O Cinquentenário de Formatura da 1a Turma de Medicina da Universidade de Brasília

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cutiu indelevelmente em meu espírito, cravando uma indisfarçável certeza de retorno, que mais tarde veio concretizar-se, levando-me a fincar raízes profissionais e familiares que se estende até a presente data. Concluído o curso médico, e já aceito para o programa de cirurgia geral na cidade do Rio de Janeiro, resolvi especular com uma visita à Brasília, mesmo desprovido de qualquer arranjo ou comprometimento prévios. Informado por colegas que a Universidade de Brasília estava implantando o seu hospital escola, dirigi-me até a Unidade Integrada de Saúde-UISS onde fui recebido pelo coordenador de cirurgia, o professor Hélio Ferreira Barbosa. O curso de medicina estava cumprindo as etapas curriculares iniciais e o hospital se preparava para o desempenho do ensino protocolar. O programa da cirurgia geral já continha em sua grade o treinamento em cirurgia geral, cujos detalhes estavam sendo ultimados. Mesmo assim, considerando que o início desse programa estava previsto para o próximo ano, consegui, com insistência e senso de desprendimento e disponibilidade, convencer o professor Hélio, que após consulta à sua equipe, resolvesse aceitar-me. Admitido como primeiro residente de cirurgia da UISS, restou-me a gratidão e a consciência de que o acontecimento consagrou a minha volta a Brasília cursando um aprimoramento que constituiu num marco profissional incontestável. O êxito dessa escolha foi colimado pelo convite em permanecer no hospital, na qualidade de docente, condição que permaneci até a minha aposentadoria. No contexto dessa história, vale relatar o entusiasmo de que fui tomado ao fazer as escolhas acima referidas. Para começo, identifiquei-me amplamente com a linha programática do ensino a ser executado, baseado no conceito da medicina integral e comunitária eivada dos conceitos da multidisciplinaridade e da ênfase aos critérios social e epidemiológico. O médico integral advindo dessa formação era capacitado em sólidos e consistentes valores humanísticos. Acrescento que essa experiência de ensino e prática médica proporcionou-me estender as minhas lealdades e reforçar as minhas convicções. É oportuno inserir nesse relato que o país experimentava, naquele momento, uma influência marcante derivada do movimento sanitarista-desenvolvimentista, que procurava influenciar tanto na elaboração do currículo do ensino acadêmico, como na cobertura dos serviços médicos brasileiros, dando um novo formato a estruturação no campo dos recursos humanos em saúde. Esse movimento era liderado pela Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, que conseguiu estabelecer um marco político-institucional e simbólico, proporcionando mudança e entendimento do papel de políticas públicas de saúde, e consequentemente dos seus profissionais, no campo deste desenvolvimento social e econômico dos países latino-americanos. Para enfrentar a realidade sanitária do país o suporte desses objetivos projetava condicionantes para formar um profissional de saúde mais atento às circunstancias e a nossa realidade nacional e regional. O método de ensino tinha que ser aprimorado, fazendo-se a conexão das ciências sociais com a saúde, deslocando-se da medicina social para a saúde coletiva. O escopo da medicina integral associava-se intrinsecamente a uma sólida formação na prática médica, 36

O Cinquentenário de Formatura da 1ª Turma de Medicina da Universidade de Brasília: 1970 - 2020


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