


Vem aí um final de Ano e também vem aí um Ano Novo. Tudo isto implica, mudança, inovação e transformação. Sabemos bem, que num Novo Ano, vão surgir novas realidades, que, à data, desconhecemos.
É a lei da vida e nós só temos que nos adaptar.
Ora bem!
O Colégio Militar de hoje, também muda, inova e transforma-se em cada ano que passa. É , comparativamente com anos atrás , um Colégio diferente.
Antigamente, era um Colégio exclusivamente para rapazes e hoje é misto. Tinha os antigos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino liceal, hoje tem o primeiro, e os segundo e terceiro ciclos e o secundário (sendo que o primeiro ciclo é obrigatoriamente externo).
Era um Colégio no regime de internato de domingo à noite a sábado à tarde e hoje temos dois regimes, internato e externato, sendo que no regime de internato, os alunos só lá dormem três dias por semana.
No passado o “castigo “mais corrente era a privação de saída aos fins de semana.
Hoje o Colégio está encerrado aos fins de semana. E muitas outras diferenças existem.
Conclusão: os atuais alunos do Colégio Militar têm uma vivência do Colégio substancialmente diferente da dos Antigos Alunos mais velhos.
Ora, fazendo jus ao nosso lema - “ UM POR TODOS, TODOS POR UM “ -, a nossa Associação , também tem que mudar, inovar e transformar-se, para receber estes novos Antigos Alunos (as alunas estão, obviamente, inseridas no conceito lato de alunos).
O futuro da Associação, não somos nós – os do século XX –, são eles. Por isso temos de os chamar, integrar e acarinhar. Temos que criar atividades que os atraiam.
Temos de ter uma comunicação que lhes chegue de uma forma clara, natural e apelativa.
Temos de começar a incluí-los nos Orgãos Sociais da Associação, o que vamos fazer.
Enfim “malta “ . Repito!
Temos de mudar, inovar e transformar de uma forma sistematizada e natural a nossa Associação.
Um Bom Natal e um forte ZACATRAZ.
Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)
Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)
1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)
2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)
Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)
Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)
Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)
Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)
1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)
2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)
3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)
4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)
5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)
1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)
2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)
3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)
Presidente António Santos Serra (95/1959)
1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)
2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)
1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)
2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL
Fundada em 1965 Nº 225 Outubro/Dezembro - 2021
FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECTOR
Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt
CHEFE DE REDACÇÃO
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt
REDACÇÃO Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)
CAPA A Santa e as Armas da Infanta D.Maria
ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO
Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
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Imposição de Graduações 2021/2022
Como já é habitual, o novo ano lectivo iniciou-se com a realização do curso de graduados, que culminou com a cerimónia de imposição de graduações, que decorreu ao final da manhã do dia 8/9/2021, nos Claustros, palco dos acontecimentos mais importantes da vida colegial. Assinala-se que nesta cerimónia foi admitida a presença de dois familiares de cada um dos alunos a graduar, iniciando-se assim o caminho para uma normalidade, pela qual todos anseiam.
Às 12H00 os alunos a graduar formaram nos Claustros, onde deu entrada, de seguida, o Director do Colégio, Coronel de Artilharia António Emídio da Silva Salgueiro. A formatura de alunos prestou continência ao Coronel Director, após o que se deu início à cerimónia.
A cerimónia começou com a leitura, feita pelo Sargento Chefe Aguiar, Adjunto do Comandante de Corpo de Alunos, do artigo da Ordem de Serviço referente às graduações dos alunos para o ano lectivo 2021/2022.
Finda a leitura, procedeu-se à imposição das graduações, por meio de sucessivas chamadas dos alunos a graduar. A primeira chamada foi para a graduação do Comandante de Batalhão.
A segunda chamada foi para a graduação dos quatro Comandantes de Companhia.
A terceira chamada foi para a graduação dos alunos constituintes do Comando do Batalhão.
A quarta chamada foi para a graduação dos Adjuntos dos Comandantes de Companhia (3 estrelas).
As quinta a oitava chamadas foram para os Comandantes de Pelotão das 4.ª, 3.ª, 2.ª e 1.ª Companhias.
As nona a décima segunda chamadas foram para os Comandantes de Secção das 4.ª, 3.ª, 2.ª e 1.ª Companhias.
Com as graduações impostas, chegou a vez de os novos graduados assumirem o seu compromisso de honra, repetindo a fórmula do Compromisso de Honra do Aluno Graduado, que foi lida pelo Comandante do Corpo de Alunos, Tenente-Coronel Pedro Magrinho.
O Compromisso de Honra do Aluno Graduado é do seguinte teor:
SÃO CONFIADAS, COMPROMETENDO-ME A EXERCÊ-LAS NO REPEITO POR MIM PRÓPRIO E PELOS OUTROS, COM INTEIRA LEALDADE E DE FORMA DIGNA, HONRANDO O COLÉGIO MILITAR.
Concluída a prestação do compromisso de honra, foi a vez de o Coronel Director proferir algumas palavras alusivas à cerimónia, que de seguida se transcrevem.
"Excelentíssimos Senhores Presidentes da Associação dos Antigos Alunos e da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Distintos convidados, Caros Militares e Civis que servem no Colégio Militar, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Caros Alunos do Colégio Militar, Hoje é um marcante dia na atualidade recente do nosso Colégio!
CONSCIÊNCIA E SENTIDO DAS RESPONSABILIDADES, AS FUNÇÕES DE GRADUADO QUE ME
Após dois anos letivos repletos de alterações, restrições e condicionantes, retomamos as atividades deste novo ano letivo 2021/22 num quadro de abertura gradual, concluindo o
estágio de graduados de 2021 com a presente cerimónia de imposição de graduações na qual contamos com a presença de convidados institucionais, de Pais e Encarregados de Educação e de militares e civis que servem no Colégio Militar.
O desafio que temos pela frente é exigente. Exigente na recuperação da muito desejada normalidade, exigente na reposição das rotinas diárias da nossa matriz militar, das práticas escolares e de sala de aula, na recuperação das aprendizagens e no relançamento das dinâmicas curriculares e de complemento curricular que caraterizam o nosso diferenciado Projeto Educativo, exigente nas vivências e na valorização da experiência do internato, na integração dos novos alunos, no salutar incremento de cumplicidades e de Amizades para a Vida, com disciplina, seriedade, honestidade e brio, salvaguardando o respeito mútuo e promovendo um forte espírito de camaradagem.
Em todo este contexto, voltará a ser determinante a atitude de cada um de nós no seio da nossa Comunidade Educativa. A toda a Família Colegial incumbe contribuir para o sucesso de um Projeto Educativo simultaneamente complexo e apaixonante. Só o vivido é compreendido, só quem vivencia o ambiente deste claustro em dia de cerimónia sente o peso e a unicidade deste espaço emblemático e inspira-
dor. Para Alunos e Antigos Alunos, aqui começa, aqui se consolida e se reforça, ciclicamente, o espírito de união, o sentimento de curso, os laços que unem gerações e gerações de “Meninos da Luz”.
Hoje, celebramos o Sentido de Responsabilidade, o Mérito e o Exemplo! O Sentido de Responsabilidade inerente ao escrupuloso cumprimento dos artigos do Código de Honra do Aluno do Colégio Militar, o Mérito construído e reconhecido ao longo da frequência do Colégio, o Exemplo que deve nortear a atitude dos Alunos nomeados para Graduados.
Ser Graduado é a oportunidade de viver uma experiência ímpar e é o assumir de uma enorme e exigente responsabilidade individual, de capital importância no nosso Projeto Educativo. É na existência de internato, na nomeação de alunos graduados e no correto exercício das suas funções junto dos alunos mais novos que reside muita da especificidade e identidade do Colégio Militar.
A todos se exige uma atitude equilibrada, sensata e ponderada que não descure a necessidade imperiosa de sucesso escolar. Ser Graduado implica ser um exemplo em cada momento, ser justo, ser respeitador e ser respeitado. Ser altruísta, disciplinado e disciplinador, solidário e responsável, Irmão e Amigo.
A estrutura de Graduados hoje assumida resulta, em grande medida, das vossas propostas, das vossas afinidades, da vossa realidade enquanto curso. Tem também refletida a apreciação de Oficiais e Professores que vos conhecem bem, que vos acompanham há alguns anos e
que, acima de tudo, acreditam na vossa atitude e compromisso e confiam em vós, confiam na vossa assunção livre, consciente e responsável para o exercício de uma missão muito digna que requer total lealdade e honra em Servir o nosso Colégio. É nesse espírito de partilha e confiança mútua que temos que continuar a consolidar o sentido do coletivo no Colégio e a valorização do mérito de cada um, contribuindo para o reforço do público reconhecimento da qualidade do nosso Projeto Educativo.
Que o nosso desempenho coletivo vos proporcione con -
dições para um excelente ano letivo e que cada um de vós saiba interpretar bem, e exercer melhor, as tarefas que decorrem das novas funções que ides assumir.
A todos os presentes, expresso o meu agradecimento pela disponibilidade em terem aceite o convite para aqui estarem presentes, testemunhando um momento tão especial e tão significativo na vida colegial. Bem Hajam.
Aos novos Alunos Graduados, e a todos os Alunos Finalistas, dedico um Forte ZACATRAZ!"
Terminada a alocução do Coronel Director, a formatura dos graduados prestou-lhe de novo continência, após o que, foi encerrada a cerimónia.
Apresentamos de seguida a listagem das graduações atribuídas:
Comandante de Batalhão – Aluno n.º 72, Vasco Caetano.
Ajudante de Comandante de Batalhão – Aluno n.º 372, Guilherme Gouveia.
Porta-Estandarte Nacional – Aluno n.º 528, João Botto.
Adjunto de Comandante de Batalhão – Aluna n.º 524, Catarina Pinto.
Comandante da Escolta a Cavalo – Aluno n.º 540, João Mimoso.
Porta-Guião do Colégio Militar – Aluno n.º 461, Diogo Onofre.
Cerra-Fila da Escolta a Cavalo – Aluno n.º 637, Diogo Silva.
Comandante de Companhia – Aluna n.º 352, Maria Silva.
Adjunto do Comandante de Companhia – Aluno n.º 299, Afonso Ribeiro.
Comandantes de Pelotão – Aluno (a) n.º 798, Rita Gomes, – Aluno(a) n.º 636, Daniel Canilho, – Aluno(a) n.º 194, Constança Trindade – Aluno(a) n.º 5, Frederica Lopes.
Comandantes de Secção – Aluno(a) n.º 218, Diana Branquinho,
– Aluno(a) n.º 65, Gonçalo Fernandes, – Aluno(a) n.º 144, Camila Silva, – Aluno(a) n.º 452, Tomás Fernandes – Aluno(a) n.º 127 – Rodrigo Bastos.
Comandante de Companhia – Aluno n.º 491, Alberto Barbedo.
Adjunto de Comandante de Companhia – Aluna n.º 550, Inês Jorge.
Comandantes de Pelotão – Aluno(a) n.º 385, Gabriel Almeida, – Aluno(a) n.º 496, Francisca Marques, – Aluno(a) n.º 683, Ricardo Medeiros.
Comandantes de Secção – Aluno(a) n.º 260, Miguel Valdez, – Aluno(a) n.º 95, Gonçalo Duarte, – Aluno(a) n.º247, Patrícia Calejo* – Aluno(a) n.º 253, João Marcelino*
*Cumulativamente comandante de Secção da Escolta a Cavalo.
Comandante de Companhia – Aluno n.º147, Guilherme Cascalhais.
Adjunto de Comandante de Companhia – Aluno n.º 81, Gonçalo Ruivo.
Comandantes de Pelotão
– Aluno(a) n.º 645, Sérgio Rocha, – Aluno(a) n.º 689, Sofia Alves – Aluno(a) n.º 584, Márcio Carima.
Comandantes de Secção
– Aluno(a) n.º 752, Tiago Godinho, – Aluno(a) n.º 680, Joana Carmo, – Aluno(a) n.º 614, Manuel Guerreiro – Aluno(a) n.º 97, Carolina Crispim.
Comandante de Companhia – Aluno n.º 509, Nuno Simões.
Adjunto de Comandante de Companhia – Aluna n.º 518, Ana Baptista.
Comandantes de Pelotão
– Aluno(a) n.º 660, Ana Monteiro, – Aluno(a) n.º 288, Jorge Silva, – Aluno(a) n.º 350, Vitória Jesus – Aluno(a) n.º 135, Daniel Coelho.
Comandantes de Secção
– Aluno(a) n.º295, Lília Santos, – Aluno(a) n.º539, Gabriel Gomes, – Aluno(a) n.º 667, Inês Estevão, – Aluno(a) n.º634, Tiago Ribeiro – Aluno(a) n.º 639, Constança Santos.
A todos os novos graduados a ZacatraZ deseja os maiores êxitos no desempenho das suas funções e espera que constituam um exemplo permanente para os alunos que têm sob o seu comando. Compete-lhes continuar a mostrar, que o modelo educativo adoptado pelo Colégio, corresponsabilizando os alunos mais velhos na educação dos alunos mais novos, por meio de um sistema de graduações que lhes atribui funções de comando, é uma das importantes mais valias que o Colégio tem para oferecer, aos pais que lhe confiam a educação dos seus filhos.
A Redacção.
Composição do Batalhão 2021/2022
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957Iniciado o ano lectivo de 2021/2022, que esperamos que ocorra livre de sobressaltos devidos à pandemia, que parece estar mais ou menos controlada, procedemos de seguida à habitual análise da composição do Batalhão. No quadro anexo apresentamos, para o ano lectivo de 2021/2022, a «fotografia» do Batalhão expressa em números. As reflexões que os números apresentados nos suscitam, são as seguintes:
Composição do Batalhão no Ano Lectivo de 2021/2022 8 32 21 32 30 22 29 28 202 38,4
Al. Masculinos Al. Femininos TOTAIS Internos Externos Internos Externos 27 24 17 19 5 9 5 3 109 20,7
11 14 21 12 23 15 16 17 129 24,5
24 22 15 14 4 2 4 1 86 16,4 100
70 92 74 77 62 48 54 49 526
Houve uma diminuição enorme de alunos internos no 5.º ano. No ano passado eram apenas 28, este ano o número caiu para 8, um número inimaginável há poucos anos atrás, desolador. Nitidamente as «mamãs» dos meninos têm cada vez mais medo de os pôr internos no Colégio aos 10 anos. A malta que está interna, tem de mostrar a esta rapaziada que tem de se libertar das saias das «mamãs» e dar o seu grito do Ipiranga. Até as meninas internas no 5.º ano são em número de 11. Onde é que já se viu uma coisa destas? Dispensamo-nos de dar resposta a esta interrogação.
Curiosamente a grande quebra do 5.º ano é compensada pelos anos seguintes, pois de uma percentagem total de alunos internos de 35,5% do ano passado, subiu-se para uma percentagem ligeiramente superior, de 38,4%. A diferença, de tão pequena que é, deve ser apenas circunstancial.
A nosso ver e como já vimos dizendo há anos, um número significativo de alunos externos (rapazes ou raparigas) no Colégio, constitui o maior problema com que o mesmo tem de lidar. É um problema que será sentido por todos, mas com maior incidência pelos graduados. Segundo nos confidenciou um graduado comandante de companhia, no final do ano lectivo passado, em que em parte do mesmo os alunos tiveram de ficar em casa, ele tinha alunos externos na sua companhia que mal conhecia. Se nem se conhecem, como podem criar espírito de corpo e laços de camaradagem?
O ano passado, a percentagem de alunos externos era de 22,9%. Este ano, desceu ligeiramente, para os 20,7%. A nossa esperança era que, ao menos, naquilo que agora se chama o «secundário» (10.º ao
12.º ano) fossem todos internos. Tal não se verifica. Temos 17 alunos externos no secundário, dos quais 3 são finalistas. Estes últimos concluirão o seu curso no Colégio, tendo sido sempre externos. Não sabemos avaliar que sentimentos terão em relação ao Colégio.
Pelo segundo ano consecutivo, diminuiu o número de alunas internas. Há 3 anos, o Colégio tinha cerca de 100 alunas internas e não tinha um maior número, por não ter instalações para as acomodar. Com o recurso a adaptações do edifício do Corpo de Alunos, foi possível criar condições para receber todas as alunas que optassem pelo internato. O número de alunas internas «pulou» então de cerca de 100 para as 151. O ano passado, esse número desceu para 137 e este ano voltou a descer, agora para 129. Antes que se façam mais obras, parece prudente verificar em que números a situação se irá estabilizar. Temos de ter em mente que os números dos anos lectivos passado e presente, podem ter sido influenciados pela situação de pandemia que ocorreu. Há que aguardar pelo "novo normal".
No início do ano lectivo passado, a percentagem de alunas nesta situação relativamente ao total do Batalhão tinha subido de 14% para 17,6%, o que considerámos não ser bom sinal. Este ano, a percentagem desceu ligeiramente para 16,4%, o que não merece qualquer comentário especial.
Nos anos lectivos passados, a percentagem de alunas tinha vindo continuamente a subir, tendo atingido um máximo de 43%, no ano lectivo de 2019/2020. O ano passado a
percentagem desceu para os 40,5% e este ano subiu, ligeirissimamente, para os 40,9%. Ou seja, a situação parece estar estável. Há que aguardar pelos próximos anos, para se verificar se esta situação se confirma.
O ano passado manifestámos a nossa grande preocupação pela contínua subida da percentagem total de alunos externos (rapazes e raparigas). Há dois anos essa percentagem tinha atingido os 35%, para subir no ano passado para os 40,5%.
No presente ano a percentagem de externos é de 37,1%. É uma percentagem demasiado elevada, mas ao menos deu-se uma quebra na tendência de subida. Oxalá esta tendência de descida venha para ficar, para que possa melhorar a coesão entre os alunos, para que se possam desenvolver fortes laços de camaradagem entre eles e para que os graduados tenham tempo para conhecer, conviver e formar os alunos pelos quais são responsáveis.
A existência de graduados e o exercício normal da sua acção de comando, fazem parte das características que tornam o Colégio Militar numa casa com um projecto educativo único e de méritos comprovados, ao longo de mais de dois séculos de existência.
Se os pais dos alunos querem que os seus filhos beneficiem desta situação excepcional, devem compreender que tal só será possível, se o internato continuar a ser a regra e o externato a excepção. Só assim os alunos mais novos se educarão, guiados pelos mais velhos e revendo-se nos exemplos dos mesmos. Só assim terão os seus filhos, no final dos seus cursos, com uma capacidade de liderança forjada na prática, que não é substituível por quaisquer cursos livrescos.
As cerimónias da Abertura Solene realizadas no dia 15 de Outubro iniciaram-se nos Claustros, o cenário incomparável de tantas cerimónias colegiais. Pelas 11 horas, sob a presidência do Director do Colégio, coronel tirocinado de Artilharia António Emílio da Silva Salgueiro (AA 461/1972), foram entregues a alunos do 5.º ao 11º Anos de escolaridade as medalhas conquistadas no ano lectivo transacto.
Registe-se que a decisão de entregar parte significativa dos prémios relativos ao ano anterior no decurso desta cerimónia aliviou bastante a duração da cerimónia no pavilhão gimnodesportivo, a qual tendia a tornar-se demasiadamente longa.
Pelas 15H00, a 4.ª Companhia de Alunos desempenhou com o habitual brilho as funções de Guarda de Honra ao Vice-Chefe de Estado-Maior do Exército, tenente-general Rui Davide Guerra Pereira, que presidiu às cerimónias da Abertura Solene do novo ano lectivo.
Seguidamente, a 4.ª Companhia foi ocupar o seu lugar na formatura geral do
Batalhão Colegial comandado pelo aluno n.º 72, Vasco Caetano, na Parada Marechal Teixeira Rebelo.
Depois de o general Vice-CEME ocupar o seu lugar na Tribuna de Honra, onde também se encontrava em representação da AAACM o presidente da Assembleia Geral, Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), foram-lhe prestadas as honras da praxe pelo Batalhão Colegial, após o que o Estandarte Nacional foi incorporado na formatura.
Seguiu-se a apresentação dos 119 novos alunos (72 para o 1.º Ciclo e 47 para o Batalhão Colegial), tendo iniciado o ano lectivo 752 alunos, sendo 226 do 1.º Ciclo e 526 do Batalhão Colegial. À voz do Comandante do Batalhão “Avancem os novos alunos do Batalhão Colegial,” eles deslocaram-se da Parada Serpa Pinto, onde se encontravam, para a frente da formatura nos Clautros, onde assistiram a um breve cerimonial de boas-vindas.
A cerimónia prosseguiu com a entrega da réplica da espada do Rei D. Carlos, símbolo de comando do Batalhão Cole-
gial, ao aluno comandante do mesmo. Encarregou-se da tarefa o «Batalhãozinho», aluna n.º 235, Maria Joanaz Santos, a qual foi posteriormente abraçada pelo comandante do Batalhão, num gesto que pretende simbolizar a amizade com que os alunos mais antigos acolhem os novos camaradas.
Tomou então a palavra o comandante do Batalhão Colegial. Dirigindo-se de início aos oficiais, sargentos e praças que prestam serviço no Colégio, advogou a importância do trabalho conjunto – um desafio diário que tenha em conta as diferenças geracionais, bem como as diferentes responsabilidades que cabem a cada sector e que, respeitando os alicerces do Colégio, permita o estabelecimento de uma sã comunicação entre todos.
Aos pais e encarregados de educação dirigiu uma saudação por acreditarem no Projeto Educativo do Colégio Militar. Um projecto diferente das outras escolas, com valores e regras que constituem a essência do Colégio Militar e que justificam o orgulho que todos sentem pela diferença.
Aos professores lembrou que constituem um pilar fundamental do Projecto Educativo, sendo sua responsabilidade ensinar com dedicação e exigência tais que justifiquem a confiança dos alunos, competindo a estes retribuir com esforço e inteligência, pois o sucesso só se alcançará com o empenho de todos.
Aos vigilantes e funcionários lembrou que também eles têm um papel relevante e alguns ficam mesmo na memória coletiva colegial pela forma como se relacionam com os alunos.
Aos alunos, que tratou por meus irmãos e minhas irmãs, dedicou palavras sentidas: “(…) Espera-nos um ano recheado de afazeres, estudos, cerimónias e tradições. Aproveitem cada dia que passam nesta Casa que tanto amamos como se fosse o último. Não tomem nada por ga-
rantido e concentrem-se no essencial, a saber, nos vossos objetivos académicos.
Honrarão o Colégio pela excelência, que apenas alcançarão pela disciplina, perseverança, resiliência, esforço e inteligência. Não podemos prever o futuro e contratempos associados. A vossa organização pessoal traduzir-se-á na vossa principal arma. Desfrutem de todos os momentos que vivemos diariamente, cultivando a camaradagem e o espírito de solidariedade.
Estando a chegar ao final do meu percurso colegial, é com nostalgia que recordo os anos aqui passados. Tenho sido muito feliz nesta minha segunda casa. Como aluno Comandante de Batalhão só posso desejar que construam idênticas memórias e que sejam igualmente felizes.
Sendo a mudança uma constante da vida, tenham confiança face aos desafios. Antes de nós outros houve. São 218 anos de história que nos precedem, por isso temos a responsabilidade de dar continuidade ao sonho e à obra do nosso fundador, Marechal António Teixeira Rebelo (…).”
Os camaradas finalistas não foram esquecidos:
“(…) É com imenso orgulho que nos vejo a assumir as funções de comando do Batalhão Colegial. Volvidos sete anos da nossa entrada, somos agora os irmãos mais velhos!
Aproveito este momento para agradecer em nome do Curso de 2014 a todos aqueles com quem nos cruzámos ao longo do nosso percurso colegial. Os bons exem-
Abertura Solene do Ano Lectivo 2021/2022
plos repeti-los-emos. Os maus exemplos não foram mais do que lições daquilo que não queremos ser nem prosseguir.
Ser graduado é um grande privilégio, mas com este vem a responsabilidade. Sei que nos depararemos com algumas dificuldades, mas acredito que juntos as ultrapassaremos. Esta é uma oportunidade ímpar na vida de jovens como nós. Saibamos ser um exemplo e uma referência para aqueles que temos agora sob a nossa responsabilidade. Se formos bem-sucedidos irão seguir os nossos ensinamentos e assim a nossa missão será cumprida (…)”.
Por fim, felicitou os novos alunos pela sua entrada no Colégio, mas advertiu-os de que estavam apenas no início de um duro percurso que os irá marcar profundamente. Exortou-os a seguir os passos dos graduados, a dignificarem a farda e a honrarem o bom nome do Colégio. Terminou a intervenção com uma frase de Fernando Pessoa: «Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível».
Terminada a alocução do comandante de Batalhão, os novos alunos retiraram da formatura para que o Batalhão desfilasse em continência ao general Vice-CEME.
Cerca das 16H00, o general Vice-CEME, juntamente com as restantes entidades e convidados, deu entrada no novo pavilhão gimnodesportivo, um edifício com dimensões generosas e linhas sóbrias, cuja falta há muito se fazia sentir. Numa das dependências estavam expostos os cartazes que já haviam sido exibidos nos Claustros aquando da celebração do 100.º aniversário da Revista «O Colégio Militar»
No amplo espaço central acomodaram-se entidades, alunos e convidados. Aberta a Sessão, e depois de ter sido
cantado o Hino do Colégio, tomou a palavra o Director, coronel António Salgueiro, para recordar que “(…) O ano letivo de 2020/21 ficará marcado nas nossas memórias pelas fortes restrições e condicionantes impostas pela pandemia de COVID-19. Praticamente todos
os eventos e cerimónias programadas sofreram alterações, adiamentos, reformulações ou cancelamentos, de entre os quais saliento a Abertura Solene, o nosso “3 de março” Aniversário do Colégio e, até, a “Transmissão do Guião” e o Baile de Gala. Todas as atividades
letivas foram, também elas, fortemente limitadas não havendo lugar a visitas de estudo, jornadas de desporto escolar, demonstrações ou apresentações culturais e desportivas ou iniciativas de cariz internacional (…).”
Mais à frente considerou que, apesar das limitações e dificuldades de toda a ordem, o ano lectivo passado tinha decorrido de forma satisfatória, tendo-se registado resultados apreciáveis na generalidade das disciplinas de exame nacional no Ensino Secundário. Realçou também outras iniciativas nas quais os alunos conquistaram medalhas, prémios e diplomas de mérito, individuais e colectivos, sendo de destacar a medalha de bronze da aluna n.º 487, Cláudia Mateus, na edição Ibero-Americana das Olimpíadas de Biologia, em representação de Portugal (o que acontece pela segunda vez em três anos, com alunos do CM), bem como a distinção concedida pela Associação Portuguesa de Museologia pela qualidade da actividade escolar de complemento curricular de museologia, no quadro da criação de conhecimento e valorização das potencialidades didáticas, pedagógicas e científicas do Património Cultural do CM.
Sabendo-se, porém, que há um caminho a percorrer para consolidar a evolução em curso, afirmou o Director que o “(…) bem-sucedido Programa Tecnológico Digital, implementado desde 2017, foi positivo para Docentes e Discentes. Em particular para os primeiros, pois a imperiosa necessidade de recurso às novas tecnologias “acelerou” o processo das práticas aprendidas nas formações realizadas. Embora seja de senso comum afirmar que a literacia digital é imprescindível nos dias de hoje, também é verdade que o surgimento da pandemia implicou um mais hábil e continuado recurso às tecnologias. Hoje, todos nos sentimos mais aptos e
mais familiarizados com esses recursos, constatando, sem margem de dúvida, que essa utilização, não substituindo as técnicas e práticas tradicionais, é uma importante mais-valia no apoio ao ensino. No presente futuro, importa consolidar as novas soluções identificadas e incrementar o pleno uso dos recursos disponibilizados para o processo de ensino-aprendizagem.
Nesse contexto, porque as lições aprendidas devem constituir referência para o futuro e porque os efeitos diretos, indiretos e colaterais da pandemia, do ponto de vista escolar, emocional e, até, profissional e sociofamiliar, não estão devidamente escrutinados, na lição inaugural de hoje abordar-se-á o tema “Os desafios às Escolas no pós-pandemia.” (…)”
Por fim, lamentou que ainda não tenha sido possível viver as emoções próprias das cerimónias realizadas nos Claustros mas, em contrapartida, “(…) pela primeira vez, realizamos a sessão solene neste magnífico pavilhão gimnodesportivo, desejo antigo de todos quantos aqui estudam e servem, infraestrutura que reforça significativamente a qualidade e versatilidade de resposta às necessidades formativas, aos objetivos e metas definidos no Plano Estratégico e no Projeto Educativo.
Seguindo o rumo traçado, neste novo ano letivo daremos continuidade a linhas estratégicas prioritárias bem definidas, a saber:
1. Adequação do Quadro Orgânico de Pessoal à realidade atual do CM (proposta a aguardar superior sancionamento);
2. Ampliação das infraestruturas face à reforma de 2013 (conclusão das instalações do 1.º Ciclo e construção da 2.ª fase do internato feminino);
3. Conclusão do roteiro de coleções visitáveis (no contexto da preservação do Património e da abertura à comunidade, a visitas guiadas temáticas);
4. Lançamento do projeto de modernização dos laboratórios do Pavilhão de Ciência (por ocasião dos 40 anos que se assinalam em 2022);
5. Incremento dos projetos na área da internacionalização;
6. Constituição do Clube Desportivo do Colégio Militar;
7. Conclusão da obra sobre a Coleção de Livro Antigo;
8. Obtenção da certificação internacional de Apple Distinguished School. Na presente data, com a distinção recentemente concedida pela APCER, concluiu-se a Certificação do Sistema de Gestão de Qualidade, de acordo com a norma ISO 9001:2015, visando a implementação e normalização de procedimentos e normas de conduta que otimizem recursos e processos internos. A certificação obtida é o corolário de um exigente esforço coletivo, que muito me apraz reconhecer e enaltecer, e que nos apoiará na melhoria contínua dos serviços prestados à comunidade educativa (…).”
A terminar, dirigindo-se a novos e antigos alunos e a todos quantos, militares e civis, servem abnegada e dedicadamente no Colégio Militar, deixou um “(…) público reconhecimento pela dedicação e empenho com que, dia a dia, continuam a contribuir para a solução das nossas exigentes rotinas.
Abertura Solene do Ano Lectivo 2021/2022
O Colégio somos todos nós, sem exceção, e é com o contributo de cada um que continuaremos a cumprir a principal tarefa da nossa Missão: garantir o sucesso escolar dos nossos alunos, tornando-os cidadãos autónomos, responsáveis e competentes.
Uma última palavra para os pais e encarregados de educação dos nossos alunos. Vivemos um tempo em que tudo passa muito depressa e em que não há tempo para nada, mas todos temos que ter bem presente que a Família tem um papel fundamental no acompanhamento escolar, na educação e na estabilidade de cada um dos seus educandos. Que saibamos todos, em conjunto e de forma construtiva, contribuir para o sucesso do Projeto Educativo em que convictamente acreditamos (…).”
Tomou então a palavra o Professor Jeremias da Conceição Correia para proferir a Lição Inaugural. Começou por recordar as incertezas, angústias e restrições provocadas pela pandemia de COVID-19 e em especial a forma como ela expôs as inúmeras fragilidades do sistema de educação público, colocando ao país um enorme desafio. Daí que o tema escolhido – Desafios das Escolas no período pós-pandemia – pretenda levantar algumas questões sobre o quotidiano das escolas: o que mudou irreversivelmente e o que vai regressar com o chamado «novo normal»? Que horizontes se perspectivam? Que desafios teremos pela frente?
Começou por dirigir-se aos professores, “(…) apanhados de surpresa pela necessidade de colocar em prática, de um momento para o outro, o ensino à distância [mas que] não terão dificuldades em empregar as ferramentas utilizadas no ensino à distância no ensino presencial, equilibrando e potencializando ambas as vertentes, para que todos os alunos
se sintam acompanhados de acordo com as suas expectativas pedagógicas e emocionais.
Quanto à metodologia do futuro, neste momento não é uma prioridade, pois o objetivo é regressar definitivamente ao regime presencial, insubstituível na Educação. Talvez daqui a dois ou três anos, quando começarem a surgir trabalhos de investigação relativos aos impactos da pandemia na qualidade das aprendizagens e o problema da falta de professores for cada vez maior, o modelo de aprendizagem híbrida seja implementado, ainda que com muitos ajustes e restrições, em função da idade dos alunos e do Projeto Educativo das escolas.
Mas não tenhamos ilusões. Num futuro muito próximo, a personalização do ensino será uma realidade. E as escolas que não a adotarem, terão dificuldade em sobreviver e de se impor neste mundo cada vez mais competitivo.
Será essencial a criação de processos que ajudem os professores a compreender as necessidades de cada aluno e a definir estratégias pedagógicas mais assertivas e individualizantes. Continuar-se-á a garantir a igualdade de oportunidades na educação, num esforço contínuo de inclusão, mas o caminho que cada aluno irá percorrer no processo de ensino e aprendizagem será pessoal e intransmissível (…).”
Dirigindo-se em seguida aos alunos – em sua opinião, razão primeira do trabalho dos professores – recordou que foram eles as principais vítimas da pandemia e que regressam agora à escola mais introspectivos, mais ansiosos, pouco resistentes à frustração, além de socialmente desgastados.
Por tudo isso será necessário gizar e pôr em prática uma estratégia que tenha
em linha de conta as dificuldades passadas e as necessidades futuras, no quadro das recomendações do Conselho Nacional de Educação:
“(…) Novos tempos exigem novas medidas. Será fundamental criar nas escolas equipas de professores que ajudem os alunos a elaborar métodos de estudo focados para a recuperação das aprendizagens. As escolas ainda estão muito presas ao conceito da “carga horária”. Daí que dentro das suas reais possibilidades, talvez se comece a refletir a dicotomia entre “carga horária” e “qualidade horária” de modo que a convergência entre ambas seja uma realidade.
No presente ano letivo, será muito importante que finalmente a flexibilidade e a articulação curricular sejam generalizadas e mensuradas. De facto, a transdisciplinaridade na abordagem e no reforço de conteúdos menos consolidados, será uma mais-valia para o processo educativo. Uma outra recomendação do Conselho Nacional de Educação e que é apanágio do Colégio Militar desde sempre, “é fomentar o desenvolvimento de parcerias de acompanhamento mútuo entre os alunos e, nas situações em que isso seja favorável, alunos mais velhos serem tutores de alunos mais novos (…).
De um modo geral, os alunos serão cada vez mais desafiados e estimulados a realizarem projetos, a desenvolverem e a aprimorarem competências como a gestão sentimental, a colaboração, a criatividade, o pensamento crítico, a resiliência, a comunicação, a adaptabilidade e a resolução de problemas complexos.
Já existem vários trabalhos de investigação que demonstram categoricamente que as competências cognitivas,
criativas, sociais, emocionais e físicas, quando integradas com as competências decorrentes dos currículos académicos, potenciam o desenvolvimento dos alunos e preparam-nos para navegarem num mundo complexo, incerto e dinâmico que existirá a partir de agora.
Todas estas competências já começam a ser exigidas no mercado de trabalho e serão cada vez mais um elemento diferenciador. O problema é que os currículos atuais não estão delineados para incorporar estas premissas de um modo significativo, pelo que terão de ser reformulados a curto prazo. Será importante termos currículos mais pragmáticos, flexíveis e focados. E isso pressupõe uma mudança radical no ambiente escolar que deverá ser muito mais cooperante, mais dinâmico, mais interativo e mais eficiente entre as atividades desenvolvidas, construindo o conhecimento de um modo completamente diferente do de agora.
Neste contexto, as instituições de ensino de referência como é o caso do Colégio Militar, terão o desafio de continuar a inovar a educação, apresentando planos estratégicos e projetos educativos ambiciosos, onde estas competências tenham maior peso e significado (…).”
Terminou apelando a pais e encarregados de educação para que mantenham uma participação muito ativa na vida escolar dos seus filhos, colaborando no aperfeiçoamento dos canais de comunicação entre escola e famílias, intensificando e consolidando o contacto regular que permita um acompanhamento mais sistemático do desempenho escolar dos seus educandos.
Passou-se então a nova distribuição de medalhas conquistadas no ano lectivo transacto.
Abertura Solene do Ano Lectivo 2021/2022
Ao que se seguiu a entrega dos restantes prémios adiante indicados:
– PRÉMIO FUNDADOR DO COLÉGIO MILITAR
– Bernardo Lopes (AA 338) e Cláudia Mateus (AA 487)
– PRÉMIO ADIDO DO EXÉRCITO DO BRASIL
– Aluno n.º 147, Guilherme Cascalhais
– PRÉMIO ADIDO DE DEFESA DA FRANÇA – Aluna n.º 37, Matilde Carvalho
– PRÉMIO ADIDO MILITAR DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
– Alunos n.º 461, Diogo Onofre e 518, Ana Batista
– PRÉMIO “GENERAL LUÍS AUGUSTO PIMENTEL PINTO”
– Pedro Lebreiro (AA 777)
– PRÉMIO “GENERAL JAIME BANAZOL”
– Aluno n.º 72, Vasco Caetano
– PRÉMIO “ROTARY CAMARADAGEM COLEGIAL”
– Aluno n.º 230, Alexandre Ponte
– PRÉMIO “CORONEL BRANDEIRO”
– Bernardo Lopes (AA 338)
– PRÉMIO “DR. CARLOS MONTENEGRO MIGUEL”
– Aluno n.º 372, Guilherme Gouveia
– PRÉMIO “AFONSO HENRIQUES
– PATRONO DO EXÉRCITO”
– Alunos n.º 372, Guilherme Gouveia e n.º 37, Matilde Carvalho
– PRÉMIO “ANICETO MONTEIRO”
– Bernardo Lopes (AA 338),
– Carolina Cordeiro (AA 360),
– Cláudia Mateus (AA 487)
– Tiago Caixinha (AA 744)
– PRÉMIO “EXCELÊNCIA 1º CICLO” – Aluna n.º 633, Pilar Santa Bárbara e AA Sofia Mendes
– PRÉMIO DE MÉRITO
– Aluna n.º 235, Maria Santos
A distribuição de prémios concluiu-se com a entrega de Diplomas de Curso aos finalistas do ano lectivo 2020/2021:
- José Ferreira (AA 12), - José Figueira (AA 17),
- Ana Jesus (AA 21), - Diogo Martins (AA 29), - Ana Assis (AA 64), - Ana Cubas (AA 117), - Madalena Pereira (AA 118), - Rafaela Pires (AA 131), - Rodrigo Santos (AA 134), - Duarte Velez (AA 164), - Jaime Ramos (AA 269), - Marcelino Silva (AA 275), - Diogo Santos (AA 276),
- Martim Castro Neves (AA 303), - Tomás Pacífico (AA 326), - Teresa Simões (AA 327), - Bernardo Lopes (AA 338), - Carolina Cordeiro (AA 360), - Justino Botelho (AA 382),
- Ana Brogueira (AA 384),
- Joaquim Ramos (AA 400), - Camila Rocha e Silva (AA 401),
- Mariana Caparica (AA 404), - Matilde Silva (AA 408), - Vicente Durão (AA 412), - Fernando Varanda (AA 421), - Vânia Brito (AA 442), - Tiago Gomes (AA 466), - Telmo Almeida (AA 478), - Carole Mateus (AA 486), - Cláudia Mateus (AA 487), - Maria Varão (AA 515), - Carla Fortes (AA 585), - Carlota Machado (AA 588), - Henrique Simões (AA 673), - Cátia Coelho (AA 684),
- Maria Carocha (AA 696), - Carolina Garcia (AA 703),
- Tiago Caixinha (AA 732), - Maria Câmara (AA 744), - Pedro Lebreiro (AA 777).
A cerimónia foi encerrada pelo Hino Nacional, cantado em uníssono pelo Orfeão Colegial e pelos restantes alunos, convidados e familiares.
No passado dia 6 de Outubro, os Órgãos Sociais da Associação e os membros do Conselho Supremo e do Conselho de Delegados de Curso, foram convidados da Direcção do Colégio para uma breve apresentação no Auditório dos principais dados que caracterizam, hoje, o 1º Ciclo (vulgo “Instrução Primária” ) e o Batalhão.
A visita tinha como principal objectivo o conhecimento do novo Pavilhão Gimnodesportivo situado entre o antigo Ginásio e o Campo de Obstáculos.
Após a curta sessão no Auditório, seguiu-se um agradável “passeio” de fim de tarde pelo Colégio, com início no Auditório e terminus no novo Pavilhão Gimnodesportivo, tendo sido palmilhado o novo “passadiço” de madeira que atravessa os antigos terrenos (hortas?) da “quinta”
Num momento em que o velho Ginásio de 1949 vai para obras de rea -
bilitação (novo telhado, ...), apenas nele continuarão a ter lugar a ginástica, o judo, natação e esgrima, sendo o hall de entrada e a sala lateral destinados a Colecções Visitáveis de Educação Física e Desporto.
É neste contexto que o Pavilhão Gimnodesportivo assume particular
importância como complemento das actividades que o Ginásio continuará a abrigar, constituindo uma importante infraestrutura desportiva que o Colégio passa a ter, para poder dar resposta, de melhor qualidade e com mais versatilidade e capacidade, às necessidades formativas resultantes do aumento do
número de alunos e dos desafios de estabilização e consolidação do seu Projeto Educativo.
A construção desta infraestrutura, cuja responsabilidade de projeto, concurso e acompanhamento de obra foi da Direção de Infraestruturas do Exército, teve início em novembro de 2018 e foi concluída em março de 2021, com financiamento do Ministério da Defesa Nacional e um custo total de 1.350.000 €.
O edifício tem uma área de implantação de 2.300m2 e desenvolve-se em dois volumes interligados. Possui acessos diferenciados para cada área funcional específica, separando-se, claramente, as zonas de serviço das áreas destinadas ao público e atletas. As zonas de jogo, amplas e multifacetadas, possibilitam o desenvolvimento de diferentes atividades desportivas em simultâneo, como o andebol, badminton, basquetebol, futsal, ginástica e voleibol. Os campos desportivos possuem as características que possibilitam a realização de provas desportivas de carácter oficial.
O espaço destinado ao público é marcado por dois acessos distintos, um deles sob a forma de uma rampa que acompanha grande parte do edificado, tornando-se numa subida suave que pode ser utilizada por todos os visitantes, incluindo pessoas com mobilidade condicionada.
A bancada, com capacidade para cerca de 350 espetadores, permite um acesso rápido e prático, com instalações sanitárias dedicadas, tanto no topo sul como norte, e inclui, ainda, duas áreas de acesso res -
trito, destinadas a áreas técnicas, onde será possível controlar equipamentos, tais como sistemas de som e placar eletrónico.
Trata-se, sem dúvida, de um novo elemento estruturante da vertente formativa do Colégio.
Há 60 anos atrás, em Dezembro de 1961, quando eu era finalista no Colégio, consomou-se o final do Estado Português da Índia, com a invasão e ocupação dos seus distritos de Goa, Damão e Diu, por tropas da República da Índia (União Indiana até 26/1/1960), que de seguida integrou aqueles distritos portugueses no seu território. Anos antes, em 1954, a União Indiana já tinha ocupado e integrado no seu território os enclaves de Dadrá e Nagar Avelli, que faziam parte do distrito de Damão.
As origens do Estado Português da Índia remontam a 1505, quando D. Francisco de Almeida ficou responsável, a partir de Cochim, por todos os territórios de Portugal nas costas do Oceano Índico, desde a África Austral até ao Sudeste da Ásia. Em 1510, o seu sucessor, Afonso de Albuquerque, conquistou Goa, passando esta a ser a nova capital do Estado.
Posteriormente, as conquistas continuaram para Norte, ao longo da costa
ocidental da península hindustânica, a chamada costa de Malabar. Em 1531, seguiu-se Damão (formalmente cedida em 1539), no golfo de Cambaia. Em 1534, seguiram-se Salsete, Bombaím e Baçaim e em 1535, deu-se a cedência de Diu. Cerca de um século mais tarde, em 1661, durante a guerra da Restauração, quando a nossa coroa procurava apoios para reafirmar a independência de Portugal, cedeu-se Bombaim á coroa inglesa, como parte do dote de casamento da princesa D. Catarina de Bragança, com o Rei Carlos II de Inglaterra. No período de 1713 a 1718, a área de Goa triplicou, pela inclusão na mesma dos territórios que ficaram conhecidos por «Novas Conquistas». Em 1752, Moçambique passou a ter um governo próprio, deixando assim de fazer parte do Estado Português da Índia. Em 1779, o Estado Português da Índia passou a incluir os enclaves de Dadrá e Nagar Avelli, adjacentes a Damão. Em 1843, a capital do Estado transferiu-se da cidade de Goa para Pangim (Nova Goa), em resultado de um surto de peste. Em 1844, o Estado Português da Índia deixou de ad-
ministrar Macau, Solor e Timor, ficando reduzido aos territórios da costa de Malabar, ou seja, ao distrito de Goa com as ilhas de Angediva, S. Jorge e Morcegos, ao distrito de Damão com os enclaves de Dadrá e Nagar Avelli e ao distrito de Diu, com os territórios continentais de Gogolá e Simbor.
A União Índiana resultou da independência da Índia Britânica, em 15 de Agosto de 1947. A Índia Britânica constituía a joia da coroa do Império Britânico. Esta enorme colónia britânica tinha tido origem, por coincidência, na já referida cedência, pela coroa de Portugal à coroa britânica, da cidade de Bombaim. Em 1948, no ano seguinte à sua independência, a União Indiana começou a revindicar a entrega dos territórios ultramarinos de Portugal e da França, no subcontinente indiano. A França tinha, na costa oriental da península hindustânica, os territórios de Pondichery, Karical, Jamon, Mahé, Surrate e Chandernagar, objecto de tratados com os britânicos em 1814 e 1915. Portugal tinha, como vimos, na costa ocidental da
mesma península, o designado Estado Português da Índia, com os três distritos anteriormente referidos, distantes de centenas de quilómetros, entre si. O Estado Português da Índia tinha uma área total de cerca de 4.194 quilómetros quadrados, uma população aproximada de 700.000 habitantes, dos quais perto de 250.000 católicos.
A França acedeu, a breve prazo, às pretensões da União Indiana. Portugal, pelo contrário, considerava que o Estado Português da Índia era tão português como qualquer província de Portugal Continental, pelo que a sua cedência estava totalmente fora de questão. Para o chefe do governo português, Oliveira Salazar, «Portugal é um País uno e indivisível». Para o chefe do governo indiano, Pandita Nehru, «barreiras políticas criadas artificialmente por um acidente da história, para o qual não existe justificação nos tempos actuais, não podem continuar a conter a maré crescente da aspiração de unidade nacional». O diálogo não era possível. Estava criada uma situação de impasse.
A partir de 1950, após a saída dos franceses da Índia, a União Indiana iniciou uma forte acção de propaganda contra Portugal, nomeadamente na Organização das Nações Unidas (ONU). Por outro lado, a nível local começou a criar conflitos nas fronteiras e mesmo no interior dos territórios portugueses, por meio de elementos não militares, designados por «satiagrahas»
As acções de desestabilização levadas a cabo pela União Indiana tiveram como reacção, por parte do governo português, o reforço dos diminutos meios militares existentes nos três distritos do Estado Português da Índia.
A União Indiana impôs também ao Estado Português da Índia um bloqueio,
cortando as ligações rodoviárias e ferroviárias existentes e as comunicações postais, telegráficas e telefónicas. Para manter a ligação entre os três distritos e entre estes e o exterior (nomeadamente com o Paquistão), foi então criada uma companhia estatal de transportes aéreos, os Transportes Aéreos da India Portuguesa (TAIP),
que iniciou os seus serviços a 12 de Agosto de 1955.
Em 1954, aproveitando o facto de os enclaves de Dadrá e Nagar Avelli não terem qualquer guarnição militar, uma turba de auto designados pacifistas «satiagrahas» , apoiados por forças de polícia da União Indiana, ocuparam o
O fim do Estado Português da Índia
minúsculo enclave de Dadrá e o enclave de Nagar Avelli, este de considerável área. As forças policiais portuguesas presentes no terreno resistiram a esta acção, tendo morrido um chefe da polícia local, Aniceto do Rosário.
Portugal recorreu de imediato para o Tribunal de Justiça Internacional, o qual levou seis anos para se pronunciar. A decisão do Tribunal foi dúbia, procurando agradar a gregos e troianos. A Portugal, foi reconhecido o direito de passagem de cidadãos e funcionários para os enclaves ocupados. A União Indiana, podia, porém, opor-se à passagem de tropas portuguesas para os enclaves. A realidade é que os enclaves ficaram perdidos para Portugal.
Ainda no ano de 1954, a União Indiana anunciou que iria fazer, a 15 de Agosto, uma marcha pacífica sobre Goa, para a sua ocupação, em comemoração do 7º aniversário da existência da União. Face à determinação portuguesa de se opor a tal desígnio, a marcha não se chegou a realizar.
Após a anexação dos enclaves de Dadrá e Nagar Aveli pela União Indiana, Portugal reforçou a sua presença militar no Estado Português da Índia. Em 1955, Portugal chegou a ter neste Estado cerca de 7.000 homens do Exército. A Marinha dispunha do aviso de 1ª classe Afonso de Albuquerque e de 3 lanchas (Sírius, Antares e Vega), uma em cada distrito.
Em 1960, o Secretário de Estado do Exército, em visita a Goa, anunciou uma redução significativa dos efectivos militares, no Estado Português da Índia, em consequência de outras prioridades nacionais. Foi assim, com efectivos militares portugueses muitos reduzidos, que se chegou a De -
zembro de 1961, quando a República da Índia invadiu Goa, Damão e Diu.
«Operação Vijay» foi a designação dada pela República da Índia à invasão de Goa, Damão e Diu. As forças terrestres envolvidas na invasão foram de 45.000 homens, 30.000 em escalão avançado e 15.000 em escalão de reserva. Destas forças terrestres faziam parte unidades de sikhs e gurkas, consideradas as forças de élite do exército indiano. Às forças do exército juntava-se uma esquadra da
marinha, que incluía cruzadores, e forças de aviação, que procederam a acções de bombardeamento e ataque ao solo.
A invasão iniciou-se na madrugada de 18 de Dezembro. Os combates decorreram nos dias 18 e 19 de Dezembro. A 20 de Dezembro, o governador português, general Vassalo e Silva, assinou a rendição, no palácio do Hidalcão, em Pangim.
O episódio mais conhecido da batalha desigual que foi travada, foi o acto he -
róico do 2.º Tenente da Armada, Oliveira e Carmo, que se fez ao mar, ciente de que ia morrer, na lancha Vega, em DIU, acompanhado pela sua pequena tripulação, que se voluntariou, também ela ciente de que ia morrer. A Vega foi destruída pelo fogo da aviação inimiga, tendo o Tenente Oliveira e Carmo perecido.
Em GOA o aviso de 1ª classe Afonso de Albuquerque, fez-se igualmente ao mar, para dar batalha ao inimigo. Esta acção já foi descrita nas páginas da ZacatraZ nº 185, de Out/Dez de 2011, no artigo «Memórias da Índia», por um participante na mesma, o então 2.º Tenente Mário Jorge Santiago Baptista Coelho (55/1946). Também na ZacatraZ tivemos oportunidade de descrever o que foi a saída do aeroporto de Goa, na noite de 18 para 19 de Dezembro de 1961, do último avião dos TAIP, comandado pelo tenente-coronel Solano de Almeida, pai de dois Antigos Alunos, o Francisco Solano de Almeida (188/1951) e o Eduardo Solano de Almeida (5/1954). O Eduardo estava nessa data ainda no Colégio, sendo finalista.
Na sequência da invasão, todos os militares oriundos da Metrópole, foram internados em campos de prisioneiros, onde estiveram em cativeiro cerca de meio ano, até terem sido negociadas entre os dois governos as condições da sua libertação.
Não houve Antigos Alunos mortos no processo de invasão do Estado Português da Índia, mas houve muitos que lá ficaram prisioneiros, como foi o caso do então Alferes Vitor Manuel de Oliveira Santos (365/1949), que nos foi recordado por José Alberto Costa Matos (96/1950), no seu artigo «Um amigo e duas vezes camarada», publicado no último número, do 3º trimestre de 2021, desta nossa revista.
O regresso dos prisioneiros a Portugal foi feito a bordo do navio da marinha mercante Vera Cruz . A recepção aos militares da Armada foi cordial. Os militares do Exército foram recebidos sem dignidade, como se tivessem sido culpados do fim do Estado Português da Índia. Foi uma recepção que os marcou para toda a vida. Seguiram-se inquéritos aos oficiais, tendo alguns sido exonerados do Exército, para virem depois, anos mais tarde a ser reintegrados nas fileiras. Constituiu para todos eles um pesado trauma.
Mesmo passados cerca de 40 anos sobre a invasão, os militares portugueses que foram feitos prisioneiros, continuaram a ser maltratados. No ano 2000, um militar que fora prisioneiro na Índia, requereu uma pensão. A pensão foi-lhe recusada. O ministro da Defesa, àquela data, considerou não ter havido guerra na Índia Portuguesa. Assim sendo, não teriam existido prisioneiros de guerra. Felizmente, houve na altura um homem com carácter, que saiu a terreiro. Foi o falecido general Car-
los de Azeredo, ele próprio também prisioneiro na Índia, que teve papel de chefia no «25 de Abril» , na Região Militar Norte, e que foi chefe da Casa Militar do Presidente da República Mário Soares. Escreveu uma carta aberta ao ministro da Defesa, publicada, a 8 de Outubro de 2000, no jornal Diário de Notícias, da qual transcrevemos as seguintes partes:
«Goa, Senhor Ministro, é um território do tamanho do nosso Entre Douro e Minho que foi invadido por cerca de 40.000 homens das forças terrestres da União Indiana, apoiados por blindados e artilharia de campanha……..que foi sobrevoado, metralhado por aeronaves militares da União Indiana e cujas costas marítimas da Baina e Mormugão foram bombardeadas pela artilharia naval de vários vasos de guerra, que causaram mortes e feridos e destruições.
Mas Vossa Excelência diz que não houve guerra!
Damão e Diu foram palco de combates onde morreram portugueses e onde no «passo seco» de Diu caíram cerca de 600 militares indianos de infantaria nos três ataques terrestres que foram rechaçados. Ali, os canhões do cruzador Myssore derrubaram em alguns pontos as velhas muralhas da fortaleza e a força aérea da União Indiana afundou uma embarcação da Marinha Portuguesa, matando o seu comandante.
O general comandante-chefe das forças indianas, no seu encontro com o nosso governador-geral Vassalo e Silva, de que fui pessoalmente o intérprete, louvou a bravura dos nossos militares nos combates em Diu, Mapuçá, Bicholim e Canácona.
Mas Vossa Excelência diz que não houve guerra!
Se Vossa Excelência visitasse a cidade de Pangim, poderia admirar, no antigo Largo das Sete Janelas, um monumento erigido pelas autoridades de Nova Deli à memória dos mártires da «libertação de Goa» , cujos nomes enchem vários pilares de betão.
Mas Vossa Excelência diz que não houve guerra!
Senhor Ministro, olhe que há afirmações que, por serem uma contra-evidência, na boca de um tolo, não têm importância, mas proferidas por um ministro são um epitáfio.
Findas as hostilidades, os 2.100 militares metropolitanos e várias centenas de goeses foram encerrados, durante cerca de meio ano, em áreas ou quarteis rodeados de redes de arame farpado e torres espaçadas, com metralhadoras e holofotes.
Seriamos nós turistas em férias? Durante a nossa permanência nos war prisioners camps –como os militares indianos identificavam os «acantonamentos» do Senhor Ministro – foram-nos aplicadas as convenções de Genebra para os prisioneiros de
guerra e fomos visitados por elementos da Cruz Vermelha Internacional.
Seríamos nós presos de delito comum?
Diariamente, eramos sujeitos a várias formaturas de contagem e a castigos de «firmezas» sob um sol tropical, sendo todo o nosso correio censurado e dormindo por vezes sobre o cimento extreme das casernas.
Descansávamos nós acantonados num campo de férias?
As suas afirmações publicadas na imprensa são tão deslocadas da evidência e do bom senso que nem teriam grande importância em si, como já disse, mas vindas de V.Exª revelam aspectos graves que não podem ser omitidos:
Primeiro, demonstram uma indesculpável ignorância da História.
Depois, traduzem um inesperado desprezo por portugueses, por militares que no cumprimento de uma missão de Estado sofreram a privação da sua liberdade e tiveram de viver vários meses em desumanas e duras condições.
Evidenciam ainda um imperdoável alheamento por 27 quadros metropolitanos e várias dezenas de portugueses de Goa que morreram em combate ou vítimas de bombardeamentos.»
Anos mais tarde, um outro ministro da Defesa reconheceu que tinha havido guerra no Estado Português da Índia e decidiu agraciar os militares sobreviventes da mesma com uma medalha comemorativa. A cerimónia de distribuição
das medalhas, realizada no Parque das Nações, em Lisboa, não foi devidamente planeada. A distribuição das medalhas decorreu de uma forma atabalhoada, que mais uma vez deixou aqueles homens com um amargo de boca. Tiveram de sofrer mais um desapontamento, para não lhe dar outro nome.
Como já referimos, há 10 anos atrás, nas páginas desta revista, o Professor Adriano Moreira, sócio honorário da nossa Associação, que foi nomeado ministro do Ultramar pouco antes da invasão, expôs assim de forma resumida a sua avaliação da mesma invasão:
«Goa não pertencia ao império britânico, a União Indiana não tinha qualquer legitimidade para invadir, ocupar e integrar Goa. Foi uma total violação do direito internacional e só difere do que aconteceu em Timor porque não cometeram genocídio. O que fez a verdadeira independência de Timor foi a opinião mundial levantada pelas imagens do cemitério, não foi a nossa intervenção nem a inteligência dos nossos discursos.»
Ao longo de gerações, transitaram, após a conclusão dos seus cursos, muitos Alunos do nosso Colégio para as Forças Armadas. Ao longo de séculos, foi às Forças Armadas que os governos da Nação recorreram, como alfobre de homens aptos e probos, para o desempenho dos cargos de maior responsabilidade da Administração Ultramarina. Assim sendo, não se estranha encontrar entre os governadores-gerais do Estado Português da Índia, uma série de Antigos Alunos. Segundo as nossas fontes, foram Antigos Alunos do Colégio os seguintes Governadores Gerais:
- 96.º General Joaquim José de Macedo e Couto (58/1821). De 1871 a 1875.
- 97.º General João Tavares de Almeida (43/1824). De 1875 a 1877.
- 104.º General Francisco Maria da Cunha (39/1842). 1891.
- 111.º General Eduardo Rodrigues Galhardo (94/1857). De 1900 a 1905.
- 121.º Major Alfredo Pedro de Almeida (185/1899). 1929.
- 123.º General João Carlos Craveiro Lopes (154/1882). De 1929 a 1936.
- 124.º Coronel Ricardo Pereira Cabral (11/1889). De 1938 a 1945.
Ao relembrarmos o Estado Português da Índia, lembramos também todos aqueles que o serviram, que nele combateram e que por ele deram a vida, ao longo dos quatro séculos e meio da sua existência.
1 – Na Índia, designa-se por «satiagahra» uma pessoa que se imola voluntariamente por uma causa. A designação foi usada oportunisticamente, por questões de propaganda, tanto interna como externa, pela União Indiana, na década de 50, no conflito relativo ao Estado Português da Índia. Não houve ninguém a imolar-se.
2 – As «imagens do cemitério» referidas por Adriano Moreira, foram as imagens, que correram mundo, dos soldados do exército indonésio a dispararem sobre os jovens timorenses indefesos, no cemitério de Santa Cruz, em Dili.
3 – O heróico Tenente Oliveira e Carmo era Pai do Antigo Aluno 69/1971, Diogo Jorge Ventura Oliveira e Carmo, Comandante de Batalhão no ano lectivo de 1977/1978.
No número 224, de Julho/Setembro de 2021, da ZacatraZ, publicámos o artigo intitulado «O fim de S. João Baptista de Ajudá», onde se indicava, no seu final, a intenção de publicar novo artigo descritivo e explicativo da origem e evolução do território. Essa intenção baseava-se no facto de o nosso camarada António José Chrystello Tavares (45/1971), especialista nesta matéria, se ter prontificado a escrever esse novo artigo. Não obstante os seus muitos afazeres profissionais, cumpriu a sua palavra e escreveu um artigo do maior interesse. Não sendo possível a reprodução integral desse artigo na ZacatraZ, devido à sua extensão, optámos, com o acordo do seu autor, por apresentar a seguinte síntese do mesmo.
Portugal exerceu um protectorado sobre a faixa litorânea do Daomé, entre Agosto de 1885 e Dezembro de 1887. Este protectorado é hoje ignorado entre nós, facto a que não será alheia a sua brevíssima duração, de apenas pouco mais de dois anos.
É aceite que a fundação de S. João Baptista de Ajudá, por parte das autoridades portuguesas de S. Tomé, remonta a 1680. A criação dessa posição portuguesa resultou da vontade de recuperar para Portugal um espaço na faixa litoral do «golfão» da Guiné, dada a perda, algumas décadas antes, de S. Jorge da Mina e de Santo António de Axém. A incipiente estrutura ali alçada foi abandonada pouco tempo depois, sendo ocupada por freires capuchinhos italianos. Em Novembro de 1721 fez-se o levantamento de nova estrutura, com o concurso de forças baianas, dada a necessidade de escravos afri-
canos que era necessário suprir, para o crescimento da economia de Baía, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba. Ajudá tornou-se um centro internacional de negócio de escravos.
Ao longo do século XIX houve um esforço por parte de Portugal de desenvolvimento e de projecção de Ajudá, que passou a ter uma guarnição militar metropolitana destacada de S. Tomé, bem como missionários e professores primários.
No último quartel do século XIX, o monarca daomeano Guelélé fez saber a Portugal a conveniência de ser estabelecido um protectorado na faixa marítima do seu país, para o proteger das potências europeias que se preparavam para o repartir entre si.
O governador de S. Tomé e Príncipe, capitão de fragata Francisco Teixeira da Silva, ao tomar conhecimento deste desejo do monarca Guelélé, nomeou de imediato (Outubro de 1883), para Comissário do Governo em Ajudá, o primeiro-tenente Albano Alves Branco, comandante da canhoneira "Douro".
Dois meses mais tarde, em Dezembro de 1883, o governador autorizou o comandante Alves Branco a entabular, em nome do governo português, as negociações com os delegados do soberano daomeano, a rubricar o tratado que referenciasse a cedência territorial e a receber os ditos territórios, ficando a ratificação do tratado dependente do parecer do governo, em Lisboa.
As negociações tiveram lugar e a 5 de Agosto de 1885 foi assinado no palácio de
Aguanzum, distrito de Gebe, o convénio balizando o território protegido e as áreas que integrariam no Daomé o domínio da Coroa de Portugal. O Convénio foi assinado, por Portugal, pelo juiz da 2ª vara da comarca de Sotavento, Bernardo Meireles Leite e pelo Daomé, pelo príncipe herdeiro Conhondu, em nome de seu pai, Guelelé.
O tratado que concedeu a Portugal o protectorado sobre a faixa litorânea do Daomé era conciso, constando dos seis artigos seguidamente resumidos.
O artigo primeiro, indicava que toda a costa marítima do reino do Daomé, compreendendo as cidades de Cotonou, Godomé, Avrequete, Ajudá e Pescaria, ficaria integrada na área jurisdicional portuguesa.
O artigo segundo, estipulava que os cidadãos nacionais, os europeus e os indivíduos geralmente conhecidos pela designação de brancos, o que queria dizer mestiços e quantos, sendo negros, vestissem à europeia, residentes ou em trânsito, passavam a ficar com os seus haveres sujeitos à soberania portuguesa.
O artigo terceiro, indicava que em tempo algum o governo daomeano poderia celebrar qualquer convénio, respeitante aos domínios sob protecção de Portugal, sem a intervenção e o consentimento das autoridades portuguesas.
O artigo quarto, consagrava a posse, por parte de Portugal, do bairro e porto de Zomai, a Oeste de Ajudá, e do porto de Adra
(a posse de Adra era importante, dado permitir o acesso ao forte de S. João Baptista, que se situava a cinco quilómetros da linha da costa, sem ligação com o mar).
O artigo quinto, tratava da parte religiosa. Por força deste artigo, a jurisdição ecelesiástica do ordinário de S. Tomé, passava a estender-se à totalidade do território sujeito ao protectorado.
O artigo sexto, fazia a ressalva de que a execução do tratado dependeria da superior aprovação por parte do governo central. Neste caso concreto, era uma cláusula meramente cautelar, pois o governo central tinha seguido de perto todo o processo.
Entretanto, as armas nacionais haviam ocupado Cotonou, Godomé, Avrequete, Ajudá, Pescaria e Zomai, cumprindo cabalmente o disposto no capítulo VI da Acta Geral da Conferência de Berlim. Todos os países potenciais interessados foram informados, que Portugal acabava de assumir, com todas as «formalidades do estylo e por meio d`ocupação militar» o protectorado, não podendo o monarca daomeano firmar qualquer tratado respeitante às terras sob protecção, perante terceiros, sem a intervenção e o consentimento do governo português.
O governador de S.Tomé estabeleceu, transitoriamente um Conselho Superior de Administração do protectorado, sediando-o na cidade de Ajudá, frente ao Forte de S. João Baptista. Era seu presidente, o delegado de governo no protectorado e vogais o delegado português de Zomai e o governador do Forte de Ajudá. Em Zomai, na rua D. Luiz I de Portugal, funcionava a secretaria da delegação governamental.
Em resultado do estabelecimento deste protectorado, o Decreto de 29 de Dezembro de 1885, fixava, no seu artigo 1º, relativamente à província de S.Thomé e Príncipe, o seguinte «A província de S. Thomé e Príncipe é denominada – província de S. Thomé e Príncipe e suas dependências – e compreende:
1º O districto de S. Thomé com a sua sede actual, composto da ilha do mesmo nome e do ilhéu das Rolas;
2.º O districto do Príncipe, com a sua sede actual, composto da ilha do mesmo nome;
3.º O districto de Ajudá, com a sede no forte de S. João Baptista, composto do mesmo forte e de todo o território chamado - bairro de Zomai – a oeste da cidade de Ajudá, até ao litoral;
4.º O protectorado da nação portugueza em toda a costa marítima do reino do Dahomey, com a sede na cidade de Ajudá."
Os artigos 4.º e 5.º deste decreto indicavam que o governo do districto de Ajudá seria exercido por um governador de nomeação régia, saído da classe militar e explicitavam que as suas atribuições «são todas as que competem aos governadores militares, mais as de chefe de concelho estabelecidas para a província de Angola, e as de delegado de curador geral dos serviçaes e colonos da província».
Ao mesmo tempo, para se mostrar que Portugal cumpria de forma efectiva e cabal as suas obrigações, transferia-se para o forte de S. João Baptista o quartel da 2.ª companhia de polícia da província de S. Thomé e Principe e suas dependências. Esta companhia, de 142 homens, constituía a guarnição do districto. Para além disso, o governador da província era autorizado a organizar no distrito de Ajudá um batalhão de 200 praças de 2.ª linha.
O protectorado adquiriu assim expressão e passou a ser visto visto internacionalmente como um novo território sujeito e sob influência da Coroa de Portugal.
Devido à volatilidade da política interna naquela época em Portugal, e devido a uma insistente reinvidicação francesa de Ajudá, o protectorado português, acabou por ser de pequena duração. Foi considerado que a manutenção do protetorado implicaria despesas e o recurso a meios militares, que não teriam justificação. Os interesses de Portugal esta-
vam concentrados na altura na África Austral e não na África Equatorial. O principal interesse estaria em Angola e Moçambique.
Foi tomada a decisão de cessar o protectorado, sem que o governo da província de S. Tomé tivesse sido consultado e sem que houvesse qualquer discussão pública do assunto. Não foram discutidas, com quem quer que fosse, quaisquer contrapartidas para a cessação do protectorado.
A 15 de dezembro de 1887, um despacho circular dirigido pelo governo aos plenipotenciários acreditados nas capitais dos Estados signatários da Acta Geral de Berlim dava a conhecer que Portugal renunciava ao protectorado e às responsabilidades dos actos decorrentes do mesmo.
S. João Baptista de Ajudá voltou então à situação de forte isolado engastado no Daomé, que, entretanto, se ia tornando num protectorado virtual francês. No forte manteve-se uma guarnição de uma vintena de homens, análoga á do período anterior ao protectorado português.
Portugal poderia ter sujeitado a uma decisão arbitral internacional o diferendo que, neste capítulo, o opunha à França. Essa solução já fora usada por Portugal, nas questões da ilha de Bolama, na Guiné, e na baía de Lourenço Marques, em Moçambique. Tinham sido situações mais difíceis do que a do Daomé e Portugal tinha tido sucesso nas duas.
O que teria sido desejável, seria uma atitude clara e inequívoca: ou Portugal abandonava São João Baptista de Ajudá, o que não seria caso inovador, já que tinha antecedentes na Índia e em África, ou lutava por manter o protectorado no Daomé. Ficou-se com uma situação que seria a que menos se coadunava com os interesses nacionais. Por força desta opção, S. João Baptista de Ajudá, erguida numa das partes mais insalubres de África, voltava – como sintetizaria o embaixador brasileiro Alberto Costa e Silva – à condição de feitoria desprezada do império português.
A RedaçãoAssembleia Geral extraordinária de (28/10/2021)
Nunes Gonçalves 9/1958(28/10/2021)
No passado dia 28 de Outubro, em reunião de Assembleia Geral que teve lugar no Teatro da Formação, os nossos Estatutos e o Regimento das nossas Assembleias Gerais foram revistos e alterados.
A reunião decorreu em integral cumprimento das normas de saúde pública em vigor, nos termos das normas emitidas pela Direcção Geral de Saúde, tendo sido verificados o uso de máscara e distanciamento entre cadeiras.
Da Ordem de Trabalhos da reunião que tinha sido convocada em 29 de Setembro constavam apenas dois pontos:
1. Apreciação e votação de uma proposta de alteração dos Estatutos
2. Apreciação e votação de uma proposta de alteração do Regimento das Assembleias Gerais
Estava em causa a proposta de alteração dos Estatutos subscrita e apoiada por 49 sócios e a necessidade de actualizar, em conformidade, o já velhinho Regimento das Assembleias Gerais que datava de ...1995.
O Presidente da Mesa verificou a existência de quorum para a Assembleia deliberar e informou que, nos termos dos Estatutos em vigor, as aprovações das propostas em causa exigiam a aprovação de pelo menos três quartos dos sócios presentes ou representados.
Da proposta de alteração dos Estatutos foram apresentados o Contexto em que a revisão ocorre e as Linhas Estratégicas em documento que foi projectado e comentado, destacando-se o seguinte:
a. A última alteração aos Estatutos foi aprovada em 2015 e era resultante de um projeto de 2012, e portanto, localizada nesse tempo.
b. Neste período de sete anos ocorreram alterações significativas na Sociedade em geral, mas muito especialmente no Colégio Militar, nomeadamente no que se refere ao seu regime de frequência.
c. Também neste período, se constatou que a sistematização dos Estatutos, bem como a redação e clareza de pequenas partes do seu clausulado, poderiam ser alvo de melhorias.
d. Em síntese, não se propõe nenhuma alteração aos Objectivos Estatutários da Associação, no entanto, considera-se que o seu cumprimento integral só será possível assumindo como elementos estruturantes os seguintes:
1) A infraestrutura designada PM34 (Quartel da Formação);
2) O Conselho de Delegados;
3) O apoio ao Colégio, nomeadamente
nas questões relacionadas com as Tradições, os Directores não antigos alunos e a plena integração na Comunidade dos Alunos Externos e das Alunas.
e. Os Proponentes consideram que o texto que agora propõem e subscrevem não contém nenhuma alteração profunda relativamente aos actuais Estatutos, e, portanto, antecipam que a sua aprovação será consensual, embora admitindo, no entanto, aceitar alterações de forma ou melhorias que não desvirtuem a sua essência.
Na elaboração da presente proposta assumiram-se como linhas estratégicas:
a. Criação de uma nova categoria de sócios – Alunos do Secundário do Batalhão de Alunos do Colégio Militar (10º, 11º e 12º anos), acentuando, por esta via, a sua ligação à Comunidade Colegial, embora, com direitos mais restritos que os restantes sócios;
b. Introdução da previsão de utilização de meios electrónicos ou digitais nos contactos formais da AAACM com os sócios;
c. Redução do número de membros que compõem Direcção e o Conselho Fiscal , visando um constituir órgãos com maior coesão e eficácia, mas também numa adaptação à realidade actual;
d. Limites para os mandatos dos membros que coordenam o Conselho Supremo e o Conselho de Delegados de Curso (4 anos, eventualmente renováveis) desfasados dos mandatos de três anos dos Órgãos Sociais, procurando por esta via garantir a estabilidade, mas também a renovação introduzindo “sangue novo”.
e. Reforço institucional do Conselho de Delegados – Presidente passa a ser empossado pelo Presidente da Assembleia Geral, tal como já acontece com Presidente do Conselho Supremo.
f. Introdução / institucionalização nos Estatutos do Conselho das Tradições como Órgão de Conselho da Direcção - um dos activos morais da AAACM reconhecido no Protocolo assinado em Março de 2009 com o Colégio Militar, mas que apenas a AAACM reconhecia no plano interno e em termos funcionais.
g. Atendendo a que os Conselheiros Efectivos (Conselho Supremo) passam cada vez mais novos a Conselheiros Vitalícios, prevê-se que os Conselheiros Vitalícios possam poder desempenhar as funções de Presidente, Vice-Presidente e Secretário do Conselho Supremo.
h. Definir as linhas base de competência e funcionamento dos órgãos nos Estatutos
e deixar para os respectivos Regimentos, aprovados internamente pelo Órgão, a regulamentação do seu funcionamento.
Seguiu-se a discussão dos artigos alterados, tendo no final sido aprovados pela maioria dos sócios presentes com duas abstenções.
Passando ao ponto 2. da Ordem de Trabalhos foram apresentadas as alterações propostas que, na sua essência, integram, agora no novo documento, todos os artigos dos Estatutos que respeitam à condução das Assembleias Gerais, tornando-o um guia autónomo da condução dos trabalhos das Assembleias.
Na votação que se seguiu, foi o novo Regimento das Assembleias Gerais aprovado por unanimidade.
Finalmente, procedeu-se à leitura da acta da reunião e respectiva votação que mereceu unanimidade na sua aprovação.
De vez em quando todos necessitamos de esquecer as ‘agruras desta vida’ , que sempre existiram mesmo antes do ‘Vírus Chinês’ e das consequentes restrições impostas à nossa liberdade individual e colectiva, legal ou ilegalmente, por um governo que diz ter sempre como primeira prioridade proteger a população ( ‘FOR A GREATER GOOD’ - como diriam os britânicos).
Para conseguir esse objectivo (que também pode ser chamado de ‘recarregar as baterias’) cada um utiliza o processo que entende mais se coadunar com a sua maneira de ser e capacidade financeira.
Desde ‘ir para férias’ a ‘ficar em casa’ (gastando, por exemplo, o seu tempo a encontrar respostas a perguntas que – na realidade – não vão acrescentar quaisquer benefícios específicos à sua vida).
Para esta segunda opção, um dos processos mais fáceis será adquirir livros com perguntas variadas e respostas possíveis (e eventualmente tentar acrescentar algumas variantes por nós imaginadas).
’Eu sabia que ele era tonto...’ – estão alguns dos que me conhecem a pensar neste momento.
Terão no entanto de aceitar que é um processo de recarregar as baterias ‘como outro qualquer’. Se os problemas sobre os quais nos debruçamos forem suficientemente bem escolhidos, a nossa disposição posterior para aceitarmos as agruras desta vida melhora visivelmente, permitindo-nos ver o mundo actual (durante algum tempo) ‘sob o manto diáfano da fantasia’, diluindo um pouco ‘a nudez crua da verdade’ (Eça de Queiroz, ‘A Relíquia’).
Para os interessados (ou simplesmente curiosos) limito-me a enumerar uns 2 ou 3 livros que podem utilizar para, mentalmente, fugirem durante um tempo às ‘agruras desta vida’:
• What If? – Randall Munroe
• Do you think you are clever?
– John Farndon
• Paradox – Jim Al-Khalili
(..e dos quais extraí fragmentos e/ou ideias, que incluí no texto que vão ler)
Esperando pois que durante o tempo que vão gastar a ler este artigo, esqueçam o mundo actual, vou descrever alguns temas – totalmente distintos uns dos outros – sobre os quais me debrucei (Para passar o tempo).
1. O que aconteceria se todos os habitantes da terra fossem reunidos num local (e colocados tão perto uns dos outros quanto possível) e todos saltassem para o ar precisamente ao mesmo tempo?
2. Se fosse possível dobrar uma folha de papel um número ‘infinito’ de vezes, quantas dobras teriam de ser feitas até a espessura da ‘folha’ alcançar a lua?
(E agora ‘descemos’ à Terra para apresentarmos 4 problemas ‘simples’)
3. Temos 2 jarros (com as capacidades de 3 e 5 litros) e uma torneira de água. Como separar 4 litros?
4. Onde está o ‘Euro’ que falta?
5. Nesse dia, quanto tempo andou o Sr. Fernandes a pé?
6. Qual é a idade dos 3 filhos?
(E – por último – saltamos para o Universo ...)
7. O Paradoxo de Fermi – ‘Onde é que estão os outros’?
1. O que aconteceria se todos os habitantes da terra fossem reunidos num local (e colocados tão perto uns dos outros
quanto possível) e todos saltassem para o ar precisamente ao mesmo tempo?
Vamos então assumir que toda a população da Terra é reunida num local (todos muito juntinhos) e que, precisamente ao bater do meio dia, todos saltam para o ar.
Na realidade, tal ocorrência não afectará em nada o nosso planeta.
Se fizerem os cálculos necessários (boa sorte!) verão que o peso da Terra é mais de dez triliões de vezes superior ao peso total da sua população. Cada ser humano saltará em média – num ‘bom dia’ – não mais que meio metro. Mesmo que a Terra fosse rígida e respondesse instantâneamente ao salto da sua população para o ar, ela – a Terra – seria ‘empurrada para baixo’ menos que o comprimento dum qualquer átomo (desejo-vos ainda uma maior ‘boa sorte’ para estes cálculos!).
Pouco tempo depois, ‘toda a gente’ regressará ao contacto com a crosta terrestre o que, tecnicamente, produzirá – instantâneamente – uma enorme quantidade de energia à superfície da Terra. No entanto, ao ser distribuída por uma área que – apesar de tudo – é suficientemente grande, pouco mais produzirá que ‘um número gigantesco de pégadas’. A pequena variação da pressão dissipar-se-à rapidamente sem nenhum efeito visível. O som produzido pelos biliões de seres humanos ao atingirem a crosta terrestre será enorme, mas dissipar-se-à em poucos segundos. E depois reinará o silêncio durante alguns segundos.
O que é que se passará em seguida?
Provavelmente (ah ah ah) começarão a sair ‘telefones celulares’ dos bolsos. Ao serem ligados, todos eles – mesmo os que são compatíveis com as torres de
transmissão locais – mostrarão uma indicação de ausência de sinal porque todas as redes locais entraram em colapso simultâneo (‘overload’) Segue-se o CAOS.
Compete-vos a vós, leitores, ‘entreterem-se’ – usando a vossa imaginação – com as consequências possíveis para o funcionamento do aeroporto local (e de tudo o mais). Podem até visualizar uma evolução para uma tragédia generalizada que poderia levar a uma enorme redução da população terrestre (tal como acontecerá/ia se as consequências a médio e longo prazo da vacinação experimental em curso contra o ‘Vírus Chinês’ forem/fossem desastrosas).
Mas a órbita da Terra não seria minimamente afectada e ela continuaria a girar tal e qual como antes do ‘salto para o ar’ da sua população.
2. Se fosse possível dobrar uma folha de papel um número ‘infinito’ de vezes, quantas dobras teriam de ser feitas até a espessura da ‘folha’ alcançar a lua?
Na realidade os cálculos são mais simples de fazer – muito mais simples – que os que foram necessários para a questão anterior.
• A distância da Terra à Lua é um pouco inferior a 400.000 km.
• A folha de papel tem uma espessura inicial de 0,1 mm.
Deixo-os a ‘fazer contas’ mas vou-lhes dizendo que ‘chegariam lá’ à 43ª dobra! Não acreditam? Façam as ‘continhas’. e de caminho vejam que – não obstante a distância da Terra ao Sol ser 400 vezes superior à da Terra até à Lua – chegariam ao Sol, só com mais 8 dobras do papel (precisamente 51). ‘Vale a pena’!
Um problema que aliás tem sido objecto de vários estudos – nos últimos anos –tem sido a determinação do número máximo realmente possível de dobras (qualquer que seja o tipo de ‘papel utilizado’).
Limito-me a dizer-vos que se conseguirem mais de 12 dobras, estabelecerão um novo máximo mundial (e certamente terão direito a umas linhas no ‘Guinness World Records’).
Portanto – grande admiração, não é? –estamos a falar numa espessura máxima próxima de 1 metro e ‘um pouco longe da distância da Terra à Lua’.
3. Temos 2 jarros vazios (com as capacidades de 3 e 5 litros) e uma torneira de água. Como conseguir ter 4 litros (no jarro de 5 litros, evidentemente)?
Não, esta não vos vou dizer como é (porque acho que um dos objectivos destes problemas é ‘esquecermos as agruras da vida’, não é?).
Limito-me a dizer-vos que – em 6 operações simples, manuseando os jarros e/ou a torneira de água – conseguirão ter 4 litros de água no jarro de 5 litros (assumindo que a EPAL não vos ‘corta’ a água...).
4. Onde está o ‘Euro’ que falta?
Três amigos alojam-se numa pensão –num quarto com três camas pelo preço total de 30 Euros – e cada um paga 10 Euros para lá passar a noite.
O recepcionista verifica posteriormente que aquele quarto estava em promoção e custava na realidade 25 Euros.
Decide devolver 1 Euro a cada cliente (cada um pagaria assim 9 Euros pelo quarto) e ficar com 2 Euros para si.
Temos pois: 3x9 Euros= 27 Euros
Adicionando os 2 Euros com que o recepcionista ficou, dá um total de 29 Euros.
O que aconteceu ao Euro que falta?
(Não, não é propriamente um paradoxo mas sim um exemplo dum simples e elegante raciocínio errado).
Um paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum.
Em termos simples, um paradoxo é "o oposto do que alguém pensa ser a verdade".
A identificação de um paradoxo baseado em conceitos aparentemente simples e racionais tem, por vezes, auxiliado significativamente o progresso da ciência, filosofia e matemática.
A correcção de raciocínios errados é um bom estímulo para ‘passarem o tempo’.
5. Nesse dia, quanto tempo andou o Sr. Fernandes a pé?
Dados (para mostrar que não há ‘subterfúgios’):
• Os comboios andam sempre à tabela
• O automóvel anda sempre à mesma velocidade
O Sr. Fernandes regressava todos os dias a casa de comboio (depois de mais um dia de trabalho em Lisboa). No preciso momento em que chegava à sua estação de destino igualmente lá chegava a sua mulher, conduzindo o automóvel no qual tinha saído de casa (o que fazia sempre à mesma hora), especificamente para ir buscar o marido. Regressavam assim a casa, onde – evidentemente –chegavam sempre à mesma hora.
Um certo dia, o Sr. Fernandes concluiu o seu dia de trabalho mais cedo e apanhou um comboio que chegou à estação de destino uma hora mais cedo do que a hora a que costumava chegar.
Em vez de esperar pela chegada da mulher, resolveu meter pés ao caminho e ir pela estrada fora, a caminho de casa.
A certa altura encontrou a mulher que ia – como sempre – a conduzir o automóvel para o ir buscar à estação. O Sr. Fernandes meteu-se no automóvel e nesse dia chegou a casa 20 minutos mais cedo do que a hora a que lá chegavam sempre.
Pergunta: Nesse dia, quanto tempo andou o Sr. Fernandes a pé?
NOTA:
Não, não faltam dados. E se não chegarem à conclusão que o Sr. Fernandes andou 50 minutos a pé, o vosso raciocínio (por mais elegante que seja) está errado. Gastem mais um pouco de tempo a corrigi-lo. E se não tiverem ‘papel e lápis’, resolvam ‘de cabeça’ (se acertarem na linha de raciocínio adequada, resolvem o problema em segundos..). Ih ih ih.
Dois amigos dos tempos de juventude, que tinham perdido o contacto há umas dezenas de anos, encontraram-se e – para comemorar – foram beber um copo, sentados numa esplanada (para não precisarem de mostrar o ‘certificado digital’ da vacina).
Ao longo da enxurrada de perguntas mútuas, um dele ‘atira’: Quantos filhos tens?
Tenho 3.
Muito bem: e que idade têm?
Olha, agarra num papel e num lápis que eu vou dar-te dados para descobrires a idade deles:
O produto das suas idades é 36.
Rapidamente surgiu um comentário: só com este dado é impossível eu descobrir a solução.
Tens razão, concordou o outro. E por isso te digo que a soma das suas idades é o número da porta daquele prédio verde que está ali em frente, do outro lado da rua.
Após várias contas serem feitas, surge a ‘reclamação’: Ainda me faltam dados.
Ah, pois faltam. Olha, o mais velho toca piano.
Uma ‘visita’ às contas feitas permite a conclusão rápida: Ah, assim já sei!
(É eventualmente o problema de lógica matemática elementar com o enunciado mais elegante que conheço).
Peguem no papel e no lápis e resolvam-no! Eh, eh eh!
7. O Paradoxo de Fermi – Onde é que estão ‘os outros’?
Introdução - Extraída do meu artigo ‘Porque é que de noite é escuro’ incluído na ‘ZacatraZ’ do 3º trimestre de 2019 (mas parece-me que já foi ‘ há muitos anos’...):
...A propósito da dimensão do Universo: O número de galáxias no Universo está avaliado em cerca de um trilião e se uma em cada 10.000 estrelas da nossa galáxia – a Via Láctea – tiver um planeta semelhante à Terra, haverá, só na Via Láctea, uns 40 milhões de planetas semelhantes à Terra!
E – tendo todos estes números em consideração – porque motivo se pode pensar que os únicos seres inteligentes do Universo residem no planeta Terra?
So, where is ‘everybody?’ (Onde é que estão os ‘outros’?)
Esta pergunta foi feita em 1950 pelo cientista Enrico Fermi (prémio Nobel da Física em 1938) a colegas seus durante um almoço em que o tema de ‘discos voadores’ foi abordado.
Este é o 9º paradoxo abordado por Jim Al-Khalili (professor de física teórica na universidade do Surrey-Inglaterra) no seu livro ‘The nine greatest enigmas in Physics’.
‘PAUL’ é o título de um filme britânico de 2011 que conta as aventuras e desventuras de 2 amigos fãs da banda desenhada ‘fantástica’, em turismo pelos Estados Unidos – numa ‘caravana’ que conduzem – na companhia dum Extraterrestre (que dá pelo nome de PAUL) fugido da famigerada ‘Area 51’ e que eles escondem e protegem dos seus perseguidores americanos.
Podem vê-lo na NETFLIX (Para passar o tempo...).
Não resisto em chamar a vossa atenção para a mais extraordinária e chocante cena do filme: quando PAUL ressuscita uma avezinha que morreu ao chocar com a ‘caravana’ que dirigiam...e não digo mais.
Podemos colocar 7 hipóteses principais relativamente a esta questão dos ETs
• Os ETs existem e já nos visitaram
• Os ETs existem mas ainda não nos contactaram
• Não temos procurado nos locais devidos
• A estabilidade ‘fora da Terra’ é regularmente destruída por catástrofes planetárias, impedindo o desenvolvimento continuado de ‘civilizações’ inteligentes
• ‘Self Destruction’ - Guerras, doenças e destruições ambientais acontecem quando o desenvolvimento tecnológico se aproxima da capacidade de produzir ‘viagens no tempo’
• Os ETs são demasiado diferentes e isso impede a comunicação mútua
• Estamos de facto sózinhos no Universo
Cada uma destas hipóteses já foi certamente objecto de vários documentos e livros, de natureza científica, pseudo-científica e de ficção.
No entanto, a pesquisa académica foca-se actualmente mais na procura, não de sinais de vida inteligente fora da Terra, mas de planetas extra-solares que permitam a existência de vida, tal como a concebemos (e já foram descobertos várias centenas de planetas ‘Earth-like’).
Mas, não obstante a dimensão do Universo e dos seus biliões de galáxias sugerir uma ‘forte probabilidade’ de existência de vida ‘fora da Terra’, pode na realidade acontecer estarmos sozinhos ‘neste cantinho da Via Láctea’.
Porque razão devemos então continuar a pesquisa?
Simplesmente, porque procuramos uma resposta para questões fundamentais da nossa existência:
• O que é a ‘vida’?
• Somos nós, ‘únicos’?
• O que significa ser ‘humano’ e qual é o nosso lugar no Universo?
Mesmo que nunca sejam encontradas respostas para estas questões, é importante que as perguntas continuem a ser feitas.
E não é só para passar o tempo.
Aprimeira apresentação pública do Colégio em cerimónias militares, deu-se nos tempos da Monarquia, em 14 de Janeiro de 1882, quando os Reis de Espanha visitaram Lisboa, a convite dos nossos Reis D. Luis e D. Maria Pía. Essa apresentação, que ficou para a história, foi tão marcante e teve um tal impacto, no público que assistiu à mesma, que levou o grande escritor Ramalho Ortigão a tecer-lhe os mais rasgados elogios na revista da época, «As Farpas». O magnífico texto que então escreveu, encontra-se exposto, no Museu do Colégio, como testemunho de uma jornada inolvidável. Por razões que desconhecemos, foi necessário passar um período de 60 anos, até o Batalhão do Colégio Militar adquirir o direito de desfilar, por si só, ao longo da Avenida da Liberdade, os nossos «Campos Elísios», nos dias comemorativos do seu aniversário.
Sabiamos, há muitos anos, que o primeiro desfile do Batalhão ao longo da Avenida da Liberdade ocorreu em 1942. De facto, segundo nos indica o precioso livro, da autoria do Major Balula Cid «O Colégio Militar através das Ordens e livros da correspondência colegiais. 1803 – 1960», a Ordem de Serviço n.º119, de 29/4/1942, informava que:
«Devendo realizar-se no dia 2 de Maio a parte do programa comemorativo que não foi levada a efeito no dia 3 de Março último deverão ser observadas várias determinações. Entre elas, o Batalhão Colegial, pelas 10 horas e trinta minutos, deveria seguir para a Praça Marquê de Pombal, transportado em carros eléctricos. Dali desfilaria pela Avenida da Liberdade e Praça D. João da Câmara, daria a volta ao Rossio e entraria na igreja de S. Domingos, onde assistiria à Missa.
Finda esta, o Batalhão desfilaria pelo Rossio e Rua do Ouro até à Praça do Comércio, regressando depois ao Colégio em carros eléctricos.»
Este artigo da Ordem informava ainda que nessa tarde seriam descerradas no Colégio, com a assistência do Batalhão Colegial, as lápidas dos Antigos Alunos mortos na Guerra de Espanha. Este é um assunto diferente que abordaremos em futuro artigo, na ZacatraZ.
Em nota de pé de página, Balula Cid informava «Trata-se do primeiro Desfile pela Avenida da Liberdade até S. Domingos.» Isto era tudo o que conheciamos acerca do primeiro desfile pela Avenida. Foi com base neste
conhecimento, que, no início de 2021, escrevemos o artigo «Salvemos o 3 de Março», sabendo que logo no primeiro desfile tinha havido uma excepção, realizando-se o mesmo em Maio e não no 3 de Março.
Recentemente, ao consultar documentos pertencentes ao nosso falecido tio, João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935), encontrámos um recorte de jornal, onde se descrevia esse histórico desfile de 1942.
O recorte que encontrámos, era do número do jornal «O Século», de 3 de Maio de 1942, que apresentava um artigo encabeçado com um título, em grandes parangonas, que rezava assim «Às cerimónias comemorativas do 139.º aniversário do Colégio Militar assistiu o antigo aluno sr. General Carmona». O corpo do artigo era do seguinte teor:
«Foram ontem cumpridas, conforme o programa estabelecido, as cerimónias comemorativas do 139.º aniversário do Colégio Militar, que circunstâncias várias impediram se fizessem na data própria – 3 de Março último.
Às 12 horas foi rezada na igreja de S. Domingos missa por alma dos alunos que a morte roubou.
O templo encheu-se de fieis antigos alunos oficiais do Exército e da Armada e outras pessoas. No altar-mor prestava a guarda de honra uma deputação de alunos do Colégio, do batalhão que pouco antes havia desfilado, entre as atenções populares, pela Avenida da Liberdade.
No altar-mor com representação do sr. Presidente da República estavam o sr. Capitão Carvalho Nunes, os srs generais Monteiro de Barros, comandante geral da G. N. R., Craveiro Lopes e Lacerda Machado, senhoras das famílias dos alunos falecidos e ainda os srs brigadeiro Mena e coronel Afonso Botelho, comandante de Cavalaria 7, e outros comandantes de unidades da guarnição.
Oficiou o ver. Governo, capelão do Colégio, acolitado pelo reverendo Serrano, antigo aluno n.º23. No coro, o orfeão da Escola de Santa Cecília, da Freguesia de S. Jorge de
Arroios. No transepto, além do batalhão de alunos do estabelecimento, uma força de Metralhadoras 1 e uma representação dos Pupilos do Exército além de muitas outras pessoas. A cerimónia terminou com uma alocução do ver. Governo aos alunos, incitando-os à prática do bem.»
O artigo do jornal «O Século» prosseguia com o relato do programa da tarde, encabeçado pelo título «No Colégio foram descerradas lápidas evocativas de dois antigos alunos, mortos na guerra de Espanha». Como referimos, este assunto será abordado em futuro artigo da nossa revista.
Fica assim registado na ZacatraZ o primeiro desfile do Colégio pela Avenida da Liberdade, que em tão boa hora foi instituído.
É o encontro público do Colégio com a sua cidade. É o sinal dado ao público, que lá
para os lados de Carnide, na Luz, se continua a trabalhar, dia a dia, com afinco, na formação de jovens de carácter, ilustrados e desembaraçados fisicamente, com os quais a Nação pode contar.
Para os alunos, o desfile pela Avenida é o ponto alto do dia mais importante de cada ano lectivo. É um acontecimento para o qual se preparam, ano após ano, com o maior empenho, pois nada pode correr mal, a honra do Colégio assim o exige.
Para os alunos graduados é a sua jornada de glória.
Para os Antigos Alunos é o dia em que voltam a ser Meninos. Voltam à Avenida para se reverem, com orgulho, naqueles que agora marcham, pensando, como seria bom, por momentos, marchar de novo com eles. É isto o COLÉGIO!
No «annus horribilis» de 1961, depois da eclosão da guerra em Angola, no mês de Março, depois do fim de S. João Baptista de Ajudá, recordado no último número da ZacatraZ, e antes da invasão do Estado Português da Índia, rememorada no presente número da nossa revista, ocorreu, no mês de Novembro, uma outra tragédia que enlutou o País e o Colégio. Essa tragédia ficou na altura conhecida como «O desastre do Chitado».
O «desastre do Chitado» consistiu na queda de um avião da Força Aérea, no Sul de Angola, na zona do Cunene, perto de um povoado com aquele nome. Nesse avião, seguia o General Carlos da Silva Freire (246/1917), comandante da Região Militar de Angola (naquele ano ainda designada por 3.ª Região Militar), acompanhado de uma parte importante do seu Estado-Maior, em missão de reconhecimento aéreo. Não houve sobreviventes da
queda do avião. A Região Militar de Angola ficou decapitada da sua chefia, que tinha iniciado funções poucos meses antes.
Quando eclodiu a guerra em Angola, no mês de Março de 1961, era Governador-Geral de Angola o Dr. Silva Tavares, sendo Comandante Militar o General António Monteiro Libório (112/1909), um veterano, que teve de fazer face aos primeiros tempos do conflito em Angola com os escassissimos meios militares ao tempo disponíveis na província.
Depois de uma tentativa gorada de tomada de poder, no mês de Abril, em Lisboa, pelo ministro da Defesa, General Júlio Botelho Moniz (106/1911), o presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar, tomou a seu cargo a pasta da Defesa e elegeu de imediato, como primeira prioridade, o socorro a Angola, com o envio para a província de um contingente significativo de tropas. A par do reforço do dispositivo militar, decidiu Oliveira Salazar «militarizar» o cargo de Gover-
nador-Geral da província, substituindo o Dr. Silva Tavares, pelo General da Força Aérea Venâncio Deslandes (EXT/1918), que posteriormente acumulou aquelas funções com as de Comandante Chefe das Forças Armadas em Angola. Decidiu também Oliveira Salazar «refrescar» o cargo de Comandante da Região Militar, substituindo o veterano General Monteiro Libório, pelo General Silva Freire, na altura o General mais novo do nosso Exército.
O primeiro navio de transporte de tropas, que rumou de Lisboa a Luanda, foi o Niassa, que chegou a Luanda a 1 de Maio. Após um apoteótico desfile das tropas desembarcadas pela avenida marginal de Luanda, entraram as mesmas, de imediato, em campanha.
O General Silva Freire, por sua vez, chegou a Luanda em meados de Junho, rendeu o general Monteiro Libório, empenhou-se completamente na missão que lhe fora confiada, até que, a 10 de Novembro, morreu no Chitado, nas condições anteriormente referidas.
Quando a guerra começou, em Março de 1961, estava eu no 6º ano do Colégio. Passadas as férias grandes, logo no início do primeiro período do meu ano lectivo de finalista, deu-se uma tragédia que nos abalou no Colégio e que abalou o País em geral. A tragédia foi o anteriormente referido "desastre do Chitado" . Quando se soube da verdadeira dimensão do desastre, que envolveu a perda da vida do Comandante Militar de Angola e de um outro Antigo Aluno seu contemporâneo no Colégio, membro do seu Estado-Maior, a reacção no Colégio foi de consternação.
Depois de honras fúnebres em Angola, os corpos dos militares falecidos foram trazidos para Lisboa, onde se realizaram solenes exéquias nacionais. O Colégio Militar tomou parte nas cerimónias, como seria normal ocorrer numa situação destas. Neste caso, o dever de comparência era acrescido, pelo facto de o falecido General ser Antigo Aluno, ter tido dois filhos Antigos Alunos, o mais novo dos quais, João Carlos Oliveira Moreira Freire (246/1953), saído apenas há dois anos do Colégio, onde ainda era bem recordado. Fora duas estrelas da 4.ª e desempenhara funções de porta-bandeira do curso de saída de 1959/1960.
Fiz parte da delegação do Colégio que tomou parte nas solenes exéquias nacionais (como então foram designadas) que decorreram na igreja do Convento dos Jerónimos, em Belém. Foi o que se pode dizer, um momento de luto nacional. O Presidente da República, seguido por Oliveira Salazar e todo o seu governo e por todas as altas patentes das Forças Armadas, estiveram presentes. O ambiente não podia ser mais pesado e de maior comoção. Sofri talvez a mais prolonga -
da «firmeza» da minha «carreira»
A certo ponto, deixei de ter uma visão nítida das coisas. Não sei como não desmaiei.
Cumprindo-se no presente ano, 60 anos sobre a ocorrência do «desastre do Chitado» , considerámos ser nosso DEVER DE MEMÓRIA recordar esse desastre e aqueles que no mesmo perderam a vida, em particular,
o General Silva Freire. Nesse sentido, pedimos ao seu filho João Carlos (246/1953), que escrevesse algo sobre o assunto, sem estabelecer quaisquer limitações para o seu escrito. O nosso pedido foi prontamente atendido, pelo que publicamos em artigo separado o texto que nos enviou, acompanhado das fotos que também fez o favor de nos enviar. Estamos certos que esse artigo será
Angola, 1961. Desfile do primeiro grande contingente militar na Avenida Marginal de Luanda
de grande interesse para os nossos leitores. Ao 246, João Carlos, o nosso "Muito Obrigado".
Referimos ainda, que no dia 10 de Novembro de 2021, 60 anos após a
morte do General Silva Freire, a sua família deslocou-se ao Colégio para oferecer ao Museu do Colégio algumas peças do espólio do falecido. Dessa cerimónia singela apresentamos também uma notícia, em sepa -
rado, preparada pelo Bernardo Diniz de Ayala (171/1953), a quem igualmente agradecemos.
Nasceu em Lisboa em 1907, filho de militar, e faleceu inesperadamente, no auge da sua carreira castrense, em 1961.
Muito bom aluno no Colégio, foi o comandante do Batalhão colegial no seu ano finalista, em 1923/1924. Nesse ano foi administrador do jornal O Colégio Militar (nºs 9, 10 e 11, de 1924) e assinou nele alguns artigos. Também desembaraçado fisicamente, conquistou prémios em atletismo e esgrima, e praticava com à-vontade o futebol e a equitação. Entre os seus “sucessores” de número no Colégio figuram o seu irmão José (1924/32) e os filhos Fernando (1946/53) e João (1953/60).
Do seu curso fizeram parte outros nomes que se destacaram mais tarde nas respectivas actividades profissionais, como os engenheiros Sebastião Gouveia Beltrão (254), Augusto Cohen Poppe (416) e João Guimarães dos Santos (410), os médicos Henrique Moutinho
(83), José Pereira Monteiro (212) e Guilherme Abranches Pinto (22), o veterinário José Prostes da Fonseca (136) e os futuros general João Correia Barrento (17) e coronéis Fernando Paes (424), Amadeu Santo-André Pereira (252) – todos estes três eméritos cavaleiros –,
Daniel Tavares (329), João Terenas Latino (207) e o capitão-de-mar-e-guerra Eduardo Metzener (300), além de outros.
O Freire fez carreira no Exército, primeiro na Arma de Engenharia (sobretudo no Regimento de Te -
legrafistas, de Lisboa), depois no Corpo do Estado Maior. Na viagem de fim de curso para esta especialidade, foi ferido em 1942 por estilhaços de bomba de aviação em Kursk, na Rússia então ocupada pelo exército alemão.
Fez cursos prolongados em Inglaterra e na Escola Superior de Guerra, em Paris. Em 1956, já coronel, foi o braço-direito do Chefe do Estado-Maior do Exército general Barros Rodrigues numa visita de inspecção ao dispositivo militar do antigo Estado Português da Índia, perante a ameaça de invasão pela União Indiana, que veio a concretizar-se em finais de 1961.
Sempre primeiro classificado em todos os cursos que frequentou, este antigo “Menino da Luz” era considerado por meados do século XX como um dos mais brilhantes oficiais do Exército (e o seu general mais novo), embora sem grandes contactos com a tropa dos quartéis. Porém, na sequência da tentativa de golpe-de-Estado de Abril de 1961, o general Freire é nomeado para comandar as operações de reocupação militar do Norte de Angola, na sequência da explosão de violência anti-colonial ali ocorrida desde o início do ano.
A sua missão mais imediata foi cumprida – até finais de Setembro, data da Assembleia Geral da ONU, como lhe tinha sido pedido –, com o empenho dos cerca de 30 mil homens para ali expedicionados e o apoio aéreo e naval que foi possível mobilizar. E foi no exercício dessa função de comando superior de tropas em campanha que veio a morrer em desastre aéreo no Chitado (Sul de Angola), em 10 de No -
vembro de 1961. Entre as outras vítimas figurava também o coronel João Ferreira Lima (ex-334, do seu ano de entrada no Colégio). Em Luanda, fizeram-se funerais militares imponentes a estes mortos; e em Lisboa, nos Jerónimos, realizaram-se solenes exéquias nacionais, onde uma secção de alunos do Co -
légio Militar também incorporou a guarda-de-honra. A título póstumo, foi atribuída ao general Freire a comenda da Ordem Militar da Torre e Espada.
JF / Nov.2021
Teve lugar, no passado dia 10 de Novembro de 2021, no Colégio Militar, a cerimónia de homenagem à memória do General Carlos Silva Freire, Antigo Aluno 246/1917, falecido num acidente de aviação ocorrido no Chitado, Sul de Angola, há exactamente 60 anos e, simultaneamente, a entrega do espólio doado ao Colégio Militar.
A cerimónia decorreu na Biblioteca do Colégio tendo estado presentes familiares do General Silva Freire de entre os quais se salienta o seu filho Professor Doutor, João Carlos Silva Freire, (246/1953), sua mulher, netos e sobrinha e, ainda, os Generais Morais Barroco, genro do homenageado e José Manuel Freire Nogueira, (271/1956), neto do homenageado.
Presidiu à cerimónia o Director de Educação do Exército, Major-General Aguiar Santos ladeado pelo Director do Colégio Militar, Coronel António Salgueiro. Estiveram, igualmente presentes, o Subdirector do Colégio, Tenente-Coronel Rui Rodrigues, um número significativo de convidados militares e civis e uma deputação de 4 alunos do Colégio liderada pelo Comandante do Batalhão de Alunos, Vasco Caetano, (72/2014).
A nossa Associação esteve representada pelo seu Presidente Filipe Soares Franco, (62/1963) e o Conselho Supremo pelo seu Vice-Presidente, Bernardo Diniz de Ayala, (171/1953).
A sessão iniciou-se com umas breves palavras do Director do Colégio Militar saudando a presença dos familiares do General Silva Freire, particularmente do seu filho, o grande obreiro da entrega do espólio, João Freire, (246/1953), bem como todos os
que estavam presentes na cerimónia. Terminou dizendo que as qualidades académicas e físicas que demonstrou no Colégio levaram-no a ser Comandante do Batalhão da Alunos no ano lectivo de 1923/1924, o que foi um prenúncio do que viria a ser a sua brilhante carreira militar.
Convidado pelo Director do Colégio, falou de seguida o Tenente-Coronel António Pires Nunes, licenciado em História, com vasta obra publicada, de cariz militar.
Muito resumidamente o orador, na sua dissertação, teceu elogiosas referências à carreira militar e académica do General Silva Freire mas, principalmente, “homenageia a figura do General Silva Freire, o primeiro dos generais a enfrentar, de forma organizada, a insurreição em Angola. Em apenas cinco meses quadriculou todo o Norte de Angola com as unidades que ali iam chegando, criando normas de actuação para elas. Normalizou a vida no Norte sublevado e remeteu os revoltosos para áreas inacessíveis, que se preparava para reduzir quando, numa viagem com vista à criação da Zona de Intervenção Sul (ZIN), faleceu no conhecido “Desastre do Chitado”. É da sua concepção a tomada de Nambuangongo e o Campo Militar do Grafanil.”
Seguidamente procedeu-se à “Assinatura do Auto de Entrega do Espólio doado ao Colégio Militar” cuja documentação teve as assinaturas do Director do Colégio Militar e do João Freire.
Antes de terminar a sessão, o João Freire, num breve improviso, agradeceu a todos aqueles que ajudaram a concretizar esta doação e aos que estiveram presentes na cerimónia e finalizou dando um abraço ao actual Comandante de Batalhão.
Seguiu-se a inauguração e visita à exposição, num espaço separado do Museu do Colégio Militar aonde estavam expostas em vitrines acrílicas “uma arca para arrumos (Modelo1911), duas saboneteiras (Mod. RCM) e um Fragmento do C-47 Dakota acidentado em Novembro de 1961”. Em duas outras vitrines estavam, numa 17 condecorações do General Silva Freire e na outra a de Comendador da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, a título póstumo (1962) e a Espada de General. Por cima desta última vitrina era projectado um filme em que o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, entregava à viúva do General Silva Freire a Torre Espada.
Raiatea
Depois de seis dias em Raiatea largámos para Bora Bora, uma pequena viagem de cinco horas e meia, a bordejar todas as ilhas - pois elas estão bem perto umas das outras. Nesta etapa estava previsto parar em: Suwarrow, Niue e Tonga.
A navegação em toda esta zona do Pacífico tem de ser muito cuidada, atendendo à quantidade de ilhas e ao anel de coral que as envolve. Pode ser usado o piloto automático, mas quem estiver de «quar-
to», deverá singrar com toda a prudência, respeitando as regras de «costa à vista». Para tal, há que ter grande atenção com o que se passa à volta da embarcação e simultaneamente recorrer à cartografia digital. Nos barcos modernos esta está situada logo à frente da roda do leme, isto é, debaixo dos nossos olhos. Ela tem preciosas informações, principalmente se for precisa e atualizada – fatores que são indispensáveis. Outro sim, se previamente
lhe colocarmos «waypoints» ao longo dos corredores de passagem, estratégia que foi largamente seguida pelo Luís Adão. Desta forma, aumentámos a segurança da navegação e a eficiência de quem governa. Nestas paragens as «águas são muito apertadas» e os recifes são um perigo e uma preocupação permanente para a tripulação. Eles rasgam completamente o casco e a força enorme da rebentação irá acabar de o destruir. Não é exagero da
minha parte - são situações que podem ocorrer e que ilustro com fotografias que tirei diretamente do “Allegro”.
Com muito pouco vento lá fomos singrando com motor e vela grande, tendo chegado a Bora Bora, pelas 15.30, do dia 10 de Maio de 2015, ficando amarrados numa boia do Club Náutico Maikai.
hoteleiros de luxo, onde variadíssimos “resorts” estão construídos em estacaria, dentro de água, formando conjuntos de “bungalows” de conceção tipicamente tropical.
Eu não pude alinhar num passeio à volta da ilha, porque ainda não tinha tirado os pontos da cabeça, resultado de um valente trambolhão em Raieteia. Pela
O mergulho é a principal atividade aquática de Bora Bora.
Os dias estão lindos, a ilha uma maravilha, pôres do sol soberbos, mas sem vento - e sem vento, os veleiros não andam à vela!!! Eu gostaria de ficar para sempre, neste paraíso que Deus criou na terra, mas o fim da volta ainda está longe.
Esta Ilha faz parte do Arquipélago Sociedade e do conjunto territorial ultramarino francês, denominado - Polinésia Francesa. Está envolvida por uma enorme lagoa e esta por um recife de coral.
É uma ilha vulcânica, muito verde, com paisagens lindíssimas, o que faz dela um dos maiores destinos turísticos do mundo. Assim, a atividade turística é a sua principal fonte de riqueza, apoiada por complexos
descrição da Manuela e do Luís fizeram um "tour" de "snorkeling" em vários pontos da lagoa interior - um deslumbrante e verdadeiro espelho de água, em tons de azul, turquesa e verde, aliados a uma água transparente.
Viram raias, moreias que vinham comer à mão, para além de múltiplos corais de cores maravilhosas. Parecia que estavam num aquário gigante.
Por isso temos forçosamente que continuar a navegar, largando as amarras, rumo a Niue, atendendo à falta de vento; caso contrário, teríamos ido para Suwarrow.
Antes de deixar Bora Bora, onde estivemos dois dias, para não ter problemas com as autoridades no próximo porto, tivemos que nos deslocar à Guarda Civil para dar a saída da Polinésia Francesa, pois a entrada neste território francês tinha sido feita nas Marquesas.
A ausência de vento continuava a ser uma constante, com mar «chão», uma brisa de 3 nós a entrar pela proa – evidentemente, o motor era a única solução para prosseguir a nossa viagem. Nem nossa Senhora de Fátima nos trazia vento, pois arrancámos no dia 13 de Maio, não da Cova da Iria, mas das longínquas ilhas do Pacífico! Apesar
to certo. Afortunadamente, este espírito permaneceu sempre presente na nossa tripulação, nestes e noutros momentos de perigo.
O “Allegro”, tinha navegado apenas três dias a motor e a sua posição era favorável a qualquer das mudanças de rota. Assim, rumámos também para Norte, (rumo «COG» 292º; rumo da agulha 272º), em direção a Suwarrow, onde possivelmente a tempestade seria mais fraca.
No dia 16, sábado, notou-se nitidamente um agravamento do tempo, registando-se paralelamente uma descida da pressão atmosférica para 1008 e, naturalmente, uma subida da força do vento para 16 nós, do quadrante NE. «Rizamos» progressivamente a vela de proa à medida que o vento aumentava.
as previsões para sábado e domingo seriam de tormenta! As informações que tínhamos não eram muito precisas quanto à posição exata do mau tempo, de forma a tomarmos decisões concretas e definitivas sobre o rumo mais favorável. Mais tarde, felizmente, fomos recebendo, via internet, e por outros barcos conhecidos, dados mais atuais sobre a previsível borrasca. Um ponto comum era haver dois centros de baixas pressões: um na direção de Niue e outro de Suwarrow. O “Exocet Strik”, veleiro que durante toda a viagem pareceu ter a melhor informação meteorológica, rumou a Norte, para a ilha de Suwarrow. O nosso amigo Rui Soares informou-nos, via mail, que o rumo aconselhável seria um pouco para norte. Possuidores destes elementos mais precisos e credíveis, foi fácil optar pelo caminho que nos pareceu seguro.
São situações complicadas e é necessário manter a serenidade e o bom senso para esperar e decidir bem, no momen-
Dia 15 de Maio - o vento «refrescou» passando para 12/14 nós de SE, pelo que conseguíamos navegar num «largo aberto» e sem auxílio do motor. A meteorologia era instável e a vela nem sempre foi utilizada, tendo que alternar com motor. Pela primeira vez, o Luís quis montar a vela de proa a trabalhar com o auxílio do «pau de «spinnaker». É uma solução ideal para ventos de «alheta» e «popa». Sem o «pau», nestas duas mareações, as velas de proa não trabalham bem, obrigando o homem do leme (ou mulher) a «orçar», ou seja, governar com a proa do veleiro mais próxima da direção do vento do que seria desejável, tornando as rotas muito mais longas e demoradas, para além de multiplicar o número de viragens de bordo.
Com as condições que tínhamos, vento de 8/9 nós, o andamento do “Allegro” era lento, não chegando à ilha de Suwarrow a tempo de nos abrigar do temporal.
Por isso optámos por um rumo intermédio, de forma a enfrentar melhor o vendaval que nos esperava nas próximas horas. Assim, fomos «correndo com o tempo» com uma mareação pela «alheta». A pressão atmosférica manteve-se nos 1012, valor que nos dava uma certa tranquilidade, mas sempre pensando que da «pancada» não nos livrávamos. Para tal, «rizámos» a vela grande para terceiro e último «riso» e mantivemos a «genoa» toda aberta, para não perder andamento.(Rizar é reduzir a área vélica).
Dia 17,domingo, quarto dia de navegação desta «perna» - entrei de «quarto» às 2 horas da manhã e a borrasca estava instalada, mantendo-se assim durante todo o dia, com uma deterioração gradativa e constante das condições do mar, vento e chuva, até cerca das 21 horas. A pressão atmosférica baixou rapidamente até valores próximos dos 1000, com avisos permanentes do “metrógrafo”. Das 8 horas às 21, registámos valores de vento entre os 28 e os 45 nós. O “Allegro” aguentou-se bem e a tripulação esteve à altura do momento. Temos que estar preparados técnica, física e psicologicamente para enfrentar estes contratempos, que podem surgir a cada passo, ou melhor a cada milha, numa volta ao mundo a navegar pelos três oceanos, com rotas preferencialmente tropicais. Assim, o pior já tinha passado e lá fomos singrando rumo à ilha de Niue, alternando algumas horas a motor com boas e relaxantes velejadas. Finalmente tinha chegado a hora de secar toda a roupa e o corpo também, que durante horas seguidas foi massacrado pela água da chuva e do mar.
A aproximação à ilha é feita com muito cuidado, por um canal cheio de curvas, mas que o Luís sinalizou na cartografia com vários «waypoints». Depois, o percurso até ao nosso destino tinha os alinhamentos bem materializados com boias, o que facilitou a nossa entrada. Depois de 10 dias e 17 hora de viagem, percorremos a distância de 938 milhas entre Bora Bora e Niue.
…E SIGA A MARINHA…..Neste ano de 2021, a Revista O Colégio Militar comemora o seu primeiro centenário. Não foi fácil chegar aqui. Em primeiro lugar, foi preciso que sete Meninos da Luz - Paulo de Brito Aranha, António de Santa Clara, José Cézar de Sá, Rafael Barradas, Ramiro Guedes de Campos (Fig. 1), Manuel d`Oliveira Cabeças e António Medeira - concretizassem os sonhos alimentados em reuniões noturnas num canto do geral.
A razão pela qual se deram a este trabalho não é muito clara, mas o facto de todos eles serem ávidos leitores da Revista Escolar do Colégio Militar do Rio de Janeiro e demonstrarem interesse pelos jornais, pela arte e pela literatura, deve ter contribuído para esse projeto.
Se precisássemos de exemplificar aquela última afirmação, era fácil convocar as vidas de Brito Aranha ou Ramiro Guedes após terem abandonado o Colégio Militar (CM). O primeiro seguiu a carreira das armas, mas em paralelo desenvolveu uma intensa atividade jornalística no Diário de Notícias, enquanto a sua paixão pelo cinema o levou à Tobis, para
realizar cinco filmes e ser diretor de som em diversos outros. O segundo, engenheiro químico de profissão, também se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas e foi um prolixo escritor, tendo conquistado diversos galardões de poesia.
de alma poética, escrevia e desenhava como um artista de fina têmpera.
Em maio de 1921, acreditavam que poderiam revolucionar a opinião e a crítica, mas tinham consciência da audácia do seu projeto, para o qual só encontravam viabilidade como órgão dos alunos, se a comunidade escolar se empenhasse no seu sucesso. Por isso, solicitavam a colaboração de todos para a redação de artigos de fundo e notícias sobre a vida interna do Colégio. A constante insistência destes apelos deixa adivinhar a dificuldade em os concretizar.
A este propósito, num texto publicado no número 98 da Revista, António Santa Clara ainda acrescentou que Manuel d´Oliveira Cabeças era um espírito metafísico que se deleitava a escrever sonetos e que Cézar de Sá, imbuído
Os contratempos iniciais foram muitos e os conhecimentos sobre a publicação de jornais eram poucos. Contudo, os fundadores assumiram as suas debilidades, compreenderam a natureza dos entraves a superar, e, nunca desistindo, manifestaram a esperança de que protegido e acarinhado por todos, o Jornal pudesse vir a triunfar no futuro.
Hoje, quando contemplamos os 245 números entretanto publicados, as muitas centenas de colaboradores empenhados e a qualidade e diversidade dos textos que
pontuam os milhares das suas páginas, só podemos tentar imaginar (com a certeza de que não vamos conseguir) os passos que desde então se foram dando, mas a longevidade agora celebrada permite confirmar que o sonho inicial daquele memorável maio de 1921 foi bem sucedido.
Assim, este pequeno e despretensioso texto assume-se como um tributo aos fundadores e a todos aqueles que ao longo desta centúria deixaram o seu nome inscrito nas páginas de O Colégio Militar. Para tanto, oferecemos algumas considerações sobre a sua evolução, realçando quatro tópicos: a periodicidade, a evolução do formato, a natureza do corpo redatorial e dirigente, e, finalmente, a natureza dos próprios artigos.
O primeiro número deixa claro ao que vem em termos de periodicidade, trata-se de uma publicação eventual, dependente da proatividade dos seus redatores e de constrangimentos mais prosaicos como o preço do papel, que em determinadas alturas obrigou mesmo à suspensão temporária da publicação.
Mesmo assim, em 1921 ainda se foi a tempo de publicar cinco números, mas daí em diante a irregularidade foi uma constante, variando da suspensão em 1923, até aos oito números de 1925, data a partir da qual a tendência predominante foi a de se publicarem 3 edições anuais, com as exceções de 1927 e 1930, contemplados com um único exemplar. Posteriormente, e até meados de 1950, editaram-se entre 3 e 4 números por ano, mas em 1942, 1945 e 1956 foram apenas 2, e em 1952, 1953 e 1958, um. No ano de 1954, a Revista não foi publicada. A década de 1960, se comparada com as anteriores, revela-se muito menos prolífera: apenas um número por ano, com a agravante de não ter sido dada à estampa em 1960 e 1969.
Em 1970, um grupo de alunos assumiu-se como corpo redatorial e propôs a difusão mensal. Contudo, apenas conseguiram publicar três números, antecedendo o especial comemorativo do primeiro cinquentenário, o 122, de outubro de 1971 (Fig. 2).
Paradoxalmente, após essa data, inaugurou-se o mais longo período de suspensão da Revista, a qual só voltaria a ser publicada em 1978, já no âmbito da ACE de jornalismo, entretanto dinamizada pelo grupo disciplinar de Português. Por esta altura,
regressou-se aos três números anuais, correspondentes a cada um dos períodos escolares. Com algumas raras exceções, esta periodicidade foi-se mantendo até 2010, momento em que se impôs o modelo quadrimestral, depois substituído pela lógica semestral, ainda hoje vigente.
Durante grande parte da sua história, o Jornal foi impresso em gráficas externas. Até 1936, utilizaram-se as oficinas dos
jornais O Mundo e O Século e depois recorreu-se à Sociedade Nacional de Tipografia, às Grandes Oficinas Gráficas Minerva, de Vila Nova de Famalicão, às Oficinas da Papelaria Fernandes e ainda às Escolas Profissionais das Oficinas de S. José (Fig. 3), até 1944.
Como no decurso da segunda guerra mundial, o preço do papel se afirmou como uma dificuldade relevante e a necessidade de controlar os custos levou a administração do CM a celebrar um contrato com a Tipografia da Liga dos Combatentes que, até abril de 1945, garantiu a impressão regular em condições bastante favoráveis. Por motivos que desconhecemos, esta ligação não perdurou no tempo e a busca por soluções que garantissem bons preços e capacidade de responder às inovações tecnológicas obrigou à demanda por novas parcerias. Deste modo, o CM trabalhou com a Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade (entre 1945 e 1949), a Imprensa Libânio da Silva (1949 a 1950), as Oficinas Gráficas da Casa Portuguesa (1951), a Tipografia Silvas (1951 a 1968), a Tipografia Lousanense (1970 a 1971), a Empresa
Costa e Valério (1992 a 1995), a Gráfica 2000 (1995 a 2005) a Pulpdesign (2006 a 2012), a Typeworks Design, Comunicação e Imagem, (2012-2013), a Sersilito (20142018), voltando à Typeworks Design, Comunicação e Imagem, em 2020.
Refira-se que de 1978 a 1992 foram os serviços técnicos do CM a assegurar a impressão da Revista.
Esta diversidade de impressores foi acompanhada por mutações significativas em termos formais. Com efeito, se é verdade que a primeira série de O Colégio Militar manteve uma rigorosa unidade de modelo, expressa numa publicação a duas cores com dimensões generosas (44X31), a partir de 1944 observa-se uma tendência pela procura de novas soluções, tendo-se introduzido o formato de revista, o qual, apesar de hesitante nas dimensões, acabaria por se tornar preponderante até à atualidade. No início da década de 1970, ainda se assistiu à tentativa de recuperar o modelo original, com a justificação da defesa da tradição. Tratou-se de uma experiência fugaz que se esgotaria ao fim de três edições.
O esforço de conciliar o controlo dos custos com a qualidade científica, literária e as inovações da técnica de impressão não foi uma empresa fácil e originou a procura por fontes de receitas alternativas. Assim, e desde cedo, apelou-se para o apoio de assinantes, sendo frequentes os pedidos para que estes liquidassem os seus débitos. Para além disso, chegou a ensaiar-se a possibilidade de venda ao público, e o número dois, de 26 de maio de 1921, refere mesmo que o Jornal iria estar à venda na Tabacaria Mónaco, no Rossio.
Já no início de 1970, fixou-se uma assinatura anual no valor de 60 escudos, a ser creditada mensalmente (5 escudos mês). Por princípio, pretendia-se que todos os alunos do batalhão fossem assinantes, mas permitia-se que os Encarregados de Educação manifestassem a sua escusa por meio de uma declaração escrita entregue no Conselho Administrativo. Ao mesmo tempo, os estudantes assumiram a necessidade de angariar publicidade e estabeleceram diversos contactos com empresas dirigidas por antigos camaradas.
Com tudo isto, procurava-se custear as despesas com o papel, a impressão, os encargos onerosos com a expedição para instituições oficiais e para o ultramar, e não se escondia a ambição de apresentar mais imagens coloridas.
A este propósito, acrescente-se que os primeiros elementos de cor foram introduzidos em novembro de 1935, através das letras verdes do título. O mesmo verde seria utilizado no desenho da última página, introdutório da Secção Colonial. No número seguinte, repetiu-se a experiência, substituindo o verde pelo azul, permitindo que na página final se tenha destacado a Cúpula, preenchida por um intenso e brilhante tom de azul.
Em 1938, lançou-se uma edição especial dedicada à excursão do 7º ano a Espanha e na capa, de grandes dimensões, uma sé-
rie de fotos relativas a essa viagem eram acompanhadas por uma barra preenchida a verde, que no seu seio acolhia o título a letras brancas.
Todavia, foi necessário esperar por 1944 para se assistir à introdução definitiva das capas coloridas, e por 1947 para que o mesmo sucedesse com as contracapas. Já o miolo, e a despeito de algumas tentativas esporádicas, só em 2003, com a edição comemorativa dos 200 anos do CM, se permitiu aparecer em cor integral (Fig. 4). Realidade que só voltaria a ser adotada dois anos mais tarde, para não mais ser abandonada.
Logo no momento da sua criação, O Colégio Militar assumiu o objetivo de se afirmar como o órgão dos alunos, nomeando-se um corpo fixo de redatores, que, no entanto, não poderia dispensar a colaboração do restante batalhão.
Assim, desde as primeiras décadas, foram frequentes os apelos à participação dos discentes e, nos anos setenta, chegou mesmo a preconizar-se a instituição de prémios para quem escrevesse artigos. Embora
essa tentativa não tenha sido coroada de sucesso, uma instituição que se pode orgulhar de antigos alunos como Pinheiro Chagas, Abel Botelho, Andrade Corvo, Cristóvão Aires, Julio Dantas, Ferreira Martins, ou Eduardo Lourenço, entre muitos outros, acabou por não revelar grande dificuldade em angariar contributos diversificados.
Mesmo assim, a partir de 1978, tornou-se evidente uma participação mais frequente do corpo docente, implicando uma mudança, primeiro discreta e depois mais acentuada, no próprio cariz da publicação, com textos longos e de aparência mais académica.
Na verdade, o empenho de professores e oficiais nunca fora desincentivado, mas começou por não ser muito significativo. O Jornal era dos alunos e para os alunos.
Nesta sequência, entende-se, igualmente, que a sua direção fosse responsabilidade do Comandante de Batalhão, a quem, nos anos sessenta, se tentou juntar uma estrutura mais complexa, onde despontou, como novidade, a figura do aluno tesoureiro, a quem competia garantir o apropriado assento das contas.
Por essa altura, também se recomendou a nomeação de um redator exclusivo para as matérias desportivas. O facto não constitui uma surpresa, sabendo-se a importância dessas áreas na vivência colegial, mas a ideia não vingou. Em simultâneo, entregou-se a um dos membros da equipa redatorial a tarefa de enviar as revistas para os assinantes, antigos alunos, instituições oficiais e para o ultramar. Nas décadas seguintes, esta tarefa assumiu-se como uma das prioridades dos responsáveis editoriais, até que a digitalização a tornou dispensável.
A atribuição destas funções aos alunos demonstra a sua preponderância na gestão da Revista, mas não evitou a nomeação de oficiais e professores para a sua coordenação.
De que tenhamos notícia, esta prática apenas se formalizou na década de 1950, com a figura do capitão e professor de português, Júlio Martins (Fig. 5), ilustre autor de manuais de língua materna, literatura e pedagogia.
De acordo com as fichas técnicas, a ação desse docente prolongou-se de 1953, com a publicação do número comemorativo dos 150 anos do CM, até 1964. Segundo testemunhos dos alunos, e não obstante o seu nome não voltar a constar nos créditos, Júlio Martins continuou, até finais da década de sessenta, a desempenhar um papel importante na revisão dos textos e controlo da sua adequação a propósitos mais formais.
Depois, quando em 1978 a Revista emergiu do seu longo período de letargia, tendo sido integrada nas atividades extracurriculares de jornalismo, competiu ao professor Silvestre Silva a tarefa de a coordenar até 1989. Sucederam-lhe os seguintes docentes: Mota Tavares (1989/1992), Pedro Ferreira (1993/1995), Leopoldina Xavier (1993/1995), Manuel Lopes (1995/1998), Vítor Oliveira (1995/1999), Vítor Lourenço (1998/1999), Marco Fortunato Arrifes (1999/2005), Cesaltina Sousa (2000/2002),
José Teixeira (2002/2006), Fernando Policarpo (2005/2009), Guilherme de Almeida (2009/2010), Joaquim Bernardo (2010/2013), Graça Paulo (2013/2018 e 2020/2021), Dulce Salgado (2015/2017), João Penedos (2019/2021) e Nuno Gomes Marques (2019/2021).
Noticiários, entrevistas, reportagens, investigações científicas de cariz diversificado, muitas páginas humorísticas, passatempos, desenhos, caricaturas, fotos, debruçando-se sobre a vida interna e sobre aspetos variados da sociedade portuguesa e suas evoluções políticas, científicas e económicas, pontuam os milhares de páginas desta publicação.
Neste ponto, a observação atenta do exemplar nº 1 é elucidativa, pois logo ali se apresentam algumas secções que depois se irão tornar canónicas. Com efeito, nesse número de 11 de maio de 1921 já aparecem a página referente aos Ex-alunos ilustres, então dedicada a Pinheiro Chagas, poemas, um artigo referente a uma visita à Batalha, mas também notícias de desporto e divulgação científica, um folhetim, com o nome de Dalila e que se prolongaria por diversos exemplares, e ainda uma secção de humor, apelidada de O Humorismo, posteriormente secundada pelas colunas de Calinografia e pelos relatos das 7 partes do Colégio.
Já no número dois, iniciou-se o que viria a ser uma longa linhagem de caricaturas, com um desenho da carroça que transportava os professores para o CM, da autoria de Cézar de Sá (Fig. 6).
O exame da censura implicou que a natureza destes textos fosse sempre muito institucional, mas isso não impediu que, até aos anos cinquenta, a irreverência e o espírito crítico dos alunos conseguisse despontar em vários momentos. Todavia, chegados a essa década, a substância dos artigos alte-
rou-se de modo significativo, e eles transformaram-se numa espécie de anuário, onde se enumeravam as várias solenidades ocorridas no decurso do ano letivo. Os alunos de então atribuem essa faceta menos criativa à ação do suprarreferido professor Julio Martins, defensor do primado da moral no ensino, e que, por isso, preconizava o corte de tudo o que pudesse desenvolver nos jovens aquilo que ele considerava como sendo tendências impróprias para as suas idades.
Desta forma, e desejosos de introduzir novas temáticas, menos notícias, mais fotografias e mais visões pessoais sobre a vida interna, os estudantes das décadas de sessenta e setenta afastaram-se da sua Revista, redobrando as edições internas, mais ou menos clandestinas, reatando uma antiga tradição. Na verdade, a imprensa colegial, antes e depois da fundação de O Colégio Militar, sempre fora muito ativa, e se na época anterior a 1921 já eram conhecidas publicações como A Camarata, A Bomba, O Garoto, O Bródio, O Puritano, A Revista Colegial, O Arauto, O Progresso de Carnide, O Jornal da Associação, O Douro, A Tezoura e o Vibrar da Lira, posteriormente àquela fundação o movimento intensificou-se, permitindo a emergência de periódicos de cariz humorístico e crítico de que se podem oferecer como exemplos O Parnaso, O Laroca, O Arauto da Luz, O Sem Peneiras, O Clarinete, O Relâmpago, O Rata ou a 2ª série da Tesoura, a partir de 1999.
De todo o modo, e concluindo, parece evidente que ao longo destes 100 anos de História, O Colégio Militar foi capaz de cumprir os propósitos dos seus fundadores, assumindo-se como um repositório das vivências colegiais e um contributo incontornável para o estudo da própria instituição, ao mesmo tempo que foi desenvolvendo o gosto de muitos alunos pela leitura e pela escrita.
1 Artigo publicado na edição do centenário da Revista «O Colégio Militar», da autoria do professor Marco Fortunato Arrifes, a quem agradecemos a autorização para publicação na Zacatraz.
Catálogo de Autores, Títulos e Imagens nos cem anos da revista «O Colégio Militar»
Sob a direcção do coronel António Salgueiro e do tenente-coronel Rui Rodrigues, com coordenação do professor Marco Fortunato Arrifes, colaboração dos alunos José Ferreira (12/2013), Duarte Velez (164/2013), Tomás Pacífico (326/2013), Bernardo Lopes (338/2013), Carolina Cordeiro (360/2013), Joaquim Ramos (400/2013), Vicente Durão (412/2013), Cláudia Mateus (487/2013), Maria Varão (515/2013), Teresa Simões (327/2015), Henrique Simões (673/2015), Cíntia Barreira (726/2015) e Pedro Lebreiro (777/2015) e com apoio de AT Madalena Passarinho e AT Maria do Céu Marchã, foi publicado, comemorando o centésimo aniversário da Revista «O Colégio Militar», o respectivo Catálogo de Autores, Títulos e Imagens.
Na Nota de Abertura, o director do Colégio, coronel tirocinado de Artilha -
ria António Emídio da Silva Salgueiro (461/1972), esclarece que “No âmbito das comemorações do centenário da Revista «O Colégio Militar», considerou-se útil e oportuno elaborar uma listagem nominal dos artigos e notícias publicados ao longo destes cem anos, bem como dos respetivos autores entre os quais se identificam Alunos e Antigos Alunos, Diretores, Oficiais, Docentes, Mestres, Instrutores e outros Servidores que, em boa hora, deram a conhecer opiniões pessoais, discorreram sobre temas diversos e registaram momentos da vida corrente desta nobre e secular Casa.
A Revista tem uma História, agora revisitada, que nos relembra o quão importante foi a vontade e a resiliência de todos quantos, ao longo deste século, procuraram fazer cumprir o
sonho dos seus promotores dando continuidade à sua preparação e edição sucessiva, alternando períodos de elevada produtividade com outros de completa ausência, prosseguindo, com periodicidade muito variável, a concretização de um desiderato exigente e difícil, mas que foi, felizmente, bem sucedido (…)”.
Na Introdução à obra, o coordenador professor Marco Fortunato Arrifes saúda e celebra os cem anos daquilo que designa como «esta aventura» :
“(…) Só essa longevidade merece ser sublinhada e saudada. Acontece que a essa persistência se adiciona um conjunto de artigos, fotos e desenhos diversificados, da autoria de alunos, professores e oficiais, que se constituem como um arquivo, posto
à disposição de todos os interessados no estudo da História do Colégio Militar (CM):
Foram, por isso, 100 anos de uma presença significativa na comunidade escolar, marcando o ritmo da leitura do quotidiano, do desenvolvimento das atividades letivas, das experiências pedagógicas, das solenidades e comemorações, com capacidade de reflexão e, muitas vezes, com humor.
Deste modo, não se podia deixar de assinalar o centenário desta publicação. Era necessário celebrar o feito e, para tal, optou-se por conciliar as atividades mais simbólicas com a disponibilização de instrumentos de trabalho duradouros e úteis para eventuais investigadores. Por isso, decidiu-se encadernar toda a coleção, tornando mais fácil a sua consulta, sabendo que muito números são difíceis de encontrar e que de alguns apenas se conhecem exemplares únicos. Em breve, também se providenciará a digitalização integral deste espólio, facilitando a sua conservação e, na sequência destas iniciativas, considerou-se útil a elaboração deste Catálogo, o qual pretende proporcionar a todos os interessados uma visão exaustiva do depósito de milhares de artigos do Jornal/Revista e de todos os seus autores (…)”.
Estamos perante uma obra de utilidade indiscutível, muito bem organizada e que exigiu de coordenador e autores muitas horas de cuidado labor, nem sempre empolgante, mas cujo resultado final ficará para sempre como um marco de consulta obrigatória para quem queira conhecer a fundo a história do nosso Colégio. Estão de parabéns todos quantos colaboraram no empreendimento.
Asituação de extrema instabilidade vivida desde a implantação da República mantém-se. No decurso de 1921 surgem constantemente greves de trabalhadores de sectores diversos, bem como golpes e pronunciamentos militares, que têm como consequência sucessivas demissões de Governo, seguidas da formação de outros Governos de curta duração. Igualmente devastadores para a coesão social foram a pobreza generalizada, as reiteradas divergências ideológicas entre partidos políticos e a agressividade dos republicanos mais fanáticos contra a Igreja católica. Nes -
te ambiente de agitação social e política foram eleitos, entre 1911 e 1926, sete Parlamentos, oito Presidentes da República e 45 Governos.
Foi nesta situação de extrema instabilidade que o 28.º Governo , liderado por Liberato Pinto e em funções desde 30 de Novembro de 1920, continuou a governar até 2 de Março de 1921. Logo no dia 3 de Janeiro realizou-se na Ameixoeira um duelo à espada entre os actores Nascimento Fernandes e Alves da Cunha. 1 Dois dias mais tarde, o general Raúl Esteves, 2 que já escapara ileso a vários atentados durante
as greves ferroviárias de 1919, foi de novo ferido por tiros de pistola. Em todo o país, mas principalmente nas grandes cidades, repetiam-se as movimentações populares de protesto contra as difíceis condições de vida. De acordo com o jornal “O Século” , em 17 de Janeiro não havia manteiga à venda em Lisboa, e a que existia era vendida clandestinamente a preços exorbitantes e apenas a amigos.
O 29.º governo foi nomeado a 2 de Março e exonerado a 23 de Maio. Bernardino Machado3 formou um Governo constituindo por diversas forças políticas, mas
1 Apesar de proibidos por lei, os duelos por motivo de honra continuavam a realizar-se e eram presenciados por muitas pessoas. Assinale-se ainda que os contendores eram com frequência apadrinhados por figuras públicas como o presidente da Câmara de Lisboa ou deputados parlamentares.
2 Entre outras importantes funções, desempenhou as de Comandante no Regimento de Sapadores dos Caminhos de Ferro, na Flandres, durante a I GG. Em distintas ocasiões durante as décadas de 1910 e 1920, comandou o quartel dos Sapadores dos Caminhos de Ferro, tendo sido incumbido de pôr cobro a diversos movimentos revolucionários, greves e outras alterações de ordem pública.
3 Bernardino Luís Machado Guimarães foi um dos mais importantes políticos da 1.ª República. Foi Presidente da República por duas vezes: a primeira, de 6 de Agosto de 1915 até 5 de Dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolveu o Congresso e o destituiu, obrigando-o ao exílio; em 1925, voltou à Presidência da República, vindo a ser de novo destituído pela revolução militar de 28 de Maio de1926.
essa circunstância não evitou que também fosse confrontado com grande agitação social durante a sua curta vigência. Entre 7 e 14 de Abril teve lugar uma greve de padeiros marcada por ataques a padarias e repressão policial. Em 21 de Maio, com o pretexto de que se preparava a subida de Bernardino Machado à presidência da República e de Álvaro de Castro a primeiro-ministro, sectores da GNR afectos a Liberato Pinto, sublevaram-se. De madrugada, forças militares saíram do quartel da Graça e foram acampar no parque Eduardo VII. Em 22, juntamente com a Bataria de Artilharia do quartel de Belém e uma Companhia de Infantaria da GNR, ocuparam o quartel do Matadouro. Em face disso, o comandante geral da GNR mandou concentrar na Rotunda as unidades que se conservaram fiéis à Constituição, uma decisão que provocou a debandada dos revoltosos. A revolta foi rapidamente jugulada através de um contragolpe com o apoio maioritário da Marinha mas, apesar de vencida a movimentação, o Governo demitiu-se no dia 23.
O 30.º governo, liderado por Tomé de Barros Queirós, foi empossado a 23 de Maio e exonerado a 30 de Agosto. De origem humilde (começou a trabalhar aos oito anos com caixeiro numa casa comercial de Lisboa), frequentou ainda jovem a Escola Elementar de Comércio de Lisboa, tendo acabado por se revelar como um dos mais bem-sucedidos comerciantes da capital. O seu mandato ficou marcado pela tentativa desesperada de recorrer a um crédito externo, anunciado como salvador do país e nunca concretizado, facto que precipitou a queda do Governo. Em 17 de Junho, os comerciantes da capital encerraram os estabelecimentos em protesto contra as frequentes greves dos carros eléctricos, que lhes acarretavam graves prejuízos. No dia seguinte, o director-geral dos hospitais, Dr. Hermano de Medeiros, proclamou a necessidade urgente de isolar os 1500 leprosos identificados no país. Em 26 de
Julho, a imprensa denuncia o problema recorrente da falta de electricidade nalgumas ruas da capital, que só eram iluminadas por subscrição entre os moradores. Em 13 de Agosto, tornou-se notícia a falta de água em Lisboa, havendo bairros nos quais a polícia autorizou a abertura das bocas de incêndio para abastecimento à população. No dia 19 de Agosto terminou a greve dos trabalhadores de hotéis, restaurantes, casas de pasto e cafés.
O 31.º governo, empossado a 30 de Agosto e exonerado a 19 de Outubro, foi chefiado por António Granjo, um dos mais conhecidos políticos da 1.ª República. Eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte em Maio de 1911, opôs-se á participação de forças portuguesas na 1ª Grande Guerra e foi por diversas vezes deputado e ministro. Foi um dos fundadores do Partido Liberal Republicano, surgido em 1919 em resultado da fusão dos dois maiores partidos conservadores da altura, o Partido Evolucionista e o Partido Unionista.
A miséria continuava a grassar em todo o país. Em Lisboa, em plena Avenida da
há
Liberdade, famílias inteiras enroscavam-se em trapos para passarem as noites. Em 30 de Setembro registou-se mais uma tentativa de golpe de estado dirigido pelo coronel Manuel Maria Coelho, que foi preso e mais tarde libertado por ordem de António Granjo. Em 1 de Outubro, explodiu uma bomba na sede da Juventude Socialista. No dia 19 desse mês, uma junta militar que incluía o coronel Manuel Maria Coelho, iniciou novo movimento revolucionário em Lisboa, no decurso do qual alguns grupos radicais protagonizaram acções de grande ferocidade que ficaram conhecidas como a «Noite Sangrenta», tendo sido assassinados diversos políticos de relevo como Machado Santos, um dos fundadores da República, o próprio primeiro-ministro António Granjo e Carlos da Maia, revolucionário do 5 de Outubro.
O golpe militar de 19 de Outubro teve como consequência a queda do Governo de António Granjo e a nomeação do 32.º governo, liderado por Manuel Maria Coelho, um oficial do Exército e membro da Maçonaria, que já desempenhara as funções de deputado e de governador de
Angola, para além de intensa actividade na imprensa, tendo sido director, fundador e colaborador de diversas publicações. Foi um dos principais protagonistas da fracassada revolta de 31 de Janeiro de 1891, motivo pelo qual foi condenado a 5 anos de degredo em Angola. Governou apenas 15 dias, no decurso dos quais a agitação popular não se acalmou, tendo-se registado, entre outras acções violentas, em 31 de Outubro, um atentado à bomba contra o consulado dos Estados Unidos, em protesto contra a condenação à morte dos anarquistas norte-americanos Sacco e Vanzetti. Demitiu-se em 3 de Novembro, pretextando que temia um desembarque de forças militares estrangeiras.
O 33.º governo, empossado a 5 de Novembro e exonerado a 16 de Dezembro, foi liderado por Carlos Maia Pinto, um oficial do Exército que, entre outras funções de relevo,
exerceu as de deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1911 e ministro das Colónias. Participou em diversas conjuras contra o regime monárquico que se sucederam à Revolta de 31 de Janeiro de 1891, tendo publicado violentos artigos antimonárquicos na imprensa do Norte do país e desenvolvido persistente acção de propaganda republicana no interior dos quartéis daquela região. No decurso da 1ª Grande Guerra comandou em França uma Bataria de Artilharia integrada com forças inglesas e francesas. Durante a vigência do seu Governo, o clima de instabilidade política não parou de se deteriorar e em 9 de Novembro ocorreu um dos mais graves incidentes do período: o descarrilamento criminoso do comboio Correio do Sul que provocou sete mortos. O Governo demitiu-se em 16 de Dezembro.
O 34.º governo tomou posse a 16 de Dezembro de 1921 e foi exonerado a 6 de
Noite Sangrenta é a designação pela qual ficou conhecida a revolta militar ocorrida em Lisboa a 19 de Outubro de 1921, alegadamente motivada pela demissão do governo de Liberato Pinto, e protagonizada por militares da GNR, do Exército e da Armada.
No decurso dessa noite, um pequeno grupo de praças das três Forças, impulsionado pelo cabo marinheiro Abel Olímpio, por alcunha Dente de Ouro, maltratou ou assassinou conhecidas personalidades da vida pública nacional. O primeiro foi António Granjo, chefe do governo entre 30 de Agosto e 19 de Outubro, o qual fugira de casa a meio da tarde para se refugiar na residência de Cunha Leal, curiosamente seu adversário político. Após contactos infrutíferos com outros políticos, ambos se resignaram a ser levados para o navio Vasco da Gama, onde ficariam a salvo. Porém, foram encaminhados para o Arsenal da Marinha, onde Granjo foi imediatamente ferido com dois tiros no pescoço. Depois de tratado na enfermaria, recolheu a um quarto. Aí o foi descobrir um grupo de revolucionários para o crivar de balas. Após o que um corneteiro da GNR
Fevereiro de 1922. O seu chefe era Francisco Cunha Leal, mais um militar que fez carreira na política, tendo sido deputado, ministro por diversas vezes e reitor da Universidade de Coimbra. Com a patente de capitão, integrou o Corpo Expedicionário Português enviado para França durante a 1ª Grande Guerra. O Governo, constituído por membros de vários partidos, nunca se revelou capaz de restaurar a ordem pública profundamente abalada pelos acontecimentos da "Noite Sangrenta". A situação era de tal modo melindrosa que, em 27 de Dezembro, perante a ameaça – concreta ou simplesmente imaginada – de revolta a cargo de forças da GNR, Cunha Leal refugiou-se no forte de Caxias e chamou o Exército, sob o comando de Gomes da Costa, para restaurar a ordem pública. Finalmente, os maus resultados das eleições de 29 de Janeiro de 1922 conduziram à queda do executivo.
lhe cravou um sabre no ventre. Entretanto, Cunha Leal foi também ferido a tiro. Felizmente sobreviveu, para denunciar no julgamento a cobardia de alguns oficiais que presenciaram impávidos os desmandos. Seguiu-se o capitão de fragata Carlos da Maia, morto à coronhada mal entrou no Arsenal. Às duas da madrugada, a «camioneta fantasma» bateu à porta da residência de Machado Santos, um dos nomes maiores do 5 de Outubro. Uma vez embarcado o almirante, a camioneta dirigiu-se para o Arsenal, mas avariou no Intendente. Aqui mesmo o fuzilaram. Seguiu-se o chefe de gabinete do ministro da Marinha, comandante Freitas da Silva, abatido pela turba à porta do Arsenal. Ferido a tiro, o coronel Botelho de Vasconcelos virá a morrer no hospital.
Um tribunal militar condenou o Dente de Ouro a 12 anos de prisão e 20 de degredo. Nenhum dos oficiais que instigaram a sublevação foi condenado.
4 Respigado do número 702 da Sábado, de 12 de Outubro de 2017.
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948) é autor de significativa obra literária, com enfoque especial nas décadas de 1950, 1960 e 1970, e foi durante vários anos o coordenador e grande impulsionador da colecção «Fim do Império», que se ocupa dos últimos anos da presença de Portugal em África e na Ásia.
Neste livro, Manual Barão da Cunha regressa aos temas presentes nas suas primeiras obras, numa viagem de seis décadas que cobre diversos países em quatro continentes. Como ele próprio anuncia na Introdução, decidiu aproveitar algum material dos seus anteriores livros para estruturar um novo, desta vez em registo coloquial e autobiográfico.
Na 1.ª Parte, o autor leva-nos a Angola e à Guiné, os territórios africanos de Portugal onde combateu e dos quais guarda recordações fortes. Como ele próprio confessa,
ali passou «tempos difíceis e para esquecer, para nos libertarmos deles; tempo de guerra que revela o muito de negativo que há no Homem, mas também mostra o muito de positivo». De caminho apresenta-nos camaradas com personalidades variadas, gente que o acompanhou nesta viagem pelos últimos dias do Império.
Na 2.ª Parte fala-nos dos dias perturbados que se seguiram ao golpe militar de 25 de Abril, da difícil divulgação do seu livro Radiografia Militar, que foi alvo de boicote pelos responsáveis da distribuidora – um desenvolvimento incompreensível num país que acabara de aceder à democracia. Deambulou por França e Espanha, onde foi entrevistado por diversos órgãos de Comunicação Social e onde confraternizou com camaradas fugidos aos desmandos do PREC. Regressado a Portugal, interroga-se sobre as consequências dos combates travados em África em entrevistas na RTP e na RDP.
Na 3.ª Parte, Manual Barão da Cunha fala-nos da sua vida multifacetada nos sectores da cultura e do desporto e da forma como neste período da vida foi conduzido para outros sonhos. Uma época que, pode suspeitar-se, terá influenciado o título do livro.
OCosta Matos (96/1950), incansável historiador do nosso Colégio, presenteou-nos com mais um excelente trabalho de investigação. Na Introdução, o autor expressa a sua satisfação por podermos agora conhecer “(…) quando, como e porquê, nasceu a Revista da Associação, quais os seus conteúdos, o que tem sido a sua evolução, e também quem foram aqueles que lhe deram vida, a acarinharam e a fizeram chegar até aos dias de hoje (…)”.
O primeiro número da Revista, sob o título Boletim da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar , foi publicado em 1957, sendo seu principal impulsionador José Godinho Gama Barata (121/1921). Apesar de todo o empenho do fundador, o Boletim cessou a publicação em Março de 1959, com apenas quatro números.
Em Outubro de 1965 foi lançado o primeiro número da Revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar , num formato que durou até Abril de 2010.
Entretanto, em Janeiro de 1968, a Revista passou a sair com um visual mais apelativo, mas em 1976 a capa retomou o grafismo inicial, agora em tons de azul e branco.
Em 1983, nova alteração: o formato reduziu-se e a capa tornou-se numa espécie de negativo da anterior.
Em 1986, a Revista manteve o for-
mato anterior mas a capa passou a exibir tons de amarelo e castanho, com uma barretina no canto superior esquerdo.
Em 1994 foi inaugurada nova capa, desta vez tendo como elemento central uma fotografia de acontecimento alusivo à vida do Colégio ou da AAACM.
Em 2007, nova transformação, passando a capa a ostentar o emblema da Associação sobreposto à fotografia. Finalmente, em 2010, a capa começou a exibir o título ZacatraZ , o formato cresceu para 20 x 26.5 cm e os textos passaram a ser mais profusamente ilustrados.
O trabalho a que o Costa Matos meteu ombros permite-nos agora aceder de forma simplificada ao conteúdo das Revistas, cujos artigos são apresentados por data, número de publicação, número de página, título e autor (com indicação do número e ano de entrada no Colégio quando aplicável). A obra inclui ainda uma coluna de anotações, em número de 379, a qual nos faculta elementos identificadores dos Antigos Alunos relacionados com os textos dos artigos (p. ex.: o n.º 22 de 1971, inclui um artigo sob o título Antigos Alunos condecorados; a anotação n.º 70 fornece a lista completa).
Estamos perante uma obra de enorme rigor, no registo a que nos habituou o Costa Matos, a quem ficamos
a dever mais um valioso trabalho em prol da nossa Associação e dos Antigos Alunos.
Nesse tempo a miudagem Enquanto o pai combatia Andava na vadiagem Sem qualquer aprendizagem P’rás bandas da Feitoria (repete as três últimas linhas)
Esta Casa tinha e tem, Entre muitas tradições, Os «Fantasmas», calha bem, Que assustam com desdém, À noitinha, os mais «cagões»…
(repete as três últimas linhas)
Foi num forte à beira-mar Que esta Casa enfim nasceu Pela mão de um militar: Pôs os «putos» a estudar E o Colégio floresceu.
(repete as três últimas linhas)
Mas certa noite houve alguém Com voz corajosa e alta: – “Ó Fantasma, nota bem, Que hoje não fique ninguém A querer assustar a Malta!”
(repete as três últimas linhas)
Perante o espanto geral, Logo o lençol se desfaz: Era o próprio Marechal. Houve forte «cagaçal»
E gritou-se um ZACATRAZ. (repete as três últimas linhas)
A letra do fado "Embuçado" é uma homenagem do autor ao Rei D. Carlos, que apreciava muito os fados e a guitarra portuguesa. Segundo o historiador Rui Ramos, o gosto de D. Carlos enquadrava-se "numa viragem no fim do século XIX em que se revaloriza o que é nosso, a vida rural, as toiradas, o fado, etc.". A letra é da autoria de Gabriel de Oliveira e foi cantada pela primeira vez pela cantadeira Natália dos Anjos, com música composta pelo guitarrista José Marques Piscalarete.
Ainda segundo Rui Ramos, o Rei ia com frequência a patuscadas, nomeadamente para a Costa de Caparica, onde contactava com as classes populares, mas também frequentava solares fidalgos onde se tornara hábito ouvir fadistas populares expressamente convidados para cantar o fado. Segundo a crença popular, D. Carlos teria assistido a esses serões embuçado, para não ser identificado.
Romagem de 50 Anos de Entrada 22 de Outubro de 2021
©Foto Leonel TomazÉcom imenso prazer que voltamos a publicar uma notícia de uma reunião de curso no Colégio, para comemorar, em romagem de saudade, um aniversário de entrada ou saída do mesmo. Vencemos a maldita covid-19 (oxalá não haja recaídas). Durante ano e meio, deixámos de ter estas notícias, que foram substituídas por um número anormalmente alto de notícias de falecimentos de camaradas nossos, que não resistiram à pandemia. Chegámos a noticiar mais de uma dúzia de falecimentos num só número da revista.
Ainda não voltámos à completa normalidade. Por outro lado, os Antigos Alunos «romeiros» não puderam almoçar no Colégio, ainda por precaução sanitária. Noutros tempos, teriam
ido confraternizar para alguma tasca de Carnide. Presumimos que terão ido almoçar a algum restaurante «chic»
Para memória futura, apresentamos de seguida a lista dos participantes nesta romagem, que ainda terão de penar mais uma dezena de anitos, até poderem aceder ao clube selecto da «Velha Guarda» . Os nossos parabéns a esta «malta».
João Manuel Candeia dos Penedos (19/1971) Francisco Miguel Teixeira de Sousa Ferreira (23/1972) Eduardo Alberto Vieira de Meireles Corte Real (27/1971) Victor Manuel Reynal de Ataíde Saraiva Marques (33/1971) Luís Aurélio Gomes Moreno de Matos Trindade (61/1971) Gabriel José Cardoso do Nascimento Mendes
(62/1971) Diogo Jorge Ventura Oliveira e Carmo (69/1971) Rui Vasco Tavares de Azevedo Félix (73/1971) Luís Filipe Castanheira Coelho (94/1972) Edmundo José Henriques Melo do Cruzeiro (95/1971) Pedro João Braz da Costa Álvares (96/1971) Paulo Jorge Pereira Gomes (106/1973) Pedro Manuel Loureiro Ramires Ramos (106/1971) Rogério Pedro Rebelo Candoso (128/1971) Diogo Campos Barradas de Lacerda de Machado (136/1971) Paulo Daniel Beckert Rodrigues (157/1971) Nuno Miguel Feio Ribeiro Mateus (169/19719) António Miguel Dias Costa Brochado de Miranda (191/1970) Paulo Manuel Santos Lestro Henriques (200/1973) Miguel Avelino Cardona Petrucci Guterres da Fonseca (202/1971) José Ricardo Gonçalves Monteiro
(223/1971) João Monteiro Cristiano Casquinho (237/1971) Miguel João Alves Rita (240/1972) Nuno Miguel Ferreira Esquível Carrilho Ribeiro (246/1971) Nuno José de Melo e Sousa Braga Gonçalves (257/1971) João Paulo de Almeida Rainha Perry da Câmara (270/1971) António Manuel de Carvalho Simas e Couceiro Braga (278/1971) Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho (307/1971) Carlos Manuel Fernandes Ferreira (320/1971) Aníbal Manuel Nogueira Gorjão (328/1971) Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo (329/1972) Vasco Manuel Felgueiras Ferreira (340/1971) António Leopoldo Diniz Monteiro Junqueira Coelho (360/1971) António Pedro Duarte da Mota Cardoso (375/1971) Rui Ale -
xandre da Costa Soares (398/1970) José Alberto de Magalhães Valdez Bragança Moutinho (407/1971) João Alberto Barreira da Costa (435/1971) Ruben das Neves Salvador Barata Pires (481/1973) Guilherme Eduardo Lickfold de Novais e Silva (488/1971) João Artur Maciel de Soveral (541/1971) António José Osório Dias da Silva (581/1971) João Nuno Santos Trabucho (588/1973) José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973) José Maria Gouveia de Azevedo e Bourbon (598/1971) Carlos Francisco Varela Costa Romano Colaço (599/1970) Alberto Luís e Silva Maria dos Santos (618/1970) Victor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves (666/1971).
Romagem de 50 Anos de Saída 29 de Outubro de 2021
Esta é a segunda notícia que damos sobre o reatamento das «romagens de saudade» de Antigos Alunos ao Colégio, para comemoração de aniversários de entrada ou saída da «Casa Mãe» O curso que hoje é notícia, devia ter feito a sua «romagem» há um ano atrás, mas tal não foi possível, pelos motivos de todos conhecidos. Não se conformaram, assim que surgiu a primeira oportunidade tocaram a reunir e apresentaram-se em peso na Luz. Segue a lista dos «romeiros».
Francisco Honorato Duarte Silva Sepúlveda (1/1963) Francisco José Petrucci Guterres da Fonseca (13/1963) Pedro Gonçalo de Oliveira Cid Peixeiro (15/1963) Luís Raimundo da Silva Gerald Oliveira (23/1963) Jorge Fernando da Cruz Cordeiro (27/1963) Carlos Manuel Carrilho Roma Torres (35/1963) Manuel de Carvalho Lopes Alves (39/1963) Nuno Espirito Santo Leite de Faria (43/1963) António Maria de Lancastre de Melo e Castro (50/1963) Filipe Soares Franco (62/1963) Marcial António Estrela Rodrigues (81/1963) Carlos Alberto
da Costa Pimenta Machado (83/1963) Vítor Manuel Lopes Centeno (87/1963) José Manuel Lopes Piairo (140/1962) António José da Encarnação Alcobia dos Santos Nunes (147/1963) João Carlos Pereira Peres Brandão (163/1963) José Manuel Marques Ribeiro de Faria (173/1963) José António Paulos de Almeida Nave (178/1962) Artur Joaquim dos Reis Ferreira (274/1962) José António Marques Salgado Lameiras (281/1963) Luís Manuel Fé de Pinho (288/1962) Carlos Manuel Dias Lima Costa (340/1963) Rui Manuel Franco de Sousa Carrusca (347/1963) João Abel Rodrigues Baptista da Fonseca (384/1964) Jorge Manuel de Mendonça Mergulhão (385/1963) José Manuel Duarte Presa Fernandes (403/1963) Luís Fernando Bernardes dos Reis (429/1962) José António Ribeiro Portelo (431/1963) João Miguel de Castro Rosas Leitão (441/1963) Nuno Manuel Vaz Amigo de Figueiredo (465/1963) José Francisco Beato Ribeiro Cruz (473/1963) Luís Manuel Gomes do Prado Quintino (474/1963) José Augusto
Ramos Rocha (514/1964) Manuel António Esquível Ribeiro Fernandes (516/1963) Luís Alberto Quiman da Costa Sousa de Macedo (517/1964) Victor Manuel Patrício Correa Mendes (524/1963) António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963) José Manuel Spínola Barreto Brito (539/1963) José Manuel Granja Gomes da Silva (586/1961) Luís Miguel Moreira de Almeida Santos (607/1962) José Manuel Cabanas Nunes Pantaleão (614/1962) Luís Filipe Magalhães de Aguiar(616/1962).
No passado n.º 224, de Julho/Setembro de 2021, da ZacatraZ, publicámos o artigo intitulado «O 1.º Guião do Colégio Militar». Nesse artigo indicámos que o primeiro guião do Colégio Militar foi apresentado, oficialmente, pela primeira vez, na festa de encerramento do ano lectivo de 1941/1942, acompanhando a apresentação de uma classe de ginástica do Colégio. Essa festa foi presidida pelo subsecretário de Estado da Guerra, Capitão Santos Costa, a quem o Director interino do Colégio solicitou autorização para o Colégio utilizar aquele guião.
O Aluno que foi o porta-guião na apresentação referida, foi João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935), recentemente falecido, que era graduado de duas estrelas da 2ª Companhia e que nas cerimónias desempenhava a função de porta-bandeira. Naquele tempo, não existia a graduação de porta-bandeira. Essa graduação existiu nos dois primeiros anos lectivos da década de 30. De seguida, deixou de existir, para surgir de novo no ano lectivo de 1948/1949, mantendo-se, sem interrupção, até aos nossos dias.
Após a redacção do artigo anteriormente referido, tivemos acesso a alguma documentação pessoal de João Salgueiro Pinto Ribeiro, arquivada numa pasta com a designação «Guião do Col. Mil.», onde fomos encontrar informação adicional à anteriormente apresentada e que vale a pena divulgar.
Recordamos, que no artigo anterior, apresentámos a descrição heráldica do guião de 1942, tal como constava na Ordem de Serviço n.º 175, de 23/6/1942. Na nova documentação agora consultada, verificámos que essa descrição heráldica do guião era seguida da descrição das bandeirolas de cornetas e clarins e de caixas (caixas de guerra, vulgarmente conhecidas como tambores), na mesma ocasião criadas. Em nota manuscrita por João Pinto Ribeiro, indicava-se, que não se conhecia qualquer proposta formal, apresentada «pelas vias competentes», para a autorização do uso do guião de 1942. Consequentemente, também não se conhecia qualquer documento de autorização, devidamente datado e assinado.
Na documentação consultada, consta um recorte do jornal «Diário de Lisboa», de 6/6/1942, com uma notícia intitulada «Encerramento dos trabalhos no Colégio Militar com a assistência do subsecretário da Guerra». A notícia era do seguinte teor:
«Os Meninos da Luz tiveram hoje a sua festa final deste ano lectivo, que começou às 9 horas, com missa, primeira comunhão e crisma, presidindo o sr. Bispo de Helenople. Estas cerimónias celebraram-se na igreja de Nossa Senhora da Luz. Em seguida, aquele prelado assistiu ao almoço no Colégio e á distribuição dos prémios do campeonato atlético colegial.
Às 15 horas, chegou ao largo fronteiro ao edifício o sr. comandante Silva Monteiro, ajudante de campo do sr. Presidente da República, e segundos depois o sr. capitão Santos Costa, subsecretario de Estado da Guerra… (seguia-se uma extensa lista de entidades convidadas presentes e a indicação da presença das famílias dos alunos). A banda de Infantaria 1 tocou sucessivamente a «Portuguesa» e a «Maria da Fonte» e o subsecretário da Guerra passou revista
ao batalhão em parada, sob o comando do aluno Abrantes.( devia ser um lapso, dado o comandante de batalhão naquele ano ser o aluno 294/1935 Marques da Cunha).
Depois da continência, o batalhão de alunos desfilou, sendo visitada a exposição de alguns aspectos da vida colegial.»
A notícia continuava, descrevendo a distribuição de medalhas e prémios a alunos, uma exibição do orfeão colegial, exibições de esgrima, exercícios militares, onde se incluía tiro de morteiro (????) e prova de metralhadoras (????), finalizando tudo com uma sessão no campo de obstáculos, onde os alunos do 7º ano disputaram uma prova de equitação e onde houve «Musical chair». (dança das cadeiras feita com conjuntos de cavaleiros/cavalo, havendo sempre um número de cadeiras inferior numa unidade ao número de conjuntos).
Esta notícia era acompanhada de uma fotografia, que aqui reproduzimos, com o Porta-Bandeira e a sua escolta a desfilarem perante o subsecretário de Estado da Guerra.
Da documentação consultada constavam ainda duas notícias, uma do jornal «Diário de Notícias» e outro do jornal «O Século», relativas à marcha efectuada no exterior do Colégio, num outro dia, para apresentação ao público do Guião do Colégio. Ambas as notícias eram acompanhadas de fotografias, em que se destacava o novo guião, na vanguarda da formatura. Optamos por transcrever a notícia publicada no jornal «O Século»
«Os alunos do Colégio Militar tiveram ontem um passeio de instrução. Às 17 horas, devidamente armados, saíram do estabelecimento, dirigindo-se pela estrada de Telheiras para o Campo 28 de Maio(Campo Grande?).
À frente do batalhão a duas companhias, o aluno Marques da Cunha. Um pouco mais atrás, conduzindo o novo guião, em que avulta a legenda «Servir», o aluno Pinto Ribeiro.
Aprumados, dignos, disciplinados, os rapazes dirigiram-se para o campo do Joc-
key. Já ali estavam os srs capitães Casais e Décio de Freitas e alferes Sarria e Ramalho, em serviço no Colégio.
Ia ser-lhes dada uma refeição fria. Em dado momento, ecoou o toque de sentido: chegara um antigo aluno do estabelecimento, o sr. general Craveiro Lopes. Todos se aprumaram militarmente.
Pouco depois, os rapazes retiraram do campo do Jockey. Com grande dignidade e disciplina, os rapazes seguiram pelas avenidas da República e Duque de Ávila para atingirem S. Sebastião da Pedreira.
Aí tomaram carros elétricos para o regresso».
Encontrámos também na documentação uma interessante foto deste «passeio de instrução», que também reproduzimos no presente artigo.
Na documentação consultada consta um curto relatório, de 15 de Julho de 1952, de uma comissão formada por dois oficiais do Colégio, destinada a informar o Direc-
tor acerca das «denominações históricas e tradicionais, divisas e legendas, distintivos, bandeiras e guiões do Colégio Militar». Esta comissão faz uma descrição do guião de 1942, de acordo com a publicada naquele ano, e refere o seguinte relativamente aos galhardetes para as cornetas e clarins «são idênticos no desenho ao guião, mas mais simplificado. São de 0,25 m x 0,25 m, em seda, bordados a retalho e bordados a retroz amarelo ouro. Sobre a parte central (Bandeira da Fundação) apenas tem bordado a amarelo ouro o monograma CM encimado pela coroa mural. Os quatro cantos da orla são brancos sem qualquer bordado. Cordões e borlas em azul e amarelo ouro.»
Uma questão que há anos nos intrigava, consistia na razão que teria levado à substituição do guião de 1942, de que tanto gostávamos, por um outro, quanto a nós, de muito menor beleza. Soubemos há pouco tempo, que o guião de 1942 tinha a mancha de um «pecado original». Tal «pecado» consistia no facto de incluir, no seu centro, a esfera armilar com o brasão nacional, símbolos estes reservados, nas Forças Armadas, aos estandartes e bandeiras nacionais.
Em 1963, o Exército terá decidido fazer um levantamento da situação dos símbolos em uso nas suas diferentes Unidades e Estabelecimentos. Nesse sentido foi enviada uma directiva aos mesmos, no sentido de informarem acerca da situação específica de cada um. Na sequência dessa directiva, a 6 de Novembro desse ano, o Colégio Militar enviou ao Director do Serviço Histórico-Militar, o seu ofício n.º 1519/SM, com os desenhos dos símbolos em uso no Colégio, a saber: guião, galhardete de fanfarra, galhardete, monograma e distintivos. Reproduzem-se neste artigo os desenhos enviados. Esclarecia-se no ofício enviado pelo Colégio, que apenas o monograma estava oficializado (Decreto 37.211, de 11/12/1948). Informava-se
também no ofício, que a bandeira Nacional do Batalhão Colegial tinha a legenda «Batalhão de Alunos do Colégio Militar» e que a divisa do Colégio era «Servir».
A observação das reproduções dos desenhos que acompanhavam o ofício, que aqui reproduzimos, suscitam-nos as seguintes reflexões:
- O monograma que se encontra nos quatros cantos do guião de 1942, é idêntico ao que foi apresentado com o ofício e que, como já foi referido, foi oficializado em 1948. Curiosamente, sem que conheçamos a justificação, o monograma que se encontra nos quatro cantos do guião de 1966 é diferente. No entanto, o monograma que até hoje perdurou, foi o oficializado em 1948. Já vai a caminho dos três quartos de século, de existência.
- Aquilo que se designou por «distintivo», é algo que heraldicamente nos pa-
rece estranho. O losango representado pretenderia reproduzir o escudo que se encontra na frontaria do edifício principal do Colégio (antigo hospital de Nossa Senhora dos Prazeres), sob a coroa e sob a imagem de Nossa Senhora dos Prazeres (a «Santa» na gíria colegial). O escudo tem, do seu lado direito, a lisonja da Infanta D. Maria, (filha do Rei D. Manuel I e da Rainha Dona Leonor), que promoveu a construção do hospital, a expensas suas.
Do lado esquerdo, o escudo da frontaria está vazio, dado a Infanta não se ter casado. Alguém decidiu, no «distintivo» em análise, ocupar aquele lado esquerdo com uma barretina, símbolo usado pelos Antigos Alunos e pela sua Associação. Tê-lo-á feito na melhor das intenções, para «equilibrar» o escudo, relacionando assim a Infanta com o Colégio. Foi um acto algo abusivo, feito sem o conhecimento e, mais grave ainda, sem o consentimento da senhora Infanta, há muito falecida. Como poderia a Infanta admitir, unir-se a
um Colégio que ainda não existia? Apesar de o acto ter sido abusivo, a coisa pegou. Lembramo-nos de ver viaturas do Colégio com este «distintivo» nas portas e cremos haver ainda no Colégio alguns destes «distintivos». Enfim, uma originalidade ou uma fantasia. O leitor que opte pela designação que mais lhe aprouver.
Estas coisas da heráldica e da vexilologia (estudo das bandeiras, estandartes e insígnias) tem os seus «quês». No nosso Exército foi criado, em 1966, o Gabinete de Heráldica do Exército, com a missão global de ordenar a heráldica e vexilologia do Exército. À criação deste gabinete, admitimos não ter sido alheia a enorme
proliferação de guiões adoptados pelas Unidades mobilizadas para o Ultramar, em que parecia não haver limites à imaginação dos que os concebiam. Alguém terá pensado que era preciso pôr ordem naquilo. Havia guiões para todos os gostos, dos mais bonitos aos mais bizarros. Não sabemos se existe alguma colecção completa dessa quantidade enorme de guiões que foram na altura criados. Mereceria ser vista.
Em 1969, por Portaria 24.107, de 3 de Setembro, foram aprovadas as Normas de Heráldica do Exército e o Regulamento de Simbologia do Exército, que presumimos terem sido fruto do trabalho do referido Gabinete de Heráldica. Este gabinete veio a integrar-se, em 1976, no Serviço Histórico-Militar.
O guião actual do Colégio, adoptado em 1987, deverá seguramente já ter sido concebido de acordo com este novo normativo. A sua descrição heráldica é a seguinte:
«Em fundo verde um zimbório, sustendo uma cruz de Cristo, ambos em prata, representando o edifício principal das instalações do Colégio, tendo como base os claustros e como remate a cobertura da capela;
Distintivo.
Monograma.
A cruz de Cristo, símbolo pleno da fé e do patriotismo;
As Lucernas, a ouro, símbolo da luz do espírito, da fé viva e da força da sabedoria, alicerces da juventude em formação educativa.
Os esmaltes significam:
A Ouro – o ideal que presidiu à fundação do Colégio Militar, buscando a sabedoria, a força anímica, o amor e a fidelidade à Pátria na educação dos seus alunos;
A Prata – a riqueza que uma juventude encerra, no seu interior, plena de esperança, e de pureza de ideais;
A Vermelho – a força de uma juventude bem formada no seio da sociedade que integra;
A Verde – a esperança da juventude na educação e também nela própria, no futuro.»
Para os mais curiosos acerca das questões da heráldica militar, podemos informar que o Exército publicou, em 1996, uma obra monumental, designada por «Armorial do Exército Português», com base na orgânica do Exército no ano de 1992. Desse «Armorial» constam as Armas, ou Brasões de Armas, de todos os órgãos do Exército, onde se inclui, naturalmente, o Colégio Militar. Lá está o nosso Brasão de Armas. O Colégio, não sendo membro da nobreza, tem os seus pergaminhos. Há que respeitá-los….
(Por decisão do Editor e com o acordo do Autor do artigo)
O foco é o automóvel...
O Sr. Fernandes chegou a casa 20 minutos mais cedo do que costumava chegar, porque o automóvel gastou 20 minutos a menos que o tempo que costumava gastar todos os dias.
O percurso que o automóvel não fez foi o seguinte: desde o ponto em que o Sr. Fernandes o apanhou, até à estação e regresso a esse mesmo ponto. Portanto, o automóvel ainda demorava mais 10 minutos a chegar à estação (quando o sr. Fernandes o apanhou para ir para casa)
Temos então o produto das idades a ser 36.
Decompomos 36 em factores primos para acharmos todas as combinações possíveis:
1 x 1 x 36 = 36 Soma=38
1 x 2 x 18 = 36 Soma=21
1 x 3 x 12 = 36 Soma=16
1 x 4 x 9 = 36 Soma=14
1 x 6 x 6 = 36 Soma=13
2 x 2 x 9 = 36 Soma=13
2 x 3 x 6 = 36 Soma=11
3 x 3 x 4 = 36 Soma=10
quais são as várias somas ...que estão inseridas à direita.
Todas as hipóteses são diferentes umas das outras (o que solucionaria o problema para quem conhece o número da porta) excepto duas das hipóteses que dão 13 de soma; como o amigo diz que ainda não sabe a solução do problema, isso significa que o nº da porta tem de ser o 13!
O pai das crianças concorda e diz que 'o mais velho toca piano', dando-lhe o dado que soluciona o problema ( tem um filho mais velho que os outros)
Entraram em 1936 para o Colégio Militar. O 110, o 282 e o 302, respectivamente o Luíz Teixeira Diniz, o Luís Quintino Rogado e o José Luís Almiro Canêlhas (meu pai). Criaram uma forte amizade durante o internato e saíram sete anos depois, optando os dois primeiros pela Medicina, e o terceiro pela carreira militar.
OLuis Manuel Teixeira Dinis foi comandante aluno da primeira companhia no nosso colégio no ano 1942/43. Jamais o esqueceremos porque nos ensinou desde cedo a “Arte de Liderar” ou seja a arte de saber conduzir com amor, humildade e generosidade. Nós uns simples “ratas” gostámos da dedicação e a exigência pelo o exemplo.
A sua vida continuou um exemplo de Humanismo e Integridade para todos que o recordam com especial respeito e carinho. Licenciou-se em Medicina em 1949 e foi mobilizado para a India como cirurgião militar de 1958 a 1960. Aqui como médico e cirurgião foi muito apreciado, pois operava até gratuitamente aqueles que mais precisavam. Em 1963 doutorou-se em Medicina e de 1963 a 1968 foi chefe de clinica no Hospital de Santa Maria e professor agregado na Faculdade de Medicina.
Em 1968 foi convidado para professor (encarregado da regência) na Universidade de Luanda. Em 1970 regressa de Luanda ao Hospital de Santa Maria e à Faculdade de Medicina de Lisboa, sendo responsável por várias cadeiras de cirurgia e cirurgia vascular, ficando famoso na cirurgia dos aneurismas da aorta.
Completou 68 anos de casamento e deixou 10 filhos, 28 netos e já 18 bisnetos. Sendo o filho mais novo, padre na Sé de Leiria.
Sempre teve estreito relacionamento com os camaradas do Colégio. Bem hajas por tudo e que a tua alma esteja na eterna paz de Deus.
As suas vidas decorreram cheias das vicissitudes próprias de quem percorre o caminho que constrói, e por isso caracterizaram-se por um balanço natural entre alegrias e contrariedades, não isentas de riscos e de sacrifícios, granjeando merecidamente o reconhecimento dos seus pares. Cada um, nas suas vocações profissionais, atingiu o topo das suas carreiras. Dali saíram dois Professores Catedráticos e um General. Apesar de carreiras distintas souberam solidificar essa amizade ao longo de mais de 80 anos, estando mutuamente presentes nas mais relevantes comemorações familiares.
Roberto Durão (15/42)
e Nuno Cepeda (310/41)Mais tarde, com mais tempo, e já no gozo das suas merecidas reformas, organizaram-se numa espécie de tertúlia por forma a se encontrarem periodicamente para conversar, muitas vezes até altas horas da madrugada. A este grupo juntou-se posteriormente o Coronel Duarte da Fontoura (que
não era ex-aluno) cunhado do meu pai. O ritmo activo das suas vidas, prolongou-se para além dos 90 anos, quase sem se aperceberem que tudo tem um fim.
Neste ano de 2021 tudo aconteceu como um dominó. Por cruel ironia do destino, o meu pai faleceu a 17 de Janeiro, o Prof. Quintino Rogado a 5 de Abril, o meu tio Cor. Fontoura a 29 de Junho, e o Prof. Teixeira Diniz a 18 de Julho. É um ano que fica marcado de uma forma muito triste na memória dos familiares e amigos. O Prof. Teixeira Diniz, já doente, ainda arranjou forças para escrever um belíssimo texto sobre o meu pai na revista ZacatraZ. Eu, o seu filho mais velho, ex-aluno, não por acaso com o mesmo nome e o mesmo número, irei tentar descrever um pouco do que foi a sua vida, na certeza de que pecarei por defeito na descrição da sua cativante personalidade e do brilhantismo de que se revestiu a sua vida profissional.
Nasceu a 26 de Abril de 1926 em Luanda. Em 1932 o seu pai, o Almirante Fernando Teixeira Diniz, foi nomeado Capitão do Porto do Funchal. Em 1936, regressado do Funchal ingressa no Colégio Militar. O Luís Teixeira Diniz era o mais pequeno do curso. O meu pai, por contraste, era o mais alto. Mas isso não constituiu qualquer impedimento para que se desse início a uma boa amizade decorrente da identificação com “um certo número de valores e princípios de comportamento que, em certas circunstâncias, pela vida fora, foram incómodos” (in Memórias de LTD). Foi graduado como Comandante da 1ª Companhia. Distinguiu-se sempre como excelente aluno, e terminado o ensino secundário optou pela Medicina, apesar da vocação para a
Engenharia. Fez os preparatórios na Faculdade de Ciências e depois na Faculdade de Medicina no Campo de Santana. Homem de convicções seguras ingressou na JUC, Juventude Universitária Católica.
A partir do 3º ano da Faculdade foi convidado a integrar a equipa do Dr. Fernando Oliveira Pinto (Assistente da Cadeira de Propedêutica Cirúrgica), colaborador de toda a vida do famoso Prof. Cid dos Santos, especialista em Cirurgia Vascular. Este facto é marcante para a sua vida profissional. No exercício destas funções, passa a frequentar as enfermarias dirigidas pelo Prof. Cid dos Santos, regente da cadeira, durante as férias e nos intervalos das aulas, despertando o interesse pela Cirurgia e pelos problemas circulatórios, uma área onde esta equipa era pioneira em Portugal e no mundo.
Terminado o curso de Medicina, seguiram-se dois anos de Internato Geral no Hospital Escolar de Santa Marta, e outros dois anos de Internato de Cirurgia. O convite para Assistente da Faculdade deu início à sua carreira académica, mas a mobilização militar para a Índia surge inesperadamente em 1957.
Como é natural surgiram de imediato perplexidades com a situação política que já se vivia no antigo Estado Português da Índia face à orientação política da União Indiana de anexação dos territórios portugueses (em 1954, já tinha anexado os enclaves de Dadrá e Nagar-Haveli), numa tensão fronteiriça que de vez em quando originava feridos em consequência de pequenos conflitos armados ou minas terrestres. Mas também havia alguma apreensão perante o facto de ir dar continuidade à sua carreira num con -
que nos Deixaramtinente distante e em condições mais do que desconhecidas. Decidiu levar a família, mas apesar dos vários riscos e imprevistos, o balanço daqueles dois agitados anos (1958-60) foi francamente positivo. E esse balanço ocorreu tanto na vertente profissional, como na familiar, onde o Prof. Teixeira Diniz destaca a “tenacidade e a capacidade de organização” da sua mulher Maria Teresa (já com 4 filhos). A beleza natural daqueles territórios, a grandiosidade histórico-monumental, e a diversidade de grupos étnicos convivendo em perfeita harmonia, veio ajudar a tornar a comissão de serviço do Tenente-Miliciano Cirurgião e da sua família muito menos difícil. Vivia-se uma época muito particular da nossa História, com episódios curiosíssimos que o Prof. Teixeira Diniz sublinha nas suas Memórias. Destaco um deles: “...todos os dias ao pôr-do-sol, ao arriar da bandeira, ouvia-se um toque de clarim e toda a gente parava, incluindo os carros, cujos ocupantes se apeavam” .
Um parêntesis para referir que entretanto, o na altura Capitão Canêlhas, também foi mobilizado para a Índia. A 8 de Setembro de 1959 desembarcou no porto de Mormugão em Goa. Foi sozinho. Instalaram-no na messe, onde as instalações e a alimentação não primavam nem pelo conforto nem pela qualidade. É nesta conjuntura que entra o casal Teixeira Diniz, contribuindo de uma forma decisiva para tornar a sua estadia menos difícil, convidando-o frequentemente para a agradável casa onde estavam instalados, no “Altinho” junto ao Patriarcado. O meu pai nunca esqueceu este gesto de simpatia e amizade.
Foi colocado no Serviço de Cirurgia, numa parte do Hospital da Misericórdia em Ribandar, e devido ao
facto de ser Assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa foi convidado para a Regência da Cadeira de Cirurgia da Escola Médica de Goa. Regressado a Portugal continental, o Prof. Teixeira Diniz toma posse do cargo de Assistente da Faculdade, e inicia a sua actividade de clínica privada. A 8 de Janeiro de 1963 obtém o grau de Doutor. Entretanto, em 1967 surge o convite para reger a Cadeira de Cirurgia em Luanda, integrada no Curso de Medicina dos Estudos Gerais Universitários. Do ponto de vista clínico o Prof. Cid dos Santos recomenda a obtenção do grau de Professor Agregado, por considerar ser mais consentâneo com as funções que iria desempenhar. Do ponto de vista militar, Angola estava em estado de guerra desde 1961. O Prof. Teixeira Diniz recorre então ao meu pai, que na altura se encontrava no Estado Maior do Exército em Lisboa, e por isso especialmente capacitado para lhe apresentar uma perspectiva bastante aproximada da situação. Os conselhos foram registados e o Prof. Teixeira Diniz seguiu com a família para Luanda (já com 9 filhos), onde nascera 42 anos antes. O prognóstico do meu pai, esse, revelou-se quase certeiro... Como Director do Serviço Cirúrgico atinge uma grande realização profissional, mas passados dois anos (em 1970) regressa a Portugal, já em vésperas de nascer o 10º e último filho.
Chegada a data de 25 de Abril de 1974, depois de avisado da revolução, o Prof. Teixeira Diniz resolve ir para o Hospital. Como não houve confrontos, a actividade hospitalar foi reduzida. E como no dia seguinte era o dia do seu aniversário, resolveu manter os convites previamente feitos para o jantar, ao qual se juntou o meu pai, que de viva voz relatou os
acontecimentos vividos na véspera, e os situou na conjuntura nacional que então se vivia.
Os problemas no entanto surgiram de uma forma inconcebível no Hospital de Santa Maria, onde se instalou o caos e a anarquia, com um desrespeito total pelas hierarquias, excepto..., no Serviço de Clínica Cirúrgica dirigido pelo Prof. Cid dos Santos. As tentativas de integrar este serviço na nova ordem revolucionária continuavam, e de tal forma, que nunca se saberá se o enfarte de miocárdio que vitimou o Prof. Cid dos Santos, teria sido uma consequência dessa pressão. O Prof. Teixeira Diniz assumiu a Direcção do Serviço de Clínica Cirúrgica, foi eleito vogal do Conselho Directivo, e posteriormente, nos vários anos que antecederam a sua aposentação, representante da Cirurgia no Conselho Científico. Foi igualmente nomeado Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardio-Torácica e Vascular.
Passou à reforma em 1991, data a partir da qual se dedicou à família e aos amigos, entre os quais os meus
pais, que visitava regularmente na sua casa de família em Águeda. Deixo para o fim uma apreciação puramente subjectiva, fruto da minha, ainda que espaçada, convivência com o Prof. Teixeira Diniz e sua mulher. Era um homem de uma educação esmerada, que não distinguia idades nem estratos sociais. Sempre atento e disponível, não hesitava em se disponibilizar para ajudar os amigos com um empenho e uma dedicação que emocionava. Costuma dizer-se que «Os amigos são a família que a vida nos permite escolher» . Considerávamos o Prof. Teixeira Diniz como da nossa família, e por isso é enorme a saudade que sentimos das suas conversas, da sua cultura, da sua categoria, enfim, do seu convívio.
Foi com grande desgosto que recebemos a notícia de que o Morujão nos deixara.
E, como sempre acontece a quem recebe uma notícia destas, veio-nos à memória aquele dia, um dos primeiros de Outubro de 1948, em que todos entrámos para o Colégio, tímidos, desambientados, receosos, a tentar descobrir o que nos esperava. E entre todos esses “ratas” lá estava o Roquete Morujão a quem alguém, brincando com o nome, lhe começou a chamar “croquete” ! Não se chateou, até se riu, e o nome foi ficando, embora sem ter chegado a ser uma alcunha permanente, às vezes chamávamos-lhe assim, .... e tudo bem!
E durante oito anos lá fomos vivendo todos juntos, toda a gente gostava dele, foi sempre considerado - e com toda a razão – “um gajo porreiríssimo” . Muito participativo na vida colegial, veio a salientar-se no desporto, quer no futebol quer, principalmente, no atletismo, em que brilhou nas corridas mais longas, os 700 e os 1500 metros. Ganhou essas corridas nos
campeonatos da Mocidade em que o Colégio participava e, com “tipos como o “croquete” , correntemente brilhava. Esta habilidade acabou por lhe trazer outra alcunha: “Zátopek” !
Terminado o curso do Colégio, entrou para a Academia Militar onde se formou em Engenharia. Depois, claro, a vida militar, comissões no Ultramar, sucesso bem reconhecido, acabou a carreira como Coronel. E, paralelamente, a vida familiar, casado com a Sofia ( entretanto falecida há cerca de 6 anos), dois filhos, dois netos, uma vida bem preenchida.
E agora deixou-nos! Enviamos aos Filhos e Netos um grande e sentido abraço com a nossa solidariedade e o nosso pesar; nós ficamos com a nossa tristeza e a nossa saudade de um grande e querido Amigo.
quia, medalhas de ouro nas distâncias de 10.000m (20 Julho), 5.000m (24 Julho) e maratona (27 Julho).
Nunca tinha corrido uma maratona antes destes jogos. Foi o único atleta que até hoje conquistou estas 3 medalhas de ouro nos mesmos Jogos Olímpico. Era conhecido como "A locomotiva checa".
A malta do Curso do 7º ano de 1956
Zátopek foi considerado pelo Runner's World Magazine de 2013, o maior corredor de todos os tempos.
O checo Emil Zátopek conquistou, nos jogos Olímpicos de 1952 em Helsín -
às conquistas do Torneio de Abertura de 1967/68 e da primeira Taça de Portugal do clube em 1969. Foi, como jogador do Técnico e entre 1967 e 1968, 5 vezes internacional, tendo defrontado a Espanha (2 vezes), a Itália (2 vezes) e a Bélgica tanto fosse como pilar ou como talonador.
a companheiros e adversários — reconhecida numa execução de boa qualidade técnica e num muito marcante espírito desportivo.
Com 77 anos faleceu, na terça-feira 5 de Outubro, Júlio Faria, o 219/1954 e conhecido por "Borba" por todos os seus contemporâneos colegiais.
Teve uma vida relacionada com o Desporto que começou na sua selecção para a equipa de futebol colegial que, na altura, participava nos Campeonatos da Mocidade Portuguesa. Terminado o Colégio, matriculou-se no Instituto Superior Técnico e escolheu jogar Rugby na equipa da sua Associação de Estudantes que tinha acabado de se federar e onde jogou, a partir de 1964 uma série de épocas interrompidas pela mobilização para Moçambique durante a Guerra de África. Logo na primeira época, no seu lugar habitual de pilar ou talonador, ajudou o Técnico — como é desportivamente conhecido — na subida à 1ª divisão ao vencer o Campeonato Nacional da II Divisão, derrotando na final, em Coimbra, o CDUP. Ajudou ainda
Com o falecimento de seu Pai, teve necessidade de voltar para o Norte para tomar conta dos negócios da família que tinham, numa bomba de gasolina de Esposende, a sua marca visual. O amor pelo Rugby não tinha esmorecido e inscreveu-se no Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP) já nos anos setenta e onde jogou — e treinou a equipa — até que, desafiado pelo Clube de Rugby dos Arcos de Valdevez — o CRAV — que tinha acabado de nascer, se mudou de novo.
Na sua presença de mais de 25 anos no clube de Arcos de Valdevez onde foi jogador, treinador e Presidente, deixou uma importante marca que leva a que seja reconhecido como o homem que ensinou o Alto Minho a jogar Rugby* . À sua paixão pela modalidade — constituía uma expressão exemplar do carola — juntava a uma enorme generosidade uma capacidade e exigência organizativa, impondo uma disciplina que garantia o respeito e o necessário sacrifício — a equipa está primeiro! — que pedia sempre em nome do colectivo.
Por onde passou — clubes e campos — deixou a sua marca pessoal
Nunca tendo jogado Rugby antes da sua entrada para o Técnico — no Colégio não havia a prática da modalidade — nem fazendo grande ideia de como se jogaria aquele desporto colectivo de combate , rapidamente mostrou as suas qualidades, integrando desde logo — é o sexto da lista — o núcleo dos 18 ex-alunos internacionais na modalidade (ver Zacatráz nº 218, Jan/Mar 2020).
Ao tornar-se internacional, muito pouco tempo depois de se iniciar como jogador, Júlio Faria veio demonstrar a qualidade do ensino físico-desportivo que se fazia no nosso tempo colegial. Com uma formação desportiva diversificada onde era possível desenvolver as capacidades físico-motoras de forma generalizada — permitindo com essa qualidade reduzir todo o processo de formação na desconhecida modalidade a alguns meses, o Colégio possibilitava então a muitos de nós uma carreira desportiva de sucesso.
O Júlio Faria deixa-nos com uma imensa saudade. Pessoalmente, que com ele privei e conheci bem quer no Colégio — onde ambos fomos “futebolistas” — quer nos campos de Rugby, fico dele com uma memória viva. A memória de um homem bom e amigo do seu amigo, de um excelente e generoso desportista,
de um homem que deixou uma marca que os seus amigos não irão deixar apagar. Até sempre, Júlio!
João Paulo Bessa (200/1957)
* título do jornal O Minho de 5 de Outubro de 2021
Faleceu Júlio Faria, 5 vezes internacional entre 1966 e 1968. Quando terminou o Colégio Militar descobriu o Rugby no AEIS Técnico onde iniciou a sua carreira como talonador e pilar. Mais tarde mudou-se para o CDUP onde foi jogador e
treinador, acabando a sua carreira no CRAV — Clube de Rugby dos Arcos de Valdevez — onde durante 25 anos deixou uma profunda marca no clube como jogador, treinador e Presidente. Figura muito querida da comunidade rugbística, deixou a sua marca pessoal pelos campos e clubes onde passou e ensinou "a viver a modalidade e os seus valores" sendo, como afirma Raúl Martins, seu companheiro de equipa, no clube e na selecção, e seu capitão, "um exemplo para todos os amantes do Rugby".
À família enlutada, aos seus amigos e em nome da comunidade rugbística que tão generosamente serviu, a Direcção da Federação Portuguesa de Rugby , agradecendo os serviços que prestou ao Rugby português, expressa as suas muito sentidas condolências.
Morreu na manhã desta terça-feira Júlio Faria, figura maior do râguebi no Alto Minho e um dos nomes importantes da modalidade a nível nacional, anunciou hoje o Clube de Rugby de Arcos de Valdevez (CRAV). Era natural de Esposende onde foi proprietário de um pequeno negócio familiar.
Com passagem pelo mítico Técnico de Lisboa, onde ajudou o clube a conquistar a primeira Taça de Portugal da sua história quando ainda era estudante, passou os últimos 30 anos dedicados à modalidade em Arcos de Valdevez, onde foi atleta, treinador, dirigente e “um pouco de tudo”.
Meu querido irmão Miguel, soubeste ser na vida o Homem Bom, Amigo, Camarada, Irmão, Filho e Grande Pai.
Não esqueçam os humanos esse dom tão sublime que a vida deu sentido. Descansa finalmente, em Paz... até já.
Paulo Pinto Guedes(78/1975)
O Colégio deu-me a oportunidade de conhecer o Miguel Guedes e de lhe chamar irmão. Ensinou-lhe os valores certos que o acompanharam ao longo da vida. O seu tamanho não cabia neste mundo. A pessoa mais pura e bondosa que alguma vez conheci. Um camarada que jamais esquecerei.
Camarada no Colégio, a vida profissional voltou a juntar-nos, e na sua luta com a doença ainda mais nos uniu.
Líder de fortes valores, coragem, sacrifício, sempre leal aos seus princípios, deixa muitas saudades.
Na minha revolta por ter partido cedo demais, fica a presente memó ria de um Grande Homem.
António Sérgio Marques(319/1979)