Tecnologia e Vida - A Ética dessa relação

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Temos aqui um debate sobre o conflito potencial entre a nossa finitude existencial e física e a infinitude, que seria um prolongamento da vida. Mas entendemos que a infinitude é o potencial de contribuir, e nossa existência física é realmente finita. Mas como saber qual o momento em que essa finitude pode ser estabelecida? Como lidar quando chega a hora em que a notícia do término da nossa existência é dada? Quando uma doença é revelada e o tratamento já não pode propiciar uma esperança, ou uma cura, ou uma reparação? Como estar preparado? Como se preparar para isso? Claramente o texto bíblico, sempre entendendo que nesse aspecto o texto bíblico não precisa ser visto só como um texto religioso, ainda que assim o seja, mas como alegorias que nos permitem construir elaborações e significados relevantes da vida. Cito uma passagem de um personagem chamado Jacó, em que ele luta, ele luta com um mensageiro, com um suposto mensageiro de origem desconhecida, talvez um mensageiro divino, mas de origem desconhecida. E aí essa luta vai prosseguindo, em algum momento querem se desagarrar dessa luta, mas um diz para o outro, me liberte dessa luta. Aí o outro responde: só deixo você ir se você me abençoar. Fazendo uma interpretação metafórica, talvez a gente consiga estar mais preparado com o momento da notícia da morte se a gente transmite benção, se a gente transmite benção à nossa vida. Quando a gente não transmitiu benção, aí vai ser mais difícil, porque uma frustração, um vazio muito forte pode bater. Quando recebemos a notícia da nossa finitude, uma notícia que muitos dos médicos são obrigados, por força da sua atividade, a transmitir ao doente ou eventualmente à sua família também. Nesse momento, vocês provavelmente sabem muito melhor do que eu, quando há uma vida cuja extensão de anos ainda não é aquilo que a gente imagina como devidamente prolongada, há uma mudez, há um choro, um choro às vezes expresso com lágrimas, às vezes expresso com soluço, ou um choro silencioso, porque uma ordem é revertida. A gente acalenta o viver permanentemente, então, diante de uma notícia de doença, sobretudo até de alguém ainda mais jovem, há uma reversão dessa ordem, há um caos, ou a família fica desestruturada, porque uma referência potencialmente vai ser perdida. E, num passo seguinte, depois dessa mudez, há a possibilidade de reação da negação. Negar a informação. Depois de negar a informação, uma raiva pode tomar conta. E finalmente, pode vir o novo passo, a racionalização do sofrimento, seja da doença ou do fato de saber que é uma doença que vai culminar com o falecimento. Não é infrequente racionalizar esse sofrimento através de uma negociação com Deus. As pessoas começam a tentar negociar com Deus. E aqui, como rabino, como líder religioso, afirmo, nessa negociação com Deus, em que se busca, se Deus me curar eu farei isso, aquilo, etc., nessa negociação com Deus diante de uma doença, se a religião concede isso, autoriza e permite, a

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