
Compartilhar conhecimento e aprender com o próprio ensinamento

Compartilhar conhecimento e aprender com o próprio ensinamento
A Revista Abit Review é uma publicação digital da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – Abit , com artigos de convidados que aceitam compartilhar experiências e conhecimentos com outros profissionais e empresários do setor T&C. Periodicidade quadrimestral.
Fernando Pimentel (Dir. Superintendente da Abit), Rafael Cervone (Superintendente Área Internacional), Lígia Santos (Comunicação), Luiza Lorenzetti (Sustentabilidade e Inovação), Camila Zelezoglo (Sustentabilidade e Inovação), Patrícia Pedrosa (Comércio Exterior), Oliver Tan Oh (Inteligência Competitiva), Haroldo Silva (Economia), Sylvio Napoli (Normas e Regulamentos), Julieta Pagliuca (Eventos e Novos Projetos), Antonio Carlos Cambauva (Eventos e Novos Projetos), Roberto Lima (Comunicação) e Leandro Mira (Comunicação)
Coordenação Editorial: Ligia Santos – MTB 19141/SP
Diagramação e Arte: Leandro Mira
Fale com a redação (cartas e sugestões de artigos): lisantos@abit.org.br
Anúncios e Patrocínios:
Antônio Carlos Cambauva: antonio.carlos@abit.org.br (11) 3823 6192 / (11) 98455 8545
em ordem alfabética:
Camila Zelezoglo (Abit) camila@abit.org.br
Helcio Honda (Hondatar) contato@hondatar.com.br
Luiza Lorenzetti (Abit) luiza@abit.org.br
Renato Meirelles (Instituto Locomotiva) contato@ilocomotiva.com.br
Romano Campese (CARE Applications) romano@careapplications.com
Claudia Cicolo (Confecções T.Christina) comunicacao@tchristina.com.br
A Revista Abit Review é enviada para todo mailing de associados e engajados da entidade (empresários do setor, fornecedores, profissionais, acadêmicos, pesquisadores, autoridades de governo, imprensa, estudantes e formadores de opinião). Se você quer receber a Abit Review clique aqui
Chegamos à décima edição da Abit Review, consolidando este espaço como uma vitrine de ideias, tendências e boas práticas que traduzem a transformação em curso na indústria têxtil e de confecção. Uma transformação profunda, que tem como pilares a sustentabilidade, a inovação e a responsabilidade social — dimensões centrais de uma nova economia que se desenha diante de nós.
Nesta edição especial, colocamos no centro do debate os caminhos que se abrem rumo à COP 30, em Belém. A chamada da capa foi construída a partir da entrevista com Ricardo Voltolini, da Ideia Sustentável, um dos mais respeitados especialistas brasileiros em sustentabilidade corporativa, antecipa as principais tendências que devem pautar as negociações e compromissos globais sobre o clima. É um alerta e, ao mesmo tempo, um convite para que o setor reforce seu protagonismo na construção de soluções que conciliem crescimento com responsabilidade ambiental.
Outro destaque importante é a cobertura da última edição da Global Fashion Agenda, que reúne lideranças do setor da moda com o objetivo de acelerar a transição para uma indústria mais circular e regenerativa. O evento, cada vez mais relevante, reforça o papel das cadeias globais na promoção de práticas sustentáveis e éticas — um tema incontornável para as empresas brasileiras que desejam competir nos mercados mais exigentes.
Abordamos também os avanços em tecnologias mais limpas aplicadas aos processos de beneficiamento têxtil e de confecção. O desenvolvimento de soluções que reduzam o consumo de água, energia e produtos químicos não é mais apenas uma vantagem competitiva — tornou-se um imperativo ético e regulatório. Felizmente, a
indústria tem respondido com criatividade e resiliência, investindo em inovação e colaborando com centros de pesquisa e startups.
Mas as transformações não são apenas técnicas. Esta edição traz uma análise instigante sobre a crescente preferência de jovens por empreender, em vez de buscar empregos tradicionais. Esse movimento revela mudanças culturais profundas e aponta para novas formas de trabalho e organização produtiva, que exigirão das empresas mais flexibilidade, escuta e capacidade de adaptação.
A Abit Review também abre espaço para exemplos inspiradores de responsabilidade social. A atuação do Instituto Hondatar, apoiando populações vulneráveis com programas voltados à educação, empregabilidade e dignidade, mostra como o setor privado pode ser um agente efetivo de inclusão e transformação. Iniciativas como essa se conectam ao compromisso da indústria com o desenvolvimento humano e territorial.
Completam esta edição matérias sobre governança, equidade, consumo consciente e outros temas que atravessam a agenda ESG. Todos esses conteúdos reforçam nossa convicção de que a sustentabilidade não é uma agenda acessória — ela é estruturante. É parte do próprio modelo de negócio que queremos construir para o futuro.
Por isso, celebrar os dez números da Abit Review é, também, reafirmar nosso compromisso com a evolução contínua do setor. Agradecemos a todos que nos acompanham, colaboram e compartilham conosco essa jornada. Que as páginas desta edição inspirem reflexões e ações concretas, dentro e fora das empresas.
POR:
Ricardo Steinbruch Presidente do Conselho de Administração Abit
Fernando Valente Pimentel Diretor-superintendente e presidente emérito da Abit
COP30 e as tendências para o futuro sustentável Ricardo Voltolini, da Ideia Sustentável, desvenda Top Trends da COP30, financiamento climático, adaptação e justiça climática para um Brasil sustentável.
Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos..................................................................... 18
Brasil na Conferência da ONU sobre Oceanos: Compromisso de desmatamento zero de manguezais até 2030 e proteção da Amazônia Azul.
Transformando Realidades com Educação e Oportunidade.......................................................... 22
O Instituto Hondatar capacita 500 alunos da Comunidade Mario Cardim com cursos profissionalizantes, visando transformar vidas e promover dignidade.
Congresso Internacional Abit Celebra 10 Anos com Foco na Produtividade................................24
Um apanhado histórico do Congresso e o foco 2025 na produtividade
Entre barreiras e pontes.......................................28
Global Fashion Summit 2025 debate barreiras e pontes para moda sustentável: regulação, água, justiça trabalhista e circularidade. Busca cooperação e inovação.
Resiliência Hídrica 2025: A Estratégia da União Europeia.. ................................................................32
Estratégia da UE para Resiliência Hídrica 2025: Combate à escassez, gestão eficiente e acesso universal à água em clima em mudança.
Tecnologias Avançadas para a Sustentabilidade e Eficiência na Produção Têxtil...................36
Tecnologias inovadoras visam produção sustentável e eficiente. Economizam água, energia e químicos (até 90%), otimizando processos.
Reciclagem Têxtil em Foco..................................38
Evento WCEF na Abit mapeia desafios da reciclagem têxtil no Brasil. Foco em separar resíduos, mudar percepção do consumidor e ter incentivos fiscais para circularidade.
Responsabilidade Social que Transforma.......42
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) transforma negócios, engaja colaboradores e gera impacto positivo em pessoas e meio ambiente, demonstrando que propósito e lucratividade podem caminhar juntos.
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Carteira Assinada Morreu? 32
A carteira assinada perde atratividade para jovens, que preferem autonomia. Indústria têxtil paulista enfrenta dificuldade em contratar, apesar do mercado aquecido, precisando repensar o modelo tradicional de trabalho.
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Empresas investem e são reconhecidas por iniciativas da agenda ESG e ODS.
Estudo mostra os 6 macrotemas e 22 tendências que a Conferência em Belém irá discutir
Ricardo Voltolini iniciou a carreira como jornalista. Após anos cobrindo a área ambiental, desde a ECO 92, decidiu criar a própria empresa orientada por uma causa. Começou atuando com investimento social privado, depois responsabilidade social e aí desembarcou na sustentabilidade 1.0. Sim, Voltolini classifica a história da sustentabilidade em: 1.0, que é fase mais reativa, 2.0 mais proativa, até chegar aos dias atuais com ESG. São quase três décadas gerando muito conteúdo através da Ideia Sustentável: 570 encontros pelo Brasil, mais de 50 mil líderes treinados, 2 mil palestras e workshops, 12 livros, e cerca de 350 empresas atendidas. Voltolini conversou com a Revista Abit Review sobre a COP 30 e sobre o Estudo que fez sobre as Top Trends dessa Conferência do Clima que será realizada em Belém.
AR – A Ideia Sustentável, hoje uma das mais antigas consultorias da área e grande geradora de conteúdo e capacitação em ESG, nasceu já fazendo pesquisas?
Ricardo Voltolini: Pois é, quando a gente criou a revista, a gente também criou uma ferramenta que tem nos acompanhado aí ao longo de 15, 20 anos, chamada Observatório de Tendências, que é, na verdade, uma metodologia que a gente usa para identificar tendências relacionadas com os temas de sustentabilidade e aprofundar essa conversa, né? Então a gente já fazia estudos de tendências desde o princípio. Criar uma discussão em torno das tendências. Então, nos últimos tempos, a gente tem produzido, pelo menos uma vez por ano, um grande estudo.
AR - Então, continuou sendo jornalista, realizando estudos e publicando?
Ricardo Voltolini: Cumprindo aí até uma vocação nossa, que é meio de think tank. A gente nasceu um pouco com esse jeito. Então, a empresa, jornalista, comunicação. Sempre tivemos uma preocupação de como é que a gente se conecta com o mundo. Não adianta produzir conteúdo e ninguém sabe da existência desse conteúdo, né? Portanto, a gente sempre teve uma linha de eventos voltados para liderança empresarial. Éramos uma empesa de nicho, falando com iniciados no tema da sustentabilidade. E agora, mais recentemente, a gente fez a aplicação do Observatório de Tendências, já com o uso da inteligência artificial. Porque na época que a gente fazia, você imagina, tinha que ir atrás e caçar analogicamente os dados, as informações. Era mais complicado, levava mais tempo para você formar uma base de dados. Hoje não. Hoje é mais rápido. E a partir de uma pesquisa que a gente chama de prospecção via IA, a gente aprofunda o que poderiam ser tendências de um determinado tema e, depois, submete essas tendências a uma ponderação de especialistas que estão como equipe satélite da Ideia Sustentável. Profissionais que a gente conhece há muitos anos, que já trabalharam com a gente em muitos momentos. Esse foi o processo desse estudo das Top Trends para COP 30. São cerca de 22 trends que se abrigam em seis macrotemas. Cada macrotema teve a análise de três especialistas muito conceituados.
AR Quais seriam esses macrotemas?
Ricardo Voltolini: São Redução das emissões de gases de efeito estufa; Adaptação às mu-
danças climáticas; Financiamento climático; Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono; Preservação das florestas e da biodiversidade; e Justiça climática. Cada um desses seis grandes temas tem 3 ou 4 temas de tendência, num total de 22 trends. A gente pegou esses temas todos, submeteu cada um deles a 3 especialistas de cada área que tinham que atribuir uma nota de 1 a 5, considerando 5 a nota mais alta, 1 a mais baixa de importância, considerando dois critérios: primeiro critério, a probabilidade de ocorrência desta tendência nos próximos 2 anos, um curto prazo; segundo critério, o impacto desta tendência para empresas. Depois, acrescentamos um terceiro critério devido a COP 30, que é o nível de oportunidade para o Brasil que aquela tendência representa. Mais da metade das tendências trazidas não entraram entre os top trends. As que entraram foram que os especialistas entenderam que eram as mais importantes, atendendo os três critérios.
AR - Após analisarem as 22 tendências, você visualiza oportunidades para o Brasil? E para os empresários brasileiros?
Ricardo Voltolini: Bom, uma boa pergunta essa. Acho legal mesmo a gente começar por ela, que a verdade é, a COP30, ela não é uma COP trivial. Eu participei de várias COPs, estive em vários momentos. E as COPs, invariavelmente, elas são frustrantes por “n” razões. Primeiro, o mecanismo de consenso, que é o mecanismo que a ONU toma as decisões, é muito complexo. Consenso é difícil encontrar numa família de 6 pessoas, 5 pessoas, que dirá 193 países, né? E cada país com seus interesses econômicos e as suas defesas. As últimas 2 COPs aconteceram em países produtores de petróleo, o que significa, para usar uma metáfora popular muito conhecida, raposa tomando conta de galinha, quer dizer, lugares que estão na mira de discussão hoje no mundo, né? A COP é uma Conferência das Partes que nasceu em 1992, que hoje está muito orienta-
da pelo Acordo de Paris de 2015, cujo grande objetivo, se a gente puder sintetizar, é manter a temperatura do aumento médio do Planeta em 1,5 grau Celsius. Então todo mundo entende que esse é um esforço que os países precisam fazer. Portanto, a COP30 será crucial. É a primeira grande Conferência a acontecer numa floresta, porque a floresta amazônica está no quintal de Belém. E, na verdade, a floresta é o quintal do mundo hoje, né?
AR Ou seja, é uma provocação ao contrário, né?
Ricardo Voltolini Exatamente. Por coincidência, a cada 5 anos os países voltam a rever suas metas e apresentá-las. Isso aconteceu em 2015, 2020 e 2025 vai acontecer na COP 30. É o momento em que os países virão ao Brasil para rever suas metas e todos nós esperamos que essas metas sejam mais ambiciosas. Ou teremos problemas para manter a temperatura em um ponto e meio. É bom sempre lembrar que ano passado foi o ano mais quente da história humana. Chegou a 1.55 grau Celsius e a gente começou já começou esse ano, em janeiro, com 1.75 grau acima. Claro que são eventos pontuais, isso tem que ser medido ao longo dos anos, mas estamos num momento extremamente desafiador para a humanidade. Mas olha, olha como o quadro vai ficando complexo, né? A gente teve a eleição do Donald Trump, do segundo maior emissor de gases de efeito estufa do Planeta, e ele praticamente disse “Não quero mais jogar o jogo, estou fora, se virem. Estamos fora do Acordo”
AR –O que a gente espera ver nessa COP?
Ricardo Voltolini: Assim, é uma situação complexa. O que que a gente espera ver nessa COP? Ela não tem nada de trivial, vai ser uma COP extremamente desafiadora. Estamos todos muito curiosos para ver qual o posicionamento de metas dos países europeus que estão em crise econômica. E tem um novo jogador nessa história chamado Chi-
na, que já percebeu que esse vácuo regulatório, com a saída dos Estados Unidos, pode ser uma grande oportunidade para também querer sair. Mas esqueçamos China, esqueçamos a Europa. Vamos falar do Brasil. Não temos o problema de fonte energética fóssil como a Europa. Nossa energia é uma energia limpa, na média 75% da matriz é muito limpa, renovável. Qual é o nosso problema? Desmatamento. Então, quando a gente derruba a árvore, o que que acontece? Diminui a área verde e a capacidade de capturar carbono e armazenar carbono no solo. Então, o que que o Brasil precisa fazer? Mostrar que está controlando o desmatamento e parece que está. Os números são bons, comparativamente são bons. Retomamos as rédeas em relação ao ano passado. Houve uma contenção aí de desmatamento em vários biomas. Mas é uma briga dura, né? Melhorou a Amazônia, o Cerrado piorou um pouquinho, mas enfim, tem aí um esforço de investir no controle. Então, foram reorganizados os órgãos ambientais. A fiscalização aumentou, os satélites estão de olho. Então, obviamente que estamos melhorando esse quadro.
AR - Você diria que na questão do desmatamento da Amazônia o maior desafio seria o ambiental, o social, ou o crime organizado ainda é o maior desafio?
Ricardo Voltolini: Acho que o crime organizado é um desafio grande, mas eu diria que conscientizar que a floresta em pé é um negócio melhor que vender madeira é o desafio maior. A floresta em pé, para mantê-la com resultado econômico, ela precisa ser explorada de uma maneira responsável e inteligente. Derrubar para botar mais pasto para vender carne também não é o melhor valor que a gente poderia dar para um lugar que precisa ser preservado. Acho que o caminho, e aparece isso entre as tendências, é a bioeconomia em expansão. É investir na exploração dos bioativos, dos serviços ecossistêmicos, que podem oferecer um insumo para um sem-número
de indústrias. Vai muito além da produção de açaí, por exemplo, que é importante porque gera riqueza para aquelas pessoas que vivem ali e elas precisam disso para viver. Tem um aspecto social. Mas quando eu olho para um princípio ativo que está numa planta, numa árvore, e que sintetizado ele vira uma patente de medicamento de bilhões, é aí que está a riqueza, é o quanto esses insumos da natureza podem servir com valor adicionado e de forma permanente. Não é derrubando a árvore, que gera uma receita pobre e pontual.
AR – Um dos macrotemas é justamente o Financiamento Climático para usar tecnologias, pesquisas desses bioativos. Qual o panorama para empesas brasileiras conseguirem desenvolver mais pesquisas e patentes?
Ricardo Voltolini: Os países, os bancos multilaterais, os bancos centrais dos países, os grandes bancos de financiamento hoje já têm claro que o dinheiro melhor para a humanidade é aquele que vier com um carimbo de mudança do clima. Então, se o Brasil, primeiro, consegue fazer bem a lição de casa dele, que é proteger a floresta, conter o desmatamento, ele começa a ser atrativo porque aqui haverá muitos projetos de reflorestamento, de captura de carbono, que são projetos hoje elegíveis por esses fundos de clima e, portanto, haverá claramente um fluxo de capital financeiro do mundo para o Brasil e o Brasil quer mostrar essa capacidade, né? Na sequência, pesquisa para o desenvolvimento de projetos. A gente tem aqui no Brasil fundo do clima que já investiu, recebeu 9 bilhões de dinheiro internacional e já investiu quase tudo em projetos. São projetos interessantes que têm esta perspectiva de mitigar a emissão de carbono e promover adaptação climática. Então essa combinação interessa muito aos países lá de fora. Por quê? Porque essa turma já devastou as suas florestas e o Brasil ainda tem recurso e, portanto, ao ter recurso, ele pode atrair este capital de financiamento climático, o que deve crescer muito nos próximos anos, considerando que a necessidade é grande. Então, na última COP, chegaram ao valor de 1,3 trilhão de dólares. Seria o valor que os países estão dispostos a doar em termos de recursos para a mitigação e adaptação do clima, mas todo mundo diz que a necessidade é de 4 a 6 trilhões, então 1,3 trilhão ainda não resolve. É menos do que seria a necessidade do mundo.
AR – Ainda sobre financiamento, por que os fundos são difíceis de acessar?
Ricardo Voltolini: A transição sustentável no Brasil esbarra em desafios financeiros cruciais. Apesar da demanda por metas climáti-
cas, o cenário macroeconômico desfavorável e políticas inconsistentes inibem investidores internacionais. A falta de modelos financeiros claros e retorno definido para projetos verdes reduz a atratividade, agravada por incertezas comerciais globais.
A inovação deve ir além das soluções ambientais, abrangendo modelos econômicos que viabilizem projetos escaláveis e seguros para investidores. Um ponto crítico é a indefinição de quem arca com os custos da transição — nem consumidores nem empresas desejam assumir o ônus total.
A capacitação profissional é vital para estruturar financeiramente esses projetos, assegurando que as planilhas reflitam a nova realidade econômica. Projetos financiáveis precisam alinhar-se não só à viabilidade técnica, mas também a metas públicas e sociais.
AR – Que tipo de estruturação de financiamento climático seriam necessários? O Estudo cita blended finance e Green bounds.
Ricardo Voltolini: Blended finance, ou financiamento misto, é uma abordagem que combina diferentes fontes de financiamento, como recursos públicos, privados e filantrópicos, para viabilizar projetos com impacto social ou ambiental. Já os green bonds, ou títulos verdes, são instrumentos de dívida emitidos para financiar projetos com benefícios ambientais específicos, como energias renováveis ou eficiência energética. O setor financeiro precisa inovar, avaliando riscos e oportunidades futuras para oferecer juros mais baixos a projetos sustentáveis. O alto custo de capital no Brasil e a volatilidade cambial são desafios, sublinhando a importância da mobilização do setor privado e da criação de uma política de taxa verde nacional para padronizar investimentos.
Instrumentos como green bonds, atrelados a
metas ambientais e sociais claras, e mercados de carbono regulados expandem as oportunidades de captação. Se você se compromete com metas socioambientais dentro dessa perspectiva do bond, do green bond, você vai ter um prêmio que é pagar menos juros naquele financiamento. O Brasil, com seu potencial natural e energético, pode atrair esse capital, mas necessita aprimorar governança e regulamentação para converter essa vantagem em projetos concretos.
AR Então, o mecanismo do green bond dá uma redução de juros se metas são cumpridas, e o segundo, que é o blend, mistura fundo filantrópico e privado, sai mais barato, já que é filantrópico, não visa o ganho de um empréstimo, ainda dá uma redução, certo?
Ricardo Voltolini: Certo. Sem dúvida, eles vêm a juros baixíssimos, né? Às vezes até sem juros, com compromissos de realização. Mas a lógica, basicamente, é a lógica do mercado financeiro, eu premio. Como é que o mercado financeiro pode premiar uma empresa, uma organização? Premiar é você pagar menos, né? Então você toma um empréstimo, faz o investimento e aí você tem um determinado prêmio. O blended finance ainda é uma ferramenta nova, está começando a ser testado, mas tem um grande potencial. Mas, veja um exemplo para o Green Bond: eu tomo um empréstimo de 200 milhões, né? Deveria pagar 9% de juros ao final do período desse empréstimo. Mas, se eu cumprir as minhas metas ambientais, aquelas com as quais eu me comprometi, eu não vou pagar 9%, eu pago 2, 3%. Opa! Então, até o CFO da empresa já entendeu que isso é um bom negócio. O mesmo acontecerá com mercado de carbono, pois quem pode chegar a net zero pode lucrar com os créditos. Eu imagino que a gente terá o mercado regulado e implantado em 2027, 2028. Ele (o
mercado) também, a construção depende de inventariar, selecionar os setores, definir os parâmetros, definir as regras. Isso tudo demora.
AR - A Nova Indústria Brasil (NIB), nessa parte da sustentabilidade, colocou para as indústrias um valor de disponível para financiamentos muito frustrante. Considera que o baixo valor pode ter desanimado empresas a acelerar suas iniciativas?
Ricardo Voltolini: Eu que as empresas têm que olhar para investimentos em sustentabilidade, pensar com a cabeça de negócio. Mas eu acho que os governos podem fazer aquilo que é papel dos governos fazer. Por exemplo, eu sinto que no Brasil, ao contrário da Europa, ainda há muito pouco imposto verde, que é a figura do estímulo, né? Porque, na verdade, quem controla a política fiscal é o governo. Então eu posso estimular você, por exemplo, a ter um carro elétrico. Eu posso estimular você a ter um telhado fotovoltaico. Eu posso estimular você a comprar energia. Só para dar um exemplo, na Califórnia, quando o Arnold Schwarzenegger foi o governador, ele fez um grande salto do ponto de vista de política pública de sustentabilidade, basicamente oferecendo Incentivos fiscais melhores.Determinadas renúncias fiscais para estimular que as pessoas melhorassem as suas construções, fizessem reformas mais sustentáveis, usassem energia renovável por aí vai. O Brasil também pode fazer isso. Tem um plano de governo, que é esse plano de transformação ecológica. Aí que o Fernando Haddad apresentou no ano passado, é um belíssimo de um plano, já orientado por um pensamento de sustentabilidade, mas ainda é uma discussão. Você sabe que no Brasil sempre essas discussões são longas, demoradas
AR Então, no curto prazo é difícil contar com políticas de incentivo à sustentabilidade?
Ricardo Voltolini: De incentivo fiscal é bem demorado. Agora, eu sinto que há, por exemplo, muito boa vontade hoje do BNDES em relação ao tema. Eu tenho visto o BNDES incentivar vários setores, tem programas, outro para startups que nascem como soluções para desafios de sustentabilidade. Na área de moda, tem vários exemplos também. Vários projetos interessantes sendo incubados. Eu acho que o Brasil, com todos os seus problemas e contradições, ele avança, mas ainda talvez não no ritmo que seria necessário.
AR - Umas das questões que se discute o real volume de emissões de GEE. Estamos subdimensionados? Como propor metas?
Ricardo Voltolini: É, eu acho que, na verdade, a gente não pode nunca falar que a gente sabe precisamente, a gente estima sempre. Eu acho que a gente tem metodologias importantes como o GHG Protocol, o Carbon Disclosure Project. A gente tem várias metodologias que são consagradas globalmente e empresas brasileiras adotando essas metodologias. Mas tem uma discussão que é muito antiga, e ela não se resolve de modo muito simples, porque ela tem uma complexidade natural, que é a seguinte: você só conseguirá ter uma noção clara do conjunto das suas emissões se você não trabalhar 3 escopos. Você já deve ter ouvido falar de escopo 1, escopo 2 e o escopo 3, não é? O 1 tem a ver com a atividade de negócio em si, o 2 com energia e o 3 é cadeia de fornecimento. Aliás, cadeia de valor. Esta contagem na cadeia de fornecimento de valor é a mais complexa, né? Ela exige investimento, acompanhamento, mas esse é o grande desafio, as empresas começarem a olhar para o escopo 3, senão elas nunca terão um levantamento muito preciso das suas emissões. Eu diria que as empresas que seguem esses protocolos internacionais, estão, pelo menos, atendendo uma metodologia global que é respeitada lá fora. Mas há empresas brasileiras, algumas que subdimensionam propositadamente suas emissões e fazem greenwashing, que é mentir, que é dizer uma parte da verdade, não a verdade por inteiro. É contar o melhor da história, mas não contar o pior da história. Em resumo, o desafio está em tratar dos 3 escopos, e agora tem a discussão de um quarto escopo, que é o carbono agitado. É o que eu faço para evitar.
AR - Sobre crédito de carbono. Até que ponto isso é bom? Até que ponto é ruim?
Ricardo Voltolini: Tem dois tipos de mercado de carbono: um voluntário e um regulado. O Brasil
tem um projeto de lei para construir um mercado de carbono regulado. Então já começou esse movimento. Basicamente, o governo, via uma autoridade climática que será responsável por olhar todos os balanços, seleciona setores mais críticos que emitem GEE acima de uma determinada quantidade de gigatoneladas na atmosfera. E olhando para esses setores, faz um controle. As empresas terão que fazer inventário, comunicar inventário e anualmente, nos seus relatórios, mostrar o que estão fazendo para diminuir as emissões. Então é um mecanismo chamado cap and trade que você vai ter que mostrar o seguinte: “sei que emito tanto, mas eu tenho uma meta”. Após a empresa chegar na meta, significa que a partir disso, quanto menos ela emitir, mais crédito de carbono poderá vender para quem não consegue parar de emitir. Então você vai criar uma situação muito interessante que você terá devedores e credores. Isso vai obviamente impactar, inclusive na reputação das empresas, no valor das empresas. Isso é um mecanismo que vai estimular a redução de emissões. Mas veja, nem todas as empresas conseguirão zerar. Zerar é uma ideia que não é possível para muitos negócios, então o mercado funcionará por isso. Sempre haverá o que eles chamam de emissões residuais. O mercado de carbono não resolve o problema inteiro, mas é mais uma boa ferramenta, estimula as empresas a reduzirem a partir de uma perspectiva econômica, que é mais ou menos como a história do green bond, né? Também é uma ferramenta econômica.
AR Tem acompanhado mercados de carbono regulados na Europa?
Ricardo Voltolini: A Europa tem um mercado voluntário interessante também. Os mercados regulados, de um modo geral, eles são mais novos, mas claramente eles estão um pouquinho mais à frente do que a gente. Veja, o Brasil não pode se conectar com o mercado de carbono regulado se ele não tiver um mercado regulado no seu país, né? Aqui dentro, né? Então, eu acho que é uma discussão interessante, mas eu sempre digo não é uma solução única, tá? Eu queria só tocar em dois aspectos que você me permite. Eu acho que são dois temas que o estudo traz e que eu acho importante a gente falar sobre eles. O primeiro tema é a adaptação às mudanças do clima. É importante a gente falar disso. O estudo mostrou quatro tendências nesta área que são grandes preocupações, que a gente tem que ter, com adaptação às mudanças do clima, pois tivemos uma experiência muito drástica que foi a tragédia ambiental do Rio Grande do Sul, não é? Foi uma tragédia que acometeu 85% das
cidades de um estado inteiro que não estava preparado para a carga de chuva. E se a gente considerar que esses eventos climáticos extremos serão cada vez mais comuns nestes tempos de emergência climática, nós teremos que investir em adaptação.
AR – E quais adaptações climáticas os Estados teriam que fazer?
Ricardo Voltolini: O primeiro é incentivar uma agricultura mais sustentável. A agricultura é um dos setores mais vulneráveis às mudanças do clima. E é um dos mais estratégicos para liderar soluções. Então, é preciso investir em inovação e em práticas regenerativas. Até porque isso também vai nos ajudar a evitar um dos efeitos mais nocivos das mudanças climáticas na vida do ser humano neste século 21, que é a questão da insegurança alimentar. Então, a gente tem que garantir sistemas que sejam mais resilientes. É fundamental que a gente, ainda mais o Brasil, que é um país produtor de commodities agrícolas. Precisamos ter uma agricultura que não seja responsável por emitir GEE e que seja resiliente o suficiente para garantir que eu produza comida, mesmo em circunstâncias mais desafiadoras. Sentimos no bolso, no último verão, o impacto climático nos preços do azeite e do café que sofreram com o aquecimento, com ondas de calor. É só um exemplo. A agricultura regenerativa projeta áreas híbridas de produção, sistemas agropecuários que ajudem a manter o solo mais resiliente. Acho que essa é uma saída porque a produção de alimento precisa de uma certa escala, que as produções pequenas, de produtores locais e orgânicos não garantirão. Ao mesmo tempo, eu acho que é importante ter as produções pequenas, porque as pessoas querem também consumir produtos mais puros, mais limpos, com menos agrotóxico, com mais nutrientes, né? Com a produção que impacta menos o clima, essa é uma bandeira global. Tem um movimento que começou na Itália e se espalhou pela Europa, do slow food, que tem essa perspectiva de produções menores, mais próximas dos centros urbanos, com menos deslocamento, menos emissões de carbono. Mas não é um privilégio para todos esse tipo de acesso a alimentos.
AR – Na moda, as empresas estão investindo em economia circular e os grandes varejos estão promovendo os produtos sustentáveis nas lojas. Mas, o consumidor não quer pagar mais caro.
Ricardo Voltolini: Atendi a Renner e ajudamos a construir a estratégia deles. Quando a
Renner descobriu que 80% do algodão que eles compravam já tinha um selo de mais responsável, eles adiantaram muito a corrida no sentido de tornar a roupa mais sustentável, né? Então de repente, não precisa ser algodão orgânico. O algodão orgânico, a produção mais cara e normalmente é uma produção em pequenas quantidades. Isso não vai sustentar os negócios de moda no mundo. Mas se eu diminuo a produção do algodão convencional e uso o responsável, e aqui no Brasil a gente tem uma produção farta desse algodão BCI. A gente ter que buscar esses caminhos.
AR – Qual seria a segunda tendência dentro do tema de Adaptação Climática?
Ricardo Voltolini: É fundamental que as cidades tenham plano de adaptação às mudanças do clima. A gente viu, depois da experiência do Rio Grande do Sul, que quase não havia cidade no Brasil com um mínimo plano de adaptação às mudanças climáticas. O que isso significa, entre outras coisas: ter mais áreas verdes que permitam o escoamento da água. As cidades estão muito impermeabilizadas, a água sobe no rio e não tem por onde escoar. Vai subir mesmo e vai dragar casas, carros e infraestruturas. Então é preciso olhar com muito carinho para isso. Para sistemas de prevenção, para uso de inteligência artificial, ciência de dados para prevenir. Trabalhar obras, prédios cada vez mais resistentes, os trilhos cada vez mais resistentes, estruturas cada vez mais resistentes. É fundamental políticas públicas de adaptação climática porque, onde chove vai chover mais e onde faz calor, vai fazer mais. Em resumo, para a Adaptação Climática, as cidades, Estados e o Governo Federal deverão: incentivar a agricultura regenerativa e resiliente, plano de infraestrutura urbana para eventos extremos, ampliar e manter as áreas verdes conservando ecossistemas, e garantir a segurança alimentar. Mas, não podemos deixar de falar do grande macrotema: justiça climática.
AR – O que seria a justiça climática?
Ricardo Voltolini: É um assunto novo. Então, qual a ideia que está por trás da justiça climática? É que as mudanças do clima afetarão todos nós, mas de maneira desproporcional e em primeiro lugar, os mais pobres. Então, o que a gente viu no Rio Grande do Sul é que as empresas já conseguiram se reconstruir, mas aquelas pessoas que perderam as suas casas não voltaram para lá, perderam tudo aquilo que elas tinham acumulado ao longo de uma vida. Se a gente quiser enfrentar este tema,
a gente vai ter que ter mais política pública que olhe, que integre justiça climática com ações estruturantes. E aí, profissionais como você e eu temos um papel que é melhorar a consciência, o engajamento do brasileiro em relação a este tema. Então, eu sou um defensor antigo da ideia de que a gente tem que ter educação ambiental e agora com foco em mudanças climáticas no ensino básico.
AR É, justiça climática e adaptação climática estão muito ligados, né?
Ricardo Voltolini: Muito interligados, e eles têm muito a ver com o Brasil, porque o Brasil é um país de enormes desigualdades. Os brasileiros estão vivendo em costas e regiões onde a casa pode cair, um vento levantar o telhado, uma chuva invadir e destruir tudo o que eles têm. E eu acho que nós temos que, como Nação, também nos preocupar com isso. Quem na próxima corrida eleitoral, além da gente ouvir falar da ladainha educação, segurança, saúde e transporte, a gente possa incluir também o tema da Justiça climática, porque todos nós viveremos intensamente nos próximos anos os efeitos dessas mudanças de clima. Precisamos nos educar para isso.
AR - Qual o próximo desafio da Ideia Sustentável?
Ricardo Voltolini: É olhar para as próximas gerações. Tenho um neto, o Lourenço, que não sabe o que é fome, mas eu ensino que no mundo nem todas as crianças têm comida fácil. Nós brasileiros somos orientados pela ideia da abundância e não da escassez. E a gente cria essa cultura. Por mais que a criança tenha informação, e hoje elas aprendem muito na escola sobre sustentabilidade, existe uma cultura ainda forte da abundância dos recursos. Continuo trabalhando fortemente, indo para vários lugares, viajando o Brasil. Hoje, a minha ideia é que este meu trabalho, ele contribua cada vez mais, principalmente para melhorar a vida daqueles que precisam. Meu neto não precisa, não passa fome, sede, mas eu procuro dizer a ele e mostrar a ele que a gente tem que ter muito cuidado, como usamos os recursos naturais e que devemos evitar qualquer tipo de desperdício e ter compromisso solidário em relação aos que têm menos que a gente. Estou produzindo uma coleçãozinha para ser lançada neste ano. Eu realmente quero levar esse conhecimento para um número maior de crianças, para além do Lourenzo. Isso fará parte do meu legado.
Para conhecer melhor as 22 trends que serão abordadas na Cop 30, veja o Estudo completo da consultoria Ideia Sustentável.
Estação das Docas
POR LIGIA SANTOS
O Brasil, com sua vasta e rica costa atlântica, possui um patrimônio marinho de valor inestimável. A gestão e proteção de seus oceanos e ecossistemas costeiros são cruciais não apenas para a biodiversidade e o clima global, mas também para a economia e o bem-estar de milhões de brasileiros. Em um momento de crescentes desafios ambientais, o País tem reforçado seu protagonismo internacional, como evidenciado na recente Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos (UNOC-3), realizada de 9 a 13 de junho, em Nice, na França.
Na conferência, o Brasil reafirmou sua liderança em políticas oceânicas ao endossar oficialmente a iniciativa internacional Mangrove Breakthrough. A Ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, destacou o compromisso do governo federal em proteger e restaurar manguezais até 2030, reconhecendo seu papel vital como sumidouros de carbono e barreiras naturais contra os impactos da mudança climática. A iniciativa Mangrove Breakthrough, lançada na COP27, busca evitar a perda desses ecossistemas, restaurar ao menos metade das áreas degradadas e mobilizar US$ 4 bilhões até o final da década para garantir a sustentabilidade financeira de 15 milhões de hectares de manguezais.
A importância do Brasil para a saúde dos oceanos globais é inegável, dada a magnitude de seu território marítimo e costeiro. O litoral brasileiro estende-se por aproximadamente 7.491 quilômetros, uma extensão que abrange uma diversidade impressionante de biomas e ecossistemas. A chamada “Amazônia Azul”, nossa Zona Econômica Exclusiva, cobre uma área de cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados, rica em biodiversidade marinha, recursos pesqueiros e potenciais reservas energéticas.
Os manguezais, em particular, representam um tesouro ecológico. O Brasil detém cerca de 12% da área total de manguezais do mundo, cobrindo aproximadamente 1,3 milhão de hectares ao longo de sua costa. Esses ecossistemas são berçários para inúmeras espécies marinhas e terrestres, além de desempenharem um papel crucial na proteção costeira contra erosão e eventos climáticos extremos. Estima-se que um hectare de manguezal possa armazenar até cinco vezes mais carbono do que um hectare de floresta tropical terrestre, tornando-os aliados poderosos na mitigação das mudanças climáticas.
Apesar dessa riqueza, os oceanos brasileiros enfrentam sérios desafios. A poluição por plásticos e esgoto, a pesca predatória e a destruição de habitats costeiros ameaçam a saúde
desses ecossistemas. O descarte inadequado de resíduos sólidos, por exemplo, coloca o Brasil entre os maiores contribuintes globais para a poluição plástica marinha, impactando diretamente a vida marinha e os recursos naturais.
Em resposta a esses desafios, o governo brasileiro tem implementado e fortalecido políticas de conservação. O lançamento do Programa ProManguezal e a ampliação das áreas marinhas protegidas são exemplos concretos. Além disso, o País reafirmou sua posição cautelosa em relação à mineração em mar profundo, priorizando a proteção ambiental.
A nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, enviada à ONU em novembro de 2024, inova ao incluir, pela primeira vez, soluções baseadas no oceano para o clima, demonstrando uma visão integrada de ação climática, biodiversidade e justiça social.
Um marco da participação brasileira em Nice foi o lançamento do “Desafio NDC Azul”, em conjunto com a França. Esta iniciativa busca incentivar outros Países a integrarem o tema dos oceanos em suas NDCs, acelerando a ação climática global. A adesão de oito nações, incluindo Austrália, Fiji e México, ressalta a relevância e o potencial de impacto dessa proposta liderada pelo Brasil.
O engajamento do Brasil na Conferência da ONU sobre Oceanos sublinha um momento decisivo para a governança marinha do País. Ao assumir compromissos robustos e propor iniciativas inovadoras, o Brasil não só protege seu vasto patrimônio costeiro e marinho, mas também inspira e colabora com a comunidade internacional na construção de um futuro mais sustentável para os oceanos. A jornada é contínua, mas os passos dados em Nice reforçam a esperança em um futuro onde a saúde dos oceanos seja prioridade global.
PRESERVAÇÃO:
A conferência busca soluções para a conservação e uso sustentável dos oceanos, que são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e a luta contra as mudanças climáticas.
FINANCIAMENTO:
É crucial transformar promessas em ações concretas e garantir o financiamento adequado para a proteção dos oceanos.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA:
A conferência destacou a importância de soluções científicas e tecnológicas para reverter o declínio da saúde dos oceanos.
COMPROMISSOS:
O Brasil reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento até 2030 e implementar programas de preservação de manguezais e recifes de corais.
AÇÕES:
O País anunciou a ampliação de áreas marinhas protegidas e o compromisso com a ratificação do Tratado do Alto Mar, que visa proteger a biodiversidade marinha em águas internacionais.
EDUCAÇÃO:
O Brasil destacou sua iniciativa de incluir a cultura oceânica no currículo escolar e de qualificar professores para o ensino do “Currículo Azul”.
INICIATIVAS:
O Brasil e a França lançaram o Desafio NDC Azul, que convida os Países a incluir ações para o oceano em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
No início de 2025, segundo dados da PNAD contínua, existiam mais de 3 milhões de desalentados no Brasil. A população desalentada é definida como aquela que está fora da força de trabalho, mas que, se tivesse encontrado um emprego, estaria disponível para trabalhar. As razões para estarem fora do mercado são várias, dentre elas a falta de capacitação, de ensino básico, de experiência, a idade e a localização.
Na Vila Mariana, um extenso bairro de classe média alta da capital paulista, existe uma ilha que destoa daqueles prédios e casas de IPTU altos. A Comunidade Mario Cardim abriga sozinha cerca de 5 mil moradores, além das 13 comunidades espalhadas por vários quarteirões. Boa parte desses habitantes não estão trabalhando ou fazem pequenos bicos para sobreviver.
Durante anos, trabalhei e ainda trabalho voluntariamente para a ABCP, ONG que resgata, trata e capacita moradores de rua, devolvendo dignidade a centenas de pessoas que o projeto conseguiu recuperar das drogas e das ruas.
Porém, ao conhecer a Comunidade Mario Cardim, senti que precisava fazer mais, por pessoas que não estavam nas ruas, mas presas numa dura realidade que as mantinha desalentadas.
Em fevereiro de 2024, eu, meus sócios e associados do escritório Hondatar Advogados criamos o Instituto Hondatar com o propósito de mudar vidas através da educação, cidadania e qualificação profissional. Nosso objetivo é promover o desenvolvimento humano para aqueles que estão em situação de vulnerabilidade, oferecendo ferramentas para construir um futuro mais justo e digno para todos.
Desde sua inauguração, o Instituto tem oferecido cursos, oficinas, workshops e treinamentos para diversas faixas etárias e interesses. Com o aumento da procura e o envolvimento da comunidade, 2025 marcou um novo momento em sua história. A capacidade de atendimento foi expandida para 500 alunos e novas formações foram adicionadas, como Gastronomia, Música, Tecnologia, Corte e Costura, Upcycle, Teatro, Aquaponia, Hidroponia e Modelagem e Confecção.
Uma das apostas mais animadoras para este novo momento é a colaboração com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) para a montagem da sala de corte e costura. A meta dessa união é facilitar o aprendizado de técnicas de costura e criação de moldes para pessoas de baixa renda, apoiando a con-
tinuidade das oficinas, a organização de um cronograma de atividades sociais e iniciativas em sintonia com as práticas ESG (ambientais, sociais e de governança), consolidando o empenho mútuo em uma conduta responsável e duradoura.
Ainda neste semestre, vamos dar um passo crucial para impulsionar o empreendedorismo na região: vamos abrir uma unidade do SEBRAE Aqui, um local feito para receber, guiar e potencializar os projetos de quem busca empreender, intensificando o incentivo ao crescimento de micro e pequenos negócios e promovendo um cenário mais propício à regularização de novos profissionais independentes, aumentando as chances de que mais pessoas transformem habilidades em renda.
Acreditamos que o Instituto Hondatar é muito mais do que um local com salas de aula e treinamentos. Acreditamos profundamente na capacidade de cada pessoa e trabalhamos para que essa capacidade se desenvolva ao máximo, porque ao investir em educação, formamos cidadãos e ao oferecer oportunidades, mudamos o mundo.
Por Helcio Honda Diretor do Instituto Hondatar contato@hondatar.com.br
POR LIGIA SANTOS
A indústria têxtil e de confecção brasileira se prepara para um marco significativo: o 10º Congresso Internacional Abit, que ocorrerá nos dias 29 e 30 de outubro de 2025. O evento, que retorna à capital paulista no prestigiado auditório da Fiesp, simboliza uma década de debates cruciais e a consolidação de um espaço fundamental para a reflexão estratégica do setor. Com o tema central “Produtividade como catalisador do crescimento e da prosperidade”, esta edição promete ser um grande estimulador de ideias, incentivando a reinvenção de modelos, processos e políticas em todas as escalas.
Fernando Valente Pimentel, diretor executivo da Abit, ressalta a relevância da produtividade como um eixo de transformação estrutural. “A produtividade não é apenas uma métrica econômica – ela é uma ponte entre o esforço e o resultado, entre o presente e o futuro. Ao colocá-la no centro deste Congresso, queremos provocar a reflexão sobre como crescer com qualidade, com inovação e com impacto positivo”, explica. A programação foi cuidadosamente elaborada para reunir líderes empresariais, formuladores de políticas públicas, especialistas internacionais e representantes de instituições parceiras, garantindo um ambiente rico em conhecimento e networking.
A agenda do Congresso está repleta de painéis que abordam a produtividade sob diversas perspectivas, cada um com sua importância estratégica para o desenvolvimento do setor:
Este painel é vital para explorar como a tecnologia impulsiona a eficiência e a competitividade. A digitalização, a automação e a Indústria 4.0 são elementos-chave para otimizar processos, reduzir custos e aumentar a agilidade na produção. Contará, entre outros, com a expertise de Matheus Diogo Fagundes (CEO da Audaces) e Tony Pinville (Co-Fundador da Heuritech), que trarão insights sobre as últimas tendências e aplicações tecnológicas.
Focado no papel essencial das pessoas para o sucesso da indústria, este debate sublinha que a produtividade não é apenas sobre máquinas, mas sobre a capacitação, o bem-estar e a motivação dos colaboradores. Investir no capital humano é fundamental para inovar e manter um alto nível de desempenho. O painel terá a participação de Alexandre Ferreira (Diretor Corporativo de Recursos Humanos da Vicunha Têxtil), dentre outros debatedores a confirmar.
Este painel é crucial para entender como o ambiente regulatório e as iniciativas governamentais podem fomentar ou restringir o crescimento produtivo. Discutirá a importância de políticas que incentivem a inovação, a competitividade e o investimento. Entre os convidados, destacam-se José Ronaldo de Souza (Leme Consultores), José Luis Gordon (Diretor de Desenvolvimento de Produtos, Inovação e Comércio Exterior do BNDES), Igor Rocha (Economista Chefe da Fiesp) e Uallace Moreira Lima (Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC).
Em um cenário global cada vez mais volátil, a resiliência e a eficiência das cadeias de suprimentos são indispensáveis para garantir a continuidade da produção e a capacidade de resposta a imprevistos. Este painel abordará estratégias para otimizar fluxos e mitigar riscos. Contará com a contribuição de Laurent Aucouturier (Sócio da Gherzi Textil Organisation AG) e Dawid Wajs (Chefe de Algodão para a América Latina da Louis Dreyfus Company) e outros a confirmar.
A discussão sobre sustentabilidade deixou de ser um diferencial e tornou-se um pilar da produtividade atual. Este painel explorará como práticas ambientalmente e socialmente responsáveis podem gerar ganhos de eficiência, reputação e valor a longo prazo. Participarão Ricardo Formento (Chefe no Centro de Negócios Eficiência Energética da WEG) e Carla Joana Silva (Diretora do Departamento de Química e Biotecnologia da Citeve) e outros a confirmar.
Foca em como o direcionamento inteligente de recursos em tecnologia, infraestrutura e inovação é a força motriz para o aumento da produtividade e a criação de valor. Este painel é fundamental para direcionar os tomadores de decisão sobre onde e como investir para obter o máximo retorno. Renan Wernz Tolotti (Diretor Executivo da Arrazantty) compartilhará sua experiência no tema, juntamente com outros a confirmar.
O Congresso também contará com palestras de abertura e encerramento, incluindo nomes como Bráulio Borges (LCA 4i) e Dan Ioschpe (Presidente da Iochpe Maxion), além de sessões especiais e coquetéis de confraternização, promovendo ainda mais a interação e networking entre os participantes.
Atingir a décima edição é um motivo de orgulho para a Abit, que ao longo dos anos manteve um olhar atento às transformações do setor, abordando temas como Indústria 4.0, digitalização, inovação, sustentabilidade e
políticas públicas. A integração entre criação, produção, desejo e consumo sempre esteve no centro dos debates, evidenciando o consumidor como elo final de uma cadeia de valor.
O Congresso Internacional Abit 2025 não é apenas uma celebração, mas um convite à colaboração para construir uma nova etapa de crescimento sustentável e inovador para a indústria têxtil e de confecção brasileira.
O Congresso Internacional Abit 2025 até o momento em que fechamos esta edição, já conta com 20 patrocinadores o SENAI Cetiqt e a Systêxtil por parceiros estratégicos
Para celebrar os 10 anos do Congresso Internacional Abit, a Revista Abit Review fez um resgate dos temas e locais das edições anteriores, que construíram essa trajetória de sucesso.
Primeiro Congresso Abit, realizado em Sâo Paulo, com o tema: “Criar e Inovar: não pare”
Terceiro Congresso retornou à São. Nessa edição o tema abordado foi “Pessoas: Transformando e sendo transformadas na era digital”.
Em meio à Pandemia, o Quinto Congresso foi 100% remoto, com o tema: “Moda e consumo: onde estamos, para onde vamos”.
Sétimo Congresso Abit volta ao formato presencial e para a cidade de Belo Horizonte/MG
2024
Nono Congresso Abit foi realizado em Salvador/BA e como tema principal “conexões Brasil-mundo | caminhos estratégicos para a competitividade
Segundo Congresso da Abit foi no Rio de Janeiro, em conjunto com o International Apparel Federation (IAF), com o tema “Conformidade e Tecnologia – fatores-chave para a indústria e varejo
Quarto Congresso foi realizado em Belo Horizonte/MG e o tema foi: “Fim das Fronteiras: da criação ao consumo”
2021
Sexto Congresso Abit também foi 100% remoto, com o tema: Transição no Sistema Global de Moda
Oitavo Congresso foi realizado em Florianópolis/SC, com o tema “redes, conexões e fronteiras”
2025
Décimo Congresso Abit será dias 29 e 30 de outubro, de volta a São Paulo.
Na 16ª edição do Global Fashion Summit, realizada em Copenhague nos dias 4 e 5 de junho, a indústria da moda foi provocada com uma pergunta urgente: como transformar os obstáculos estruturais e regulatórios que a cercam em pontes reais para a sustentabilidade?
Sob o mote “Barreiras e Pontes”, o Encontro – promovido pela Global Fashion Agenda (GFA) – reuniu mais de mil líderes globais do setor em torno de debates pragmáticos. Em um momento marcado por tensões políticas, retrocessos regulatórios e uma crise climática que se intensifica, ficou claro que o futuro da moda depende, além de cooperação, de inovação, capital, incentivos, regulação e coragem – palavras-chave que nortearam o evento.
O Summit 2025 refletiu um tom mais sóbrio do que edições anteriores. A masterclass sobre regulação, que antecedeu o evento, trouxe um alerta: há uma sensação de paralisia institucional. Com mudanças propostas na diretiva europeia de devida diligência e o enfraquecimento de políticas ambientais por pressões econômicas, empresas relataram insegurança sobre como avançar sem arriscar reputações –ou infringir normas ainda indefinidas.
O Brasil foi citado como referência positiva, graças aos avanços nas políticas públicas com foco em Economia Circular.
Nas lojas de marcas dinamarquesas o discurso também mudou. Marcas como Ganni e Samsøe Samsøe, outrora celebradas por sua comunicação
transparente, hoje evitam jogar luz ao tema, uma vez que o uso do termo “sustentável” ou “sustentabilidade” é agora regulado no país. A preocupação com o greenwashing faz um novo léxico corporativo se estabelecer para comunicar as práticas das empresas e palavras como “responsabilidade (social/ambiental/corporativa)”, “rastreabilidade”, “transparência” têm sido amplamente utilizadas por marcas, principalmente europeias.
Pela primeira vez, o palco principal foi ocupado por uma ativista trabalhista. Em um depoimento comovente, a representante do Bangladesh Centre for Workers Solidarity denunciou a precariedade persistente das condições de trabalho em seu país e pediu por uma regulação que proteja verdadeiramente quem está na base da cadeia, conectando essa necessidade às consequências das mudanças climáticas: “Não há justiça climática sem justiça trabalhista”, declarou.
A crise hídrica global ganhou protagonismo. A WWF alertou que os recursos hídricos estão sendo perdidos três vezes mais rápido que as florestas. A Europa foi chamada a tornar-se uma “economia inteligente em água”, com aumento de eficiência até 2030. A Kering apresentou sua Water-Positive Strategy, com metas de impacto hídrico positivo até 2050. Já a Ellen MacArthur Foundation reforçou que circularidade deve ir além da reciclagem: é preciso regenerar ecossistemas – e a água é peça-chave nesse processo. A jornalista e criadora do podcast Wardrobe Crisis destacou a necessidade de tornar a “consciência hídrica” um tema popular e recorrente nas redes sociais e na cultura de consumo.
Circularidade foi um tema de menor destaque nessa edição, mas não deixou de aparecer em mais de um painel. Painéis como “Barriers to Scale” revelaram a falta de infraestrutura para coleta e reprocessamento de materiais, além da ausência de padronização global e incentivos econômicos adequados para a escalabilidade de projetos.
Entre as inovações reveladas, destaque para a vencedora do Trailblazer Award: Refiberd – startup estadunidense que apresentou sua tecnologia de scanner com imagem hiperespectral e IA para identificar tecidos automaticamente, facilitando processos de reciclagem em larga escala – e para a RE&UP, primeira empresa do setor a conquistar a certificação Cradle to Cradle para fibras recicladas.
A CEO da GFA encerrou o evento com uma mensagem sobre o momento atual do mundo e do setor: “Barreiras e pontes refletem a dualidade deste momento: luz e sombra, coragem e medo. A única certeza num mundo incerto é a mudança climática.”
O otimismo das edições passadas deu lugar a uma abordagem mais realista. Muitas marcas
optaram por participar de discussões mais restritas ou fechadas, em vez de subirem ao palco principal, sinalizando uma busca por conversas mais aprofundadas, melhores encaminhamentos e compromissos concretos.
O Global Fashion Summit 2025 reforçou que, diante de um cenário global cada vez mais instável e incerto, o setor têxtil e de moda precisa de ações coordenadas, regulações simplificadas e eficazes e incentivos estruturantes.
Transformar barreiras em pontes exige coragem para inovar, fluxo de capital acessível e colaboração entre marcas, governos e sociedade. Uma moda de menor impacto – mais justa, regenerativa e transparente – não é utopia, mas seu caminho passa por pontes que estão sendo ou ainda precisam ser construídas.
QUER TER ACESSO AO CONTEÚDO COMPLETO DA PARTICIPAÇÃO DA ABIT NO GLOBAL FASHION SUMMIT?
Empresas participantes do Texbrasil (Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira , parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Abit, recebem o relatório na íntegra. Inscreva-se no Programa preenchendo este formulário ou escreva para projetos@abit.org.br
Por Camila Zelezoglo Área de Sustentabilidade e Inovação Abit camila@abit.org.br
Por Luiza Lorenzetti Área de Sustentabilidade e Inovação Abit luiza@abit.org.br
POR LIGIA SANTOS
A União Europeia (UE) lançou a Estratégia Europeia de Resiliência Hídrica 2025, um documento fundamental que visa abordar a crescente preocupação com a disponibilidade e qualidade da água em um cenário de mudanças climáticas. A iniciativa busca proteger os recursos hídricos e os ecossistemas da UE, ao mesmo tempo em que garante que todos os europeus tenham acesso a água potável e para banho.
A Estratégia de Resiliência Hídrica 2025 concentra-se em combater a escassez de água, aprimorar a gestão hídrica, ampliar o acesso à água limpa, impulsionar a inovação e restaurar o ciclo hidrológico. Seus três objetivos centrais são:
1.
Isso envolve a implementação efetiva do quadro legal existente na UE, como a Diretiva-Quadro da Água e a Diretiva Gestão de Inundações, além de esforços para proteger recursos, promover a sustentabilidade, melhorar a retenção de água em terra e combater poluentes na água potável (incluindo substâncias como os PFAS).
INTELIGENTE EM TERMOS DE ÁGUA:
O objetivo é impulsionar a competitividade, atrair investimentos e promover o setor hídrico da UE, melhorando a eficiência hídrica e a gestão sustentável. A Recomendação sobre Eficiência Hídrica em Primeiro Lugar estabelece uma meta de redução de 10% no consumo de água até 2030. A Europa já é líder global em tecnologia hídrica, detendo 40% das patentes globais e gerando €107 bilhões e 1,7 milhão de empregos na sua indústria hídrica.
3.
GARANTIR ÁGUA LIMPA E ACESSÍVEL E SANEAMENTO PARA TODOS:
Reconhecendo o acesso à água potável e ao saneamento como um direito humano, a estratégia visa apoiar regiões e grupos vulneráveis, além de aprimorar o tratamento da água para remover poluentes perigosos, patógenos e prevenir doenças.
A escassez de água é uma preocupação crescente na UE, especialmente com o aumento das temperaturas e a frequência das secas. O Índice de Exploração Hídrica Plus (WEI+), que mede o consumo total de água em relação aos recursos hídricos renováveis disponíveis, é um indicador crucial. Valores acima de 20% são considerados um sinal de escassez hídrica, e acima de 40%, escassez grave.
Construir uma economia inteligente em termos de água para impulsionar a competitividade, atrair investimentos e promover o setor hídrico da União Europeia requer melhorar a eficiência hídrica e a gestão sustentável da água. A Recomendação sobre Eficiência Hídrica em Primeiro Lugar fornece princípios orientadores para reduzir o consumo de água e estabelece uma meta para toda a UE de melhorar a eficiência hídrica até 2030.
sui uma das maiores reservas de água doce do planeta. Essa abundância, no entanto, não se traduz em acesso universal a serviços de saneamento básico. A despeito de possuir vasta riqueza hídrica, milhões de brasileiros ainda carecem de acesso a esgoto tratado e água potável de qualidade, um problema que impacta severamente a saúde pública e o meio ambiente. Este cenário no Brasil sublinha que a resiliência hídrica não depende apenas da disponibilidade natural do recurso, mas também de uma infraestrutura robusta de distribuição, tratamento e gestão. Este tema já foi matéria de capa da Abit Review edição 8
Dentre as muitas recomendações, a recomendação de níveis eficientes de uso de água em toda a cadeia de suprimentos dos setores econômicos, listando em um Anexo exclusivo as atitudes que os empresários devem tomar para o uso eficiente da água.
A escassez de chuvas não é um fenômeno restrito à União Europeia ou a qualquer região específica; é uma realidade global. As mudanças climáticas impulsionam não apenas secas prolongadas, mas também eventos extremos de chuva em excesso, resultando em inundações devastadoras. Essa imprevisibilidade climática demanda uma abordagem global e coordenada para a gestão da água, reforçando a importância de estratégias como a da UE em escala mundial para mitigar os efeitos da crise hídrica e garantir a segurança hídrica para as futuras gerações.
Em contraste com as preocupações de escassez em algumas partes da Europa, o Brasil pos-
Regras da UE para garantir águas balneares limpas e de alta qualidade em toda a Europa
Melhorar o acesso à água potável para todos
Medidas da UE para gerenciar riscos de inundações e os riscos que as inundações representam para a saúde humana e o meio ambiente.
Ação da UE para garantir boa quantidade e qualidade das águas subterrâneas.
Proteger as águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola
Melhorar o acesso à água potável para todos
Regras da UE para garantir que as águas residuais urbanas sejam tratadas adequadamente.
Gerir os recursos hídricos de forma mais eficiente e facilitar a reutilização da água na UE
Ação da UE para proteger as costas, os mares e os oceanos da Europa.
Prevenir e mitigar a escassez de água e as secas na UE
NA AGENDA GLOBAL
DA ÁGUA
2050: a busca de um equilíbrio justo entre oferta e demanda de água.
A indústria têxtil enfrenta um ponto de inflexão impulsionado por crescentes pressões regulatórias, sociais e ambientais, que exigem uma reavaliação dos modelos de produção intensivos. Neste contexto, o setor busca a implementação de soluções que permitam atingir processos mais sustentáveis, automatizados e competitivos, frequentemente sem a necessidade de substituição de infraestruturas de maquinário existentes.
Novas abordagens tecnológicas, como a Care Applications S.L.u tem desenvolvido, estão a redefinir os processos na cadeia de valor da moda, integrando princípios de compromisso ambiental e responsabilidade social. A empresa realiza investigação em novas técnicas, processos e químicos não poluentes. Tudo isso permite que as empresas do setor avancem rumo a um modelo de produção mais limpo e eficiente, alinhado com os desafios ambientais atuais.
Os dispositivos melhoram a maquinaria existente e são concebidos de forma modular e personalizada, adaptando-se tanto ao espaço disponível como às máquinas do cliente, num ambiente seguro para o trabalhador; com importantes economias de recursos, mantendo sempre o foco na qualidade, industrialização, reprodutibilidade e controlo do processo no produto têxtil final.
Neste cenário de inovação, já existem sistemas ecológicos para a execução de processos tradicionais de tingimento, lavagem e acabamento têxtil, o qual opera sem a necessidade de um banho de grande volume. Este método consiste na aplicação direta de produtos químicos e corantes sobre a fibra, utilizando uma lavadora vertical sem compartimentos, o que assegura a segurança do operador. Este tipo de tecnologia atomiza as gotas de água e dos produtos aplicados a dimensões semelhantes às de uma névoa, permitindo uma difusão controlada e uniforme. Essa tecnologia eleva o desempenho de máquinas convencionais, equiparando ou superando os resultados obtidos com sistemas de banho tradicionais, transformando equipamentos padrão em soluções avançadas e ambientalmente responsáveis, com um investimento de capital moderado.
Um atributo técnico relevante desta tecnologia é a versatilidade nos acabamentos que podem ser alcançados. Através da aplicação direta e do uso de agentes oxidantes de baixo impacto ambiental, é possível induzir efeitos de corrosão controlada na fibra, com a capacidade de atingir a total descoloração. Este processo permite a criação de gradientes tipo “fade-out” com elevada precisão e mínima pegada ambiental.
A ADOÇÃO DESTA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DIRETA RESULTA EM GANHOS SUBSTANCIAIS DE EFICIÊNCIA:
ECONOMIA DE ÁGUA:
Redução de 50% a 90%, com relações de banho médias de 1:1.
REDUÇÃO NO CONSUMO ENERGÉTICO:
De 50% a 85%, principalmente devido à diminuição da necessidade de aquecimento de grandes volumes de água.
POUPANÇA DE ENERGIA ELÉTRICA:
Cerca de 25%, pela operação da máquina rotativa sem água em diversas fases, o que reduz o esforço mecânico.
REDUÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS:
Até 90%, devido à atomização otimizada e dosificada dos reagentes.
DIMINUIÇÃO DA CONDUTIVIDADE:
Entre 90% e 100% em processos de tingimento que utilizam eletrólitos.
MENOR CARGA SOBRE A ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES:
Contribui para a sustentabilidade hídrica.
As tecnologias avançadas de acabamento caracterizam-se pela sua modularidade, capacidade de combinação e adaptabilidade às instalações existentes do cliente, permitindo uma integração flexível e complementar que maximiza a eficiência do processo têxtil. Em particular, a sinergia entre um sistema de atmosfera controlada e uma unidade de controle multiparamétrico oferece uma solução abrangente para a automação e otimização de parâmetros críticos, como o pH. Isto resulta numa maior precisão no tingimento, diminuição de retrabalhos e otimização do tempo de produção.
Um sistema de atmosfera controlada permite operar em condições anóxicas, com a capacidade adicional de introdução de nitrogénio. Esta tecnologia estabelece o ambiente necessário para o processamento de corantes sulfurados e de tina. O isolamento das máquinas através deste sistema assegura que os corantes em estado reduzido sejam processados de forma estável e controlada, mantendo o seu estado químico inalterado durante todo o ciclo de tin-
Tingimento em Poliamida com tecnologia que reduz o uso de químicos
Lavagem e Alvejamento mais sustentáveis
gimento. É um acessório que pode ser instalado em diversas máquinas de tingimento já em operação, incluindo as de peça, corda e bobina. Complementarmente, investir numa unidade de controle multiparamétrico que mede e regista simultaneamente valores de condutividade, pH (acidez/basicidade), potencial REDOX (grau de oxidação ou redução) e temperatura dos banhos de lavagem e tingimento, permite automatizar os parâmetros do processo, comparando-os com valores de referência predefinidos e acionando alarmes caso estejam fora da tolerância programada. Adicionalmente, permite o ajuste automático do pH se o valor medido exceder a faixa permitida.
Estas soluções integradas existentes no mercado demonstram a viabilidade de transformar os processos têxteis em um modelo mais responsável, sem comprometer a eficiência operacional ou a competitividade das empresas. A abordagem é centrada na tecnologia modular, otimização de recursos, automação de processos e manutenção de uma qualidade consistente.
Para organizações que buscam soluções concretas para mitigar custos, otimizar processos e avançar em direção a metodologias de produção sustentáveis, é necessário buscar consultoria técnica sobre estas avançadas tecnologias.
Por Romano Campese CTO da Care Applications romano@careapplications.com
SESSÃO ACELERADORA DO WCEF
A transição para uma economia circular no setor têxtil global é um imperativo crescente, impulsionada pela necessidade urgente de mitigar o impacto ambiental massivo da produção e consumo de moda. Com o descarte de milhões de toneladas de resíduos têxteis em aterros sanitários anualmente e o uso intensivo de recursos naturais na fabricação de novas peças, a indústria busca ativamente soluções inovadoras para reutilizar, reciclar e regenerar materiais. É nesse contexto que fóruns de discussão e aceleração se tornam cruciais, como os eventos promovidos pelo Fórum Mundial de Economia Circular (World Circular Economy Forum – WCEF), uma iniciativa global que reúne líderes e especialistas para moldar o futuro da economia circular.
No Brasil, os esforços para integrar o País nesse movimento global têm ganhado força. Em 15 de maio, na sede da Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), foi realizada uma significativa Sessão de Aceleração do Fórum Mundial de Economia Circular 2025 (WCEF). Este evento, que se insere no contexto de debates mais amplos sobre a economia circular no Brasil e no mundo – o Forum Mundial de Economia Circular 2025 (WCEF) ocorreu na mesma semana de maio, no Parque Ibirapuera, em São Paulo – teve como foco central a urgência de escalar a reciclagem têxtil. Os participantes debateram as inúmeras dificuldades que precisam ser superadas para que os volumes reciclados atinjam um impacto verdadeiramente significativo tanto para o meio ambiente quanto para o desenvolvimento de uma economia mais circular.
As discussões e propostas de soluções foram estruturadas em três painéis principais, que reuniram representantes de diferentes elos da cadeia produtiva e do governo:
Este painel contou com a participação de Claudia Cicolo (Confecção T.Christina), Paulo Sensi Filho (Grupo Eurofios) e Alessandro Gadelha (Grupo Wolf). A principal dificuldade unanimemente apontada pelos recicladores é a separação correta dos resíduos. Infelizmente, a contaminação ainda é um problema generalizado, com a presença de lixo orgânico e, em alguns casos alarmantes, até mesmo resíduos perigosos, como vidros quebrados e seringas. Os debatedores foram enfáticos ao afirmar que a intensificação da informação e do treinamento, desde a mesa de corte até todos os níveis da empresa, é um trabalho contínuo, mas indispensável, que deve ser liderado pela diretoria. Foi ressaltado que a tarefa é viável, pois já existem empresas exemplares na segregação de resíduos. Outro desafio crucial é a classificação precisa dos retalhos, distinguindo tecidos puros de composições misturadas, o que impacta diretamente a qualidade e aplicabilidade do material reciclado.
Com Cyntia Kasai (C&A), Thays Rosini (Renner) e Taciana Abreu (Riachuelo), o painel do
varejo apresentou as metas e o progresso das grandes marcas no campo da sustentabilidade, além de identificar os obstáculos que mais comprometem a expansão da reciclagem. Todas as participantes confirmaram que as equipes de criação já são orientadas a priorizar materiais de menor impacto e de composição mais pura. No entanto, a adaptação rápida das tecelagens e confecções a esses novos paradigmas de produção é complexa, muitas vezes exigindo novos maquinários e investimentos substanciais. Do lado do consumidor, um desafio persistente é vencer a percepção de que roupas sustentáveis, feitas com fios reciclados, não são tão boas quanto as convencionais – um trabalho árduo de conscientização. Além disso, a capacidade de baratear o processo de produção e oferecer opções sustentáveis a preços acessíveis é fundamental para a democratização da moda circular. As varejistas enfatizaram a importância da colaboração, especialmente no recolhimento de roupas usadas pelos consumidores, como o único caminho para escalar efetivamente a reciclagem.
Estrategicamente posicionado ao final, este painel reuniu Talita Daher (ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Sis-
si Alves da Silva (MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e Eduardo Rocha Dias Santos (MMA - Ministério do Meio Ambiente). Uma reivindicação central dos debatedores, especialmente dos recicladores, foi a necessidade de incentivos fiscais para empresas que praticam a economia circular, como um grande acelerador do setor. A ABDI anunciou que um estudo detalhado da cadeia têxtil e de confecção está programado para este ano. O objetivo é levantar dados precisos sobre os volumes de descarte (tanto resíduos de produção quanto roupas em aterros) para subsidiar, em conjunto com o MDIC e o MMA, a elaboração de um plano de incentivo e um cronograma para o setor. Questões ligadas à Nova Indústria Brasil (NIB), que incluem e incentivam a economia circular, também foram abordadas. O plane-
jamento de uma logística reversa abrangente para o setor têxtil será uma etapa crucial dentro do estudo a ser conduzido pela ABDI, visando fechar o ciclo de vida dos produtos e reduzir o desperdício.
Em suma, a sessão na Abit reforçou a complexidade, mas também o potencial imenso, da economia circular no setor têxtil brasileiro. Com a colaboração entre a indústria, o varejo e o governo, e o alinhamento com iniciativas globais como o WCEF, o Brasil caminha para construir um futuro mais sustentável para a moda.
Quando recebi o convite para escrever este artigo, vi uma oportunidade de fazer o que mais tem me movido nesta altura da minha vida, com mais de 40 anos dedicados à Confecções T.Christina. Gosto de trazer boas notícias, especialmente nesses últimos anos, em um mundo marcado por mudanças aceleradas, crises e revoluções tecnológicas.
Gosto de trazer boas notícias, porque obviamente as rachaduras estão por todo canto e precisamos de resiliência e otimismo para transformações necessárias e justas. Neste contexto, a responsabilidade social corporativa exige novos esforços, seja pela pura sensibilização dos gestores para as questões emergentes da agenda ESG ou mesmo pelas regulamentações que apontam para um cenário próximo. Antes de pensarmos sobre esses esforços — sim, este artigo é um convite à reflexão conjunta, a partir do que venho estudando e experimentando com um grande time engajado e com meus parceiros de gestão, Cláudio Cicolo e
Igor Crivellari —, gostaria de compartilhar uma definição sobre a responsabilidade das empresas pelo impacto que geram na sociedade.
Em 2011, a Comissão Europeia propôs que as empresas devem criar processos com o “fito de integrar as preocupações de índole social, ambiental e ética, o respeito dos direitos humanos e as preocupações dos consumidores nas respectivas atividades e estratégias, em estreita colaboração com as partes interessadas” (RIBEIRO, L. G. G.; SAMPAIO, J. A. L. Responsabilidade social corporativa: entre os sentidos e o sem sentido).
Complexo e desafiador. O dever de casa para o empresário não tem sido fácil, mas os ganhos podem ser recompensadores, ou melhor, gratificantes. Repensar nossos negócios a partir da perspectiva de como impactamos as pessoas e o planeta gera frio na barriga em alguns; em outros, desperta entusiasmo e propósito. Tenho visto que essas sensações são contagiantes nas organizações, já que funcionam como
pequenos universos com seus habitantes, planetas e satélites. E assim tem sido com nossos stakeholders. Quanto mais nos movemos em direção às práticas de responsabilidade socioambiental, mais sentimos o engajamento nas relações e no dia a dia da fábrica.
Começamos atualizando nosso propósito, visão e criando nossos valores compartilhados, vividos diariamente em cada escolha e que são a base da nossa cultura. Das políticas ao comportamento e às ações, repaginamos nosso programa de reconhecimento, atualizamos cargos e salários, realizamos pesquisa de clima organizacional, promovemos eventos e treinamentos com temas como sustentabilidade, comunicação não violenta, direitos humanos, diversidade e inclusão.
Também acreditamos no movimento de trazer visibilidade para nossos colaboradores, criamos oportunidades para isso com concursos de poesia e de roupas feitas a partir dos nossos resíduos têxteis. Já assistimos uma de nossas costureiras na passarela de uma semana de moda importante, a partir de uma parceria com o Moda com Verso, da ABVTEX. Entramos em cartaz com uma exposição de peças feitas por nossos funcionários no Senac Lapa Faustolo, nos reconhecemos na TV, nas revistas e redes sociais de marcas e instituições relevantes.
Contamos nossas histórias dentro e fora, no Brasil e além (em setembro do ano passado fomos a Londres com o nosso projeto ORICLA ELÁSTICO). Publicamos o guia Método T.Christina em busca de mais sustentabilidade: compartilhando para multiplicar, com a pesquisadora da FEA-USP, Letícia Galatti, que nos conheceu durante um tour pela fábrica na Semana Fashion Revolution, em 2024. Abrimos nossas portas para estudantes, empresários, jornalistas e pesquisadores. Trocamos conhecimento, promovemos encontros e nos fortalecemos como uma grande cadeia de valor.
Com atividades como a Jornada Novo Olhar, quando saímos para ver a moda nas ruas, lojas e museus, e as aulas da escola Costurando por uma Causa, em parceria com o SENAI, desenvolvemos pessoas da empresa e do entorno. Somos uma comunidade e essa percepção tem potencial transformador e positivo.
Isso tudo reflete diretamente na produtividade, na redução das nossas taxas de absenteísmo e rotatividade e, ainda, no aumento significativo
da atratividade de novos colaboradores, justamente num momento em que o setor tem relatado grande dificuldade com “mão de obra”.
Segundo pesquisa da CNI apresentada por Fernando Pimentel no III Seminário de Competitividade da Nova Indústria Têxtil e Confecção, promovido pelo SENAI, o tema representa o quarto maior desafio da indústria brasileira. Ainda, de acordo com a Superintendência de Políticas Industriais e Econômicas, uma sondagem com empresários do setor têxtil e confecção, 95% dos entrevistados declara que tem dificuldade para contratação e 51% alega a falta de mão de obra em geral. Outro dado que merece atenção é que a maior causa de afastamentos hoje é a saúde, com depressão e ansiedade no topo das doenças mentais.
É urgente pensar em medidas para os tempos atuais. Uma delas é olhar para essa “força de trabalho” - expressão que abarca o ser humano integral, com necessidades subjetivas e habilidades criativas – e unir propósitos em busca de melhores condições no ambiente de trabalho, para que seja seguro, saudável, produtivo e próspero. Um motor para nossa Economia interna.
Vi recentemente a agitação com a chegada da NR-1, o medo da pauta pelo fim da escala 6x1, mas, de fato, passamos a maior parte das nossas vidas no trabalho e é ali que podemos fazer a diferença. Empresas são feitas de pessoas, e empresas podem ser cidadãs. A responsabilidade social empresarial precisa de ações e de empurrões.
A boa notícia é que, com esse olhar, podemos transformar uma protocolar Semana de Prevenção de Acidentes do Trabalho em uma excelente chance de fortalecer vínculos, de ver olhos brilhando com pequenas descobertas, de acessar conhecimentos valiosos para o trabalho e a vida em família e sociedade, de costurar nossos pontos em comum, de acreditar que somos fortes, adaptáveis e competitivos.
Por Claudia Cicolo Co-fundadora Confecções T.Christina comunicacao@tchristina.com.br
Lembra daquela época em que ter a carteira assinada era sinônimo de estabilidade e realização? Muita coisa mudou desde então, não porque a CLT perdeu valor, mas porque as formas de viver e trabalhar se transformaram. Hoje, mais do que o tipo de vínculo, o que importa é garantir dignidade. Afinal, ninguém deveria trabalhar só para sobreviver. O trabalho tem que caber na vida — e não o contrário.
Pesquisas recentes do Datafolha e do Instituto Locomotiva revelam um cenário inesperado: 59% dos brasileiros já preferem trabalhar por conta própria, número que pula para impressionantes 68% entre jovens de 16 a 24 anos. Para a indústria têxtil paulista, esses números vêm como uma tempestade no meio do verão.
Os números não deixam dúvidas. Segundo levantamento recente da Fiesp, 77% das indústrias paulistas enfrentam dificuldades sérias para contratar trabalhadores. Não estamos falando de vagas complexas, não. É mão de obra básica mesmo. A ironia é que, num momento de mercado aquecido, com taxa de desemprego em baixa
histórica (6,2% em São Paulo), muitas empresas olham para o lado e não encontram ninguém disponível para preencher vagas.
“Mas Renato, por que isso está acontecendo?” Bom, vamos entender juntos. Para começar, o jovem de hoje não enxerga valor em bater cartão, encarar chefes autoritários e seguir rotinas rígidas. Mas não se trata apenas de preferência: é que muitos já não veem na CLT as promessas de segurança e estabilidade que ela um dia representou. Diante de um mercado que oferece pouco em troca de muita entrega, a instabilidade do empreendedorismo ou do trabalho autônomo passou a parecer, para muitos, um risco mais coerente com a realidade do que um emprego formal que não garante futuro. Para eles, a carteira assinada ficou parecendo aquele celular antigo, robusto e confiável, mas que ninguém quer mais usar.
Veja a história de Bruno, de 27 anos, ex-funcionário de uma indústria química em Guarulhos. Bruno via vantagens no salário fixo, mas pesava os custos: acordar cedo todos os dias, bater ponto e enfrentar ho -
ras no trânsito. Hoje, trabalha como motorista de aplicativo. Ele diz: “O dinheiro é parecido, mas posso almoçar em casa, escolher quando tirar folga, mesmo que isso signifique lidar com o risco de multa toda semana ou enfrentar trânsito intenso o dia todo.”
Outro exemplo marcante é o da Mariana, jovem mãe de dois filhos pequenos. Ela recusou uma vaga formal numa indústria têxtil porque o salário oferecido, somado aos custos com creche e transporte, não compensava. Resolveu abrir sua lojinha online de roupas. Resultado? Ganha mais ou menos o mesmo que ganharia na indústria, com a vantagem inestimável de estar presente nas reuniões escolares dos filhos. “Emprego formal hoje em dia”, brinca Mariana, “só se vier junto com escola em tempo integral para as crianças.”
Essas histórias são o retrato vivo de um mercado em transformação profunda. É como se o mercado formal fosse aquele disco de vinil antigo, bonito, nostálgico, mas difícil de ouvir se não tiver uma vitrola apropriada. Os jovens, por outro lado, nasceram na era do streaming. Querem agilidade, flexibilidade e principalmente, controle sobre seu tempo.
Há um lado oculto nessa tendência, claro. Apesar da liberdade que o trabalho por conta própria traz, não é tudo tão colorido. Pesquisas do Instituto Locomotiva mostram que a insatisfação entre trabalhadores autônomos é quatro vezes maior do que
na indústria formal – 27% contra apenas 6% na indústria. Muitos encaram jornadas excessivas, e reconhecem que falta proteção social, plano de saúde ou previdência.
É justamente esse o desafio que a indústria precisa enfrentar: como reconectar-se com uma geração que já não acredita mais no modelo tradicional de emprego? O caminho pode estar em repensar a proposta de valor do trabalho industrial. Não basta mais oferecer salário e benefícios convencionais; é preciso resgatar a promessa de estabilidade com sentido — com oportunidades de crescimento, ambiente respeitoso e reconhecimento do profissional como parte de um projeto coletivo.
No meio desse cenário complicado, ainda há esperança. A indústria têxtil, por exemplo, pode e deve apostar na valorização das pessoas, na capacitação profissional contínua e, principalmente, em modelos que permitam maior autonomia aos funcionários. Como costumo dizer, é hora de a indústria trocar seu velho “telefone de disco” por um smartphone moderno, ágil e cheio de aplicativos. Só assim vai conseguir falar a língua de quem ela tanto precisa atrair.
A carteira assinada não morreu, mas, certamente, precisa de uma boa atualização no software. Ou vamos continuar vendo os jovens brincarem nas redes sociais que “CLT é que nem mensagem por SMS: todo mundo já usou, mas hoje ninguém aguenta mais”.
*Renato Meirelles
Comunicólogo e escritor, desde 2001, Renato conduz centenas de estudos sobre comportamento, consumo, cultura e opinião, liderando diagnósticos e estratégias de negócio para as principais empresas que atuam no Brasil. Considerado um dos maiores especialistas em consumo e opinião pública do país é fundador da Locomotiva Instituto de Pesquisa.
Este espaço da Revista Abit Review vai noticiar algumas iniciativas das empresas que estão investindo em ações dentro da agenda ESG, como eventos, certificações, prêmios, boas práticas junto a comunidades, colaboradores, e outras ações.
A Cedro Têxtil apresenta os lançamentos da Coleção #01 com foco em desempenho, versatilidade e tratoeng com práticas sustentáveis (ESG). A produção dos tecidos segue o mesmo padrão sustentável, característica da empresa, de tratamento de efluentes, menos consumo de água que a média do setor e a busca contínua pela redução da emissão de CO². Entre os destaques, o Arizona Stretch traz 1% de elastano e tingimento puro índigo, oferecendo conforto e ampla variedade de efeitos de lavanderia com excelente rendimento. Já o Arizona Black e sua versão Stretch, com tingimento super black, garantem profundidade de cor e múltiplas possibilidades de acabamento, aliando estilo e durabilidade. O tecido Mila, com 8,5 oz e power de 60%, é indicado para modelagens ajustadas e proporciona desempenho otimizado em lavanderia, reforçando a ideia de consumo consciente.
“ESG: Desafios e Oportunidades” foi o tema do workshop realizado pela Abit, em junho. A ideia foi apresentar caminhos para que empresas do setor alinhem suas práticas aos padrões ESG. O evento híbrido abordou estratégias para garantir sustentabilidade e responsabilidade corporativa, com foco em práticas essenciais no cenário global e local, com a proposta de oferecer subsídios práticos para que empresários e profissionais do setor transformem os desafios da agenda ESG em oportunidades de inovação e competitividade.
A C&A Brasil, em sua jornada ESG, anuncia a meta de reduzir em 42% suas emissões diretas e indiretas de CO₂ até 2030 — um avanço validado pela Science Based Targets initiative (SBTi), que supera em 12 pontos percentuais o acordo anterior. Alinhada a desafios e oportunidades do mercado brasileiro, a varejista já opera com 100% de energia renovável em lojas, centros de distribuição e escritórios, evitando a emissão anual de 10 mil toneladas de CO₂. Na logística, sua frota verde — com veículos elétricos e híbridos — contribuiu com a redução de 286 toneladas de CO₂ no último ano. Pioneira em circularidade no varejo de moda, a C&A fortalece o programa ReCiclo, que já recolheu mais de 350 mil peças, agora utilizadas como matéria-prima para uma nova coleção de jeans reciclado. Até 2030, a companhia prevê utilizar 80% de matérias-primas sustentáveis, cortar pela metade o uso de plásticos e desenvolver 50% dos produtos com base em princípios de circularidade. A inclusão da C&A no Índice Carbono Eficiente (ICO2) da B3 reforça seu compromisso com a transparência e a liderança em sustentabilidade no setor.
A Abit marcou presença na Missão França, uma iniciativa da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), que ocorreu entre os dias 4 e 6 de junho. A delegação brasileira contou com a participação do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, da primeira-dama Janja Lula da Silva, e do presidente da ApexBrasil, Jorge Viana. A Abit foi representada por Lilian Kaddissi, superintendente de Marketing e Negócios. A Missão sublinhou o protagonismo do Brasil na moda sustentável e o vasto potencial de negócios com o mercado francês. O evento de abertura, realizado no Café de l’Homme, em Paris, contou com um desfile exclusivo de cinco marcas brasileiras autorais. Todas lideradas por mulheres e com foco em sustentabilidade. No último dia da missão, a agenda focou em debates estratégicos sobre sustentabilidade. Temas como a descarbonização da economia, a transição energética e o papel fundamental do setor privado na COP30, que acontecerá em Belém/PA em novembro de 2025, foram discutidos.
A Renner lança sua nova coleção com algodão agroecológico brasileiro, unindo moda, inovação e responsabilidade socioambiental. Pioneira no uso dessa matéria-prima no varejo nacional, a marca apresenta sua quinta coleção com o insumo e, pela primeira vez, incorpora um design urbano marcante, com peças versáteis. Entre os destaques estão o denim revisitado, tops com recortes estratégicos, e elementos como utilitários, balonês e cut-outs, combinados a uma cartela de cores que mistura tons vibrantes da estação com neutros sofisticados. O algodão utilizado é cultivado sem agrotóxicos em Minas Gerais e no Ceará, por mulheres agricultoras apoiadas pelo Instituto Lojas Renner — projeto que promove renda, protagonismo feminino e fortalecimento da agricultura familiar. Desde 2017, a iniciativa já beneficiou mais de 330 famílias e colheu cerca de 65 toneladas em duas safras. Ao conectar essas produtoras à cadeia têxtil, a Renner impulsiona práticas circulares e de baixo carbono, alinhadas às suas metas ESG para 2030. Atualmente, 80% das peças da marca já são feitas com materiais ou processos de menor impacto ambiental.
A Malwee - marca do Grupo Malwee referência global em moda sustentável – lançou a camiseta Ar.voree, feita com a primeira malha do Brasil com tecnologia capaz de capturar gás carbônico (CO2) do ambiente e eliminá-lo durante o processo de lavagem. Fruto de uma parceria inédita com a startup de Singapura Xinterra, por meio da tecnologia COzTERRA, uma única peça da camiseta é capaz de capturar a mesma quantidade de CO2 que uma árvore adulta, após 25 lavagens. O tecido inovador da camiseta captura o gás carbônico da atmosfera, que ao entrar em contato com o sabão líquido ou em pó durante a lavagem, é transformado em bicarbonato de sódio, sendo eliminado de forma segura. Esse processo também recarrega os agentes de captura de CO2 na camiseta, permitindo que ela continue funcionando como um “filtro de carbono” a cada uso.
A Vicunha promoveu em seu showroom em São Paulo um desfile de 27 looks, com peças criativas e autênticas em denim e brim. Cerca de 15 marcas e criativos participaram do desfile, entre eles: Alexandre Herchcovitch, DOD, LED, Essense Company E`C, Gefferson Vila Nova, Open Studio, Amapô Jeans, Reptilia, Bold Strap, Isaac Silva, MNMAL, Working Title, Marcelo Zantti, Ufo Way, UMA e CAZUHÊ. Cada estilista levou à passarela looks que interpretam os novos caminhos da moda jeanswear por meio de materiais tecnológicos, sustentáveis e com apelo de design e conforto.
Com o tema “Re-Despertar”, a Canatiba Têxtil apresentou sua coleção Inverno 2026 na Denim City, em São Paulo, reforçando seu engajamento com práticas ESG por meio da integração entre tradição, inovação e responsabilidade socioambiental. A marca propõe um novo olhar sobre o denim, com tecidos que combinam design contemporâneo, apelo sensorial e impacto reduzido — como o Selvagem Denim, desenvolvido por Nelsinho Nevada e Romeu Covolan, e o Jacquard Denim Onça, exclusivo no mercado nacional. Destaque também para os artigos Pima (sem lavagem) e Nebraska (efeito snow), que reforçam a proposta de otimizar processos e preservar recursos. A coleção inclui ainda a linha Circular Collor, feita com fibras regeneradas e foco em conforto térmico, e tecidos especiais como Viscolino Éko, Mirror Lustre e Danúbio Collor, que aliam tecnologia, estética e versatilidade. A renda das peças vendidas na Experience Store, no local, foi revertida à APAE local, fortalecendo o pilar Social Care da Canatiba e seu vínculo com a comunidade de Santa Bárbara d’Oeste (SP).
A Covolan Denim apresentou sua nova coleção durante a Semana de Lançamentos na Denim City SP 2025, destacando transformações no consumo, na cadeia produtiva e na estética do jeanswear. No evento, a marca realizou uma palestra que discutiu a evolução das expectativas do consumidor e a integração entre produto, tecnologia e sustentabilidade. A coleção conta com 15 lançamentos exibidos em manequins, explorando diferentes texturas, gramaturas e acabamentos — do ultraleve ao estruturado — para ampliar as possibilidades criativas do denim. A programação incluiu ainda um talk técnico com especialistas da CHT Brasil e da ZDHC Foundation, abordando práticas para a eliminação de substâncias químicas perigosas na cadeia têxtil, com foco na implementação do programa Roadmap to Zero. A Covolan compartilhou soluções e iniciativas voltadas à redução de impactos ambientais e à adoção de processos mais seguros e eficientes no setor têxtil.
A Santista Jeanswear lançou sua coleção Inverno 26 durante a Semana de Lançamentos na Denim City São Paulo, em um momento de consolidação de sua trajetória criativa e de fortalecimento de práticas sustentáveis. O tema da coleção refletiu a dualidade entre inteligência artificial e saber artesanal, abordado no talk “Denim: Entre Tramas e Algoritmos”, com a participação de nomes como Dudu Bertholini, Olivia Merquior e Dario Mittmann. A marca apresentou cinco lançamentos e quatro reengenharias, com destaque para o Legacy 95 em nova tonalidade blue black (Galaxy), o Astra na cor Pacific Blue com 47% de stretch, e a linha Iza, que trouxe versatilidade e liberdade de movimento. Artigos consagrados também passaram por melhorias técnicas, como o Blue No Wash, que manteve sua proposta raw e sustentável ao eliminar processos de lavanderia. Todos os tecidos utilizaram algodão certificado pela BCI e incorporaram acabamentos ecológicos, como biogoma de resíduos alimentares e tecnologias que reduzem o uso de água, energia e químicos. A coleção integrou ainda colaborações com dez estilistas e marcas convidadas para reinterpretar os clássicos da Santista como parte das comemorações pelos 95 anos da empresa.
A Abit realizou, por meio do Texbrasil — parceria entre a Abit e a ApexBrasil — a Missão Empresarial Portugal 2025, entre os dias 26 e 30 de maio, na cidade do Porto. A iniciativa reuniu 15 empresários do setor têxtil e de confecção em uma agenda estratégica voltada à internacionalização, inovação e sustentabilidade. Na programação, o grupo participou do iTechStyle Summit, conferência internacional promovida pelo Citeve, que abordou temas como inteligência artificial, materiais avançados e digitalização. No primeiro dia, o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel, participou de um painel sobre os desafios da regulamentação no setor. A agenda da missão também incluiu visitas técnicas e de networking com empresas e instituições portuguesas.
O Workshop “Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) e Estratégia de Descarbonização” foi realizado pela Abit e teve como objetivo apoiar as empresas do setor na elaboração de seus inventários de emissões de GEE e na construção de estratégias eficazes para a descarbonização. Durante o workshop online, Higor Turcheto, Gerente de Consultoria da WayCarbon — consultoria referência em sustentabilidade — apresentou etapas da elaboração de um inventário de GEE e como avaliar cenários para a descarbonização de processos, entre outros tópicos.