
4 minute read
a (re)descoberta do prazer
Por Luis Fernando Uchoa
Ao abordar em palestras, sensibilizações, rodas de conversa ou artigos a questão da sexualidade no âmbito político-social todos(as) têm a impressão que minha vida sexual é um tema tranquilo e sem grandes pormenores, pelo fato de ser militante e ativista da causa LGBTI+ e lidar com essa temática em meu cotidiano. Mas, é exatamente o oposto que ocorre devido ao falocentrismo existente no universo cis gay, muitas vezes é fator impeditivo para exploração de prazeres sexuais pelo fato de ser um homem trans gay. Recentemente me envolvi com um cis gay militante e ativista da causa LGBTI+ e de esquerda. A princípio, a relação estava ocorrendo bem e sem grandes problemáticas. No entanto, quando abordava com ele minha vontade de ter relações sexuais, o assunto era desfocado para outras vertentes e isso me frustrou de forma intensa. Com o tempo, a nossa convivência se limitou a amizade circunstancial e a possível interação sexual-amorosa foi interrompida.
Advertisement

MÀ experiÊncia
A má experiência fez com que me fechasse a novas possibilidades e assim, segui realizando minhas tarefas cotidianas sem grandes expectativas em relação a exploração de minha sexualidade. Nesta fase o tesão crescia em mim avassalante tanto que masturbação diária não era capaz de suprir essa necessidade latente por sexo.
Surpresa
O tempo passou até que finalmente por essas consequências que a vida nos proporciona, encontrei um outro rapaz que havia conhecido através de grupo de travestis e transexuais. No qual sou membro; e ele me falou inicialmente de projetos voltados a qualidade vocal focados para este segmento e, me encantei com suas falas e sua paixão pela fonoaudiologia. Mas, a atração por ele somente ocorreu após um encontro mais infor24 24
mal em um barzinho no centro de SP. Conforme o passar dos dias conversávamos sobre nossos cotidianos, desejos, anseios e de repente, disse que nunca ter se relacionado sexualmente com um homem trans, porém, tinha vontade de saber como seria esta experiência. “Logo, pensei mais um homem cis com discurso fetichista e objetificador”, fiquei paralisado com a declaração. Segui conversando com ele pelo Whats e pelo Messenger do Facebook e, de repente, o pensamento inicial se desmorona quando ele passa a tratar com uma naturalidade esplendorosa e, me passa segurança, ao dizer que minha masculinidade existe e resiste apesar de possuir características distintas do padrão cis masculino e, que seu desejo por mim era por minha aparência masculina e minha personalidade.
Desejos

Nossas conversas diárias se tornavam cada vez intensas por abordarem múltiplas temáticas que iam desde assuntos triviais até expressão de desejos e fantasias sexuais e, isso me fazia sentir arrepios, calafrios, suores e batidas cardíacas descompassadas quando ouvia o som de sua voz e lia suas palavras fortes e objetivas.
A aventura
O dia de nossa aventura sexual finalmente chegou e no momento em que senti o beijo voluptuoso simplesmente cai em um completo êxtase, suas mãos firmes explorando cada parte do meu ser, me vi entregue e quando o lapso de consciência ocorreu as roupas estavam caídas e estava nu sem nenhum pudor diante daquele homem com pele macia e aparência firme/ máscula. Um inexorável olhar rumo ao meu me fazia sentir paixão, tesão e um certo tipo de romance em uma situação meramente sexual e conforme o ato avançava meu corpo mergulhava em um frenesi altamente volátil. Sua boca em cada poro de meu ser, me elevava a uma outra galáxia inacessível no mundo racionalizado e, com isso, sentia aquele corpo pesando sobre meu e não conseguia imaginar como tinha vivido sem aquela experiência tão prazerosa até então.
Ápice
O ápice veio ao sentir aquela boca em minha genitália e percebi o seu desejo latente por ela sem nenhum tipo de rotulação ou questionamento. Era um homem desejando o outro independente de sua corporeidade e, conforme, o clima esquentava o prenúncio da penetração vinha e o grande temor foi desfeito. Nunca pensei que fosse ser prazeroso sentir um pênis me penetrando, por imaginar a descaracterização de minha identidade masculina construída a tão duras penas nesse sistema cisheteronormativo. O prazer veio por sentir naquele momento a fusão de um pênis e uma vagina em uma mesma sintonia, em que os papéis fossem e pudessem ser trocados, em qual ele e eu pudéssemos trocar os corpos para cada um sentir o que outro estivesse sentindo naquela situação.
Novas percepçÕes

Jamais quero impor aos homens trans gays, bissexuais ou pansexuais uma maneira de se relacionar sexualmente. Só expresso aqui a minha experiência e as impressões acerca do ato que me fez (re) descobrir um prazer até inexplorado mesmo em um corpo não representativo pelo fato de nutrir determinadas características imputadas por uma biologia, que em nada definem minha identidade.
LiçÃo
A grande lição deste ato sexual é de perceber que posso utilizar a minha vagina em uma relação sexual sendo penetrado por qualquer objeto ou um pênis e isso não me fara ser um quase homem. E, sim, alguém capaz de explorar inúmeras facetas sexuais sem nenhum tipo de pudor ou restrição dessa forma, colocando em prática o que apregoo em minha militância que o corpo é um instrumento político-social existente para desestabilizar as normas vigentes de como se fazer sexo. Por isso, resolvi viver sem nenhum tipo de rotulação acerca de minha sexualidade e seguir nessa busca por eternas (re) descobertas.
