITO SANTO ÀS ESCOLAS CATÓLICAS
Gregory Rial²
tempo presente: “Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?”. A advertência não é à toa e serve para todos: para a multidão, que perde o senso crítico diante de propostas vazias e estéreis de líderes religiosos e políticos; e para as lideranças
religiosas, que guiam multidões sem sensibilidade ao que vivem no dia a dia. A Pastoral Escolar nas escolas católicas deve estar atenta aos sinais dos tempos, ouvir, interpretar e responder, com coerência, aos desafios e apelos que surgem da realidade. Não é mais possível ignorar as contradições que marcam nosso mundo e fingir que vivemos em uma cristandade plena, como se os problemas sociais, políticos e culturais não tivessem impacto nas comunidades
Gregory Rial
² Doutor em Comunicação Social pela UFMG. Bacharel, licenciado e mestre em Filosofia. Atualmente, é coordenador do Setor de Animação
Pastoral da ANEC e gerente da Câmara de Ensino Superior.
escolares. Ignorar essas questões é viver em uma ilusão e propor uma pastoral que cuide apenas da dimensão religiosa da pessoa humana, é desconsiderar o clamor profundo da humanidade por transformação, justiça e dignidade.
O mundo atual está repleto de desafios para as escolas católicas. As tensões sociais, as polarizações ideológicas e as pressões do mercado exigem uma Pastoral profundamente enraizada no Evangelho e em uma visão cristã da realidade, e não apenas “adapte” a mensagem. A Pastoral precisa ser sensível às transformações sociais, reconhecer as complexidades e contradições do tempo presente e, ao mesmo tempo, oferecer uma resposta fundamentada na verdade revelada por Cristo.
Ouvir os sinais dos tempos implica uma escuta atenta e amorosa dos gritos profundos da humanidade, aqueles que surgem da dor, da angústia, da busca por sentido e dignidade. A Pastoral Escolar deve olhar para o mundo com ternura e compaixão, sem medo de se envolver com as questões urgentes do presente. Isso é o que o Papa Francisco chama de “cheiro de ovelha” ou “cheiro de carne”. O Evangelho é a resposta que a humanidade precisa e cabe à escola católica ser um canal vivo dessa mensagem de salvação por meio de uma pastoralidade ativa e proativa.
É nesse contexto que se faz necessária a reflexão sobre os apelos do Espírito Santo, que nos convida a viver uma Pastoral mais coerente com as necessidades do tempo presente. Nos últimos anos, a ANEC ouviu as demandas e partilhas dos grupos de trabalho pastoral (GT Pastoral) e percebeu que os desafios não são apenas administrativos ou institucionais, mas também missionários. O Espírito Santo nos impulsiona a uma Pastoral sensível e
responsiva às realidades que os alunos, pais e educadores enfrentam.
Apelo à afirmação consciente da identidade confessional
Sentimos que a identidade confessional das escolas católicas precisa ser reafirmada de uma maneira que não se limite a aparências ou formalidades. Ela deve ser uma expressão profunda da fé, que se vê nos símbolos religiosos ou ritos e que se manifesta na maneira como a comunidade escolar vive a sua missão pedagógica e a sua relação com Deus, com os outros e com o mundo. Em um contexto de secularismo e relativismo, resgatar uma identidade autêntica se torna fundamental, e essa identidade precisa ser dinâmica, aberta ao diálogo e à transformação que o Espírito Santo propõe para cada época. Ressignificar a identidade católica não significa retroceder para modelos ultrapassados como querem alguns, mas assumir, com coragem e fé, o compromisso com o Cristo vivo, que é atual, dinâmico e profundamente transformador.
Um estudo conduzido pela Universidade de Louvain, na Bélgica, analisou as tendências da identidade confessional nas escolas e descobriu que entre o “verniz confessional” e a “escola reconfessionalizada” existe um caminho do meio muito frutuoso, que é o da recontextualização, ou seja, a reproposição da identidade e pastoralidade a partir do contexto, das territorialidades dos estudantes e suas famílias. Nesse sentido, afirma-se que a Pastoral Escolar busca promover, para além da instrução religiosa, um processo profundo de humanização que se reflete em todas as dimensões da vida escolar. Reduzir a evangelização à transmissão de costumes religiosos, à catequese ou ao ensino da doutrina limita a experiência formativa do estudante. Nesse sentido, a missão da escola católica vai muito além
de formar o conhecimento. Ela forma a fé, o caráter e a convivência fraterna entre todos, independentemente da tradição religiosa.
Apelo à educação da fé para uma maturidade cristã
É fundamental que a evangelização escolar seja mais do que uma resposta emocional ou uma apologia defensiva da fé. Ela precisa ser amadurecida e profunda, capaz de oferecer aos jovens a clareza para enfrentar as complexidades do mundo contemporâneo com discernimento e esperança. A fé deve ser apresentada não como um refúgio passivo, mas como uma força transformadora, que capacita os alunos a viverem com autenticidade, a tomarem decisões éticas e a se comprometerem com o bem comum. A educação na fé, portanto, precisa ser integrada ao cotidiano escolar, permeando não apenas as práticas religiosas, mas também o currículo, as relações interpessoais e as escolhas sociais dos alunos. O Papa Francisco, na exortação Christus Vivit, ressalta a importância de uma fé madura, que educa para o autoconhecimento e para a responsabilidade social, tornando os jovens agentes de transformação na sociedade.
Apelo à profissionalização da pastoralidade
Outro apelo importante é o de oferecer um serviço pastoral de qualidade, com profissionalização e intencionalidade. A Pastoral não deve ser vista como uma atividade acessória ou secundária na vida escolar, mas como um componente essencial e integrado ao processo educativo. A resistência à profissionalização da Pastoral, em nome de um ideal de espontaneidade ou entusiasmo, muitas vezes, subestima a complexidade da missão evangelizadora
nas escolas e universidades. Evangelizar em ambientes educativos exige competências específicas, uma abordagem reflexiva e estratégica, e a capacidade de integrar a fé ao currículo de maneira coesa. Assim, a Pastoral Escolar precisa ser organizada de maneira que sustente a identidade católica da instituição e a missão de evangelizar, oferecendo aos alunos e à comunidade escolar uma experiência significativa de fé e compromisso.
Nesse sentido, a Pastoral deve ser vista como um serviço essencial para a formação integral dos estudantes enquanto uma ação que se articula com os outros componentes educacionais para construir um ambiente verdadeiramente cristão e transformador. A profissionalização da Pastoral deve garantir que ela seja realizada com intencionalidade e qualidade, respeitando as especificidades do contexto educativo e a missão evangelizadora da escola católica. Dessa forma, a Pastoral Escolar se torna um meio eficaz de educar os jovens para a fé, para a vida ética e para o compromisso com a sociedade, realizando a missão fundamental de evangelizar de forma integral e profunda.
A Pastoral Escolar, ao assumir o papel no contexto educacional, precisa ser vista como uma ação estratégica e integrada ao projeto pedagógico da instituição. Quando negligenciada ou tratada como um apêndice da estrutura escolar, perde-se a força transformadora, limitando o impacto na vida dos estudantes e da comunidade. Para que a Pastoral alcance a grandeza e o potencial transformador, é imprescindível que a gestão escolar a considere como uma área estratégica, com investimentos adequados, recursos humanos qualificados e tempo dedicado.
A Pastoral precisa ser bem estruturada
para ser um elemento que permeia todos os aspectos da vida escolar e não se torne uma atividade fragmentada. Quando isso ocorre, ela fortalece a identidade católica da escola, fideliza as famílias e oferece um diferencial no mercado educacional. Além disso, contribui para o desenvolvimento integral dos estudantes, alinhando as dimensões humana, espiritual e social.
Apelo à inovação pastoral
A Pastoral também é desafiada a se renovar e a inovar. O distanciamento entre as gerações e a crescente indiferença religiosa exigem uma revisão dos métodos de evangelização, que, muitas vezes, se encontram desatualizados e desconectados das realidades vividas pelos jovens. Evangelizar hoje é mais do que transmitir doutrinas ou aplicar fórmulas tradicionais; é ouvir as inquietações da juventude, entender suas angústias e dialogar com as realidades. A Pastoral precisa ser cativante e significativa, sem perder a profundidade do conteúdo cristão. Para isso, a mensagem evangelizadora deve ser autêntica, ressoando com a vida concreta dos estudantes, e não apenas adaptada a estéticas superficiais ou emocionais que, muitas vezes, soam forçadas e vazias.
Novas linhas de ação pastoral da ANEC: uma resposta aos apelos
Diante dessa escuta atenta aos sinais dos tempos, a ANEC decidiu atualizar as linhas de ação pastoral. A primeira edição, publicada em 2019, buscou responder aos desafios daquele momento, oferecendo diretrizes para uma Pastoral Escolar que se alicerçasse nos valores cristãos e se conectasse às realidades vividas nas escolas católicas. Desde então, no entanto, o contexto mudou substancialmente. Em níveis eclesial, educacional e cultural,
vivenciamos mudanças significativas, que exigem um novo olhar e uma nova abordagem para a ação pastoral.
A atualização das linhas de ação pastoral surge, portanto, como uma resposta aos desafios contemporâneos que impactam a vivência escolar e a missão das instituições católicas. A nova edição é fruto de um processo de escuta e discernimento que envolveu não apenas especialistas e líderes pastorais, mas também as vozes das comunidades escolares, as necessidades, as dúvidas e os anseios delas. Cada elemento incluído nas novas diretrizes foi pensado para fortalecer a identidade católica das escolas, de forma autêntica e relevante, e para capacitar a Pastoral a enfrentar, com confiança e flexibilidade, as complexidades da vida moderna.
Esse processo de atualização reconhece, sobretudo, a importância de formar alunos que sejam, simultaneamente, cidadãos conscientes e discípulos comprometidos. A Pastoral Escolar não se limita a uma experiência religiosa restrita à sala de aula ou aos momentos de oração, mas abrange toda a dinâmica da escola, influenciando a cultura escolar, a relação entre os membros da comunidade e a postura ética diante dos desafios sociais. As novas Linhas de Ação Pastoral propõem que as escolas católicas sejam espaços de acolhimento, diálogo e crescimento integral, onde alunos de diferentes realidades e crenças possam compartilhar experiências e fortalecer valores comuns.
Com essa perspectiva, a ANEC reitera o papel transformador da Pastoral como um elo entre a fé e a vida cotidiana, integrando o conhecimento acadêmico com a formação espiritual e humana. O compromisso da Pastoral atualizada é com uma evangelização ativa, criativa e inclusiva, capaz de responder aos desafios atuais com discernimento e
coragem, promovendo a construção de uma sociedade mais justa e solidária. As escolas católicas, por meio dessa ação pastoral renovada, têm a missão de ser luz e fermento, testemunhando os valores do Evangelho de maneira concreta e acessível a todos.
IDENTIDADE
CONTRIBUIÇÕES
EPISTEMOLÓGICAS A PARTIR DE PAULO FREIRE E DO PAPA FRANCISCO EM PROL DE UMA EDUCAÇÃO CRÍTICA E CRIATIVA
humanidade, criando as condições para a humanização. Os princípios que fundamentam esses pensadores, apesar de terem surgido em épocas distintas, compartilham as mesmas urgências e emanam da sensibilidade e do desejo de construir uma sociedade renovada, fundamentada na cultura do encontro
com o próximo. Sob essa perspectiva, somos chamados a assumir a responsabilidade de contribuir para a mudança deste mundo, transformando-o em um lugar melhor para se viver. Assim, Paulo Freire, por meio de sua obra “Pedagogia da Autonomia”, e o Papa Francisco, por meio do “Pacto Educativo Global”, personificam os anseios de uma pedagogia contemporânea, profundamente humana e orientada para o encontro com o próximo. Paulo Freire, grande educador da
Jean Alves Lima
³ Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná.
América Latina, propõe uma educação libertadora que, além de despertar para os caminhos da autonomia frente às realidades desumanizadoras e opressoras, também contribui com as transformações sociais, ou seja, uma educação que não se acomoda, mas que carrega em si o espírito da mudança. Na obra “Pedagogia da Autonomia”, evidencia-se o carácter político da educação, assim como a possibilidade de transformação pessoal e social decorrente de um modelo de ensino capaz de humanizar e promover a autonomia de cada indivíduo.
A iniciativa do Papa Francisco, ao lançar o Pacto Educativo Global em 15 de outubro de 2020, no Vaticano, representa um apelo pessoal e coletivo de grande significado. Ele convoca toda a sociedade a uma reflexão mais profunda sobre a necessidade premente de promover uma educação que seja verdadeiramente aberta e inclusiva. Essa chamada à ação transcende fronteiras religiosas e culturais, destacando a importância universal de uma educação que vá além do mero fornecimento de conhecimento acadêmico.
O Pontífice enfatiza a urgência de criar espaços onde a escuta ativa seja valorizada, onde cada voz seja ouvida e respeitada. Em um mundo marcado por divisões e polarizações, o diálogo torna-se uma ferramenta essencial para construir pontes e compreender as diversas perspectivas que moldam nossa sociedade. O chamado à promoção de uma educação inclusiva e centrada no diálogo é um apelo à construção de um mundo mais solidário, onde a diversidade seja celebrada e onde todos tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial máximo. “A escola é um lugar de encontro e hoje precisamos desta cultura do encontro para nos conhecer, para nos amar, para caminharmos juntos” (Papa Francisco, 2014, p. 45).
O Pacto Educativo Global é, portanto, um convite inspirador para que indivíduos, instituições educacionais, líderes políticos e a sociedade como um todo se unam em um esforço conjunto para transformar a educação em uma força poderosa na construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. Por meio desse chamado à educação aberta, inclusiva e dialógica, o Papa Francisco nos lembra que a educação é uma força transformadora capaz de moldar um mundo melhor para as gerações presentes e futuras.
Nesta pesquisa, pretende-se analisar e compreender os pensamentos de Paulo Freire e do Papa Francisco em favor da construção de um “itinerário pedagógico”, no qual a promoção do ser humano, em sua totalidade, seja o centro das ações e políticas educacionais. Destaca-se, de modo especial, a obra “Pedagogia da Autonomia”, de Freire, e o Pacto Educativo Global, representado pelo Papa Francisco. Ambas as iniciativas apresentam elementos que colaboram com o desenvolvimento de uma educação criativa, crítica e marcadamente participativa.
Educar para a esperança
É preciso recordar as belas palavras do grande pedagogo brasileiro:
Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico. Não quero dizer, porém, que, porque esperançoso, atribuo à minha esperança o poder de transformar a realidade e, assim, convencido, parto para o embate sem levar em consideração os dados concretos, materiais, afirmando que minha esperança basta. Minha esperança é necessária mas não é suficiente. Ela, só, não
ganha a luta, mas sem ela a luta fraqueja e titubeia. Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita de água despoluída. Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas, prescindir da esperança na luta para melhorar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, à pura cientificidade, é frívola ilusão. Prescindir da esperança que se funda também na verdade como qualidade ética da luta é negar a ela um dos seus suportes fundamentais. O essencial, como digo mais adiante no corpo desta Pedagogia da esperança, é que ela, enquanto necessidade ontológica, precisa de ancorar-se na prática. Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera pura, que vira, assim, espera vã (Freire, 2023, p. 76).
Para Paulo Freire, a esperança está intrinsecamente ligada à ação transformadora. Educar para a esperança significa cultivar a crença de que é possível superar desafios, injustiças e desigualdades por meio da conscientização e da ação coletiva. Ele via a educação como uma ferramenta para a emancipação, a qual permitia que as pessoas adquirissem o poder de compreender e questionar a própria realidade, identificar problemas e desigualdades e, em seguida, agir para resolvê-los. Na perspectiva de Paulo Freire, a educação para a esperança
envolve a capacidade de ajudar as pessoas a compreenderem a realidade social, econômica e política, tornando-as conscientes das estruturas de poder e das injustiças que as cercam.
Além disso, se faz necessário promover o diálogo como um meio de questionar, refletir e analisar problemas sociais, de forma a permitir que os alunos desenvolvam uma visão crítica do mundo ao redor. Capacitar os educandos para que se tornem agentes de mudança nas próprias vidas e em suas comunidades, para que sintam que têm o poder de agir e fazer a diferença. Em resumo, educar para a esperança significa promover uma educação que vá além do mero ensino de conteúdo acadêmico, enfatizando a conscientização, o diálogo crítico e a capacitação dos alunos para que se tornem agentes de mudança em busca de uma sociedade mais justa e esperançosa. É uma abordagem que coloca a ação transformadora no centro da educação, acreditando que, por meio dela, é possível construir um mundo melhor (Holleben, 2021).
Compreender a missão abraçada por Paulo Freire, tal como delineada na obra “Pedagogia da Autonomia”, ganha ainda mais relevância ao considerarmos o contexto de ditadura militar e o exílio em que ele operou. Isso nos incentiva a direcionar nosso olhar para um cenário que, em muitos aspectos, guarda semelhanças notáveis com os desafios que temos enfrentado nos últimos anos.
Especialmente após a pandemia de covid-19 e o avanço de movimentos de extrema-direita no Brasil e em todo o mundo, vemos a emergência de uma série de crises que transcendem as fronteiras nacionais. Esses desafios abrangem questões ambientais, econômicas, migratórias, políticas, demográficas, bem como a busca de significado nas vidas dos jovens e
desafios persistentes na área da educação, entre outros.
O Papa Francisco, ao tratar dessas crises, proporciona uma cultura do encontro, na qual evidencia a paz e a educação cada vez mais comprometidas com a construção de uma sociedade justa e igualitária. Tanto o Papa quanto Paulo Freire podem ser considerados homens inconformados com as feridas da realidade concreta presente na sociedade. Ao reconhecer a educação como formação integral, trazemos à memória a recordação das coisas, tal como elas são, por meio do poema de Angelus Silesius, “A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê…”.
Com isso, caracteriza-nos uma visão do desenvolvimento do educando em todas as dimensões e inteligências: física, emocional, interrelacional, interioridade, ética, espiritual e serviço ao próximo. É o caso, por exemplo, das manifestações feitas pelo Papa Francisco, que considera a importância das três linguagens da educação: “É preciso abrir-se a novos horizontes, criar novos modelos a partir de três linguagens: da mente, do coração e das mãos, isto é, ensinar a pensar, sentir e fazer” (CNBB, 2016, p. 56).
Por isso, estão em pauta a defesa e a necessidade de promover uma educação que estimule a reflexão, a criticidade, o debate, a escuta e a solidariedade, numa perspectiva integral do sujeito-educando. Os passos propostos por Paulo Freire para construir uma alfabetização diferenciada, em conjunto com as três linguagens da educação indicadas pelo Papa Francisco, permitem pensar em uma educação comprometida com a integridade do ser humano na totalidade. Não se trata de um ser humano isolado do mundo, solipsista; ao contrário, trata-se de um ser humano no
mundo, em contato com o outro e com o meio em que vive. Trata-se, em última instância, de um modelo de educação libertadora, criativa e que estimula e possibilita a autonomia e não somente a formação técnico-profissional.
Voltemos ao Papa Francisco, pois foi ele que nos lembrou, por meio do Pacto Educativo, que devemos priorizar uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade. Francisco desafia-nos à espera. Uma espera que nos movimenta, que impulsiona uma atitude atenciosa e ativa. Paulo Freire, por sua vez, mostra que, na vida escolar e acadêmica, o que deve prevalecer é a espera do verbo esperançar. Uma esperança que se levanta e vai atrás, uma esperança que se constrói, se movimenta é e capaz de construir.
Nesse sentido, a esperança deve assumir uma conotação ontológica, uma vez que se revela como a própria essência do processo de educar. A esperança é o fundamento que dá unicidade a toda atividade pedagógica, uma vez que é o motor propulsor de toda mudança desejada. Porém, a esperança só será alcançada por meio de uma prática educacional fundamentada no encontro e no amor; no respeito e no diálogo; na abertura e no compromisso com o outro. Esse é o único caminho capaz de propiciar a verdadeira mudança social. Fomentar a autonomia, promover o diálogo e a ética como condições indispensáveis para transformar as pessoas para, assim, transformando as pessoas, transformar as estruturas sociais que insistem em perpetuar um modelo excludente e pouco acolhedor. A educação é uma experiência radical e transformadora que nos ajuda a “construir gente”, formar cidadãos e construir, assim, uma nova sociedade, por meio do reconhecimento do outro, de se revelar como parte exterior, como
liberdade, como resistência, tal qual ele é, comprometido com seu conhecimento, suas vontades, e seus sentimentos.
Com isso, reafirmamos que tudo que é experimentado pela humanidade de cada educando possui interesse à educação, desenvolvido por meio da cultura do encontro, tema central na concepção educacional do Papa Francisco e de Paulo Freire. Sob essa perspectiva inovadora, homem e mundo se conectam e se fazem a um só tempo e a consciência do mundo seria a própria revelação de sua existência (BOTO, 2019).
Voltemos aos escritos de Paulo Freire, que pontua que:
Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. (FREIRE, 2000, p. 46-47).
É nesse sentido que o ato de apreender deve sempre ser levado como uma experiência de individualidade, o que não pode ser confundido com o sentido egoísta do termo “individualidade”, e, sim, com o sentido afirmativo da personalidade individual, que nos remete à ideia de um ser único, singular e, portanto, protagonista da própria história.
Por uma pedagogia que liberta, Paulo Freire pensa, fala, escreve e atua em prol da libertação dos oprimidos e
marginalizados pela “cultura do silêncio”, aqueles que sempre foram rebaixados à condição de meros objetos. Luta e sonha por uma educação enraizada na existência dos educandos, o que torna a escola um espaço de autonomia e de amadurecimento intelectual. Uma educação que dá asas por meio de novos caminhos e sonhos, permitindo a individualidade de si e do outro, no cultivo dos próprios interesses e no respeito aos interesses coletivos. Dito de outro modo, Freire propõe uma verdadeira revolução no modo de ensinar, evitando domesticar os alunos, mas direcionando-os para serem agentes de transformação social, comprometidos com o espaço público.
Pela reflexão de Paulo Freire, o ser humano tem a vocação para a liberdade e para a libertação. Antes de tudo, a ideia de uma pedagogia do oprimido supõe o encontro do povo, a formação, a humanização e a conscientização. A tomada de consciência do povo sobre seu papel na história significaria uma ação coletiva sobre a própria opção histórica. Paulo Freire, acerca disso, já advertia os contemporâneos para o opressor que habita o coração do oprimido. Mais do que isso, para ele, seria a autolibertação das pessoas que possibilitaria, também, a libertação dos opressores. Nessa medida, ao educador caberia dialogar com o povo sobre a própria ação, de maneira a possibilitar que a consciência de si viesse dialeticamente a ser transmutada em uma consciência para si. Por tal razão, a ideia de diálogo é, para a pedagogia de Paulo Freire, fundamental. A história de vida – em um tempo no qual a pedagogia ainda não falava disso – ou a autobiografia individual e dos grupos seria o ponto de partida desse modo de compreender a educação e o intercâmbio de culturas (BOTO, 2021, p. 121).
Para a concretização dessa proposta
pedagógica, que representa um compromisso com a formação integral dos educandos, Paulo Freire assume posturas corajosas e proféticas, frutos de uma profunda sensibilidade para com as camadas mais oprimidas da sociedade, o que se traduz em gestos e práticas concretas.
A educação libertadora de Paulo Freire é um modelo pedagógico que transcende os limites tradicionais da sala de aula. Ela se fundamenta na crença de que a educação é uma ferramenta poderosa para a transformação social e pessoal. Freire acreditava que os alunos não deveriam ser meros receptores passivos de conhecimento, mas, sim, agentes ativos da própria aprendizagem e, ao mesmo tempo, cidadãos críticos e conscientes da realidade. Seu método pedagógico envolve o diálogo, a problematização das questões sociais, a conscientização e a ação coletiva. O objetivo central é capacitar os indivíduos a entenderem a realidade, questioná-la e, por meio da reflexão e da ação, transformá-la em uma direção mais justa e igualitária. Freire “busca promover uma educação conscientizadora ao aluno, o que significa levar às parcelas desfavorecidas da sociedade o entendimento da sua situação de oprimidas para que ajam em favor da própria libertação” (GOMES; TONIOSSO, 2019, p. 322). A educação libertadora de Paulo Freire não apenas busca promover o conhecimento acadêmico, mas também aspira à emancipação e à libertação das pessoas, capacitando-as a serem agentes ativos na criação de um mundo mais justo e humano.
Esse sujeito, formado por uma educação singular, torna-se mais responsável pelo meio social do qual faz parte. Dessa forma, a escola tem o papel ativo na sociedade como conjunto de ações, partindo de conceitos teóricos para a prática que se reproduz na atividade
cotidiana dos homens. Essa forma de pensar a escola a coloca como espaço de transformação social.
Ao visitarmos o Pacto pela Educação, deparamo-nos com as urgências atuais que o Papa Francisco faz questão de ressaltar. Dentre elas, a importância de a escola ser um local de referência positiva na vida dos educandos e dos seus familiares. Proporcionar espaços de acolhida, escuta, ou seja, fazer com que a escola seja um lugar para todos e que a educação floresça na vida de cada educando, podendo exercer sua autonomia com responsabilidade e com o apoio dos educadores.
Dessa forma, o Pacto Educativo Global nos ajuda a perceber que também existem convergências de manifestações, ou seja, podemos desempenhar o papel de educadores ao lado daqueles que compartilham interesses semelhantes aos nossos e, assim, fortalecer nossa atuação. No entanto, em algumas circunstâncias, isso pode não se concretizar, devido à precariedade do sistema educacional, à realidade na qual a escola está inserida e a outros fatores, uma vez que nem sempre existe um consenso universal em relação à educação. Portanto, a educação permanece uma experiência paradoxal. No entanto, é imperativo que continuemos a nutrir o sonho de promover os valores que desejamos cultivar em nossa sociedade.
É uma realidade que nos leva a uma seletividade humana, e que em vez de aproximar os povos, afasta-os. [...] Mas isto acontece também em nosso âmbito: o pacto educativo entre a família e a escola se quebrou! Deve-se recomeçar. [...] A educação formal empobreceu por causa da herança do positivismo. Con-
cebe apenas um tecnicismo intelectualista e a linguagem da mente. E por isso empobreceu-se. É preciso interromper este esquema. E há experiências como a arte, o esporte. A arte e o esporte educam. É preciso abrir-se a novos horizontes, criar novos modelos. (FRANCISCO, 2015 apud SAYAGO, 2019, p. 88).
O que aproxima Paulo Freire e Papa Francisco é o fato de que as utopias deles continuam possibilitando pensar em uma educação comprometida com a construção e emancipação humana voltada para as transformações da vida em sociedade, uma educação autônoma e libertadora. Vale lembrar que a palavra “utopia” não ocupa um lugar vazio no mundo da educação como algo irrealizável ou como forma ingênua de ser, mas como algo que ainda não é, mas pode vir a ser lugar de transformação. Ao tratar da relação entre Freire e Papa Francisco, e da sensibilidade deles com o mundo, emerge um olhar reflexivo como forma de compreender os desafios assinalados pelas causas assumidas de ambos.
Com isso, podemos compreender a educação como um compromisso consigo e com o mundo. O Papa Francisco deixa isso mais evidente quando assinala os sete compromissos do Pacto da Educação:
1) Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo; 2) Ouvir a voz das crianças, adolescentes e jovens a quem transmitimos valores e conhecimentos;
3) Favorecer a plena participação das meninas e adolescentes na instrução;
4) Ver na família o primeiro e
indispensável sujeito educador;
5) Educar e educarmo-nos para o acolhimento, abrindo-nos aos mais vulneráveis e marginalizados;
6) Encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, na perspectiva duma ecologia integral;
7) Guardar e cultivar a nossa casa comum, protegendo-a da exploração dos seus recursos, adotando estilos de vida mais sóbrios e apostando na utilização exclusiva de energias renováveis (Pacto Educativo Global, 2019).
Aproximações entre a pedagogia da autonomia e o Pacto Global
O Pacto Global representa uma aliança em prol de um futuro melhor. Assim, é importante observar que o primeiro compromisso enfatiza a importância da colaboração entre todos os atores da educação, incluindo instituições acadêmicas, religiosas, governos, organizações não governamentais e a sociedade em geral. A ideia é que, juntos, esses grupos podem criar um ambiente educacional mais enriquecedor e eficaz. No segundo objetivo, o Pacto destaca a necessidade de uma educação verdadeiramente inclusiva, aberta a todos, independentemente de origem étnica, religião, gênero ou condição socioeconômica. Isso promove a igualdade de oportunidades e o respeito pela diversidade.
Na mesma linha de análise, o terceiro objetivo do Pacto se concentra na conscientização ambiental e na responsabilidade ecológica. Reconhece a interconexão entre educação e sustentabilidade, incentivando a formação de cidadãos conscientes do impacto das próprias ações no meio
ambiente. O quarto objetivo destaca a importância de uma economia a serviço das pessoas, e não o contrário. O Pacto promove uma educação que capacite os alunos a compreender e enfrentar questões econômicas e sociais de maneira ética e responsável.
O Pacto Educativo Global reforça a necessidade de uma educação que promova a compreensão dos princípios do bem comum e da justiça social, conforme se observa no quinto objetivo. Isso implica formar cidadãos que participem ativamente na construção de sociedades mais justas e equitativas. O sexto objetivo é reservado à promoção de uma cultura do encontro, essencial para combater divisões e polarizações em nossa sociedade. O Pacto incentiva uma educação que estimule o diálogo, a empatia e a compreensão entre diferentes culturas e perspectivas. Por último, mas não menos importante, o compromisso com o desenvolvimento humano integral coloca o ser humano no centro da educação. Isso significa que a educação deve ir além do desenvolvimento acadêmico, abrangendo aspectos éticos, emocionais, sociais e espirituais para formar indivíduos completos.
Esses sete objetivos são compromissos que refletem uma visão abrangente da educação como um meio para construir um mundo mais justo, pacífico e sustentável. O Pacto Educativo Global do Papa Francisco busca inspirar uma ação global para alcançar esses objetivos, envolvendo todos os setores da sociedade na transformação da educação para melhorar a vida das pessoas e do planeta.
Francisco explicou que, com essa finalidade, promoveu a iniciativa de um Pacto Educativo Global, “para reavivar o compromisso em prol e com as novas gerações, renovando a paixão por uma
educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão”, convidando todos a “unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna” (Papa Francisco apud Vatican News, 2021).
A proposta da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire também compartilha muitos princípios com os compromissos do Pacto Educativo Global do Papa Francisco, especialmente no que diz respeito à promoção de uma educação centrada no desenvolvimento integral dos indivíduos.
Assim como na Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, o Pacto Educativo Global do Papa Francisco reconhece a importância de uma educação que capacite os indivíduos a serem ativos participantes do próprio processo educacional. Ambos destacam a necessidade de uma abordagem educacional que vá além da simples transmissão de informações, valorizando a formação de cidadãos críticos e conscientes. Assim como Freire, o Papa Francisco acredita na importância do diálogo, da inclusão, da colaboração e do respeito à diversidade como elementos fundamentais para uma educação que promova a autonomia e a emancipação dos indivíduos. Além disso, ambos enfatizam a dimensão ética e social da educação, visando não apenas ao desenvolvimento intelectual, mas também ao crescimento humano integral. Em última análise, tanto a Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, quanto o Pacto Educativo Global, do Papa Francisco, têm como objetivo comum a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária por meio da educação.
Esses tópicos vão ao encontro da Pedagogia da Autonomia, mas também à ideia de Esperança, que visam relacionar a educação à vida real de cada educando. Exemplo disso é o que podemos conferir em seu diálogo com um grupo de camponeses, vejamos:
Paulo Freire, inicia assim o diálogo: Primeira Pergunta: - Que signi ca maiêutica socrática? Gargalhadas geral e eu registrei o meu primeiro gol.
- Agora cabe a vocês fazer uma pergunta a mim – disse. Houve os cochichos e um deles lançou a questão:
- Que é curva de nível? Não soube responder. Registrei um a um.
- Qual a importância de Hegel no pensamento de Marx? Dois a um.
- Para que serve a calagem do solo? Dois a dois.
- Que é um verbo intransitivo? Três a dois.
- Qual a relação entre a curva de nível e erosão? Três a três.
- Que signi ca epistemologia? Quatro a três.
- O que é adubação verde? Quatro a quatro. Assim, sucessivamente até chegarmos a dez a dez (FREIRE, 1992, p. 20-25).
Desse modo, o caráter renovador da educação está intrinsecamente ligado a toda relação humana, que é sempre renovada por ser sempre dinâmica. Formamo-nos no diálogo, na interação social com outros humanos, não nos formamos na relação com o conhecimento isolado do mundo e da realidade. O conhecimento pode ser mediador dessa relação, como pode também suplantar de vez essa relação.
Com isso, o processo educacional parte da compreensão de que o ser humano é inacabado e que sempre está em constante aprendizagem, dia após dia, o tempo todo, ou seja, que está em total movimento, em constante possibilidade de aprendizagem e transformação enquanto projeto de si e da autonomia. Por isso, a educação para a autonomia deve fundamentar-se na relação concreta entre o educando e o mundo, isto é, na construção de um mundo melhor, como saída de si, não como ser acomodado que observa a vida passar sentado no sofá como se não houvesse esperança de um futuro melhor.
Considerações finais
Percebemos, durante o desenvolvimento desta pesquisa, que contou com as contribuições de Paulo Freire e do Papa Francisco, que a sociedade encontra-se em constante movimento. Diante disso, é impossível pensar em neutralidade no que diz respeito à educação, uma vez que a educação deve favorecer a leitura do mundo. Ler o mundo de forma correta para transformar o mundo de forma correta, esse é o desafio de uma educação comprometida e libertadora. Sabendo que a educação é como um coração pulsante que enfrenta e supera as situações desumanizadoras, se faz necessário promover ambientes que estimulem a capacidade dos educandos por meio da reflexão e da ação concreta. Assim, a discussão sobre as contribuições de Paulo Freire e o Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco reflete a importância da educação como uma força transformadora na sociedade. Tanto Freire quanto o Papa Francisco compartilham a visão de uma educação que vai além da simples transmissão de conhecimento, enfatizando a importância da conscientização, do diálogo, da inclusão e da formação de cidadãos críticos e éticos.
Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia, destacou a necessidade de uma educação que capacite as pessoas a se tornarem agentes de mudança nas próprias vidas e comunidades. Ele enfatizou a importância de educar para a esperança, acreditando que a educação é uma ferramenta poderosa para a emancipação e para a construção de um mundo mais justo.
O Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco amplia essa visão ao abordar questões globais, como a inclusão, a sustentabilidade e a solidariedade. Ele destaca a importância
da colaboração entre todos os setores da sociedade na busca por uma educação que promova o bem comum e o desenvolvimento integral das pessoas.
Em conjunto, as ideias de Paulo Freire e do Papa Francisco ressaltam a importância da educação como um meio de construir sociedades mais justas, igualitárias e esperançosas. Eles nos lembram que a educação não é apenas um processo acadêmico, mas uma força poderosa para a transformação social e pessoal, capaz de inspirar ação global em busca de um mundo melhor para todos.
REFERÊNCIAS
BOTO, C. Professores críticos e criativos versus o modelo educacional preconizado pelo novo governo. Jornal da USP, 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/professores-criticos-e-criativos-versusomodeloeducacional-preconizado-pelo-novo-governo/. Acesso em: 2 ago. 2023.
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da Educação: Estudos 78 Para Diretrizes Nacionais. Coleção Estudos da CNBB. Vol. 110. São Paulo: Paulus, 2016.
FREIRE, P. Educação como Prática da Liberdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
GOMES, R.; TONIOSSO, J. Paulo Freire e Educação Libertadora: percepção de docentes da educação de jovens e adultos de um município do interior de São Paulo. Cadernos de Educação, ensino e Sociedade, v. 6, n. 1, p. 315-335, 2019. Disponível em: https://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/cadernodeeducacao/sumario /79/22042019220012.pdf. Acesso em: 6 set. 2023.
HOLLEBEN, I. Paulo Freire e os usos da esperança: relatos de uma experiência. Práxis Educativa, v. 16, n. 2, 2021. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180943092021000100237. Acesso em: 9 set. 2023.
PACTO EDUCATIVO GLOBAL. Vademecum. Roma: Congregatio de Institutione Catholica, 2019. Disponível em: https://www.educationglobalcompact.org/resources/Risorse/vademecumportuges.pdf. Acesso em: 5 set 2023.
SAYAGO, Ó. A. P. (org.). O projeto educativo de Francisco. Curitiba: PUCPRESS, 2019.
VATICAN NEWS. A educação nos compromete a acolher o outro como ele é, sem julgar ninguém (matéria de mídia eletrônica). Vatican News, 2021. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-10/papa-francisco-pacto-educati vo- global-acolher-o-outro-como-ele-e.html. Acesso em: 6 set. 20
IDENTIDADE
VOLUNTARIADO E A SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO
Helen Luana Thelen Cabral⁴
Frei Samuel Cavalcanti do Amaral, OFM⁵
Wellington Minoru Kihara⁶
Introdução
O voluntariado tem como foco proporcionar atividades solidárias, visando atender demandas emergentes da sociedade. O ato de ajudar o outro é um dos principais objetivos desse labor. Essa prática permite ao indivíduo abrir um caminho para a sensação de pertencimento.
Nesse sentido, pode-se elucidar que trazer esse estudo para a sociedade possibilita um maior entendimento sobre essa sensação e sua relação com a saúde mental. Assim, esta pesquisa colabora para a formação de uma comunidade mais empática, na qual se evidencia o trabalho voluntário como atividade que proporciona o senso de pertencimento.
É importante destacar que compreender a sensação de pertencimento, a partir do
Helen Luana Thelen Cabral
trabalho voluntário, é de suma relevância, uma vez que pode trazer mais estudos na área das ciências humanas. Além disso, é fundamental para a construção de mais intervenções e políticas públicas e privadas que incentivem o voluntariado e salientem os seus benefícios, principalmente para aqueles que são voluntários.
Diante desse viés, pode-se afirmar que o propósito deste artigo é refletir sobre a sensação de pertencimento e os benefícios da prática do voluntariado.
Trabalho voluntário e sensação de pertencimento
O trabalho voluntário está atrelado ao ato de ajudar o outro, ou, ainda, de proporcionar a demais pessoas algo que agregue na vida de cada um. Tal trabalho não é tido como um labor remunerado e,
⁴ Aluna de Psicologia da FAE Centro Universitário.
Frei Samuel Cavalcanti do Amaral, OFM
⁵ Bacharel em Ciências Contábeis e aluno de Psicologia da FAE Centro Universitário.
Wellington Minoru Kihara
⁶ Doutor em Design e coordenador da Pastoral Universitária da FAE Centro Universitário.
portanto, não apresenta fim lucrativo. Para Crippa e Feijó (2014), o voluntariado está atrelado à solidariedade, na qual é visto como uma característica que impulsiona as pessoas a participarem de ações sociais ou projetos. Nesse sentido, essa característica pode ser tratada como um mecanismo reforçador de coletividade, união, interação social e afetividade. Conforme Selli e Junges (2008), esse tipo de trabalho pode ser lido como uma ferramenta chave para a mudança de paradigmas na sociedade, fomentando a cidadania. Além disso, é fundamental explicitar os benefícios desse labor para a satisfação pessoal e a sensação de pertencimento.
Baumeister e Leary (1995) destacam a sensação de pertencimento como a necessidade de alguém pertencer, ser aceito, fazer parte de algum grupo, um pensamento ou uma comunidade. Desse modo, essa sensação possibilita o fortalecimento do laço social ou a conexão com o outro.
Nessa mesma linha de pensamento, pode-se elucidar o entendimento de Abraham Harold Maslow, que foi um psicólogo norte-americano, conhecido como o “pai da psicologia humanista”, na qual trabalhou conceitos importantes para a área da psicologia. Um desses conceitos foi a teoria sobre o senso de
pertencimento ou a necessidade de pertencer. Segundo ele, na obra “A teoria da motivação humana”, publicada em 1943 na revista Psychological Review, os humanos não conseguem se desenvolver sozinhos e necessitam de interações sociais. Ademais, Maslow, na construção da “pirâmide de Maslow”, que trabalha com as necessidades motivacionais de um ser humano, destaca que o senso de pertencer é uma necessidade básica, assim como a fisiológica, a segurança, a social e de estima. Nesse sentido, a sensação de pertencimento é algo que necessita ser experienciado para que o ser humano consiga atingir níveis de satisfação, reconhecimento, status e autoestima. Diante desse viés, pode-se destacar que a sensação de pertencimento é uma necessidade básica atingível, fundamental para o desenvolvimento humano, capaz de construir e aprofundar as relações sociais e possibilitar outras sensações importantes para esse desenvolvimento.
Para o Papa Francisco, o voluntariado baseia-se numa atitude de solidariedade profundamente enraizada numa “grande oportunidade de expressar o nosso ser irmãos” (FRATELLI TUTTI, 77). Trata-se de um serviço sem retribuição, sem a busca necessária de reconhecimento, mas um investimento do próprio tempo para desenvolver, isto é, tornar fecunda
a vida dos outros. Porém, para o pontífice, quem não vive a gratuidade fraterna transforma a sua existência num comércio cheio de ansiedade: está sempre medindo aquilo que dá e o que recebe em troca. Portanto, para todos os que abraçam o voluntariado com dedicação, esse serviço irá gerar “grande satisfação diante de seu Deus e na própria vida e, consequentemente, um dever” (FRATELLI TUTTI, 79). Ou seja, uma verdadeira sensação de pertencimento.
São Francisco de Assis estendeu o conceito de fraternidade não apenas aos seres humanos – em particular aos abandonados, aos doentes, aos descartados, aos últimos, indo além das distâncias de origem, nacionalidade, cor ou religião – mas também ao sol, ao mar e ao vento. Nutria uma profunda veneração e respeito por todo ser, por menor que fosse. Nas hortas, também as ervas daninhas, por exemplo, tinham o seu lugar (pertencimento), pois, ao seu modo, elas louvavam o Criador. O olhar, portanto, é global, universal (MORO, 2004). Nesse sentido, quando abordamos São Francisco de Assis, estamos falando da ideia de que toda a criação é convidada, na gratuidade do servir, louvar e buscar seu lugar na existência e, encontrando tal lugar, convidada a criar um vínculo e senso de pertencimento na sociedade e no mundo no qual esse ente está inserido.
Porém, é necessário destacar que estar em grupo, como o de um trabalho voluntário, não garante que todas as pessoas sintam a sensação de pertencimento. Por isso, como anteriormente mencionado, o projeto ou a ação social pode possibilitar ou não essa sensação, uma vez que a necessidade/sensação de pertencimento é diferente para cada pessoa. Assim, alguns sujeitos investem ou se motivam ainda mais quando estão inseridos em
algum grupo, enquanto outros preferem não se envolver ou experienciar manter relações sociais no contexto de grupo do qual fazem parte (LEARY; KELLY, 2009).
Discussão
Considerando que as categorias da Pirâmide de Maslow são organizadas a partir de um conjunto de prioridades hierarquizadas, podemos verificar que nós, como indivíduos humanos, sempre sentiremos o desejo de satisfazer as necessidades do nível posterior após a satisfação do nível anterior. Porém, nem sempre será fácil alcançar plenamente o grau de satisfação social, pois, a partir desse nível, as necessidades deixam de ser necessidades fisiológicas e passam a ser necessidades psicológicas, que tangem as sensações de pertencimento, aceitação e afetividade.
Ainda que haja muito esforço pessoal para alcançar o topo da Pirâmide de Maslow, que trata justamente da autorrealização que abrange a realização pessoal, a criatividade, a moralidade, a espontaneidade, a resolução de problemas, a ausência de preconceito e a aceitação dos fatos, será difícil encontrar um indivíduo que atenda a todos esses critérios. Para Maslow (1954), a satisfação das necessidades, evidentemente, pode não ser absoluta ou ocorrer abruptamente: “o cidadão médio é satisfeito talvez 85% em necessidades fisiológicas, 70% em necessidade de segurança, 50% em necessidade de afiliação, 40% em necessidade de estima e 10% em necessidade de autorrealização” (p. 54). Portanto, a satisfação de uma necessidade se dá de forma gradual, dando margem ao aparecimento de outras imediatamente superiores.
Uma visão dura da realidade social atual nos mostra que essas necessidades, muitas vezes, possuem prazo de validade
motivado apenas por simples interesses pessoais. O conceito de amizade é confundido por ganhos pessoais e o sentimento de pertença e de aceitação é considerado mecanismo para a obtenção de poder e benefício próprio, e não uma forma de alcançar o desenvolvimento humano. Como resultado dessas consequências, é verificado um aumento das doenças mentais ligadas à escassez emocional, como a depressão e ansiedade, fruto de uma busca desenfreada pela conquista pessoal e pela supervalorização dos que aparentam possuir o ideal de sucesso emocional.
Conclusão
Nota-se que a sensação de pertencimento difere de pessoa para pessoa. É algo bem mais complexo de ser atingido. Mesmo que haja a necessidade de se pertencer, ser aceito e acolhido em algo e esse fator ter importância para o desenvolvimento humano, obter essa
REFERÊNCIAS
sensação é algo que exige fatores internos, de escolha pessoal e de caráter subjetivo. Ou seja, o indivíduo pode não obter a sensação de pertencimento, pois realiza o trabalho voluntário com interesses que não estão conectados ao verdadeiro propósito da ação, conforme enfatizam os ensinamentos do Papa Francisco e de São Francisco de Assis.
Dessa maneira, pode-se afirmar que o trabalho voluntário pode gerar a sensação de pertencimento aos indivíduos. Entretanto, cabe salientar que a necessidade/sensação de pertencimento é diferente para cada sujeito. Isso possibilita compreender que, para alguns, o voluntariado trará essa sensação e permitirá que a pessoa fortaleça esse sentimento não apenas com as ações e os projetos sociais propostos, mas também com o grupo voluntário do qual participa. Todavia, outras pessoas podem não investir nessa interação social e nas oportunidades e nos benefícios que essas atividades proporcionam.
BAUMEISTER, R. F., & LEARY, M. R. The need to belong: Desire for interpersonal attachments as a fundamental human motivation. Psychological Bulletin, 117(3), 497-529. doi: 10.1037/0033-2909.117.3.49, 1995.
CRIPPA, Anelise; ISIDORO, Tábata; FEIJÓ, Anamaria Gonçalves dos Santos. Voluntariado e saúde. Revista da AMRIGS, v. 58, n. 3, p. 247-251, 2014.
DAL MORO, Sergio M.. Fontes Franciscanas e Clarianas (FFC). Tradução Celso Márcio Teixeira... (et al.) Petrópolis: Vozes FFB, 2004.
LEARY, M., R., & KELLY, K. Handbook of Individual differences in social behavior. Em M. R. Leary & R. H. Hoyle, p. 400-409, 2009.
Motivation and personality. Nova York: Harper e Row, 1954.
SELLI, Lucilda; GARRAFA, Volnei; JUNGES, José Roque. Beneficiários do trabalho voluntário: uma leitura a partir da bioética. Revista de Saúde Pública, v. 42, p.
Fratelli Tutti: Sobre a Fraternidade e a Amizade Social. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2020.
GESTÃO
GESTÃO ESG E A CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO CATÓLICA
Júlio César de Macedo Souza⁷
ESG (E = Environmental), sociais (S = Social) e de governança (G = Governance), ou então, ASG (Ambiental, Social e Governança) é um princípio sistematizado que integra fatores ambientais, sociais e governamentais (T. Li; D. Wang; T. Sueyoshi; K. Wang. 2021). Em resumo, o princípio ESG está estruturado sobre os impactos ambientais positivos e negativos no desenvolvimento financeiro ou na solvência de uma entidade (instituição), Estado soberano ou indivíduo.
Aplicado à realidade confessional da gestão em nossas Mantenedoras, Redes e Escolas, os fatores ambientais (E), sociais (S) e de governança (G) ajudam a medir a sustentabilidade e o impacto social da nossa participação ativa no cuidado com a Casa Comum. Aplica-se, ainda, na perenidade missionária e teológica da solvência de nossa capacidade institucional em manter-se atuante e honrar nossos compromissos nos contextos mais variados e, até mesmo, adversos. Um verdadeiro apoio ao apelo sinodal do nosso tempo.
A sinodalidade, como sabemos, nos inspira a uma experiência fraterna, não a uma proposta romantizada e utópica; isso seria medíocre. A sinodalidade
Júlio César de Macedo Souza
proposta pela Igreja nos convida a caminhar juntos, tanto entre irmãos de fé, quanto entre aqueles que não professam a fé, uma proposta fraterna e amigável, lembrando a Campanha da Fraternidade deste ano (Mt 23,8), como irmãos que residem na mesma Casa Comum: nosso planeta. Em ambos os casos, a necessidade antropológica se manifesta e pode ser enriquecida com a teologia e os próprios princípios ESG.
Em termos práticos, convidamos a observar as métricas dos pilares ESG. Trabalhadas de forma interdisciplinar, elas poderão apoiar os objetivos sustentáveis da gestão. Vamos, então, conhecê-las.
inovação em produtos e serviços ecológicos.
b. Os princípios sociais (S) medem as discriminações, as oportunidades, os impactos
⁷ Mestre em Teologia Sistemática pela PUC-Rio. Especialista em Projetos para Educação Católica no Brasil pela Editora FTD Educação. Tutor do Curso de Iniciação Teológica da PUC-Rio.
do empobrecimento na sociedade, a gestão da cadeia de abastecimento, a educação, o trabalho, a saúde e a segurança.
Os princípios de governança (G) medem os códigos de conduta, os princípios empresariais, as responsabilidades, a transparência, o direito e até mesmo subornos e corrupções.
As métricas ESG estão em sintonia com os apelos do Papa Francisco para o cuidado com o meio ambiente (Laudato Si´ 2015; Laudate Deum 2023) e com os compromissos 6 e 7 do Pacto Educativo Global de “renovar a política, a economia e cuidar da Casa Comum”.
A sinergia entre os propósitos do Papa Francisco com os princípios ESG contribui para o desenvolvimento sustentável da gestão de nossas Mantenedoras, Redes e Escolas Católicas sem, contudo, se fechar em mera iniciativa da Igreja e empresas modernas, mas aberta a toda Comunidade Humana, responsável pelo cuidado zeloso com todos os seres (Gn 1,28; 2,15; Dt 15,4; Jo 34,13) da Casa Comum. Nas palavras do Santo Padre:
De fato, nós e todos os seres do universo, criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde. (Laudate Deum 67)
Nosso modelo de desenvolvimento ambiental, social e governamental precisa mudar. Nossas Comunidades Educativas, em todas as partes do
mundo, são lugares também propícios para essa mudança significativa. Nelas, formamos as pessoas das gerações futuras. A atual conjuntura nos alerta a buscar um novo início que, para nós, cristãos, se dá em Jesus Cristo. Ele que, ao morrer, derrotou a cultura de morte, fruto do pecado e, ao ressuscitar, restaurou toda a vida (Prefácio da Páscoa I).
Gerir as Mantenedoras, Redes e Escolas Católicas, além das exigências triviais, exige essa ressurreição. “É necessário nascer de novo” (Jo 3,1-18). Em termos práticos, revisar as estratégias, as parcerias e os parceiros, o carisma fundante, os compromissos institucionais e, ainda, cuidar para não se sujar com o “esterco do diabo” (Papa Francisco), permitir se maravilhar novamente com a beleza da Alegria do Evangelho. O dia a dia na gestão pode nos tentar ao isolamento nos escritórios e nas planilhas, ao descuido com as vidas que também gerimos, a desviar o olhar de contemplar a criação de Deus “[...] há um mistério a contemplar numa folha, numa vereda, no orvalho, no rosto do pobre (Laudato Si´ 40). O mundo canta um Amor infinito, como não cuidar dele?” (Laudate Deum 65).
LI, T. WANG, K. SUEYOSHI, T. WANG, D. ESG: Research Progress and Future Prospects. Disponível em: https://www.mdpi.com/2071-1050/13/21/11663/xml. Acesso em: 7 mar. 2024.
GESTÃO
A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO COLETIVA DO TEMPO NAS ATIVIDADES PASTORAIS
Jean Michel Alves Damasceno⁸
tempo da escola é pautado para o desenvolvimento formativo da comunidade educativa (estudantes, professores, famílias, diretor, secretária, zeladores etc.).
Esse tempo não pode ser medido restritamente pelo grau de importância, até
Jean Michel Alves Damasceno
porque todo o tempo pensado pela escola está comprometido em promover um ser humano de consciência política e ambiental, empoderado, justo, solidário, crítico e defensor da promoção de uma cultura de paz, da formação do humanismo solidário e de um diálogo que valoriza e potencializa as diferenças.
Esse caminho é um processo que exige a necessidade de estabelecermos, no chão
⁸ Estudante do Curso de Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Piauí. Agente de Pastoral da Escola Padre Arrupe da Rede Jesuíta de Educação em Teresina-PI.
da escola, o contexto que valorize, nos conjuntos de suas ações, uma participação coletiva e uma pausa planejada e intencional, como bem evidencia Heloisa Luck ao afirmar que “a participação que se fecha em si mesma constitui ativismo. A participação que se espraia por todas as dimensões do processo social, na intenção de enriquecê-la, constitui-se em transformação”; essa visão facilita pensar, na organização do tempo da escola, um planejamento capaz de criar diálogo coletivo e responsável com os processos pedagógicos para favorecer as melhores possibilidades de prática e metodologia no percurso de aprendizagem dos nossos estudantes. O planejamento dos processos escolares deve ser uma ação indispensável na rotina das equipes.
Sabemos que todas as ações educativas na escola não podem ser executadas sem antes ter esse espaço sistemático para desenvolver um tempo para pensar, investigar, discutir, analisar, contextualizar e confrontar as futuras perspectivas de colaboração formativa no desenvolvimento integral dos estudantes.
O desafio de hoje é saber como podemos avançar na administração do tempo com as exigências do chão da escola para evitar situações que não são potencializadoras da aprendizagem humano nesta trajetória de formação dos estudantes e da comunidade aprendente. Porque um tempo não pensado na gestão do ambiente educativo fará com que as práticas de aprendizagens fiquem inadequadas, infecundas e vulneráveis às situações improvisadas, causando um contexto de déficit de aprendizagem integral nos processos formativos da escola.
Com isso, o nosso ponto de atenção e de provocação é sobre a existência de discursos e opiniões plantados e defendidos no nosso ambiente educativo em que
o tempo para as atividades pastorais é percebido e considerado como “perda de tempo”, “são atividades improvisadas”, “são desconexas da prática educativa”, “A oração deve durar apenas cinco minutos”, “Hoje tem avaliação não pode ter oração”, “Este encontro da pastoral tem que ser rápido”, “Demora demais o momento pastoral”, “Acredito que não dará tempo de dar minha aula”, “Esta proposta da pastoral não fala da realidade do aluno”, É muita reza nessa escola”. Esses posicionamentos são diagnósticos de que ainda repercute, no processo de formação pastoral, a ausência da consciência evangelizadora nos itinerários de aprendizagens que se desenvolvem no cotidiano da comunidade escolar.
Para progredir de forma que os processos pastorais sejam considerados relevantes na gestão do tempo em uma Escola Confessional, é preciso reconhecer que as situações pastorais não podem ser vistas como uma ação descontextualizada e isolada da prática pedagógica.
Por isso, toda ação pastoral exige, no percurso de sua rotina, um tempo de planejamento com as equipes estratégicas na unidade para ampliar essa consciência de corresponsabilidade na missão
institucional. Esse espaço de construção coletiva é estratégico e propiciador de estabelecer a circunstância formativa dos seus pares para suplantar a ideia de que o tempo usado para ações pastorais não é percebido como um campo de execução sem sentido. As interpelações de Agenor Brighenti nos fazem compreender que “um processo de planejamento participativo só poderá avançar no clima de um diálogo maduro que incentiva a colaboração de todos no ambiente que reconhece a força transformadora de uma cultura de encontro que inclui e valoriza o espírito coletivo”.
A dimensão pastoral na gestão do tempo da escola não pode ser considerada uma proposta desvinculada dos caminhos formativos da comunidade aprendente. Em razão disso, é urgente pensar o tempo da ação evangelizadora como situação que potencializa a formação integral dos estudantes e que fortalece o comprometimento da comunidade educativa em testemunhar o legado da missão institucional.
Outro equívoco que precisa ser refletido no caminho de mudança de mentalidade nos diálogos formativos na ambiência educacional é quando o tempo das ações pastorais é designado nas “urgências pedagógicas”; na ausência de um professor, aquele tempo acaba sendo utilizado como uma finalidade desviante da intencionalidade pastoral, ou seja, transforma-se mais no tempo de “ocupação de espaço” porque não desenvolve uma ação qualitativa e um processo sólido da formação pastoral com aquela situação favorável para o desenvolvimento da aprendizagem integral.
É necessário desconstruir a limitação das ações pastorais no tempo formativo da escola. É tendencioso enxergar na rotina da escola que a evidência pastoral só pode ser destinada em ocasiões em que o principal foco refere-se às vivências
religiosas. A ação pastoral percebida a partir desse espectro inviabiliza a construção de um processo capaz de permear tudo o que acontece na escola. Não é possível que o tempo do recreio seja usado apenas como único e adequado espaço para desenvolver a experiência de missão na escola confessional. Se outros tempos organizados na escola não fazem parte do planejamento das ações pastorais, estamos nos descomprometendo com as futuras possibilidades que outros caminhos podem favorecer na construção de uma pastoral mais participativa e acessível no ambiente da escola.
O que ainda dificulta a manutenção desse pensamento incompatível em relação ao compromisso pastoral no tempo formativo da escola é entender e julgar que olhar e saber pastoral não pode ser uma situação de aprendizagem; isso pode ser provocado pela ausência de caminhos formativos que ampliam essa ideia de que não existe vínculo com os saberes sistematizados da humanidade.
Portanto, precisamos desmistificar as concepções errôneas sobre o tempo formativo da dimensão pastoral efetiva na construção da educação integral. Pensar caminhos exigirá que todos tenham a responsabilidade de assumir, com clareza, que o processo pastoral está fundamentado na pedagogia de Jesus, o nosso mestre. O estilo educativo d´Ele foi focado em dialogar com as diferenças, denunciar as situações de desfavorecimentos da prática acolhedora e amorosa, realizar uma escuta empática aos invisibilizados pela sociedade; o principal ensinamento assumido no tempo de sua missão foi que Ele nos ensinou e formou pelo exemplo. Essa forma como Jesus dedicou o tempo para situações das pessoas deve ser o núcleo da dimensão pastoral nos processos de aprendizagem no dia a dia da Escola Confessional.
GESTÃO
A
COORDENAÇÃO
PEDAGÓGICA
NA ESCOLA
CATÓLICA EM UMA PERSPECTIVA DE SINODALIDADE: REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA
EM PASTORAL
Wanderson Raposa Ferreira⁹
Pastoral Escolar colaboram para desenvolver indivíduos humanistas e éticos, alinhados à missão de educar e evangelizar. A Escola Católica, centrada em Jesus Cristo, torna-se um espaço-tempo onde a sinodalidade – proposta pela Igreja
sabilidades e dons, cultivando uma comunhão viva. Inspirada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), essa visão sócio-histórica propõe uma Igreja como “Povo de Deus”, fundamentada no serviço inclusivo e no diálogo e na acolhida. Em uma
Wanderson Raposa Ferreira
⁹ Colégio Nossa Senhora das Dores – Irmãs Dominicanas de Nossa Senhora do Rosário de Monteils (Uberaba).
“escola em pastoral”, a sinodalidade não apenas reflete a orientação eclesial, mas também se integra como um princípio educativo, promovendo uma cultura de respeito que beneficia a formação integral da comunidade educativa.
A Coordenação Pedagógica desempenha importante papel na implementação de um currículo que une conhecimentos acadêmicos e valores cristãos e humanos, em consonância com as diretrizes da educação brasileira: LDB (1996), PCNs (1999) e BNCC (2017). Esse currículo evangelizador visa à formação plena dos estudantes, combinando saber científico e acadêmico com formação espiritual e cidadã, visando à resolução de problemas, mediação de conflitos e plena vida pessoal e social. O trabalho da Coordenação Pedagógica deve ser interdisciplinar e transversal, de forma a promover a vivência cristã humanista e um diálogo entre saber, vida contemporânea e fé.
A Pastoral Escolar complementa esse esforço ao representar um espaço de formação que não se limita à educação religiosa, mas amplia a vivência da fé, envolvendo estudantes, famílias, educadores e religiosos. A presença da Pastoral Escolar cria oportunidades para oração, celebrações, estudos, ações filantrópicas, bem como processos educativos e curriculares pedagógico-pastorais que refletem os valores cristãos e humanos no cotidiano da escola, ampliando o sentido de educar evangelizando. Assim, a escola se torna um ambiente onde a evangelização se realiza de maneira integral, em uma proposta avaliativa que valoriza acertos e reflete sobre desafios e caminhos de aperfeiçoamento.
Na perspectiva de uma “escola em pastoral”, a Coordenação Pedagógica assume um papel central ao alinhar atividades educacionais com a espiritualidade e os valores que orientam a identidade da
instituição. Essa coordenação organiza práticas pedagógicas com princípios pastorais, assegurando que currículo e metodologias reflitam uma formação integral, criativa e dinâmica, voltada para o desenvolvimento humano, acadêmico e espiritual dos estudantes. Ao dialogar com os setores, como a Pastoral Escolar, a Direção Escolar e Organizações Religiosas e Educacionais, a Coordenação Pedagógica possibilita, em interlocução com educadores e famílias, a implementação de um currículo evangelizador que fomente conhecimento acadêmico, espiritualidade, autoconhecimento, empatia e compromisso comunitário.
Para construir uma educação pastoral e sinodal, a Coordenação Pedagógica pode refletir e buscar, em diálogo com a comunidade educativa, a realização de ações em parceria com a Coordenação de Pastoral Escolar, tais como as descritas a seguir.
1. Diálogo contínuo entre Coordenações Pedagógica e Pastoral: realizar reuniões periódicas para alinhar práticas pedagógicas e pastorais com os valores cristãos e humanos, assim como os objetivos pedagógicos da escola.
2. Formação continuada dos professores: prover capacitações e vivências que unam conteúdos pedagógicos e elementos da identidade católica, abordando valores humanos e metodologias educacionais humanistas.
3. Desenvolvimento de projetos integradores: planejar atividades que integrem, em uma proposta interdisciplinar e transversal, valores cristãos e humanos aos componentes
curriculares acadêmicos, desenvolvendo o pensamento crítico e fortalecendo a identidade humanista cristã no currículo.
4. Acompanhamento e valorização dos professores: estabelecer um sistema de devolutiva e reconhecimento para auxiliar os docentes a vivenciarem o currículo evangelizador nas aulas e nos projetos pedagógicos.
5. Criação de espaços de escuta e convivência: promover encontros que reforcem o diálogo e o acolhimento entre alunos, famílias e professores, aprendendo a lidar com os conflitos, respeitando as diferenças culturais e religiosas e fortalecendo os laços comunitários.
6. Iniciativas de voluntariado e ação social: incentivar atividades que promovam a solidariedade e a responsabilidade cristã e cidadã, desenvolvendo a empatia e o compromisso social dos estudantes e da comunidade educativa.
REFERÊNCIAS
7. Integração de momentos de oração e espiritualidade: encorajar momentos de oração e reflexão no dia a dia escolar, envolvendo toda a comunidade e reforçando a espiritualidade como base do convívio escolar e humano.
Dessa forma, as reflexões e ações acerca da identidade da escola católica contemporânea reforçam o papel da Coordenação Pedagógica em implementar um currículo evangelizador que articule aprendizado acadêmico com formação humanista cristã, em sintonia com a visão de uma escola em pastoral. Essa proposta fomenta uma comunidade educativa que vive os valores cristãos e humanos, promovendo uma educação integral e solidária. Com base na colaboração e no respeito mútuo, a Coordenação Pedagógica e a Coordenação de Pastoral Escolar assumem um protagonismo indispensável na concretização de uma educação em que o ideal de “educar evangelizando e evangelizar educando” se faz presente e contribui para a vivência da sinodalidade.
BORGES, Arnaldo. Educação e Pastoral na Escola Católica. São Paulo: Loyola, 2017.
COUTINHO, Rodrigo. Sinodalidade e Comunidade: A Igreja em Diálogo com o Mundo. Petrópolis: Vozes, 2019.
JUNQUEIRA; Sérgio Rogério Azevedo; LEAL, Valéria Andrade; RIAL, Gregory (Orgs.). Compêndio de Pastoral Escolar para a Educação Básica na Escola Católica. Brasília: Edições CNBB; Petrópolis: Vozes, 2021.
LOURENÇO, Marta. Educação Integral: Perspectivas e Desafios na Escola Contemporânea. São Paulo: Paulus, 2018.
ZANINI, Carlos. Currículo e Evangelização na Escola Católica: Desafios e Perspectivas. Brasília: Edições CNBB, 2021.
ECOLOGIA INTEGRAL
SUSTENTABILIDADE
PARA UMA FORMAÇÃO
INTEGRAL: PLANOS DE AÇÃO NA EDUCAÇÃO
BÁSICA VIA ECOLOGIA INTEGRAL
Graciele Batista Gonzaga
Elaine Cecília de Lima Oliveira¹⁰
Economia circular e economia de Francisco e Clara
A economia circular é um modelo econômico inovador que busca redefinir a forma como produzimos, consumimos e descartamos recursos. Ao contrário do tradicional modelo linear de “usar e jogar fora”, a economia circular promove a sustentabilidade por intermédio da redução, reutilização, reciclagem e recuperação de materiais. Nesse sistema, os resíduos são vistos como recursos potenciais, que incentivam práticas que minimizem o desperdício e maximizem a eficiência no ciclo de vida dos produtos. A ideia central é criar um ciclo fechado, em que os produtos sejam projetados para
serem resistentes, reparáveis e recicláveis, contribuindo para a conservação de recursos naturais, a mitigação dos impactos ambientais e o desenvolvimento de uma economia mais resiliente e sustentável.
Diante desse contexto, os estudantes do 9º ano do EF do Colégio Santa Maria Minas – Unidade Betim idealizaram projetos investigativos sobre resíduos inspirados na economia circular. Os trabalhos foram desenvolvidos a partir de projetos pautados nos objetivos sustentáveis da ONU, da Agenda 2030: ODS 3 – Saúde e Bem-estar e ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, aliados à ideia de pensar problemas sociais locais. Além
Graciele Batista Gonzaga
¹⁰ Professora de Língua Portuguesa, Literatura, Redação e Comunicação Criativa e Mídias do Colégio Santa Maria Minas – Unidade Betim; professora de Língua Portuguesa da Rede Municipal de ensino de Belo Horizonte. Doutora em Literatura Moderna e Contemporânea pelo Programa de Estudos Literários da Faculdade de Letras-UFMG. Mestre em Teoria da Literatura pelos Estudos Literários da Faculdade de Letras-UFMG. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Elaine Oliveira
Gestora do Colégio Santa Maria Minas, Betim. Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) (2009). Docente da Faculdade Minas Gerais e da Pós-Graduação UNI-BH.
disso, entende-se que o mundo clama por socorro. Nessa perspectiva, a equipe de ecologia integral do Colégio Santa Maria Minas busca incentivar ações em cada unidade de ensino, de modo a permitir uma educação voltada para o cuidado da Mãe Terra.
Uma economia que se deixar inspirar na dimensão profética se expressa hoje em uma visão nova do ambiente e da terra. Não basta fazer uma maquiagem. É preciso pôr em discussão o modelo de desenvolvimento. A situação é tal que não podemos apenas esperar pela próxima cúpula internacional, que pode não ajudar a terra está queimando hoje, e é hoje que devemos mudar, em todos os níveis. (PAPA FRANCISCO, 2019, p. 7).
Sob essa ótica, nota-se a urgência em discutir temas ambientais em ambientes pedagógicos. Por isso, os projetos investigativos do 9º ano do Ensino Fundamental são reflexo de uma proposta que impulsiona o pensamento juvenil sobre a questão da economia circular em Betim e localidades próximas, com a ideia de ecologia integral, ação da instituição em parceria com a Pastoral para possibilitar atitudes sustentáveis e promover pensamento mais consciente sobre a manutenção da natureza. Observa-se, ainda, a necessidade de refletir sobre desafios sociais e ambientais por intermédio do olhar dos adolescentes.
Por isso, são primordiais ações educacionais que propiciem discussões sobre os impactos dos comportamentos dos seres humanos na sociedade, buscando, assim, atender os princípios pedagógicos da BNCC (2018) com a parceria da Pastoral para endossar estratégias ambientalistas no espaço escolar. Tem-se como
ideia, principalmente, estudar sobre os resíduos via perspectiva dos estudantes, como foi apresentado na FEBIC, em que esses escolheram o tecido, os cabos e fios e as roupas do fast fashion. Esses trabalhos foram finalistas e o resultado foi divulgado no site do colégio: https://santamaria.pucminas.br/noticias/finalistas-viiifebic/.
Sustentabilidade para uma formação integral
Os projetos investigativos do “Projeto Ciclos” com os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental tiveram como finalidade pensar problemas relacionados à mineração urbana, de modo a impulsionar uma atitude mais consciente e sustentável. Os objetivos específicos foram: conhecer sobre mineração urbana; pensar problemas relacionadas à mineração urbana; instigar os alunos a pesquisarem sobre um tipo de resíduo, bem como seu ciclo de vida (origem até o destino final); compreender as causas do problema estudado; criar hipóteses para
as possíveis causas do problema; entender as consequências do problema pesquisado; utilizar a plataforma Árvore Livros para fundamentação do projeto com a leitura da revista “Qualé: Tudo isso é lixo”; propor soluções sustentáveis para resíduos urbanos, de acordo com ecologia integral; e apresentar os resultados em feiras científicas externas (FEBIC e UFMG Jovem) e internas.
Com essas metas, buscou-se um desenvolvimento de projetos aliados ao trabalho de ecologia integral promovido pela Pastoral da instituição. A Pastoral em escolas católicas desempenha um papel crucial na formação integral dos estudantes, indo além do simples ensino acadêmico. Com base nos princípios da fé católica, a Pastoral busca cultivar valores, ética e espiritualidade nos alunos. As atividades pastorais incluem celebrações religiosas, momentos de reflexão, orientação espiritual e promoção de ações sociais. Ademais, a Pastoralnal e contribui para o desenvolvimento de
uma comunidade escolar unida e centrada em valores cristãos. Esse trabalho visa não apenas transmitir conhecimento religioso, mas também formar cidadãos conscientes e compassivos, integrando a dimensão espiritual no ambiente educacional. Nesse caminho, a Pastoral foi fundamental para o engajamento dos projetos investigativos, promovendo as propostas de intervenções como estratégias de reflexão e de mobilização estudantil para transformações nos ambientes escolares. Assim, instigou-se uma educação integral que não preze apenas pelo conhecimento, mas, sim, pela preocupação com a natureza.
Caminhos investigativos para pensamento sustentável: plano de ações, projetos educacionais de pesquisa
Os projetos têm como intenção desenvolver metodologias ativas que permitam a reflexão dos estudantes sobre mineração urbana inspirados na carta do Papa Francisco. Para isso, serão utilizados trabalhos em grupos, sala de aula invertida, pesquisa bibliográfica, discussão do conceito de mineração urbana, registros em diário de bordo, apresentações sobre os projetos investigativos em feiras internas e externas. Essas ações são pautadas na ideia do compromisso do Papa Francisco, em que ele adverte que “O cuidado com a nossa Casa Comum é uma antecipação à redenção futura de Deus. Nossas ações em favor do meio ambiente antecipam e participam nos próprios atos redentores atuais e futuros de Deus em prol de uma nova criação.” (CARTILHA LAUDATO SI’, 2023, p. 45).
Um dos projetos de destaque foi “ Economia circular – fios e cabos”, que tem como principal objetivo descobrir como e onde descartar os fios e os cabos de maneira correta e, como objetivos secundários, identificar a matéria-prima presente dentro dos fios e dos cabos,
investigar as formas de reutilizá-la e identificar o destino desses materiais após o descarte. Esse trabalho foi premiado na FEBIC/2023, o que foi noticiado no site da instituição: https://santamaria.pucminas.br/noticias/febic-vii/. Entende-se que os projetos problematizadores via investigação contribuem para um pensamento sustentável em relação ao meio ambiente. O espaço escolar pode propiciar momentos de aprendizagem significativa, desenvolvendo com a Pastoral um compromisso com a natureza e um cuidar do planeta Terra, uma vez que, na economia de Francisco e Clara, não há espaço para ganância, mas, sim, para a educação responsável e integral.
Na economia de Francisco e Clara, não há espaço para a ganância, nem para o acúmulo infinito. Nem mesmo para os bilionários. Sim, um mundo sem bilionários e mega-fortuna; porque, para acumular
bilhões (de dinheiro), é necessário deixar bilhões (de vidas) sem nada. Qualquer um que seja bilionário neste momento poderia começar a compartilhar, por sua própria iniciativa, fora de consciência (FRANCISCO, 2019, p. 15).
Em suma, compreende-se que os projetos investigativos são uma possibilidade de uma educação voltada para a ecologia, de modo a “ajudar a ressignificar o sentido e a qualidade de um processo de ensino e aprendizagem que possa levar
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian; MORAM, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Editora Penso. Porto Alegre, 2018.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular de Educação Básica, 2018.
CARTILHA LAUDATO SI’ Irmãs Franciscanas Bernardinas Província Imaculada Conceição - Brasil | Março de 2023.
FRANCISCO, PAPA. A economia de Francisco e Clara: denúncia das violências financeiras e anúncio de economias para o bem viver. Disponível em: https://economiadefranciscoeclara.com.br/wp-content/uploads/2023/03/CARTILH A_A5_PORT_V4_01_03_Digital-1.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
A ecologia integral é um conceito que vai além da simples preservação ambiental, pois abrange, também, as dimensões sociais, econômicas e culturais. Proposto pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’, esse conceito enfatiza a interconexão entre todos os seres vivos e o meio ambiente, promovendo uma abordagem holística para enfrentar os desafios
ecológicos e sociais. “Cada criatura tem um valor e um significado próprios. Cada uma, à sua maneira, reflete um raio da infinita sabedoria e bondade de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, 339).
Os princípios fundamentais da ecologia integral incluem a sustentabilidade, a justiça social, a solidariedade e o respeito pela biodiversidade, numa visão intrinsecamente aprofundada de que “Tudo está interligado, e isso nos convida a amadu-
Guilherme Felipe Santos Rocha
¹¹ Estudante do segundo ano de Filosofia da Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília – FATEO.
recer uma espiritualidade da solidariedade global que brota do mistério da Trindade” (LS, 240).
Esses princípios visam criar um equilíbrio harmonioso entre o desenvolvimento humano e a preservação do planeta, reconhecendo que todas as formas de vida estão interligadas e dependem umas das outras. O Papa nos chama para a responsabilidade, destacando que “A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. […] A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco” (LS, 217).
A implementação de programas de ecologia integral tem mostrado resultados promissores em diversas áreas. Estudos indicam que comunidades que adotam práticas sustentáveis e inclusivas tendem a apresentar uma melhor qualidade de vida e maior resiliência frente a crises ambientais e sociais (MENDES, 2000).
Além disso, a ecologia integral promove uma mudança de paradigma ao incentivar as pessoas a repensarem suas relações com a natureza e com os outros seres humanos. Nessa mudança de paradigma, o Papa afirma: “Uma ecologia integral requer abertura a categorias que transcendem as linguagens das ciências exatas ou biológicas e se dirigem ao essencial do ser humano. Assim como há um paradigma tecnocrático dominante, que se crê capaz de oferecer respostas a todos os problemas ambientais, também é necessário um olhar que integre o valor do ser humano e da criação em sua totalidade” (LS, 11). Essa abordagem integrada tem o potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, reduzir a pobreza e promover a justiça social, criando um futuro mais sustentável e equitativo para todos.
Estudos de Caso: exemplos de
instituições educacionais e pastorais
Diversas instituições educacionais e pastorais têm implementado programas de ecologia integral com sucesso. Um exemplo notável é a Universidade Católica de Brasília, que desenvolveu um projeto de sustentabilidade que integra práticas ecológicas no currículo acadêmico e nas atividades diárias do campus (UCB, 2024). Outro exemplo é a Pastoral da Terra, que trabalha com comunidades rurais para promover a agricultura sustentável e a preservação dos recursos naturais. Tais iniciativas não apenas educam e conscientizam, mas também criam modelos práticos de sustentabilidade que podem ser replicados em outras regiões (FERREIRA; VENTURELI, 2015).
A ecologia integral representa uma abordagem inovadora e necessária para enfrentar os desafios contemporâneos. Ao integrar aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais, essa abordagem promove um desenvolvimento sustentável e inclusivo. Os resultados positivos observados em comunidades que adotam práticas de ecologia integral demonstram o potencial transformador. Instituições educacionais e pastorais desempenham um papel crucial na disseminação desses princípios, servindo como exemplos práticos de como a ecologia integral pode ser implementada de forma eficaz (MENDES, 2000).
A adoção da ecologia integral exige uma mudança de mentalidade e de comportamento, tanto individualmente quanto coletivo. É necessário reconhecer que nossas ações têm impactos profundos e duradouros no meio ambiente e nas comunidades ao nosso redor. Ao semear os princípios da ecologia integral, colhemos uma harmonia que beneficia não apenas a nossa geração, mas também as futuras. Esse é um chamado à ação para todos nós, para podermos construir um
mundo mais justo, sustentável e harmonioso.
2 — Educação Ambiental e Pastoral: raízes do passado, flores do presente
As práticas educativas e pastorais voltadas para o meio ambiente têm uma longa trajetória, marcada por diversas fases de evolução. Inicialmente, a educação ambiental era informal e baseada em tradições orais, em que o conhecimento sobre a natureza e a sustentabilidade era transmitido de geração a geração. Com o advento da Revolução Industrial, a degradação ambiental tornou-se mais evidente, levando à necessidade de uma abordagem mais estruturada.
Na década de 1970, movimentos ecológi-
A implementação de práticas educativas e pastorais voltadas para o meio ambiente tem gerado diversos benefícios, mas também enfrenta desafios significativos. Entre os benefícios, destaca-se o aumento da conscientização ambiental entre os jovens e as comunidades, promovendo atitudes mais sustentáveis e responsáveis. Programas de educação ambiental têm contribuído para a formação de cidadãos mais críticos e engajados na preservação do meio ambiente. Além disso, iniciativas pastorais têm fortalecido a conexão espiritual com a natureza, incentivando práticas de cuidado e respeito pelo planeta, como é o exemplo da carta encíclica Laudato Si´, lançada em 2015, revolucionando o pensamento ecológico na Igreja.
No entanto, a implementação dessas práticas não está isenta de desafios. Um dos principais obstáculos é a falta de recursos financeiros e materiais, o que limita a abrangência e a eficácia dos programas. Além disso, a resistência cultural e a falta de formação adequada dos educadores e líderes pastorais podem dificultar a adoção de novas práticas. A complexidade burocrática e a falta de coordenação entre diferentes setores também representam barreiras significativas. Superar esses desafios requer um esforço conjunto de governos, instituições educacionais, organizações religiosas e a sociedade civil.
A evolução das práticas educativas e pastorais voltadas para o meio ambiente reflete uma crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade e da justiça ambiental. Embora os benefícios sejam evidentes, os desafios enfrentados na implementação dessas práticas destacam a necessidade de um compromisso contínuo e colaborativo. Investir em formação, recursos e políticas públicas é essencial para garantir que essas práticas possam alcançar seu pleno
ecologia
A integração de conceitos ecológicos e pastorais na educação tem sido objeto de estudo e desenvolvimento teórico ao longo das últimas décadas. Uma das abordagens mais influentes é a da educação ambiental crítica, que enfatiza a necessidade de uma compreensão profunda das relações entre os seres humanos e o meio ambiente. A educação ambiental crítica busca formar cidadãos conscientes e engajados, capazes de questionar e transformar as práticas insustentáveis.
Outra teoria relevante é a da ecoeducação, que combina princípios ecológicos com valores espirituais e éticos. Essa abordagem é, frequentemente, adotada por instituições religiosas e pastorais, que veem na educação uma oportunidade de promover uma relação mais harmoniosa e respeitosa com a natureza. A ecoeducação enfatiza a interdependência de todos os seres vivos e a responsabilidade moral dos seres humanos em cuidar do planeta.
Um exemplo significativo de atitude pastoral é a Plataforma de Ação Laudato
em prol da sustentabilidade, inspirados na encíclica Laudato Si’ (Plataforma de ação Laudato Si’, 2024). Além disso, diversas congregações religiosas e paróquias têm se empenhado em promover a ecologia integral.
Por fim, pensar a educação e a Pastoral para uma ecologia integral é pensar a importância de experiências educativas que promovam mudanças profundas nas atitudes e nos comportamentos das pessoas. Dessa maneira, sugere que a educação deve ser um processo ativo e participativo, em que os alunos são incentivados a refletir criticamente sobre as próprias práticas e a buscar formas de contribuir para a sustentabilidade.
A educação transformadora é frequentemente implementada por meio de metodologias participativas, como projetos comunitários e estudos de caso, que envolvem os alunos em atividades práticas e reflexivas. Essas experiências não apenas aumentam a conscientização ambiental, mas também capacitam os alunos a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades (GOMES et al., 2006).
REFERÊNCIAS
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2c1_198-421_po.ht ml. Acesso em: 17 set. 2024.
FERREIRA, G. H. C.; VENTURELI, R. M. A Comissão Pastoral da Terra e os 30 anos de documentação sobre o campo brasileiro (1985-2014). Boletim Campineiro de Geografia, v. 5, n. 2, 2015.
GOMES, A. M. DE A. et al. Os saberes e o fazer pedagógico: uma integração entre teoria e prática. Educar em Revista, n. 28, 2006.
MENDES, I. A. C. Princípios ecológicos e qualidade de vida. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 8, n. 4, 2000.
Plataforma de Ação Laudato Si’. 2024. Disponível em: https://plataformadeacaolaudatosi.org/. Acesso em: 18 set. 2024.
TORRES, J. REZENDE. Educação ambiental crítico-transformadora e abordagem temática Freireana [tese]. Intelligence, v. 7, n. 2, 2010.
UCB. Responsabilidade social e ambiental. Disponível em: https://ucb2.catolica.edu.br/portal/conheca/institucional/responsabilidade-social-e -ambiental/. Acesso em: 17 set. 2024.
INFÂNCIAS
UNINDO FORÇAS: A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA EVANGELIZAÇÃO DAS INFÂNCIAS
Camilla Danielly Silva das Neves¹²
A infância é um período de descobertas, crescimento e desenvolvimento, em que cada criança embarca em uma jornada única e pessoal. Partindo desse pressuposto, é preciso compreender que a criança é um sujeito histórico e de direitos que, nas suas interações, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, constrói sentidos e produz culturas (DCNEI, 2010, p. 12). Isso significa que a forma como enxergamos as crianças não é algo inerente a elas, mas é construído e influenciado pelos valores, pelos costumes, pelas tradições e pelas normas sociais da comunidade em que está inserida.
Nesse sentido, por ser a primeira instituição social na vida da criança, a família desempenha um papel crucial na promoção do desenvolvimento saudável e na preservação da singularidade de cada infância. Nesse contexto, é fundamental reconhecer e valorizar as características intrínsecas da criança, tais como a brincadeira, o faz de conta, a criatividade, as descobertas e o lugar teológico que lhe é próprio. Além disso, a família tem a função determinante de cultivar valores fundamentais, como respeito, amor,
diálogo, cooperação e honestidade, por meio de uma presença significativa e do respeito ao espaço-tempo da criança.
É essencial que os adultos compreendam que as crianças não apenas absorvem, mas também produzem e reproduzem cultura, hábitos, sentimentos e comportamentos a partir das relações estabelecidas, principalmente no ambiente familiar, onde passam a maior parte do tempo. As famílias são indispensáveis na garantia de uma infância bem-vivida para as crianças, pois exercem grande influência sobre o desenvolvimento moral e espiritual. Como afirmam Moreira e Silva (2015, p. 2), “a criança aprende a partir do que absorve dos adultos ao seu redor, e essa aprendizagem pode ser positiva ou negativa”.
A convivência familiar é o solo fértil onde os primeiros aprendizados cristãos são cultivados, sobretudo a espiritualidade. É por meio das interações diárias e dos exemplos vivenciados que as crianças absorvem e internalizam os valores que irão orientar suas atitudes e escolhas ao longo da vida. Desde os gestos mais simples até as conversas mais profundas, cada interação familiar é uma oportuni-
Camilla Danielly Silva das Neves
¹² Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pós-graduanda em Psicopedagogia pela Faculdade Metropolitana, agente de Missão no Colégio Marista de Natal, atuando com catequese de Primeira Eucaristia e evangelização com crianças e jovens.
dade de plantar as sementes dos valores já mencionados, além de estimular a prática do bem e as virtudes da vida cristã, sempre considerando que “a criança constitui um dos sujeitos ou meio do qual Deus se revela e nos convida a relação consigo” (Evangelização com as Infâncias no Brasil Marista, p. 27).
No contexto da evangelização das infâncias, a família precisa ter consciência de que faz parte do processo catequético e evangelizador e de que são extremamente importantes a parceria e a mediação nos ensinamentos, na religiosidade, na participação nas missas, pois, como principal referência para as crianças, tem todo o aporte para fornecer apoio, exemplo e influência.
Além do cultivo de valores, a família também contribui, de maneira significati-
va, na promoção de um ambiente oracional em casa, estimulando a oração diária, interagindo com o itinerário catequético, vivenciando e acompanhando todas as atividades propostas com as crianças, uma vez que a ausência do apoio familiar resulta em lacunas e carências que a Pastoral, por mais esforços que empregue, não consegue preencher. Conclui-se essa reflexão, destacando a relevância da Pastoral na missão social e evangelizadora, bem como a necessidade de diálogo, união e cooperação entre essa instância e a família. É por meio dessa parceria que as crianças podem vivenciar uma evangelização integral, recebendo apoio em todas as dimensões sociais, afetivas, cognitivas e transcendental.
INFÂNCIAS
FÓRUM DE PASTORAL INFANTIL DO SAGRADO – REDE DE EDUCAÇÃO
Irmã Lucilene Chiciuc
Tiago Aparecido Rodrigues¹³
Em agosto de 2024, o SAGRADO – Rede de Educação promoveu o 1º Fórum de Pastoral Infantil. Esse evento reuniu educandos de unidades educacionais do Paraná e Rio Grande do Sul, com idade entre 3 e 5 anos. O tema abordado foi “As Parábolas de Jesus” e o objetivo era despertar o engajamento acerca da Palavra de Deus, estimulando o conhecimento e o aprofundamento das parábolas bíblicas. Essas crianças acompanharam uma atividade híbrida (momentos transmitidos via YouTube e ações presenciais) em que educandos de 5 anos de idade (Infantil V) apresentaram uma bela caminhada motivada a partir de parábolas de Jesus.
O trabalho com os educandos de Infantil V foi desenvolvido por meio de uma parceria entre as educadoras das turmas, o Serviço de Pastoral Escolar e o Serviço de Orientação Pedagógica das unidades, sob a coordenação da Gestão de Pastoral Escolar. Após a fase de
planejamento e exposição da proposta, educadoras e agentes de Pastoral iniciaram a etapa de execução do projeto ainda em fevereiro e desenrolaram diversas etapas, como: narrativa da parábola para as crianças, análise dos personagens e ambientes das passagens bíblicas, celebração das perícopes, gesto de reparação (ação concreta) a partir da narrativa bíblica, reconstrução da história por meio de um vídeo e, por fim, apresentação das atividades no dia do fórum.
Inicialmente, o Serviço de Pastoral Escolar de cada unidade educacional escolheu uma parábola para trabalhar na localidade. As parábolas escolhidas foram: “Pai Misericordioso”, “Bom Samaritano”, “Ovelha Perdida”, “Talentos” e “Semente”. Na sequência, a cada mês, uma ação foi realizada. No primeiro mês, as educadoras de cada turma contaram a parábola para as crianças de maneira lúdica e criativa, explorando os personagens, ambientes e objetos. No mês seguinte, foi
Irmã Lucilene Chiciuc
¹³ Atua na Gestão de Pastoral do SAGRADO – Rede de Educação, Província Brasileira Clélia Merloni; cursa Logoterapia e Espiritualidade; graduada em Pedagogia e Filosofia.
Tiago Aparecido Rodrigues
Atua na Gestão de Pastoral do SAGRADO – Rede de Educação, Província Brasileira Clélia Merloni; especialista em Pastoralidade; graduado em Filosofia.
a vez do Serviço de Pastoral Escolar entrar em ação, isto é, os agentes de Pastoral recordaram e celebraram a passagem bíblica da unidade por meio de um momento de oração a partir da Palavra de Deus, explorando símbolos inerentes a cada história escolhida e seu significado. Dando mais um passo, em um esforço conjunto, educadoras e agentes de Pastoral fomentaram a vivência de uma ação reparadora a partir da narrativa bíblica trabalhada pela turma, ou seja, a parábola de Jesus inspirou uma ação concreta de carinho, encontro e solidariedade (entre as atividades realizadas nesta etapa, destaca-se uma tarde de convivência com idosos de um lar próximo a uma das escolas da rede). Foi, então, a hora de reconstruir a perícope e gravar um vídeo, a fim de que esse material pudesse ser exibido para as crianças das outras turmas da Educação Infantil. Feito isso, realizou-se o fórum, como culminância desse itinerário formativo. Ao longo do fórum, as crianças das turmas de Infantil V falaram sobre as
atividades que realizaram, apresentaram objetos e danças que compuseram a jornada formativa e apresentaram o vídeo da reconstrução da parábola da turma. As turmas que acompanharam o fórum ouviram as exposições dos pares, assistiram aos vídeos das parábolas e realizaram atividades lúdicas, como experiência sensorial, dança e brincadeiras.
Assim, o SAGRADO – Rede de Educação promove as habilidades e competências previstas na BNCC (por exemplo, recontar histórias ouvidas, expressar ideias, demonstrar empatia, manifestar interesse e respeito por diferentes culturas, ampliar as relações interpessoais, controlar e adequar o uso do corpo, entre outras) e é fiel à sua missão de escola católica Cleliana: promover a formação integral da pessoa, fomentando e desenvolvendo posturas e virtudes que formam não só a mente, mas também o coração e as mãos das jovens gerações.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
PROJEÇÕES, PERSPECTIVAS E REALIZAÇÕES
– IDAS E VINDAS DE UMA PASTORALISTA NA
BUSCA DE MELHOR SERVIÇO ENTRELUGARES
Núbia
Maria Calazans Guimarães Casais¹⁴
O QUE É?
A gratidão é um sinal de boa educação, mas também é um sinal distintivo do cristão.
Papa Francisco
Trata-se de um relato de experiências de uma pastoralista que busca situar-se em um lugar da/na educação, pensando na potência da arte para desenvolver algumas propostas, proposições e projetos no âmbito pedagógico- pastoral, por meio de dinâmicas, performances e bricolagens: uma mescla de textos, pretextos e contextos para seguir e prosseguir com uma missão de oferecer
possibilidades de aprendizagens múltiplas, significativas e sensoriais. Um relato que transita por lugares e entrelugares, de modo a descobrir como melhor servir e melhor aproveitar as insurgências curriculares com criatividade, encantamento e fé!
INTRODUÇÃO
Relatar as minhas experiências relacionadas com o Serviço de Orientação Religiosa e Pastoral do Colégio Antônio Vieira (Salvador – BA) para a Revista Digital da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) significa, para mim, uma maneira muito importante de com-
Núbia Maria Calazans Guimarães Casais
¹⁴ Licenciada em História pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), especialista em Sociologia pela Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC-MG) e em Educação Jesuítica pela Universidade do Vale Rio dos Sinos (UNISINOS-RS). Participou de pesquisas documentais e de campo como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), do Programa Estudantil de Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, antropológicas em alguns museus (Arqueologia e Etnologia, Museu do Recôncavo Wanderley Pinho Formação, Museu de Arte da Bahia). Integrou a equipe de pesquisa nas reservas Xakriabá e Krenak, como concluinte da segunda graduação supracitada. Tem Formação livre em dança. Já atuou como professora de História em escolas públicas e particulares e, atualmente, no Curso de Extensão Bilíngue do U-Education pela UNISINOS-RS e Especialização em Ensino Religioso pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (MG). Integra o serviço de Formação Cristã do Colégio Antônio Vieira da Rede Jesuíta de Educação Básica da Companhia de Jesus.
partilhamento das atividades realizadas em momentos nos quais me deparei com as mais diversas demandas, com muitas insurgências, e, sobretudo, com a vontade de entregar a minha vontade a Deus e fazer da d´Ele a minha. O ano de 2023 foi mais um ano cheio de surpresas no que se refere à atualização, à ressignificação e à redefinição das minhas práticas pastorais, sem perder de vista o projeto (Amor, Alegria e Arte – criando uma linda amizade com o Deus que brinca), que sempre se impõe como força motriz, imbuindo-se de mais sentido e corroborando com as propostas da escola da qual faço parte com muito amor, alegria e arte.
No ano de 2022, fiquei muito feliz ao ver o meu relato de experiências, intitulado “Experiências pedagógicas e pastorais na educação básica: um relato cheio de amor, alegria e arte”, publicado na Revis-
ta Digital da ANEC (Revista de Pastoral da ANEC – Evangelização, pastoral e arranjos curriculares, Ano VII, n. 13, agosto/2022). Fiz uma menção das minhas características físicas, pensando muito nas lives, conferências e apresentação de dissertações e teses sobre a diversidade, a diferença de corpos em sua compleição física, talentos e escolhas, bem como nas pessoas com baixa ou nenhuma visão e o que acontece nesse mundo dos que veem, mas não enxergam, dos que ouvem, mas não escutam, dos que falam, mas não são cordiais, empáticos nem acolhedores com os demais que lhes são diferentes.
Então, retomo brevemente esse momento para dizer que, em 2024, no Dia de São Judas Tadeu e São Simão, farei 60 anos, se Deus quiser! Continuo com cabelos longos, com uma cor mais acobreada, e busco ter uma vida mais saudável, reto-
mando algumas atividades integradoras do bem-estar.
Por último, mas não menos importante, continuo admiradora das artes, das linguagens múltiplas, de um bom café e de perfumes. Espero que o leitor revisite a Revista até mesmo para acompanhar o itinerário de algumas práticas, considerando como a proposta se reconfigurou em nível de metodologia, ferramentas utilizadas, ressignificadas e inovadas, a partir das atividades conectadas com os projetos pedagógicos e interdisciplinares, sobretudo das Séries Iniciais do Ensino Fundamental por mim acompanhadas e de outras experiências.
INICIANDO A CONVERSA
Nos primeiros passos, para dar início ao relato de experiências, deixo-me afetar pelo bom, belo e verdadeiro; começo a conversa com disposição, apresentando o relato das atividades desenvolvidas em 2023, depois desse contexto exposto acima, à guisa de preâmbulo informativo e sintético para possibilitar ao leitor um conhecimento prévio da minha pessoa e instigar a curiosidade em ler o relato anterior na Revista supracitada. As atividades desenvolvidas no Colégio Antônio Vieira – um colégio confessional, integrado à Rede Jesuíta de (RJE) da Companhia de Jesus – são fundamentadas no modo de proceder de Santo Inácio de Loyola que, ao percorrer por várias rotas, trilhas e caminhos, também se deixou interpelar por três perguntas que se tornariam potências, ferramentas e proposições para o seu itinerário, considerando uma melhor disposição, mais discernimento e compreensão das moções (esses movimentos internos ligados aos afetos, pensamentos e sentimentos) para empreender o seu projeto, reforma de vida, atento à ação e inspiração do Espírito Santo e percebendo a transformação em todo o seu ser para em tudo amar e servir, realizando a
vontade de Deus: “Que fiz, que faço e que farei por Cristo?” (EE 53). Considero, portanto, essas três perguntas como um ponto de reflexão para compreender as implicações, intencionalidades e reconfigurações do meu fazer pastoral que se faz no ordinário do dia, lembrando sempre que, a cada dia, podemos lidar com situações corriqueiras, mas também adversas, vislumbrando como melhor proceder, visando sempre a uma transformação das práticas, atribuindo a centralidade e atenção de ações, atitudes e projetos à pessoa de Jesus e seus ensinamentos para, com isso, envolver, implicar e encantar os estudantes.
Relatar, portanto, as minhas experiências do ano de 2023 é o mesmo que me debruçar sobre um leque de oportunidades desafiadoras, considerando que as surpresas de Deus receberam vários nomes no decurso desse ano: Pausa Inaciana, Orações, Formações Integrais do 1º ao 3º ano EF, Grupo de Catequese Nossa Senhora das Vitórias, Projetos Pastorais e Interdisciplinares, Campanha da Fraternidade de 2023, Romarias, Coroação da Bem-aventurada Virgem Maria de Fátima, Semana do Voluntariado, Semana Santa Jovem, Hora do Conto com a contação de história sobre Santo Inácio de Loyola, Primeira Eucaristia, Crisma, Projeto Luz Maior, Reuniões Pedagógicas, Cursos, Acompanhamentos dos Exercícios Espirituais, Curso de Capacitação para Orientadores e Acompanhantes de Exercícios Espirituais –EAD (CAP II), retiro de 8 dias, atividades do Ensino Médio Noturno, Natal com os setores, montagem de presépios, participação no grupo de estudos dos Exercícios Espirituais com os colaboradores do Serviço Inaciano de Espiritualidade (Sies de Salvador, Bahia) e outras atividades por mim apelidadas de mimo de Deus –Projeto interdisciplinar do 2º ano EF (Vem brincar de poesia com D. Sofia), abertura e culminância de projetos, oração pela paz no mundo com a oração do terço,
convite para ser madrinha de um crismando etc.
O QUE ENCONTREI CAMINHANDO
Cada vez mais fico convencida de que a minha missão é, sobretudo, com as crianças; todavia, surpreendo-me desenvolvendo as primícias do projeto “Amor, alegria e arte, criando uma amizade com o Deus que brinca” com os jovens e adultos do Colégio Antônio Vieira. Atenta à amplitude, à atualização e às novas atribuições do projeto, debrucei-me, também, sobre outras referências que enveredassem por outras temáticas tão instigadoras quanto surpreendentes: as juventudes, destacando modos de proceder ao acompanhamento espiritual e acompanhar os projetos de vida. Sobre a literatura que aborda esses temas de forma direta ou transversal, cito aqui as que mais me envolveram: A escuta sagrada, Guenther, 2016; Roteiro de oraçãovida de Inácio, 2021; Exercícios na vida cotidiana para jovens, Caprini, 2019; e Acompanhamento espiritual de jovens à luz da espiritualidade inaciana, Caprini, 2020.
Valendo-me, portanto, dessas leituras, certamente, haverá mais estratégias para acompanhar os jovens em retiros, dinâmicas e formações, a exemplo das considerações contidas nos subsídios relacionados com os acompanhamentos das juventudes.
No acompanhamento espiritual, o conteúdo da conversa deve ser a partir da experiência de Deus na vida do jovem. Tal percepção se dá de forma ampla, seja na oração pessoal, comunitária e em outras atividades, aparentemente, cotidianas. A conversação espiritual deve superar a exegese bíblica, as ideologias do acompanhante e do jovem.
(CAPRINI, 2020)
Desde 2021, estou participando da formação Bilíngue da U-Education, curso de extensão oferecido pela Universidade Vale do Rio dos Sinos (Rio Grande do Sul) ao Colégio Antônio Vieira, o qual me proporcionou uma releitura das práticas, tanto em relação à elaboração, quanto à execução, potencializando, ampliando para desenvolver outras dinâmicas, considerando ainda mais a língua adicional, suas linguagens e vias de comunicação sob forma de vídeos, músicas, versões das orações, encenações. Integrei mais a língua inglesa aos momentos de formação, aos planos de acompanhamento ao aluno, às orações, enfim, ao cotidiano do meu serviço como pastoralista.
Em se tratando da minha formação continuada, percebi a necessidade de uma maior imersão na liturgia, considerando as orientações contidas no Missal, no Diretório Litúrgico Sacramental (Doc n. 3) da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, inspirando-me para participar das formações oferecidas pela Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) em 2023. Relaciono aqui 3 das formações que coadunam com o propósito de inteirar-me mais da liturgia: VI Congresso Nacional de Educação Católica; Novo Missal Romano – um convite para celebrar melhor nas escolas católicas; e Impulsionando a identidade confessional da escola católica.
Enfatizo, no cotidiano da minha prática pastoral, a importância das celebrações, das formações e das atividades interdisciplinares, na medida em que elas abordam contextos, perspectivas e possibilidades das escolas confessionais dialogarem com a contemporaneidade e relaciono, a seguir, de que maneira esbocei um subsídio, como planner mensal, para mapear algumas das atividades propostas ao longo do ano de 2023, considerando a relação com alguns projetos pastorais, interdisciplinares e celebrações pon-
tuais e significativas para a escola, destacando uma frase sensibilizadora como mote, os ensinamentos de Santo Inácio, por meio de sua autobiografia e/ou dos Exercícios Espirituais.
O planner serviu para visualizar algumas possibilidades de agregar outras atividades, como também reconfigurar de maneira que se transformasse em rubricas, um subsídio mais robusto, detalhado e avaliativo, no sentido de aprimorar a eficácia e eficiência no que se refere ao acompanhamento do itinerário dos estudantes. Seguindo os princípios pedagógicos inacianos – contexto, experiência, reflexão, ação, avaliação – e adaptando o dispositivo das rubricas para uma avaliação da dimensão humano-espiritual, percebi em que medida os estudantes compreendiam a proposta e como se implicavam. Para isso, a exemplo da contação de história sobre Santo Inácio
de Loyola, realizada em julho de 2024, na biblioteca infantil Pe. Gino Raísa, e utilizando o momento em que os bibliotecários realizavam a Hora do Conto, as crianças tiveram a oportunidade de participar afetiva e efetivamente da contação de maneira lúdica, dinâmica e inusitada. Para criar evidências e compreender de que maneira poder-se-ia avaliar uma atividade pastoral sem remeter à nota ou a conceito, utilizou-se a ferramenta Forms.
Nesse sentido, valho-me de alguns instrumentos avaliativos que muito me auxiliam, a exemplo das rubricas, possibilitando-me acompanhar o processo de aprendizagem, a partir das demandas dos educandos, dos seus saberes e das atividades planejadas, atribuindo sentido e valor sobre o que acontece nos encontros formativos, criando “expectativas ou critérios” para mais ajudar no desenvolvi-
gogia inaciana para aprender e mediar algumas aprendizagens por “refração” (aglutinação das palavras “reflexão” e “ação”), termo que me remete a um prisma, à aula invertida, à ênfase para as aprendizagens e, sobretudo, para a criatividade do educando, expressando a sua maneira singular de compreender, relacionar e ressignificar o que, como e para que aprende.
O planejamento de Aprendizagem Refrativa deve ser contextualizado de acordo com o conhecimento prévio do aluno, o seu estado de ânimo atual, interesses e estilo de aprendizagem (...) a aprendizagem só se torna significativa e aplicável quando nos asseguramos de que são dadas oportunidades e orientação para que se envolvam na reflexão e usem o que aprenderam para além da sala de aula. Finalmente, a experiência que projetamos para eles deve ser mais holística possível, de modo a encorajá-los a tornarem-se alunos ativos e empoderados. (ATIENZA, 2023).
O CORPO NA SUA DIMENSÃO ONTOLÓGICA
Faço, então, uma viagem em que transito pelo corpo que dança, buscando na arte o lugar da desterritorialização, das conexões, das personas, da aplicação dos sentidos, falando para agregar ao meu fazer tudo que possa ter sentido de criticidade, eticidade e coerência. Converso, portanto, com as minhas lembranças, as minhas narrativas, a minha maneira de estudar como uma “bricoleur”, construindo um mosaico de possibilidades, tecendo práticas para um currículo vivo, que considera o protagonismo estudantil, que revela outras narrativas e que entende que o planejamento pode ser um simulacro artístico à guisa de recurso metodo-
lógico-ontológico-experimental, o qual registra uma corpografia própria daqueles/daquelas que se ocupam em narrar as suas histórias de vida, em relatar as suas experiências, em compreender a arte da vida que transcende, espetaculariza e ressignifica o itinerário escolhido, proposto, insurgente e acolhido. Essa conversa com o corpo que dança traduz um sentimento consolador, animador, desafiador com uma dinâmica que destaca o imagético, o sensorial, o que faz transbordar os sentidos que traduzem cores, sabores, odores, por meio de uma corporeidade que permeia o ser, apresenta uma dialética do agir que se faz presente na vida da pessoa que se movimenta, que caminha, que escreve no próprio corpo a vontade de aprender a ser feliz, a ser humano, a ser presente. A arte assume uma territorialidade importante e uma abordagem interpelativa, traduzida por um viés que transcende o que é visto para compreender o que é sentido, um apelo que se faz contemplativo, envolvente e significativo:
A arte pode atingir um grau de extrema intensidade... porque vai além dos materiais e das ideias... Ela é feita de seres de sensação que conservam a vibração daquilo que contariam, fazendo-o ressoar...afirma-se que a arte pode fazer vir algo que é de natureza espiritual. (PASQUALI, 2015).
PERSPECTIVAS
Recordar as minhas experiências em 2023 e em 2024, fazendo memória de tudo o que aconteceu, faz-me ter uma sensação de forças renovadas para confirmar a missão com mais amor, alegria e arte! Finalizo o meu breve relato de experiências citando dois dos comentários de Wellen de Barros, soprano do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sobre o lugar do encontro entre o compositor
da obra, Tchaicowski, e a intérprete, Cecília Kerche (que foi a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) quando se refere à atuação da primeira bailarina e embaixatriz da dança, em “O lago dos cisnes”: “Evidencia-se aí um encontro de almas como num profundo e perfeito diálogo de entendimento havido outrora entre compositor – Tchaikovsky – e intérprete – Cecília Kerche –, em que ambos escrevem a mesma história. Complementa com a definição de artista por Carl Jung, estudioso da psyché humana: “O artista não é uma pessoa dotada de livre-arbítrio para buscar seus próprios objetivos, mas sim alguém que permite que a arte realize seus propósitos através dele”. Faço das palavras dela as minhas e, como artista, penso em devolver a Deus o que Ele me concedeu gratuitamente, narrando a minha trajetória com, para Ele e os demais. Sinto-me modelada a partir das suas surpresas. A cada dia, deparo-me com situações diversas, mas a eleição tem de ser segundo a Sua vontade, numa sintonia com a missão e visão da escola, respectivamente: promover educação de excelência, inspirada nos valores cristãos e inacianos, contribuindo para a formação de cidadãos competentes, conscientes, compassivos, criativos e comprometidos com uma visão; ser um centro inovador de aprendizagem integral que educa para a cidadania global com uma gestão colaborativa e sustentável. Confesso a dificuldade de estar sempre com os afetos ordenados, mas estarei sempre aberta ao novo, às vicissitudes, às insurgências, ao porvir.
A minha liberdade está em verdadeiramente respeitar, considerar e compreender as fronteiras, as infâncias, as juventudes, as ressonâncias, os arranjos familiares, as idiossincrasias e cosmovisões. Sou um instrumento de Deus e me utilizo de várias ferramentas, alimentando-me do Seu projeto que faz ecoar em minha vida de modo que sempre reflita sobre “o
que fiz, o que faço e o que farei por Cristo?” (EE 2,4). Nessa dança da vida, encontrarei a minha pessoalidade, a minha persona, a minha missão, sempre uma relação dialógica com o Divino. Então, estarei preparada para ser uma pessoa magis!
Podemos lembrar a corporeidade como modo de perceber o próprio ser na sua conexão com Deus, percebendo como a postura e a consciência corporais conduzem a uma melhor disposição para senti-lo, a partir da respiração, da meditação, da contemplação. Na espiritualidade inaciana, a atenção plena poderia ser análoga aos passos de oração importantes, a partir da disposição do corpo, uma conexão com o entorno, buscando o silêncio, criando um ambiente orante silencioso, contemplativo, com elementos que mais ajudem a conversar com Deus.
PROJEÇÕES
Ao completar 9 anos no Colégio Antônio Vieira, essa casa acolhedora, penso que, a cada ano, me descubro mais curiosa, pesquisadora, implicada com as coisas de Deus, dos homens, das mulheres e das crianças de modo que, à guisa dos ensinamentos de Jesus, das orientações de Santo Inácio de Loyola, por meio dos Exercícios Espirituais e de outros subsídios que compuseram a minha biblioteca de 2023 (“Reading list”), pude fundamentar, articular e projetar as minhas intencionalidades. Tudo isso em consonância com as propostas do colégio, relativamente a seu projeto político pedagógico, às orientações contidas no mapa de aprendizagens de formação Integral (Mafi) do qual muito me orgulho pela participação na sua escritura da 1ª a 5ª séries do Ensino Fundamental, na elaboração referente a algumas séries e na apresentação dele durante as formações integrais do 1º ao 3º ano EF. Em busca de uma corpografia tributária de uma teografia, procurei perceber como o
projeto de Deus em minha vida ressoa para que impacte outras vidas, considerando, sobretudo, as marcas que Deus deixa em nosso coração:
A Palavra que é Jesus Cristo, possa estar inscrita em nós e possamos sentir que vivemos por causa dela... Essa é a escrita de jesus Cristo, que podemos ler graças ao espírito. (MORO, 2001).
Nesse sentido, busco, também, ser uma pastoralista projetista, atelierista e muito desejosa de desenvolver e realizar mais projetos que se destinem aos discentes, de modo que a abordagem projetual seja fundamentada nos valores cristãos-humanísticos e inacianos para melhor servir.
REALIZAÇÕES
O tema da Formação Integral “O nascimento de Jesus e o meu nascimento”. Na contemporaneidade, a presença de tantos arranjos familiares, com suas idiossincrasias, não impede que contemplemos o nascimento de Jesus como sinal de alegria para José e Maria e para todos nós, relacionando com o próprio nascimento das crianças, momento de uma bela imersão no imaginário infantil, que se expressa de modo muito significativo como nasceram e integraram as suas famílias.
Seguindo as orientações de Santo Inácio de Loyola, façamos o bom proveito das situações, anunciando às crianças a Boa-Nova do nascimento de Jesus para uma reflexão do seu próprio nascimento, o seu lugar na família. As famílias são um chamado de Deus para vivermos com amor, alegria e arte!
À guisa de integração, das dimensões cognitivas, socioemocionais e humano-espirituais, o mapa de Formação
Integral indica algumas intencionalidades, temáticas e conexões:
• Geografia (indicar o espaço no qual ocorre a narrativa bíblica, importância e simbologia do nascimento das pessoas, remetendo à importância do espaço geográfico, estabelecendo conexões com a ecologia integral proposta pelo Papa Francisco);
• História (contextualizar o momento, o local e os aspectos sociais referentes à narrativa em relação ao nascimento de Jesus);
• Inglês (compreender a relação dialógica entre o Anjo e Maria; Isabel e Maria e a humanidade e Maria, considerando a Oração Ave Maria, Hail Mary);
• Matemática (destacar a importância da matemática para compreender a genealogia, referindo-se às idades geracionais);
• Música e Artes (apreciar os ícones e painéis dispostos na Capela para uma imersão contemplativa do nascimento de Jesus e das crianças);
• Ensino Religioso (apresentar a importância da narrativa do nascimento de Jesus e das crianças como maneira de entender a pertença, o lugar da família, estabelecendo conexões com o Natal do Filho de Deus);
• Educação Física (trabalhar o corpo, enfatizando o cuidado, a disposição e a atenção plena em nível, inclusive, da respiração e consciência corporal);
• Língua Portuguesa (fomentar a pesquisa para a etimologia, significado e importân-
cia das palavras como portais da comunicabilidade entre as pessoas. Perceber a conexão entre a formação e os projetos interdisciplinares que realizam atividades que enfatizam a sustentabilidade, o cuidado com os demais e as diferenças étnicas. Poderia ressaltar a importância da diversidade étnica, citando a presença dos sábios do Oriente, os reis magos).
ONDE ESTOU?
ENTRELUGARES, NAS FRONTEIRAS, TECENDO REDES...
Quando realizo as atividades pastorais com os estudantes das Séries Iniciais, percebo o meu lugar numa perspectiva de entrelugar, na medida em que as minhas práticas perpassam pela mediação que acontece em muitos espaços da escola onde imprimo, afetiva e efetivamente, a transitoriedade do meu estar, a fluidez com que se apresentam os temas propostos ou insurgentes e o diálogo constante com as demais áreas do saber
REFERÊNCIAS
com eficácia, discernimento e criatividade. Pude compreender que o meu entrelugar potencializa e consolida as minhas práticas, bem como me possibilita transitar por uma epistemologia que me conduz a um modo de proceder mais aberto às vicissitudes, ao insurgente, corroborando para a formação em nível pedagógico-pastoral/pastoral- pedagógico de um currículo vivo. Currículo que acolhe, considera e destaca as narrativas dos estudantes, o seu contexto familiar, o seu saber construído no espaço escolar e para além dele, intercambiando os saberes, por meio do mapa de aprendizagens de formação integral e integrando as dimensões cognitiva, socioafetiva e humano-espiritual. Uma (re)configuração de conduta (para Santo Inácio, modo de proceder) que reverbera nas minhas práticas de maneira que, em qualquer espaço, redefino o meu lugar, por meio da compreensão do entrelugar que estou ocupando no momento ora na capela, ora nos espaços de convivência, biblioteca, bosque, ocupando os espaços disponíveis e disponibilizados para uma (trans)formação integral dos estudantes em pessoas conscientes do seu lugar, de sua missão e do seu projeto de vida.
ATIENZA, Rita. Aprender por refração-um guia de pedagogia inaciana do século XXI para docentes. Trad. Francisco Maria Sacadura Biscaia Gomes Machado. São Paulo: Edições Loyola, 2023.
CAPRINI, Jonas Elias. Acompanhamento espiritual de jovens à luz da espiritualidade inaciana. 1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2020.
DURAU, Odair José. Exercícios Espirituais na vida cotidiana para jovens. São Paulo: Edições Loyola, 2019.
ESCRITOS DE SANTO INÁCIO: Exercícios espirituais. Trad. R. Paiva. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015.
REFERÊNCIAS
FRIEDMANN, Adriana. A vez e a voz das crianças: escutas antropológicas e poéticas das infâncias. 1. ed. São Paulo: Panda Books, 2020, 200 p.
GALLAGHER, Timothy. Consolação Espiritual: guia inaciano para o maior discernimento dos espíritos. Trad. Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Loyola, 2021.
GRÜM, Anselm. Falar e silenciar: por uma cultura do diálogo atencioso. Trad. Marcus A, Heidiger. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2017.
IGLESIAS, Manuel. Subindo para Jerusalém: subsídios para um retiro. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2017.
KENT, Corita; STEWARD, Jan. Aprender de coração: práticas para libertar o espírito criativo. Trad. Lívia Azevedo Lima. 1. ed. São Paulo: Clube do livro do Design, 2023, 240 p.
LODDI, Laila; MARTINS, Raimundo. Bricolagens metodológicas e artísticas na cultura visual – 18° Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, transversalidades nas artes visuais, Salvador (BA), 2009.
McHUGH, Adam. A vida quando se escuta: ser atento em um mundo de distração. Trad. Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Loyola, 2018.
MAGIS BRASIL. Roteiro de Oração: vida de Inácio, vol. 1 – Pamplona, Rede Inaciana de Colaboração, Fé e Espiritualidade. 2021.
MORO, Ulpiano Vázquez. A orientação espiritual: mistagogia e teografia. São Paulo: Ed. Paulinas, 2001.
NEVES, André. A Caligrafia de Dona Sofia. São Paulo: Ed. Paulinas, 2022.
OLIVEIRA, Antônio. Seguir Jesus...que Jesus? Quem é esse homem quase esquecido? Meditações sobre jesus histórico. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2021.
OLIVEIRA, Roberto. Peixe pequeno, os grandes comem: sabedoria do povo. São Paulo: Ed. Paulinas, 1987.
PAPA Francisco. Evangelii Gaudium: A alegria do Evangelho. São Paulo: Ed. Paulinas. N. 198, 2013.
Laudato Si´: sobre o cuidado da Casa comum. São Paulo. Ed. Paulinas. N. 201, 2015.
Gaudate et Exsultate: sobre a chamada à santidade no mundo atual. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 206, 2018.
PASQUALI, LANUSI. Arte como jogo. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
REFERÊNCIAS
11. Ed., Bahia, 2015.
PEDROSA-PÁDUA, Lúcia; PEREIRA, Gerson. Mística, corpo e arte...e Deus se fez sensibilidade. Coleção Teologia hoje. São Paulo: Paulus, 2022.
PONTIS, Marco. Autismo: o que fazer e o que evitar: guia rápido para professores do Ensino Fundamental. Trad. Moisés Sbardelotto. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2022.
TETLOW, Joseph Allen. Encontrar a Deus em todas as coisas: espiritualidade inaciana. Trad. Joshuah de Bragança Soares. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
A avaliação por Rubricas – você conhece essas ferramentas? Publicado em: 15 set. 2015. Disponível em: https://ensinandocomtdic.wordpress.com/2015/09/15/a-avaliacao-por-rubricasvoce-conhece-essas-ferramentas/.
BIAGIOTTI, Luiz Cláudio Medeiros. Conhecendo e aplicando rubricas em avaliações. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/007tcf5.pdf. Acesso em: 7 jun. 2019.
DEPRESBITERIS e TAVARES (2009:9). Disponível em: https://redeservir.com.br/
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
INTEGRAÇÃO DO FAZER PASTORAL E PEDAGÓGICO À LUZ DE MARIA
Ir. Regiane Maria do Nascimento¹⁵
Acima de qualquer outro amor, reine o amor de Maria em nós e faça agir sempre sob a inspiração, a influência e o olhar desta amável Mãe.
Servo de Deus, Pe. Júlio Maria
A Rede Cordimariana de Educação, embasada na fé católica e nos ensinamentos de Jesus Cristo e no Evangelho, bem como no Carisma Cordimariano
“Amar o mundo com o Coração Imaculado de Maria na Compaixão e Misericórdia”, contribui para a formação integral do ser humano. Em consonância com a proposta pastoral, integra vida e fé ao possibilitar experiências de sintonia, comunhão e fortalecimento do processo de evangelização.
O mês mariano, tradicionalmente celebrado em maio, é uma ocasião especial dedicada à veneração e devoção à
Ir. Regiane Maria do Nascimento
¹⁵ Superintendente de Pastoral – Rede Cordimariana de Educação.
Virgem Maria. Em 2024, a importância desse período se renova com a publicação da 3ª edição do Caderno de Referência Pastoral Mês Mariano pela Rede Cordimariana de Educação. Tal publicação serviu como uma ferramenta essencial para guiar as escolas da Rede na organização de atividades e celebrações que exaltam a figura de Maria como Mãe de Jesus e modelo de fé cristã.
Durante o mês mariano de 2024, o tema central foi “Maria e a Amizade Social nos conectam”, o qual destacou a construção de relações baseadas nas virtudes de Maria e na pedagogia que ela utilizou para educar seu filho Jesus, promovendo a fraternidade universal. O lema “Maria é o caminho que nos conduz a Jesus” orientou as atividades que buscaram direcionar os participantes ao Projeto de Jesus, que também é o “humanismo solidário”.
As propostas pedagógicas e pastorais definidas para o mês mariano favoreceram o aprofundamento da temática escolhida e permitiram flexibilidade para a promoção de outras iniciativas, conforme a opção de cada Unidade Educativa. O planejamento e a aplicação das atividades integraram os níveis de ensino e setores, considerando a multiplicidade de linguagens e públicos diversos, de modo a garantir adesão, significado e atualidade. Organizado de forma coesa e prática, o Caderno baseou-se nos elementos-chave da Identidade Cordimariana, o que possibilitou a integração das virtudes, do Carisma e dos Ensinamentos do fundador ao processo de ensino-aprendizagem. No item “Possibilidades metodológicas”, o Caderno apresentou um itinerário que concretizou a ação pastoral como meio de evangelização nas práticas pedagógicas e pastorais em cada nível de ensino. As atividades foram adaptadas às necessidades específicas de cada escola cordimariana, desde enfatizar a figura de Maria-Mãe na Educação Infantil até aprofundar a devoção mariana em rela-
ção a temas sociais e ecológicos no Ensino Médio, incluindo a participação de educadores e famílias no processo evangelizador.
O convite às ações desse Caderno foi ser reflexo da amizade social do jeito de Maria, por meio da sua espiritualidade, percorrendo um caminho de cuidado e acompanhamento para com aqueles que nos foram confiados, acreditando que se tornariam cidadãos sociais.
A partir do lançamento do Caderno, o setor Pastoral, em conjunto com as coordenações pedagógicas, planejou as atividades que seriam realizadas ao longo do mês. Relataremos a experiência das vivências do mês de maio no Instituto Monsenhor Hipólito, integrando o fazer pedagógico e pastoral.
Na Educação Infantil e no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, elencamos:
• RECANTOS MARIANOS: diversos espaços foram organizados na escola, dedicados à reflexão e à oração mariana. Estabeleceu-se uma prática regular, em que todas as turmas passaram por esses recantos. Cada dia da semana era reservado para uma turma diferente, o que permitiu que cada grupo tivesse um momento especial de oração mariana nesse espaço.
• PAINEL DAS VIRTUDES MARIANAS: na sala de aula, foi criado um ambiente dedicado ao aprendizado e à apreciação das virtudes marianas, decorado com um cartaz representativo do mês mariano; a cada dia, uma nova virtude de Maria
era destacada, convidando as crianças a vivenciá-la.
• CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
MARIANAS: essa atividade enriqueceu a compreensão e a apreciação das crianças sobre as Aparições de Nossa Senhora, promovendo a participação ativa das mães na educação religiosa. Durante a semana pré-estabelecida, cada turma convidou uma mãe para contar ou dramatizar histórias relacionadas às Aparições de Nossa Senhora.
• ACOLHIDAS SEMANAIS: foram uma oportunidade para compartilhar ensinamentos e histórias bíblicas sobre Maria, o que permitiu que as crianças desenvolvessem uma conexão mais profunda e um amor mais sincero por ela.
• SEMANA DO ANJO DA GUARDA NA ESCOLA: destacando a presença do Anjo na vida de Maria, foi organizada, na escola, uma semana dedicada ao Anjo da Guarda. Essa semana ofereceu a oportunidade de explorar o significado dos anjos como amigos, protetores e guias das crianças, transmitindo uma sensação de segurança e conforto, além de promover valores de cuidado mútuo entre os alunos.
• DOMINÓ DAS VIRTUDES MARIANAS (Anos Iniciais): de forma dinâmica e com o objetivo de ampliar a compreensão dos alunos
sobre as virtudes de Maria, foram distribuídos vários “Dominós das Virtudes Marianas”. Esse jogo educativo foi projetado para ajudar os alunos a recordarem as diferentes virtudes associadas a Maria, incentivando, também, a cooperação, o respeito mútuo e a comunicação eficaz entre eles durante o jogo.
• ORAÇÕES EM LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS: nos componentes curriculares de Inglês e Espanhol, as crianças não apenas aprenderam a oração do Anjo da Guarda e a Ave Maria em cada um desses idiomas, mas também exploraram a pronúncia correta e o significado de cada palavra. Essa abordagem enriqueceu o vocabulário dos alunos e a compreensão cultural, ao
• SHOW KIDS MARIANO: para encerrar as atividades do mês mariano de forma celebrativa, foi realizado o evento “Show Kids Mariano”, com a participação da Educação Infantil e das Séries Iniciais em momentos distintos para cada nível. O evento proporcionou uma celebração especial, em que cada turma teve a oportunidade de homenagear Maria, culminando com a Coroação de Nossa Senhora. Esse gesto simbólico reforçou os ensinamentos e as vivências compartilhadas ao longo do mês, o que permitiu que os alunos expressassem o respeito e a admiração por Maria. Durante o evento, foram apreciadas diversas apresentações, incluindo: Coreografia: Anjinhos de Maria; Teatro: Maria visita sua prima Isabel; Coreografia em Inglês e Braile; Declamação da Oração do Anjo da Guarda e Ave Maria em Inglês e Acróstico Mariano em Espanhol.
No Ensino Fundamental – Anos Finais, as atividades foram cuidadosamente planejadas e desenvolvidas ao longo do mês de maio, alinhando-se aos componentes curriculares. O objetivo foi integrar a temática mariana às diversas áreas do conhecimento, promovendo uma reflexão profunda sobre os valores representados por Maria e a relevância dela na formação integral dos estudantes.
No Ensino Religioso, foram abordadas as dimensões religiosas das aparições de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da cidade, assim como de Nossa Senhora de Lourdes, Guadalupe, Fátima e Apare-
cida. Isso permitiu que os alunos compreendessem o significado dessas aparições dentro da fé cristã e refletissem sobre as mensagens e os ensinamentos que elas transmitem. Essa atividade incentivou, também, o respeito pelas expressões de fé da Igreja Católica, reforçando a identidade mariana da escola. (Prof. Victo Leal)
Os alunos estudaram as aparições de Maria em várias partes do Brasil e do mundo, analisando o contexto histórico, social, econômico, as condições geográficas e a localização específica de cada cidade, de cada região e país. Também refletiram sobre como, em tempos de dificuldade, Maria sempre confortou o povo. A interdisciplinaridade foi trabalhada dentro das aulas de História, Geografia e Matemática. Como conclusão, apresentamos nosso plano cartesiano com cada imagem de Maria, demonstrando a importância desse momento religioso e educacional. (Professores Gabriel Santos, Jhoellk Matos, Mário Adriano Oliveira e Lourdes Silva)
No componente curricular de Língua Portuguesa, partindo do pensamento do Padre Júlio Maria, “Seja Maria o caminho que nos conduz a Jesus”, os alunos vivenciaram a atividade “A história contada na caixa”. Nessa atividade, os alunos tiveram a oportunidade de pesquisar, interpretar, oralizar e dramatizar a história não só de Maria, mas também de outras mães bíblicas. Eles confeccionaram maquetes, produziram desenhos e apresentaram essas histórias de forma dinâmica e atrativa, promovendo uma aprendizagem significativa e emancipadora. (Profa. Irlane Veloso)
Na disciplina de Interpretação de Texto, os alunos realizaram uma inspiradora atividade de produção de poemas com o tema “Maria nos conecta para a amizade social”, expressando como a figura de Maria, Mãe de Jesus, inspira a constru-
ção de laços de amizade e fraternidade em nossa sociedade. A atividade começou com uma discussão sobre os valores de Maria e sua influência como modelo de amizade, empatia e solidariedade. Aplicando seus conhecimentos de linguagem poética, os alunos escreveram poemas que destacavam a importância da amizade social, inspirados no exemplo de Maria. Ainda em Interpretação de Texto, a atividade de produção de histórias em quadrinhos sobre “Mães Bíblicas” proporcionou aos alunos a oportunidade de explorar e retratar momentos significativos das vidas de figuras como Ana, Eliseba, Joquebede, Lia, Isabel e Maria, destacando valores e ensinamentos. Os alunos esboçaram suas histórias e criaram narrativas visuais que refletiam ensinamentos importantes sobre fé, coragem e amor. (Profa. Francimeire Evangelista)
Conectando as disciplinas de Espanhol e Inglês, os alunos traduziram os poemas produzidos na disciplina de Interpretação de Texto, o que permitiu a eles conhecerem a riqueza da poesia dedicada a Maria em diferentes idiomas. (Profa.
Bruna Barros e Conceição Silva)
No componente curricular de Arte, os alunos planejaram uma peça de teatro inspirada nas aparições de 12 títulos atribuídos a Nossa Senhora, refletindo sobre os valores que ela representa. Os alunos também descobriram, na vida e obra do Padre Júlio Maria, fundador da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, os ensinamentos sobre Maria, como ele expressava a fé e a confiança nela e de que maneira esses aspectos da espiritualidade podem inspirá-los na própria jornada de fé.
No Ensino Médio, por meio dos componentes curriculares, os alunos puderam aprofundar a compreensão de que, além de rezar a Maria, poderiam estudá-la, de forma crítica e reflexiva, utilizando as ferramentas de aprendizagem desenvolvidas ao longo da trajetória acadêmica. Nas aulas de História, por exemplo, os alunos investigaram o papel de Maria em diferentes contextos históricos e culturais, analisando como a figura mariana tem sido venerada em diversas partes do mundo, ao longo dos séculos. (Prof. Cláu-
dio Roberto de Sousa)
Em Redação, os alunos desenvolveram produções textuais com Maria, Mãe de Jesus, como tema central. O objetivo era promover reflexões sobre Maria como um símbolo de força, resiliência, amor, cuidado e importância para a sociedade. Os alunos foram extremamente criativos e críticos, produzindo textos que abordaram Maria, tanto pelo viés religioso quanto sob perspectivas sociais e culturais. Explorar diferentes gêneros textuais, como poemas, cartas e textos dissertativos, resultou em produções de alta qualidade, demonstrando o potencial dos alunos cordimarianos. A atividade fortaleceu não apenas a expressão escrita, mas também a conexão com a espiritualidade e os valores inspirados por Maria. (Prof. Erismar Veloso)
No componente curricular de Sociologia, foi trabalhada a dignidade de Maria de Nazaré, em comparação com a dignidade da mulher contemporânea, discutindo os dois contextos. O objetivo foi proporcionar aos alunos uma compreensão mais profunda sobre questões de gênero e dignidade, à luz da figura histórica de Maria de Nazaré. (Prof. Ikaro de Fontes)
Em Literatura, foi organizado um “Estudo Literário Mariano”, que proporcionou uma discussão aprofundada sobre a figura de Maria na literatura. Os alunos conheceram diferentes representações literárias de Maria, discutiram seu significado e impacto e refletiram sobre como essas representações podem inspirar a amizade social em suas vidas. (Profa. Ionara Hipólito)
No Projeto de Vida, foi implementado o “Projeto de Vida Centrado em Maria de Nazaré”. Os alunos realizaram uma reflexão aprofundada sobre a figura de Maria, explorando suas emoções e o gerenciamento delas, ao mesmo tempo que traçaram um paralelo com as emo-
ções e os sentimentos dos jovens de hoje. Além de analisar a presença e o significado de Maria em várias histórias, os alunos foram incentivados a reproduzir um painel que representasse sua visão sobre a figura de Maria e suas características, promovendo uma compreensão mais rica e pessoal de sua importância na vida cristã. (Profa. Bruna Barros)
No componente curricular de Arte, foi explorada a Arte Sacra Mariana, em que os alunos estudaram a vida de Maria de Nazaré retratada por importantes pintores e escultores. Eles apreciaram o significado e a beleza dessas obras, analisando como diferentes artistas expressaram, por meio da arte, a espiritualidade e a simbologia associada a Maria. (Prof. Ronaldo Mour)
No Itinerário de História da Arte, os alunos participaram da atividade “Pintura em Tela – Como Vejo Maria Hoje”, em que foram incentivados a expressar sua visão pessoal, ou a de algum artista, sobre a figura de Maria por meio da pintura. A atividade propiciou uma reflexão profunda sobre a relevância e o papel de Maria no mundo contemporâneo, permitindo que os alunos interpretassem suas características, de acordo com as próprias perspectivas ou influências culturais e artísticas. (Profa. Ruth Barão)
As lideranças de sala organizaram um “cantinho mariano”, onde, todas as segundas-feiras, preparavam um momento de oração dedicado a Maria. Durante o mês, a Juventude Cordimariana do Instituto Monsenhor Hipólito (IMH) realizou uma caminhada até a Catedral Nossa Senhora dos Remédios, vivenciando um momento de profunda espiritualidade e reflexão, por meio da meditação do terço. Essa experiência mariana proporcionou aos jovens uma imersão na devoção e no aprofundamento da fé, destacando a importância de Maria,
tanto em suas vidas quanto na comunidade.
O amor a Maria é um aspecto essencial do programa de vida da Infância e Adolescência Missionária (IAM). Dentro dessa perspectiva, Maria de Nazaré é destacada como um modelo de verdadeira testemunha de Cristo, guiada pela força do Espírito Santo. Com isso, as crianças e os adolescentes são inspirados a viver e compartilhar os valores de Maria, incorporando-os no compromisso missionário.
Pelo Instagram, às segundas-feiras, foi realizada a Catequese Mariana, oferecendo momentos de formação voltados para o Ofício de Nossa Senhora, do Terço Mariano e da Ladainha. Também foi incluída a Oração em Família, voltada para as famílias e os colaboradores.
Para o encerramento do mês de maio, os professores prepararam os alunos para uma exposição mariana, em um dia previamente marcado, na qual as famílias e a comunidade local foram convidadas a apreciar os aprendizados, as experiências e as realizações dos alunos durante o mês. A exposição incluiu um espaço dedicado para um bate-papo, proporcionando aos alunos a oportunidade de compartilhar suas reflexões, discutir os temas explorados e se conectar mais profundamente com a figura de Maria. Os espaços foram organizados em estandes: Poesias Marianas em Inglês e Espanhol; Mães na Bíblia (Ana – mãe de Samuel; Eliseba – mãe de Nadabe, Abiúde, Eliazar, Tamar e Josué, este adotivo; Joquebede – mãe egípcia adotiva de Moisés; Lia – mãe de Judá; Isabel – mãe de João Batista; e Maria – mãe de Jesus); Período Histórico e Localização Geográfica e Plano Cartesiano das Aparições de Nossa Senhora; História em Quadrinhos, Padre Júlio Maria: Fé e Confiança em Maria de Nazaré; Aparições de Nossa Senhora dos Remédios, Aparecida, Lourdes; Artes Sacras Marianas; Pintura em
Tela (Como Vejo Maria Hoje); Bate-Papo Literário e Diálogo Cultural: Maria de Nazaré e a Mulher Contemporânea – Um Olhar sobre a Evolução Feminina na Filosofia e Sociologia.
Concluímos a exposição com o Festival Mariano, uma proposta que dialogou a linguagem das artes cênicas com a espiritualidade cordimariana. O evento apresentou a peça teatral “Encontro das Nossas Senhoras”, que abordou um encontro espiritual de doze títulos atribuídos às nossas senhoras, representadas por 12 alunas, que planejavam a paz no mundo.
A integração de Maria na educação foi um compromisso fundamental para a formação integral dos alunos, promovendo uma aprendizagem que transcendeu o conhecimento acadêmico e inspirou valores cristãos e espirituais. As diversas celebrações marianas criaram uma conexão espiritual mais profunda, estimulando os alunos a verem Maria como um modelo a ser seguido e a se tornarem agentes de mudança.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
EXPERIÊNCIA PAZ E BEM
Janaína Martins Toledo
Simone Moura Rosado¹⁶
Educar vai além do conhecimento acadêmico: é acolher, amar, promover o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões. O trabalho pastoral assume um papel central nessa formação integral, promovendo valores, tais como paz, respeito, solidariedade e fraternidade. O Colégio Franciscano Imaculada Conceição, inspirado no carisma de São Francisco e Santa Clara de Assis, busca proporcionar vivências que transcendam o aprendizado acadêmico, cultivando espiritualidade e relações humanas.
Ao longo de 2024, o trabalho pastoral destacou-se com a Experiência Paz e Bem, uma iniciativa de formação e partilha, alinhada ao tema da Campanha da Fraternidade (CF/2024) – “Amizade Social” – e aos conteúdos de Ensino Religioso. A ação abrangeu os estudantes desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, proporcionando momentos de interioridade, reflexão e convivência.
Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com as turmas de 1º ano, trabalhamos o tema da Casa Comum e os cuidados com o meio ambiente. O projeto incluiu uma acolhida na biblioteca, a exibição de um vídeo sobre o “Cântico das Criaturas” e uma atividade prática em que os alunos plantaram mudas como símbolo do cuidado com a natureza. Nas demais turmas, abordamos temas como convivência, emoções e amizade social,
integrados ao material didático “Semear Juntos”, de Humberto Herreira.
Um destaque foi a experiência com o 5º ano, em que os alunos refletiram sobre as próprias emoções, inspirados no filme Divertidamente II, e confeccionaram bonecas Abayomi, símbolos de resistência e amor materno, em uma atividade que promoveu a empatia e a reflexão sobre a escravidão.
Nos Anos Finais e no Ensino Médio, trabalhamos a empatia, alinhada ao tema da CF/2024. Iniciamos com momentos de oração e dinâmicas que promoveram o autocuidado e o cuidado com o outro. Em grupos, os alunos encenaram situações de falta de empatia, como racismo, bullying e intolerância, debatendo soluções para esses problemas. Essas dinâmicas geraram discussões emocionadas, em que os alunos compartilharam frustrações sobre a ausência de empatia na vida cotidiana.
Para o Ensino Médio, a Experiência Paz e Bem foi realizada em uma chácara, promovendo um contato mais profundo com a natureza. O encontro incluiu práticas de yoga, momentos de oração e reflexões sobre as relações interpessoais. Em grupos, os alunos criaram pinturas de memórias afetivas vividas no colégio, que serão reunidas em um “retalho de memórias” para a aula da saudade. O
encontro ofereceu aos alunos um espaço de acolhimento, reflexão e renovação, ampliando a visão sobre si mesmos e o mundo ao redor.
A Experiência Paz e Bem tem se consolidado como uma iniciativa transformadora no Colégio Franciscano Imaculada Conceição, pois proporciona aos alunos um espaço de proximidade e reflexão, integrado às realidades e aos desafios.
RELATOS
DE EXPERIÊNCIAS
ACOLHIDA
DA SEMANA: UMA PROPOSTA PASTORAL-PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DA
vência diária e a partir das diferentes relações, valores que promovam a formação de um sujeito integral. Para isso, estabelece propostas que visam instigar caminhos de reflexões que buscam sensibilizar para a solidariedade global, a humanização entre os pares, o respeito às diferenças e o compromisso de gestar a consciência da ação coletiva nas diversas situações de aprendizagens. Como nos é lembrado no nosso Projeto Educativo Comum (PEC), n. 40, “nas
TA DE EDUCAÇÃO, p. 39). Formar nos valores humanos, cristãos e inacianos exige da comunidade escolar essa corresponsabilidade de pensar processos que valorizam as potencialidades das diferenças que constituem esse ambiente de aprendizagem integral.
Esse espaço, comprometido em formar a pessoa na integralidade, planeja processos inspirados na aprendizagem que valoriza a construção coletiva do conhe-
Jean Michel Alves Damasceno
¹⁷ Agente de Formação Cristã da Escola Padre Arrupe da Rede Jesuíta de Educação. Atualmente, é acadêmico do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Piauí – Uespi.
cimento, a participação e o protagonismo dos estudantes na dinâmica escolar e no incentivo a oportunizar a todos a capacidade de reconhecer o valor da inclusão nesta formação de relações mais afetuosas e cuidadosas com os demais
Assim, a Acolhida Semanal, em nosso ambiente formador, é um processo de aprendizagem em que os estudantes são estimulados a reconhecer a importância de aprender a conviver com as diferenças que permeiam a relação cotidiana da escola. A metodologia desse caminho da Acolhida Semanal é construída a partir de um diálogo coletivo com a equipe pedagógica, buscando refletir propostas que orientam para uma aprendizagem fundamentada na cultura da solidariedade e da fraternidade. Isso evidencia uma prática educacional ensejada pelo Papa Francisco de “inserir a fraternidade nos processos educativos, como Jesus sugere em sua Mensagem, significa reconhecê-la como dado antropológico fundamental, a partir do qual enxertar todas as principais e positivas ‘gramáticas’ da relação: o encontro, a solidariedade, a misericórdia, a generosidade, mas também o diálogo, o confronto, e, de modo mais geral, as variegadas formas de reciprocidade” (FRANCISCO, 2020, p. 10).
Compreendemos que a Acolhida Semanal é um espaço potencializador de aprendizagens para refletir temas que incentivam nossos estudantes a reconhecerem a própria capacidade de superação, a refletirem a importância de compartilhar a riqueza das diferenças, a se conduzirem a um caminho de interioridade e a promoverem uma cultura do diálogo e do encontro com os demais a partir das próprias histórias de vida.
É também propício frisar que, neste lugar da Acolhida Semanal, ocorrem o encontro e o diálogo que norteiam a constru-
ção desse processo formativo. Destacamos essas perspectivas para afirmar que a escola é um local de encontro com as pluralidades e uma incentivadora em constituir diálogos com as diversas visões de mundo que transitam na nossa convivência de aprendizagem.
Nossa Acolhida Semanal tem uma estrutura de organização que orienta e assegura a concretização das intencionalidades formativas que são trabalhadas nesta ocasião de vivência de valores. Essa trilha é abalizada em três eixos –encontro coletivo, diálogo reflexivo e compromisso social –, os quais direcionam o desenvolvimento desse processo no nosso cotidiano de aprendizagem contínuo.
No eixo “encontro coletivo”, é o espaço que acolhe as diversas turmas que compõem a convivência escolar. A cada encontro da Acolhida Semanal, uma turma condutora é responsável por desenvolver uma ação de acordo com as reflexões discutidas com a equipe de Pastoral e a equipe pedagógica, buscando sempre ressaltar propostas que suscitem a construção da aprendizagem pautada nos valores cristãos, humanos e inacianos. Essa etapa fortalece a consciência da comunidade escolar de reconhecer que a educação é sempre esse espaço de relações e interações que buscam orientar para um caminho de aprendizagem coletiva que sustenta a responsabilidade e o cuidado pelo outro. No eixo “diálogo reflexivo”, a turma condutora do encontro da Acolhida Semanal reflete um tema dialogado previamente com a equipe de Pastoral e pedagógica a partir de situações importantes para pensar essa cultura do encontro e do diálogo com as diferenças nesse processo de aprendizagem coletivo. As temáticas dialogadas nesses encontros buscam ser alinhadas, também, às situações que causam desolação na humanidade e ao papel da
aprendizagem na transformação social. Isso implica que a turma condutora, sob a orientação do professor, assume a tarefa coletiva de estabelecer uma ação dedicada para o desenvolvimento da prática da pesquisa e da discussão grupal, como uma forma de ocasionar, no espaço da acolhida, uma experiência baseada no compromisso de partilhar as questões analisadas no espaço de aprendizagem da sala de aula, tendo a consciência comum de que o saber compartilhado é incentivado no cotidiano educativo.
No eixo “compromisso social”, existe a responsabilidade coletiva no nosso espaço de convivência a partir do tema direcionado naquela semana. Esse compromisso tem a finalidade formativa de estimular as relações, pois essa acolhida não é um exercício que acontece somente uma vez por semana; ela é um permanente compromisso ético nas relações de aprendizagem que estamos, todos os dias, construindo.
É indiscutível olhar para esse caminho e pensar, também, nas implicações no processo formativo. Os resultados alcançados com esse espaço de formação dos nossos estudantes têm se destacado pela responsabilidade coletiva de todos que fazem com que a comunidade escolar se torne um ambiente que incentiva o encontro que reconhece as potencialidades das diferenças, que estimula relações pautadas no compromisso de partilhar a fraternidade social, de conscientizar para a capacidade de reagir coletivamente, de orientar uma cultura de convivência em que a aprendizagem seja usada para a promoção da solidariedade, em que o diálogo educativo se comprometa em formar para uma escuta cuidadosa, respeitosa e ativa com os outros.
Com essa perspectiva de olhar para o ambiente dos processos de aprendiza-
gens, reconhecemos que a cultura do encontro é uma fonte capaz de viabilizar a formação das consciências dos estudantes com o compromisso de que a educação é um caminho que se transforma em pontes e não em muros. Essa visão de reconhecer a aprendizagem como promotora de encontros e de diálogos transformadores integra o que afirma o Papa Francisco: “A cultura do encontro constrói pontes e abre janelas para os valores e princípios sagrados que inspiram os outros. Derruba os muros que dividem as pessoas e as mantêm prisioneiras do preconceito, da exclusão ou da indiferença”. (FRANCISCO, 2020, p. 2)
São essas as contribuições que emergem nos múltiplos espaços de processos de aprendizagens que os nossos estudantes estão suscetíveis a construir. A Acolhida Semanal é uma prática educativa que encoraja a reconhecer os caminhos que valorizam os diálogos que buscam favorecer a inclusão da diferença na sua visão de mundo, sem desmerecer as posições dos outros, em vista de uma participação que agrega uma caminhada comum. Como o Papa Francisco ressalta, nesse espectro do diálogo na trilha de uma educação mais acolhedora, “O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. Desse modo, torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contato e sobretudo trabalhar e lutar juntos”. (FRANCISCO, 2020, p. 23). Portanto, a Acolhida Semanal proporciona para o ambiente da escola caminhos que guiam a nossa capacidade de pensar possibilidades de encontros de aprendizagens que fortalecem a formação integral dos nossos estudantes, como também viabiliza experiência de encontro com valores que são inegociáveis para o nosso modo de proceder para os dias atuais. É por meio dessas oportuni-
dades de encontros educativos que assumimos a missão de ajudar a formar cidadãos competentes, conscientes, compassivos e comprometidos.
REFERÊNCIAS
REDE JESUÍTA DE EDUCAÇÃO. Projeto Educativo Comum. São Paulo: Rede Jesuíta de Educação, 2021.
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti: Carta Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. Brasília: CNBB, 2020.
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
CAMINHO, AMOR E MAIS CAMINHOS…
Yan da Silva Jardim Vieira¹⁸
Em 2023, cheguei a Santa Catarina, vindo do Espírito Santo, para trabalhar com pastoral em uma escola social de uma rede católica de escolas. Vim com a ideia de que encontraria um espaço pronto, naquela concepção romantizada (e, às vezes, até piegas) de espiritualidade, engajamento e oração. Imaginei uma Comunidade Eclesial de Base (CEB), semelhante àquela na qual cresci e que serviu de base para toda a minha experiência eclesial. E foi uma surpresa encontrar uma escola viva, com uma gestão capacitada, docentes bem-preparados e em contínua formação, estudantes engajados e responsáveis, mas também outros tantos fazendo bagunça e alguns com pouco comprometimento escolar. Uma escola como tantas outras espalhadas por aí.
Ao longo dos primeiros dias de trabalho, enquanto aprendia com meus gestores e com os estudantes como ser pastoral em uma escola, fui apresentado à pedagogia do caminho de Emaús. Em Lucas 24, 17a, encontra-se a pergunta de Jesus que mudou o meu jeito de trabalhar e me indicou uma outra forma de cuidar dos jovens daquele lugar: “O que vocês andam conversando pelo caminho?”.
A partir dessa pergunta, comecei a entender que a ação pastoral na escola não é apenas um fazer, muito menos é algo dado simplesmente por ser uma escola confessional; é a construção de
um mosaico junto com colaboradores, alunos e famílias. Esse mosaico é composto de diversas peças de diferentes formatos, cores e materiais, mas que, juntas, formam uma única peça, com expressividade e beleza única. E, nesse mosaico, a argamassa que une as peças é a presença.
Aqui começa um caminho que, apesar de curto, tem sido muito belo, mas só é assim porque é feito de encontros. Inspirado por Jesus, que se encontra com os jovens a caminho de Emaús e se põe a caminhar com eles, coloquei-me à disposição dos jovens, para simplesmente estar com eles e escutá-los. Cada encontro com cada um dos jovens é um encontro com suas vidas reais, recheadas de detalhes e bagagens, assim como foi o encontro de Jesus com aqueles que caminhavam saindo de Jerusalém.
Nos primeiros dias, os jovens me ignoravam solenemente, o que me assustou um pouco e me fez até pensar que eu estava no lugar errado. Como todo início de encontro, senti-me inseguro, impotente. Decidi que precisava encontrar uma forma de estabelecer uma conexão, de fazer com que eles me percebessem no dia a dia da escola para que, a partir daí, eu pudesse iniciar uma relação. E encontrei rápido: sempre que cruzava olhares com um estudante, fazia um sinal de “joia” e abria um sorriso. E foi dando certo! Eles me respondiam com um
¹⁸ Um orgulhoso capixaba de Piúma e eternamente apaixonado por todas as coisas boas da vida.
Yan da Silva Jardim Vieira
simples “joia” de volta e os mais simpáticos até me devolviam o sorriso. A cada resposta, eu me sentia realizado.
A partir disso e dos encontros mais frequentes nas atividades da escola, fui conquistando a confiança dos jovens e fortalecendo ainda mais os vínculos com eles. Assim como Cristo, caminhei junto com alguns estudantes que já estavam há mais tempo na escola e, com muita disposição, me coloquei a escutá-los quando partilhavam suas experiências. Busquei compreender, a partir dos olhos deles, o que é ser pastoralista e quais experiências poderiam ser proporcionadas para quem tinha menos tempo de escola. Hoje, digo com muita propriedade que aprendi a ser pastoralista aqui, neste espaço-tempo escolar, inserido nesse território.
O que aprendi? Que “para bem educar, é preciso antes de tudo amar, e amar a todos igualmente” (São Marcelino Champagnat). Ao comunicar o Evangelho de Cristo de forma atualizada, é necessário estar vinculado a ele. Da mesma forma, para comunicar uma palavra de cuidado, amor e vida para os jovens, é necessário muito mais que confiança; exige um ato de fé, que é a aceitação por parte deles de mim e minha vinculação como parte de suas vidas. Para que tudo isso aconteça, preciso que me guie o Amor.
Aqui voltamos para a centralidade de todo trabalho pastoral: Jesus Cristo, o Amor encarnado. Dele partimos ao caminhar em Emaús e para ele voltamos em Santa Catarina. Que o Amor nos faça maiores e cada vez mais presentes na vida e no caminho dos jovens. Amém!
ESPIRITUALIDADE
ENSINANDO COMO SÃO FRANCISCO NOS ENSINOU
Lindair de Cristo
Mariana Rogoski Bernz¹⁹
Pregai sempre o Evangelho e, se necessário, também com palavras.
São Francisco
No seu tempo, certamente, Francisco resguardava um cuidado ao pensar o estudo intelectual durante a formação dos novos frades. Tinha presente uma pedagogia pautada nas atividades do cotidiano, na praticidade da vida e na experiência da busca pelo mistério. O modelo pedagógico de Francisco propõe uma formação integral, em que o indivíduo encontra sentido em sua vocação, assumindo sua missão no mundo com coragem e sensibilidade. Todavia estamos nós, hoje, nos reavivando continuamente sobre o que Francisco espera de nós, educadores.
A educação é um constante caminhar para restaurar valores que, no mundo contemporâneo, podem se perder no individualismo e na indiferença. A propos-
¹⁹ Agente de Pastoral no Grupo Educacional Bom Jesus. Licenciada em Filosofia pela FAE Centro Universitário. Pós-Graduada em Ética em Perspectiva pela PUCPR. Bacharel em Psicologia pela FAE Centro Universitário. Psicanalista em formação e pós-graduanda em Fundamentos da Psicanálise pelo Instituto ESPE.
Mariana Rogoski Bernz
Coordenadora de Pastoral no Grupo Educacional Bom Jesus. Especialista em Acompanhamento Espiritual pela PUCRS e mestranda em Administração na PUCPR.
ta de Francisco, tão atual, se apresenta como um antídoto para as inseguranças e os desafios sociais, buscando cultivar corações atentos ao bem comum.
Investir-se enquanto indivíduo e encontrar a própria essência pela responsabilização à vocação e missão supõe, como ocorre com Francisco, deixar no mundo uma marca indelével. A educação deve desenvolver e promover a vocação de cada pessoa inserida em diversos territórios físicos e sociais. Utópico ou não, parece ser isso que buscamos para uma educação inspirada no pobre de Assis. Uma educação caracterizada pela ousadia, não contente com a transmissão de conhecimentos desconexos da realidade, mas desejosa de ajudar no despertar de
seres humanos que se diferenciam pela coragem, ousadia e criatividade de encontrar uma saída também genuína para sua missão no mundo.
Inspirados pelo exemplo de Francisco, que ouviu o chamado para reconstruir o que estava em ruínas, a educação franciscana caminha para desenvolver indivíduos que se engajem com ousadia e criatividade nas próprias missões, contribuindo para a construção de um mundo melhor. Atendendo ao convite do Papa Francisco, que essa abordagem continue buscando a harmonia entre mãos, mente e coração, para a promoção de uma sociedade mais humana, fraterna e solidária.
GARIMPO
O NOVO MATERIAL DO PACTO EDUCATIVO
NA EXPECTATIVA DO
Comunicação ANEC
O material “Um Pacto Educativo ‘Glocal’: gerando esperança”, publicado pelo Dicastério para Cultura e Educação da Santa Sé, propõe um modelo educativo fundamentado na esperança e na transformação espiritual e social, inspirado nas palavras e orientações do Papa Francisco. O livro destaca a importância de um “Pacto Educativo ‘Glocal’” que une valores locais e globais, visando renovar a educação para formar indivíduos comprometidos com um futuro mais justo, fraterno e sustentável.
O conteúdo explora o tema do Jubileu de 2025 – a “peregrinação de esperança” –, comparando-o com o Êxodo, o caminho bíblico de transformação e superação de antigos paradigmas. Esse caminho convida os educadores a uma “metamorfose” que envolve abandonar práticas educacionais ultrapassadas e buscar uma renovação que unifique saber, ser e agir.
A educação deve, assim, partir de um compromisso profundo de cada um com a transformação pessoal e a construção de uma sociedade mais empática e inclusiva.
O texto também apresenta os Inner Development Goals (IDG), que são metas de desenvolvimento pessoal voltadas para a sustentabilidade e melhoria da sociedade. Esses objetivos são organizados em cinco dimensões — Ser, Pensar, Relacionar, Colaborar e Agir —, com habilidades e qualidades associadas a cada uma, incentivando uma educação holística.
Além disso, o material enfatiza a necessidade de trabalhar colaborativamente em prol do Pacto Educativo. Esse esforço
JUBILEU
requer abertura ao diálogo, criatividade e coragem para enfrentar as desigualdades e as injustiças. A proposta é que, ao adotar um pacto “‘glocal’”, possamos construir uma “aldeia educativa”, uma rede de apoio mútua, bem como corresponsabilidade entre indivíduos e instituições.
Ao fim, são sugeridas atividades que incentivam educadores e comunidades a iniciarem uma “peregrinação de esperança” em direção a uma educação renovadora e inclusiva. Propõem reflexões sobre como integrar os Inner Development Goals (IDG) nas práticas diárias, incentivando a formação de parcerias entre escolas, paróquias e organizações locais para criar projetos de ação social e educação socioemocional. Entre as atividades recomendadas, estão encontros de oração, retiros e momentos de renovação fraterna para fortalecer o compromisso coletivo com o Pacto Educativo Global. Além disso, sugerem o desenvolvimento de planos estratégicos que fomentem a colaboração com outros grupos e cidadãos, promovendo uma cultura de encontro e inclusão.
GARIMPO
COMO FERMENTO NA MASSA: UM LIVRO PARA
FAZER CRESCER A EDUCAÇÃO CATÓLICA
Comunicação ANEC
O livro “Como fermento na massa: a missão evangelizadora das Escolas Católicas no Brasil”, lançado em maio de 2024 pela ANEC, reúne relatos de 30 redes de educação católica vinculadas a Congregações e Dioceses. Assim, representa uma amostra relevante das mais de 1.000 escolas de Educação Básica associadas à entidade. Cada relato aborda quatro aspectos essenciais do contexto educacional católico: a história da rede, o currículo evangelizador, a vida pastoral e a expansão da identidade católica. O objetivo é mostrar como as escolas católicas promovem o Reino de Deus, conduzindo estudantes, famílias e educadores em um caminho de fé sólido e criativo.
O livro destaca que, ao contrário do “fermento dos fariseus e saduceus” (Mt 16, 6) — símbolo de hipocrisia —, o “fermento” das escolas católicas gera bondade e verdade na vida dos que se conectam a essas instituições. Como autênticas “comunidades eclesiais formadoras de discípulos-missionários”, as escolas católicas no Brasil têm desem penhado, e continuarão a desempenhar, um papel vital no fortalecimento da Igreja no país.
A obra conta com prefácios dos cardeais José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para Cultura e Educação, e Dom Jaime Spengler, cardeal-arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB. Ao fim, apresenta textos reflexivos e críticos sobre a articulação da educação católica no Brasil.
Este livro tem um imenso potencial para “fermentar” a educação católica no Brasil, inspirando novas gerações de educadores, estudantes e famílias a se comprometerem com uma formação integral, que vai além do conhecimento acadêmico e abraça a espiritualidade e a cidadania. Ao compartilhar práticas e experiências concretas das escolas católicas, ele oferece um modelo que integra fé, ética e valores, reforçando o papel dessas instituições como pilares de transformação social e espiritual. A obra celebra o que foi realizado ao mesmo