
Compartilhar conhecimento e aprender com o próprio ensinamento

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Como o Saneamento Básico Transforma Salários e Saúde no Brasil
A Revista Abit Review é uma publicação digital da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – Abit , com artigos de convidados que aceitam compartilhar experiências e conhecimentos com outros profissionais e empresários do setor T&C. Periodicidade quadrimestral.
Fernando Pimentel (Dir. Superintendente da Abit), Rafael Cervone (Superintendente Área Internacional), Lígia Santos (Comunicação), Luiza Lorenzetti (Sustentabilidade e Inovação), Camila Zelezoglo (Sustentabilidade e Inovação), Patrícia Pedrosa (Comércio Exterior), Oliver Tan Oh (Inteligência Competitiva), Haroldo Silva (Economia), Sylvio Napoli (Normas e Regulamentos), Julieta Pagliuca (Eventos e Novos Projetos), Antonio Carlos Cambauva (Eventos e Novos Projetos), Roberto Lima (Comunicação) e Leandro Mira (Comunicação)
Coordenação Editorial: Ligia Santos – MTB 19141/SP
Diagramação e Arte: Leandro Mira
Fale com a redação (cartas e sugestões de artigos): lisantos@abit.org.br
Anúncios e Patrocínios:
Antônio Carlos Cambauva: antonio.carlos@abit.org.br (11) 3823 6192 / (11) 98455 8545
em ordem alfabética:
Fabianne Pacini (NILIT) fabiannep@nilit.com
Gesner Oliveira (GO Associados) contato@goassociados.com.br
Katia Silva (Ideal Work) katia.avlis@idealwork.com.br
Luana Pretto (Instituto Trata) tratabrasil@tratabrasil.org.br
Marsha Dickson (Better Buying Institute) marsha.dickson@betterbuying.org
Rafael Benke (Proactiva Results) contato@proactivaresults.com
Renato Meirelles (Instituto Locomotiva) contato@ilocomotiva.com.br
Suéli Feio (Costurando sonhos) contato@costurandosonhosbrasil.com.br
Thamires Pontes (Phycolabs) thamires@phycolabs.com
Verena Hitner (CNDI) cndi@mdic.gov.br
A Revista Abit Review é enviada para todo mailing de associados e engajados da entidade (empresários do setor, fornecedores, profissionais, acadêmicos, pesquisadores, autoridades de governo, imprensa, estudantes e formadores de opinião). Se você quer receber a Abit Review clique aqui
POR:
Ricardo Steinbruch Presidente do Conselho de Administração Abit
Valente Pimentel Diretor-superintendente e presidente emérito da Abit
Desde o lançamento da Abit Review, em outubro de 2021, uma das informações mais relevantes que transmitimos aos leitores, tema deste editorial, foi a aprovação da Liga de Descarbonização da Indústria Têxtil e de Confecção, na mais recente reunião do Conselho da entidade, em 18 de julho. Com isso, nosso setor, já bastante engajado na agenda do clima, dá mais um passo significativo em sua trilha de sustentabilidade.
Segundo estimativas referentes ao contexto global, a cadeia de valor da moda responde por 2% a 8% das emissões totais de gases de efeito estufa. Para as empresas brasileiras, que contam com a generosidade de recursos proporcionados pela nossa exuberante natureza, há claras e boas oportunidades de se destacar nesse contexto do setor. Não nos referimos apenas ao compromisso inalienável de contribuir para conter o aquecimento da Terra, mas também ao diferencial competitivo que isso representa num mercado do qual os consumidores de todo o mundo exigem cada vez mais produtos ambientalmente corretos.
Hoje, 74% da energia consumida pelo setor têxtil brasileiro é de origem renovável e de baixa emissão, sendo 67% referente à eletricidade e 7% referente à biomassa. O gás natural representa 21%, que, por ser de origem fóssil, tem maior emissão. Aqui temos uma oportunidade de reduzir emissões com o uso de novas tecnologias, aumentando nosso potencial competitivo para prospectar mercados mais exigentes quanto às práticas de sustentabilidade das empresas.
Todos estarão de olho em nosso país e aos compromissos que assumimos internacionalmente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa durante a 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
(COP30), a ser realizada em Belém do Pará, em novembro de 2025. Estima-se que estarão presentes mais de 60 mil empresários, investidores, cientistas, ativistas, lideranças ambientais, políticos e governantes de todo o mundo.
Teremos oportunidade ímpar de mostrar o que estamos fazendo e de cobrar as nações quanto ao Acordo de Paris, que limitou em 1,5 grau Celsius o aumento da temperatura da Terra em relação ao período pré-industrial. Sim, pois na COP30 os países terão que de apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) para o cumprimento dessa meta.
O setor privado não deve limitar-se a participar institucionalmente e a cumprir leis e normas ambientais, o que também é importante e mandatório. Precisa ser proativo, atuante e fazer sua parte. É disso que estamos cuidando no âmbito da Liga de Descarbonização da Indústria Têxtil e de Confecção, que visa incentivar o crescente engajamento do nosso setor e de toda a cadeia produtiva nessa agenda e dar visibilidade às empresas aderentes.
Uma das nossas metas, até 2027, é que as empresas elaborem e publiquem em seus sites o Inventário de Gases de Efeito Estufa, conforme modelo indicado no Guia Moda e Clima desenvolvido conjuntamente em 2023 pela Abit, Abvtex e Senai Cetiqt. Mais do que veicular essas informações, será importante que elas reflitam avanços concretos nas metas e práticas de sustentabilidade. Nossa entidade disponibilizará conteúdos e fornecerá todo o apoio às interessadas em se engajar na Liga da Descarbonização. Esta é uma das respostas da indústria têxtil e de confecção do País ao grito de socorro de nosso planeta febril!
ÓTIMA LEITURA!
Água Limpa, Vidas Melhores: Como o Saneamento Básico Transforma Salários e Saúde no Brasil
A entrevista com Luana Pretto, do Instituto Trata, destaca a importância de água limpa e tratamento de esgoto na produtividade e educação, além de discutir o Marco Legal do Saneamento e suas metas para 2033. Pretto também aborda os desafios de perdas de água, investimentos necessários e a relação entre saneamento e desenvolvimento socioeconômico.
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Moda consciente: o papel da sustentabilidade na revolução da indústria têxtil..........................14
A indústria têxtil está se transformando para reduzir seu impacto ambiental, adotando práticas sustentáveis e inovações. Neste artigo da Nilit, são abordadas as parcerias como a da marca Pronta com a SENSIL® EcoCare que mostram que é possível produzir de forma mais responsável e eficiente.
Nova Indústria Brasil: Paradigma para o desenvolvimento Nacional........................................16
Artigo fala sobre a Nova Indústria Brasil que visa reverter a desindustrialização do país, promovendo competitividade, inovação e sustentabilidade. Lançada em 2022, a política busca reduzir desigualdades e melhorar a qualidade de vida, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial.
O Futuro dos Tecidos e o Papel Crucial de Empresas e Investidores..............................................18
A sustentabilidade é prioridade no setor têxtil, com inovações como fibras de algas marinhas ganhando destaque. A PhycoFiber, da Phycolabs, exemplifica essa mudança. O sucesso dessas inovações depende da colaboração entre startups, empresas e investidores, que devem fornecer infraestrutura, parcerias e investimentos estratégicos.
Estratégia de Circularidade do Grupo Ideal Work.........................................................................22
O Grupo Ideal Work, com 50 anos de história, lançou o tecido sustentável Ecowork, feito de resíduos têxteis, reforçando seu compromisso com a sustentabilidade. A empresa adota práticas ESG e busca reduzir o impacto ambiental da indústria têxtil, promovendo a economia circular e desenvolvendo novos produtos sustentáveis.
Costurando Sonhos: Empoderando Pessoas Vulneráveis e Transformando Vidas em Paraisópolis............................................................24
A ONG Costurando Sonhos, em Paraisópolis, São Paulo, capacita mulheres vulneráveis e pessoas LGBTQIA+ em costura, promovendo independência financeira e resgatando sonhos. Com apoio do SENAI e SEBRAE, já formou mais de 1.400 alunos, expandindo suas iniciativas para outras regiões do Brasil.
Uma Nova Linguagem para os Direitos Humanos..................................................................28
O artigo de Marsha Dickson discute a necessidade de substituir o conceito de “poder de influência” pelo de “parceria” nas cadeias de suprimentos para promover direitos humanos. Argumenta que a colaboração e objetivos compartilhados entre compradores e fornecedores são mais eficazes do que a coerção para garantir condições de trabalho dignas.
Segurança Hídrica: Panorama para um Futuro sem Escassez.......................................................30
A ONU define segurança hídrica como água suficiente e de qualidade. O Marco Legal do Saneamento (Lei 14.026/2020) visa 99% de acesso à água potável e 90% de tratamento de esgoto até 2033. O Atlas Águas da ANA mapeia mananciais e prevê R$ 214,3 bilhões em investimentos até 2035. Preservação e uso consciente são essenciais.
Direitos Humanos no Mundo Corporativo: Da responsabilidade social à obrigatoriedade legal.................................................................................36
A União Europeia adotou a Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa, exigindo que empresas e suas cadeias de fornecimento previnam impactos adversos aos direitos humanos e ao meio ambiente. A medida se tornou obrigatória e impacta diretamente empresas brasileiras que fazem negócios com a UE.
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Inteligência artificial e um olhar para o futuro
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Empresas investem e são reconhecidas por iniciativas da agenda ESG e ODS.
44 Nossos Colunistas
Gesner Oliveira é nosso Colunista Fixo, um dos maiores especialistas de Economia Verde. Nesta edição, Gesner aborda os desafios da segurança cibernética e a desigualdade que a IA pode trazer, apesar de todo o lado positivo.
É justo que empresas brasileiras paguem mais impostos que as asiáticas?
Nosso novo Colunista Fixo é Renato Meirelles, um dos maiores pesquisadores do Brasil, através de sua empresa Instituto Locomotiva. Nesta coluna de inauguração, Renato fala sobre a polêmica “taxa das blusinhas”, mas que é insuficiente para isonomia tributária
Como o Saneamento Básico Transforma Salários e Saúde no Brasil
Como água limpa e tratamento sanitário podem gerar melhores salários para o povo brasileiro? Nossa entrevistada dessa edição há muitos anos estuda a água, mas também a coleta de esgoto, que envolve preservação hídrica, que promove saúde, que melhora os índices de absenteísmo, que aumenta a produtividade, que também eleva os indicadores de educação e, por fim, que melhora salários. Pesquisas, estudos, gestão, tudo sobre recursos hídricos e saneamento faz parte de uma experiência de anos passando por instituições públicas e privadas. Atualmente, Luana Pretto lidera o Instituto Trata que há 17 anos realiza levantamentos, projetos e orientações para governos, desde prefeituras até as instâncias federais. Se o assunto é água e saneamento, ela é uma das pessoas que mais entende do assunto em âmbito nacional. Ela conversou com a Abit Review para explicar porque quem tem água e esgoto tem melhores salários.
AR – Fale um pouco sobre o Instituto Trata, que você preside hoje. Quais objetivos?
Luana - Ele foi criado em 2007, na verdade, com o objetivo de fomentar o avanço do saneamento no Brasil, do acesso à água, coleta e tratamento de esgoto, além é claro de proteção dos recursos hídricos. Então esse foi o objetivo. Na época, eram empresas, como produtores de tubos ou outros materiais que fomentavam o Instituto e tudo que ele produz de informação para a sociedade. Porque o governo, como sabemos, é regido por aquele velho ditado de obra enterrada não dá voto, né? Então, o objetivo do Trata é tanto expor os dados e gerar um desconforto nos governantes para que eles tomem alguma atitude em relação, né? Também visamos conscientizar a população. A gente atua de cima para baixo e de baixo para cima, pois a gente entende que a população conscientizada vai exigir dos seus governantes também. Hoje são 34 empresas que contribuem com o Instituto, de variados setores, que estão preocupados com a segurança hídrica e a saúde das pessoas, além dos aspectos econômicos. Quando o Jornal Nacional vai falar de saneamento ele procura o Trata, porque somos referência na geração de dados e de estudos. Temos estudos recorrentes que estão no nosso site, disponíveis para o público, como por exemplo o Ranking das 100 maiores cidades, estudos de perdas de água, estudos de saneamento e a vida da mulher brasileira, benefícios econômicos da universalização do saneamento.
AR- E quais as principais conquistas que o Instituto Trata conseguiu nos últimos anos?
Luana – A principal foi a aprovação do Marco Legal do saneamento básico, que foi a lei que estipulou as metas em relação à universalização do saneamento, aprovado em 2020. O Trata teve um protagonismo muito grande na aprovação dessa lei, fornecendo insumos, para que pudesse ser discutida na Câmara, no Senado. E por que é importante que a gente possa ter meta em relação ao saneamento básico? Porque isso pode gerar 1.4 trilhão de reais para o Brasil em redução de custos com saúde e em ganho de produtividade. Então o Trata foi muito importante nesse processo e tem sido importante agora, no monitoramento do avanço. A gente faz, por exemplo, um estudo anual. Dia 15 de julho o Marco legal do saneamento faz aniversário de 4 anos e lançaremos um estudo. Então, assim a gente está sempre monitorando os avanços, botando o dedo na ferida de quem não está avançando, né?
AR – E existem casos de sucesso?
Luana – Sim, e nós temos um Prêmio. Casos de sucesso que a gente premia, as cidades que têm se destacado, então não visamos só as coisas negativas. Promover resultados positivos que sirvam de exemplo para outras cidades, né? Nas eleições municipais, a gente vai ter uma campanha gigantesca para que o acesso a água, coleta e tratamento de esgoto e proteção dos recursos hídricos esteja na pauta dos candidatos. Vamos atuar com as associações, com as redes sociais, contratar influencers, para chegar nos 5.500 municípios. A gente fez uma cartilha sobre o saneamento básico
AR – Que outras ações vocês contribuem?
Luana - A gente trabalha com o Ministério público. Nós temos um site que a gente tem os dados de saneamento, de escolaridade média, com e sem saneamento, renda média com e sem saneamento. O Ministério público pode ir ou qualquer cidadão pode ir e digitar o nome da sua cidade e ter essas informações, entendeu? Então, é uma parceria também, porque às vezes eles (governantes) não querem fazer, e se não vai por bem, vai por mal, né?
AR – Por falar em Marco Legal, quais os impactos e conquistas até agora?
Luana - Ele tem alguns pilares que são muito importantes. Um deles, é a questão da segurança jurídica. Porque todos os municípios precisam até o ano de 2033, chegar a 99% da população com acesso à água e 90% da população com acesso à coleta e tratamento de esgoto. É o que o Marco fez. Ele criou ima agenda regulatória. Então, assim, ele centralizou a edição de normas em relação ao saneamento básico, na agência nacional de água e saneamento, a ANA. A ANA é muito pulverizada. São mais de 90 agências infranacionais, que podem ser estaduais ou municipais, que regulam o setor de saneamento básico. O Marco legal trouxe a centralização de todas as normas de referência para que, a partir daqui, as outras agências pudessem operar. Então, isso trouxe uma segurança jurídica para que houvesse maiores investimentos no setor de saneamento básico. Antes, cada lugar tinha uma regra, cada lugar cooperava de uma maneira e isso gerava insegurança com terceiros. Agora, a iniciativa privada pode começar a atuar no setor de saneamento básico com segurança. 70% do mercado de saneamento é operado por companhias estaduais que têm contratos de programa que foram feitos sem licitação com os municípios. O que o Marco legal do sanea-
mento colocou? Que quando esse contrato terminar, você é obrigado a fazer uma licitação e aí nessa licitação pode concorrer o público e o privado. Então, abriu mais o mercado para o setor privado operar. A regulação trouxe a concorrência, a competitividade para o setor de saneamento, estabeleceu metas claras e objetivas que cada um tem que buscar, com a melhor forma de atuação. A Sabesp (Cia de àgua e esgoto de SP), por exemplo, está se privatizando. O Rio Grande do Sul privatizou, mas o Rio de Janeiro a produção está com o estado, mas a distribuição de água e coleta e tratamento de esgoto está com um privado.
AR – Ter uma data e metas foi o principal impacto do Marco Legal?
Luana - o senso de urgência foi estabelecido. O governante pensa: preciso aumentar o meu volume de investimentos, porque senão eu não consigo universalizar até 2033. As companhias estaduais também passaram por um processo de comprovação da capacidade econômico-financeira para ver se elas teriam capacidade financeira para universalizar. E muitas precisam do governo do estado aportando dinheiro, elas não são sustentáveis.
AR – Além da captação, qual o desafio da distribuição?
Luana - daí a gente entra na questão deficitária, por exemplo, da perda de água. A perda de água no Brasil é de 37,8%, ou seja, de toda água tratada produzida, a gente perde no sistema de distribuição quase 40%. São 7600 piscinas olímpicas de água tratada perdidas por dia. Mas o Brasil varia...o Amapá perde 71% de toda água produzida, Rondônia perde 66%. São vazamentos e perda comercial, os roubos. Os gatos que a gente chama. Mas a grande maioria das perdas são físicas mesmo, são os vazamentos tanto os visíveis, que são os que a gente vê na no pavimento, quanto vazamentos ocultos que ficam embaixo da superfície. A ineficiência é muito grande e o sensor de urgência foi estabelecido. A partir desse momento, o BNDES começou a auxiliar na estruturação de diferentes modelos de negócio. Por exemplo, o Paraná fez parceria público privada para tratamento de esgoto, o Amapá privatizou total. Os investidores conseguem financiamento com BNDES através de leilões. Foram captados 60 bilhões de reais em investimento, para o setor de saneamento básico, a serem investidos nos próximos 35 anos, que é o período de concessão.
AR - qual seria realmente o investimento necessário? Vamos considerar até 2033, que é o que o Marco legal coloca, quanto seria necessário para produção, distribuição, coleta e tratamento?
Luana - É praticamente, arredondando, 600 bilhões de reais. Esse é o número que o plano de saneamento básico do Ministério das cidades aponta, para produção e saneamento para 100% dos brasileiros. Então a gente precisa investir aí, em média, 44,8 bilhões de reais ao ano. Atualmente, estamos investindo 20 bilhões ao ano. Então a gente precisa mais que dobrar, né? Mas, como o Brasil é muito variado, a demografia impacta nesse valor e, por isso, precisamos calcular de forma individual. Portanto, o Brasil deveria estar investindo R$ 231 reais por ano por habitante para conseguirmos universalizar. Na média, o fato é que estamos investindo R$ 111 reais. As regiões com piores indicadores de saneamento básico são as regiões norte e nordeste. Na região norte, 64% da população tem acesso à água, 14% de coleta e tratamento de esgoto e investe em média, R$ 57 reais por ano para cada habitante. Região nordeste, 77%, com acesso à água, 31% de coleta e tratamento e investe R$ 79 reais por ano por habitante. Hoje, a desigualdade em relação ao saneamento é muito grande. Basicamente, porque não há vontade política. São obras que não aparecem. E, apesar da abundância hídrica, Porto Velho, por exemplo, somente 41% dos habitantes têm acesso à água tratada. Pura falta de políticas públicas para atender a população.
AR – Tem algum estudo que evidencie o resultado para cada real investido em saneamento?
Luana - Sem dúvida. É um estudo que aponta que para a universalização, ou seja, se eu investir 600 bi, eu vou ter um retorno de 1.4 trilhão em ganhos econômicos e sociais, principalmente em redução de custo com saúde e em ganho de produtividade. Por quê? Porque a população que tem acesso a água tratada, ela fica menos doente, as crianças têm um desenvolvimento físico neurológico muito maior. Hoje, quem tem acesso ao saneamento tem uma escolaridade média de 12 anos. E essas crianças vão ter uma melhor nota no Enem e, consequentemente, terão uma possibilidade maior de ingressar na faculdade. Isso vai impactar na renda média Futura do cidadão. Hoje, quem tem acesso ao saneamen-
to tem uma renda média de R$ 3.300 reais, e quem não tem, renda média de R$ 2.100 reais. O acesso à água tratada, coleta e tratamento de esgoto é a grande força motriz de desenvolvimento econômico e social de um país.
AR – E por que a população não exige saneamento?
Luana - aí a gente tem um problema cultural grande do nosso país, pois a população não entende. As pessoas falam de saneamento básico, mas não sabem o que é isso. Elas pensam “Por que o acesso à água é importante? Ah tá, mas eu vou pegar aqui da água de poço que já existe e está mais perto”. Só que a água está contaminada. Os filhos das pessoas estão com diarreia e não sabem o porquê, acham que os filhos nasceram com problemas. Então a população não exige o acesso e aí a gente vive esse ciclo vicioso de não evoluir. Parece incrível, mas isso ainda é muito real nas zonas mais interioranas do Norte e Nordeste. Veja, por exemplo, São Paulo onde tem mais pessoas com escolaridade e, portanto, mais esclarecidas: a região sudeste investe 131 reais por ano por habitante, que é mais que a média nacional de 111 reais. Compara com a região norte, que investe 57 reais. São Paulo está praticamente universalizado em saneamento. Então, a população quanto mais esclarecida mais terá avanço, seja na produção de água limpa, na coleta e tratamento, como em relação à proteção dos recursos hídricos. Por isso tanta pressão na despoluição do rio Pinheiros, que avançou muito, quanto do rio Tietê. No Brasil todo se joga 5.500 piscinas olímpicas de esgoto bruto nos nossos rios.
AR – Porque o Sudeste é a região que mais irá absorver os recursos financeiros para atender ao Marco Legal sanitário? Não seriam as regiões mais desatendidas, como a Norte, a gastarem mais recursos?
Luana – Não se você fizer a correlação de população x recurso per capta. São Paulo e Minas Gerais são os estados que possuem a maior população. Irão requer naturalmente um volume maior de investimentos para atender toda a população. Veja que eu falei que SP está praticamente universalizado, e são as maiores estatísticas: 90% da população tem coleta de esgoto e 71% de tratamento desse esgoto. Para alcançar o marco legal irá um grande investimento. Só a Sabesp atende 30 milhões de pessoas. No caso de Minas, 76% tem coleta de esgoto e 43% de tratamento. Então, imagina
que Minas que é um estado super populoso terá mais que dobrar o tratamento até 2033! É preciso ter em mente que nem todas as regiões conseguirão chegar nas metas.
AR – Como atender com água e coleta de esgoto as favelas do Brasil?
Luana - Aí que a aprovação do Marco legal veio criar uma brecha positiva na lei, pois agora as companhias de água e saneamento podem realizar fiscalização nessas áreas contra roubo de água (gato de água) e esgoto ilegal. Desde que a companhia já tenha implantado um plano de regularização para essa localidade. Então isso abriu uma possibilidade gigante de atuação nas áreas vulneráveis. No Rio de Janeiro, as companhias estão entrando nas favelas e operando planos de saneamento com mão de obra contratada dentro das próprias favelas. Entendeu-se que não dá para esperar resolver o problema das favelas para poder dar condições básicas de moradia. A humanização de favelas é um avanço do Marco Legal.
AR – Com os impactos climáticos que estamos vivendo, como alcançar segurança hídrica e universalização da distribuição de água para todos os brasileiros?
Luana - A gente vai lançar um estudo, tá? Em novembro, sobre mudanças climáticas e saneamento básico. E isso está começando a ser avaliado agora, principalmente a questão da escassez hídrica. Como está em elaboração agora esse estudo, não tem como a gente pensar em universalização do saneamento sem pensar em mudança climática em eventos climáticos extremos que a gente já tem vivido, né? Porque região norte, por exemplo, teve escassez hídrica, nunca vista antes. Uma região com um volume de águas gigantesco.
Saneamento na Agenda Pública TRATA E ICO
Guia prático para ajudar atuais e futuros representantes da sociedade (Prefeitos, Vereadores e candidatos) a se engajarem no compromisso por um saneamento melhor.
E tem uma questão de muitos poços secando na região de Mato Grosso. Onde se abastecia com um poço artesiano, em determinadas épocas do ano ele simplesmente seca. Então, a matriz de risco em relação à expansão do saneamento básico precisa considerar as mudanças climáticas. Isso é fato, né? Então, se eu ainda preciso abastecer 40% da população na região norte, eu preciso ter um plano considerando que a vazão média dos rios não será mais a mesma em todas as épocas do ano que antes, mas o o esgoto bruto continuará está sendo lançado nos rios com volume menor? Entenda que, quando eu tenho um rio volumoso, ele auto depura. A própria natureza limpa o Rio e ele vai se regenerar. Mas, não é o que estamos prevendo em termos de volume daqui para o futuro. Porque isso vai alterar os licenciamentos ambientais. Isso vai alterar toda a estrutura de lançamento daquele rio e, a qualidade de efluente que eu podia lançar era uma. Se eu tenho um volume de rio x, que é menor do que o padrão, a qualidade tem que ser melhor ainda do que já era o efluente que eu vou lançar. Isso vai alterar os licenciamentos ambientais. As empresas precisarão se preparar para investir em processos mais estruturados. Saneamento básico são 4 pilares: água limpa, coleta de esgoto, tratamento e drenagem de resíduos sólidos. Desses todos, a drenagem não tem tarifa. A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul trouxe luz para esse problema de drenagem, sempre relegada por não ter tarifa. Macrodrenagens, são as de bacia, micro drenagens são das tubulações de rua. A união dessas duas, macro e micro, tem que conseguir escoar a água do rio e da chuva. Este é o problema de todas as cidades que são afetadas por enchentes. O saneamento tem que ser pensado de maneira conjunta.
Aplicativo Águas do Brasil App criado pela ANA para usuários de recursos hídricos outorgados ou pedidos em andamento. Disponibiliza vários serviços para este tipo de clientepara Android e IOS
O descarte massivo de roupas é um problema ambiental significativo, contribuindo para o aumento alarmante de resíduos em aterros sanitários e a poluição de ecossistemas. A cada ano, milhões de toneladas de roupas são descartadas, muitas vezes de forma inadequada, exacerbando a crise ambiental global. No entanto, essa realidade está catalisando uma transformação na indústria têxtil. Cada vez mais, empresas estão adotando práticas sustentáveis e investindo em inovações na busca de reduzir o impacto ambiental.
A indústria têxtil é essencial para as pessoas e a economia global, por isso, historicamente, também uma das mais impactantes em termos ambientais. O resultado disso? O consumidor está cada vez mais consciente sobre o que afeta diretamente a decisão de compra. A preferência por produtos mais amigos do meio ambiente é crescente. Um estudo recente da Economist Intelligence Unit (EIU) aponta, por exemplo, que as buscas na internet por produtos sustentáveis tiveram crescimento de 71% nos últimos cinco anos.
Aqui no Brasil, um dos cases de inovação no setor e investimento inteligente é a parceria entre a mineira Pronta e SENSIL®, a poliamida premium 6.6 da NILIT. Pronta se destaca por ser a primeira marca feminina apoiada nos conceitos workleisure e quiet luxury. A label criada pela designer Tereza Santos que é uma das profissionais da moda mais engajadas com as questões éticas, sociais e ambientais no processo de criação e produção de suas coleções, encontrou em SENSIL® uma parceira de negócios, propósito e ideais.
Sensil® EcoCare comes in a wide variety of yarns for topweight wovens, bottomweight wovens, warp knits, circular knits, seamless, hosiery. These sustainable yarns have excellent dye uptake and natural touch. Plus, Sensil® EcoCare Breeze offers a special cooling effect with a dry, silky hand.
Para a confecção das peças da marca foi utilizada a poliamida SENSIL® EcoCare, desenvolvida a partir da reciclagem de resíduos pós-industriais, que permitem economia energética e redução de consumo de água. O processo de produção do fio utilizado pela Pronta gera uma redução de 99% nas emissões de CO2, uma economia certificada pela GRS – Global Recycled Standard.
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Diante disso, a indústria têxtil tem passado por uma transformação. Se no passado, 100% da produção de roupas consumia uma quantidade significativa de recursos naturais, como, por exemplo, água e energia, além de gerar um excesso de resíduos, o que vemos hoje em dia já é uma outra realidade, que claro, ainda tem muito a evoluir. Tanto as grandes tecelagens e marcas quanto os pequenos negócios e confecções, têm se unido para desenvolver uma cadeia produtiva que considere o impacto ambiental e social de cada roupa produzida.
Sensil® EcoCare
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44/34/1 and 44/34/2 FD
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78/68/1, 78/68/2 FD
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22/10/1 SD
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Textured
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BENEFITS
Por Fabianne Pacini Diretora Global de Marketing da NILIT
78/68/1, 78/68/2 SD
22/10 SD
Sensil® EcoCare Breeze
Sensil® EcoCare Breeze
44/34/1, 44/34/2 BZ
44/34/1, 44/34/2 BZ
78/68/1, 78/68/2 BZ
78/68/1, 78/68/2 BZ
Textured
Textured 22/10 SD Flat
Flat
Textured
Textured
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TECHNOLOGY
NYLON 6.6 CLING PRO
Mills that use Sensil® EcoCare
Mills that use Sensil® EcoCare
Esse encontro entre Pronta e SENSIL® marca uma evolução não apenas no resultado, mas também no estilo de vida e no conceito workleisure. Com esse posicionamento e informando seus clientes sobre o uso de tecidos ambientalmente mais responsáveis, a Pronta vem observando, a cada nova coleção, o crescimento das vendas e ainda um maior engajamento da sua cliente. No atual cenário, em que as tendências mudam rapidamente, a produção e o consumo acelerados têm causado enormes impactos ao planeta. Investir na durabilidade dos produtos tornou-se um valor fundamental para a longevidade das empresas, das pessoas e do planeta.
environmentally responsible the sustainability and style consumers. From the softest knits to the most complex compression garments, Sensil Nylon 6.6 offers a breadth availability unmatched in Consumers who invest in Sensil® premium fabrics are
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ENERGY AND WATER
ENERGY AND WATER
> Up to 55% energy savings a reduction in CO2 emissions ton of polymer (including of the raw materials) > Electrical energy savings in polymer chemistry process
> Reduction of up to 98%, equivalent emissions per
> Energy savings of up to 45 upstream yarn manufacturing
> Up to 55% energy savings a reduction in CO2 emissions ton of polymer (including of the raw materials) Electrical energy savings in polymer chemistry process
Water savings of up to 830 polymer, an 80.5% savings
Water savings – up to 2.7 upstream yarn manufacturing For 100% recycled content
Water savings of up to 830 polymer, an 80.5% savings
complies with the Global
complies with the Global
100 for textile products that
100 for textile products that
Vivemos um momento global em que a políticas industriais retomam relevância, combinado com novos desafios de grande magnitude, como saltos tecnológicos acelerados, a pandemia, as mudanças climáticas, o recrudescimento de conflitos geopolíticos e as instabilidades nas cadeias globais de valor. Diante desse cenário inédito e complexo muitos países passaram a adotar políticas industriais buscando segurança econômica, superar o baixo crescimento dos últimos anos e reforçar cadeias regionais de abastecimento.
As grandes potências ocidentais estão realizando um volume alto de investimentos em política industrial intensificando a utilização de instrumentos de compras públicas, de investimentos públicos, de incentivos fiscais e de comércio exterior e investimentos como meio para fortalecer seus sistemas produtivos.
Do ponto de vista brasileiro, houve considerável enfraquecimento das políticas de desenvolvimento desde o início da década de 1990,
em particular das políticas industriais, de inovação e de exportação e passou a predominar no país um processo de desindustrialização precoce, com primarização da estrutura produtiva e encadeamentos menores mais frágeis entre os elos das cadeias.
As exportações do país estão concentradas em produtos de baixa complexidade tecnológica e que o padrão mundial de comércio se tornou crescentemente concentrado em produtos de maior intensidade tecnológica. Dessa maneira, a retomada das políticas industriais, de fomento à indústria e de inserção internacional qualificada mais competitiva implica em superar o atraso produtivo e tecnológico.
Nesse contexto, o Brasil apresentou em 22 de janeiro de 2022 sua nova política industrial, a Nova Indústria Brasil. O ano de 2023 foi marcado pelo processo de reconstrução institucional do Brasil. O MDIC, que havia deixado de existir, foi reconstituído, e o trabalho do Conselho Nacional de Desenvolvimento In-
dustrial (CNDI) foi retomado, após sete anos sem funcionamento.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) é um órgão colegiado l que tem como objetivo propor ao presidente da república políticas e diretrizes para o desenvolvimento industrial no Brasil. O CNDI é composto por 21 representantes do governo e 21 representantes do setor produtivo. A ABIT participa de forma ativa desse processo. O objetivo da política é promover a competitividade e a inovação no setor industrial, além de contribuir para a geração de empregos e o crescimento econômico do país. Elaborar a política de industrial no âmbito de um conselho é fundamental no processo de consolidação da democracia brasileira.
A Nova Indústria Brasil é uma política de desenvolvimento, o que significa que ela tem por objetivo criar condições favoráveis para o bem-estar das pessoas e a melhoria da qualidade de vida. Ela visa reduzir as desigualdades e para isso, coloca a indústria como meio para atingir esse fim A Nova Indústria Brasil (NIB), tem por objetivo reverter o processo de desindustrialização precoce e severa que acomete o país há décadas. Por meio da neoindustrialização, busca-se a retomada do parque industrial em novas bases contemporâneas: sustentáveis, digitais, inclusivas, lideradas por inovações tecnológicas e vocacionada para o comércio exterior. Assim, a neoindustrialização foi definida considerando o uso de instrumentos do Estado destinados a apoiar o setor produtivo para criar e difundir o desenvolvimento sustentável, sob o ponto de vista econômico, social e ambiental e, mais especificamente, o progresso técnico, o avanço da produtividade e da competitividade, além de gerar empregos de qualidade, garantir o desenvolvimento da inovação no país e uma melhor inserção no comércio internacional.
As missões industriais foram o instrumento adequado para a construção de consensos em torno do conceito de que a política industrial seja indissociável dos objetivos centrais da sociedade e parte do esforço de recons-
trução nacional. Nesse sentido, na fase inicial de construção NIB, foram definidas 6 missões de desenvolvimento industrial: cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional e energética; complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde; infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades; transformação digital da indústria para ampliar a produtividade; bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações; tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais.
O processo de desenho da Nova Industria Brasil foi fruto de uma construção coletiva, e a legitimidade da NIB se consolida a partir do entendimento de que os meios importam para um processo de governança democrática. O diálogo dessa nova indústria com o setor produtivo, universidades, centro de pesquisa e com a sociedade como um todo é fundamental para a inserção do Brasil na atual sociedade do conhecimento. O trabalho ainda é grande. O processo precisa continuar a gerar esforços conjuntos entre Estado e Sociedade. As metas aspiracionais deram para toda a sociedade brasileira a direção para onde queremos caminhar. Precisamos agora avançar com os grupos de trabalho e com o processo de cobrança mútua entre os atores sobre as responsabilidades que assumimos de forma compartilhada. O trabalho está apenas começando e ele precisa dos esforços de todos!
Por Verena Hitner Secretária-executiva do CNDI
Nos últimos anos, a sustentabilidade tornou-se uma prioridade crescente no setor têxtil, sendo fundamental que novas alternativas ganhem espaço. As fibras de algas marinhas, por exemplo, emergem como uma solução promissora, oferecendo alternativas sustentáveis e inovadoras às fibras convencionais. E para que essas inovações prosperem e se integrem de forma eficaz no mercado, o apoio de empresas e dos investidores é crucial.
A PhycoFiber representa um avanço significativo no campo dos materiais têxteis sustentáveis. São fios e fibras têxteis desenvolvidas a partir de algas marinhas, um recurso renovável e abundante que pode ser cultivado sem a necessidade de terras agrícolas, pesticidas ou grandes quantidades de água doce. As algas marinhas possuem diversas vantagens que as tornam ideais para o setor têxtil, indo além da sustentabilidade e da versatilidade, oferecendo inúmeros benefícios adicionais.
Eu sou Thamires Pontes, CEO da Phycolabs, uma startup que fundei no Brasil para produzir fibras a partir de algas marinhas, e estamos dedicando nossos esforços para transformar este cenário em algo mais sustentável. No entanto, hoje não estou aqui para falar sobre algas marinhas. Quero discutir o papel fundamental das empresas e dos investidores na adoção de inovações.
Em qualquer canal de comunicação frequentemente nos deparamos com questões relacionadas aos problemas climáticos – também não me quero a ter isso, recomendo o filme-documentário Breaking Bounderies: The Science of Our Planet disponível no Netflix, conta com a participação de ninguém menos, ninguém mais que: David Attenborough e Johan Rockström
Estamos ávidos por inovações que possam reduzir e/ou mitigar os problemas climáticos, a indústria da moda é um dos setores mais comprometedores, temos problemas em
toda a cadeia de valor. Do cultivo ao descarte. Temos roupas suficientes para abastecer até a sua sexta geração.
Players da indústria, nós precisamos de negócios de impacto e não de mais marcas de roupa, precisamos criar dados para quantificar melhor nosso setor.
Quando se trata de inovação na moda, área à qual pertenço, as perguntas são sempre as mesmas: “Quando será o lançamento?”, “Você pode vender x quilos?”, “Ainda não está pronto? Você trabalha nisso há muito tempo.
Novamente, estamos fazendo inovação para moda e não somos padaria.
Sabe quanto tempo demorou para Lycra® ficar pronta? E as fibras de Rayon?!
Imagina se uma startup - me incluo nesse time, temos todo esse tempo, esse dinheiro, esses pesquisadores e estrutura para realizar tal proeza em tempo recorde.
Inovação demanda tempo e dinheiro - muito dinheiro. Testes constantes, refazendo tudo do zero. Custo altíssimo, escala muito muuuito pequena. E vocês ainda querem que uma inovação que ainda não esteja estar finalizada 100% tenha preço competitivo com as atuais?!
O sucesso de inovações na área têxtil e em outros segmentos depende de uma estreita colaboração entre startups, empresas têxteis e investidores. Uma inovação leva tempo e exige uma rede de apoio robusta para ser dimensionada efetivamente. Portanto, para garantir a continuidade e o sucesso de novas tecnologias, é crucial que os desenvolvedores de inovação recebam apoio em várias frentes, por exemplo:
Desenvolvimento de Infraestrutura:
Startups muitas vezes enfrentam limitações de recursos. Marcas e investidores podem fornecer acesso a infraestrutura existente, como instalações de teste e produção, acelerando o desenvolvimento e a escalabilidade das novas fibras.
Parcerias Estratégicas:
Colaborações com empresas têxteis estabelecidas podem facilitar a integração de novos materiais no mercado. Essas parcerias podem oferecer suporte técnico, canais de distribuição e insights valiosos sobre as demandas do mercado.
Desenvolvimento:
A criação de novas fibras que possam competir com as fibras tradicionais em termos de custo e desempenho exige um investimento contínuo em P&D. Investidores têm um papel crucial em fornecer o capital necessário para pesquisa e desenvolvimento contínuos. Além disso, eles podem ajudar startups a navegar pelos desafios financeiros e logísticos associados ao escalonamento de novas tecnologias.
O ecossistema de investimentos no Brasil enfrenta desafios significativos, especialmente quando se trata de apoiar inovações sustentáveis e emergentes, como novos materiais para indústria têxtil. Um problema recorrente é a mentalidade de muitos investidores que buscam participação acionária a baixo custo, especialmente em fases iniciais de startups. Essa abordagem tem consequências negativas tanto para os fundadores quanto para o desenvolvimento a longo prazo das startups.
Sempre me pergunto: Por que vocês querem tanto equity pagando pouco? Será que vocês não percebem que é ruim diluir os founders nas rodadas early-stage, pre-seed?
Essa diluição não só reduz a motivação dos fundadores, que podem sentir que estão perdendo controle e autonomia sobre sua empresa, mas também pode afetar a direção estratégica da empresa a longo prazo. Uma diluição prematura pode limitar a capacidade da startup de atrair investimentos significativos em rodadas subsequentes.
Ao final do dia, dinheiro é commodity o que eu quero saber é: o que vocês podem colocar à mesa? Quais portas vocês podem abrir?
O verdadeiro diferencial para startups inovadoras é o valor agregado que os investidores podem trazer. Isso inclui:
Rede de Contatos:
Investidores com boas conexões podem abrir portas para novos clientes, parceiros estratégicos e mercados.
Investidores experientes podem oferecer orientações valiosas, ajudando startups a navegar pelos desafios do mercado, aprimorar suas estratégias de go-to-market e ajustar seus modelos de negócios conforme necessário.
Recursos e Infraestrutura:
Além do capital financeiro, investidores podem fornecer acesso a recursos como instalações de produção, laboratórios de pesquisa e equipes de marketing, acelerando o desenvolvimento e a introdução de novas tecnologias.
Investidores, ofereçam mais do que capital. Queremos smartmoney.
Também tenho uma mensagem para as startups, escolha cuidadosamente seus investidores, priorize investidores que não só tragam capital, mas também valor agregado na forma de suporte estratégico, conexões de mercado e recursos. Be Bold.
Iniciar e escalar uma inovação é uma jornada que exige criatividade, persistência e uma visão clara do impacto desejado. O sucesso, no entanto, não depende apenas de uma boa ideia ou tecnologia avançada. É fundamental manter a inovação no centro das operações, mas com a flexibilidade necessária para adaptar e refinar o produto com base no feedback do mercado e nas condições em constante mudança.
Permaneça resiliente diante dos obstáculos, esteja pronto para se adaptar conforme necessário e encare cada desafio como uma oportunidade de crescimento.
Comunicar de forma eficaz o valor de sua inovação é igualmente importante. Articule claramente este valor para diferentes partes interessadas, pois a narrativa que você constrói em torno de seu produto pode ser um diferencial significativo na atração de apoio e na construção de uma base de clientes leal.
E por favor, vejam o tamanho do nosso mercado. Imagina você poder abastecer apenas 0,3% desse mercado, você seria capaz de atender essa demanda? Outro ponto que eu trago é: vocês realmente acham que startup X, Y ou fulano da universidade Z são seus concorrentes?
Nossos verdadeiros concorrentes estão muito bem-posicionados, mas prefiro não os mencionar para não correr o risco de não ser convidada para escrever nesta revista novamente. rs.
Por Thamires Pontes CEO da Phycolabs
Dar uma segunda vida às garrafas plásticas as mantem fora dos aterros sanitários e oceanos. Reciclamos mais de 40 bilhões de garrafas em fios de alto desempenho certificáveis e rastreáveis.
Tenho orgulho de ser a gestora de um produto de economia circular numa empresa que valoriza a inovação, o pioneirismo e a estratégia, inspirando paixão em seus colaboradores. O Grupo Ideal Work há 50 anos vem fazendo história com o compromisso de transformar a indústria de uniformes.
De acordo com a Global Fashion Agenda, a indústria têxtil é a segunda maior poluidora no mundo, perdendo apenas para a indústria petrolífera. Nos últimos anos, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados, e a previsão é que esse número aumente 60% nos próximos 8 anos, alcançando 140 milhões de toneladas. Em uma matéria de 3 de junho de 2022, a CNN Brasil destacou que mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis são descartadas anualmente no Brasil. No final de 2023, o jornal Valor Econômico citou dados da Abrelpe revelando que esses resíduos representaram 5% do total de resíduos produzidos no país.
Uniformes em Ecowork apresentados na FISP
Os efeitos do aquecimento global são visíveis, com verões intermináveis no Brasil de 2023/2024, secas severas em áreas cada vez maiores ao redor do mundo, e a concentração de chuvas intensas em regiões específicas, como a tragédia no estado do RS, Brasil, em 2024. Esses eventos geram impactos dentro dos ecossistemas trazendo consequências na produção de alimentos, migração de animais em busca de sobrevivência, e até extinção de algumas espécies.
Consciente desse cenário alarmante, o Grupo Ideal Work reforça seu compromisso com a sustentabilidade, um valor profundamente enraizado em seu DNA. A empresa vem implementando práticas em ESG já a alguns anos como o programa de descarte adequado de uniformes, a instalação de painéis solares em suas unidades produtivas e programas sociais voltados à comunidade do entorno.
Que contribuição ao meio ambiente a nossa empresa poderia oferecer diante das adversidades? Qual legado deixar para as futuras gerações com relação a redução do impacto negativo da nossa indústria têxtil e de confecção? Essas eram algumas das perguntas que inquietavam nosso CEO, Sr. Antonio Augusto Anes Rodrigues. Motivado pela urgência de enfrentar os desafios ambientais dessa indústria, e determinado a encontrar uma solução prática e eficaz, ele se dedicou a dois anos de pesquisas intensivas que resultou na criação do Ecowork, um tecido sustentável oriundo da economia circular. Este tecido é uma sarja 3x1 e 2x1 de altíssima qualidade, oferece conforto térmico, durabilidade e resistência. O diferencial do Ecowork é o seu valor agregado de circularidade, transformando resíduos em produto e reduzindo significativamente o impacto ambiental da produção têxtil.
Toda inovação traz consigo situações desconhecidas que precisam ser vencidas para tornar o projeto uma realidade. Essa foi a trajetória para desenvolver o tecido Ecowork. A empresa teve que adotar a verticalização, o que exigiu investimentos adicionais. Além disso, a confecção de uniformes possui especificidades que diferem dos modelos tradicionais da indústria têxtil. Apesar desses desafios, a determinação em contribuir para um futuro mais sustentável superou todos os obstáculos. Como resultado, o primeiro tecido para uniformes oriundo da economia circular foi lançado no final de 2022, durante a 24ª edição da FISP – Feira Internacional de Segurança e Proteção.
O maior objetivo do Ecowork é ser a alternativa sustentável para uniformização. É levar a circularidade para os uniformes de cada empresa. É gerar impacto positivo em uniformização porque ao consumir produto oriundo de economia circular damos vida longa ao recurso natural, e sem dúvida, poupamos o meio ambiente do excesso de extração de matéria-prima, da poluição dos efluentes no processo produtivo e do descarte de resíduos nos aterros sanitários ao final da vida útil dos produtos.
Nossa ambição é levar o Ecowork ao maior número de empresas, uma estratégia fundamental para o Grupo Ideal Work, reforçando
seu compromisso com a sustentabilidade. Este tecido é compatível com todos os modelos de uniformes operacionais em ambientes sem risco, e ideal para uniformes corporativos como calças femininas e masculinas. O Ecowork destaca-se como um ativo valioso em um momento em que a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental são imperativos para as empresas, aderante as diretrizes globais, e ao das regulamentações no Brasil e no mundo.
A sustentabilidade é um valor intrínseco ao Grupo Ideal Work, refletido em diversas iniciativas dentro das suas unidades. Destacam-se programas de conscientização sobre o uso racional de recursos hídricos, coleta seletiva nas nossas fábricas, e ações comunitárias como a “Campanha do Agasalho” e a “Campanha Amigo Ideal” (doação de cestas básicas).
Já transição para a economia circular foi um passo natural para o Grupo Ideal Work, uma empresa que coloca o meio ambiente e as práticas ESG no centro de suas decisões. A ambição da empresa é atuar proativamente na agenda de Economia Circular e de maneira contínua, gerando o impacto positivo ao setor de uniformização.
Quanto ao futuro do Ecowork, o Grupo Ideal Work já trabalha com um planejamento robusto para desenvolver novos produtos da mesma linha de tecido sustentável, atendendo tanto ao mercado de itens operacionais para atividades de alto impacto, quanto aos uniformes corporativos que demandem mais conforto, e a médio prazo o varejo.
O Grupo Ideal Work colabora com o setor privado através de iniciativas como o descarte ambientalmente adequado, o Ecowork, e além disso, a empresa apoia o poder público no desenho de metas para a Política Nacional de Economia Circular, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados através da PL 1874/22. Todas estas iniciativas refletem o compromisso da nossa empresa em liderar pelo exemplo, e impulsionar práticas sustentáveis em toda a indústria da moda/têxtil.
Por Katia Silva Gestora Embaixadora Ecowork
A favela de Paraisópolis, localizada na região sul da cidade de São Paulo, possui uma população maior que muitas cidades no Brasil. Paraisópolis começou a ser ocupada na década de 50, após a divisão em lotes da antiga Fazenda do Morumbi. Hoje, convivendo com luxuosos condomínios no seu entorno, moram mais de 100 mil habitantes em cerca em 19 mil domicílios, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a segunda maior favela de São Paulo, perdendo apenas para Heliópolis da zona sudeste da cidade. Tanto Paraisópolis quanto Heliópolis estão entre as dez maiores favelas do Brasil. E é neste mar de gente humilde, onde violência atropela a esperança todos os dias, que surgiram duas mulheres decididas a manter sonhos vivos.
As amigas Suéli Feio e Maria Nilde, moradoras da favela Paraisópolis desde sempre, testemunharam em 2017 uma, dentre várias, violência doméstica contra uma mulher e seu filho. Ali, naquele momento, decidiram que precisavam fazer algo para resgatar física e emocionalmente essas mulheres, através da independência financeira. E o que fazer?
Uma atividade cujo básico se domina em poucos meses, que proporciona estar em casa para ficar de olhos nos filhos e, melhor de tudo, nunca falta trabalho. Costurar era o caminho. Nem Suéli, que era técnica em contabilidade, nem Maria Nilde, que fazia atendimentos advocatícios para necessitados, sabiam costurar. Foram atrás de aprender tudo para montar um curso de costura. Hoje, a Costurando Sonhos já formou mais 1.400 alunos com a ajuda do SENAI Francisco Matarazzo, sendo que 60% se sustentam da costura. A ONG tem uma Oficina Colaborativa, onde as melhores alunas podem trabalhar ou estagiar produzindo produtos para a loja virtual da marca. Sim, marca, afinal a desde o primeiro desfile na garagem da Suéli a Costurando Sonhos já desfilou para SPFW, Milão, programas de tv e teve loja em NY. O último feito dessas empreendedoras sociais foi dar uma palestra na Escola de Negócios na Universidade Harvard, em dezembro de 2023, , no David Rockefeller Center, Latin American Studies. Tá bom pra você?
Porém, muito mais importante do que mostrar as criações e o sucesso da Costurando Sonhos, Nilde e Suéli presenciam todos os dias mulheres renascendo, voltando a sonhar e conquistando sua independência financeira. “São tantas histórias de vidas que foram restauradas nesses 7 anos que, apesar de toda a dificuldade dessa área têxtil, a gente segue firme porque temos um propósito que é esse resgate de sonhos e dignidade. No início a gente só capacitava mulheres, mas hoje incluímos outro grupo muito vulnerável que são os LGBTQIA+. Essas pessoas sofrem com outro tipo de violência que é o preconceito de ser gay, ou trans, lésbicas, dentro e fora da favela” explica Suéli.
“Lembro de uma trans que veio se capacitar e era muito, muito quieta. Aos poucos, foi conversando com as colegas, outras gays, se fortalecendo, se aceitando e gostando de ser quem era e, antes do fim do curso ela adotou um nome social e foi empreender. Esse ambiente das alunas é praticamente uma terapia de grupo, é muito rico”.
Nos últimos anos, a Costurando Sonhos começou a ser procurada por pessoas que queriam aprender e empreender de outros bairros, outras cidades e até outros estados. “A gente abre inscrição e já lota. Os critérios mínimos são: ter ensino fundamental, mais de 16 anos, disponibilidade para frequentar diariamente as aulas que ocorrem em dois turnos: turma da manhã (das 8h às 12h) e turma da tarde (das 13h às 17h), sendo 15 pessoas por turno, pois é o máximo que nossa sala de aula absorve. O curso dura dois meses. Essas candidatas e candidatos chegam pela indicação de outras pessoas, pela Associação de Mulheres de Paraisópolis e Pelo CAPs (Centro de Atenção Psicossocial). Analisamos as prioridades pelo nível de situação vulnerável. Recebemos mulheres que, após perder toda a autoestima, dignidade se consolaram por anos no álcool ou drogas. Após recuperação, o Caps nos encaminha as candidatas. Temos parceria com o SENAI, que disponibiliza uma professora todo dia e, também temos uma parceria com o SEBRAE que dá aula e consultoria de como empreender, fazer preço, atendimento etc. Todo esse amparo e inclusão atraiu candidatas e candidatos de Taboão da Serra, Cotia, Mogi das Cruzes, enfim, de lugares que a gente sabia que não conseguiriam vir todo dia e estar pontualmente nas aulas. E é preciso ter o mínimo de presença. Então, fomos atrás de parcerias para reproduzir o modelo da Costurando Sonhos”.
Cautelosa nos passos, Suéli fala sobre a Casa Amarela em Recife, sobre o Núcleo da Costurando em Sol Nascente/Brasília (a maior favela do Brasil...sim, maior que a Rocinha, a segunda maior do País), um Ateliê no Morro do Alemão que tem se tornado muito desafiante pela presença intensa de milícias e traficantes, não raro trocando tiros a qualquer hora do dia. Suéli ainda fala de duas iniciativas na Ilha do Marajó (para atender as dezenas de adolescentes grávidas, quase uma endemia) e também no Maranhão. “Tanto na Ilha quanto em Maranhão estamos precisando de máquinas de costura: 3 máquinas retas, 1 overlock e 1 galoneira”
Apesar de ter projetado o nome da Costurando Sonhos pelo Brasil, EUA e Europa, Suéli diz que foi vencida pelo disputado mercado da moda. “Não deu. Era uma corrida muito grande para acompanhar os calendários, ficar pesquisando, modelando, correndo contra o tempo com uma rotação de mão de obra que acontecia na oficina colaborativa. Então, hoje, lançamos coleções dentro do nosso tempo e, principalmente, roupas que são 100% produzidas pelo reaproveitamento de uniformes descartados pelos nossos clientes”. E são clientes fiéis, diga-se de passagem, pois são empresas que buscam propósito e não apenas preço, segundo a empreendedora. Dentre os clientes que fazem encomenda de brindes corporativos e ecobags, estão empresas que grandes confecções adorariam ter: ENEL, LATAM e AZUL. Na loja virtual da marca, além dessas coleções de recycling, estão bolsas e roupas de ponta de estoque ou com pequenos defeitos que são produtos doados pela Arezzo e Pernambucas. Pois é, Suéli e Nilde não brincam em serviço.
Mas nem tudo é um mar de sonhos floridos. As várias ex-alunas que hoje são empreendedoras também têm que lutar e provar que seus preços não podem e nem irão concorrer com os preços de produtos asiáticos. Sim... a concorrência das plataformas de compras internacionais bateu forte nas oficinas artesanais de Paraisópolis. “Nosso carro-chefe são as ecobags. Porém, perdemos muitas vendas para clientes que optaram por buscar preço nessas plataformas. Não dá para concorrer e, orientamos que não se deve fazer essa comparação. O calculamos preço, todas fornecemos nota fiscal e um produto de qualidade e criativo. Só queremos o preço justo desse trabalho que também tem propósito. O contrário também existe. Quando nossa oficina não dá conta de uma entrega eu peço para as oficinas de ex-alunas me atenderem o cliente diretamente. Elas orçam e às vezes eu tenho que interferir, pois está muito alto o preço e não é justo com o cliente. Ensinamos a costurar e valorizar o seu trabalho, mas o preço tem que ser justo para todos.” conclui Suéli
Na página do site e loja da Costurando Sonhos encontramos a Missão almejada por Nilde e Suéli: “ Ser reconhecida nacionalmente como uma referência em iniciativas de empoderamento feminino, LGBTQIA+ e geração de renda por meio da costura, expandindo nossa atuação para mais comunidades em todo o Brasil e impactando positivamente a vida de milhares de mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+”.
Alguém duvida que elas vão chegar lá?
Texto original em inglês
As discussões sobre Direitos Humanos em cadeias de suprimentos estão cada vez mais dominadas por conceitos como colaboração, parceria igualitária e objetivos compartilhados de negócios entre compradores e fornecedores. Neste artigo, a Dra. Marsha Dickson, Presidente e Co-Fundadora do Better Buying Institute, argumenta que já passou da hora de abandonar o conceito de poder de influência e adotar uma nova linguagem baseada em parcerias.
A ideia de que as empresas devem usar seu “poder de influência” sobre seus fornecedores para garantir salários dignos e condições de trabalho adequadas nas cadeias globais de suprimentos foi usada pela primeira vez por John Ruggie e sua equipe, em 2011, quando estavam criando os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos
Desde então, a abordagem sobre “poder de influência” foi adotada na Devida Diligência
para uma Conduta Empresarial Responsável da OCDE e, 13 anos depois, ainda fornece o contexto e ponto de partida para a maioria das marcas globais ao formular suas estratégias e abordagens de Direitos Humanos.
Mas, no admirável mundo novo da devida diligência obrigatória e baseada em risco, a ideia de “poder de influência” ainda é adequada? Esse poder é capaz de realmente garantir os direitos humanos dos trabalhadores? De fato, alguma vez já conseguiu?
Segundo o Oxford Languages, dicionário que dá suporte ao Google nas definições em inglês, a definição do termo “levarage” (em tradução livre para o português: “poder de influência”), é “a aplicação de força por meio de uma alavanca ou um objeto usado como uma alavanca.”
Considerando essa definição, simplesmente perpetuamos a ideia de desequilíbrio de poder nas cadeias de suprimentos, já que é
esperado que compradores com significativo poder de influência, o utilizem de forma a forçar seus fornecedores a implementarem medidas.
A ideia de “poder de influência” parece desatualizada e cada vez mais irrelevante em um contexto empresarial e legislativo que prioriza crescentemente relações colaborativas entre compradores e fornecedores, e visibilidade de 360 graus pelas empresas compradoras de suas operações, subsidiárias e cadeia de valor. Visibilidade que não pode ser alcançada sem diálogo aberto e verdadeira parceria com os fornecedores.
Muito mudou nos 13 anos desde que Ruggie formulou os Princípios Orientadores da ONU. Naquela época, apenas alguns atores falavam sobre os benefícios de compradores e fornecedores colaborarem como parceiros iguais, para alcançar objetivos compartilhados de negócios e sustentabilidade, além de melhorar a vida dos trabalhadores. Agora, essas ideias são amplamente aceitas e compreendidas.
E graças ao trabalho de organizações como Better Buying®, realizado com fornecedores e marcas, sabemos exatamente como é uma Verdadeira Parceria entre compradores e fornecedores. Estruturas como Better Buying’s Five Principles of Responsible Purchasing TM (Cinco Princípios de Compras Responsáveis da Better Buying®) e o Common Framework for Responsible Purchasing (Quadro Comum para Compras Responsáveis) fornecem nítidas referências para compradores e fornecedores que buscam melhorar suas parcerias, enquanto o Better Buying Partnership Index TM (Índice de Parceria Better Buying®) permite que os fornecedores submetam feedback sobre as parcerias de seus clientes, para que esses clientes saibam o que precisam fazer para melhorar.
Ainda não está claro como isso poderia funcionar? Aqui estão exemplos de como substituir o termo “poder de Influência” (“leverage”) por “parceria” nas Diretrizes da OCDE realmente funciona:
Use PODER DE INFLUÊNCIA PARCERIA para mitigar quaisquer impactos remanescentes na maior medida possível.
Use PODER DE INFLUÊNCIA PARCERIA para influenciar a entidade causadora do impacto adverso para prevenir ou mitigar o impacto.
Poderíamos até ir mais longe e atualizar os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos para “considera-se que há PODER DE INFLUÊNCIA PARCERIA quando a empresa E SEUS COMPRADORES E FORNECEDORES têm a capacidade de gerar mudanças nas práticas indevidas da entidade que causa o dano”.
Adotando uma nova linguagem em torno dos Direitos Humanos - focada em “parceria” em vez de em “poder de influência” -, podemos aproveitar o novo impulso em direção a cadeias de suprimentos colaborativas e incentivar os compradores a fazerem maiores esforços para melhorarem suas práticas de compra e a terem diálogos honestos e construtivos com seus fornecedores sobre como poderão alcançá-las.
Por Marsha Dickson
Presidente e Co-Fundadora do Better Buying Institute
Açude Epitácio Pessoa/PB foto: Luiz Henrique Amorim Moura/ANA
Segundo a ONU, a Segurança Hídrica existe quando há disponibilidade de água em quantidade e qualidade suficientes para o atendimento às necessidades humanas, à prática das atividades econômicas e à conservação dos ecossistemas aquáticos, acompanhada de nível aceitável de risco relacionado a secas e cheias.
Frente aos desafios da insegurança hídrica para o povo brasileiro - que sofre, historicamente com crises de abastecimento no polígono das secas no nordeste e, nos últimos
anos, também nas regiões urbanas - foi publicado o novo Marco Legal do Saneamento Básico em julho de 2020 – Lei 14.026 que estabelece as regras de monitoramento e as seguintes metas: atendimento de 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos até 2033 Tal resolução determina providências a todos os municípios do nosso país e seus contratados. O novo Marco Legal vai ao encontro do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6 (ODS 6), da Agenda 2030 da ONU: “Água limpa e Saneamento para todos”
Focando apenas na questão da água limpa, para saber onde estamos e como cumpriremos o Marco Legal é necessário levantamento preciso dos nossos mananciais, capacidade de produção e eficiência de distribuição. A ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, criada em julho de 2000) já vinha publicando os estudos de mapeamento hídrico desde 2004, com os Atlas regionais para Piauí, Região Nordeste, Regiões Metropolitanas, Atlas Sul, até publicar o primeiro Atlas Brasil em 2010. Com o lançamento do Plano Nacional de Segurança Hídrica (2019) a ANA atualizou os dados e desenvolveu o Atlas Águas em 2021.
O Atlas Águas é destinado para todos os prestadores de serviços de produção de água, trazendo dados detalhados sobre os mananciais e sistemas de abastecimento de 5.570 municípios brasileiros, com os res pectivos índices de eficiência da produção e distribuição. O Atlas visa o entendimento atual do uso hídrico e as demandas futuras consideradas até 2035, bem como os inves timentos necessários para atender 100% da população urbana do Brasil. Essa nova base técnica de rios e bacias orienta as ações da ANA na gestão e regulação atual no País.
Existem duas formas de prestadores de serviço água e esgoto. As cidades podem receber abastecimento pelos sistemas isolados (que atendem apenas um município) ou por sistemas integrados (que atendem mais de um)ou por ambos (isolado + integrado). Os integrados são preponderantes em regiões de maior concentração populacional (como as regiões metropolitanas) e no Semiárido, atendendo 17% das sedes e 48% da população urbana.
ELEVATÓRIA ÁGUA BRUTA
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO
Fonte: Atlas Águas - 2021
RESERVATÓRIO ELEVADO
SEDE URBANA
MANANCIAL SUPERFICIAL 1
CAPTAÇÃO
ELEVATÓRIA
ÁGUA BRUTA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO
CAPTAÇÃO
MANANCIAL SUPERFICIAL 2
MANANCIAL SUBTERRÂNEO (POÇOS)
ELEVATÓRIA
ÁGUA BRUTA FILTRAÇÃO DIRETA
ELEVATÓRIA ÁGUA TRATADA
RESERVATÓRIO
ELEVADO E APOIADO
SEDE URBANA A
RESERVATÓRIO
ELEVADO E APOIADO
RESERVATÓRIO APOIADO
O levantamento para o Atlas Água analisou 4.063 pontos de captação superfícies (rios, represas, açudes) e 14.189 pontos subterrâneos (minas, poços, bateria de poços). Para compor o quadro de vulnerabilidade das sedes/estações de captação, tratamento e distribuição nas regiões urbanas, foram medidas também a capacidade de produção e o desempenho dos sistemas de distribuição e suas perdas.
Como exemplo de locais que podem apresentar insegurança, segundo o Atlas Águas, citam-se algumas das grandes regiões urbanas do País: São Paulo e Distrito Federal, com captações próximas às cabeceiras dos principais rios. Já as cidades de Recife, Vitória, Santos e Florianópolis, concentradas em zonas litorâneas e abastecidas a partir de bacias de pequeno porte e rios de baixa vazão.
• 56% das sedes urbanas possuem Manancial não Vulnerável, o que corresponde a uma população atendida de aproximadamente 105,6 milhões de habitantes; 44% das sedes possuem manancial com vulnerabilidade, mas apenas 5% apresentam alta vulnerabilidade e atendem 5,8 milhões de habitantes;
• 39% das sedes apresentaram sistema produtor satisfatório, enquanto 42% requerem ampliações das unidades e os demais 19% necessitam de apenas adequações
• Com relação ao gerenciamento de perdas de água, 22% das sedes urbanas possuem uso ineficiente dos recursos; 13% apresentam necessidade de redução de vazamentos; 19% apresentam potencial para melhorias e para 46% são necessárias avaliações criteriosas para confirmar a efetividade de melhorias
• 667 sedes urbanas foram classificadas com segurança hídrica máxima, onde vivem cerca de 7 milhões de habitantes, em torno 4% da população urbana do País;
Para manter todos os brasileiros e empresas que estão dentro das áreas metropolitanas do Brasil sem risco de abastecimento, a ANA prevê um investimento total da ordem de R$ 214,3 bilhões até 2035, dos quais 76% do investimento seria para Sudeste e Nordeste. Importante frisar aqui que este Atlas trata de água e não de saneamento (toda infraestrutura de produção de água limpa, distribuição, coleta de esgoto, tratamento de esgoto, resíduos e drenagem). Segundo o Instituto Trata, para universalizar todo o saneamento básico para os brasileiros seriam necessários R$ 600 bilhões, até 2033.
Mas, falando apenas em sistemas hídricos, segundo o Atlas Águas, Ceará e São Paulo são os dois estados que mais demandam investimentos em produção. No Ceará, os maiores investimentos estão relacionados com o abastecimento da Região Metropolitana, mas parte significativa refere-se ao Projeto Malha D’Água (rede de adutoras do Sertão Central). Em São Paulo, embora 95% da população já recebe agua limpa, os 5% que não recebem carecem de investimentos mais relevantes e caros em infraestruturas para a Região Metropolitana (comunidades e favelas) e para polos urbanos do interior do estado.
Também na distribuição, São Paulo e Minas Gerais devem absorver grande parte dos recursos. Esses estados têm boas coberturas de redes, mas com elevado índice de perda por vazamentos ou roubos (“gatos”). Levar água encanada para as favelas tem diminuído a perda, mas isso só foi possível após o Marco Legal.
• 2.143 sedes foram classificadas com alta segurança hídrica, totalizando 50,2 milhões de habitantes nessas localidades;
• 77,3 milhões de habitantes, 36% da população urbana brasileira reside em cidades (1.975) com abastecimento de água classificado com segurança hídrica média, e os demais 50,8 milhões em sedes urbanas que apresentam segurança hídrica baixa ou mínima.
Fonte: Atlas Águas - 2021
O Atlas Águas identificou que 17% da população urbana do Brasil que moram em 2.354 municípios, ou seja 42% dos 5.570 municípios brasileiros, não correm risco de insegurança hídrica, já que essas cidades não apresentam déficits em seus mananciais e sistemas produtores, não contando com infraestruturas ou estudos de alternativas indicados no horizonte avaliado pelo ATLAS (2035).
No entanto, 83% da população urbana, que vive em 58% dos municípios brasileiros, apresenta algum grau de insegurança hídrica considerando a demanda até 2035, necessitando de novas fontes, adequação ou ampliação de sistemas existentes.
Para garantir segurança hídrica das sedes urbanas vulneráveis seriam necessários R$ 110,3 bilhões até 2035. Já para a reposição de ativos das demais sedes, incluindo-se produção, reserva, redes de distribuição e ligações domiciliares seriam necessários R$ 104 bilhões adicionais até 2035. Total de R$ 214,3 bilhões.
MEDIDAS ESTRUTURAIS
Uma história que começou em 1840, no império de D.Pedro II. Naquela época, o imperador já via a necessidade de levar a água do Rio São Francisco para o árido e semi-árido nordestino. Naquela época, os técnicos achavam impossível ultrapassar a chapada montanhosa do Araripe.
Hoje, passados 184 anos, a transposição leva o nome de PISF (Programa de Integração do São Francisco) e, a despeito de todas as polêmicas (como o custo altíssimo da água a capacidade do Rio São Francisco etc.), já tem 79% das obras concluídas, com dois eixos que saem do Rio: Eixo Norte com 260 km de canal e Eixo Leste com 217 km de extensão total. O Eixo Leste teve sua pré-operação iniciada em 2017, enquanto o Norte, com cerca de 98% das obras construídas, iniciou testes de pré-operação
Dos 759 municípios do Nordeste Setentrional, 397 serão beneficiados pelo PISF direta ou indiretamente
Somando todos os investimentos de infraestrutura recomendada, o PISF acumula investimentos de R$ 3,7 bilhões de reais compartilhados entre Pernambuco e Paraíba. Ainda são recomendados investimentos complementares para aumentar a rede de distribuição o que requer cerca de R$ 233 milhões, também compartilhados pelos dois estados.
O Marco Legal, assim como o ODS 6, prevê a inclusão de todos os brasileiros no direito a água limpa e saneamento. Cerca de 10 milhões de nordestinos do semiárido dependem da agricultura familiar para sustento e meio de trabalho. Eles esperam há gerações por dias melhores.
PRESERVAR UM E REDUZIR O USO DO OUTRO PARA NÃO FALTAR
Apesar das metas do Marco Legal terem despertado o senso de urgência na gestão de milhares de prefeituras, tanto o Instituto Trata quanto a ANA estão fazendo projeções para o cumprimento das metas em função de diferentes cenários que a questão climática já está impondo. Com rios cada vez menos volumosos e poços secando, torna-se imprescindível que toda a sociedade lute pela água, com consciência, entendendo de uma vez que o Brasil não tem água infinita. Se não aumentarmos a preservação das florestas e reduzir o uso da água, especialmente com tecnologias e conscientização dos usuários, não haverá mais São Franscisco para irrigar o sertão.
DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
À OBRIGATORIEDADE LEGAL
POR RAFAEL BENKE*
A União Europeia deu um importante passo para fortalecer as boas práticas em direitos humanos no setor empresarial com a recente adoção pelo Conselho Europeu da Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa (CSDDD, na sigla em inglês). A Diretiva estabelece que todos os países da União Europeia deverão exigir que suas empresas e suas cadeias adotem instrumentos para prevenir, mitigar ou eliminar impactos adversos a direitos humanos e ao meio ambiente.
As novas regras se estendem a toda a cadeia de fornecimento das empresas, o que significa dizer que fornecedores e parceiros comerciais internacionais, inclusive do Brasil, também serão cobrados a adotar ou aprimorar seus processos de gestão de riscos relacionados a direitos humanos e à proteção ambiental. O que antes era incorporado à gestão das empresas como práticas de responsabilidade socioambiental, passa a ser obrigação legal, com potenciais implicações nas esferas civil e criminal, com sanções e multas para quem não cumprir.
Se o setor têxtil e de vestuário, por conta da complexidade de sua cadeia produtiva, já ficava na vitrine quando o assunto envolvia boas práticas em direitos humanos, com a aprovação da nova Diretiva Europeia, a tendência é de uma cobrança ainda mais acentuada. Por isso, é fundamental que as empresas brasileiras, que estão na cadeia europeia, acelerem a integração da devida diligência em direitos humanos e ambiental em seus processos de governança corporativa, seguindo requisitos internacionais e antecipando-se a essas exigências.
O setor produtivo brasileiro tem uma boa margem de vantagem competitiva em relação a outros mercados que se relacionam com a União Europeia no que diz respeito às boas práticas em direitos humanos. Para além de vivermos em uma democracia institucionalmente estruturada, nosso país dispõe de uma legislação socioambiental e trabalhista bem consolidada e
de instituições sindicais tradicionalmente mais estruturadas, o que é visto pelos outros países como uma indicação positiva de que os princípios básicos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outros requisitos serão atendidos.
Ilustração interessante é o caso da fabricante de tênis francesa VEJA (no Brasil VERT), que escolheu o Brasil para seus investimentos e produção, tendo como uma das principais razões a segurança da legislação trabalhista brasileira¹. Além disso, seus sócios buscavam um lugar ideal para implantar um modelo de negócios que visava à geração de impactos socioambientais positivos em toda a cadeia produtiva.
Ainda que tenhamos cenários mais favoráveis como esses, há muitos aspectos nos quais as empresas ainda precisam avançar. E a principal lacuna está justamente na adoção da prática da Devida Diligência em Direitos Humanos².
Os dados mais recentes do Termômetro de Direitos Humanos da Proactiva Results - uma plataforma online que permite avaliar o desempenho de empresas, de forma confidencial, a partir de uma série de quesitos parametrizados - apontam que 87% das empresas adotam algum tipo de compromisso público sobre respeito aos direitos humanos, mas apenas 25% possuem uma política específica sobre o tema - ponto importante para parâmetros internacionais.
Outro dado que revela a fragilidade das práticas empresariais nesse quesito é a falta de processos estruturados para gestão de riscos aos Direitos Humanos. Quase metade das 480 empresas respondentes (47%) não dispõe de procedimentos estruturados para identificar e avaliar riscos e impactos aos direitos humanos. Daquelas que fazem gestão, apenas 38% incluem consultas significativas com indivíduos e grupos potencialmente impactados e outros atores relevantes para identificar riscos - algo central nas melhores práticas internacionais³.
1. https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn035nd7ypno
2. Entenda o que é a Devida Diligência em Direitos Humanos
3. Conheça sobre o Termômetro de Direitos Humanos
A nova diretiva da União Europeia, que torna obrigatória a Devida Diligência em Direitos Humanos e meio ambiente pelo setor empresarial, baseou-se nos Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos e nas diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais.
O prazo para todos os países da União Europeia transformarem os requisitos em Lei é de 2 anos, porém, a exemplo do que ocorreu com a Lei Alemã, que foi precursora desse processo, as empresas europeias não esperam o prazo final para implementar as medidas necessárias. Assim sendo, é fundamental que as empresas brasileiras que fazem parte, ou pretendem fazer parte dessa cadeia, acelerem seus processos de integração de Devida Diligência em Direitos Humanos e Ambiental.
Ainda de acordo com a normativa, o cronograma de aplicação para as empresas europeias, a partir da entrada em vigor da normativa, se dará da seguinte forma:
3 ANOS
empresas com mais de 5 mil trabalhadores e volume de negócios de 1,5 milhão de euros
4 ANOS
empresas com mais de 3 mil trabalhadores e volume de negócios de 900 milhões de euros
5 ANOS
empresas com mais de 1 mil trabalhadores e um volume de negócios de 450 milhões de euros
O alerta para se antecipar às novas regras vale especialmente para o setor têxtil e de vestuário, diante de sua importância nos mercados globais e da complexidade da cadeia de valor, que envolve vários sistemas de produção, trazendo uma maior exposição a riscos. Para se preparar, é importante que o setor una forças e trabalhe coletivamente nos desafios em comum e de forma a alavancar as ações que as empresas já desenvolvem individualmente.
A aprovação da Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa representa um marco global na obrigatoriedade de boas práticas de gestão de riscos aos direitos humanos. De um lado, muito da conduta esperada por parte desses parceiros comerciais e clientes europeus já são prática efetiva no Brasil. De outro, quesitos de gestão e governança terão que ser alinhados, para que as empresas brasileiras possam fortalecer suas práticas e dialogar com requisitos internacionais. Nesse sentido, o calendário gradativo estabelecido pela UE dá oportunidade de mobilização e preparação por parte das empresas brasileiras, para que a integração da Devida Diligência não se torne gargalo e ofereça oportunidade de diferencial competitivo da empresa e do setor.
Por Rafael Benke CEO Proactiva Results
Já estão abertas as inscrições para a 9ª edição do maior evento de conteúdo do setor Têxtil e de Confecção (T&C) do Brasil, e que será realizado na Bahia, nos dias 30 e 31 de outubro. Com o tema “Conexões Brasil –Mundo: caminhos estratégicos para competitividade” a Abit irá explorar, durante o Congresso, as possibilidades de aumentar a inserção da indústria da moda brasileira no cenário global. Onde o Brasil se encontra hoje no mercado global e porque tem sido difícil ganhar share no mercado mundial? Entender as barreiras internas e externas, trazendo especialistas e empresários do País e de fora, além de representantes de organismos públicos, é uma das abordagens do Congresso, entre outros temas. O Congresso Internacional da Abit reúne executivos e empresários têxteis e de confecção de todo o Brasil e de outros países, durante os dois dias de evento, sendo considerado um dos melhores momentos para um networking qualificado. São mais de 400 congressistas, cerca de 25 palestrantes e perto de 60 patrocinadores.
Este espaço da Revista Abit Review vai noticiar algumas iniciativas das empresas associadas que estão investindo em ações dentro da agenda ESG, como eventos, certificações, prêmios, boas práticas junto a comunidades, colaboradores, e outras ações que não sejam lançamentos de produtos.
A Abit realizou, em junho, workshop online sobre Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Em parceria com especialista do Senai CETIQT, o encontro tratou dos elementos que devem ser considerados em um PGRS para atender à Política Nacional dos Resíduos Sólidos e, ainda, como gerir os resíduos sólidos produzidos nas atividades da operação das empresas de modo ambientalmente correto, considerando a hierarquia dos resíduos e proporcionando segurança, controle e redução de perdas e desperdícios nos processos produtivos. A palestra foi ministrada por Camila Gisele Araujo da Costa, engenheira ambiental. O workshop contou com o apoio do Sinditêxtil-SP e da Abvtex.
A Febratex, maior feira de tecnologia têxtil das Américas, busca conquistar na edição 2024, em Blumenau, SC, de 20 a 23 de agosto, o selo Lixo Zero, reforçando o compromisso com a sustentabilidade. A certificação, reconhecida globalmente, é concedida para eventos que conseguem encaminhar corretamente mais de 90% dos resíduos gerados. Em 2023, o Febratex Group, em parceria com a Euro Ambiental, obteve a certificação do Febratex Summit, evento que promove conhecimento sobre inovação e sustentabilidade na indústria têxtil.
A Incofios, empresa de Santa Catarina líder na produção de fios de algodão, desenvolveu um projeto sobre o uso de caixas de papelão, muito utilizadas para o transporte e entrega da produção. Agora, parte dos clientes recebe o pedido entregue em paletes retornáveis, que promovem uma solução mais interessante ambientalmente. O projeto oferece agilidade na entrega, enquanto no método tradicional cada caixa precisava ser retirada manualmente do caminhão, agora basta remover o palete com toda a carga, reduzindo o tempo de carga e descarga pela metade. Da mesma forma, no processo de alimentação dos teares, a eficiência é aumentada, pois o tempo gasto para desembalar e colocar os fios nos teares é significativamente reduzido. Atualmente, a Incofios entrega a produção em paletes para 5% dos clientes, mas o objetivo é aumentar esse número em 25%. Os paletes utilizados no projeto são adquiridos externamente e retornam à empresa para serem reutilizados, contribuindo para um ciclo mais sustentável de produção e entrega.
O Condomínio Bahia Têxtil, em Salvador (BA), produz em média 4 milhões de peças por ano, movimentando cerca de R$180 milhões. Com o objetivo de incrementar os resultados, os condôminos investiram durante 2 anos na construção de um centro de lojas, o Bahia Têxtil Center, que acaba de ser lançado. Atualmente com 22 fábricas de confecções, além de duas outras empresas, uma de bordados e uma de mecânico de máquinas de costura, distribuídas em cerca de 20 mil m2, o Condomínio gera 800 empregos diretos e 4 mil indiretos, sendo que 90% do total é ocupado por pessoas que vivem na região. Com a inauguração do Bahia Têxtil Center, cerca de 200 novos postos de trabalho serão gerados, contando com a expectativa de movimentar R$100 milhões no segundo semestre.
A empresa Sol fez parceria com o artista Marcio Paloschi que transforma resíduos de matérias-primas de paraquedas, parapentes e asas de paramotor, que antes seriam considerados descarte. Entre os trabalhos realizados com o material estão cenários para espetáculos, fantasias de carnaval e figurinos, entre outros. O Marcio Paloschi é figurinista, artista visual, cenógrafo e pesquisador, e também é um entusiasta da reciclagem e do reaproveitamento de materiais.
O Prêmio DuPont, referência na área de proteção em Saúde e Segurança na América Latina, chega à sua 13ª edição. Neste ano, a novidade será a categoria Mulheres na Segurança para homenagear profissionais dedicadas a promover mais segurança e inclusão na cultura organizacional das empresas. A premiação conta com outras seis categorias: projetos que utilizam marcas específicas da multinacional, Estudante e Sustentabilidade, entre outras. As inscrições poderão ser feitas no site do Prêmio DuPont.
A Lunelli, companhia têxtil catarinense, apresenta seu Relatório de Sustentabilidade 2023 com resultados e conquistas do último ano nos campos social, ambiental e governança. Entre os destaques do balanço anual, estão o crescimento e aperfeiçoamento do quadro de trabalhadores, com distribuição de lucros e aportes em treinamentos de capacitação profissional, o aumento do volume de reciclagem, redução de envio de resíduos para aterro, treinamento em código de conduta de líderes para diversidade e inclusão.Com sólida atuação no pilar social, a Lunelli conta hoje com 4.762 colaboradores de predominância feminina (68% mulheres e 32% homens), para os quais, no ano passado, foram distribuídos R$ 15,3 milhões por meio do Programa Conquista de Resultados (PCR), pago em parcela única em algumas unidades, e ao Prêmio de Produção, depositado mensalmente aos demais colaboradores.
A Vicunha Serviços, subsidiária do Grupo Vicunha dedicada a serviços ambientais, e a Cagece, Companhia de Água e Esgoto do Ceará, inauguraram uma Estação de Tratamento de Efluentes Industriais e de Produção de Água de Reuso para atender as indústrias nos municípios de Pacajús e Horizonte, no Estado do Ceará, e teve investimento de cerca de R$ 60 milhões. Além do tratamento de efluentes industriais, o projeto compreende também a produção de água de reuso a partir do esgoto doméstico tratado e produzido pela cidade cearense de Horizonte, com a construção de 40 km de canais artificiais. A iniciativa é inovadora no Estado e visa reduzir significativamente a demanda por água bruta a partir dos mananciais da região.
POR GESNER OLIVEIRA*
Aristóteles defendia que a inteligência era uma característica única dos seres humanos, resultante da capacidade de raciocinar e entender o mundo por meio de suas experiências e observações. Para o fisósofo grego, a inteligência não se restringia apenas ao processamento de dados, mas incluía também a habilidade de tomar decisões éticas e morais.
Essa definição milenar da inteligência humana está em linha com o avanço exponencial da Inteligência Artificial (IA). Um estudo da Brynjolfsson, Li & Raymond (2023, intitulado Generative AI at Work trouxe à tona a relevância da IA na produtividade humana. Ao introduzir um assistente de bate-papo generativo basea-
do em Inteligência Artificial em ambientes de trabalho, os resultados foram surpreendentes: agentes que receberam acesso ao sistema IA apresentaram um aumento significativo na entrega de soluções por hora, passando de uma média de 1,7 soluções para 2,5 soluções, equivalente a um aumento expressivo de produtividade de 47%.
Essa constatação se torna ainda mais relevante quando consideramos o cenário econômico atual. No Brasil, a produtividade permanece estagnada há três décadas, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enquanto a renda per capita do país e a produti-
vidade crescem a taxas modestas. Entre 1995 e 2023, setores como a indústria apresentaram um declínio na produtividade por hora trabalhada, enquanto os serviços registraram avanços modestos. O agronegócio é a exceção com níveis elevados de eficiência.
Diante desse contexto, as oportunidades corporativas da IA se destacam como uma importante luz no fim do túnel. Redução de custos, otimização de processos, revolução nas estratégias de marketing e otimização do supply chain são apenas algumas das vantagens oferecidas pela adoção da IA pelas empresas.
Ressalte-se, no entanto, que junto com os benefícios vêm desafios adicionais. A segurança cibernética, por exemplo, torna-se ainda mais desafiadora com a crescente utilização da IA. Os riscos aumentam com a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), enquanto resultados imprevisíveis e vieses na política de pessoas podem gerar consequências indesejadas. Além disso, os riscos associados à propriedade intelectual e direitos autorais requerem uma atenção redobrada.
Nesse contexto, a governança corporativa da IA desempenha um papel fundamental. Criar um ambiente seguro para proteção de dados e segredos industriais, definir claramente as verticais de aplicação da IA e alinhar as políticas corporativas com o compliance e código de conduta são passos essenciais. Além disso, a gestão de riscos e o Gerenciamento de Riscos Empresariais (ERM) devem incorporar o foco na IA.
Enquanto a IA promete impulsionar o crescimento econômico e promover mudanças culturais significativas, é imperativo reconhecer e lidar proativamente com os riscos associados a essa tecnologia. É preciso evitar
o risco dos três “Ds”: desemprego, desigualdade e desinformação.
No que diz respeito ao impacto da IA sobre os empregos, as previsões variam de acordo com o nível de desenvolvimento econômico de cada país. Economias avançadas podem perder até 60% dos empregos para a automação, enquanto economias emergentes e de baixa renda podem enfrentar impactos menores, mas ainda significativos, com a substituição de até 40% e 26% dos empregos, respectivamente.
Para garantir um futuro sustentável e equitativo, é crucial promover uma revolução na educação garantindo para todos o capital humano necessário para complementar a máquina e não ser substituído por ela. Isso garantiria o salto na produtividade e remuneração da mão de obra.
No tocante à desigualdade, é fundamental reforçar os programas sociais com a ênfase mencionada na educação, além de inclusão digital e retreinamento, formas mais eficazes de promover o aumento da produtividade e das oportunidades para a maioria da população.
Em relação à desinformação, é essencial combatê-la com boa informação e transparência, bem como rigor na aplicação da legislação que pune a calúnia, injúria e difamação. É preciso a todo custo evitar a censura e qualquer tipo de tolhimento à liberdade de expressão.
Não há volta na IA. Os países que não estiverem preparados para ela estarão condenados ao atraso. As salvaguardas são necessárias, não para freá-la, mas para permitir que seus benefícios sejam de fato distribuídos para o conjunto da sociedade.
*Gesner Oliveira PhD em Economia pela Universidade da Califórnia/Berkeley, mestre em Economia pela Unicamp e graduação pela USP. Foi presidente da Sabesp (20007-2011), Secretário adjunto da Secretaria Econômica do Ministério da Fazenda (1993-1995) e hoje é sócio da GO Associados e professor da Fundação Getúlio Vargas, em SP.
Recentemente, o cenário político brasileiro tem sido palco de debates acirrados sobre a tributação das empresas de vestuário no Brasil em comparação com as plataformas de venda asiáticas. A aprovação na Câmara dos Deputados de um imposto de 20% sobre as compras internacionais de até US$ 50, conhecida como “taxa das blusinhas”, trouxe um alívio para as indústrias e varejos nacionais, mas ainda não resolveu completamente a questão da isonomia tributária.
Hoje, a tributação desbalanceada entre empresas nacionais e internacionais tem sido um ponto de preocupação para a indústria brasileira. Antes da introdução do programa Remessa Conforme pelo governo federal no ano passado, as compras internacionais eram tributadas a uma alíquota de 60%, que ainda se aplica para valores acima de US$ 50. A nova medida de 20% para compras de até US$ 50 é vista como positiva, mas insuficien-
te para nivelar o campo de jogo entre empresas brasileiras e estrangeiras.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com a ABVTEX, envolvendo 2.018 brasileiros, revelou que 81% dos entrevistados consideram injusta a cobrança de impostos mais altos sobre empresas nacionais em comparação com empresas internacionais, especialmente asiáticas. Além disso, 84% dos brasileiros preferem consumir produtos que geram emprego e renda na economia nacional.
A desigualdade tributária prejudica diretamente a geração de empregos no Brasil. Segundo a pesquisa, 90% dos brasileiros reconhecem a importância da indústria de vestuário na criação de trabalho e renda
para milhares de brasileiros. Com uma carga tributária mais alta, as empresas nacionais enfrentam dificuldades para competir com os preços mais baixos das empresas asiáticas, preços muitas vezes derivados de uma ausência de compromisso ambiental e práticas trabalhistas questionáveis. Isso resulta em perda de mercado e, consequentemente, em menos empregos no Brasil.
Para ilustrar, considere as condições médias de trabalho de um trabalhador brasileiro comparadas com as de um trabalhador asiático. No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante direitos como férias remuneradas, décimo terceiro salário, jornada de trabalho de 44 horas semanais, adicional noturno, e um ambiente de trabalho seguro. Essas regulamentações asseguram um padrão mínimo de dignidade e segurança para os trabalhadores brasileiros.
Em contraste, em muitas partes da Ásia, os trabalhadores enfrentam condições bem diferentes. Jornadas de trabalho extremamente longas, salários baixos, ausência de benefícios básicos como férias pagas, e condições de trabalho insalubres são comuns. Em alguns casos, há relatos de trabalho análogo à escravidão, onde os direitos trabalhistas são praticamente inexistentes. Pergunta-se ao leitor: é justo que essas empresas, que operam sob condições tão desiguais, paguem menos impostos que as brasileiras?
Outro aspecto relevante é a questão das condições de trabalho. A pesquisa indica que 87% dos brasileiros consideram importante que os trabalhadores que produzem roupas, calçados e acessórios tenham condições dignas de trabalho e remuneração adequada. Contudo, 75% acreditam que as empresas asiáticas são mais propensas a utilizar trabalho análogo à escravidão e explorar trabalhadores com jornadas longas. A isonomia tributária ajudaria a fortalecer empresas que
respeitam os direitos trabalhistas no Brasil. Sustentabilidade
A sustentabilidade também é uma preocupação central para os consumidores. Segundo a pesquisa, 86% dos brasileiros valorizam a compra de produtos sustentáveis que não agridem o meio ambiente. Entretanto, 75% consideram que as empresas brasileiras são mais comprometidas com a sustentabilidade do que as asiáticas. A disparidade tributária atual desfavorece as práticas sustentáveis das empresas nacionais, que enfrentam concorrência desleal de produtos mais baratos e menos sustentáveis.
A aprovação da tributação das plataformas asiáticas é um passo positivo, mas ainda insuficiente para garantir a isonomia tributária necessária para equilibrar a concorrência entre empresas nacionais e internacionais. A isonomia tributária é essencial não apenas para proteger os empregos no Brasil, mas também para assegurar condições de trabalho dignas e promover práticas sustentáveis. Para garantir um ambiente econômico justo, é fundamental que o Senado e, posteriormente, a sanção presidencial avancem no sentido de criar uma política tributária que permita às empresas brasileiras competir em igualdade de condições. Somente assim será possível fortalecer a indústria nacional, proteger os empregos brasileiros e promover um desenvolvimento sustentável.
A discussão sobre a isonomia tributária deve continuar baseada em dados e fatos, fugindo do flá x flu da política partidária e visando sempre o benefício da economia nacional e da sociedade como um todo. Em última análise, a pergunta que deve guiar essa discussão é: é justo que empresas que operam sob condições tão desiguais paguem menos impostos que as brasileiras? A resposta, baseada nos dados e nas percepções dos brasileiros, parece clara.
*Renato Meirelles
Comunicólogo e escritor, desde 2001, Renato conduz centenas de estudos sobre comportamento, consumo, cultura e opinião, liderando diagnósticos e estratégias de negócio para as principais empresas que atuam no Brasil. Considerado um dos maiores especialistas em consumo e opinião pública do país é fundador da Locomotiva Instituto de Pesquisa.