Acho Digno 08

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Crédito: Natasha Montier

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EDITORIAL

ai ter luta! E é nesse espírito que publicamos a nossa edição de número 8. Com muita garra, após alguns meses do nosso último número, com momentos de reflexão, conseguimos colocar a nossa “cara na rua”. Em um momento conturbado que vivemos no país, com direitos sendo negados e surrupiados a todo instante, questionamos e analisamos nas demais páginas, a nossa atuação e como estamos vivendo em meio a tudo isso. “Cansados de sermos as pessoas errados” discorremos sobre o extermínio da nossa juventude negra. O que seria uma luta realmente democrática e de respeito à constituição brasileira e aos nossos direitos que já foram estabelecidos? Uma analise sobre “a democracia negra” é feita e pode indicar alguma mudança no sentido de ampliação da escuta e reflexão sobre os temas que estão expostos para a nossa sociedade. Por acreditar na melhoria das condições de aprendizagem e saber que representatividade importa

sim, na Acho Digno buscamos sempre apresentar esses exemplos de vida, trajetórias de conquistas, para que sirvam de inspiração e orgulho. A união fortalece, seja por meio da arte, quando encontramos duas jovens cineastas fazendo cinema de animação, ou com programa de TV que apresenta memórias vivas do movimento negro contemporâneo, ou ainda, com um engenheiro eletrônico que cria uma rede social para profissionais negros.

Enfim, temos muita comunicação nas próximas páginas. Desde a construção de uma identidade albina até o momento histórico da 1ª Marcha das Mulheres Negras que aconteceu em novembro de 2015, em Brasília, no Brasil. Espero que tenham uma boa leitura. Que tenhamos força para não desistir dos nossos sonhos. Vida longa para essa juventude negra, vida longa para a revista eletrônica Acho Digno. Permanecemos na luta!

EXPEDIENTE CONSELHO EDITORIAL: Camila de Moraes e Elisia Santos l REPORTAGEM E TEXTOS: Camila de Moraes, Juliana Dias, Mariani Ferreira e Pedro A. Caribé l FOTÓGRAFOS Maurício Reis e Natasha Montier l COLUNISTAS: Luiz Silva Cuti, Igor Miranda e Elisia Santos l PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO: Camila de Moraes l REVISÃO: Vera Lopes


OPINIÃO uando teimamos em não acreditar que os caminhos são escritos por uma mão metafísica e com total discernimento do fim da história, chega o destino e nos deixa confusas. Sabe aquela sensação que temos que tudo foi combinado? E que tudo não passa de um grande filme? É a Acho Digno nesta edição mais que especial.

Crédito: Andréa Montenegro

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Quando Camila de Moraes me apresenta a proposta de editorial, eu penso estão de brincadeira comigo, não havíamos conversado e nem combinado nada, mas nem precisava, nós costumamos brincar o quanto pensamos nas mesmas fotos, entrevistas e como tudo casa, o destino é uma delícia. No turbilhão deste cenário político, com uma demanda da recatada, bela e do lar, com chegamos trazendo as albinas empoderadas, cheias de charme e muito amor para dar. Este ano de 2016 começa na sexta-feira, o dia marcado pelos religiosos de matriz africana como pertencente a Oxalá trazemos para vocês os filhos preferidos dele: os albinos. A grande “sacada” desta edição, que diferencia de todas as outras, é o revistar os nossos conceitos de beleza e aceitar o diferente como algo próximo a nossa realidade. Somos estranhos para muitas sociedades Por Elisia Santos - Socióloga e e excêntricos para determinadas culturas, ser o Outro consultora de moda nem sempre é “confortante”. Nós por direito podemos e devemos diminuir estas barreiras com o reconhecimento dos preconceitos e observar a beleza do diferente: negro, gorda, albina, com vitiligo, baixos... Em tempo, ler e se pensar no livro Zumvi: lentes objetivamente negras é a grande pedida desta ediContato ção, mergulhar nesta história e se ver personagem nos livros, além disso trazemos a Negra Jaque, linda e muito talentosa que me fez lembrar outras Mcs de www.achodignoarevista.blogspot.com.br Salvador como: Negramone, Carla Cristina, SilKaiala. Nossa comunidade produzindo talentos que precisaachodignorevista@gmail.com mos estar atentos para escutar e degustar. Nós somos uma grande rede a ser costuradas, por profissionais, cantoras, poetas e Acho Digno este encontro, somos um continente neste país, vamos mercar! Espero que a leitura seja intensa e sirvam-se a vontade, estaremos esperando seus comentários. Em 2016, só podemos agradecer...


Por Pedro A. Caribé

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sessão da Câmara dos Deputados do dia 17 de abril de 2016 foi a catarse do golpe em curso no país. Já estávamos nos momentos finais quando Tia Eron (PRB-BA) votou a favor da farsa e declarou “sou a voz da mulher negra e da mulher nordestina, que não quer mais a migalha do governo federal, porque tem dignidade para trabalhar e para vencer” levantando a bandeira verde e amarela. A partir de então tornou-se alvo predileto de uma parcela significativa da esquerda baiana, e ativistas dos movimentos negros de todo país. Cartazes com os dizeres “Procura-se golpista” e outras delicadezas pulularam nas redes sociais, a tratando como traidora e símbolo do retrocesso. Não foi nenhuma novidade ou traição sua postura, ao contrário dos senadores eleitos pelo PT em 2010, Marta Suplicy e Walter Pinheiro. Ela também não é uma liderança como Bolsonaro, Eduardo Cunha ou Caiado, e sim, uma base da elite conservadora. Na mesma sessão, só tenho ciência de Vicentinho (PT-SP) dar relativa ênfase a luta antirracista. Votou contra o golpe em nome “do meu povo negro, dos quilombolas, do trabalhador do campo e da cidade”. Tiveram outras citações à Zumbi, ao genocídio da juventude negra e etc. Mas nada tão expressivo como Tia Eron. Braço da Igreja Universal do Reino de Deus, Eron figura na política baiana desde década de 1990. Seu grupo político também é integrado pelo deputado negro Márcio Marinho (PRB), outrora candidato a prefeito de Salvador em 2008. Na capital baiana, mais uma vez, PT e PCdoB pretendem não lançar um candidato ou candidata negra ao pleito em 2017. Olívia Santana saiu como vice na chapa comandada por Nelson Pelegrino em 2012 basicamente como resposta à vice de ACM Neto, a negra Célia Sacramento. No estado temos apenas um deputado federal negro na esquerda, Valmir Assunção (PT), que por sua vez, priorizou relembrar o massacre de Eldorado dos Carajás e a luta pela reforma agrária. No PCdoB, o baiano Orlando Silva só conseguiu desabrochar em São Paulo. Na Roma Negra, provavelmente sucumbiria na fila... Orlando deu ênfase ao legado comunista na sua fala. No PSOL, a

presença negra no parlamento também não foi prioridade até o momento, sem nenhum representante desde 2007, mas na Bahia há perspectiva mais promissora, a exemplo do rasta Johnatas, uma das maiores promessas de renovação na política baiana, bem votado no pleito de Feira de Santana em 2012. Este cenário responde em grande medida porque a maioria da população, de cor negra, não foi às ruas para combater o golpe. Provavelmente, muitos dos leitores integram famílias negras com pessoas dotadas de posturas semelhantes a Tia Eron. Negros e negras que se aliam aos que são contra cotas e bolsa família, legitimam a atuação genocida da polícia militar, querem abrir mais prisões, compõem ala cristã que persegue as religiões de matriz africana, e também não respeitam nosso maior meio de participação: o voto. A oposição ao golpe não consegue reconhecer ao povo negro o protagonismo na luta, e permanece tendo com símbolos principais figuras como Chico Buarque e Letícia Sabatela. Nada contra os dois, só gostaríamos ter mais ênfase em Beth Carvalho e Mano Brown. Grande parte da raiz da crise atual está fincada nas areias do racismo, e, a longo prazo só será contornada se colocar as mãos nesta terra maldita. Podemos afirmar que uma sociedade que finge não presenciar um genocídio racial caminha a passos largos para um quadro de autoritarismo com elementos concretos de fascismo, na medida que uma suposta pureza nacional é acionada para a supressão de direitos individuais e coletivos. O apoio ao golpe em parcela significativa da população negra fricciona até mesmo a possibilidade de termos a democracia como valor comum. Nunca fomos reconhecidos plenamente nos seus pilares, em especial a participação nos espaços estratégicos do Estado. Também temos um entrave com o mito da democracia racial, e a consequente ocultação das hierarquias e opressões na vida cultural. A democracia pode ser considerada como mais um

Arquivo Pessoal

A Democracia Negra


valor a que população negra constrói e refuta ao mesmo tempo. Tal ambivalência é comum na nossa trajetória em sociedades modernas racialmente demarcadas. A questão é como não transformar esta ambivalência em contradição ou imobilização. Precisamos produzir sínteses libertadoras, sob concepção particular e universal de democracia para o país. Particular porque é a partir de nossa experiência. Universal por ser articulada para a garantia de direitos a todos (as). Na democracia negra defender reforma nos meios de comunicação passa primordialmente pelo acesso à população negra à propriedade da radiodifusão e fontes de fomento ao conteúdo, entre as quais a publicidade estatal e financiamento a produção audiovisual. Estaríamos caminhando de forma significativa para o tão sonhado pluralismo político e diversidade cultural na mídia. A reforma política incluiria a presença obrigatória de candidatos negros nos partidos políticos para as eleções proporcionais. No executivo também seria obrigatório ter negros em postos de primeiro escalão como ministros e diretores de estatais. Sem dúvidas, teríamos uma representatividade maior dos governantes aos governados. Não seria nenhum absurdo propor isto. Sociedades étnica ou racialmente demar-

REFLEXÃO POÉTICA

cadas buscam soluções com essas características para atenuar os conflitos. Já o judiciário, que tanto nos têm afligindo com suas ações arbitrárias, os juízes de primeira vara seriam escolhidos pela própria comunidade. Não é nenhuma coisa de outro mundo, eleição de juízes sempre existiu nos EUA, a diferença é que aqui as comarcas seriam conforme as especificidades de cada território, principalmente nas grandes cidades. Dessa forma, as comunidades negras teriam mecanismos de solucionar seus problemas de forma mais próxima das concepções de justiça que fazem parte do seu cotidiano. A medida complementar seria desmilitarizar e desarmar a polícia militar, impedindo que atuam sob coerção às vítimas, testemunhas e até mesmo juízes. Já no Supremo Tribunal Federal (STF) metade dos juízes seria negra. Resolvidos estes elementos, ao menos na agenda das lideranças políticas da esquerda, creio que teríamos mais pessoas nas ruas, partidos e urnas defendendo o aprimoramento da democracia. O medo da onda negra tomar as ruas, instituições e negócios é a única forma de haver uma reciprocidade nos direitos que compõe a democracia. Esta radicalidade precisa estar presente na esquerda, ou continuaremos a ter o vácuo ocupado por Tia Eron

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VILA MOISES Por Evanilson Alves dos Santos

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Arquivo Pessoal

só queria acordar E ver que tudo não passou de um pesadelo. Que vidas não foram ceifadas E que não existe mais motivos Para dor e desespero. Passar pelos homens de farda E não sentir que o próximo pode ser eu Por que sei que com o aval do governo E o despreparo Já mataram vários irmãos meus. Nessa madrugada eu quase não dormi Lembrei de Everson Pereira Um amigo que estudou comigo E também morreu naquela sexta feira.


Só quem viu e sentiu na pele o arrepio Sabe o que se passa na mente A dor, a falta de gente decente Lembrei que ouvi de um morador: "Eles protegiam a gente" Na coletiva de imprensa O secretário de segurança pública Nos ver como estatística Comparando execução sumária Com partida futebolística Infratores ou não O fato é que foram assassinados Porque o direito a vida Da tal constituição Para o preto, e pobre, sempre é negado. Aos 13 que se foram Muita luz, descansem em paz, Quanto a nós juventude negra

NENHUM PASSO ATRÁS.

SUMÁRIO Divulgação

LEITORA

#AchoDigno #Laroye

Quem ainda não conhece deixo a dica dessa excelente revista! Um ano de existência e o n. 7 chega para abrir mais caminhos e colocar a energia para circular! Quando a palavra traduz nossos quereres e quando pessoas se encontram para estabelecer diálogos a partir de assuntos que nos são caros, a comunicação, em seu sentido pleno, também cumpre seu papel de transformação social. Tem comunicação, moda, beleza e literatura negra! Parabéns equipe e obrigada por viabilizar uma leitura tão boa!

Por Feranda Oliveira - Historiadora Crédito: Natasha Montier

Ricardo Brasil apresentador do programa Cultne na TV

Empreendedorismo negro - Loja virtual Kumasi Crédito: Maurício Reis

Crédito: Alana Silveira

Noivas Black - Projeto reúne três profissionais da áera que apostam em usarem cabelos naturais em cerimônias de casamentos

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Rafaela Magagalhães A construção da identiade racial


O SEU ESTILO Por Denie Soares Crédito: Andy Whiteside

Sou apaixonado por cores vivas, e tento encaixar em todos os meus

looks. Não sou muito de combinar cores, mas busco fazer sempre uma cor viva com cor neutra e nunca (mentira às vezes estou super alegre, e não posso me conter) fazer mistura de cores vivas. Portanto, este é um look para o dia, mas que precisa de um pouco mais de atenção a formalidade sem deixar de ser despojado. Portanto um jeans, camisa e uma jaquetinha leve (claro em caso de passar o dia no arcondicionado) Jaqueta TopMan Camisa Zara Calça Forum Sapato Tod`s


DICA DE LIVRO

Por Juliana Dias

É

de se esperar que a fotografia faça parte de um elenco de memórias. Seu caráter de referência do espaço e do tempo é louvável, especialmente quando suas revelações atemporais resgatam sentimentos revolucionários. É desse modo que entra em cena o Zumvi Arquivo Fotográfico, que por quase quatro décadas fixou o olhar no calor da luta do movimento negro contemporâneo da própria Bahia, brindando hoje novos conhecimentos, sobretudo, para os mais jovens. São os pretos no branco que contam a histórica luta dos militantes baianos na construção da identidade negra, dando vazão a reflexões e questionamentos de uma resistência contínua. Em tempos de popularizações fotográficas dos coloridos-afro-punk-crespo, o Zumvi conta verdades, tão antigas e tão atuais, em 30 mil fotogramas que transcendem o primitivo preto e branco inicial de suas imagens, imprimindo a realidade da história da população negra na Bahia em seus momentos de glórias e nas muitas manifestações de denúncia. As fotografias de Zumvi são os ídolos do presente, dignas de contemplação, reverência e preservação. Cabe então, pensarmos na observação do seu universo em várias etapas: desde o instante captado; o olhar por trás da lente e a dinamicidade de suas revela ções que dialogam com passado e apontam rumos

futuros. Afinal, é também nela que se pode exercer o poder de denúncia e representação, cada vez mais compartilhadas e cúmplices da resistência negra contemporânea. De repente e em instantes, os fotógrafos e militantes, Lázaro Ramos e Jonatas Conceição acumularam histórias capazes de representar tempos, pessoas e lutas na árdua tarefa de fazer fotografia negra nos tempos de outrora. Adentrar o arquivo Zumvi é deixar-se olhar pelos nossos e reconstruir lugares, personagens e ideais com base em códigos iniciados pela tradição da oralidade, que continua comunicando para nós, sobre nós e para nós, imageticamente negros *Jornalista e mestranda em Comunicação e Direitos Humanos pela Universidade Nacional de La Plata.

Arquivo Pessoal

Zumvi: lentes objetivamente negras


Crédito: Natasha Montier

Por Cuti

A importância da individualidade/ singularidade da personagem negra

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abuso de os racistas, nas artes, representarem os negros de maneira grotesca e desumana impõe que se reflita sobre os caminhos de reversão desse quadro. Para tais pessoas, todos os negros são seus inimigos pessoais, mas não consideram que os negros sejam indivíduos, mas, sim, um conjunto. As características negativas na mente doentia do racista (o estigma) são atribuídas a todos os negros, sem distinção pessoal. Ele insere o indivíduo num todo amorfo e estático, congelado, para o qual nega qualquer possibilidade de mudança. A genética e a paleontologia traçaram evidências acerca da origem única dos seres humanos no continente africano. O mapeamento do genoma, bem como a descoberta do gene (SLC24A5) responsável pelo aparecimento, há cerca de 6 a 12 mil anos atrás, da pele branca dos europeus, já permitem conclusões para deixar os racistas furiosos. “Nossos ancestrais europeus foram negros durante dezenas de milhares de anos.” Assim, Drauzio Varela inicia seu artigo “A negritude dos europeus”, publicado em 18 de julho de 2007, p.69, na revista Carta Capital.

Entretanto, esse conhecimento científico não demove facilmente os preconceituosos de seus propósitos de manutenção dos privilégios sociais da brancura. Por isso, é lícito se dizer que o racismo é estrutural na sociedade brasileira. Assim, cabe aos criadores de personagens, em especial os negros que sabem o quanto o racismo os prejudica, a tarefa de, em seu trabalho de criação, desestabilizar o racismo. Um caminho eficaz para isso é radicalizar a individualidade da personagem negra. Se, por princípio, os racistas consideram todos os negros iguais e dotados de defeitos congênitos, a personagem negra apresentada em sua singularidade extremada, foge àquela premissa. Sem idealização, mostrada na sua unicidade, ela assim construída não deixará brecha para a massificação que os estereótipos raciais realizam. Daí uma consequência: se os negros não são iguais, os brancos também não são. Como, então, justificar uma teoria que carimba as pessoas segundo traços fenotípicos a que atribui defeitos e inferioridades de toda a ordem? Esse é ponto.


A mobilidade social no seio da população negra vem fornecendo modelos de difícil elaboração para a representação racista, que se ancora na imobilidade, na cristalização de estereótipos. Daí também que ela tem maior preferência pelo passado do que pelo presente ou pelo futuro. A escravidão é seu repasto preferido. Por isso, o que foge ao seu controle torna-se excentricidade. Imaginemos, portanto, excentricidades negras concebidas em termos de personagens! Ou seja, a singularidade levada ao extremo. A disseminação do racismo antinegro durante milênios na cultura mundial (e não só a partir da escravidão), suscita a possibilidade de se encarar o racismo em um trânsito da esquizofrenia para a sociopatia e desta para a psicopatia, correspondendo, respectivamente, à teoria racista, ao preconceito e à discriminação. Em outros termos: ideias equivocadas, fobias e, por fim, agressão (verbal ou física) mobilizadora, pois diferente do sociopata, o psicopata aglutina pessoas para o exercício da crueldade. Mas, o racismo não pode ser considerado apenas doença por se tratar de ideologia para a manutenção do poder

(incluindo-se os micropoderes) e todos os privilégios dele decorrentes, sendo criação historicamente verificável. Há brancos que produziram e continuam produzindo, mesmo contra as evidências científicas, teoria e arte para manter intacta e disseminar a ilusão de hierarquia racial. É ação de grupo. Neste sentido, a individualidade da personagem negra, se for desprovida de vínculos antiestereotípicos, com o coletivo tende a derivar para o pitoresco, perdendo, assim, a sua humanidade. Os criadores precisam estar atentos à diferença entre individualidade e individualismo. Por esse caminho chegaram e estão chegando monólogos, textos com poucos personagens e uma prosa literária em primeira pessoa. Que sejam bem-vindos.

Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, é escritor. Publicou, entre outros livros, Literatura negro-brasileira, Sanga, Contos crespos, Quem tem medo da palavra negro, Dois nós na noite e outras peças de teatro negro-brasileiro, Kizomba de vento e nuvem. É também autor da peça Tenho medo de monólogo, tendo como coautora a atriz Vera Lopes.

Fotos: Arquivo Pessoal

QUEM FAZ A COMUNICAÇÃO

Social – Igualdade Racial, cuja dissertação trata das experiências da comunicação lideradas por comunidades quilombolas e sua rede de aliados/aliadas, tendo como base o caso do Quilombo Rio dos Macacos, situado em Simões Filho/Bahia. A jornalista está em constante aperfeiçoamento nos estudos. Juliana Cézar Nunes atualmente trabalha na Empresa Brasil de Comunicação S/A - EBC, na Secretaria

#JulianaCézarNunes N

atural de Curitiba, mas radicada em Brasília, a jornalista Juliana Cézar Nunes construiu sua carreira no cenário político e conjunturais do Brasil. Em sua prateleira coleciona alguns prêmios por reportagens na área de combate ao racismo, defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes e direitos humanos, entre eles estão: Prêmio Tim Lopes, Prêmio Vladimir Herzog, Prêmio Líbero Badaró e Prêmio Petrobras. Com especialização em Saúde Pública – Bioética e mestrado em Comunicação

Executiva do Conselho Curador da empresa. “É a primeira vez que saio da redação para trabalhar pela comunicação pública em sua interface institucional com a sociedade e com a gestão pública. Espero contribuir para que outras vozes e perspectivas sejam levadas em conta pelo sistema público de comunicação”, revela. A vontade de ser jornalista tem relação com as vivências de sua infância e adolescência, pois até os 11 anos de idade morou em oito cida


negra como Rosane Borges em suas bibliografias e se negam a discutir a questão do racismo no Brasil. A revisão das diretrizes curriculares não contemplou essa perspectiva, apesar das contribuições enviadas pelas Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras). Do ponto de vista do exercício da profissão, também vivemos o dilema de uma atividade profissional em crise, no qual os grandes veículos deixam pouco ou quase nenhum espaço para grandes reportagens e visões diferenciadas sobre o que ocorre na sociedade”.

des diferentes acompanhando o pai, que é médico e militar, o que lhe propiciou um envolvimento com outras culturas e pessoas diferentes. Em sua família sempre teve grandes contadores de histórias e havia o hábito de ler jornal no colo do pai quando pequena. Sua mãe também sempre incentivou na leitura. Esses aprendizados despertaram-lhe o interesse de “escrever a história do presente”, comenta. Segundo a jornalista, na área da comunicação há múltiplos desafios que vão desde a formação ao exercício profissional, passando pela estrutura econômica e política dos meios de comunicação. “Do ponto de vista da formação, as faculdades estão diante do desafio de oferecer uma formação diversa, porém sólida, capaz de contribuir para que as/os futuras/ os jornalistas tenham senso crítico e abertura para ouvir as múltiplas vozes da sociedade. Infelizmente, ainda temos cursos de graduação que não incluem sequer um autor negro como Muniz Sodré ou autora

Nesse contexto, afirma que os veículos menores, independentes e mídia negra estão conquistando espaço na internet e que é necessário avançar no entendimento quanto à informação enquanto direito humano. “As mídias públicas, educativas, comunitárias e negra precisam ser entendidas como uma alternativa ao pensamento único. Uma alternativa que nos permita lançar novos olhares e caminhos para o país. Não podemos continuar naturalizando a violência contra jovens e mulheres negras, cujos corpos mutilados são expostos em programas policiais, mas têm suas as vozes silenciadas em toda a programação. A população negra possui um acúmulo de experiências políticas, econômicas, científicas e culturas que precisa estar expressa em todas as mídias para que possamos avançar enquanto sociedade”, afirma. O exercício da escuta e a busca por pautas diferenciadas foram fundamentais para a construção da sua trajetória profissional e considera a redação um espaço de troca de experiências. Na EBC foi criado, recentemente, um coletivo de mulheres negras que, assim como Juliana, muitas delas se descobriram negras no exercício da profissão. “Um especial sobre mulheres negras feito por mulheres negras empodera tantas de nós que não temos sequer a dimensão do que representa. Ver as comunicadoras negras ocupando cada vez mais espaços me dá uma alegria imensa. Um sentimento de que a luta das mulheres que vieram antes de nós não foi em vão. E que o céu está longe de nos limitar”, conclui


Mãe/Esposa/Profissional

“Fiquei grávida durante o mestrado e fiz meu trabalho de campo na Bahia com sete meses de gravidez. Foram duas gestações, sem contar o trabalho na Radioagência Nacional, que continuou intenso, já que coordenava a publicação de matérias usadas gratuitamen-

te por quase duas mil rádios em todo o país. Fui morar com o pai do meu filho no final da gravidez e criamos uma família no meio desse turbilhão. Durante todo esse período também continuei participando das atividades do movimento de mulheres negras, especialmente da irmandade Pretas Candangas, da qual eu faço parte e que me traz aprendizados muito especiais. Quando olho pra trás nem acredito que consegui parir naturalmente um menino lindo, que é o Bento, e uma dissertação. Continua não sendo fácil conciliar essas dimensões da vida pessoal, profissional e militante. O apoio do meu companheiro, que é um pai incrível, dos meus pais e das minhas amigas é que tornam possíveis tantas atividades. Desde que me descobri histórica e politicamente enquanto mulher

NOIVAS BLACK

negra parece que um senso de urgência se impôs na minha vida. Estou longe de ser a militante perfeita. Tampouco a mãe, mulher, profissional, companheira, filha, filha de santo, irmã e amiga que eu gostaria. Mas acho que meu grande desafio é ser uma mulher negra feliz ao lado das pessoas que amo e fazendo o que eu acredito. Tenho total consciência da jornada da minha mãe, tias, avós, bisavós e tataravós. Procuro honrá-las todos os dias. Nem sempre consigo fazer tudo à altura do que elas merecem. Mas sigo tentando”.

EDITORIAL DE MODA

Com intuito de estimular e incentivar Noivas Negras a usarem seus lindos cabelos naturais em suas Cerimônias de Casamento, surge a proposta Noivas Black, que reúne três empreendedoras de diferentes segmentos em prol de um mesmo objetivo. Quênia Tranças (Cabeleireira - especialista em tranças), Flè Noivas e Produções (Maquiadora e chapeleira) e Alana Silveira Fotografia (Fotógrafa), elas se reuniram e realizaram um lindo ensaio de valorização da Identidade Negra, dando visibilidade para o que há de mais Belo, que é se reconhecer e se ver com outros olhos, valorizando seus cabelos crespos, trançados e sua pele negra. Enfim esse Projeto busca mostrar que Noiva Negra natural é linda sim. (Texto: Quênia Lopes)






Fotos: Maurício Reis

A Construção da Identidade Racial

A socióloga Rafaela Magalhães defende que pessoas com albinismo podem assumir uma identidade negra. O albinismo tem uma incidência maior em famílias negras, mas não é uma característica apenas desse grupo genético.

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albinismo é um conjunto heterogêneo de distúrbios genéticos que afeta a produção de melanina, podendo levar à hipopigmentação da pele, dos pêlos, cabelos e olhos. Os pais de pessoas com albinismo são portadores do alelo recessivo mutante. Cerca de 1 em 70 pessoas podem ser portadora de alelo para o albinismo de caráter recessivo. O sujeito já nasce albino. A ausência de pigmentação implica em uma ausência total de proteção contra os raios ultravioletas. Para a socióloga Rafaela Magalhães, na infância, a palavra albino não tinha uma referência do seu significado, porém quando começa a entender a palavra, já na adolescência, percebe que são dois momentos distintos e quanto vão

ser incisivos na construção da sua identidade. Oriunda de uma família negra, com mãe de pele com pigmentação mais escura e pai com pele mais clara, é a única albina da família de todas as gerações. Comenta que, ainda bebê, a levaram ao médico que informou ser uma criança albina e não poderia ter contato com sol e nem com o mundo externo. Era necessário muito cuidado. Incomodado com essas informações, seu pai foi para biblioteca pesquisar sobre albinismo. Seus pais sempre tiveram muito cuidado, mas nunca privaram de nada. Se tivesse que sair, colocava roupa de manga comprida, caso se perdesse na rua por pegar ônibus errado por conta da dificuldade na visão, lhe era dado um valor superior da passagem para que pudesse pegar outro

transporte. Então, desde pequena a palavra permeava a sua vida, porém só sabia que não poderia tomar sol e o fato de ter dificuldades na visão era em virtude do albinismo. IDENTIDADE - Rafaela Magalhães fez oito anos de capoeira e quatro anos de dança afro e esse mundo negro lhe era muito próximo. “Hoje me assumo com uma identidade negra e tenho noção que a minha vida como uma negra descolorida não tem comparação a vida de um negro pigmentado em relação aos impactos sofridos pelo racismo efetivo em nosso país. Porém, existem albinos que não assumem esse discurso. Confesso que até chegar essa relação de identidade negra com essas ressalvas, passei por momentos de não


proteção ou por outro motivo, se enxergava enquanto um individuo negro, pois sua mãe, pai e irmãos eram negros. Não se enxergava sem pigmentação. Quando ingressou na escola técnica, com 14 anos a palavra começou a fazer sentido. Conheceu amigos mais velhos e com discussão de movimentos sociais. A primeira pessoa com albinismo que teve acesso foi por meio desses amigos. Lembra que era uma senhora ambulante com muitas marcas pelo corpo devido à exposição solar e que foi uma experiência muito dura. Passou uma semana chorando e falando que não era igual aquela pessoa. Não queria mais sair de casa.

ter nenhuma identidade e essa é a pior fase da vida do albino”, relata.

Também passou por muitas frustrações em relacionamentos. “Até compreender que o homem que irá se aproximar de mim não irá me achar exótica é um processo”. Confessa que isso sempre foi um medo, um assustar, quando sentia que a relação estava ficando mais profunda fazia questão de avisar “oh, você sabe que sou albina, né?”. Mas, existem aquelas pessoas que irão procurar para desvendar as suas mais variadas fantasias. E isso afeta também a questão da sexualidade. Rafaela Magalhães fala que conhece albinas de 18 anos que nunca deram um beijo na boca ou que tiveram relações sexuais e afetivas, simplesmente por serem vistas como algo estranho. “Nunca namorei um albino, é um bloqueio. Já tentei, mas é estar o tempo inteiro se olhando no espelho. Enquanto para algumas pessoas é um conforto, para mim isso era um medo. Todos os dias vou ter que me lembrar que sou albina. Isso era algo que sempre me assustou, além da questão de ter filhos com 90% de chances de ser albino. Mas entendo enquanto prote

Informa que a construção dessa identidade é muito difícil, pois implica em ter acesso a informações teóricas. “Temos uma historia de vida que é muito diferente, porém não afirmo que o albino é uma raça a parte. Porque se eu encaro que o albino é uma identidade que não é nada, eu nego a sua história, eu nego a sua existência. Eu acho que o albino precisa se reconhecer em qualquer identidade que a sua história permite, seja ela sexual, religiosa, raciais, ou vinculadas a outros movimentos sociais”, diz. Hoje, Rafaela Magalhães se afirma como uma mulher, albina, negra sem pigmentação. Porém, não é porque aceita a identidade que ela é plena, em vários momentos já entrou em crise e se descobrir com albinismo fez com que sua família também entendesse melhor a questão. Rafaela Magalhães com o atual companheiro DESCOBERTA - Na infância, por


da e descobriu que estava grávida já com três meses de gestação. Não queria ter um filho com albinismo. “Não saberia como lidar com a criança nesse mundo que não está preparado, em uma sociedade muito excludente. Quando nasceu, a primeira coisa que perguntava se era albina. Só sosseguei quando falaram ‘Rafaela, tem cor’. Quando eu falo isso dizem que eu sou uma pessoa ruim, mas quem vive essa exRafaela Magalhães com a mãe periência, não ção namorar alguém com albinis- quer seu filho ou filha passe por essa dor, que sofra. Óbvio que irá mo. É saber que estou em casa, sofrer com o racismo, mas irá connão ter vergonha, não precisar seguir de algum modo encontrar justificar nada”. cooperações identitárias de representação dentro desse universo, MATERNIDADE - Com uma filha de da sua família. Os albinos não, às 10 anos, revela que a gravidez foi algo muito tenso. Não foi planeja- vezes eles serão os únicos de toda

Rafaela Magalhães com a filha

a sua escola, o único da sala da faculdade, o único no circulo de amigos”, informa a socióloga. “Minha vida foi permeada por esses estigmas. Vivemos em uma sociedade que não aceita as diferenças. Isso é fato! Na minha trajetória, enquanto mulher com albinismo, a questão da exposição solar e a questão da visão é o que mais tem impacto em relação a minha vida prática. Eu ainda acho que sou uma albina muito privilegiada em relação aos albinos, pois eu não tenho nenhuma marca em relação à exposição solar. O que faz com que as pessoas sofram muito mais preconceitos, devido à falta de informação, e pode causar câncer de pele, feridas. Eu uso protetor solar fator 100 e passo de duas em duas horas. Preciso de uma séria de mecanismos ao sair na rua, tais como: usar sombrinha, roupas de manga comprida, entre outros artifícios”. Mas, a socióloga Rafaela Magalhães sabe que esses cuidados são essenciais para ter uma vida com menos problemas em virtude do albinismo. Já em relação aos preconceitos, discriminações e racismo existentes na sociedade, é um problema bem mais complexo a ser enfrentado, tanto pelas pessoas com albinismo quanto por pessoas negras


ARTIGO

A Rede Social de Profissionas Negr@s Q

Arquivo Pessoal

uantos profissionais negros enfrentam ou já enfrentaram problemas na hora de procurar emprego, ou por não ter aquele contato milagroso ou simplesmente por não possuir o “perfil” da empresa?

Por Igor Miranda

Antes de haver uma real evolução da sociedade brasileira, um dos caminhos para amenizar esses problemas seria a criação de redes de relacionamentos profissionais dentro da comunidade negra. Lembrando que esse modelo de organização já foi adotado por outros grupos étnicos no Brasil, como nas comunidades japonesa, judaica e etc. Foi pensando em como viabilizar o surgimento dessas redes profissionais que o AfroProf.com foi criado. Uma rede social exclusiva para profissionais negras e negros que pretende estimular parcerias, contratações e compartilhamento de informações dentro da comunidade. Tudo funciona através de um sistema colaborativo, em que os próprios usuários são livres para publicar oportunidades (de empregos, bolsas de estudos, etc.), contratar pessoas ou se organizar em forma de redes profissionais. Você ainda pode criar parcerias para realização de projetos ou para trocar informações da sua área de atuação. Com o crescimento do número de usuários, muitas possibilidades de utilização poderão surgir. Por exemplo, uma empresa que queira implementar ações afirmativas pode buscar por profissionais negros, inclusive filtrando apenas mulhe-

Em parte, essa situação é consequência de ainda não termos um número expressivo de profissionais negros com qualificação no mercado de trabalho, o que diminui a possibilidade de um vizinho, parente ou amigo ser da mesma área de atuação que você. Poderíamos dizer, então, que a grande maioria dos profissionais negros não possui uma boa rede de relacionamentos profissional. res, caso queira fazer também um recorte de gênero. Ou ainda na busca por profissionais cuja etnia e experiência de vida sejam significativas, como um psicólogo para tratar vítimas de racismo. Simples, intuitivo e com funcionalidades parecidas com as de outras redes sociais, o AfroProf.com será mais uma ferramenta de apoio para combater as desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro, com um detalhe importante: os próprios usuários podem ser os agentes dessa mudança Acesse: www.AfroProf.com

* Engenheiro eletrônico


MÚSICA DA TERRA

“Quem falou, quem disse que eu não podia” Crédito: Pritep

C

om esse trecho da música "Guerrilha", do EP "Sou", Jaqueline Pereira, dá espaço para a Negra Jaque entrar em cena e se expressar por meio do rap. Desde 2006 participando da cultura do movimento Hip Hop e após o fim do grupo de rap gaúcho chamado Pesadelo do Sistema, formado por três mulheres e dois homens, do qual fazia parte, foi preciso assumir uma nova identidade, uma nova postura perante a sociedade enquanto mulher, negra e oriunda da periferia. Porém, garante que o grupo foi um momento de aprendizado e crescimento. Com o fim do Pesadelo do Sistema, do meu casamento e com a responsabilidade de assumir um lar com um filho pequeno, eu optei por não desistir, e fui em busca do corre pela cultura e pelas ideias que acredito. Neste periodo, ano de 2012, conheci a Nação Hip Hop Brasil, que foi a base de minha formação enquanto ativista, na sequência, coletivos de mulheres como a Nação Mulher". Nesse período teve a 1ª coletanea de rap feminino do estado do Rio Grande do Sul, no qual teve os seus trabalhos divulgados, além de ser uma das produtoras. Com isso, aliou outras demandas participando e realizando feiras de Hip Hop, sábados culturais em espaços públicos, entre outros eventos. Com ajuda de um coletivo, lançou o seu primeiro EP independente, intitulado "Sou", com a produção de D'Trinca, Saunespro Records, Ame Produções, LeoJay, DJ Bandeira e MK Sons.

MULHERES NO MOVIMENTO - "Aqui no Rio Grande do Sul, desde 2013, firmamos um pacto de conseguirmos nos organizar enquanto mulheres artistas e produtoras da cultura Hip Hop. Já temos muitos frutos, eventos independentes, além de ter uma

quantidade significativa de gurias na cena de hoje, e isso é muito gratificante. Precisamos cada vez mais nos qualificarmos, já sabemos quem somos, onde estamos", afirma. Com esse tipo de ações, acredita que há um incentivo e fortalecimento no trabalho desenvolvido por cada uma. "Com relação a mulher negra, estamos vivendo um momento de transição importante, de poder e de sermos referências para empoderar outras meninas. Quando uma mulher negra conquista algo, não é só ela que avança, outras avançam junto, pois ela é um exemplo para todas as outras que ainda estão escutando que não são capazes. O fundamental agora é o foco no nosso trabalho e no nosso povo, pois perdemos muito tempo com os não negros tentando nos converncer que não temos os mesmos direitos. Acredito é momento de cuidar dos nossos, é hora de "quilombar", finaliza com um riso nos lábios Escute Nega Jaque no link: https://soundcloud.com/ negrajaque


Divulgação

MULHERES NA SÉTIMA ARTE

As cineastas Cíntia Maria (direita) e Jamile Coelho (esquerda) optaram pela técnica do stop motion por ser um diferencial pouco usado pelas produtoras e por dar volume tridimensional sem usar computação gráfica, porém com toda a liberdade de criação da animação.

O

outras pessoas também fossem tocadas como nós”, revela Jamile Coelho.

Em uma conversa despretensiosa entre colegas de faculdade foi despertado o desejo de conheceram um pouco mais desse universo e foi então que Thyago Bezerra apresentou o roteiro no qual trazia narrativas orais de YáMukumbi Vilma Santos. “Precisamos identificar nossas histórias, nosso legado, nossa cultura matriz. Quando trabalhamos com animação, nós estamos mexendo com o subjetivo, com a imaginação e a criatividade, então quando o roteiro chegou até nós, esse legado nos tocou profundamente. Descobrimos, em nós mesmas, que precisávamos descobrir mais sobre nossas origens e – mais que – isso, precisávamos contar esta história para que

No filme a religiosidade afro-brasileira é abordada pela contação de histórias, tendo a figura do historiador Ubiratan Castro de Araújo (1948-2013) como o griôt. Segundo Cíntia Maria: “O professor e historiador Ubiratan Castro dedicou sua vida à causa da promoção da igualdade racial e combate a intolerância religiosa, mas além de um grande intelectual foi um exímio contador de histórias, tinha o dom de cativar o ouvinte e a todos que tiveram o prazer de alguma forma trabalhar com ele. Tive a oportunidade de aprender muito com o professor Bira, após passar num concurso e ir trabalhar na Fundação Pedro Calmon, mas além de aprender sobre os acontecimentos históricos que marcaram o Brasil e a Bahia, aprendi que alegria, generosidade e amor pelo trabalho tem o poder de transformação e realização. Esse convívio despertou uma grande admiração, após a partida precoce dele para Òrun, surgiu a ideia de homenageá-lo”.

momento agora é delas, as jovens baianas Cíntia Maria e Jamile Coelho dividem a direção do curta-metragem de animação Òrun Àiyé que fala sobre o mito da criação do mundo por meio da religião de matriz africana. A obra fílmica apresenta a trajetória de Oxalá para cumprir sua missão junto a outras divindades.


Crédito: Diane Luz

STOP MOTION - Em um campo dominado por ho-

mens, brancos, acima dos 30 anos e com poder econômico, as meninas mesmo assim escolheram essa técnica para construção de seu filme. “Ser mulher, negra, jovem, oriunda de família de baixa renda e fazer cinema é uma batalha. Fazer animação já são mil batalhas, stop motion você já imagina. Pouquíssimos profissionais, pois é uma arte cara, que exige especialização, tempo, formação. É um desafio a cada foto”. “O stop motion e 2D foram escolhidos devido comunicarem, encantarem e despertarem a paixão em diferentes idades. As divindades e toda a mística da criação do mundo pedem técnicas com mais liberdade de criação. Além disso, queríamos usar o poder da sétima arte e todos os seus elementos para dar visibilidade a aspectos da cultura afro-brasileira povoando o imaginário infantil com a ludicidade dos contos africanos. Por todos esses fatores, a animação se mostrou a técnica ideal”, conta Jamile Coelho.

PARCERIA - A princípio a produção seria apenas de Jamile Coelho e Cíntia Maria faria a produção exe-

cutiva e animação. Porém, essa parceria na direção se deu de forma natural no decorrer da produção. “Como o filme teve um orçamento limitadíssimo, muitas soluções foram encontradas em conjunto. Aliado a isso, enquanto animadora dentro do set de filmagem, várias vezes, ela [Cintia Maria] encontrava a solução para as cenas. E, dentro do longo tempo de produção do filme tive que me ausentar do set e, por várias vezes, ela assumia. Por isso, convidei Cintia Maria para dividir a direção comigo”, diz Jamile Coelho. Entre prosas e risos, Cíntia Maria revela: “Como acompanhei o projeto desde a concepção, acabei interferindo muito mais do que deveria”. Após lançamento da animação em Salvador, o filme está em processo de inscrição em festivais. “Enquanto isto estamos pensando em como iremos distribuir de uma forma que atenda um maior número de pessoas possíveis. E assim reafirmamos o nosso compromisso de difusão nas escolas e em terreiros de candomblé de forma que consigo servi ao propósito no qual o projeto foi concebido, de ser mais uma ferramenta de combate ao racismo e intolerância religiosa”, afirma Jamile Coelho


Ricardo Brasil – O nosso rosto negro na programação da TV pública Fotos: Natasha Montier

Apresentador do programa Cultne na TV, que retrata fatos e personagens da história do movimento negro brasileiro, revela ser um momento muito significativo para a comunidade negra, pois é um programa de televisão feito exatamente para discutir essas questões e feito por “nós” [negros e negras], que considera ser o item mais importante.

Em

parceria com a TV Alerj, uma emissora específica para cobrir os trabalhos legislativos do estado do Rio de Janeiro, e com o Cultne, que preserva a memória do movimento negro através de registros fílmicos desde a década de 1980 até os dias atuais, foi lançado, em dezembro de 2015, o programa semanal Cultne na TV com exibição aos sábados às 21h30 e com reprise aos domingos, às 18h e as quartas-feiras, às 21h. A programação também pode ser acompanhada pelos sites www.cultne.com.br ou www.

tvalerj.tv. Num formato de entrevista cara a cara, um bate papo descontraído, Ricardo Brasil conversa com um convidado sobre a sua trajetória, além de exibir trechos históricos que tenham relação com a sua vida política e cultural. Comenta que houve um longo processo de articulação: apresentar o projeto à emissora, defender a importância de ter um programa nesse sentido no ar, e finalmente firmar o convênio. Os programas estão sendo bem recebidos pelo

público. As matérias externas ficam a cargo do Cultne, quem assume a direção é Don Filó, e a produção é feita por uma equipe do grupo, além de selecionar os vídeos que serão exibidos para os convidados. A TV Alerj entra na parceria com a equipe técnica, com o apresentador, cenário e estúdio. “Em vários momentos eu me emociono durante a apresentação, pois me envolvo muito. Sou bem participativo e fico dentro da notícia. Tem pessoas que não acham isso bacana, mas humaniza


o que estou fazendo e eu sou ser humano. Acho que é projeto que é um sonho da comunidade negra e de repente eu me vejo com essa tarefa. Então, é um orgulho total e me sinto privilegiado de poder ter a oportunidade de colocar o meu nome na construção dessa história. História que foi construída por tantas pessoas importantes, que são tão grandes por tudo que representam, pelo o que fizeram e o que fazem, e eu sou extremamente grato por estar tendo a oportunidade de estar nesse projeto”, revela Ricardo Brasil. REPRESENTATIVIDADE - Segundo Ricardo Brasil é importante ter o programa Cultne na TV, pois acredita que a população vive uma crise de representatividade. Ainda nos dias atuais, o cidadão negro/ negra é retratado na mídia, nos meios de comunicação de forma estereotipada, como marginais, o que não condiz com a realidade. “Nós temos muitos negros e negras que ocupam espaços de poder, que estão nas universidades, fazendo analises e outras milhões de coisas. E como nós acreditamos que negro tem que estar aonde ele quiser e essa representatividade positiva é fundamental para a construção de uma identidade. Essa falta de representação nos mata muitas vezes, nos destrói. Então, eu acho que é importante que exista programas como o

Cultne, muitos programas para poder desmistificar essa ideologia racista que coloca o negro nesse papel de submisso e de inferioridade”, conclui. TRAJETÓRIA - Confessa que desde criança já sabia que queria trabalhar na televisão. Sonhava em ser ator e fez o curso de artes cênicas, no entanto tinha preguiça de sempre ter que participar de teste para algum tipo de trabalho. Nesse caminhar conheceu algumas personalidades que eram suas referências, tais como Zezé Motta, Haroldo de Oliveira, entre outros atores e atrizes negros/negras. Com esse acesso percebeu que essa carreira artística era muito difícil e que a todo instante estavam recomeçando. Faziam um trabalho e depois ficam um longo período desempregados e tinha que recomeçar tudo novamente. Foi quando percebeu que não era isto que queria para ele e foi em busca de outra forma de estar dentro do universo que sempre quis trabalhar, buscou novas alternativas. Com vontade de produzir e realizar cinema negro, entrou na área fazendo assistência de Luiz Antonio Pilar no curta-metragem “Na Boca do Sapo”, logo em seguida, por meio do prêmio Rio Filmes, no projeto Enquadros Negros, que reuniu cinco cineastas negros, dirigiu o seu primeiro filme chamado “Chapa Quente”, com a temática racial e com todo o suporto necessário para essa produção, algo muito raro ainda nos dias de hoje. O filme teve bastante repercussão e foi selecionado para o ano Brasil na França em 2005. Depois recebeu o convite para ir trabalhar na TV Alerj. Uma TV recém inau-

gurada com uma grande oportunidade de experimentar. Apresentou o programa Cultura Urbana por mais de 10 anos. Um programa que mostrava a cultura que acontece nas ruas com os movimentos sociais e culturais. Aprendeu a fazer roteiro, produção, edição. Hoje tem domínio de todas as funções mesmo que não precise fazer sabe o que pedir e sabe quando não está bom. Com isso fez o curso de jornalismo para ter a união da prática com a teoria. “Nós, os negros na televisão, quando realizamos algum trabalho, normalmente é esporadicamente, e eu fiquei cotidianamente ali por anos, produzindo, trabalhando na frente das câmeras e reportando. Nunca mais atuei e me encontrei no jornalismo e pretendo nunca mais sair”, revela. Atualmente, Ricardo Brasil se sente bem seguro e capacitado para desenvolver o seu ofício da melhor maneira possível, pois, teve escola, aproveitou oportunidades, acredita na coletividade


Diretor gaúcho encena espetáculo em companhia estatal alemã Arquivo Pessoal

desta janela. É ao mesmo tempo a representação do espaço privado, o apartamento e do coletivo a Floresta Tropical. Os personagens da peça, Inácio e Graça, vivem no Brasil em um apartamento minúsculo. Por toda parte crescem plantas tropicais em profusão. O ar é úmido e quente. Em uma televisão antiga passa um jogo de futebol, em uma gaiola há um pássaro raro: uma grande arara azul.

O

diretor gaúcho Jessé Oliveira foi convidado para dirigir o espetáculo teatral “O Cavalo de Santo”, da autora Viviane Juguero, traduzida como “Das Pferd Des Heiligen” para a Companhia Estatal Theater Krefeld Und Mönchengladbach, na Alemanha, tarefa que poucos diretores brasileiros desempenharam. Após passar o ano de 2015 fazendo ponte aérea entre Brasil e Alemanha, preparando a montagem e tratando da tradução, adaptação do texto, preparação de elenco, criação de cenário e figurinos, a peça estreou em janeiro de 2016 em Mönchengladbach e depois segue para Krefeld em abril. Anualmente a instituição convida um diretor estrangeiro para dirigir uma obra e desta vez o escolhido foi o diretor gaúcho que já vem desenvolvendo trabalhos de colaboração internacional e apresentando seus espetáculos na Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela e Cuba.

Jessé Oliveira é hoje uma das grandes referências do teatro negro brasileiro à frente do Grupo Caixa-Preta com inúmeros trabalhos acadêmicos enfocando sua trajetória e citado em diversos livros sobre arte e cultura afro-brasileira.

ESPETÁCULO - O Cavalo de Santo

tem sua estética marcada pelo visual tropicalista, especialmente inspirado nos Penetráveis de Hélio Oiticica. A sala onde transcorre a ação é uma espécie de floresta tropical artificial, com plantas e animais plásticos e multicoloridos. Há certa artificialidade que mostra a construção de uma imagem de país que nem sempre coincide com a construção histórica e social oficial. Um casal vive em um apartamento que não possui portas, apenas uma janela por onde se percebe a passagem do tempo, além de receber as mais inusitadas visitas que entram em seu habitat através

Incorporando estereótipos brasileiros, Inácio e Graça conduzem o público pela multiplicidade da identidade brasileira. Cavalo de Santo, na religião afro-brasileira, denomina aquele que manifesta uma entidade ou um espírito do passado. Como em um caleidoscópio colorido os dois se transformam em personagens da vida brasileira: a jovem Graça narra sobre a sua vida entre pobreza e exploração sexual, o turista francês em busca de praias bonitas e sexo fácil, a policial corrupta deixa pagar o seu silêncio e a eliminação de um cadáver. E naturalmente não há como faltar futebol, música, dança e o carnaval brasileiro: símbolos de um país com uma história singular, nutrida pelas culturas dos povos indígenas brasileiros, dos africanos escravizados e dos senhores coloniais europeus. Sendo que as culturas originais foram deglutidas, digeridas, e o inútil expelido, nascendo algo novo, diversificado e próprio. Diz a dramaturga "Há um diálogo entre o sincretismo da religião


afro-brasileira (que representa a parte quente e ativa) e um sincretismo cultural de tipos sociais estereotipados (parte fria e inerte) externalizado em cena nos conflitos morais, ideológicos e pessoais presentes da subjetividade de Inácio, um típico representante do pensamento e da ação de senso comum de um brasileiro trivial. A relação de exploração de Inácio sobre Graça simboliza as relações de exploração presentes em distintas relações sociais brasileiras, além de denunciar uma sociedade machista, onde a violência contra a mulher está tão arraigada nos atos cotidianos que perde a sua cor

e se esvai como reações naturais e aceitáveis. Cavalo de Santo é uma reflexão crítica, mas também afetiva, de brasileiros sobre seu país. Os conflitos vividos na carne são os mais intensos e sua elaboração pela arte torna o singular universal, viabilizando distintas reflexões por meio de identificação e analogia, o que ratifica a importância da apresentação desse espetáculo para um público estrangeiro”. O diretor Jessé Oliveira vive e trabalha em Porto Alegre, capital do estado mais ao sul do Brasil. Em 2002 fundou, em conjunto com outros integrantes atores e

militantes do movimento negro, o grupo teatral afro-brasileiro Caixa Preta, com o qual trabalha principalmente encenações de clássicos, associando tradições afro-brasileiras com mitos e arquétipos contemporâneos. Ele trabalha em cooperação com a escritora Viviane Juguero, que escreveu a peça Cavalo de Santo para o projeto teatral não-europeu do Teatro de Krefeld e Mönchengladbach. Até hoje dirigiu mais de 40 peças e foi convidado para diversos festivais no Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela, Chile e Cuba. Jessé Oliveira trabalha pela primeira vez na Europa

Reprodução da Internet

Momento Histórico: Marcha das Mulheres Negras no Brasil

O

tambor tocou lá e ressoou nos quatro cantos do país. No dia 18 de novembro de 2015, na capital federal, Brasília, cerca de 50 mil mulheres ocuparam as ruas em prol do combate à discriminação racial e pela ampliação das políticas públicas de promoção da igualdade de direitos. Em uma construção coletiva, a Marcha das Mulheres Negras, congregou militantes do movimento negro,

ativistas femininas, representações de diversos estados, autoridades internacionais, crianças, jovens, adultas e idosas, além de intelectuais e artistas, em uma contundente mostra de articulação que se transformou em momento único que irá ficar marcado na história desse país. Segundo a assessora de comunicação da ONU Mulheres Brasil, Isabel Clavelin, as mulheres estão

reafirmando a sua condição de sujeita política e liderando a luta contra o racismo e o sexismo. “A Marcha das Mulheres Negras foi um processo muito rico. Mostrou a nossa força política, agregou novas lideranças e reaproximou ativistas. Foi lindo ver Brasília repleta de mulheres negras, como resultado de um processo organizativo autônomo e com a cara das mulheres negras. Precisamos nos manter ativas politicamente frente


à ação do racismo e da violência que violam os nossos direitos todos os dias, assim como reivindicar um viver pleno com preservação da nossa identidade negra”, avalia.

mulheres que ali estavam presentes percebemos que não foi fácil a construção da Marcha, porém em cada andar, em cada esquina, era possível ver um sorriso amplo em seus rostos, em outras lágrimas

Isabel Clavelin - a primeira da esquerda para direita de vermelho Para a jovem mineira Ayana Odara que faz parte do N’zinga, coletivo de mulheres negras, esse foi um momento de valorização e aprendizado com as mais velhas. “Eu acredito que, enquanto juventude que milita no movimento negro, momentos como a Marcha nos fazem aprender e nos encoraja a continuar na luta. Dividir espaço com as mulheres que fizeram e fazem história no feminismo negro a nível mundial faz com que sejamos gratas e empoderadas para seguir os passos por elas criados. Sabemos o peso e a beleza que é ser uma mulher negra forte”. Em entrevistas com diversas

Ayana Odara caindo até encontrar um conforto em outro abraço apertado pelo caminho. Tantos sotaques se cruzavam e falavam o mesmo dialeto,

respiravam e inspiravam força, energias, informação e garra para permanecer na luta. Por se tratar de um momento histórico, a historiadora Priscila Pereira, do Coletivo Oluchi Turbantes e do Fórum Livre de Mulheres Negras do Rio Grande do Sul, juntamente com outras mulheres negras gaúchas se organizaram para se fazer presente. “O dia 18 de Novembro de 2015 foi um dos dias (se não o dia) mais importante da minha vida. Não sei explicar direito o que senti e o que vivi lá. Desde quando coloquei os pés no aeroporto e vi muitas pretas chegando, quando entrei no acampamento e vi milhares de mulheres negras juntas eu só consegui pensar: Por todas as forças femininas do mundo...o dia da Marcha chegou! Tiveram muitos que duvidaram, muitos que sempre se colocaram como apoiadores e no momento que mais precisamos nos deram as costas. Acharam que iríamos fracassar. Mas fizemos a #marchadasmulheresnegras entrar para a história. Atropelamos os fascistas racistas e passamos por cima dos seus privilégios brancos. Mostramos nossa diversidade de cores e mostramos o que existe de mais resistente nesse país: Ser Negra Mulher! Não iremos mais tolerar quem nos silencia e quem não nos dá ouvidos. A cota de paciência das mulheres negras se esgotou!


Priscila Pereira - primeira da direita para esquerda de vermelho

Foi lindo e arrepiante sentir essa energia, foi lindo estar entre as mulheres que me referenciam. Eu não serei mais a mesma, e o Brasil também não. A força negra feminina desse dia causará transformações!", afirma.

Contudo, nesse processo, diferenças foram superadas e a Marcha das Mulheres Negras foi vitoriosa, pois se oportunizou falar de nós mesmas Fotos da matéria de arquivo pessoal. Crédito: Camila de Moraes

Crédito: Camila de Moraes

Reprodução da Internet


CANSADOS DE SERMOS AS PESSOAS ERRADAS Crédito: Quênia Lopes

Por Camila de Moraes

S

egundo a Anistia Internacional Brasil, que tem uma campanha chamada “Jovem Negro Vivo”, só no ano de 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no nosso país, sendo que 30.000 eram jovens, entre 15 e 29 anos, e desse total, 77% são negros. Isso mostra que continuamos tendo nossas vidas interrompidas, pois quando se extermina um jovem negro toda uma família fica desestruturada, destruída. Por conta desses dados, por conta dessa realidade que é tão nossa (infelizmente) e para tentarmos mudar de alguma forma, no início do ano de 2016, nos organizamos para realizar a produção do documentário “O Caso do Homem Errado (Existe Homem Certo?)”, que pretende abordar essa temática e o caso

de Júlio César, um operário negro gaúcho que foi executado pela polícia na década de 1980. Um inocente confundido com um assaltante foi sentenciado à morte. Qual o direito que alguém tem em poder tirar a vida do próximo? Que julgamento é este? Basta apenas uma bala para acabar com nossas vidas. Contra o direito de matar pessoas negras, contra o extermínio diário de jovens negros em todos os estados brasileiros e contra essa violência cotidiana permanecemos na luta em estado de vigília.

Amarildo de Souza – Presente! Cláudia Silva Ferreira – Presente! Júlio César de Melo Pinto – Presente! Luana Barbosa dos Reis - Presente!

Para colorir as páginas policiais N Arquivo Pessoal

o Brasil, em 2014, mais 58 mil pessoas foram mortas violentamente. A segunda causa desses assassinatos foi a ação da polícia, um índice maior de mortes que a dos latrocínios. Só no Rio de Janeiro, em 2015, mais de 1000 pessoas foram assassinadas pelas forças de segurança. As vítimas, mais de 80%, são jovens, negros e moradores da periferia. Uma geração inteira perdida.

Por Mariani Ferreira

A polícia, geralmente mal treinada e remunerada, está inserida numa política de segurança pública militarizada voltada para a repressão. Um discurso que criminaliza a população negra e periférica. Além disso, ainda existe, na sociedade, grande aceitação das execuções cometidas pelos agentes das forças de segurança principalmente devido à


forma como normalmente esses crimes são retratados, ou deixam de ser retratados, na grande mídia. Por um lado, há aqueles que incitam nos meios de comunicação a ação desses “cachorros loucos fardados”, por outro, há um silêncio ensurdecedor a respeito dessas mortes. Versões oficiais para os chamados "autos de resistência" – que foram tipificados na lei durante a ditadura militar – comumente se tornam matérias parciais e desumanizadoras. Toda vez que um apresentador de TV grita que “bandido bom é bandido morto”, uma arma é disparada na favela. Nesse contexto, chacinas como a de Costa Barros, no Rio; Cabula, na Bahia; e Osasco, em São Paulo, se tornaram fatos corriqueiros, facilmente esquecidos por conta do mais recente escândalo político ou

A

casamento de famoso. Os jovens Wilton Esteves Domingos Júnior, Wesley Castro Rodrigues , Cleiton Corrêa de Souza, Carlos Eduardo da Silva e Roberto de Souza Penha são exemplos recente dessa perversidade. Os 111 tiros que acertaram o carro em que os meninos estavam foram disparados muito antes da noite de 28 de novembro, por mãos diversas que não apenas as dos policiais envolvidos. Até quando o sangue negro servirá apenas pra colorir as páginas policiais? *Jornalista, roteirista e cineasta

O real imaginário genocida

Integrei um trabalho pioneiro para denunciar esta parceria mórbida, entre imprensa e polícia, realizado entre os anos de 2009 e 2013 sob coordenação do Centro de Comunicação Democracia e Cidadania (CCDC) da UFBA. Durante este período monitorou-se os programas policialescos de televisão e jornais populares fixados na capital baiana. Auxiliados por organizações sociais, em especial a Cipó Comunicação, foram identificadas as violações mais recorrentes e repassadas a parlamentares, promotores, juízes, defensores e grupos de mídia. Foi comum registrar uma reportagem ir cobrir um corpo no chão após uma batida policial, e sentenciar, sem provas, que, além de traficante, o sangue negro escorreu por causa de resistência a voz de prisão, o chamado “auto de resistência”. Também é corriqueiro filmarem dentro de uma delegacia, retirar alguém da carceragem, que deveria estar sob salvaguarda do Estado, e expor sem acesso

a um defensor ou advogado a fim subtrair falsas confissões sob tortura, a serem utilizadas contra o próprio acusado. Há ainda casos de crianças a serem entrevistadas após sofrerem abusos sexuais; homossexuais, profissionais do sexo e transexuais passando por situações vexatórias para alimentar o escárnio; e, muito mais. O perfil majoritário das vítimas não é novidade: homens, jovens, negros, residentes nos bairros populares. A grande maioria presa é inocentada posteriormente pela justiça. Eles são fontes de reportagens que praticam crimes por si só, além de legitimar crimes policiais. São cúmplices e agentes de

Arquivo Pessoal

o pensar nas estruturas que sustentam o genocídio, somos remetidos costumeiramente aos sistemas midiáticos. Parece não haver dúvidas sobre as consequências de um imaginário construído a fim de inferiorizar o valor das vidas negras. As novelas, filmes, programas de auditório e propagandas são os que mais provocam debates. Todavia, é no jornalismo que a violência se articula com maior latência e crueldade às práticas terroristas do aparato policial.

Por Pedro A. Caribé

violações mentais e psicológicas, que por sua vez, segundo a legislação brasileira (Lei 2.889/1956), têm peso equitativo às ações físicas nas práticas genocidas. Não satisfeitos, estes criminosos ainda alcançam mandatos nas casas legislativas e até no executivo brasileiro. Lá fazem de tudo para manter e abrir novas concessões de radiodifusão e verbas publicitárias governamentais, bem como uma polícia armada para caçar negros *Jornalista e Coordenador da rede de mídia livre Bahia1798 Doutorando em Políticas da Comunicação e Cultura UNB


Reprodução da Internet

Loja virtual apóia empreendedorismo negro

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Na loja virtual, os produtos comercializados são acessórios femininos da marca Eva Flor; bonés e pulseiras masculinos produzidos pela Ed ArtStyle; agendas artesanais da EuCriei; colares, headbands, bodychain, brincos e outros acessórios da Cândida

Mercado de Kejetia - Situado em

Kumasi e com mais de 10 mil lojas é um dos grandes responsáveis pelo movimento econômico do

país. Considerado o “Coração de Kejetia”, cerca de 70% das vendas são realizadas por mulheres. E no Brasil, por conta desses dados, segundo os fundadores, nasceu à loja virtual Kumasi, no início do ano de 2016. Acesse: http://www.kumasi.com.br

Lucas Santana, Monique Evelle e Neuza Nascimento

Divulgação

enominada Kumasi, nome da segunda maior cidade de Gana, a loja virtual reúne marcas criadas por empreenderes negros de Salvador/Bahia, que buscam valorizar a história e cultura afro-brasileira por meio da linguagem urbana. Fundada pelas baianas Neuza Nascimento, Monique Evelle e o baiano Lucas Santana, além de ser uma plataforma online, o grupo, em parceria com outras instituições, ofertam apoio logístico e treinamentos em gestão para os empreendores que participam do negócio.

Dide; além de marcas de roupas da Griô Rei, Desabafo Social e Casa da Nêga.


DICA DO SALÃO ROSAS NEGRAS Fotos: Reprodução da Internet

Q

Por Elisia Santos

uem nunca se deparou com uma pessoa albina na rua? Quem nunca se perguntou sobre as discriminações que devem sofrer? Acredito, que assim como, para mulheres, negros e gays para superar preconceitos é um grande desafio e sempre será preciso vencer um dia após o outro e para eles e elas não deve ser diferente. O albinismo não é uma doença, “mas uma alteração genética caracterizada pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelo e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina”.

A pele albina é mais delicada, por isso a necessidade do uso do protetor solar diariamente, os cabelos são loiros ou brancos e os olhos de coloração azul-claro e rosado, além disso, deve-se ter o cuidado com problemas na visão, pois eles sofrem com a fotofobia, nistagmo e astigmatismo. Protetor solar, hidratantes, chapéus e óculos escuros, são mais do que essenciais para proteger a pele dos efeitos nocivos do sol. Ao procurar modelos albinas nos deparamos com a belíssima advogada e modelo sul-africana Thando

Hopa que em um depoimento à BBC, ela afirma que "decidiu", um dia: "Vou ser estonteantemente linda" e esta é a proposta da Acho Digno, que todas sejam LINDAS! A maquiagem deve ser hipoalergênica, por conta da delicadeza da pele. Esta tem a tendência a ter a coloração mais rosada, por conta disso deve-se usar corretivo verde claro, outra alternativa são as sombras amarelas, assim irá matizar o efeito rosado. A maquiagem deve ser o mais suave possível, são sugeridas sombras amarelas, marrom para marcar o côncavo, e um roxo esfumado, abuse do blush marrom ou pêssego. Sobre os cílios: pode alongar, dar volume e curvar, usar bastante a máscara na cor preta, mas se preferir algo mais discreto, pode usar a de cor marrom escuro, não se esqueça de pintar a sobrancelha. Os olhos devem ficar bem delineados e os cantos externos dos olhos devem ser contornados. Desenhe os lábios com lápis e passe o batom. O rosa pink, lilás, vermelho ficam muito bem em pessoas de pele albina.

Crédito: Andréa Montenegro

Outra opção são os desenhos japonês chamados Chobits, que podem ajudar na escolha de maquiagens, como mostrado na foto ao lado. As dicas sugeridas devem ser seguidas a depender do momento, o bom senso é “carro chefe” na maquiagem, aproveitem os festejos e muito rímel para nós



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