Lagos, Mar e Mito - Histórias de Cidades

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BOSCH,LDA. ROBERT

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HISTÓRIAS DE CIDADES

LAGOS

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agos é terra muito antiga. A história ancorou aqui. De cidade, tem mais de 400 anos. Foi elevada a essa condição pelo rei D. Sebastião. Mas antes de ser cidade tem longo passado de vila Íoraleira. E antes ainda, de aldeia de pescadores e de escala de marinheiros onde já fundearam naves gregas e fenícias. Esta antiguidade não surpreende. Em frente fica um mar fértil em pesca, e todo o litoral é recortado por pequenas enseadas arenosas que são agora paraÍsos turÍsticos e outrora foram varadouros de navios que velejavam de dia e se abrigavam de noite, ou esperavam ras praias os ventos propícios à viagem. Por isso Lagos era terra já notória dentro do império cartaginês, e aparece com relevo na época romana. A vila foi dada pelo rei D. Afonso V ao Infante D. Henrique, que lá viveu grande parte da vida. Conheceu esta gente. Viu estes homens a mover os barcos à força de remos. Viu os barcos largarem para o mar. E foi com esta gente que ele iniciou a grande façanha colectiva dos Descobrimentos.

r A PASSAGEM DO BOJADOR O primeiro grande passo do caminho foi dado por um marinheiro nascido em Lagos. Seu nome era GiI Eanes. Desde havia doze anos que o Ïnfante tentava descobrir o mar para além do <Cabo Nãor, mas os mareantes temiam-se do mistério e do rugido do mar, e voltavam. Era medo e cobiça, explica o cronista Zlurara, porque, em vez de perderem a vida naquelas solidões, ganhavam-na no saque e no corso

das costas de Berbéria e do reino de Granada. O Infante chamou então GiI Eanes e disse-Ìhe: rOue mareantes são esses, que fora da carreira da Flandres já não sabem servir-se da bússola nem da carta de marear? Ide e não temais, porque mais forte que o perigo é sempre a esperança do galardãoll O navegante cumpriu. Saiu aqui de Lagos, talvez desta mesma praia, numa barca, ernbarcação de um só mastro com vela latina, semelhante às que usavam não há muito as faluas do Tejo. Foi alem do Bojador e só viu terra deserta. Como prova da façanha trouxe as pequenas plantas a que em Portugal, conta Zturara, se chamavam então rosas de Santa Maria. I

SIM,

OS PRIMEIROS.

MAS

POROUÊ? A história é uma forma de pensar. De pensar e de compreender. Gostaria que nos interrogássemos sobre isto: na descoberta do mundo, fomos nós os primeiros. Mas porquê? A importância universal dos Descobrimentos vem de não terem sido uma acção isolada. Depois do feito

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HISTÓRIASDE CIDADES de Git Eanes, ern 7434, as viagens continuaram pelo tempo fora. Ora, nós somos um país de entusiasmos fáceis, fograchos gfenerosos que acabam depressa. Porquê portanto esse heroísmo secular dos Descobrimentos? Por sermos mais heróis que os outros para os feitos do mar? Não nos enganemos com palavras vãs. Os galegos também são um povo de valentes marinheiros. E os catalães. E os maiorquinos. E os genoveses, os flamengos, os ingleses, os franceses, os dinamarqueses. E todos eles navegaram e escreveram proezas no mar desconhecido. Mas foram episódios efémeros. Aconteceu e passou. Pelo contrário em Portugal foi um empreendimento duradouro, colectivo, permanente, e que por isso mesmo teve efeitos muito mais vastos que em qualquer outra nação. Navegar não foi para nós um lance do jogo histórico, foi o próprio jogo. Porquê? Cada um responda como souber. Por mim penso que Íomos o único país da Europa em que as navegações foram assumidas como um projecto do Estado. Nos outros países Íoram temeridades de aventureiros, negócios de mercadores, acasos de rotas falhadas, sempÍe acções isoladas que tinham o seu epíIogo no primeiro naufrágio. Aqui não foi assim. Por detrás dos episódios soltos havia uma vontade contínua. GiI Eanes voÌtou, mas antes dele tinham falhado doze tentativas, diz Zurara. O Infante, com o poder reaÌ que simbolizava, mandava partir de novo. Depois do Infante Íoi o próprio rei D. João II, o Príncipe Perfeito. Os Descobrimentos não eram actos avulsos. Eram as etapas de um plano pensado e querido por todos. E por isso foram o qrande projecto nacional português.

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A OLHANDO ESCRAVATURA FRENTE

DE

E que na história da expansão não há apenas glórias. Há também sombtas e manchas. A mais tenebrosa.de todas é a da escravatura. asbunto é tão doloroso que muievitam

e préfere@

não

falar

Lagos é um bom lugar paia essa meditação porque a trâdição relacióna este lugar com" o mefeado dos escravos. Aqui teriam sido vendidos em praça -osnegros doStrimei52

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ro carregfamento, chegando a Portugal em 144L. Ouem inventou a escravatura não fomos nós. Foi a guerra. A guerra terminava pela destruição do inimigo: morte ou prisão, e no caso da prisão a escravatura. A guerra com o Islão foi uma fonte de escravos. Mas o ponto que eu Pretendo sublinhar é outro. Hoje todos consideramos a escravatura como uma monstruosidade absurda e temos até dificuÌdade em comPreender como alguma vez os homens iguais a nós acharam justo, ou sequer Possível, tratar outros homens seus lrmãos como animais, coisas PossuÍdas. l' todavia esta maneira de ver é recJnte. Os homens do século XV achavam a caça ao homem um comércio lícito. E os do sécuÌo XVI, e XVII e assim sucessivamente. Na época dos nossos avós, em Plena geração romântica, a escravatura tinha deÍensores. A evidência da monstruosidade surgiu depois da instalação das máquinas a vapor. Isto é: a escravidão só foi julgada injusta quando deixou de ser necessária. APesar de tudo, o trabalho livre saía mais barato. E isto dá-nos uma trÍste medida do valor dos juízos humanos.

I

O SOBRE ÏODO A BARLAVENTOi DO INFANTE MEMÓRIA

A lembrança do Infante paira ainda sobre todo o barlavento Algarvio: ViIa do Bispo, Raposeira, Lagos, Sagres. Mas sobretudo em Sagres, onde agora nos encontramos. Foi esta penedia desolada a moÌdura que o romantismo elegeu Para a imagem do Infante: figura de lenda, vulto vestido de negro, erecto na rocha gótica, devassando com o olhar os horizontes longínquos. Era uma tradição antiga que se tornou verdade oficial quando o general Bernardo de Sá Nogueira mandou colocar na muralha da fortaleza uma bela lápida de tromenagem aos feitos do Navegador. Depois dÍsso as recordações henriquinas foram brotando uma após outra: aquele casarão antigo, todo aberto em ârcos? Pois que podia ser senão a EscoÌa de Sagres de que todos continuamos a falar apesar de todos sabermos que nunca existiu? Esta torre, vestígio de algum paço antigo? Cqm0 certeza que eÍa a moradia do prínfre. Aquele cÍrculo de grandés p$dias, encontrado numa limpeza@'terreno? Claro que era uma

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Alcácer combate Gutileiro

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Ouibir: a paixão e Glórta de D' Seltastião num palnel dG sem rêgresso' dramatizado deÍronte da ianela tão lendária como polémi


DE CIDADES HISTÓRIAS Rosa-dos-Ventos, com a qual o Infante se entretinha a marcaÍ rumos em terra e no mar. E depois veio o padrão, e as memórias de bronze, e todos os mais adereços da liturgia henriquina. Vá lá hoje dizer-se que o InÍante de Sagres não viveu em Sagres ! T

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num João

ONDE ERA INFANTE

A VILA

DO

Mas existe um escrito em que D. Henrique nos diz com toda a clareza onde era a sua vila. É uma carta testamentária que ele ditou no dia 19 de Setembro de 1460, cerca de dois meses antes de morrer, na qual deixa a ViIa do Infante à Ordem de Cristo. O que aÍ nos diz é que ao Cabo de Sagres vinham arribar muitos navios, que aii ficavam muitos dias até que tivessem tempo de viagem. Aos mareantes faltava-lhes tudo: água, comida, consolo espiritual. Se acontecia morrerem, eram enterrados como cães por aqueles areais. E por isso ele, Ìnfante, movido de piedade, mandou edificar uma vìla no outÍo cabo que ante do dito Cabo de Sagres, está, aos que vêem do poente para levante, que se chamava Terça Nabal, à quaÌ pus nome uVila do Infanter. Estas palavfas são peremptórias. A ViIa do Infante, onde ele viveu e da qual há muitas referências não era no Cabo de Sagres mas no outro cabo, que fica antes para quem vem do poente. Isto é: era no Cabo de S. Vicente. As hesitações dos sábios neste ponto só provam uma coisa: o peso das rotinas. Mas o exame do terreno confirma o que o InÍante diz. Em Sagres tudo é rocha nua, sem vestígios de construção. Aqui em S. Vicente o solo está juncado de muitos milhares de pedras quebradas, restos de antiga alvenaria que o tempo desÍez. Sabemos, por Zurara, que a Vila teve poucas casas, mas chegfou a ter muralha'e tinha uma lgreja de Santa Maria. Mas pedra solta, como esta que apanho ao acaso, é tudo quanto chegou até nós. Tudo não. Porque o Infante diz, nessa mesma carta, que fora do muro da vila fez a Capela de Santa Catarina. E essa ainda lá está, porque a construção posterior do forte do Belixe a preservou. Ora a-Capela de Santa Catarina é em S. ,f,'icente, não em Sagres. E mais: no- British Museum existe o originaÌ de um desenho do local no séc. XVI: as

casas do Infante são em S. Vicente. não em Sagres.

r A FORçA DOS MITOS Pergunta inevitável: se as coisas são tão claras, como se explica que se continue a relacionar o Infante D. Henrique com Sagres, e não com a ponta de S. Vicente, que ele escoÌheu para fundar a sua viÌa? Suponho que a resposta é só uma: a força das mitos. A Ponta de Sagres era, desde a antiguidade, um lugar sagrado. A palavra vem do Ìatim saczs, Iocativo de sacrum, que significa sagrado. Os deuses vinham à noite reunir-se naquela falésia mística. A vocação religiosa do lugar ultrapassou a barreira do tempo e chegou até nós. O Infante é a úItima imagem que coÌocamos sobre esse aìtar mitológico, esse promontório dos deuses. Sei que neste instante há gestos impacientes e comentários agirestes: Lá está ele, com aquela fúria de derrubar os mitos!Não, amigos. O mito é a cultura. Como dizia Pessoa: O mito é o nada que é tudo. Mas há mitos velhos e mitos novos. E a verdadeira cuÌtura não é a conservação e restauro dos mitos podres, mas o vigor mental capaz de fazer nascer nas entranhas da alma colectiva mitos novos e empolgantes.

I

UM MITO

VEI,HO

À .lenpr,g Bom exemplo de um mito velho é aquela janela. O que se diz é que quando D. Sebastião naveçtava para Alcácer Ouibir desembarcou em Lagos e esteve naquela janela a assistir... Até aqui todos repetem as palavras, mas daqui em diante cada qual diz a sua; a assistir à missa campal que mandou celebrar; a ver o desfile das tropas que passavam em frente, com as bandeiras ao vento; a fazer um discurso, como Napoleão nas Pirâmides; a ver os capitães embarcar os seus terços. Oual a verdade? A verdade é que o gaìeão em que o rei viajava saiu de diante de Oeiras na tarde de 25 de.Junho de 1578. NavegÍou com vento ;dè 1 feição e pór isso estava enr frentç.'S de Lagos dois dias depois, na tarde d,e 27. No dia seguinte entrou no porto de Cadiz e aí fundeou com -. demoia. D. Sebastião teve tempo Ëf tourada, de ir â terra, assistir a uma r" 53 s4ir

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HISTÓRIAS DE CIDADES e jogo de canas, e só voltou a Ievantar ferro a 7 de Julho. Não é preciso ser capitão de marinha para concluir que se o gaÌeão esteve à vista de Lagos em 27, e em 28 entrou em Cadiz. o rei não desembarcou e talvez mesmo o navio não tivesse fundeado. O rei esteve, portanto, à janela. A razáo da lenda? Uns anos antes sim, esteve aqui e viu uma tourada da janela de um palácio. Talvez seja esse o grão de verdade da efabuIação popular.

I

MITO NOVO: A CORRIDA DO REI

A pressa só se apoderou de D. Sebastião depois de desembarcar em África. Teve uma conÍerência com Mulei Amede, o xerife destronado e aliado dos portugueses. E

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LAGOS a partir desse momento o rei de Portugal comporta-se como um demente. Tem uma obcesão: lutar. Contra a opinião de todos, internase pelo deserto inimigo, expondo-se a riscos de morte. Já na véspera da batalha, Mulei Amede pede-Ihe que espere pelo dia seguinte para atacar. Perante a recusa, suplica que aguarde ao menos algumas horas. Para o mouro, é preciso dar tempo ao tempo. Porquê? Ele sabe que o inimigo vai morrer. Sabe porquê, pois sabe quando. E para isto só há uma explicação possível: a arma do veneno tinha sido utilizada. E talvez fosse por isso que o rei de Portugal tinha pressa. Era um cavaleiro, não era um assassrno. Oueria chegar antes da morte, bater-se de igual para igual No dia 4 de Agosto, ao começar da batalha, os três reis estavam vivos, e todos morreram durante ela: Mulei MoÌuco, o rei inimigo, fechado na liteira a ocultar dos seus soldados aquela súbita agonia que o acometeu; MuÌei Amede, o aliado, afogado na lama; D. Sebastião de armas em punho, trespassado de golpes leais. Todos tiveram a morte de que eram dignos.

E D. Sebastião ganhou a sua úItima corrida. Chegou antes da morte, combateu um rei vivo. I

CRESCIMENTO

SEM

PREVERSÃO Mas a Lagos de hoje pede que se fale de vida e não de morte. É um lugar ensoleirado de sedução, terra de claridade mediterrânica onde o betão armado e a geometria exigida pelo crescimento ainda não violentaram a doçura original da paisagem. E nesse sentido, Lagos constitui um exemplo. A vida não parou. A cidade não ficou tolhida pela rodoma de um arqueologismo reumatizante. Ampliou-se, rejuvenesceu, tornou-se uma bela cidade de turismo e lazer. Mas soube ascender à posição de metrópole turística sem voltar costas à sua identidade fundamental, ao semblante com quê nasceu. Penso que este indefinível encanto que envolve o forasteiro se liga com a fidelidade da cidade nova às suas raízes. A Lagos antiga, ancoradouro da história, refúgio de mito e de lembranças comovidas, soube crescer sem se preverter, r


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