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cine sapatão

Texto: Simone Almeida Imagem: Simone Almeida e Cine Sapatão

“Fomentar um espaço de fala e interação para mulheres lésbicas, um espaço para que nossa vida liberte-se do privado para vivenciar o coletivo”.

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Fernanda Elias

Coletivo que organiza os encontros mensais do Cine Sarau Sapatão em São Paulo, com entrada gratuita e exibição de filmes de mulheres com temática lésbica.

As mulheres à frente do Cine Sapatão desenvolvem um trabalho incrível que consiste em pesquisar, traduzir, legendar, obter a devida autorização das diretoras para exibição de suas películas e, finalmente, divulgar as sessões gratuitas apresentadas em um espaço público ou privadas a determinar na capital paulista. A seleção dos filmes (com finais felizes) acontece em conjunto. Em setembro de 2018 as editoras desta revista Sheila Costa e Simone Almeida foram convidadas como mediadoras após exibição de curtas no evento “ Com o Passar do Tempo : Sexo e Vida Afetiva de Mulheres Lésbicas “.

A “DIREÇÃO” DO CINE SAPATÃO

Fernanda Elias: 34, formada em Direito, Filosofia e História é responsável pela tradução, legendas e curadoria.

Catharine Rodrigues: 27, Artista Plástica e Ceramista é responsável pela tradução, legendas produção dos folders.

Rita Quadros: 52, Relações Públicas do Coletivo, Feminista, militante, participou da organização das primeiras Paradas do Orgulho LGBT e Caminhadas de Lésbicas de São Paulo; participou da construção da Liga Brasileira de Lésbicas e representou o seguimento de Lésbicas no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher em sua primeira gestão.

“AÇÃO”

Partiu através da observação de mais uma edição do Festival Mix Brasil, evento cultural anual realizado em São Paulo dirigido ao público LGBTTQ+ com apresentações de audiovisual, música, literatura, cinema, teatro e performances, onde ficou clara a pouca participação das lésbicas. Após reflexões Fernanda convida Rita e Catharine para “garimparem” e exibirem filmes com foco na lesbianidade ,Rita fez a ponte com o teatro de entrada gratuita para exibição e discussão dos filmes. Pesquisar os filmes para exibição uma vez por mês é um trabalho intenso (e prazeroso) porque requer disponibilidade de tempo também para o contato com as respectivas diretoras. De início essa atitude foi colocada como Loucura ,porque a equipe do Cine não tinha uma variedade de títulos disponíveis, felizmente, a busca incessante dessas mulheres por longas e curtas metragens concretizou um belo acervo. Temas como maturidades, lésbicas negras, feminismo radical, títulos relacionados ao contexto político do país, porn-art, curtas de Rita Moreira já passaram pelo Cine e o Cine-Sarau apresenta poesias e lançamento de livros de autoras lésbicas. As exibições são organizadas por temas, geralmente, com um longa ou vários curtas para em seguida iniciar as discussões com o público com a presença ou não de uma ou mais mediadoras convidadas. A legislação brasileira permite a exibição dos filmes em cineclubes sem necessitar pagar por direitos autorais, desde que não se cobre a entrada, estes ajustes surgiram em resposta às necessidades que o cinema dito comercial não atende.

PONTOS POSITIVOS

As diferentes idades, as vivências plurais das integrantes do Cine Sapatão favorecem na seleção dos filmes. A permanência do Cine Sapatão depende da venda de botons e camisetas, e principalmente, da boa vontade de suas integrantes todo o processo de execução é complicadíssimo por causa da pouca disponibilidade de tempo do Coletivo, mas o processo precisa

PONTOS NEGATIVOS

O público é constante ao mesmo tempo em que é instável e o Coletivo já está organizando essa questão.

QUE M TE M “MEDO ” DA S PRODUÇ ÕES COM TE MÁTI CA LÉSBI CA ? O QUE DIFI CULTA ESSA PRODUÇÃO EDIVUL GAÇÃO ?

“Fernanda Elias nos guia nessa viagem cinematográfica,” Não sei se é um medo das lésbicas. Quando enviamos o evento para o “Guia da Folha” (Caderno Cultural do Jornal Folha de São Paulo) ou para a Rádio USP não nos mostram que há prioridade; não divulgam. A baixa produção está relacionada à diferença social as mulheres não são incentivadas a trabalharem com tecnologias, a produção é pequena se compararmos com produções de temática não lésbica porque tem poucas mulheres com acesso às tecnologias ou fazendo cinema como formação há também poucos filmes dirigidos por negras. A gente está falando do Cine Sapatão e nossas dificuldades são apenas a ponta desse iceberg, pois esse meio é um território misógino. Precisamos incluir profissionalização do Cinema, curso de Roteiro para mulheres em toda sua pluralidade. Nos primeiros meses do Cine Sapatão houve essa inquietação com falta de formação de mulheres que anseiam produzir filmes sob diferentes realidades lésbicas com a pluralidade lésbica fazendo cinema teremos cada vez maior representatividade.

A problemática da aversão de algumas mulheres às tecnologias é enraizada em nossa sociedade porque o 56

espaço da mulher é limitado ao espaço doméstico e essa cultura da interiorização dos espaços femininos reflete em diversas áreas do conhecimento, e o senso comum afasta as mulheres de áreas dominadas pela “ala “masculina, temos o exemplo do Cinema, Literatura e Fotografia”.

Nota: Catharine Rodrigues desligou-se do Cine Sapatão ao final desta edição.

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