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Erótika lésbika na poesia: uma missão revolucionária

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poesia: você

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Erótika lésbika na po r volucionária sia: uma missão

Por Formiga

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Keridas fanchas, kaminhoneiras, machorras, lesbianas, roçonas, entendidas, sargentos, kola-velkro, sapatonas, marias-homem hoje a missão aki é falar sobre erótika lésbika literária. Vou fazer isso dai falando um poko de tudo ke mais gosto, literatura, polítika e história. Missão muito difícil pra minha pessoa mas missão dada na mão de formigão é missão kumprida. Nunka pirei em letras de amor amor de ke faz a pele arder... até ver o sentido polítiko desse bagulio. Pra eskrever esse texto mana também vou falar do meu pessoal igual a feminista Carol Hanish falou jão o pessoal é político.

Pra kem não sabe saber: eu sou fã de literatura negra especialmente as letras pretas da diáspora afrikana no Brasil. Em uma tarde komum de estudos lésbikos nos idos de 2013 em uma biblioteka kualker no centrão de $P, komecei a ler uma matéria no Boletim do Kaos #11 feita pela jornalista Jéssica Balbino sobre um kara ke se tornaria um dos meus poetas pretos preferidos. Num dado momento Balbino destaca ke o mano Akins Kinte 1 komeça a falar sobre a importância da literatura erótika negra (2013, p. 11)

O povo negro teve o corpo sequestrado e consequentemente o prazer também foi. Então essa busca pelo prazer é uma busca pela liberdade. Nossa literatura erótica beira uma afronta a sociedade e é diretamente política sem perder a ginga na arte gostosa da leitura.

Em outras palavras o mano Kintê cita na entrevista ke a kestão da escravidão negreira retirou o direito a liberdade inkluive a sexualidade do povo preto. Peguei a visão e essa ideia mudou minha forma entender a literatura erótica negra. O korpo preto foi objetifikado, animalizado destituído de sua humanidade na eskravidão negreira sofrida pela na diáspora afrikana na Amérika, logo kom a hiperssexualização, o negro teve historikamente sua sexualidade negada. Se pa essa konsekuencia ai é até pior pra a mulher preta ke é tratada komo um objeto sexual, historikamente vítima de estupro, ao mesmo tempo ke não é símbolo de relação afetiva no imaginário da brankitude atual. Ai já vem na mente já as ideia da bell hooks, ta liga

do akele texto monstrão chamado “Vivendo de Amor?”, tem uma mão ke ela fala ke a escravidão teve uma influência na forma de amar do povo preto. Então se tem essa história de negação da humanidade preta, a poesia erótika negra é um instrumento de luta porke é possível konstruir simbolikamente uma sexualidade negada. Visibilizar os korpos pretos komo dignos de amor e de gozo é um modo de kontestar a supremacia branka ke ainda ker submeter korpos pretos a kondição de objeto e uma tentativa de redução de danos das konsekuencias da escravidão pra afetividade preta.

Desde desse dia mana komecei a eskrever versos erótikos pra lesbianizar a literatura negra e erotizar minha lesbianidade polítika na literatura marginal.

A minha primeira poesia erótica foi publikada no meu fanzine Aversão Poétika 3 em 2013 mas perdi esse trampo e posteriormente foi publicada na koletânea de literatura feminina erótica negra Além do Quartos de 2015 fikou assim ó: Preta Teus cabelos crespos Encaracolam meu desejo Nesse delicado toque meus pelos se crispam Com a língua diaspórica Percorro a cor da tua pele Quente Só de olhar minha vontade já sente nossa atração ancestral Navego na imensidão de tuas curvas Sem mapa me encontro no teu sexo E anseio acariciar seus seios fartos Enegrecendo meu tato Linda esfrega, esfrega, esfrega sua epiderme na minha Beijando nosso fogo se enlaça Quando agente se abraça Estou me enraizando em você

Importante noiz rememorar ke nossos passos vem de longe jão não fui eu kem inventou a roda tem gente fazendo isso muito antes da minha pessoa. Tipo akela mina lá Safo de Lesbos não sei se vcs já ouviram falar mas dizem ke ela é mô safada no bom sentido da palavra. Segundo o historiador Pedro Paulo Abreu Funari, Safo poeta grega ke viveu no período da Antiguidade por volta de 612 a. C. se reunia kom mulheres na Ilha de Lesbos em uma escola de música, poesia e culto a Afrodite, obteve reconhecimento de suas paixões homoerótikas e alguns fragmentos de seus poemas chegaram até nóiz. Interessante falar do texto do Funari porke ele cita uma mina pesquisadora chamada Bella Zweig ke aponta ke fontes kom textos de Safo de Lesbos foram adulteradas para parecer ke ela fala de erotismo kom homem. É isso memo tio apagamento da existência sapatona. Sobre essa fita de usos políticos da história e da desigualdade entre homens e mulheres, num texto importante pra produção eskrita sobre lésbikas no Brasil chamado O que é lesbianismo? a historiadora Tânia Navarro Swain (SWAN, p. 15- 16) da a letra:

(...) os olhos veem o que querem e podem ver através de uma ‘política de esquecimento’: apaga-se ou destrói o que não interessa à moral, as convicções, aos costumes, à permanência de tradições e valores que são dominantes em uma determinada época. (...) No caso do Ocidente criou-se um discurso filosófico religioso para justificar a divisão dos humanos de acordo com um critério básico: sexo biológico. Complementares ou diferentes, os sexos biológicos foram dotados de uma importância crucial, de uma evidência indiscutível; entretanto, enquanto divisor do humano está distinção é também arbitrária, é também construída também em nome de um critério básico: a reprodução.

A ideia da mana Swain ker dizer ke nosso sociedade dos macho dominante fundada kom valores kristãos, separa homens e mulheres e a função social dos dois é pra poder prokriar. E se pá é por isso ke sapatão sofre violência e repressão porke não ker fazer sexo reprodutivo. Uma moral eskrota ta ai a mili ano dominando apagando nossos korpos sapatão e isso é violento jão. As lésbikas desde dos 1969 tão na atividade junto kom o movimento feminista e o movimento homossexual, segundo uma sap-

atona maravilhosa chamada Jules Falquet (2006, p. 23-24), só ke em as lésbikas passam a lutar pra ter um movimento organizado só por lésbikas porke elas komeçaram a kritikar o falocentrismo do movimento homossexual. Muitas lésbikas fechavam kom o feminismo só ke tiveram uma decepção as mulheres não somava na lutas por koisas ke as sapatonas precisavam ai as sapatão decidiu fazer seu próprio rolê. As lutas por mudança social inkomoda o sistema eles tremem na base kuando veem noiz se movimentar pra tirar o poder da mão deles. E é lógiko ke teve o revide dos de elite kontra nosso time o famoso Backlash 2, só ke tô falando do Backlash kontra as polítikas de sapatonas. O ke eu chamo de Backlash anti sapatão a Jeffreys (1993, p. 14) vai explicar melhor falando ke as revoluções sexuais dos anos 1920 e 1960 não são revolução koisa nenhuma são sim um jeito ke os machos deram de continuar dominado. As “revolução” fortaleceu a indústria do pornô, os sex shops e as terapias sexuais. E nos anos 1980 o sexo das sapatonas passou a ser vendido na indústria, ai mana eles teve ke kriar um mercado konsumidor de koisas e de mulheres kom a pornografia e a prostituição. A Nossos korpos de sapatonas foi kuase apagado da história dos machos branko da Europa, por sorte uns pedaço das letra da Safo de Lesbos sobreviveu a destruição e a adulteração e por kausa disso noiz pode ta conhecendo uma lésbika poeta memo ke entrou para os livros de história. Mesmo assim é muito poko. Por kausa da luta de lésbikas feministas dos anos 1960 noiz konsegue andar de mãos dadas kom a gatinha no mundão, só ke muitas vezes na kebrada não, ainda as nossas tão morrendo, tão sem emprego, tão se matando é komo por kausa do heteropatriarkado. Rememorando essa ideia de kolonização o korpo da lésbika negra é triplamente invizibilizado se a mulher negra não tinha direito a ter uma sexualidade e o sexo era violência na kolonização a lésbika negra piorou. O ke podemos imaginar de referência pras sapas pretas ke foram escravizadas é o itã de Oxum e Iansã ke Tatiana Nascimento dos Santos vai mandar a letra em sua tese de doutorado de 2014 ke prefere lembar de se Oxum não por fertilidade mas por uma relação lésbika, ela vai citar Rita Laura Segato komo kem lhe rekontou esse mito de que Oxum seduziu Iansã, ke é tipo assim ó Oxum viu Iansã achou mô gata e foi dar ideia nela elas fikaram Iansã gamou Oxum pegadora saiu fora Iansã

revoltada foi kobrar Oxum Oxum kom medo de Iansã saiu korrendo pulou no rio e lá ke ela mora até hoje tio. Referência de amor entre noiz em Áfrika memo se pa essa foi um jeito de refazer a memória lésbika preta depois da travessia e essa memória é tão forte ke chegou até noiz. Kom a poesia erótika da lésbika negra agente rekria essa imagem de sexualidade entre lésbikas fora das imagens ke os macho branko acha ke é ser lésbika e vai espalhando a ideia de ke o korpo da lésbika preta é um korpo de gente, um korpo ke pulsa tem intelecto pra fazer poema ke tem desejo e pode desejado fora da objetifikação racista, ke tem amor e pode ser amado tipo as mitologias vivências de antes da travessia e kom expectativa de afrofuturo jão. A literatura lésbika a poesia lésbika é um jeito de agente ter koletividade kompartilhando nossos eskritos kom nossas amigas e nossas amantes. Recitar poema pra gatas pras amiga pras amantes é um jeito de kriar um espaço pra gente se ver se olhar tipo um sarau tipo um slam tive um klube du livro. Pra mim tio fazer literatura lésbika não é fazer literatura de elite pelo kontrário é bater de frente kom essa elite branka, rika e hetero. Konkordando kom a Diedra Roiz no prefácio de Incontadas 3 a literatura sapatão é literatura marginal porke noiz ta na margem. Só ke nossos trampo pode ser mais do ke querer fazer parte do sistema ke odeia noiz, nosso trampo kom os verso pode ser o de revolucionar. E podemos começar revolucionando por meio do erótika. Os verso safado representam o tesão, mas é mais ke isso jão. Poétika erótika lésbika y poética erótika da lésbika negra inskreve nossos korpos ke tantas vezes tentaram apagar na história dos exkluídos.

Vem até mim também agora e liberta-me dos duros pesares, e tudo o ke kumprir meu koração deseja, kumpre, e tu mesma sê minha aliada de lutas

Safo 4

Notas

1. Akins Kintê é um poeta negro que possui diversos poemas publicados na koletânea anual Cardernos Negros lançada pelo grupo Quilmboje. Também tem as seguinte publicações de livros de poema: Punga (2007) em parceria kom Elisandra Souza, InCorPoros (2011) em parceria kom Nina Vieira e mais recentemente teve um trampo solo o Muzimba (2016).

2. Backlash é um termo inventado pela Susan Faludi, ke escreveu um livro chamado Backlash – o contra ataque na guerra não declarada contra as mulheres no ano de 1991, nesse trampo ela mostra diversas estratégias do patriarcado estadunidense

para bater di frente kom os avanços da luta do movimento feminista nos anos 1980.

3. Incontadas - aquelas que não podem falar dizendo o que não pode ser dito, é uma koletânea de literatura lésbika kom várias autoras sapatão do Brasil, entre elas Cidinha da Silva, Diedra Roiz e etc., lançada em 2016 kom o grana do edital PROAC SP do governo ke incentiva a kultura em São Paulo e foi distribuído de graça.

4. Essa poesia da Safo de lesbos foi retirada do zine Lesbos ke é uma koletênea de poesias de mulher ke gosta de mulher kom várias autoras organizado pela kerida Júlia Franciska no ano de 2016.

Mini bio

Poeta y eskritora, kapoeira de vulgo, Formiga pele parda 27 anos contrariando as estatístikas. ] Nascida e kriada no extremo Sul da zona Sul de São Paulo. Publikou o fanzine Aversão Poetika de 2012 a 2015, o livreto Eu-lesbika em 2014, o fanzine Seis Sentidos em 2016 e em 2018 lançou o recente kuadrinho chamado Lesbo Ódio #1, trampo pela sua distro Edições Formigueiro.

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