


Estamos em finais do mês de Janeiro e estou obrigado a escrever o Editorial para o próximo número da revista ZACATRAZ.
O meu estado de alma, é de deixar uma página em branco, mas como podia ser, por alguns, mal interpretado, decidi transmitir-vos o que sinto.
A Associação está fechada faz meses, assim como o Speliking e o Teatro. O Restaurante vai abrindo e fechando consoante as diretivas governamentais e, mesmo quando aberto, condicionado em número de mesas e horários. As atividades tradicionais da Associação, isto é, as celebrações e os almoços de curso, não se podem realizar.
O Colégio também foi obrigado a fechar pela segunda vez nos últimos doze meses e nem aulas on-line pode rea-
lizar, por decisão do Governo, mesmo depois do investimento que efetuou para as poder concretizar.
Imaginem a frustração da Direção da Associação de não poder levar avante o seu plano de atividades.
Hoje, só podemos contar praticamente com a quotização dos sócios para manter a Associação financeiramente equilibrada, e para a manutenção do PM 34 (Quartel da Formação)..
E é nisso mesmo que temos concentrado o nosso foco: encontrar, em colaboração com o Ministério da Defesa e o Património do Estado, uma solução definitiva relativamente à gestão do PM 34.
Ainda é cedo para podermos apontar o caminho / estratégia a percorrer, mas já há uma luz ao fim do túnel, para
resolvermos o problema que nos assola há muitos anos.
Não posso, nem quero, deixar de manifestar a nossa solidariedade para com as nossas “vizinhas“ e amigas da AAAIO, pelo muito e meritório trabalho que têm desenvolvido na gestão do Lar, num contexto perigoso, agreste e muito exigente da manutenção de uma elevada sanidade mental e física de todos quantos lá habitam e trabalham.
Finalmente, também não quero deixar de assinalar duas particularidades deste número da ZACATRAZ: o elevado número de “Antigos Alunos em Destaque“, e, infelizmente, o elevado número de “Antigos Alunos que nos deixaram”.
Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)
Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)
1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)
2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)
Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)
Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)
Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)
Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)
1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)
2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)
3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)
4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)
5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)
1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)
2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)
3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)
Presidente António Santos Serra (95/1959)
1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)
2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)
1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)
2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL
Fundada em 1965
Nº 222 Janeiro/Março - 2021
FUNDADOR
Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECTOR Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt
CHEFE DE REDACÇÃO
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt
REDACÇÃO
Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)
CAPA
Condecoração do Colégio com a Ordem da Torre e Espada
ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94
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Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
Condecoração do Colégio com a Torre e Espada
O Colégio foi galardoado com a Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito
No dia 3 de Março de 1921, no Largo da Luz, o Ministro da Guerra, Major Doutor Álvaro de Castro (206/1890), impôs no Estandarte Nacional do Colégio Militar as insígnias da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. A solene cerimónia militar constituiu o cenário adequado à concretização do Decreto de 18 de Dezembro de 1920, no qual se determinava a atribuição ao Colégio do grau de Cavaleiro da mais importante Ordem Honorífica portuguesa.
Vale a pena transcrever o texto do decreto assinado pelo Presidente da República, António José de Almeida, e pelo Ministro da Guerra:
«Atendendo aos valorosos serviços prestados pelo Colégio Militar ao País, que
durante mais de um século tem recebido acção benéfica dos seus alunos, quer no labor árduo das sciências, das letras e da politica, quer nos embates e pelejas da guerra;
Atendendo a que sob a direcção do Visconde de Nossa Senhora da Luz, antigo aluno do referido Colégio Militar, outros antigos alunos, poderosamente contribuíram para a organização e desenvolvimento material da nossa Pátria, iniciando o uso da telegrafia eléctrica, do sistema métrico, executando trabalhos de geodesia e corografia, os primeiros estudos mineralógicos, os serviços dos caminhos de ferro e das companhias das águas de Lisboa, Porto e Coimbra;
Atendendo a que filhos do Colégio Militar foram Agostinho Coelho, Francisco Pereira de Miranda, Manoel Pinheiro Chagas, Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, João Andrade Corvo, José Maria
Latino Coelho, Júlio César Machado, e tantos outros que tam levantadamente se assinalaram como literatos, historiadores, estadistas, professores, etc.;
Atendendo a que liberais de destaque como José Maria de Serpa Pinto, Lourenço José Duarte e muitos dos combatentes da Legião Lusitana igualmente frequentaram o Colégio Militar e nele criaram esse espírito militar e liberal que os impulsionou na defesa dos seus ideais;
Atendendo a que, mais recentemente, entre a plêiade dos nossos mortos na grande guerra se contam bastantes dos antigos alunos do Colégio Militar, que bem souberam honrar a Pátria e a República, tais como Óscar Monteiro Torres, o único aviador português morto em combate contra os alemães, Viriato Sertório Correia de Lacerda, que, ao cabo de encarniçada resistência em Moçambique, heroicamente morreu, encravando a sua metralhadora, de preferência a deixá-la nas mãos do inimigo, João Teixeira Pinto, Jorge de Sousa Gorgulho e Humberto de Ataíde, mortos em África na última campanha;
Atendendo a que, assim, justo é premiar no Colégio Militar as qualidades de valor, lealdade e mérito exuberantemente manifestadas por tão grande número dos seus antigos alunos, gravando impressivamente nas almas infantis daqueles que frequentam este estabelecimento, e que mais tarde serão os homens de Portugal, as tradições do passado e as aspirações do futuro, incitando-os a continuar a honrá-lo como aqueles de que se faz menção e que para o Colégio Militar ganharam a suprema venera no peito de um soldado; Como alto exemplo de culto e de respeito pelas qualidades de isenção e de sacrifício e puro patriotismo, que tem sido a norma neste estabelecimento de educação;
Hei por bem decretar, sobre proposta do Ministro da Guerra, que nos termos do decreto nº 6285 de 8 de Novembro de 1919, seja conferido ao Colégio Militar o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito,
sendo-lhe aplicável o disposto no artigo 42º do mesmo decreto».
A notícia desta distinção já foi divulgada pelo Luís Barbosa em dois números da nossa Revista, mas dada a relevância do assunto, foi decidido dá-la de novo a conhecer, sobretudo às camadas mais jovens, que na altura não tiveram conhecimento dos dois artigos onde se referia, entre outras coisas, serem 163 os Antigos Alunos agraciados com a Ordem da Torre e Espada, começando pelo Fernando da Fonseca Mesquitela e Solla,1 entrado no Colégio sem número, em 1806, e a acabar no Raúl Miguel Socorro Folques (380/1952), condecorado com o grau de Cavaleiro no dia 9 de Outubro de 2015.2
Como nos recorda o Luís Barbosa no n.º 191 da Zacatraz, “(…) O Batalhão Colegial era comandado nessa data pelo Aluno 356/1914, Paulo Emílio de Bri-
to Aranha.3 A escolta de honra ao Estandarte Nacional era constituída por uma numerosa formatura de Antigos Alunos, sob o comando de duas notáveis figuras de militares, os Generais Alberto da Silveira (121/1870) e Gomes da Costa (66/1873). Após a imposição das insígnias o Batalhão Colegial, encabeçado pelos Aluno Comandante de Batalhão e seu Ajudante, ambos a cavalo, desfilou em continência à Bandeira (como na altura se dizia). Desfilou, igualmente em continência à Bandeira Colegial, o Corpo de Alunos da então Escola do Exército (…)”.
No decurso das celebrações do 3 de Março de 1967, o então professor de português do Colégio e notável pedagogo Dr. Júlio Martins, que mais tarde viria a ser nomeado Sócio Honorário da nossa Associação, relembrava assim o acontecido em 1921:
“(…) Às 15 horas chegava o Ministro da Guerra, Major Dr. Álvaro de Castro, que era também antigo aluno (206/1890).
Após os cumprimentos e a revista às duas formaturas o aluno nº 66, Azevedo Coutinho, porta-bandeira, destaca-se do Batalhão avançando alguns passos. Chegara o grande momento ansiosamente aguardado: momento em que o ministro coloca as insígnias na Bandeira e, acto contínuo, beija comovida e respeitosamente o alto símbolo da Pátria confiado à guarda dos alunos do Colé-
gio. Rompem os primeiros acordes da Portuguesa. Estrondeiam no ar as 21 salvas da ordenança. A emoção transparece no rosto de todos os presentes. E, no depoimento de um cronista da época, havia lágrimas nos olhos dos velhos Generais e dos nóveis Alferes. A emoção sobe de ponto, atinge o auge, no momento em que o General Gomes da Costa, por impulso irresistível, ergue ao alto, nos seus vigorosos braços um dos mais pequenos rapazes do Batalhão e o beija também comovidamente. Beijo que selava duas gerações: a daqueles que se haviam coberto de glória nos campos de batalha da Flandres e do Ultramar Português e a daqueles que no Colégio Militar, perante tão altos exemplos, sentiam-se dilatar-se-lhes o peito na ânsia de um dia poderem igualmente servir a Pátria, com a mesma galhardia, a mesma abnegação. Desfila o Batalhão Colegial, precedido da Guarda de Honra dos Antigos Alunos. Espadas desembainhadas, peitos constelados, desfilam oficiais do Exército e da Marinha, grandes figuras militares, venerandos heróis das campanhas da ocupação e da Grande Guerra em África e em França! Soldados desse Exército de Terra e Mar, que era bem, como o é hoje! – o espelho da alma da Nação!
Foi Há 100 Anos
Torre e Espada
Torre e Espada colar.
Vede bem, que memórias do passado nos evoca este local, à sombra do Colégio Militar.
Nas horas retentivas, continuam a desfilar os vultos heróicos daqueles que vos precederam. E aos nossos ouvidos parecem ecoar, ainda, as palavras de fé aqui tantas vezes pronunciadas, na exaltação do Colégio Militar, das suas virtudes, das suas tradições, da sua mística! (...)”
Na Lei que regula as Ordens Honoríficas Portuguesas, estipula-se que a Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito se destina “(…) a galardoar méritos excepcionalmente distintos no exercício das funções dos cargos supremos dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha. Da mesma forma, premeia feitos excepcionais de
heroísmo militar ou cívico e actos ou serviços excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.”
O Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada é o mais alto grau da Ordem e é concedido, no final do mandato, a quem tiver exercido o cargo de Presidente da República. A partir de 2011, voltou a poder ser também concedido a Chefes de Estado estrangeiros, antigos Chefes de Estado e a pessoas cujos feitos, de natureza extraordinária e especial relevância para Portugal, os tornem merecedores dessa distinção.
Aos vários graus da Ordem, concedidos a militares e a civis, pertencem honras militares correspondentes aos seguintes postos, se os condecorados não tiverem outras superiores:
A) Grande-Colar e Grã-Cruz – General;
B) Grande-Oficial – Coronel;
C) Comendador – Tenente-Coronel;
D) Oficial – Major;
E) Cavaleiro ou Dama – Alferes. (…)”
As insígnias do grau Cavaleiro são constituídas por:
Colar:
Colar de prata esmaltada formado por espadas de esmalte azul, dispostas sobre coroas de carvalho de esmalte verde perfiladas e frutadas, e torres
iluminadas de azul, encadeados alternadamente, tendo pendente o distintivo da Ordem, com a torre coberta.
O distintivo suspenso de fita azul ferrete. São ainda insígnias do grau de Oficial a miniatura e uma pequena fita, com a cor da Ordem.
Colar.
Medalha.
1 Coronel comandante do Regimento de Granadeiros da Rainha, condecorado pelo comportamento nos combates de Torres Vedras, em 22 de Dezembro de 1846, no decurso da luta civil conhecida pelo nome de Maria da Fonte.
2 Coronel de Infantaria Comando, condecorado pelo comportamento nos combates travados no decurso das Guerras de África (1961-1975). Foi também condecorado com três medalhas da Cruz de Guerra.
3 Fundou, em Maio de 1921, o jornal «O Colégio Militar».
Oponto mais alto de cada ano lectivo no Colégio Militar é a celebração do aniversário da sua fundação, ou seja, a celebração do 3 de MARÇO.
Lembro-me de, quando entrei para o Colégio, para o 3º ano, a malta do meu curso, que já lá estava, há um ou dois anos, ter começado a «viver» o 3 de Março com uns bons dias de antecedência. Faziam relatos do desfile na Avenida, dos «Zacatraz» e de outros gritos de incentivo dos Antigos Alunos que acompanhavam o desfile, dos Antigos Alunos que trepavam aos candeeiros e aos monumentos, da Charanga do Colégio, a encher a Baixa de Lisboa com o som estridente das suas cornetas e com o rufar dos seus tambores, das “mamãs” e dos “papás” a marcharem ao lado das Companhias onde estavam os seu “fifis”, do Orfeão a cantar na missa, na igreja de S. Domingos, do reatar do desfile, passando em continência em frente ao teatro D. Maria II e tudo o mais, que todos nós conhecemos. Confesso que na altura fiquei impressionado com aquela vivência antecipada do grande dia e que, tal como eles, também já só queria que esse dia chegasse depressa.
O grande dia chegou. Logo à alvorada se via que era um dia diferente, um dia especial. O pessoal não precisou dos gritos dos graduados, para se levantar da cama. Mal se ouviram os primeiros acordes do toque da alvorada, saltou tudo das suas camas. Naquele dia, aquele toque tinha algo de festivo. O corneteiro, ou os corneteiros, penso que nessa manhã vieram corneteiros da Formação reforçar o corneteiro de dia, esmeraram-se no desempenho do seu papel. Também era um dia grande para eles, iam desfilar pela Avenida, iam na vanguarda do Batalhão dos «senhores alunos», de que naquele dia eles também se sentiam parte.
Comido o pequeno-almoço a correr, lá fomos buscar as nossas “canhotas” à Sala de Armas, formámos e ala para os autocarros da Carris, que nos esperavam no Largo da Luz.
Chegados ao Marquês de Pombal, lá começou o desfile, em que nada podia falhar. Desempenhei o meu papel o melhor que pude, e no final, estafado, dei comigo a pensar, que as descrições que tinha ouvido, pecavam por defeito. Aquilo tinha
sido muito melhor do que eu tinha imaginado. Tinha sido «bestial», sentia-me um herói, também eu tinha contribuído para o êxito daquela jornada, que ainda hoje recordo com toda a nitidez. O 210, o Osório, nosso Comandante de Companhia e o 153, o «Faustino», Comandante do meu Pelotão, estavam satisfeitos com a malta e nós não os tínhamos deixado ficar mal, eles eram uns «gajos porreiros». Foi assim, com 12 anos, que eu vivi e senti o meu primeiro desfile. Não era só eu, era assim que a malta sentia no meu tempo. Outra coisa que todos sentíamos, desde o «rata» ao «velhão» da 4.ª, é que a nossa Companhia tinha sido a melhor.
Ao longo do curso no Colégio, os 3 de Março vão-se sucedendo, nunca há dois iguais, e os Alunos vão-se aproximando, a pouco e pouco, daquilo que será a sua «jornada triunfal», que será o 3 de Março dos seus anos de finalistas. Nesse dia inesquecível, desempenhando funções de comando, desfilarão à frente dos seus pelotões, das suas companhias ou melhor ainda, à frente do Batalhão, ou também, como Porta-Bandeira ou como Porta-Guião. Nesse dia, ao chegarem ao alto da Avenida, já começam
Início de desfile do 3 de Março, no alto da Avenida.
a ter saudades daquilo que se vai passar. Quando entram no Rossio, não percebem como é que aquilo tudo se passou tão depressa. Nesse ponto, a consolação que podem ter, é pensar que no próximo ano e em dezenas de outros que se seguirão, estarão alí, de novo, a correr Aveni-
da abaixo, aos gritos e a amarinhar pelos candeeiros e monumentos, a apoiar os seus sucessores e a dar-lhes ânimo para continuarem a honrar o Colégio.
Tudo isto me veio à cabeça, quando me apercebi, no final de Janeiro, que o 3 de
Março deste ano de 2021 estava comprometido, pela pandemia que nos castiga vai para um ano. A reacção que então tive, foi naturalmente de tristeza, mas logo de seguida de inconformismo. Disse para comigo próprio «Não podemos deixar que o 3 de Março não se realize.
Não podemos deixar que os Alunos não tenham o seu dia festivo. Não podemos deixar que os finalistas não tenham a sua JORNADA TRIUNFAL».
A solução para esta questão pareceu-me simples. O que temos de fazer é adiar o 3 de Março, um ou dois meses, o que for necessário, para que se possa fazer o desfile. A partir daí passei à acção. Transmiti de imediato esta minha ideia ao Presidente da nossa Associação, transmiti-a também aos membros do Conselho Supremo da nossa Associação e tomei a liberdade de a transmitir também, a título particular, à entidade directamente interessada no assunto.
O adiamento das comemorações do 3 de Março não é nem um drama, nem uma novidade. No meu tempo de Aluno, o 3 de Março era festejado no próprio dia. O trânsito na Avenida e na Baixa era cortado, fosse dia de semana ou não, para o nosso Batalhão marchar. Com o aumento do trânsito, anos depois de eu sair do Colégio, as cerimónias passaram a realizar-se em Belém e o Batalhão passou a desfilar no arruamento fronteiro ao Mosteiro dos Jerónimos. Esta solução não agradava a ninguém. O que todos queriam era voltar à Avenida e à igreja de S. Domingos. Foi o que veio a acontecer, mas com uma solução de compromisso, o desfile tinha de ser feito num domingo. O compromisso foi logo aceite e assim se começou a festejar o 3 de Março no fim- de- semana mais próximo da data festiva, ou seja, só quando o 3 de Março cai num domingo é que é festejado na data própria.
Para que não fiquem dúvidas, que o adiamento da data do desfile não é, nem uma impossibilidade, nem uma desgraça, posso informar, que o primeiro desfile do Colégio pela Avenida da Liberdade ocorreu em 1942. Este desfile era para ter sido no 3 de Março, acabou por se realizar em Maio. No livro «O Colégio Militar através
das Ordens e Livros de Correspondência Colegiais. 1803 – 1960», da autoria do Major Balula Cid, professor do Colégio nos meus tempos de Aluno, na sua página 133, pode-se ler o seguinte:
«ORDEM N.º 119, DE 29-4-1942 Informa que, devendo realizar-se no dia 2 de Maio a parte do programa comemorativo que não foi levado a efeito no dia 3 de Março último, deverão ser observadas várias determinações.
Entre elas, o Batalhão Colegial, pelas 10 horas e trinta minutos, deveria seguir para a Praça Marquês de Pombal, transportado em carros eléctricos. Dali desfilaria pela Avenida da Liberdade e Praça D. João da Câmara, daria a volta ao Rossio e entraria na Igreja de S. Domingos, onde assistiria à Missa.
Finda esta, o Batalhão desfilaria pelo Rossio e Rua do Ouro até à Praça do Comércio, regressando depois ao Colégio em carros eléctricos.»
Em nota de pé de página indicava-se «Trata-se do primeiro Desfile pela Avenida da Liberdade até S. Domingos».
Posto isto, eu diria que o 3 de Março, tal como o Natal, «é quando um homem quiser».
Poderá haver alguns puristas que digam que não admitem «flutuações das datas», ou seja, «o 3 de Março é no dia 3 de Março e ponto final». Para esses reservo uma surpresa, retirada do livro do Major Balula Cid acabado de mencionar. Na sua página 126, pode ler-se o seguinte:
«ORDEM N.º 65, DE 5-3-1932 Determina que, tendo em atenção o averiguado pelo General José Justino Teixeira Botelho, antigo Aluno, antigo Professor e antigo Director do Colégio Militar e exposto no seu trabalho «A Fundação e o
Fundador», de vez fique regulado e deve ser considerado no futuro o ano de 1802 como o da Fundação e que o dia 2 de Março de 1803 será considerado como a data do início do internato em instalação própria, sendo esta data que deverá ser considerada para a comemoração dos futuros aniversários do Colégio».
Em nota de pé de página indicava-se «Contudo em 1933 comemorou-se em 3 de Março…..».
Estas coisas por vezes acontecem, «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades». Na data da publicação desta Ordem de Serviço n.º 65, de 1932, o Director era o Brigadeiro Júlio Ernesto de Morais Sarmento. No ano seguinte, o Director já era outro, era o Brigadeiro António Alfredo de Magalhães Correia, que entrou em funções em 2 de Junho de 1932. Também há quem diga, «cada cabeça sua sentença»
Não nos conformamos se não houver a celebração tradicional do 3 de Março, mesmo que «fora de horas». O desfile do nosso Batalhão pela Avenida é não só um evento marcante para a Comunidade Colegial, mas também para a própria cidade de Lisboa. Já se tornou um ex-libris da cidade. Há um par de anos atrás, antes de começar o desfile, uma turista italiana, excitadíssima, olhava para a formatura da 1ª Companhia, tirava fotografias, umas atrás das outras, e só dizia para os seus companheiros «Olha como são pequenos! Olha como são pequenos!». «Guarda como sono picoli!». Será assim que se escreve?
Termino dizendo, «Vamos celebrar o 3 de Março. Vamos proporcionar aos Alunos o seu dia festivo. Vamos proporcionar aos finalistas a sua JORNADA TRIUNFAL».
E já agora, os Antigos Alunos deverão estar lá em peso, para mostrar mais uma vez aos Alunos, que «NUNCA MARCHARÃO SÓZINHOS».
Devido ao estado de emergência a que o concelho de Lisboa estava sujeito, no passado mês de Novembro de 2020, não nos foi possível assistir à cerimónia do Compromisso de Honra dos Alunos que ingressaram no presente ano lectivo no Batalhão. Assim sendo, não pudemos fazer a habitual reportagem do acontecimento. No entanto, podemos apresentar aos nossos leitores parte da informação obtida directamente do Colégio, composta por um pequeno texto e um conjunto de duas fotografias que de seguida apresentamos:
“No dia 27 de novembro de 2020, na Parada Marechal Teixeira Rebelo, decorreu a cerimónia de Compromisso de Honra dos Novos Alunos do Batalhão Colegial. Devido à situação pandémica que atualmente vivemos e à semelhança do que acontecera na Abertura Solene do Ano Letivo, o número de alunos presentes cingiu-se ao essencial para que a mesma decorresse com dignidade, tendo sido transmitida em “live streaming” para a restante Comunidade Colegial.
Nesta tradicional e tão significativa efeméride para os alunos, que integraram pela primeira vez o Batalhão Colegial, foi-lhes apresentado o Guião do Colégio Militar.
Antes do desfile em continência ao Exmo. Diretor do CM, em uníssono, os Novos Alu-
nos aceitaram assumir o compromisso de nortear o seu comportamento de forma a cumprir e respeitar o Código de Honra do Aluno do Colégio Militar.”
Verificamos, mais uma vez, que o Colégio continua a fazer todos os esforços, para que as actividades escolares e as cerimónias tradicionais se cumpram, dentro da
«normalidade possível». É mais uma lição que se transmite aos Alunos, em particular aos mais novos. É na adversidade que se vê o valor das pessoas e das instituições. A adversidade é grande, mas o Colégio resiste.
Portugueses celebremos
O dia da redenção
Em que valentes guerreiros Nos deram livre a Nação
A fé nos campos de Ourique Coragem deu e valor Aos famosos de quarenta Que lutaram com ardor
P’rá Frente! P’rá Frente! Repetir saberemos as proezas Portuguesas Avante, Avante
É a voz que soará triunfal Vá avante mocidade de Portugal Vá avante mocidade de Portugal
Esta é a letra do Hino da Restauração, que nos dias em que vivemos, pouquíssimos portugueses conhecem. Aprendi este hino, antes de ingressar no Colégio, quando estava ainda na Instrução Primária (actual 1º ciclo), da qual fazia parte a instrução da Mocidade Portuguesa. Aprendia-se primeiro o Hino Nacional e depois este hino, hoje quase esquecido.
No entanto, o Hino da Restauração continua a ser cantado anualmente, no dia 1º de Dezembro, pelas crianças da «Instrução
Primária» da povoação alentejana de Santo Aleixo da Restauração, por louvável iniciativa da Professora dessas crianças. A povoação de Santo Aleixo, no Alentejo, sofreu «na pele» a guerra da Restauração, como nos conta de forma muito abreviada Carlos Selvagem (Carlos Tavares de Andrade Afonso dos Santos), o Antigo Aluno n.º 202 de 1901, na sua magnifica obra «Portugal Militar». Na sequência da Batalha do Montijo, que teve lugar, a 26 de Maio de 1644, nos plainos do Montijo, cerca de Badajoz, entre o rio Guadiana e o rio Xévora, ganha pelas tropas portuguesas, não tardaram as represálias por parte das tropas espanholas. Relata Carlos Selvagem, «No mês seguinte, Mollingen, com um novo exército de 5.000 infantes e 1.800 cavalos, entrou pelo Alentejo, atacando a aldeia de Santo Aleixo, cuja população, ajudada por 200 homens das ordenanças, se defendeu energicamente. A explosão de uns barris de pólvora na igreja destruiu por fim o povoado, matando muitos moradores e cerca de 700 espanhóis.»
Quando entrei para o Colégio, comemorava-se «religiosamente» o 1º de Dezembro de 1640, dia da Restauração da Independência de Portugal, não cantando porém os Alunos o Hino da Restauração. Nesse dia, ansiosamente esperado pelos Alunos, no final da manhã, após as aulas, havia a
comemoração «interna», feita pela «malta» À tarde era a comemoração oficial, feita com toda a pompa e circunstância, em que pela primeira vez os «ratas» se apresentavam em público, em grande uniforme e armados, integrados no Batalhão Colegial.
A comemoração «interna» começava com o pessoal dos dois últimos anos (6º e 7º anos), todos mascarados e armados de «mocas» feitas com toalhas, representando respectivamente os espanhóis e os portugueses, preparando-se para a batalha, a cantar os hinos espanhol e de Portugal. O hino espanhol era cantado pelo pessoal do 6º ano. Como é sabido, o hino espanhol não tem letra, mas o pessoal colegial há muito que lhe tinha arranjado uma letra, que começava por afirmar que «O rei de Espanha é feio como um bode», o que era razão justificativa para as infidelidades da sua rainha, que eram seguidamente mencionadas e largamente aplaudidas. Logo de seguida, o hino de Portugal era briosamente cantado, como resposta, pelos «portugueses» do 7º ano. Ainda estava no ar a parte final do cântico, já as duas hostes se precipitavam uma sobre a outra, sedentas de «sangue». Nunca vi correr sangue, mas por vezes, lá surgia uma ou outra nódoa negra. Nada que impedisse a alegria geral que se seguia, com o lançamento do traidor Miguel de Vasconcelos, da antiga varanda dos Claustros cá para baixo,
onde era espezinhado pela turba sedenta de vingança. Seguia-se o discurso patriótico/galhofeiro, feito por um representante dos portugueses, lá do alto da varanda. O discurso metia sempre umas «alfinetadas» em oficiais e professores, com maior ou menor graça, consoante o sentido de humor, a habilidade, a imaginação e a inspiração do autor do texto. Para ilustrar o que acabo de descrever, apresento duas fotos do meu tempo, em que se pode observar o orador, fazendo o seu discurso lá de cima da varanda dos Claustros, que já não existe, e a malta cá em baixo, de mocas ao alto aplaudindo. As fotos são da revista «O Colégio Militar» daquela época, pelo que a qualidade não é das melhores.
À tarde, o Batalhão, na sua máxima força, formava nos Claustros, onde, a par da nossa bandeira e do nosso guião, lhe era apresentada a bandeira da Restauração, usada no Reino, a partir de 1640.
Havia uma alocução alusiva à data festiva que se comemorava, seguindo-se o desfile do Batalhão, em continência à Bandeira da Restauração. Para servir de testemunho do que descrevo, apresento uma foto daquele tempo, com a nossa Bandeira, o Guião e a sua guarda de honra, desfilando pela frente da Bandeira da Restauração, naquele acto nas mãos do Aluno n.º 300, Fernandes Nogueira, que estava enquadrado pelos Alunos n.º 171, Diniz Ayala e n.º 316, Quina Ribeiro.
Quando eu estava no 7º ano, foi introduzida uma variante na cerimónia. Nesse ano os ratas traziam os sabres -baioneta à cinta, nas suas bainhas. A uma ordem do Comandante de Batalhão, os comandantes dos pelotões dos ratas retiravam-lhes os sabresbaioneta das bainhas, batiam-lhes com os mesmos num ombro, para de seguida os calarem na parte superior das suas armas. Era um cerimonial do tipo de «armar cavaleiros». Tal como referi, em qualquer das modalidades da cerimónia, mais elaborada ou menos elaborada, não se cantava o Hino da Restauração. Porquê esta omissão? A única explicação que encontro para a mesma, será o facto de a parte final da letra do Hino dizer, por duas vezes, «Vá avante mocidade de Portugal». O pessoal no Colégio era «alérgico» à Mocidade Portuguesa, organização criada, mantida e incentivada pelo Estado Novo, por isso aquele «mocidade de Portugal» devia causar algumas reservas aos mais puristas. Assim sendo, pelo sim, pelo não, não se cantava.
A origem da «alergia» que referi, foi explicada, já há algum tempo, nas páginas desta nossa revista, por Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938), recentemente falecido e que aqui homenageamos. Esta «alergia», fez sofrer o Director do Colégio dessa época, que teve de lidar com a recusa dos Alunos do Colégio cantarem o hino da Mocidade, até que o Ministro da Guerra acabasse por se conformar com a situação.
O
À espera da defenestração do Miguel de Vasconcelos.
No meu tempo, o Colégio participava apenas nos eventos de carácter desportivo organizados pela Mocidade Portuguesa. Participávamos nos campeonatos das várias modalidades e houve uma série de Alunos que tiraram na Mocidade Portuguesa os seus brevets de pilotos de voo com motor e voo sem motor. Justiça lhe seja feita,
no capítulo do desporto, naquela época, a Mocidade Portuguesa prestou um serviço meritório ao País.
No tempo do Estado Novo, a Mocidade Portuguesa, quase se apropriou de duas datas de grande significado nacional, o 1º de Dezembro e o 10 de Junho. No 1º de Dezembro, a Mocidade organizava uma grande parada em Lisboa, na praça dos Restauradores, com formaturas de delegações da Mocidade Portuguesa, masculina e feminina, de todas as escolas e liceus, a que se juntava o pessoal da milícia, que era a cúpula da organização, que reunia os alunos mais velhos, alguns já universitários. Nessa parada, todos os presentes entoavam o hino da Restauração. No 10 de Junho, realizavam-se sempre uns grandes festivais desportivos no Estádio Nacional, no Jamor, que se enchia de ginastas para apresentarem números de ginástica, feitos por grandes massas de executantes. Que eu saiba, o Colégio nunca participou nestas comemorações.
Presumo que, como reacção ao facto de a Mocidade Portuguesa ser, naquele tempo, a detentora das comemorações mais aparatosas do 1º de Dezembro, a
data deixou de ser devidamente comemorada, a partir do 25 de Abril de 1974. Não sei se terá sido nesse ano que também deixou de ser comemorada oficialmente no Colégio. Independentemente da data em que a cerimónia deixou de se efectuar, lamentamos a sua eliminação. A comemoração interna, feita pela «malta», essa manteve-se e terá sido a razão pela qual os Alunos do Colégio continuam a conhecer o significado da data. Os Alunos, que devem ser os fieis guardiões das tradições não oficiais do Colégio, deixaram porém «abastardar» este evento, em vez de lhe chamarem «o 1º de Dezembro» chamam-lhe agora «a mocada». Ora «a mocada» é apenas uma parte da celebração e «a mocada», por si só, não é nada, não passa de uma pantomina de «artes marciais»
A população em geral pouco sabe acerca do significado desta data, usufruindo porém do dia feriado que a mesma proporciona. Quanto aos governantes desprezam-na, nada fazendo para que a mesma seja exaltada em todo o País.
O desprezo pelo dia 1º Dezembro chegou ao ponto de o mesmo ter deixado de ser feriado nacional, há uns anos atrás, para mostrarmos aos nossos tutores da «troika», que Portugal era um país de gente trabalhadora. Felizmente essa situação foi revertida, para o que contribuiu, em muito, a acção persistente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, que nos últimos anos promoveu regularmente, em Lisboa, um desfile de Bandas de Música vindas de todo o País, no dia 1º de Dezembro. As bandas desfilam pela Avenida da Liberdade, terminando com uma concentração final na Praça dos Restauradores, onde tocam em conjunto o Hino da Restauração, que a assistência ouve muda e queda, pois já ninguém o sabe cantar.
Quanto ao Hino da Restauração, é interessante referir que a sua letra actual di-
fere bastante da letra original. O Hino da Restauração foi tocado e cantado pela primeira vez, como parte de uma peça teatral intitulada «1640 ou a Restauração de Portugal». Esta peça foi dedicada a D. Pedro V e foi estreada no dia de aniversário do rei-viúvo D. Fernando II (viúvo da rainha D. Maria II). O hino fazia parte da apoteose final da peça, correspondente à coroação de D. João IV. A letra original era a seguinte:
Lusitanos é chegado O dia da redempção Caem do pulso as algemas Ressurge livre a nação.
O Deus de Affonso, em Ourique Dos livres nos deu a lei Nossos braços a sustentem Pela pátria, pelo rei
Às armas, às armas O ferro empunhar; A pátria nos chama Convida a lidar
Excelsa Casa, Bragança Remiu captiva nação; Pois nos trouxe a liberdade Devemos-lhe o coração.
Bragança diz hoje ao povo: «Sempre, sempre te amarei» O povo diz a Bragança «Sempre fiel te serei»
Às armas, às armas etc….,etc…..
Esta c’roa portugueza Que por Deus te foi doada Foi por mão de valerosos De mil jóias engastada.
Este sceptro que hoje empunhas É do mundo respeitado
Legenda.
Porque em ambos hemisférios Tem mil povos dominado!
Às armas, às armas etc……,etc….
Nunca pode ser sujeita Esta nação valorosa Que do Tejo até ao Ganges Tem história tão famosa
Ama-a pois qual o merece; Ama-a, sim nosso bom rei Dos inimigos a defende Escuda-a na paz e lei.
Às armas, às armas etc….,etc…..
Ai! Se houver quem já se atreva Contra os lusos a tentar, O valor de um povo heróico Hade os ímpios debelar Viva a Pátria a liberdade, Viva o regime da lei A família real viva, Viva, viva o nosso rei.
Às armas, às armas Etc…,etc…
A música do hino foi composta, em 1861, por Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida, professor do Conservatório. O poema original foi escrito pelos autores da peça de teatro musical em que o hino se inseria. Eram eles Francisco Duarte de Almeida Araújo e Joaquim da Costa Braga. A simples leitura do poema original explica o facto de o mesmo ter sido alterado após a transição para a República. O hino era muito popular e o povo queria continuar a cantá-lo. É interessante referir, que o 1º de Dezembro só se tornou feriado nacional já na República.
Muitas pessoas pensam que a Restauração se deu num dia, no 1º de Dezembro, e
que de seguida a vida em Portugal entrou num curso normal. Foi porém bem diferente aquilo que ocorreu. Seguiu-se uma longa guerra, de 28 anos, com a Espanha, que terminou com o tratado de Lisboa, em 1668. Só então o Papa, que ainda era como que um árbitro da ordem internacional, reconheceu de novo Portugal como país independente. Esta porém é outra história, que talvez vos venha a contar.
Gostaríamos muito de voltar a ver oficialmente comemorado no Colégio o 1º de Dezembro, sendo transmitida aos Alunos a importância desta data «EM QUE VALENTES GUERREIROS, NOS DERAM LIVRE A NAÇÃO». Sem a acção heróica desses «VALENTES GUERREIROS», seriamos provavelmente hoje uma «segunda Catalunha».
O62/1948, o José Alves de Paula escreveu aqui na ZacatraZ, “O Feitiço da Barretina”, artigo que me tocou, mas título com que não concordei, mas que também não tenho que concordar, quando sei, que o autor é quem manda.
O artigo trouxe-me à memória duas situações bem distintas, que comigo se passaram, reflexas dos valores que a Barretina depois de “selada” ou na lapela, encerra, muito para além de feitiçarias, e bruxarias, de odores a macumbas, razão da minha discordância, que também não são acasos, por serem valores de camaradagem constantes, profundamente marcados em cada um de nós, e só nossos, que os outros que não foram Meninos da Luz, não têm nem entendem; valores que perduram, atravessam gerações, preconceitos ou quaisquer tipos de hierarquia, que nos envolvem e que transportamos de forma demasiado profunda, que não sei explicar, a que o 9/58, o Martiniano Nunes Gonçalves chama de «Código Genético», muito possivelmente adquirido nas insistentes passagens por aquelas pedras dos claustros.
Há muitos anos, apoquentado e não era pouco, por ser doloroso, e ter sido mal tratado num dos nossos hospitais
públicos a que me tinha socorrido, contei o caso ao 242/57, o Arnaldo Reis Maya, cirurgião, que tinha comigo sido da escolta, da classe especial, e duas estrelas da terceira companhia, no ido ano de 64/65.
A sua resposta pronta foi:
- Vem cá já amanhã, a São José ter comigo, que a gente trata disso.
Quando na hora marcada lá cheguei, tinha com ele uma sala e respectiva equipa completa para me operar, “a salto”, fora do seu serviço que oficialmente lhe estava distribuído, como sobrecarga do que já tinha para se “coçar”
Da equipa fazia também parte o 159/60, o João Meira e Cruz, a que voluntariamente, e por apreço ao Arnaldo, se associava a restante equipa.
No desenrascanço, que a situação impunha, a liderança que assumia, mostra bem os valores humanos que tinha transmitido e enformavam toda a equipa, a forma como era reconhecido e respeitado, valores encerrados na Barretina.
Com anestesia geral, no recobro feito no corredor, hoje tão criticado quando alguém por lá está, pareceu-me per-
feito, sem qualquer problema de qualquer espécie, que o alívio que o pronto e eficaz e profissional tratamento me tinha proporcionado, onde nem sequer faltou a pouco e pouco passar-me a mão amiga, para me avaliar a recuperação e dali me pôr a andar.
Na hora do “cavanço”, autorizado, bem tratado, com alma nova, ficou profundamente marcado, nunca mais esqueci!
O segundo caso, reporta-se à construção das instalações para os helicópteros da Marinha, e respectivas tripulações, na Base Aérea do Montijo.
A empresa em que trabalhava tinha ganho o concurso para a execução desse projecto, e indigitou-me como arquitecto, para o efeito.
Como sabemos, os tipos da Marinha sempre tiveram o nariz muito levantado, na tradição das Carrancas empinadas à tempestade, de onde o nariz sobressai.
Não é defeito, mas um estilo.
E o estilo contaminou a equipa civil que assistia as infraestruturas da Marinha, e era responsável pelo projecto, reflectido na forma como tratava subcontratados, ainda por cima arquitec -
to, qual ordenança de outros tempos, que só faz uns bonecos.
No Montijo, na Força Aérea, não se via com bons olhos, a ocupação do seu espaço com construções de uns tipos que agora ali chegavam a cheirar a “pexum” .
Neste ambiente, lá fui para a primeira reunião na Base Aérea, para “in loco” tomar conhecimento da realidade. Nas apresentações solenes, recebe-nos o Comandante da Base; e eis que me deparo com o 171/53, o Bernardo de Diniz Ayala, comandante da quarta companhia no ano lectivo de 60/61, estava eu então, no terceiro ano, e na terceira companhia.
A Barretina, fez de pronto a diferença, foi-me concedido outro à vontade, que o tu e a confiança fazem, e tudo passou a ser diferente.
O projecto correu bem, muito bem mesmo, porque as proas se horizontalizaram ao peso da Barretina, e a navegação passou a fazer-se com outra tranquilidade, sem ondas.
Ao Alves de Paula o meu agradecimento, por sem feitiço, me trazer à memória estas duas histórias, que convosco pude partilhar.
Escrevo desta maneira, desrespeitando o novo acordo ortográfico, porque foi assim que a Dona Maria Ermita me ensinou, ajudada à época pela sua assistente “A Menina de Cinco Olhos”, modo que o Dias Miguel, nem tão pouco o “Labô”, contrariaram, e por isso tenho receio de que, se escrever de outra, um dia, quem sabe, nos reencontremos e tenha que voltar ao convívio da tal “Menina”, perante a galhofa da malta.
Todos os dias somos bombardeados com mensagens de email de amigos nossos, que parece que passam o tempo sentados ao computador, à procura de coisas interessantes para compartilharem. Muitas vezes o que recebemos não vale nada, só nos faz perder tempo, mas outras vezes temos a sorte de receber coisas interessantes. Há dias recebemos uma dessas coisas interessantes, com o título «Como permanecer jovem», ou seja, uma receita para ir atrasando o envelhecimento, o que é do interesse geral, pois todos, em maior ou menor grau, pretendemos envelhecer «jovens». Como é habitual, trata-se de uma lista de dez mandamentos, como aqueles que foram dados a Moisés.
1º - Livra-te de todos os números não essenciais. Isso inclui idade, peso e altura. Deixa que os médicos se preocupem com eles. É para isso que lhes pagas.
2º - Conserva só os amigos alegres. Os pessimistas deprimem-te.
3º - Continua a aprender. Aprende mais sobre computadores, arte, jardinagem, seja o que for, até radioamadorismo. Nunca deixes o cérebro inactivo. Trabalha, estuda. Uma mente inactiva é uma oficina do diabo. E o nome da família do diabo é ALZHEIMER.
4º - Aprecia as coisas simples.
5º - Ri-te sempre, muito e alto. Ri até perder o fôlego.
6º - Lágrimas, acontecem. Suporta, queixa-te, mas continua. As únicas pessoas que estão connosco a vida inteira somos nós mesmo. Mostra estares vivo, enquanto estiveres vivo.
7º - Rodeia-te daquilo que amas. Seja família, animais de estimação, colecções, música, plantas, hobbies, seja o que for. O teu lar é o teu refúgio.
8º - Cuida da tua saúde. Se estiver boa, preserva-a. Se estiver instável, melhora-a. Se estiver além do que podes fazer, pede ajuda.
9º - Não faças viagens à culpa. Viaja para o shopping, mesmo para o concelho mais próximo, para um país estrangeiro, mas não para onde está a culpa.
10º - Diz às pessoas que as AMAS, sempre que puderes.
A vida não se mede pelo número de vezes que respiramos, mas pelos momentos que nos tiram o fôlego.
Vive ao máximo cada dia.
No passado dia 1 de Dezembro de 2020, faleceu Eduardo Lourenço Faria (92/1934), conhecido apenas por Eduardo Lourenço, um dos mais ilustres filhos do Colégio Militar.
Relembramos aqui as homenagens que a nossa Associação lhe prestou nos últimos anos, bem como um magnífico texto de despedida da sua amiga e admiradora Clara Ferreira Alves.
Em 2013, a nossa Associação teve a oportunidade de homenagear Eduardo Lourenço, atribuindo-lhe o «Prémio Barretina – Colégio Militar no Mundo». O Prémio foi-lhe entregue no jantar anual da nossa Associação, realizado no Pestana Palace Hotel de Lisboa, a 29 de Novembro de 2013, sendo Presidente da Direcção da Associação, António José Saraiva de Reffóios (529/1963).
Eduardo Lourenço, grato pela distinção recebida, proferiu então o discurso, que de seguida recordamos, fruto da situação que na altura o Colégio vivia.
“Certamente que este é o prémio mais inesperado que eu jamais recebi porque não lhe encontro nenhum mérito especial que justifique um prémio deste género, que me comove, que me remete para a minha infância, para a minha pré-adolescência e para os anos em que fui aluno do Colégio Militar. Anos que vivi, por um lado como menino da província, separado dos pais e da família portanto, como foram quase 6 anos tirando as férias, com alguma perda desses laços profundos e da paisagem… mas que ao
mesmo tempo contribuíram — mais talvez do que eu possa supor — para fazer de mim, pouco a pouco, não só um cidadão, não só alguém que recebeu uma educação que resistisse a algumas das tentações da vida, e sobretudo, também, para ter uma justificação para o seu próprio destino. Isso, vivi-o no Colégio Militar.
Este nosso Colégio Militar, curiosamente, está hoje posto na praça pública da maneira mais insólita e da maneira mais incompreensível possível; na situação que o país atravessa, com tantos problemas, com o nosso sentido de presente aceitável e de futuro nevoento à volta de nós, é que o país se devia mobilizar em função de urgências verdadeiramente importantes e vitais para nós.
Levantar a ideia da persistência da continuidade de um Colégio que tem dois séculos, que formou gerações, que formou em várias áreas, uma parte da elite portuguesa durante estes dois séculos, é uma coisa tão surrealista, tão incompreensível, que eu não tenho palavras sequer para a denunciar; nem sequer a força para juntar todos aqueles que, conscientes do que está em jogo, a sobrevivência de uma instituição, não a única, mas uma das instituições que marcaram o nosso passado dos últimos dois séculos de uma maneira indelével, se veja posta em causa sem se saber, exactamente, os motivos em função de quê e substituída por o quê ou por que outra forma.
Claro, que nada é imortal, tudo tem o seu tempo, tudo pode morrer, mas esta posta em causa do nosso Colégio, que não fez
aparentemente nenhum mal particular, que não é acusado de ter um passado gravoso em nenhuma área, com tanta gente ilustre deste país que nele foi criada, num momento em que a Europa atravessa uma das primeiras grandes crises que se podem chamar verdadeiramente europeias — e já tivemos aqui [a presença] de alguém [o Prof. Adriano Moreira] que é uma das personalidades mais importantes do nosso país e um verdadeiro homem político responsável, [que afirmou] que, na defesa de um país, que é o nosso, em certas circunstancias, como é que é possível imaginar que [alguém], impunemente, porque está no poder, porque pensa que esse poder é um poder discricionário, não tenha que justificar as suas atitudes, nem tenha que ser julgado na praça pública, se comete essa espécie de atentado a
qualquer coisa que efectivamente é importante, não por ser o Colégio Militar, que seria uma instituição com um estatuto privado, particular, mas porque é o símbolo de qualquer coisa que justificou o nascimento do Colégio Militar, a sua persistência e ainda a sua actualidade.
Este país nasceu de um acto voluntário — como pensava Oliveira Martins — esse acto voluntário traduziu-se na capacidade de um pequeno povo, num certo momento da História, aqui no ocidente da Europa, ter pretendido ter uma autonomia, uma vontade própria, um território, um projecto.
Esse projecto foi incarnado de maneiras diversas, sempre por uma força legitimada institucionalmente, como também pelos ritos sociais da época, pelos ritos guerreiros, mas sobretudo pela sua finalidade: conservar, defender o nosso território, essa pequena parte que se construiu lentamente, que não nos caiu do céu, que é filha de outros conquistadores.
Essa pequena parte, que num certo momento da nossa História acidentada, mas menos que outras na Europa, precisou de constituir, formar um exército contra os exércitos que naquela altura estavam dominando já o território europeu no seu conjunto.
O Colégio Militar foi então o viveiro de um mini-colégio e de um mini-exército, em que o exército verdadeiro assentaria as suas bases, tendo em conta uma aprendizagem particular e sobretudo uma identidade particular, e que estava ao serviço, radicalmente, deste país frágil que precisa realmente que o defendam porque se não o defenderem ele desaparece na voragem do confronto com os outros.
Tanto que o Colégio Militar não é um elitismo de uma classe particular, até porque eu encontrei no Colégio Militar umas das maiores virtudes, nunca estive numa instituição mais organicamente igualitária que aquela
que era vivida pela vida no Colégio Militar, no seu ensino, na sua solidariedade colectiva, uns com os outros, aquilo que ficou para sempre como sendo a nossa marca de identidade colegial: a camaradagem que é outro nome, na ordem militar, do que é a fraternidade na ordem geral da humanidade.
E é esse Colégio, esse viveiro dessa aprendizagem da vida num certo vector, numa certa perspectiva, que é a perspectiva da defesa de um país, das sua tradições, da sua identidade, que (é) ameaçada… Nem quero crer nisso e por isso não tomei muito a sério essa espécie de provocação insólita que é feita a nós próprios, através de uma veleidade de ordem institucional — que espero seja apenas passageira.
Desejo ao Colégio Militar que saiba defender-se, embora não o precise — o seu passado testemunha por ele!
As pessoas que aqui estão saberão ser a muralha, não de aço como se dizia nos tempos revolucionários, mas a muralha do bom senso, a muralha da sensibilidade, da dignidade e a nossa memória enquanto instituição colectiva: é isso que eu desejo para o meu Colégio, a quem devo tudo e que não me deve nada e ainda por cima me dão um prémio… eu que nem sequer fui graduado!”
Muito recentemente, Eduardo Lourenço foi de novo homenageado pela nossa Associação, figurando na galeria dos «Antigos Alunos em Destaque», constante no número 220, de Julho/Setembro de 2020, desta nossa revista. Esta última homenagem, resultou do facto de Eduardo Lourenço ter sido distinguido com o prémio «Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes», de 2020, da Conferência Episcopal Portuguesa. Este prémio destina-se a homenagear aqueles que procuram introduzir no tecido social a dimensão do espirito cristão.
Eduardo Lourenço teve funeral oficial na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos, sendo o
seu féretro velado por cadetes das Escolas Superiores das Forças Armadas. Numa última homenagem ao falecido, compareceram à missa de corpo presente as mais altas individualidades das diferentes instituições do Estado.
No número do jornal «Expresso», de 4 de Dezembro de 2020, foi publicado um magnífico artigo de Clara Ferreira Alves, amiga e admiradora do falecido. Desse notável artigo, apresentamos de seguida alguns extractos, ilustrativos da polifacetada personalidade do falecido.
«Eduardo Lourenço foi um sábio que usou a erudição e o conhecimento com leveza, com humor, com elegância e com generosidade.»
«Se Eça nos descreveu, Lourenço escreveu-nos como ninguém.»
«Nunca conheci uma cabeça tão livre de pensar como a deste professor. Tão sem medo de pensar.»
Comentando alguma parecença física entre Eduardo Lourenço e Salazar, Clara Ferreira Alves escreveu:
Eduardo Lourenço (92/1934). “Menino da Luz”.
«Nos olhos, lia-se toda a diferença……….os de Eduardo Lourenço eram vivos e acesos como brasas, os olhos de uma curiosidade nunca extinta. E que ele manteve até ao fim.»
Mais adiante, ao sintetizar o trajecto seguido por Eduardo Lourenço, escreveu:
«Desde que Eduardo Lourenço se libertara de Coimbra e da Academia, e da querela entre neo-realismo e modernidade, que tratou com o vigor da juventude, a vida foi dedicada a pensar o mundo e os outros. Escreveu sobre tudo, sobre a contemporaneidade, sobre a América, sobre Portugal político e social, um país inserido na história do tempo, sem atrasos, sem atilhos, e escreveu muito sobre uma Europa física e mental que era o seu lugar de eleição, a sua família intelectual. Era um descendente dos escritores e pensadores europeus, da cultura judaico-cristão, e do sentimento religioso da vida que a informa. Vinha tanto dos gregos como da racionalidade de Voltaire e Montaigne.
E como Montaigne gostaria de ter sido um ensaísta pleno, era um dos guias espirituais.»
Eduardo Lourenço foi um homem de uma simplicidade cativante, nunca pretendendo ser superior aos que com ele conviviam, o que é sinteticamente descrito por Clara Ferreira Alves.
«Um dos grandes prazeres da vida é a conversa, a digressão sem bússola. Nunca conheci um conversador como ele. Tão estimulante.»
A forma como era estimulante o convívio com Eduardo Lourenço, é de seguida testemunhada por Clara Ferreira Alves.
«Com ele nunca se deixava de aprender, e nunca nos deixava ser infelizes. Não apreciava a lusitana tendência para a tragédia como forma de desculpar a desistência, a derrota.»
Quanto ao legado de Eduardo Lourenço, segundo Clara Ferreira Alves, não podia ser maior.
«Eduardo Lourenço era um cosmopolita, e foi o legado que nos deixou. Deixou-nos melhores, mais bem preparados. Mais felizes.»
Á guisa de conclusão, diz-nos Clara Ferreira Alves.
«Um verdadeiro homem das Luzes.»
Este homem das Luzes, «com 90 anos, continuava a escrever e a publicar» e continuava a ganhar prémios, como aquele que deu origem à última homenagem que lhe prestámos, em 2020. É mais uma figura de destaque a engrossar as fileiras dos notáveis «Filhos do Colégio Militar». Era um «Homem das Luzes», foi um verdadeiro «Menino da Luz». Que descanse em paz.
A Redacção
sem máscaras...
Luxo, é poder reunir-se com a família! com seus amigos, abraçar, beijar! Luxo, são os olhares! Luxo, são os sorrisos!
Fizeram-nos acreditar que o luxo era o raro, o caro, o exclusivo, ter muito, muito dinheiro!
Tudo aquilo que nos parecia inalcançável. Agora damo-nos conta, de que o luxo eram esses pequenos gestos que não sabíamos valorizar/apreciar, porque, e tão simplesmente, por serem gratuitos!
Aprendemos agora que:
Luxo, é estar são!
Luxo, é cumprimentar alguém com a mão!
Luxo, é não pisar nenhum hospital!
Luxo, é poder passear pela orla do mar e ouvir o sussurrar das ondas!
Luxo, é passear pelo parque e conversar à vontade com alguém, sem quaisquer receios de nada!
Luxo, é poder sair às ruas, trabalhar e respirar,
Luxo, é vivenciar intensamente as nossas alegrias! Luxo, são os abraços e os beijos!
Luxo, é desfrutar vivamente cada instante, cada amanhecer, cada entardecer!
Luxo, é o privilégio de amar e de estar vivo. Luxo, é dar mérito aos nossos verdadeiros amigos, e àqueles que nos querem bem! Luxo, é acarinhar, abraçar os nossos velhinhos doentes, que nos são tão queridos!
Tudo isso é um luxo, e não sabíamos!... Prisioneiros nos encontramos, na esperança da liberdade, que desapareceu das nossas vidas!...
Autor desconhecidoEste belo texto, de autor desconhecido, foi-nos enviado por José de Pina Cabral e Trindade (101/1955), a quem muito agradecemos.
POEMA EM HOMENAGEM AO SR. AFONSO CARDOSO PINTO, FUNCIONÁRIO DO COLÉGIO MILITAR
Afonxinho das Cananas Das G3´s e do Brasil Onde em vez de bananas Trataste do Cóias febril
No tabaco eras o maior Sempre a contrabandear Das armas um Doutor Era bê-las a brilhar
Nosso amigo do coração De ratas ao que há de vir Foi com dor e emoção Que te vimos partir
Tiago Pestana Vasconcelos (17/1990)
De entre todas as personagens que nos acompanharam ao longo do Colégio, há uma que ficará para sempre nos nossos corações. Tinha um olhar meigo e uma gargalhada fácil. No meio de tantas pessoas que passavam a maior parte do tempo a exigir-nos que fossemos isto e aquilo, ele era um amigo e um cúmplice. Chamávamos-lhe, carinhosamente, o Afonsinho das Cananas.
Afonso Cardoso Pinto foi durante muitos anos o responsável da Sala de Armas. Tinha as Manelickers e as Mausers que empunhávamos nos desfiles sempre bem oleadas. Algumas delas eram
símbolo do companheirismo que existia entre alunos e funcionários.
Saber que partiu, deixa-nos tristes e saudosos.
Há uns anos veio almoçar connosco no encontro anual que realizamos na Herdade da Samarra. O Afonsinho das Cananas era assim, um homem generoso, sempre pronto a alinhar nos desafios que lhe lançávamos. Esteve connosco na nossa viagem ao Brasil. Quando nos pediram para escolhermos um funcionário que nos acompanhasse, a escolha foi unânime. Tinha de ser o Sr. Afonso.
É impossível não recordar com um sorriso nos lábios quando na viagem de avião o Sr. Afonso, no meio do Atlântico numa turbulência nunca antes vista, se sai com: “se esta merda cai, eu não sei nadar”. Era um homem de palavras sim-
guém. Também era um homem carinhoso. Ao chegarmos a Brasília, durante o jantar em casa do Adido da Defesa, o Cóias ficou doente. Foi o Sr. Afonso que o acompanhou ao hospital e que cuidou dele o resto da viagem. Não o fez por obrigação, fê-lo porque se preocupava genuinamente connosco.
Recordá-lo, também é recordar a sua generosidade, como quando nos limpava as G3, apesar do Tenente responsável pela nossa instrução militar ficar possesso. Ou quando ia ao bar de sargentos buscar-nos bens escassos de grande procura no meio colegial.
Há dois anos, já de cadeira de rodas acompanhou-nos na comemoração dos nossos vinte anos de saída. Ao fim de tanto tempo ainda nos chamava pelo nome. Foi a última vez que estivemos com ele e foi bom senti-lo feliz.
Todos o sabemos: uma ‘semana’ tem 7 dias (actualmente).
A ‘semana’ é pois um período correspondente a um grupo de sete (7) dias que é o tempo de duração aproximado de uma fase lunar (¼ do ciclo lunar). Porém, a origem da expressão é mais recente e vem do latim septimana , que significa sete manhãs. A ‘semana’ é também definida como um período de cento e sessenta e oito (168) horas.
Desde quando é que existe o conceito de uma ‘semana’ ?
A ‘semana’ foi uma evolução na medida do tempo, cujo início ocorreu pela relação do homem com a natureza e principalmente com o que mais lhe chamava atenção e influenciava a sua vida, nomeadamente a movimentação da Lua e do Sol.
Na antiguidade, a Lua era muito mais significativa para o homem, do que o Sol, porque – além de estar relacionada com as marés e com a agricultura – iluminava as noites, facto que perdeu importância desde o aparecimen -
to da iluminação noturna. A origem do período de 7 dias está intimamente ligada com a duração das fases da Lua e acabou gerando os primeiros calendários anuais, hoje conhecidos como calendários lunares.
Permito-me fazer aqui uma referência ao meu artigo ‘A contagem do tempo’ incluído na nossa revista ZacatraZ nº215 do 2º trimestre de 2019 no qual os calendários lunares (como o islâmico), solares (como o cristão – Gregoriano) e lunissolares ( como o judaico e o chinês) são referidos em maior detalhe.
No entanto, como iremos ver, há países que adoptaram, durante períodos variados, ‘semanas’ de 5 dias, de 6 dias e até de 10 dias.
Debrucemo-nos agora sobre os nomes dos dias da semana de 7 dias:
Sete astros conhecidos ― (Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e Saturno) e os deuses a eles associados, definiram os nomes dos 7 dias da semana, em vigor durante o Império Ro -
mano: Solis, Lunae, Martis, Mercurii, Jovis, Veneris, Saturni.
(Com a influência da igreja católica no império romano, após o Concílio de Nicéia, no século IV, o primeiro dia da semana passou a ser dedicado ao próprio ‘Senhor Jesus’, para se combater o culto ao Sol, tornando-se assim, o dia do Senhor, o Dies Dominica) e o sétimo dia da semana passou a ser dedicado ao ‘Shabbat’ judeu, o dia em que Deus descansou da criação do mundo.
Note-se que esta modificação só influenciou a Europa latina. Na Europa anglo-saxónica e germânica os nomes dos dias dedicados a Saturno e ao Sol permaneceram, como podemos ver no inglês: ‘Saturday’ e ‘Sunday’
Apresentamos em seguida os nomes dos 7 dias da semana em 5 línguas latinas diferentes e onde se vê que a língua portuguesa sai completamente das escolhas feitas pelas restantes, para os nomes de 5 dias da semana (excluindo portanto Sábado e Domingo). Para tal facto, será apresentada uma explicação detalhada.
Quadro 1 — 7 dias da semana em 5 línguas latinas diferentes.
Solis dies, o dia do Sol: a semana deveria começar com um dia de descanso, de culto aos deuses, e ao astro principal - o Sol, para serem abençoados pelos dias que se seguiriam;
Lunae dies, o dia da Lua: o segundo astro mais importante para o culto romano. Assim, o segundo dia da semana era dedicado à lua, e à sua influência no plantio e nas marés;
Martis dies, dia de Marte: para o Deus da guerra, um dia dedicado à prática das artes da guerra e dos exercícios físicos e desportivos.
Mercurii dies, dia de Mercúrio: dia dedicado ao patrono dos comerciantes e viajantes.
Jovis dies, o dia de Júpiter: o “Deus Pai”, Júpiter (Deo Pater) era o criador da natureza, das chuvas, das colheitas, portanto este dia era dedicado à natureza e seu criador.
Veneris dies, o dia de Vénus: o astro mais brilhante do céu era também o símbolo do ouro, e por isso este dia era dedicado a Vénus, pois era neste dia que os soldados romanos recebiam seus pagamentos.
Saturni dies, o dia de Saturno: ao deus do tempo foi dedicado o último dia da semana (‘septi mana’ – sete manhãs), e era um dia dedicado à reflexão, descanso e às ceias com a família.
NOTA: em algumas outras línguas, os dias da semana são designados conforme as divindades correspondentes nessas culturas.
Verifica-se pois que a língua portuguesa é a única língua latina da Europa ocidental em que para identificar os 5 ‘dias úteis’ da semana, os nome dos astros (estrelas e planetas) e Deuses da antiguidade foram substituídos por numerais.
Podemos considerar que a cidade de Braga (Bracara Augusta) está ligada ao nome actual dos dias da semana em português.
Martinho de Dume ou Martinho de Braga (Panónia, 520dC – Braga, 580dC), também conhecido como Martinho Dumiense, Martinho Bracarense ou Martinho da Panónia, foi um bispo de Braga e de Dume, posteriormente considerado santo pela Igreja Católica. Martinho nasceu na Panónia, actual Hungria, no século VI. É conhecido como o “apóstolo dos Suevos”, por ser considerado o maior responsável pela conversão desse povo, do arianismo ao catolicismo. Também é conhecido por ter alterado os nomes dos dias úteis da semana, na língua portuguesa.
Os Suevos eram um povo de origem germânica que invadiu a península ibérica em 410dC e dominou uma boa parte da península até 585dC, ano em que foi anexado ao reino dos visigodos, passando a ser uma sua província.
No entanto, em 715dC, já os invasores árabes eram donos de toda a península ibérica, com excepção duma área no Norte – o reino das Astúrias. (E só abandonaram totalmente a península ibérica em 1492dC).
Nota Informativa:’dC’=depois de Jesus Cristo (também é por vezes referido como ‘aD’=Anno Domini (ano do Senhor). Na ausência de qualquer um destes ‘sufixos’, é considerado que se trata dum ano após o nascimento de Jesus Cristo.
Como se vê nestes mapas, o reino dos Suevos tinha quase metade da península ibérica em 455dC mas já era muito menor em 560dC; tinha a sua capital em Bracara
Augusta (Braga) e a sua língua oficial era o Latim. O arcebispo católico de Braga (ao tempo, a diocese mais importante da península ibérica), Martinho de Dume, promoveu o renascimento cultural e político e a conversão do arianismo ao catolicismo do reino dos Suevos.
Em 563 dC, Martinho de Dume entendeu que na Semana Santa, a época do ano mais sagrada para os católicos devido à Paixão de Cristo, seria uma blasfémia chamar os dias pelos seus nomes pagãos. Escreveu ele:
Pois os infiéis irritaram Deus e não acreditam de todo o coração na fé de Cristo, mas são incrédulos que colocam os próprios nomes dos demónios em cada dia da semana e assim eles falam do dia de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vénus e de Saturno, [demónios] que nunca criaram um dia sequer, mas como eram homens malvados e perversos entre a raça dos gregos [nominaram os dias assim].
Considerando isso, Martinho de Dume propôs que durante a Semana Santa, que à época da Idade Média era inteiramente consagrada ao descanso, ao culto católico e às orações, os dias fossem chamados feria (literalmente: dia livre) e ordenados numericamente, conforme a liturgia católica.
Assim, foi decidido, num Concílio em Braga que, naquela região, os dias deveriam ser denominados como: Dominica dies, Feria
Secunda, Feria Tertia, Feria Quarta, Feria Quinta, Feria Sexta, Sabbatum. No latim, Feria tinha o sentido de Festa (no caso, festa litúrgica, de onde veio o nome Feriado).
Com o passar dos anos, através do desenvolvimento da língua portuguesa, a palavra Feria foi substituída pela palavra Feira, porque Feira era o dia do mercado. Assim, os nomes dos dias da semana em português tiveram a alteração para a situação actual: Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado (do 1º ao 7º dia da semana).
A Terça-feira não foi denominada como Terceira-feira porque seguiu a pronúncia latina do seu original Tertia
E assim se explicaram as designações únicas (dentre as línguas latinas da Europa ocidental) que Portugal tem para os 5 ‘dias úteis’ da semana.
Por achar extremamente interessante, incluo neste artigo uma descrição resumida da evolução do calendário da União Soviética de 1923 a 1940. É o único exemplo que conheço de um calendário anual político (e é de certa maneira o retrato dum regime totalitário e do seu controlo sobre a população) e de um país que – em pleno século XX e não na ‘antiguidade clássica’ – teve semanas de 5 dias, semanas de 6 dias, semanas de 7 dias e ainda uma ou outra semana com um maior número de dias, por razões políticas ou para acertar ‘calendário’! EXTRAORDINÁRIO.
Eis uma folha dum Calendário Soviético do dia 12 Dezembro de 1937 (Sob o número do dia “12”, lê-se: “Sexto dia da semana soviética de 6 dias”— “Eleição para o Soviete Supremo da URSS”). Notemos as ‘efígies’ de Lenine e Estaline, que estavam presentes em todas as folhas do calendário, mostrando até onde ia o culto da personalidade, em toda a sua crueza e força.
A União Soviética que até então era adepta do calendário que havia herdado dos bizantinos, adoptou em 1918, o Calendário cristão Gregoriano, com as suas semanas de 7 dias. A 6 de outubro de 1923, decidiu no entanto estabelecer um calendário próprio, conhecido como Calendário Soviético Eterno. Posteriormente, em 1929, foram estabelecidas novas alterações (que só se tornaram efectivas no primeiro dia de 1930).
Neste novo modelo, o ano era dividido em 12 meses, cada mês com seis semanas de 5 dias (360 dias), não contendo sábados nem domingos. De modo a contemplar as posições relativas da Terra e do Sol, eram adicionados mais 5 dias extras (Feriados Nacionais) a fim de completar os 365 dias.
• 1 dia consagrado a Lenine (Vladimir Ilyich Ulianov), a seguir a 30/01
• 2 dias ao Proletariado, a seguir a 30/04
• 2 dias à Revolução, a seguir a 30/10
Em 1932, houve nova mudança no calendário, na qual o ano continuava sendo dividido em 12 meses, cada mês com 5 semanas de seis dias
Os dias da semana eram denominados simplesmente o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto e o sexto (dias da semana), sendo que o 6º dia era de descanso oficial.
Os cinco Feriados Nacionais mencionados anteriormente, permaneceram no calendário para se obterem 365 dias para cada ano (havia uma inclusão de um dia adicional – 29 de Fevereiro – para os anos ‘bissextos’). Os pormenores específicos e alternativas existentes neste novo calendário eram tantas (a URSS incluía imensas culturas) que, na minha opinião, era uma ‘grande trapalhada’.
Foi substituído em 26 de junho de 1940, quando houve o retorno ao Calendário cristão - Gregoriano, actualmente em vigor, com as suas semanas de sete dias.
Nas linhas entre os dias da semana está o significado etimológico da palavra russa que é usada para nomear cada um dos 7 dias.
(Segunda feira) – понедельник O dia depois de Domingo
(Terça feira) – вторник O 2º dia (depois de Domingo)
(Quarta feira) – среда O meio da semana
(Quinta feira) – четверг O 4º dia (depois de Domingo)
(Sexta feira) – пятница O 5º dia (depois de Domingo)
(Sábado) – суббота Derivado da palavra ‘Shabbat’
(do hebreu antigo): dia de descanso e paz (Domingo) – воскресенье A ressureição de Jesus Cristo
(Tive de recorrer a uma explicadora da língua russa, porque as descrições que encontrei não me deram confiança...e fiz bem...eheheh)
É notável que os nomes dos dias da semana na língua russa tenham como ponto fulcral a ressureição de Jesus Cristo e assinalem também o ‘Shabbat’ judaico.
E, meus caros/as, se quiserem praticar a pronúncia ... visitem o ‘Google’ ...ou arranjem um encontro com um/uma russo/a... eh eh eh!
Para terminar, não posso deixar de referir que houve um país que, no final do século XVIII, definiu a semana como tendo 10 dias (dez!). Foi a FRANÇA!
O calendário revolucionário francês ou calendário republicano foi criado pela Convenção Nacional em 1792, durante o período revolucionário, para simbolizar a quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história da França e do renascimento. O calendário tinha características marcadamente anticlericais e baseava-se no ciclo da natureza e era totalmente diferente de tudo o que alguma vez tinha sido inventado!
Era de base solar, composto de doze meses de 30 dias (três semanas de dez dias, denominadas décadas) totalizando 360 dias. No final dos 360 dias eram adicionados 5 ou 6 dias (se fosse um ano bissexto) para terminar o ano. Esse 6º dia, acrescentado de 4 em 4 anos, era consagrado à celebração da república.
As semanas chamavam-se ‘décades’ e os dias da semana tinham as seguintes designações:
primidi, duodi, trididi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e decadi.
Reflexão linguística – a tradução de ‘décade’ para português não é ‘década’. Os franceses chamam ‘décade’ a qualquer conjunto de ‘dez coisas’: livros, dias da semana, pratos, etc. Para a nossa ‘década’ (dez anos) a língua francesa usa a palavra ‘décennie’ (no entanto, em português, as palavras década e decénio significam ambas um período de dez anos).
Para um conjunto de dez ‘coisas’ nós dizemos ‘simplesmente’... um conjunto de dez ‘coisas’! Por isso, muitos dizem que a língua portuguesa tem ‘falta de palavras’, o que é um facto, nomeadamente em relação à língua inglesa. Exemplo concreto: Qualquer tradução de um texto em Inglês para a nossa língua, ocupa uns 20 % a mais de espaço, devido precisamente à nossa ‘falta de palavras’ (temos amiúde de traduzir uma palavra inglesa por uma frase/conjunto de palavras em português...’simplesmente’ porque não temos uma palavra equivalente na nossa língua).
O ano começava no equinócio de outono (22 de setembro, no hemisfério norte), data da proclamação da República francesa, e os nomes dos meses eram alusivos às condições climáticas da época e à correspondente fase do ciclo agrícola em França. Cada mês do ano tinha uma designação única e, em vez dos nomes de santos do calendário gregoriano, os meses do calendário revolucionário tinham nomes de flores, frutas, animais, instrumentos agrícolas, pedras, etc.
O dia era dividido em dez horas, que se subdividiam em cem partes (como minutos), as quais se subdividiam em mais cem (como segundos). Essa subdivisão mínima equivalia a 0,864 segundos. Dessa forma, a conversão de, por exemplo, 14 horas 31
minutos 51 segundos, para o calendário revolucionário, resultaria em 6 horas 5 minutos e 45 segundos. Cada hora do calendário revolucionário equivalia a 2 horas e 24 minutos convencionais.
Confuso, não? ‘Era revolucionário’! Se era...eh eh eh.
(Na realidade, a divisão do dia em parcelas de base decimal nunca foi verdadeiramente usada na prática, pois foi oficialmente abolida em 1795).
Quanto ao calendário revolucionário com as semanas de 10 dias, ele vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, data em que Napoleão Bonaparte ordenou o restabelecimento do calendário cristão Gregoriano (e também vigorou num período de pouco mais de 2 meses, durante a existência da Comuna de Paris, de 18 de março a 28 de maio de 1871, no que foi o primeiro (e muito curto) governo operário da história, fundado na capital francesa por ocasião da resistência popular à invasão por parte do Reino da Prússia).
Certamente que os relojoeiros franceses terão produzido em 1792, imensos relógios com as ‘horas de base decimal’, que nunca terão conseguido vender... talvez os seus descendentes o tenham feito, dizendo serem peças dignas de qualquer museu (e eventualmente muito valiosas).
São as incertezas e os inúmeros episódios ‘ridículos’ que acompanham todas as revoluções, mesmo as ‘não-sanguinárias’.
Apresento as minhas desculpas aos leitores por ter por vezes fugido para áreas não directamente relacionadas com o título do artigo. Acontece-me muitas vezes...por isso alguns me chamam um ‘contador de histórias’...eh eh eh.
É verdade, pá, vi na net!
José Alberto Alves de Paula 62/1948Émesmo, eu gosto muito de receber notícias fantásticas através da Net. Quase todos os dias recebo notícias e, como dizia alguém, recebo cada uma que até parecem duas!!!
Em princípio, nunca reenvio estas notícias, o que me poupa a alguns vernáculos dos amigos, mas me chega a criar encargos de consciência por não divulgar coisas tão raras e importantes.... e fundamentais para a cultura geral das gentes.
As novidades e, claro, algumas orações e apelos que andam pela Net e que, se eu enviar a 15 ou mais pessoas haverá um santo milagroso que me fará sair o euromilhões. Esta recomendo vivamente, é totalmente garantida,.... só exige que escolham o santo apropriado!
São coisas espantosas que me entram em casa, às dezenas, pelo computador, por email (e notem que eu não uso feissebuque nem tuítar); e o mais espantoso e eu mais gostava de conseguir perceber é: qual será o gozo espantoso que estes tipos sentem quando enviam – calculo que para centenas ou milhares de netnautas – maravilhas destas.
Aqui há uns três ou quatro anos recebi aviso de que, daí a duas ou três semanas, em meados de Agosto, Marte, o nosso querido
vizinho planeta vermelho, se aproximaria o mais possível da Terra, a não mais de uns escassos 30 milhões de quilómetros. E tão pertinho chegava que se iria ver quase do tamanho da Lua Cheia. E, como nesse dia também estaria visível a nossa querida Lua Cheia, quem se levantasse pelas 03H30 da madrugada iria ver, no céu, duas autênticas e quase equivalentes luas cheias. Um espectáculo, uma oportunidade única, que não se poderia, de forma nenhuma, perder, pois se tratava de um fenómeno raríssimo, só se repetiria em 2827, imaginem!
Eu não sou astrónomo, nem sequer amador; mas tinha noção de que a diferença média das órbitas de Terra e Marte andava pelos 70 milhões de quilómetros; sim, claro, as órbitas são elípticas, pode haver posições dos eixos que reduzam a distância, poderia ser menos, talvez uns 50 ou 55 milhões,.... mas 30 também me parecia demasiado pouco! Por outro lado tinha noção de que a distância da Terra à Lua andava perto dos 400 mil, ou seja, a distância da terra a Marte nunca será menos do que umas 120 vezes a distância da Terra à Lua; e sendo o diâmetro da Lua cerca de metade do de Marte, estavam a querem dizer-me que se via quase do mesmo tamanho uma
bola de ping-pong na minha mão, à distância do braço estendido, e um bola de ténis do lado de lá do estádio!!!!
Tão a gozar comigo e querem que me levante às 03H30 da madrugada??!!!!
Mas sei de quem se levantasse!!!.... e não visse nada, já que nessa noite nem Marte nem Lua Cheia eram visíveis! Só o gozo espantoso deste tipo!
Esta coisa do 827 deve ter significado para esta malta malandreca.
Recebi este ano, em plena pandemia, outra coisa fabulosa: o mês de Agosto teve 5 sábados, 5 domingos e 5 segundas, coisa espantosa que só se repetirá daqui a 827 anos! Recebi este aviso de quatro ou cinco pessoas, algumas que mal conheço, outras que nem sequer se conhecem mas, decididamente, não queriam de forma nenhuma, que me fosse escapar um fenómeno destes! Mas....espera aí: há sete meses do ano que têm 31 dias e, claro, todos eles têm 5 dias “d”, 5 dias “d+1” e 5 dia “d+2”. Depende de o dia 1 do mês ser dia “d”. E como há sete meses de 31 dias e sete dias da semana, o fenómeno não devia ser tão raro, devia acontecer com alguma frequência, 827 anos até à próxima parecia-me um pouco exagerado! É certo que há anos bissextos,
que dificultam as contas, mas.... espera aí outra vez, já que falamos de Net, nada como ir à Net ver os calendários deste século e.... bingo: não vale a pena esperar 827 anos, basta esperar por 2026 e, depois, por 2037 para termos Agosto com 5 sábados, 5 domingos e 5 segundas, como já acontecera em 2009 e 2015!
Mas qual é o gozo destes tipos?
Há uma outra que recebi há tempos e que, essa sim, me entusiasmou. Fui alertado de que, de acordo com o famoso e distintíssimo Prof Doutor Aldra Bhan, catedrático da famosíssima faculdade de medicina da Universidade de Baña de Cuebra, quem tenha a infelicidade de contrair um cancro, não deve submeter-se a cirurgias, nem terapias que só servem para enriquecer as multinacionais farmacêuticas, que se estão nas tintas para as pessoas, só querem é “cacau”; deve, em contrapartida, beber meio litro de sumo de beterraba todos os dias, de preferência em jejum. Mas pode ser à noite, o importante é que beba! Mais nada: nem pagar a médicos, que não são mais do que “lacaios das farmacêuticas”, nem gastar dinheiro em remédios. Meio litro de sumo de beterraba por dia e lá se vai o cancro em menos de 15 dias. Com a vantagem de que também se vê livre do reumatismo, da caspa e do pé-chato e fica imune ao sarampo e às varizes. E isto é garantido, não duvidem, que se há alguém que percebe de beterraba e dos seus efeitos milagrosos é o Prof Doutor Aldra Bhan, que também é – por mera e absolutamente ocasional coincidência – presidente da famosa e insuspeita AABAssociação dos Agricultores de Beterraba! Querem testemunho mais isento?! É por estas e outras que, para mim, o que me chega pela Net, até prova em contrário, é barrete! E não divulgo.
MAS..... há sempre um “mas”. Aqui há dias chegou-me uma coisa que não me atrevo a guardar. Apareceu-me como “Comentário de Sandra Pujol”.
Eu não sei quem é a Sra Sandra Pujol; já nem sei quem me mandou isto; também não sei se a Sra Sandra Pujol me autoriza a enviar este seu “Comentário” para a Zacatraz e autoriza a publicação (se não autoriza entenda-se com o Mira Vaz ou com o Luis Barbosa!); mas achei que este texto assenta como uma luva a muitos dos leitores da Zacatraz, apercebi-me de que a esperança média de vida da minha geração aumentou mais de 20% desde o tempo em que andei no Colégio, e que esta variação tem importantes consequências sociais – incluindo a viabilidade das “reformas”. Mas leiam, que vale mais a pena do que quaisquer “bitaites” que eu entendesse acrescentar,
Se observamos com cuidado, podemos detectar a aparição de uma nova faixa social que não existia antes: pessoas que hoje têm entre sessenta e oitenta anos.
A esse grupo pertence uma geração que expulsou da terminologia a palavra envelhecer, porque simplesmente não tem em seus planos atuais a possibilidade de fazê-lo. É uma verdadeira novidade demográfica, semelhante ao surgimento da adolescência; na época, que também era uma nova faixa social, que surgiu em meados do século XX para dar identidade a uma massa de crianças desabrochando, em corpos adultos, que não sabiam, até então, para onde ir ou como se vestir.
Este novo grupo humano, que hoje tem cerca de sessenta, setenta ou 80 anos, levou uma vida razoavelmente satisfatória. São homens e mulheres independentes que trabalharam durante muito tempo e conseguiram mudar o significado sombrio que tanta literatura latino-americana deu por décadas ao conceito de trabalho.
Longe dos tristes escritórios, muitos deles procuraram e encontraram, há muito
tempo, a actividade que mais gostavam e na qual ganham a vida.
Supostamente é por isso que eles se sentem plenos; alguns nem sonham em se aposentar. Aqueles que já se aposentaram desfrutam plenamente de seus dias, sem medo do ócio ou solidão, crescem internamente. Eles desfrutam do tempo livre, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, carências, esforços e eventos fortuitos, vale bem a pena contemplar o mar, a serra e o céu. Mas algumas coisas já sabemos: que, por exemplo, não são pessoas paradas no tempo; pessoas de cinquenta, sessenta ou setenta, homens e mulheres, operam o computador como se tivessem feito isso durante toda a vida.
Eles escrevem e vêem os filhos que estão longe e até esquecem o antigo telefone para entrar em contacto com seus amigos para os quais escrevem e-mails ou mandam whatsapps.
Hoje, pessoas de 60, 70 ou 80 anos, como é seu costume, estão lançando uma idade que AINDA NÃO TEM NOME. Antes, os que tinham essa idade, eram velhos e hoje não são mais... hoje estão física e intelectualmente plenos, lembram-se da sua juventude , mas sem nostalgia, porque a juventude também é cheia de quedas e nostalgias e eles bem sabem disso Hoje, as pessoas de 60, 70 e 80 anos celebram o Sol todas as manhãs e sorriem para si mesmas com muita frequência ... Elas fazem planos para suas próprias vidas, não com as vidas dos demais.
Talvez, por algum motivo secreto que apenas os do século XXI conheçam e saberão, a juventude é carregada internamente.
A diferença entre uma criança e um adulto é, simplesmente, o preço de seus brinquedos.”
NOTA:
Obrigado, Sandra Pujol, quem quer que sejas.
(Ainda) Os Comandantes Honorários do Batalhão Colegial
No último número desta nossa revista, foi publicado o artigo intitulado «Os Comandantes Honorários do Batalhão Colegial», em que recordámos o Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luis Filipe, Comandantes Honorários do Batalhão de Alunos do Colégio Militar, a propósito do funeral da Rainha D. Amélia, mulher do primeiro e mãe do segundo.
Nesse artigo não referimos, por lapso, uma cerimónia que teve lugar no Colégio, já no presente século, respeitante aos Comandantes Honorários do Batalhão Colegial. A cerimónia decorreu, no dia 21 de Outubro de 2008, no Auditório do Colégio, sendo subordinada ao tema «O Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luiz Filipe - homenagem a dois comandantes honorários do Batalhão Colegial». Aberta a Sessão pelo Director do Colégio Militar, Major General Raul Gonçalves Passos, tomou a palavra o Coronel Américo Fernandes Henriques (352/1956), que dissertou sobre o tema «O Rei D. Carlos e as campanhas de África», com a sua reconhecida mestria, tendo recebido uma prolongada ovação da assistência. Seguidamente o Dr. Miguel Pereira Coutinho Sanches de Baêna (diplomata) abordou o tema «Os últimos dias da vida do Rei D. Carlos e do Príncipe Real D. Luiz Filipe».
Encerrada a sessão no auditório, os presentes deslocaram-se até à sala anexa ao Museu Colegial onde estava patente a exposição «D. Carlos, um Rei constitucional» com uma mostra de objectos pessoais de D. Carlos e do Príncipe Real D. Luiz Filipe.
O final dessa jornada teve lugar no Átrio do Fundador, onde D. Duarte de Bragança (97/1960) descerrou a lápide evocativa dos dois Comandantes Honorários do Batalhão Colegial, que apresenta os seguintes dizeres:
EM MEMÓRIA DOS ANTIGOS COMANDANTES HONORÁRIOS DO BATALHÃO DO REAL COLÉGIO MILITAR S. M. EL-REI D. CARLOS I E O PRÍNCIPE REAL D. LUIZ PHILIPPE. NO ANO DO CENTENÁRIO DAS SUAS TRÁGICAS MORTES OCORRIDAS A 1 DE FEVEREIRO DE 1908.
Fica assim corrigida a omissão que apresentava o artigo anterior, omissão essa pela qual nos penitenciamos.
Luis Barbosa (71/1957)
Lápide evocativa descerrada a 21/10/2008.
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950De seu nome completo Jorge Pedro de Almeida Cabral (278/1955), o autor conta-nos em cinquenta pequenas histórias deliciosas, dum humor por vezes corrosivo mas sempre irresistível, a sua passagem pela Guiné entre 1969 e 1971. Primeiro em Fá Mandinga e depois em Missirá, o alferes miliciano de Artilharia e comandante do Pelotão de Caçadores Nativos n.º 63, dá-nos a conhecer o difícil quotidiano do lisboeta das Avenidas Novas e frequentador do Vává em duas minúsculas localidades africanas onde, durante dois anos, acompanhado por meia dúzia de militares brancos, comeu esparguete com enlatados ou bacalhau com arroz e onde bebeu cerveja quente como veículo de socialização. Importa recordar estas circunstâncias para melhor se entender como o humor pode constituir uma escapatória saudável e inteli -
gente às dificuldades de toda a ordem. Estes homens, que foram os grandes sacrificados das campanhas africanas entre 1961 e 1975, têm direito a recordar o seu passado em muitos sentidos miserável. Se o fizerem com humor, tanto melhor.
As estórias cabralianas começaram a ser publicadas há alguns anos no «Blogue Luís Graça e camaradas da Guiné» e constituíram desde a primeira hora um extraordinário sucesso literário entre os membros e os visitantes do Blogue. O seu editor, o sociólogo e professor do ISCTE Luis Graça, ele também antigo combatente na Guiné, escreveu para o livro um sentido prefácio no qual brindou os leitores com um retrato inesquecível do autor:
“(…) E, de facto, ninguém melhor do que o «Alfero Cabral» para nos fa -
zer (sor)rir, ao descrever, em traço grosso, numa frase, numa linha, num parágrafo, numa legenda, uma situação-limite, uma fantasmagórica personagem de carne e osso, um hilariante ambiente de caserna, um garboso chefe militar da «tropa macaca», um episódio grotesco mas sempre humaníssimo, da nossa (co) vivência na guerra, enfim, uma cena rocambolesca, pícara, brejeira, relativamente à nossa passagem pela Guiné «em defesa da soberania portuguesa».
Eu, que fui seu contemporâneo e camarada de armas, passei depois a ser fã das suas short stories, as «estórias cabralianas», para mais, sabendo que ninguém podia invejar o lugar de comandante deste tipo de destacamentos, isolados, na «linha de fronteira da guerra», na terra de
ninguém, guarnecido por pelotões de caçadores nativos, mais uns tantos «milícias» locais, com a família às costas, os cães e os tarecos e mais meia dúzia de graduados e especialistas de origem metropolitana, à beira do abismo, esquecidos e abandonados. (…)
Mas as estórias cabralianas são, também, um hino à idiossincrasia (lusitana e africana), à plasticidade comportamental dos nossos soldados, à enorme capacidade de resistência, de resiliência, de imaginação e de adaptação da nossa gente (…).
O «Alfero Cabral» nunca acentua o lado do «bestiário da guerra» que há no Homo Sapiens Sapiens, mas sim o da sua humaníssima, frágil, quase tocante, condição de primata, de primus inter pares na ordem zoológica do mundo. O único animal que, afinal, consegue esta dupla proeza: (i) ser capaz de rir-se de si próprio; e (ii) mostrar, pelo outro, compaixão (no seu sentido etimológico cum + passio: sofrimento comum, comunidade de sentimentos, partilha da dor… e prazer).”
Resta-nos aguardar com impaciência o volume II destas estórias, pedindo ao Jorge Cabral que se despache a publicá-lo.
Jorge Cabral foi advogado de barra durante quatro décadas. Além disso, foi durante muito tempo docente no extinto Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa e na Universidade Lusófona de Hu -
manidades e Tecnologias, sendo o coordenador do curso de pós-graduação em Criminologia, presidente do Instituto de Criminologia, especialista na área da infância e do direito penal.
Nuno Correia Barrento de Lemos Pires (345/1975) é brigadeiro-general do Exército e desempenha funções de Subdirector-Geral da Política de Defesa Nacional.
O livro foi lançado em Outubro de 2020 e a apresentação esteve a cargo do tenente-general João Vieira Borges, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar.
O apresentador começou por esboçar um conceito de mecânica quântica enquanto ramo da física que estuda os objetos em escala muito pequena, sendo a física moderna dominada pelos seus conceitos: «É uma ciência matemática rigorosa, precisa e experimental. Fiquei a saber que na mecânica quântica, a distinção entre ondas e partículas já não existe, num processo que se tornou conhecido como o “Princípio da Dualidade Partícula-onda”, que não contraria os princípios fundamentais da física. (...). Aprendi também que muita da tecnologia atual existe graças à mecânica quântica. Em Portugal, o Grupo de Física da Informação e Tecnologias Quânticas do Instituto de Telecomunicações, sediado no Instituto Superior Técnico (…) ganhou recentemente dois projetos europeus no valor de 13 milhões de euros para participar na construção do primeiro protótipo da futura Internet Quântica nos próximos três anos (vai ser uma rede que permitirá comunicações privadas a longa distância, assim como ligar em rede computadores quânticos e sistemas de sensores quânticos).»
A partir deste enunciado, Lemos Pires sugere que se averigue da possibilidade de aplicar a mecânica quântica à estratégia, à ciência política e às relações internacionais: E Vieira Borges esclarece que se trata da «aplicabilidade dos sistemas quânticos a sistemas de grandes dimensões, com variáveis ainda menos controladas do que as da física clássica. E essa aplicabilidade assenta em três conceitos base trabalhados ao longo do livro pelo autor, nomeadamente: Granularidade; Indeterminismo; e Relacionalidade. Para Lemos Pires “Uma civilização quântica aproveita o melhor que a ciência produz, de forma a construir uma organização coletiva melhor, mais abrangente, mais justa e mais equilibrada”.»
Seguidamente, o apresentador passou à análise dos conteúdos do livro:
O primeiro capítulo, intitulado Reflexões iniciais, «(…) “visa sobretudo explicar, de modo muito simples, a abordagem quântica, afinal a nova metodologia ‘para estabelecer uma nova forma de pensar das várias ciências sociais, como a política, a sociologia, a história, a economia, etc.” Nesse sentido, caracteriza três premissas da civilização quântica, que também o poderiam ser da sociedade quântica ou da política quântica.»
O segundo capítulo, intitulado O que podemos antecipar, «(…) explica a razão da necessidade de uma nova ciência e constitui um
instrumento de prospetiva estratégica de nível global, mas sob uma perspetiva quântica. “Ser Humano”, “Planeta Terra”, “Ameaças e Riscos” e “Poder e Tecnologias”, são instrumentos de análise das principais tendências na evolução da sociedade. Lemos Pires reforça neste capítulo a sua tese das respostas holísticas às ameaças globais, preferencialmente com comandos holísticos, abrangentes e globais, agora providos através de uma abordagem quântica, de modo a estabelecerem-se “políticas e estratégias exequíveis, sustentadas e pensadas para décadas, no mínimo, ou para centenas de anos, desejavelmente”.
O terceiro capítulo diz respeito à caracterização da Civilização Quântica propriamente dita, numa abordagem que inclui dez pilares fundamentais das novas sociedades do século XXI, desde a Humanidade à Política Social, passando pela Filosofia e Ética, Ciência, Individuo e Famílias, Aldeias e Comunidades, Educação e Trabalho, Economia e Segurança e Defesa. Lemos Pires faz referência à sua Estratégia da Coesão (trabalhada em 2018, numa obra a três mãos, que contou comigo e ainda com o Professor António Telo), à mais-valia de uma ação coordenada em quatro patamares complementares (local, nacional, internacional e global) e a mudanças a três dimensões – das atitudes, do conhecimento e da consciência. Esta é a raiz da sua abordagem
quântica – saber que há um todo e compreender, exaustivamente, o papel da granularidade base. Como refere, o conhecimento é a maior riqueza, o “logos que nos faz pensar, duvidar, questionar e tentar entender”. (…) Daí a sua defesa de uma educação quântica, que passa pela promoção “de um sistema educativo aberto, cosmopolita, defensor de valores e princípios democráticos, em permanente evolução e que se preocupa em retirar o melhor partido possível da tecnologia, sem que sejam criadas barreiras entre privilegiados e excluídos por falta de recursos, apostando nos 5 Cs: Pensamento Crítico, Comunicar, Colaborar, Criar e Cidadania”.
O quarto capítulo dá sequência à caracterização da civilização quântica, buscando o envolvimento coletivo na procura de um futuro distante, através duma prospetiva intitulada “Um possível futuro quântico”, que inclui áreas tão diversas como a Cultura, a Tecnologia, as Inter-ciências, a Participação Cívica, as Comunidades, a Atividade, a Segurança e Defesa, e ainda, a Vida e o Inferno. Lemos Pires assume “que a escolha
por uma abordagem quântica nos obriga a um permanente exercício de humildade, à opção por todas as áreas científicas (a garantia da não-omissão) e à necessidade de apresentar probabilidades.”. (…)
Nas conclusões, Lemos Pires sublinha que se «(…) ”há algo que esta abordagem quântica nos permite é a de olharmo-nos a um espelho cósmico e percebermos como somos tão pequeninos e tão breves, sendo que, no entanto, e ainda assim, sentimo-nos dominantes, universais e perenes”. Reitera que uma civilização quântica, necessariamente resiliente, se constrói
na força de todas as ciências, sem distinções nem prevalências, baseadas num corpo ético e filosófico. (…) E nessa perspetiva, acredita “que é possível evoluir para um mundo em que o grânulo base de todo o sistema, o binómio ser humano e família (átomos e moléculas), possa ter um papel muito mais relevante. Acredita no que defende, e vive o que defende, trabalhando com base nos conceitos de Granularidade (o respeito absoluto por cada indivíduo), de Indeterminismo (a humildade de construir um mundo sem certezas) e de Relacionalidade (tudo será analisado em função das interações entre todos).»
Baila-me nos ouvidos esta frase lapidar: «Nunca marchareis sozinhos» . «You will never walk alone» é uma frase que faz parte de um cântico inglês que os adeptos de um clube de Liverpool entoam para fortalecer o seu moral e vontade em todas as circunstâncias, seja na vitória ou na derrota. Ela os toca e impele a nunca desistir ou esmorecer, sobretudo nos momentos mais difíceis. Esta frase, vertida agora na nossa língua lusa que nesta altura nos diz bem mais, inspirou-me este poema que dedico aos nossos Meninos da Luz, que em todos os 3 de Março marcham com dignidade e aprumo pela Avenida da Liberdade.
Sempre jovens, convictos, marchai, Desafios sem temor enfrentai Com vosso passo firme e ousado. Convosco vai a Pátria, todo um povo civil ou soldado. Os clamores desta Pátria escutai, Sem nunca desistir, caminhai, caminhai… Sabendo ler todos os sinais Vivos e humanos, fraternais, Nos bons ou nos maus momentos, Vossa união e fé vencerão fraquezas e tormentos.
Não vos deixeis enganar, dividir, Pelos «arautos da desgraça» Nem p’lo vento poluído que hoje passa.
Sois a alma de todo esse povo Que em vós nasce, desperta de novo. Solidários e abertos, Vontade que não cede, libertos De todos os fantasmas mesquinhos
Ficai certos:
NUNCA MARCHAREIS SOZINHOS!
Do arquipélago de Thuamotus à ilha de Tahiti.
Depois de três dia de viagem do Arquipélago de Thuamotu , na ilha de Fakarava , chegámos à ilha de Tahiti , no dia 19 de Abril de 2015.
Eu terminei o meu «quarto» às seis horas, mas fiz companhia ao Luís, pois já estava a amanhecer, com uma aurora imperdível, tendo Tahiti a bombordo, Moopea a estibordo.
Esta Ilha tem o mesmo aspeto que as restantes ilhas das Marquesas , com uma barreira de coral com a aparência de um anel, formando um lago interior. Mas em Tahiti , esta barreira é um verdadeiro quebra mar natural, em frente ao aeroporto e à cidade de Papeete, cuja rebentação é brutal, diria mesmo descomunal! A foto 2, um feliz instantâneo, fala por todas as palavras.
Esta zona está felizmente sinalizada no mar por um farol verde muito alto, mas não localizado em todas as cartas digitais!
Existem duas passagens para transpor a barreira de coral. Em qualquer das duas, é necessário ter muita atenção à sinalização - boias verdes e vermelhasporque para além de não serem muito largas, estão ladeadas por uma reben-
tação alta e fortíssima. À nossa passagem, foi impressionante ver, a uma dúzia de metros do barco, os surfistas a deslizar a uma velocidade alucinante, e nós a navegarmos à vela em águas relativamente sossegadas, como nada de perigoso se passasse ao nosso lado. A passagem destes canais foi, em toda a volta ao mundo, das situações que mais adrenalina me provocou.
Depois de transpor o «passe», é só seguir pelo canal, respeitando a sinalização existente e seguir até à marina, para acalmar e repor os níveis – nada melhor para tal, como uma boa «Cuba Livre», que o meu amigo, Nuno Alexandre, cha-
fonte de riqueza é o turismo, a cultura e comércio de pérolas. A língua oficial é o francês e a moeda o franco.
A primeira coisa a tratar foi o problema do gerador, que há bastante tempo nos tem arreliado. Foi chamado mais que um técnico, todos faziam testes e medições elétricas aos variadíssimos componentes, mas não conseguiam que o gerador produzisse energia de 220 V. Entretanto, o Luís Adão enviava mails para Fisher Panda de França, pois estávamos em território francês, mas todos os esforços foram em vão. Perante tal situação, o Luís resolveu arrancar assim e alugar um gerador
tripulações dos barcos que estacam a dar a volta ao mundo foram convidadas e foi uma festa, com bênção pelo prior da paróquia, folclore e um beberete.
Nessa noite fomos jantar às “Roulottes”, um local típico daqui, onde estão postas mesas compridas, au clair de la lune, já que estamos em França, e onde se cozinha um pouco de tudo, mas predominantemente comida da ilha. Foi simpático e animado pelo convívio com as pessoas dos outros barcos.
Hoje 25/4, em Lisboa deve haver grande reboliço pelos festejos da revolução de abril de 74, também chamada
ma de «BETADINE». Ficámos na marina de Taina, bem organizada, com casas de banho impecáveis, e abastecimento de combustível em cais próprio, a cerca de dez kms da capital – Papeete—mas muito perto de um centro comercial, com um supermercado Carrefour.
Tahiti é a ilha mais importante do Arquipélago Sociedade e Papeete, a capital da Polinésia Francesa. A principal
portátil, Honda , que resolveria o problema de imediato, até chegarmos a uma terra onde os recursos humanos fossem mais visíveis e evoluídos, se calhar só na Austrália!!!
Como a largada estava prevista só para o dia 30 de abril, “o que não tem remédio remediado está”, começámos a explorar a ilha de Tahiti, começando pela inauguração da marina de Papeete. As
«Revolução dos Cravos» . Já lá vão 41 anos! Como excecionalmente, nesta ilha, temos WF, vi no Face BooK , várias notícias alusivas à data. Soube também pelo FB a notícia da grande aventura do nosso colega António Carrelhas, 159/47, a descida do Amazonas – Caminho de Pedro Teixeira. É sempre muito agravável receber novidades de Portugal, quando se está, como no nosso caso, a milhas de distância.
Aproveitámos para fazer um grande passeio ao Vale do Pequenoo. Como a ilha é muito montanhosa e pluviosa, esta região está cheia de lindiíssimas e altas cascatas, enquadradas por zonas verdes. Foi pena o tempo estar muito
fechado, não sendo possível ver a cratera de um antigo vulcão, presentemente transformado num grande lago. Neste dia, fomos almoçar ao restaurante Maroto, no meio das montanhas, com comida tipicamente tahitiana.
Em Papeete, visitámos o mercado, muito bem abastecido de fruta, legumes, artigos regionais e de artesanato; o primeiro andar tem pequenas lojas onde se vendem as famosas pérolas negras da Polinésia Francesa. As flores fazem
parte da cultura dos tahitianos, por isso, este mercado está repleto de bancas, vendendo arranjos de flores e coroas. Em qualquer idade é vulgar ver mulheres com adornos de flores no cabelo, nomeadamente coroas, que aliado aos
crioula e cerca de 15% chinesa. Hoje em dia, com tendência a aumentar, encontram-se mistos, resultado de cruzamento de tahitianos com etnia chinesa. No dia 28, a Manuela organizou uma pequena festa para comemorar os
O penúltimo dia em Tahiti foi dedicado ás compras para abastecer o Allegro. Como estávamos perto do Carrefour, e já tínhamos congelador e frigorífico a trabalhar com energia do gerador Honda, fizemos as compras para bastantes
seus vestidos coloridos, lhes transmite uma graça muito especial.
Segundo informação que obtivemos, a população na sua grande maioria é
65 anos do Luís Adão, o Comandante. Reunimos no Allegro alguns elementos das tripulações vizinhas e foi oferecido um bolo de chocolate e bebidas.
dias, pois nestas paragens nunca se sabe o que iremos encontrar.
……E SIGA A MARINHA…..
Passou mais um decénio sobre o «ano horrível» de 1961, que ficou para sempre marcado por três factos trágicos da história de Portugal. Em Março, ocorreu a chacina no Norte de Angola, que ficou a marcar o início da Guerra do Ultramar. Mais tarde, a meio do ano, o representante da soberania de Portugal na fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, uma minúscula possessão no golfo da Guiné, foi obrigado a retirar-se daquela parcela do nosso território, ficando o mesmo perdido para Portugal. Este episódio é hoje ignorado pela grande maioria dos portugueses. Finalmente, em Dezembro, uma semana antes do Natal, o Estado da Índia Portuguesa foi invadido pelas tropas da União Indiana e seguidamente anexado pela mesma. Esta foi uma tragédia não só para os portugueses de Goa, Damão e Diu, mas também para os portugueses em geral e em particular para os cerca de 3.000 militares que lá se encontravam que ficaram, durante meses, prisioneiros das tropas da União Indiana, em condições verdadeiramente degradantes, muito difíceis de esquecer.
Há dez anos atrás, quando passaram 50 anos sobre o início da Guerra do
Ultramar, publicámos na ZacatraZ o artigo intitulado «Não os esquecemos» , em que recordámos os dezoito Antigos Alunos que pereceram nos três Teatros de Operações da referida guerra, entre 1961 a 1974. Chegados
a 2021, continuamos a recordar esses nossos camaradas, que incluímos na categoria dos nossos heróis. Enquanto os recordarmos, eles não estarão mortos para nós. CONTINUAM CONNOSCO.
• Tenente Jorge Manuel Cabeleira Filipe (98/1945) - Angola 1961
• Tenente-coronel João Horta Galvão Ferreira de Lima (334/1917) - Angola 1961
• General Carlos Miguel Lopes da Silva Freire (246/1917) - Angola 1961
• Tenente-coronel Fernando Carlos Teixeira da Câmara Lomelino (99/1931) - Angola 1961
• Capitão Óscar Fernando Monteiro Lopes (375/1939) - Angola 1962
• Capitão António Lopes Machado do Carmo (96/1943) - Guiné 1963
• Alferes Médico João Augusto do Carmo Cabral de Andrade (77/1947) - Angola 1965
• Alferes José Crisóstomo Gomes Bação Leal (89/1954) - Moçambique 1965
• Capitão Ricardo Ferreira Ivens Ferraz (235/1938) - Angola 1965
Foram muitas as centenas de Antigos Alunos que participaram na Guerra do Ultramar, onde provaram mais uma vez, eloquentemente, o valor do Colégio Militar como escola de formação de homens, sempre prontos a servir a Pátria, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Tal como referiu Júlio Dantas (114/1887), «lutando com intrepidez». Muitos destes Antigos Alunos já entretanto nos deixaram, mas também aqui os queremos recordar, com a mesma gratidão, saudade e respeito, que sentimos por aqueles que tombaram em campanha. Tal como dizia uma canção inglesa da 1ª Guerra Mundial «Old soldiers never die. They fade away in the distance».
Ao recordarmos os combatentes da Guerra do Ultramar, é nosso dever recordarmos também as suas famílias, ou seja, as suas mulheres e os seus filhos e filhas,
• Alferes António Prates Dórdio Cravidão (46/1953) - Angola 1966
• Capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães (328/1947) - Guiné 1967
• Alferes Piloto Aviador Raul José Caetano Couvreur (283/1956) - Angola 1968
• Tenente Pára-quedista António Manuel Ribeiro Pinto Assoreira (220/1951) - Angola 1968
• Alferes Piloto Aviador Manuel António Salgueiro Lopes (205/1955) - Angola 1968
• Capitão José Manuel da Costa Martins (296/1950) - Angola 1970
• Alferes Médico Miguel Barroso Silvério Marques (408/1955) - Angola 1972
• Alferes Carlos Eduardo Leal de Carvalho Afonso (267/1959) - Angola 1973
• Furriel Francisco José Ferreira Pina (472/1958) - Moçambique 1973
cujas vidas ficaram para todo o sempre marcadas pelas ausências dos seus maridos e dos seus pais, em cumprimento dos seus deveres militares, que em muitos casos chegaram a quatro comissões de serviço em África, em zona de guerra.
Confessamos, que em tudo o que temos escrito relativo à Guerra do Ultramar, ao longo dos anos, nesta revista, nunca mencionámos as MULHERES, que ou acompanharam sempre os maridos para toda a parte, ou ficaram na retaguarda, a garantir sozinhas um mínimo de estabilidade familiar, com pouca, ou às vezes nenhuma, assistência do Estado. É uma omissão de que nos penitenciamos. Recentemente foi publicado um livro intitulado «Palavras e Silêncios», com testemunhos de trinta e duas mulheres de militares que tiveram essas vivências. Lê-mo-lo e ficámos impressionados. Há testemunhos fortíssi-
mos, vários deles de Meninas de Odivelas, casadas com militares. Há também testemunhos de filhas, que viram a sua adolescência completamente transtornada pela ausência dos seus pais. Reconfortou-nos ver, mencionado várias vezes, que as famílias confiaram a educação e ensino dos seus filhos rapazes ao Colégio Militar. No meio da disrupção da vida familiar causada por aquela longa guerra, ficavam com a consolação de saber que os seus filhos estavam bem entregues. Mais de um século e meio após a sua fundação, o Colégio voltou então a prestar aos militares ausentes em comissões no Ultramar, o apoio que esteve na mente do seu Fundador, quando, em 1803, criou o Colégio da Feitoria. De facto, foi no período durante o qual decorreu a Guerra do Ultramar, que o Colégio atingiu o seu número máximo de Alunos. Prestou assim, mais uma vez, um assinalável serviço ao País.
Sob o título “Estágios de Alunos do Colégio Militar em Empresas Lideradas por Antigos Alunos” , em artigo publicado na nossa revista “ZACATRAZ”, no nº 218 Jan/Mar de 2020, o Martiniano Gonçalves (9/1958) divulgou um conjunto de atividades inseridas num projeto que decorre do programa da atual Direção da Associação, com o objetivo assumido de dinamizar a “Aproximação entre os Antigos Alunos e os Futuros Antigos Alunos”, em conjugação com o objetivo do Colégio em promover “uma iniciativa que possibilite aos alunos a convivência direta com a realidade do mundo empresarial”.
Este projeto que visa contribuir para que os alunos dos 11º e 12º, que o desejem, disponham de mais elementos para sustentarem as suas opções no que concerne ao prosseguimento dos seus estudos superiores, acaba por, de igual modo, dar um grande contributo para aprofundar o conteúdo do “espírito Colegial”, que nos une, com a particularidade de dinamizar a nossa relação inter-geracional.
Em termos práticos, o projeto integra duas linhas de ação principais. Uma
orientada para a realização de estágios, com a duração de 2 ou 3 dias, em empresas ou instituições onde Antigos Alunos (AA) exercem as suas atividades profissionais e, preferencialmente, em contacto direto com eles. A outra, do tipo coloquial, a ocorrer nas instalações do Colégio, onde um pequeno grupo de AA, profissionais da mesma área e, preferencialmente de faixas etárias diferenciadas, partilham a sua experiência e respondem a questões que venham a ser suscitadas.
No mencionado artigo da revista “ZACATRAZ”, consta o resumo dos “Estágios” efetuados em janeiro de 2020, integrado no plano de atividades para o ano letivo de 2019/020 que envolveram a participação de 47 Alunos, dos 11º e 12º anos, em estágios integrados em 23 áreas profissionais.
Para o ano letivo 2020/2021 foi prevista uma nova edição destes estágios, a ter lugar entre 27 e 29 de janeiro de 2021, dispondo, agora, a Associação de uma equipa reforçada constituída pelos AA Vitor Birne (522/64), José António Paulo (672/70) e Martiniano Gonçalves (9/58), para a coordenação de todo processo em ligação, por parte do Colégio, com o Professor Coordenador do Secundário.
Inscreveram-se para participar 64 alunos, 29 do 12º ano e 35 do 11º, manifestando interesse nas seguintes áreas: aviação (10 alunos), automóvel (1), biologia (2), canto (1), direito (5), engenharias (6), farmácia (4), gestão/economia (12), informática/tecnologia de informação (3), medicina (9), medicina dentária (2), media/comunicação/marketing (5) e veterinária (4).
No dia 5JAN21 teve lugar, no Colégio, uma reunião da referida equipa coordenadora da AAACM, com a maioria dos candidatos, cujo principal objetivo consistiu em obter uma definição mais detalhada sobre as preferências dos alunos participantes.
Nesta altura, já com limitações decorrentes da pandemia que tem condicionado o nosso quotidiano, foi possível encontrar soluções para a quase totalidade das solicitações, graças à disponibilidade de um conjunto de 17 AA.
Infelizmente a situação pandémica agravou-se e a necessidade de a conter, determinou o cancelamento dos estágios, em janeiro de 2021, conforme previsto. Está aberta a possibilidade de, ainda no corrente ano letivo, concretizar algumas atividades relacionadas com esta linha de ação, em termos
compatíveis com a conciliação com o calendário escolar. De certeza que, no ano letivo de 2021/22, retomada que esteja a “normalidade”, tudo faremos para concretizar uma nova série de estágios. Aqui expressamos o nosso agradecimento ao Colégio e a todos os AA que se associaram ao projeto.
A já referida edição nº 218 da “ZACATRAZ” inclui, também, um artigo do André Tiago Pardal da Silva, 353/1992, com o título “Tertúlia de Direito da AAACM” Aqui se descreve uma outra atividade que se enquadra na segunda linha de ação referida anteriormente. Em concreto, considera-se muito interessante, neste âmbito, a concretização de um evento onde alguns AA, profissionais da mesma área, cobrindo vários níveis etários (“veteranos”, “seniores”
e “juniores”) partilhem, com os atuais alunos, a sua visão da profissão e as suas vivências e experiências, assim permitindo a potenciais futuros profissionais da área beneficiar da sua experiência, obter esclarecimentos e desfazerem dúvidas.
Termino com um apelo dirigido a todos os AA para se associarem a este objetivo de “Aproximar Alunos e Antigos Alunos”. Para este efeito, aqui deixo o convite para fazerem chegar à Associação (estagios@aaacm.pt), a vossa disponibilidade para:
• Por um lado, receberes e orientares, ondes exerces a tua atividade profissional, Alunos do Colégio que almejam um contato com o ambiente onde esperam vir a realizar-se profissionalmente;
• Por outro, juntamente com outros AA, que exercem ou exerceram a sua atividade profissional em áreas próximas, partilhares a tua visão e a tua experiência com Alunos do Colégio.
Luis Filipe Thomaz, Comandante do Batalhão Colegial em 1958/59, é ordenado Diácono da Igreja Ortodoxa com o nome Frei Jerónimo e, com o seu último Livro “Cristóvão Colombo, o Genovês”, vence o “Prémio Almirante Teixeira da Mota” da Academia de Marinha.
O “Abade” - alcunha do Colégio que cerca de 70 anos antes prenunciava o conteúdo da segunda parte desta notícia - escreve em curta missiva que dirige ao seu Curso, que dedica o livro ao Colégio “onde aprendi de tudo um pouco, como se poderá verificar ao folhear o livro que se intitula “Cristóvão Colombo, o Genovês”, meu tio por afinidade pois o Colombo, como é bem sabido, casou com uma filha do Bartolomeu Perestrelo, donatário do Porto Santo. Ora,
como vim a descobrir no curso das minhas investigações, uma irmã do Perestrelo era amante do castíssimo arcebispo de Lisboa D. Pedro de Noronha, que teve apenas duas amantes (sabidas) e oito filhos bastardos, entre os quais o meu decatetra-avô!”
a dedicatória do livro ao Colégio, é feita nos seguintes termos: “Ao Colégio Militar, vera escola de elite, e aos mestres que aí me educaram e me procuraram dar uma formação tanto quanto possível enciclopédica.”
“Entretanto, satisfazendo um velho sonho, recebi a tonsura monástica, sob a égide de um mosteiro ortodoxo do Monte Athos. Dada a minha idade fiquei autorizado a permanecer em casa, pois dificilmente me adaptaria á vida em comunidade, que se poderia tornar uma fonte de sofrimento inútil para mim e para os outros. Irei só
uma ou duas vezes por ano passar uma ou duas semanas em comunidade.
Como — à semelhança de S. Jerónimo que traduziu a Biblia de hebraico para latim eu traduzi a liturgia ortodoxa de grego para português — deram-me em religião o nome de Jerónimo
E decidiram ordenar-me diácono, para serviço da paróquia moldava de S. João Crisóstomo em Cascais.”
E juntando algumas fotografias das duas cerimónias, da tonsura monástica e da ordenação termina, o seu email ao Curso com as seguintes palavras:
“Hoje (1 de Dezembro de 2020), é um dia especial, pois comemora-se o 380º aniversário da data em que meu enea-avô D. Tomás de Noronha, tetraneto do castíssimo arcebispo de que vos falei,
e mais 39 conjurados, atiraram pela janela o Miguel de Vasconcelos — facto que sempre revivíamos nos claustros do Colégio!”
E
pelo Institut Catholique e pela Universidade de Paris III (1982). Foi Professor Assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e na
É desde 2002 Director do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa, cujos cursos planeou e estruturou, e onde ensina História, Cultura e Civilização da Índia,
Presidente do INESC - Instituto de Engenharia de Sistemas e
Cristianismo Oriental, Malaio e Sânscrito. É sócio correspondente da Academia Portuguesa de História, membro do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica (CEHR-UCP), Investigador Associado do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar (CHAM-FCSH/ UNL-UAç), sócio honorário do Instituto Meneses Bragança, em Goa e membro associado do Centre Nationale de la Recherche Scientifique, em Paris.
É autor de oito livros, dos quais quatro sobre Timor, e de mais de uma centena de artigos, versando quase todos a presença portuguesa no Oriente. Tem colaborado sobretudo nas revistas Archipel, Anais de História de Além-Mar e Lusitania Sacra, tem-se de dedicado sobretudo à história do Oriente, com especial atenção a Timor, onde foi outrora militar, jornalista e professor de Latim e Grego no Seminário de Dare.
JMTribolet, Comandante do Batalhão Colegial em 1965/66 e desde 2010 membro do Conselho Supremo da Associação, deixou em 2 de Janeiro - 40 anos depois - a presidência do INESC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e
Desenvolvimento, instituto público de que foi fundador. Em extensa entrevista à EXECUTIVE Digest, de que de seguida se apresentam alguns extractos, aborda - com a independência que sempre o caracterizou - várias vertentes da ligação entre a universidade e a indústria e o contributo do conhecimento e da tecnologia para uma sociedade mais produtiva e com mais segurança.
A EXECUTIVE apresenta Tribolet, na entrevista, nos seguintes termos:
José Tribolet, nascido em 1949, fez os estudos secundários no Colégio Militar, em Lisboa, tendo terminado com a classificação final de 20 valores. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico, tendo frequentado o Massachussetts lnstitute of Technology (MIT), onde obteve o grau de “Master of Science in Electrical Engineering”. Professor Catedrático do Técnico, foi ainda investigador no Accoustics Research Department dos Laboratórios Bell, nos EUA, onde se deslocou regularmente como cientista convidado durante toda a década de 80. Presidente do INESC, desde a sua fundação em 1980.
Na entrevista José Tribolet faz um balanço desta experiência de décadas e avalia o impacto do INESC - associação privada sem fins lucrativos, dedicada à educação, incubação, investigação científica e consultoria tecnológica no mundo empresarial - e também os desafios que as empresas, a sociedade e o país vão encontrar no futuro, alguns dos quais que, já hoje, são uma realidade.
Questionado sobre o contexto da criação do INESC,
refere que “tinhamos ali um grupo de recém doutorados no estrangeiro e que deveriam ser mobilizados para contribuir para o desenvolvimento do nosso país. Os dois grandes sectores onde podíamas actuar eram o da energia, o da electricidade ou o das telecomunicações” configurando “uma solução instrumental que permita a uma Universidade do Estado poder criar um contexto de actividade profissional rigorosa e gerida como uma empresa (não estou a falar de fins lucrativos). A trabalhar para clientes exteriores e, ao mesmo tempo, com uma sinergia muito importante para fazer evoluir o ensino, a investigação, etc “.
Tratando-se de um desafio complexo, e respondendo a onde adquiriu a capacidade de resolver situações complicadas, explicou:
“Tive experiências extraordinárias na minha vida. Desde logo em miúdo. Depois fui para o Colégio Militar, onde estive sete anos. Adorei e aprendi coisas muito importantes porque o lema do Colégio é Servir, uma escola de cidadania a sério.
O nosso papel na vida, além, de perseguir os nossos interesses pessoais e familiares também é servir a comunidade onde estamos. Depois estive no Técnico, uma escola de vida, de uma disciplina, dureza e rigor muito grande. A seguir fui para o MIT, claramente está orientado para a produção de valor”. Referindo ser difícil imaginar a evolução futura do INESC adianta que “Nos próximos
10 anos a dinâmica é a de uma instituição glocal (global/ local). Isto é, temos vários INESC´s que têm implementação forte local e regional, vectorizada por objectivos a alcançar em domínios específicos: na saúde, na agricultura inteligente, no mar e, portanto, … sectores económicos, sociais e até culturais, relevantes no País”.
Relativamente aos desafios das empresas portuguesas, salienta que “as empresas portuguesas devem perceber que há espaço de cooperação e têm de trabalhar todas juntas” dando como exemplos “brilhantes positivos a APICCAPS-Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos” e referindo que “na área do turismo também há coisas a andar à séria, na promoção do mercado, das marcas.”
Ainda sobre as empresas, referindo-se ao exemplo da APICCAPS,… “tem uma estrutura técnica com doutorados …” e ainda… “Também é verdade que em sectores como o vinho já temos interlocução”.
À pergunta “Na sua opinião o que é que Portugal precisa neste momento em termos de liderança política e empresarial?” responde:
“Liderança política e empresarial. É isso. E é claro que a liderança política neste momento em Portugal é algo que tem que surgir em democracia de forma natural. Mas todo o ambiente de relacionamento e da prática da vida política contraria a emergência de verdadeiros líderes políticos. Um tipo que diga o que pensa está morto. Ou então tem que assumir formas de extremismo radical e que não podem ser aceites em democracia. Tenho uma pequena experiência na vida autárquica [estou na Assembleia Municipal do Crato, na oposição] e que vai terminar para o ano. Esta experiência permitiu-me perceber em que ponto está a democracia autárquica. De um modo geral digo assim: “o 25 de Abril ainda não se deu na maior parte das
autarquias”. Porque tipicamente há uma dominância partidária, de um partido ou de outro, que mina tudo. E muitas dessas autarquias são a única fonte de emprego. Claro que nas autarquias onde há muita actividade empresarial e industrial já há uma vida mais normal, isso é diferente. Mas muito do interior do país está no templo das sombras.”
começa por separar empresários e gestores, referindo que os gestores, em geral estão bem preparados por escolas que dão “qualificações mais do que adequadas”. Já sobre os empresários, em particular os das PME, refere que “muitos não estão situados no contexto actual do mundo”, sendo os que têm tido sucesso os que mais dificilmente aceitam o desafio de mudar de paradigma: “Sempre fiz assim, está a correr bem, porque hei-de mudar?”. E, como sabe, o grau de literacia base de muitos destes empresários é bastante baixo”. Mas, acredita “que é a evolução demográfica que vai resolver porque eles são os donos das empresas, os empreendedores, e que fazem realmente as coisas…mas também uma barreira à mudança… mudança que não é para ser ditada pelo Estado… é uma mudança que tem de ocorrer de dentro”.
Mas…”com a digitalização e a chamada transformação digital, acredito que nos próximos cinco anos vamos ver mudanças brutais porque isto vai provocar alterações profundas.”
Em primeiro lugar, ética. O ter uma missão e comunicar qual é a missão que prossegue. Ter um espírito de serviço, a capacidade de motivar e confiar nos seus colaboradores.
Um líder tem que ser um “mister” a saber montar jogo em cada momento.
Sobre a cibersegurança avalia os nossos sistemas vitais “Muito mal” referindo que ”é uma área de enorme preocupação a nível nacional e mundial. Temos alguns instrumentos e organizações, como o Gabinete Nacional de Segurança ou o Centro Nacional de Cibersegu-
rança, entre outros. Temos grandes empresas que já têm algumas práticas, capacidades pró-activas e defensivas razoáveis. Mas, de um modo geral, a nossa sociedade não está completamente defendida. Não só no mundo empresarial e familiar, mas no mundo da administração central e local. E temos ainda um problema ainda mais grave - o de não termos quadros suficientes e técnicos e especializados para lidar com isto . E podíamos ter. É uma questão de querer ter. Unir-nos e dizer: “vamos fazer”. Há sistemas vitais, que se forem corrompidos, não existe uma maneira fácil de voltar a repor a fonte de verdade”.
Questionado sobre se se refere à estrutura informática do Estado…
“Não só do Estado como de empresas. … há empresas que têm sido sujeitas a ransomware e ficam em estado de desespero. Há muito mais do que vem a público. Vemos as fugas e as chantagens que estão da suceder em todo o mundo. E se não há mais em Portugal é porque somos pequenos e passamos despercebidos entre as gotas de chuva. O mundo do crime é vasto e denso e estamos muitos frágeis”.
Entrevista do Herdeiro Pretendente ao trono de Portugal. Nasceu na Suiça, em território português na Embaixada de Portugal em Berna em 15 de Maio
de 1945, mas a sua família, em exílio, só recebeu permissão para regressar a Portugal em 1950, quando tinha 5 anos. É sócio da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, e membro do seu Conselho Supremo desde 2001. Fez uma entrada tardia para o Colégio dado não ter sido autorizado a fazê-lo no tempo próprio, por impedimento de ordem política como adiante esclarece; foi um figura que,
E termina dando a sua receita sobre como podemos fortalecer a posição das empresas e como podemos organizar-nos…
“Organizando-nos como se fôssemos para a guerra. O enquadramento para a sociedade portuguesa lidar com o ciberespaço é o mesmo enquadramento com que a nação portuguesa lida com a defesa do país. As nossas Forças Armadas estão encarregues da defesa do país no exterior. As nossas Forças Armadas não podem intervir no interior do país, a não ser em estado de guerra. Ora, na defesa do ciberespaço não há fronteira, sobre qual é o interior e qual é o exterior. A legislação que temos está completamente desadequada. Outro problema é o facto de não termos quadros. Se houver aqui um conjunto de 50 empresas portuguesas que se unam, fazem como nós fizemos em 1986 com o fundo TEC: 30 empresas juntaram-se, durante 12 anos contribuíram para um fundo (davam 25 mil euros por ano) e formaram 12 mil especialistas”.
quer como aluno, quer posteriormente, ficou na memória de todos os que frequentaram o Colégio entre 1960 e 1965. Figura pública, Herdeiro Pretendente ao trono de Portugal e Chefe da Casa Real Portuguesa, tem tido ao longo da vida uma postura de portugalidade bem vincada com particular incidência nos valores da cultura portuguesa e nos povos que falam a nossa língua. Dom Duarte Pio deu em 5 de Dezembro de 2020 uma extensa entrevista à jornalista Sofia Peres Pinto no semanário “SOL” em que dá a conhecer algumas das suas convicções sobre matérias da actualidade, da sua vida e dos seus valores. A propósito da sua educação, em resposta a pergunta da jornalista, explica a sua entrada para o Colégio:
“Frequentei a escola primária em Gaia. No Liceu Alexandre Herculano, no Porto, fiz o primeiro ano, depois fui para o colégio Nun’Álvares em Santo Tirso, onde andei dois anos
e só depois é que fui autorizado a entrar no Colégio Militar. O Presidente da República, na altura, era o General Craveiro Lopes, opunha-se totalmente a que entrasse no Colégio Militar por preconceito republicanista. Achava que para ser Presidente da República era preciso combater qualquer perigo de infiltração monárquica. Quando deixou de o ser fui autorizado, concorri ao Colégio Militar - fiz os testes todos, as provas todas - e fui aceite. Gostei muito, foi muito interessante, estimulante, com grande espírito de entreajuda que se mantém para vida toda. Em 200 anos de Colégio Militar não há um antigo aluno que tenha sido condenado por um crime, podem ter sido condenados por multas de trânsito. E isso mostra que a formação espiritual do colégio fica para toda a vida.”
Transcrevemos, de seguida, partes dessa entrevista, com o propósito de dar a conhecer alguns aspectos da sua personalidade.
Sobre o voto e o serviço militar obrigatórios…
“Sim, quando mais de metade dos portugueses não vão votar. Era bom que fosse obrigatório, para que as pessoas se sentissem obrigadas a participar, a tomar opções, mas há quem diga que não sabe, ou que não percebe ou que não tem opinião e, por isso, acham que não vale a pena ir. Há outra coisa engraçada: quando é que as eleições diretas para o Parlamento começaram? Não foi na República, foi com o começo do liberalismo
após a revolução civil, em que os liberais ganharam e puseram um sistema semelhante ao inglês. Duzentos anos depois metade dos portugueses não vão votar...
Assim como acho que o serviço militar deveria ser obrigatório. Seria muito positivo porque é o momento em que o jovem assume a sua posição de adulto, assume a responsabilidade perante o país da sua disponibilidade, o que é muito educativo e pedagógico se for bem conduzido. Houve alturas em que o serviço militar depois das guerras do Ultramar parecia uma perda de tempo.
...
(a obrigatoriedade) talvez pudesse ser substituída por quem não quisesse ir à tropa por serviço cívico obrigatório e que durasse mais tempo do que o serviço militar. Isso acontece em França.”
… a desilusão dos portugueses com a política...
“Claro que sim. Outro motivo que influencia isso é o sistema escolar, sobretudo no liceu, porque não se ensina o raciocínio lógico. O que grande parte do que os estudantes estudam – é como se diz em calão de estudante – é encornanço. Ou seja, há que encornar uma série de informações que não têm interesse e que se esquece logo a seguir mas é para encher chouriços. Imagine que há nos liceus cursos de música teórica, de educação física teórica, em que têm de aprender as regras todas de jogos que nunca vão jogar. Há alguma coisa mais idiota do que isto?”
… uma reforma do Ensino?…
“O facto de sermos um país que gasta na Europa a maior percentagem do orçamento nacional no ensino e, em geral, tem os piores resultados mostra que o problema não está nos alunos, nem nos professores. O problema é do programa que não está adaptado à realidade, ao gosto dos jovens. A auto proclamada elite do ensino – nem são professores, são grupos do ministério da Educação – é que decide os programas. Há pouco tempo
houve grandes protestos e queixas por causa do ensino de educação sexual que violava gravemente os sentimentos, a cultura e a identidade da maior parte das famílias.”
…a Presidência da República...
“Nunca consegui uma boa explicação para o limite de dois mandatos. Os defensores do sistema republicano acham absolutamente inaceitável que o Chefe de Estado Republicano continue enquanto o povo quiser. Têm de ter um mandato com termo. Porquê? Só vejo duas explicações: ou porque consideram que o sistema republicano é muito perigoso e cada presidente da República é um potencial ditador e por isso não se pode deixá-lo estar lá muito tempo ou porque também querem ser Presidentes da República e, como tal, o que lá está não pode ficar muito tempo. Outra curiosidade: nunca tivemos uma mulher Presidente da República em Portugal, mas tivemos várias rainhas reinantes. A única que quase podia ter chegado lá era a Dr.ª Maria de Lourdes Pintasilgo. Acho que teria sido uma ótima Presidente, mas os políticos ficaram todos muito assustados porque intervinha muito. ...Hoje em dia vendem-se os partidos e as ideias políticas como se vendem marcas de detergente ou outras coisas, isto é uma maneira muito simplificada, muito resumida e as pessoas acabam por votar por simpatias, por clubismo ou pela cara do candidato. Isso é uma escolha errada, devia ser escolhido pelo programa e os partidos depois deviam ter a obrigação de seguir o programa que apresentaram. Tenho tido bons relacionamentos e conversas muito interessantes com os responsáveis partidários do PS, do PCP, do Chega, do BE ainda não tive ocasião, do CDS e do PSD que tem muitos monárquicos.”
… a sua inclusão na Lei do Protocolo do Estado ficou pelo caminho nesta legislatura
“A primeira iniciativa foi tomada por Manuel Alegre, assim como pelo antigo Presidente Regional dos Açores, Mota Amaral, e por vários deputados monárquicos ... a proposta nem sequer foi sujeita a votação parlamentar porque se percebeu que não teria a maioria de dois terços e foi retirada. Mas na prática tenho uma posição protocolar e essa petição não seria só para mim também seria para os bispos e para o cardeal. É sempre uma situação complicada onde nos vão colocar. Lembro-me que na presidência de Mário Soares foi decidido que as mesas protocolares passavam a ser redondas. Atualmente nas receções oficiais há a mesa onde está o Presidente da República, o primeiro-ministro e os convidados oficiais estrangeiros e depois há duas mesas aos lados, onde muito amavelmente a Presidência da República coloca-me a mim e à minha mulher.”
… da sua actividade como consultor...
“Foi uma das atividades que me interessou muito numa dada altura e era para ajudar as empresas portuguesas a encontrar mercados estrangeiros. E quando posso ainda faço isso.
… Agora estou mais envolvido na presidência da Fundação D. Manuel II e, desde que assumi funções, tem-se especializado no apoio ao desenvolvimento cultural e da economia rural em vários países da CPLP. Em Timor oferecemos há alguns anos à Diocese de Baucau o melhor equipamento tipográfico existente no país, para a produção de livros e publicações, assim como apoiamos projetos para o desenvolvimento da Língua Portuguesa nas regiões do interior, além de outras iniciativas. Na Guiné Bissau e em Moçambique temos apoiado o trabalho de
Em entrevista à TVI Manuel Luís Goucha apresenta Roberto Durão como uma história de superação e coragem. Notável a entrevista – cheia de vida - que o Roberto Durão deu à TVI no programa “Goucha” em 12 de Janeiro deste ano. É uma entrevista de cerca de meia hora em que aparecem o sentido da vida - em que enfrentou situações de alta competição quer
no desporto quer na saúde - e o da luta com a morte, descritos com razão e, por vezes, com emoção, mas ambas –a emoção e a razão - cada uma no seu lugar “bem arrumadas”. Tudo, num pano de fundo em que é evidenciada a educação familiar e a influência da nobreza dos princípios e da formação do Colégio Militar, muitas vezes mencionado com orgulho, e em que, também, está sempre presente o seu cometimento com os Jogos Olímpicos numa dimensão que impacta muito o seu posicionamento perante a vida. Ao longo da conversa com Manuel Luís Goucha são abordados valores profundos e intensos, difíceis de resumir e descrever atra-
algumas Missões no campo do ensino. Em Bubaque, no arquipélago guineense dos Bijagós, patrocinamos uma escola agrícola... Tenho ido frequentemente a Timor e à Guiné Bissau onde sou sempre muito bem recebido. E também estamos envolvidos em alguns projetos em Angola. Há vários anos que tenho acompanhado de perto a evolução da situação do martirizado Povo Sírio, tendo visitado algumas vezes esse país. No começo da guerra desencadeada por movimentos islamitas contra o Governo de Damasco, após ouvir a opinião do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros e com o apoio particular de responsáveis pela União Europeia, tive ocasião de visitar os governantes sírios e alguns líderes da oposição moderada, tendo proposto uma solução negociável. Ambos os lados afirmaram concordar com a minha proposta, mas a oposição islamita radical recusou qualquer negociação.”
vés da escrita, pelo que optamos por apenas transcrever algumas das partes que melhor evidenciam o que disseram entre ambos. Refere-se ao Colégio para onde foi “não por ser filho, sobrinho e neto de militares, mas por serem ex-alunos do Colégio”. Sobre o Pai que fez uma comissão na Índia em que esteve seis meses preso aquando da invasão (pela União Indiana) e duas em Angola, Goucha lembra que Salazar só entendia os militares da Índia “vitoriosos ou mortos” e Roberto diz que “a missão de um militar é defender a Pátria até à morte, mas um Comandante não pode enviar para a morte pouquíssimos homens mal armados... e que, para um militar vertical, assumir a responsabilidade de uma rendição é mais difícil do que entregar a vida”.
Questionado sobre se foi duro entrar para o Colégio em regime de internato, responde “foi duro e ainda
bem!...foi das melhores experiências que tive na vida... há miúdos que não se adaptam e têm o direito de não se adaptar” e descreve algumas das características / valores da educação no Colégio:
“O estoicismo e a disciplina ... nós somos educados desde os 10 anos a ter orgulho nas pessoas melhores que nós e que isso nos sirva de exemplo para melhorarmos; a ajudar os que precisam de ajuda ... é normal um miúdo de 10/11 anos, num intervalo das aulas, a dar explicações de matemática a outro, ou algum bom a Educação Física a ajudar um camarada para ter melhor nota. Nós temos, realmente, este orgulho nos que são melhores que nós e ajudamos. Isto cria sociedades diferentes, sociedades positivas... “
“É um Colégio de Valores: a camaradagem, o assumir as responsabilidades, nunca acusar ninguém, o que cria sociedades de pessoas que assumem mais responsabilidades para salvaguardar o grupo”.
Referindo que este conjunto de valores estimula a superação, e contribuiu para a sua participação por duas vezes em Jogos Olímpicos: a primeira em 1984, Los Angeles no Pentatlo e a segunda em 1988, Seoul – especializado em Esgrima (Espada). Confessa que foi um inacreditável erro burocrático que o impediu de concretizar o sonho de uma terceira participação em 1992, Barcelona, especializado na modalidade em que era melhor, o Hipismo (Concurso Completo de Equitação).
Teria sido o único atleta do Mundo a participar 3 vezes em Jogos Olímpicos mas em modalidades diferentes. Instado pelo entrevistador a propósito do “exemplo de superação na sua vida”, diz “eu
era um miúdo que não aceitava ser impossível atingir qualquer coisa”, o Pai dizia-lhe “a classificação é uma consequência, não um objectivo. Foca-te em ti, no essencial e vais ver que a tua classificação começa a aparecer melhor, quando tu te esqueceres dos outros... e te focares em ti, no essencial”. A conversa evolui para as principais passagens da doença que venceu (cancro há cerca de 26 anos) e a luta que travou consigo mesmo, tentando enfrentar a situação. Refere ter sido importante a atitude com que o fez em que começou por não entrar em pânico, sorrindo à adversidade e tentando “transformar um cancro numa constipação”...
Com esta atitude apresentou-se no IPO, após ter rapado o cabelo à navalha com o Barbeiro que, no Colégio Militar, lho cortava desde os 11 anos.
Iniciou a quimioterapia (6 ciclos de 5 dias, 360 horas em menos de 4 meses) e decidiu “vou ganhar como no Desporto”. No fim do 4º ciclo decidiu não sujeitar-se mais à dureza do tratamento: “senti que ia perder” “mas disse vou morrer como fui educado, de uma maneira dura e altamente poética, mas vou morrer digno” e recusou os dois ciclos de quimioterapia que faltavam; ... “a morte, numa situação destas não me pareceu... claro que é sempre uma chatice, mas aceitei” Mas o volte-face aconteceu: em ida à praia com o Filho (com quase 3 anos) que se agarra a uma das suas pernas e lhe diz ”Pai, não morra” (e comove-se na entrevista)... “como os miúdos se apercebem das coisas...!”
“A vontade que eu tinha de morrer transformou-se numa vontade ainda maior de voltar a lutar pela vida e, no dia seguinte, na Estefânia, um velhote toca-me nas costas e diz: não desista que já estive aí e vou fazer 90 anos,... e eu pensei, isto é Deus a mostrar-me que me vou curar... e é isso que me leva a estar aqui”. Goucha faz então uma entrada em estúdio de uma gravação do Filho dirigindo-se-lhe e agradecendo-lhe ser seu Pai e dizendo-lhe que sempre foi o seu herói..., seguida
de outra gravação, agora de um seu antigo aluno que lhe agradece o que aprendeu, e que tem sido um grande impulsionador do movimento “Chama pela Vida” criado pelo Roberto: movimento que nasce da importância crucial em partilhar a cura com alguém que está em tratamento. Mensagens de superação transmitem ânimo e inspiram outras pessoas que estejam a passar por situações de vulnerabilidade. Recorda, depois, o que lhe disse a Mãe quando em 2005 uma Farmacêutica o ia patrocinar para, já curado da doença oncológica, voltar ao Concurso Completo de Equitação e preparar-se para os Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim: “Roberto, eu sou a tua Mãe, nunca te disse o que te vou dizer: tenho muito orgulho no que fizeste desportivamente, vejo que estás outra vez a pensar em ir aos Jogos..., pensa um bocadinho, já és atleta olímpico,... agora pensa um bocadinho...experimenta sair do teu ego, dedicar-te aos outros ..e aí é que vais ser único “ e, diz Roberto ”foi aí que nasceu o “Chama pela Vida”, que faz a ligação entre a chama dos Jogos Olímpicos e chamar pela vida”. Após a entrevista à TVI, em conversa com a ZacatraZ, o Roberto Durão refere a grande qualidade do seu Curso do Colégio onde estão bem vincados os valores que aprendemos e diz:
“o Curso que foi o garante da estabilidade interna do Colégio no conturbado período pós-revolucionário de 1974.
É um Grande Curso”.
Nunca é Nada Apenas Aquilo que Parece, para gente de todas as idades com criança lá dentro”
António Mateus, em edição de autor, estreia-se em livros de contos, numa veia diferente das suas seis anteriores obras literárias e de investigação, - Gente Vestida com Peles Diferentes, Selva Urbana, Mandela - A Construção de um Homem, Mandela - O rebelde Exemplar e Olhar o Mundo – em que a sua atenção se concentrou no líder sul-africano e em temas sociais com dimensão mundial.
Curiosamente, trata-se de uma obra a “3 mãos”, uma vez que as ilustrações estiveram a cargo dos seus dois filhos Leonardo (ex8/2008) e Roberto.
Porquê, no título, “gente de todas as idades com criança lá dentro”?
António Mateus explica na sinopse: “Pela mesma razão que, quando estamos felizes, celebramos a vida como crianças, sem os filtros e andaimes que o passar dos anos vai montando no nosso existir.”
Leonardo e Roberto, autores das ilustrações deste livro, adormeceram anos a fio a escu-
tar contos como estes, inventados sobre personagens por eles escolhidas na hora. Estórias sem guião prévio, descobertas em directo e simultâneo, por eles e pelo narrador, a partir de brilhos do dia em adormecimento, de memórias telúricas, mas também de desafios colocados à relação pais-filhos pelas novas tecnologias do “mundo-na-palma-da-mão”, cada vez mais sofisticado e acessível.”
E sobre este impacte das novas tecnologias no nosso modo de vida que se vem alterando, continua:
“Mas também e ao mesmo tempo, redutor da nossa capacidade, real, de relacionamento interpessoal. Estamos mais ligados mas também mais distantes, alerta Sherry Turkle, uma das mais conceituadas investigadoras e autoras norte-americanas nesta área.”
No seu terceiro livro sobre o tema, “Alone together” (“Sozinhos juntos”), a directora do Massachusetts Institute of Technology, nota que o mundo das redes sociais e dos “chats” permite a ilusão de acesso e de companhia sem limitações geográficas e incertezas do relacionamento pessoal directo.
“Encontros de amigos e familiares sentados a uma mesma mesa, em que cada um está agarrado ao respectivo telemóvel a interagir com alguém ausente são um cenário cada vez mais corrente: Podemos estar fisicamente num sítio, mas, apenas isso (fisicamente). Virtual e mentalmente estamos noutro” - sublinha a especialista em cultura digital.
Mas se “nada é nunca apenas o que parece” (nome escolhido para este livro de contos), o facto é que o mundo virtual e as novas formas de comunicação também nos abrem portas e constroem pontes, sem elas dificilmente imagináveis, quanto mais transponíveis.
Ao longo dos contos aqui reunidos, procura-se assim resgatar as experiências, inseguranças, amor, incertezas e humor, só vivenciáveis em pleno no contacto humano directo e, ao mesmo tempo, identificar desafios a ele colocado pelo mundo virtual.
Num quadro lavado de giz, com mente e coração abertos, “para gente de todas as idades, com criança lá dentro.”
João Caramês é o novo Director da Faculdade de Medecina Dentária da Universidade de Lisboa. No passado dia 04 de janeiro realizou-se a Tomada de Posse do novo Director da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, o nosso camarada Professor Catedrático João Caramês que foi “Prémio Barretina Colégio Militar no Mundo” em 2008. A cerimónia – reduzida e à porta fechada dadas as contingências que vivemos - decorreu pelas 12h na Sala do Senado do edifício da Reitoria da Universidade de Lisboa, sendo presidida pelo Reitor da Universidade de Lisboa – Professor Catedrático António Manuel da Cruz Serra, coadjuvado pelos seus Vice-Reitores os Professores Catedráticos João Manuel Pardal Barreiros e Eduardo Manuel Baptista Ribeiro Pereira. Após empossado, João Caramês iniciou o seu agradecimento pela nomeação dizendo que “É com o maior sentido de dever e honra que hoje acolhi, por designação do Senhor Reitor da Universidade de Lisboa, Professor Doutor António Cruz Serra, o cargo de Diretor da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL).
O prestigiante desígnio que agora me é confiado determina que tudo farei para cumprir com excelência, dedicação e lealdade as competências inerentes à função de Diretor de Faculdade.”
E termina com as seguintes palavras: “Encarar as dificuldades como desafios, dosear a ambição com sustentabilidade e procurar congregar o esforço e o mérito de todos os que compõem a comunidade da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa são princípios que parecem definir uma tríade segura e de sucesso! Por todos e com todos, zelaremos hoje e sempre pelo prestígio da FMDUL e da Universidade de Lisboa!”
Do seu vasto curriculum vitae constam, entre outros, os seguintes elementos:
• Professor Catedrático de Cirurgia Oral e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Medicina Dentária (FMDUL) da Universidade de Lisboa, foi Presidente da Assembleia Geral da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) entre 2014-2020;
• É Professor visitante da New York University College of Dentistry, Continuing Education, USA, onde efectutou pós-graduações em Prostodontia, Implantologia e Cirurgia Oral;
Recebeu em 2006 o prémio Outstanding Alumni Award da New York University College of Dentistry – USA, tendo sido homenageado em 2016 com o prémio “Personalidade do ano na área da Implantologia”;
• No plano científico é autor de mais de 150 publicações em revistas indexadas com fa-
tor de impacto variável entre 1.088 e 4.305, proferiu mais de duzentas conferências a nível Nacional e Internacional e possui mais de 700 citações acumuladas na literatura, com um índice h de 15 e um índice i10 de 19;
• É membro activo de diversas Associações Científicas Internacionais: American Dental Association (ADA), American Academy of Oral Implantology (AAOI), American Osseointegration Academy (OA), International Congress of Oral Implantologists (ICOI), European Academy of Osseointegration (EAO), International College of Dentists (ICD), International Team for Implantology (ITI);
• Tem actividade privada limitada à Cirurgia Oral e Implantologia no Instituto de Implantologia em Lisboa, de que é fundador e Presidente.
Carlos Perestrelo - Major General ex-Comandante Operacional e da Zona Militar da Madeira, é Membro do Conselho Supremo da nossa Associação desde 2016 - lançou em 3 de Dezembro de 2020 no Funchal o seu livro “Fogo Cruzado”.
Acerca do seu conteúdo, retirámos da curta Sinopse as seguintes passagens:
“O livro faz referência por várias vezes aos valores incutidos no Colégio Militar e identifica alguns protagonistas colegiais...
tem um cariz cultural por incluir relevantes dados históricos e relata as actividades desenvolvidas sob a tutela dum General Comandante Operacional e da Zona Militar da Madeira ... injustamente exonerado, muito provavelmente, devido a um “Fogo Cruzado” entre entidades que se remeteram a um “estranho silêncio” e nunca esclareceram os motivos que lhe estiveram associados.
Ao longo dos capítulos estão alguns discursos proferidos e mensagens divulgadas que demonstram a sua conduta e as intrínsecas emoções que viveu nos momentos de alegria e tristeza e onde se evidencia o seu reconhecimento à solidariedade, a sua rendição às características das
gentes da “Pérola do Atlântico” e a sua missão de entrega incondicional no reforço da imagem da Instituição Militar, da Região Autónoma da Madeira e da Pátria Portuguesa.” Sobre a cerimónia do lançamento, escreve, em 4 de Dezembro, o Jornal da Madeira pela mão da jornalista Iolanda Chaves:
O Major-General Carlos Perestrelo saiu da Madeira
“em silêncio e sem mais comentários,”
mas ontem, no regresso à ilha para a apresentação do seu livro ‘Fogo Cruzado’, abriu o coração e falou da mágoa que sente pela exoneração de que foi alvo.
Na primeira fila da sessão, realizada no Savoy Palace, o antigo Comandante Operacional da Madeira e Comandante da Zona Militar da Madeira teve o Representante da República, o Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, o Presidente do Governo Regional e o Bispo da Diocese, mas outras entidades relevantes marcaram presença. Sobre quem esteve (e fazendo referência aos convidados ausentes que não puderam comparecer), o militar falou de todos como “amigos que independentemente dos lugares que ocupavam souberam demonstrar inequívoca solidariedade”.
No livro com 302 páginas, ilustradas com 80 fotografias, apenas as últimas 25 são dedicadas aos factos relacionados com a sua exoneração. Sobre a capa, com-
posta por uma imagem da ala militar do Palácio de São Lourenço, disparos de pólvora seca e uma foto dele próprio a fazer continência, diz ser esta “a alegoria de um história desvirtuada que o apanhou num fogo cruzado”.
Manifestamente magoado com o afastamento a que foi sujeito por parte das chefias militares, disse que, durante cinco meses, depois da saída da Região esteve na expectativa de que alguém da hierarquia militar o confortasse e reconhecesse o trabalho que desenvolveu, bem como pelos 40 anos dedicados à Instituição Militar.
Para Alberto João Jardim, autor do prefácio, este livro “é um exercício democrático de um direito à legítima defesa que a Constituição da República dá a todos e a cada um dos portugueses”.
Segundo o antigo Presidente do Governo Regional, “Carlos Perestrelo, grande português, homem militar e madeirense adotivo, assumiu a missão institucional das Forças Armadas na Madeira, quer na defesa da Identidade Nacional, quer nos direitos da pessoa humana que fundamenta localmente a existência de uma autonomia política” e por isso “ não lhe perdoaram “.
as expectativas de investimento estrangeiro no nosso país, manifestando, ainda, o desejo de que os apoios não sejam direccionados, apenas para as empresas do sector público.
Eugénio Fernandes aborda, em duas entrevistas, alguns aspectos estratégicos de contexto que condicionam a actividade da euroAtlantic Airways em Portugal.
O Presidente Executivo (CEO) da euroAtlantic* manifestou, em 13 de Novembro de 2020, em longa e importante entrevista ao Jornal Económico, grandes preocupações com a evolução de alguns dos principais factores que condicionam a vida da empresa, que ao fim de 27 anos de actividade na aviação civil, atingiu, em 2019, um nível de actividade de cerca de 90 milhões de euros. Das mesmas preocupações e com um sentimento de injustiça e criticando a falta de definição atempada para o sector da aviação civil, volta, em entrevista ao Expresso de 29 de Janeiro do corrente ano, a referir comportamentos discriminatórios do Estado entre empresas do sector público e privado. É dessas duas entrevistas que retiramos algumas passagens mais significativas.
Relativamente à entrevista ao Jornal Económico, de entre os assuntos tratados, releva - referindo-se aos apoios financeiros às empresas decorrentes do impacto internacional da crise pandémica - a necessidade de as empresas de capital estrangeiro que operam em Portugal (não apenas do sector da aviação) terem, da parte do Governo, um tratamento equitativo com o que é feito para com as nacionais, no sentido de não frustrar
De igual modo, e no que respeita aos apoios da União Europeia, a existência de muitas companhias aéreas na Europa de que muitas irão falir (“há muitas que já estão falidas, só que ainda não sabemos”), conduz – na opinião do Eugénio Fernandesà necessidade de concentração no sector, ao mesmo tempo que manifesta o seu descontentamento com a falta de critério na atribuição dos apoios, que, em seu entender, deve ter em conta “a viabilidade económica de cada companhia antes da pandemia”.
No que se refere aos efeitos da crise na euroAtlantic, adianta que a “empresa entrou em crise mais tarde porque ainda usufruímos dos voos de repatriamento, transporte de material médico, etc, mas também vamos sair da crise mais tarde porque estamos no longo curso, que será o nicho que vai demorar mais tempo a recuperar”.
Sobre a TAP, lembra a colaboração que “sempre tem existido entre as duas empresas com todas as administrações que aquela tem tido”, mas “são coisas pontuais”, advogando uma colaboração estruturada e alargada a várias áreas, dando como exemplos, entre outros, o facto de que “a euroAtlantic opera rotas que a TAP opera”, e sugerindo “Vamos cooperar. Vamos dividir as rotas. Vamos utilizar o que cada um tem de melhor...”: a euroAtlantic “tem capacidade técnica e operacional para compromissos imediatos”.
Finalmente, e centrando-se na principal infraestrutura que afecta a empresa – o espaço aeroportuário de parqueamento dos aviões - é grande a sua preocupação com o facto de o novo aeroporto ser um assunto “em discussão há 50 anos“, tendo como consequência a necessidade que a euroAtlantic tem de, frequentemente, fazer “voos de reposicionamento dos aviões envolvendo elevadíssimos custos que chegam, no seu todo, a atingir centenas de milhares de euros...” e termina receando que, daqui a 4 anos (período em que se espera que a aviação civil esteja na fase de retoma), “se continue a discutir se o (novo) aeroporto é no Montijo, em Alcochete ou na Ota...”
Na segunda entrevista – a do Expresso – refere que 2021 será um ano tanto ou mais difícil que o de 2020 com quebra nas vendas da ordem dos 70%, passando dos lucros aos prejuízos pelo que é indispensável um apoio do Governo ao sector privado.
Depois de desde Março do ano passado ter iniciado a apresentação ao poder político da situação que se iria deparar, em reunião em Outubro de 2020 de que saiu com alguma esperança, transmitiu ao Ministro das Infraestruturas as necessidades de apoios durante dois anos em valores da ordem dos 40 a 50 milhões de euros, mas até ao presente não houve quaisquer reacções nem a marcação
de reuniões técnicas; esclarece que não se trata de pedidos de apoio financeiro, mas de isenções da taxa social única, do pagamento especial por conta e de alargamento do prazo para a recuperação dos prejuízos fiscais.
E frisa, “não digo que haja um cheque, mas que haja decisões face a medidas de apoio e metas”. Considera, por outro lado, que o apoio exclusivamente à TAP destrói a concorrência e é injusto, relembrando que a euroAtlantic concorre com a TAP e a SATA, ambas empresas públicas e que já lá vão 10 meses sem serem definidas quaisquer medidas de apoio e que “esta indefinição e falta de compromisso, mata”.
Eugénio Fernandes não se manifesta contra o apoio à TAP, mas é a favor de uma actuação “um empurrão do Estado” que envolva o cluster da aviação civil; e diz que o país ficar sem a TAP... “seria trágico, seria penoso para todos, inclusivamente para o sector, mas não seria o fim do mundo, ...seria atravessar um deserto, mas algures a longo prazo, tudo retomaria”
Quanto ao investimento de 3,7 mil milhões previsto na TAP, não discute o valor, “até porque isso é político”, adiantando que “era importante que se fizessem as contas, e se apostasse um valor-limite ... e quanto isso custaria a cada português”.
Em 27 de janeiro 2021, Nelson Olim em entrevista à TSF que transcrevemos comentou alguns aspectos do impacto público da pandemia que nos envolve referindo-se à forma como, com alguma frequência, vem sendo, publicamente, assemelhada a pandemia a uma guerra.
Dada a sua vivência em cenários de guerra, permitimo-nos, com a devida referência à TSF, nas pessoas da jornalista Gulilhermina Sousa e de Bruno Simões Castanheira (ima-
gem) transcrever, de seguida, a noticia que a TSF publicou na sua página do facebook.
Pandemia: “Quem fala de guerra, nunca viveu uma guerra”
Afinal, estamos ou não a enfrentar uma guerra? A expressão tem sido muito utilizada para descrever a pandemia e a situação nos hospitais. Mas Nelson Olim, médico que tem passado boa parte da vida em cenários de guerra, não tem dúvidas: Portugal ainda está muito longe disso. Ao longo de mais de 25 anos, a carreira de Nelson Olim já passou por inúmeros cenários de catástrofe e de guerra. Iémen, Sudão do Sul, Médio Oriente e Somália são apenas alguns exemplos. Perante a experiência no terreno, o especialista não hesita: “guerra é um cenário um pouco exagerado”. E sublinha a importância da perspetiva: “felizmente, ainda há uma casa para voltar ao fim do dia; temos água nas torneiras, temos
E termina dizendo que “A incerteza que se vive na TAP tem muito a ver com a forma como este processo tem sido gerido. É injusto apoiar a TAP e deixar de fora o sector privado. Olhamos para o resto do mundo e o apoio ao sector tem sido transversal, não foi só dirigido apenas às empresas com capital público, como em Portugal”.
*A euroAtlantic foi vendida pelo seu fundador Thomaz Metello (462/58) à I-JET Aviation PT (subsidiária da Imperial Jet (I-Jet Aviation de ABED EL Jaouni), sediada no Luxemburgo) três meses antes da pandemia da Covid-19 se declarar.
eletricidade, a cadeia de distribuição alimentar funciona, não andamos armados na rua com medo de ser alvejados... coisas que não acontecem num cenário de guerra”.
Nelson Olim sublinha que alguma medidas que têm sido tomadas, mostram que o sistema ainda tem margem de manobra: “temos hospitais de campanha, os hospitais privados, as transferências de doentes a nível nacional; as transferências internacionais até, em última análise; utilizar estabelecimentos tradicionalmente vocacionados para o alojamento e transformá-los em hospitais temporários. Temos ainda uma margem de manobra, que numa guerra não há! Temos uma série de cartas que podemos jogar, antes de chegarmos à situação em que largamos os doentes prioritários e apostamos apenas naqueles que têm grande probabilidade de sobrevivência. Ainda não chegámos a essa fase. E não creio sequer que vamos lá chegar”.
“Nunca viveram um cenário de guerra”
Este médico, com formação em planeamento de emergência, não vê qualquer “benefício social” na dramatização do discurso, porque
“deixa toda a gente em pânico”, e diz mesmo que “a maior parte das pessoas que se referem a isto como um cenário de guerra, nunca viveram um cenário guerra. Têm uma ideia!”. Nelson Olim não desvaloriza o momento que se vive nos hospitais portugueses, algo que descreve como uma situação “extremamente complexa”, que muitos profissionais de saúde vivem pela primeira vez, daí que seja “perfeitamente compreensível” esta reação um pouco “mais emocional” E arrisca: quem nunca viveu um cenário de guerra, “tem dificuldade em perceber como nós ainda estamos tão bem comparando com o quão mal as coisas poderiam, eventualmente, ficar. Porque, muitas vezes, (...) o poço é muito mais fundo do que parece. Nós não batemos no fundo do poço”. Além disso, o médico sublinha que “a vacinação já começou, há estratégias de tratamento relativamente eficazes, o que também ajuda.”
Quase sempre em “missão” pelo mundo, Nelson Olim esteve recentemente num hospital português, onde pôde testemunhar a luta dos profissionais de saúde contra a covid-19. Encontrou “uma situação generalizada de exaustão”, mas também defende que o “drama” que se vive, tem muito a ver com um sistema frágil desde sempre e que a pandemia só veio agravar.
“Em Portugal, quando se abre um hospital, passam 10 anos sobre o planeamento inicial. À data da abertura, já está “armadilhado” à partida. Mas (...) continua a haver uma ameaça terrorista, a possibilidade de desastres tecnológicos, de desastres naturais”.
Por isso, Nelson Olim espera que se aprenda com esta crise: “que se tirem ilações, que se
Subdirector cessante do Colégio Militar
Condecorado com a Medalha de Serviços Distintos – Grau Prata
Com data de 15 de Outubro de 2020, o Chefe do Estado Maior do Exército louvou o Rui Rebordão de Brito que durante quatro anos desempenhou a função de Subdirecror do Colégio Militar, mencionando as suas
repense a forma como o sistema de saúde está planeado”. (fim de citação da TSF)
À margem da noticia da TSF, em 19 de Janeiro, Nelson Olim escreveu na sua página do facebook:
“Há que reconhecer que este discurso político da culpabilização do povo, funciona. Ninguém fala dos anos de desinvestimento contínuo nos recursos humanos e equipamentos de saúde. Anos a fio com os recursos no limite dos limites... sem qualquer margem de manobra... urgências a rebentar todos os invernos...
Mas sim, os culpados somos nós!
E tratando-se de um vírus respiratório, somos culpados de respirar... o resto é areia para os olhos”.
“qualidades de liderança, disciplinado, disciplinador e profundo conhecedor da realidade do Colégio”.
O louvor que fundamenta a condecoração com a Medalha de Serviços Distintos – Grau Prata refere, que no desempenho da sua missão o Rebordão de Brito “soube impor, com naturalidade, as suas ideias e convicções pela sua inquestionável formação ética e militar, pelo exemplo, pelo espírito de total entrega e dedicação ao serviço, pelo carácter íntegro, de extrema lealdade e notável espírito de missão”, destacando de entre as suas acções em prol do Colégio “a requalificação e significativa melhoria qualitativa do espaço escolar do 1ºciclo, os decisivos contributos para a imple-
mentação do Programa Tecnológico Digital nas suas diversificadas linhas de intervenção que muito marcaram a modernização e a mudança das práticas informáticas transversais no CM, a beneficiação geral das infraestruturas escolares, desportivas, de alojamento do internato e dos espaços interiores da Feitoria. O louvor releva, ainda, “a atenta e cuidada atitude no planeamento dos detalhes, bem patente no reequipamento das salas de aula, dos laboratórios, dos novos espaços de aprendizagem, da adequação de melhores condições de trabalho”. A comunidade dos Antigos Alunos, associa-se à distinção conferida a mais um membro da nossa comunidade e agradece os serviços que o Rui Rebordão de Brito prestou a bem do Colégio.
Em 7 de Outubro de 2020, durante um almoço exclusivo no Hotel Estoril Palácio no âmbito da Leadership Summit Portugal, ocorreu o pré-lançamento do livro “Leadership – The Power Of Giving Back”, da autoria de Pedro Afonso, feito em colaboração com a neurocientista Luísa Lopes, o filósofo António de Castro Caeiro e a maestrina Joana Carneiro. O livro - que aborda a interacção entre comportamentos individuais e colectivos - tem como pano de fundo uma perspectiva ética da vida em sociedade, visando chamar a atenção dos líderes/gestores empresariais no sentido de devolverem à sociedade maior sentido de altruísmo e menor sentido de egoísmo.
É a escolha da sua ação que pode transformar vidas.
Editado pela Tema Central, conta com o prefácio do Presidente da República. “A tese desta obra é simples: a essência da liderança reside na retribuição aos outros daquilo
que eles dão, ao promoverem, apoiarem ou, pelo menos, aceitarem uma liderança.
(…) As suas necessidades, aspirações, sonhos, carências, frustrações, desilusões, alegrias, tristezas, afirmações, dependências, discriminações, e também o respetivo enquadramento no todo social, ou melhor, nos todos sociais ou comunitários em que se integram. Liderar é, pois, no entendimento do autor, como dos notáveis depoentes por ele escolhidos, mais uma questão com acento tónico naqueles que o líder serve do que nas caraterísticas pessoais ou institucionais ou simbólicas centradas no líder”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa. No prefácio, o chefe de Estado salienta que “seremos tanto mais realizados como pessoas quanto mais contribuirmos para a realização dos outros, sem exceção. A isto se chama uma opção personalista da vida, tendo como alfa e ómega, isto é, como princípio e fim a dignidade da pessoa”. Pedro Afonso, um apaixonado por liderança e transformação de organizações, assume a importância de replicar o sentido de giving back nas lideranças portuguesas:
“Tudo começou com a seguinte pergunta: será que o exercício da liderança é uma oportunidade? Ou é a responsabilidade de devolver à sociedade? Várias perguntas se foram encadeando, e quando vamos levantando muitas dúvidas, podemos escolher pedir ajuda. Foi
O autor pediu a três profissionais de excelência nas suas áreas de atuação, Luísa Lopes nas Neurociências, António de Castro Caeiro na Filosofia e Joana Carneiro na Música, para trocarem experiências de liderança e poder aprender com eles a fazer melhor esta viagem da liderança, com sentido de giving back.
Para Pedro Afonso, “liderar é ajudar o outro a crescer. Liderar é poder crescer com o outro. Quando vivemos o crescimento e desenvolvimento apenas com a mira numa agenda própria, com benefícios individualistas, o egoísmo inflama o gigante que está em nós. Podemos escolher adotar mais comportamentos altruístas, sem a pretensão, utópica, de deixarmos de ser egoístas”. Sublinha, ainda, que “temos de acrescentar muito mais espírito e atitude altruísta à nossa forma de liderar, só assim podemos servir melhor”. “Nascemos biologicamente egoístas – tal como as empresas; lutamos pela sobrevivência. O que este livro vem trazer é a possibilidade de refletirmos sobre a necessidade de passarmos a adotar outros comportamentos, outras escolhas e novas decisões com maior altruísmo nas organizações. Não vamos ser utópicos e pensar que vamos deixar totalmente as decisões egoístas, mas podemos fazer mais escolhas que beneficiem os colaboradores, as suas famílias, os fornecedores, todos os stakeholders, a comunidade em que estamos envolvidos”, explica Pedro Afonso .
“Esta é uma obra de humanismo. Como é que devemos tratar a sociedade depois do lucro? O lucro é essencial nas organizações – não podemos menosprezá-lo, mas o que há depois do lucro é o que procuramos desenvolver neste livro”, acrescenta.
“Com este livro pretende-se lançar um #movimentoGivingBack em Portugal. O propósito da iniciativa é sensibilizar as lideranças – gestores, de forma lata – para trazerem mais sentido de altruísmo na ação da liderança, através da partilha de tempo e experiência com outras pessoas que procurem mentoria.
O objetivo: poderem ser melhores líderes nos seus contextos organizacionais. É do debate e partilha de ideias entre os líderes, gestores, chefias em geral, de diferentes setores e dimensões da economia nacional, que nascem ideias transformadoras para o país.
É também no seio da sociedade civil, sem intervenção política ou do Estado, que o sentido de giving back pode acontecer.”
“Queremos que outros líderes agarrem esta causa na sua ação”, acalenta Pedro Afonso.
Alguns testemunhos: “Hierarquia, relação e emoção são possíveis ao mesmo tempo, uma vez que a hierarquia apenas traz eficácia ao resultado que pretendemos. “Às vezes aquilo que somos não é bonito. Mas a arte tem a possibilidade de transformar aquilo que não é bonito em bonito.” Joana Carneiro
“Quando nascemos, somos biologicamente egoístas.” “Burro velho não aprende línguas, é um erro cientifico”.
Luísa Lopes
“O Giving Back não é um simples ato de dar, e não é apenas uma relação simples de caridade benfeitor – beneficiado. Somos ligações mais complexas, na compreensão das
Sérgio
Em 15 de Janeiro de 2021 a Astrazeneca comunicou à imprensa a nomeação de Sérgio Alves como novo Presidente da empresa em Portugal, nos seguintes termos:
“Sérgio Alves é, desde o início do ano, o novo Country President da AstraZeneca Portugal. Antes de se juntar a AstraZeneca, Sér-
gio Alves liderava a Unidade de Negócio Hospitalar na Europa Ocidental da Pfizer. Com mais de 15 anos de experiência na indústria farmacêutica, o novo Country President tem um vasto conhecimento na liderança de diferentes unidades de negócio. Ao longo do seu percurso, Sérgio Alves assumiu diversas funções, nomeadamente na Servier, onde teve a sua primeira experiência internacional em França. Posteriormente, fez parte da equipa Pfizer, onde desempenhou diversas funções de responsabilidade local em Portugal, Eslováquia e Áustria, e de responsabilidade regional na Europa.
Sérgio Alves refere que “é com grande entusiasmo e sentido de responsabili-
comunidades a que pertencemos.”
“Os reis na Grécia antiga eram escolhidos pelo que sabiam dos humanos, em vez de serem escolhidos pelo que sabiam dos temas concretos da sua atividade.”
António de Castro Caeiro
“O equilíbrio reside precisamente neste ponto: trazer para a nossa ação um maior número de decisões que nos permitam fazer o nosso giving back.” Pedro Afonso.
Parte das receitas da obra – onde se inclui a totalidade dos direitos de autor - reverte a favor de instituições que também têm o poder de transformar vidas. A primeira edição, já à venda na FNAC, reverte 6€ para a Rede de Emergência Alimentar.
Podem acompanhar mais sobre o #movimentogivingback em https://www.linkedin.com/company/movimento-giving-back/ e na página www.givingback.pt
dade que assumo este novo desafio. Liderar uma equipa como a AstraZeneca Portugal é uma honra, nomeadamente neste período em que continuamos a trabalhar afincadamente para combater não só a pandemia, como em dar resposta às outras patologias.” Licenciado em Farmácia pela Universidade de Lisboa, Sérgio Alves fez uma pós-graduação em Gestão Empresarial no INDEG/ ISCTE e possui um Executive MBA pela AESE/IESE. Em noticia de Cátia Mateus do semanário Expresso da mesma data, Sérgio Alves refere-se, do seguinte modo, à actual situação pandémica que nos atravessa: “O meio empresarial passou os últimos nove meses a reagir às circunstâncias mais extraordinárias das nossas vidas. Olhamos para 2021 com mais confiança, mas com uma dupla incerteza: quando vamos sair desta pandemia e como estará o meio empresarial nessa altura... esta incerteza instalada, é talvez, o desafio mais transversal que temos pela frente.”
E, quanto à sua motivação nas novas responsabilidades que agora assume, destaca, como objectivo da empresa “disponibilizar novas terapêuticas capazes de mudar vidas estimulando o crescimento da empresa e gerando valor significativo para os doentes e a sociedade” e, em termos pessoais,
“desempenhar funções onde sinta que estou a dar tudo o que sei para contribuir modestamente para o propósito de salvar vidas.”
A AstraZeneca é uma companhia biofarmacêutica global, que opera em mais de 100 países, orientada para a inovação, fo-
cada na investigação, no desenvolvimento e na comercialização de medicamentos para o tratamento de várias patologias, em três áreas-terapêuticas principais –Respiratória, Oncologia e Cardiovascular, Renal e Metabólica. A AstraZeneca atua também, de forma seletiva, na Autoimunidade, Neurociências e Infeção.
Entrevista aos 230 deputados da Assembleia da República.
Um projecto de cariz politico apartidário, que se encontra, cada vez mais, a ter visibilidade na sociedade portuguesa e nas plataformas electrónicas, é conduzido pelo Francisco Araújo que, depois de liderar o Baralhão Colegial em 2014/15, coordena, agora, a actividade de algumas dezenas de outros jovens, numa iniciativa audaciosa, imaginativa e carregada de espírito de “bem fazer” a que o Colégio … não é estranho. Respondeu assim, às nossas perguntas.
Em que consiste o teu projecto de entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República?
Porque te lembraste e com que objectivo te lançaste neste projecto?
Qual a natureza das perguntas?
O projecto “Os 230” é um projecto de Responsabilidade Cívica, independente, apartidário e sem fins lucrativos. Planeei o projeto em Agosto de 2020, implementando algo que já era minha intenção desde há algum tempo
e que decorre do nosso Lema “Servir”, que, mesmo sem Barrete, não me sai da cabeça. Além disto, o Colégio também nos ensina a não sermos conformistas, e por isso, sem pretensiosismos, pretendi contribuir para melhorar a democracia portuguesa.
Tracei como objetivos: aproximar os cidadãos dos seus representantes, pelo que começar por entrevistar os 230 deputados à Assembleia da República foi o primeiro passo; promover a literacia democrática e política por toda a população, surgindo assim a componente pedagógica que pretendi dar ao “Democracia 101” (subprojecto d`”Os 230)” e incentivar o diálogo democrático na sociedade civil e a cidadania ac-
tiva, nomeadamente com outro subprojecto, o “Sociedade 2:30”, que dá voz a várias áreas e sectores da nossa comunidade, e que tem como finalidade contribuir para a diminuição da abstenção, dar suporte ao voto informado, e reforçar a informação isenta e do conhecimento.
Pretende este conjunto de iniciativas, no seu todo, gerar confiança na sociedade portuguesa, assentando numa actuação baseada em valores e sem branqueamento de flagelos da nossa sociedade.
As perguntas que faço aos deputados pretendem mostrar o seu percurso pessoal, académico, profissional e político, bem com perceber as suas ideias, o seu raciocínio e os seus interesses.
Pretendo, sempre, conduzir as entrevistas de uma forma diferente que mostre quem realmente são e abordando assuntos com conteúdos relevantes da nossa vida em sociedade.
Que reacções tens tido da parte dos deputados e, em geral, relativamente a esta tua iniciativa?
Existem diferenças significativas de aceitação entre deputados ou famílias políticas?
As reacções dos deputados têm sido bastante positivas, congratulando sempre o mérito e pertinência da iniciativa. Não houve até ao momento recusas. A sociedade portuguesa tem apoiado também muito o projecto, que cada vez mais se torna conhecido, e as mensagens que recebemos diariamente são a nossa maior motivação para esta missão.
Relativamente a esta matéria, o que projectas fazer com os conteúdos das entrevistas realizadas?
As entrevistas são posteriormente divulgadas nas várias plataformas das redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, Podcast, Youtube, LinkedIn e no nosso site “os 230.pt”). Depois de entrevistar
todos os deputados irei avaliar o desenvolvimento do projecto e pensar nos próximos passos. Neste momento, já tenho 35 jovens independentes de todos o país, de diferentes áreas, que fazem parte da equipa e ajudam o projecto a crescer diariamente, nas suas várias vertentes.
Não tenho dúvidas que “Os 230” terá um grande impacto em Portugal!
Infantaria, e de Maria de Jesus Lourenço. Mudou-se para a Guarda em 1932 e ingressou no Colégio Militar em 1934, um ano depois de o pai partir para Nampula, em Moçambique.
A1 de Dezembro de 2020, dia em que se comemoraram 380 anos da restauração da Independência de Portugal, morreu em Lisboa, Eduardo Lourenço de Faria (92/1934), um dos mais conceituados pensadores e ensaístas portugueses, um dos mais ilustres filhos do Colégio Militar.
A comunidade colegial seguiu com orgulho, ao longo de décadas, a carreira deste notável homem de cultura, conhecido na sociedade portuguesa pelo seu nome abreviado Eduardo Lourenço, resultante da junção do seu nome de baptismo com o apelido de sua mãe.
Eduardo Lourenço nasceu em S. Pedro de Rio Seco, concelho de Almeida, distrito da Guarda, cidade que já há anos o homenageou dando o seu nome à sua biblioteca municipal.
Filho de Abílio Faria, capitão de Infantaria e de Maria de Jesus Lourenço, entrou para o Colégio Militar em 1934, tendo recebido o número 92. Concluído o seu curso no Colégio, rumou a Coimbra, licenciando-se na sua Universidade em Histórico – Filosóficas.
A ZacatraZ apresenta as suas condolências à família enlutada. Que descanse em paz.
Mais um ilustre vulto da nossa cultura que desapareceu neste trágico início de década do século XXI.
Oriundo de uma pequena aldeia da Beira Interior, é o mais velho dos sete filhos de Abílio de Faria, capitão de
Em 1940, estudante na Universidade de Coimbra, encontra aí um ambiente aberto e propício à reflexão cultural que sempre haveria de prosseguir. Obtém a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas em 1946. Torna-se assistente da Faculdade de Letras entre 1947 e 1953, colaborando com Joaquim de Carvalho. É nesse período que publica o seu primeiro livro, Heterodoxia (1949), que reúne uma parte da sua tese de licenciatura, O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto. Colaborou também no Diário de Coimbra, publicando as Crónicas Heterodoxas.
Em 1949 realiza um estágio na Universidade de Bordéus 2, com uma bolsa do Programa Fulbright. Leitor de Cultura Portuguesa entre 1953 e 1955 nas universidades de Hamburgo e Heidelberg, exerce a mesma actividade na Universidade de Montpellier de 1956 a 1958. Casa-se com Annie Salamon, em Dinard, em 1954. Após um ano passado na Universidade Federal da Bahia, como professor convidado de Filosofia, passou a viver em França em 1960.
Fixou residência em Vence, em 1965. Foi leitor na Universidade de Grenoble de 1960 a 1965 e maître assistant na Universidade de Nice até 1987, passando a maître de conferences em 1986. Tornou-se professor jubilado em Nice em 1988.
Em 1989, assume funções como conselheiro cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma, até 1991. Desde 1999 ocupa o cargo de administrador (não executivo) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O Centro de Estudos Ibéricos criou em sua homenagem o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído desde 2005 e destinado a agraciar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, da cidadania e da cooperação ibéricas.
Foi um dos principais signatários do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico de 1990, petição on-line que, entre Maio de 2008 (data do início) e Maio de 2009 (data da apreciação pelo Parlamento), recolheu mais de 115 mil assinaturas válidas.
A 28 de novembro de 2015 foi criada pela Câmara Municipal de Coimbra a Sala Eduardo Lourenço, na Casa da Escrita, destinada a albergar cerca de 3000 livros do intelectual.
Tomou posse a 7 de Abril de 2016 como Conselheiro de Estado, designado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
(in Wikipédia)
No dia 11 de Outubro de 1936, às 11 horas, entrámos para o Colégio Militar. Eu era o mais pequeno e logo notei que havia outros maiores e. entre esses, um até já tinha barba! Pensei que fosse mais velho, mas logo vim a saber que só tinha mais um ano; era o 302. Dai para diante, tudo correu bem e ficámos marcados para o resto da vida. Passados 7 anos, saímos e cada um seguiu os seus caminhos: eu enveredei pela Medicina e o José Luiz pela carreira Militar.
Passaram-se os anos e lá íamos sabendo uns dos outros. Até que surgiram as mobilizações para o Ultramar e fui parar à Índia, enquanto o José Luiz foi “estagiar” para a Argélia e, em seguida, colocado em GOA. Foi aí que começou um convívio que nunca acabaria. Nós, naturalmente bem instalados, já com quatro filhos, ficámos com a impressão de que constituímos um saudável apoio psicológico para aquele desterrado, privado da família, retida em Lisboa à espera de mais um descendente. E gerou-se uma franca Amizade que perdurou.
Regressados a Lisboa, o nosso relacionamento manteve-se com assiduidade e frequentes estadias em Águeda, sua terra natal, muito apreciada por este nosso Amigo que ia progredindo na sua carreira como Oficial do Estado Maior, prestigiado e sentindo já o aproximar da mudança do regime político. E foi assim que continuou a ser apreciado intelectualmente e como homem de caracter.
Ao gerar-se o movimento de jovens militares que viria a dar que falar, foi abordado e sentiu, embora solidário, que tinha que se manter pouco evidenciado atendendo à situação hierárquica em que se encontrava. E no dia seguinte ao 25 DE ABRIL na continuidade do nosso convívio habitual, veio a minha casa, comemorar o meu aniversário … e contar-nos, de fonte limpa, o que se tinha passado e as perspetivas futuras.
Acontece que, no meio do turbilhão de saneamentos e alterações hierárquicas, manteve a sua verticalidade, vivendo algumas situações anormais e pouco convencionais.
Entretanto, fora nomeado Comandante do Regime de Infantaria de Tomar que encontrou desgovernado para não dizer anárquico. Conseguiu, em pouco tempo, fazendo jus ás suas
qualidades de chefia, obter a normalidade disciplinar sem grandes altercações e integrar aquela unidade na hierarquia geral do País.
Foi promovido a general e. depois, escolhido para o Tribunal Militar. Atingiu uma justa Reforma e entreteve-se, então, a coligir em vários escritos as memórias da Família e a historiar a sua atuação e a evolução do nosso País durante o seu tempo de atividade.
E deixou-nos, a todos os colegas do Curso de 1936- 43, uma grande saudade!...
Luiz Teixeira Diniz (110/36)Nasceu em Águeda, em 2 de Fevereiro de 1925. Concluiu o ensino liceal no Colégio Militar. Em 1945 entrou para a Escola do Exército (EE), tendo concluído o curso de Infantaria em 1948. Nesse ano, já alferes, foi colocado, como instrutor, na Escola Prática de Infantaria. Em Novembro de 1949 foi transferido para o Batalhão de Metralhadoras nº1, em Lisboa. Em 1951, promovido a tenente, voltou à EE, como instrutor e professor adjunto de táctica de Infantaria. Em Abril de 1955, seguiu para Moçambique, como capitão comandante da 5ª Companhia Indígena. No ano seguinte foi transferido para o Regimento de Infantaria 2, sediado na Beira.
Em Maio de 1957, regressou a Portugal para frequentar o Curso Geral do Estado-Maior. Em Março e Abril de 1959 frequentou, em Arzeux, na Argélia, o Curso de Pacificação e Contra- Guerrilha, do Exército Francês. Em Agosto desse ano seguiu para
Goa, como Chefe da 2ª Repartição do Quartel-General.
Em Outubro de 1960 iniciou, no Instituto de Altos Estudos Militares, o Curso Complementar do Estado-Maior, que terminou em 1962, sendo colocado, como major, na 3ª Repartição do Estado Maior do Exército (EME). Em Março de 1964 foi colocado na 2ª Repartição do EME, encarregado de formar e chefiar o primeiro órgão de Acção Psicológica do Exército. Em Julho de 1965 ingressou no Corpo de Estado Maior.
Em Outubro de 1969 seguiu para Moçambique, sendo colocado no Quartel-General do Comando-Chefe como chefe da Repartição de Acção Psicológica. Regressou a Lisboa em 1971, sendo colocado na 1ª Repartição do EME. E, em Maio de 1974, foi designado Chefe da 2ª Repartição. Em Setembro desse ano foi promovido ao posto de Coronel, passando a chefe da 1ª Repartição, em Abril de 1975.
Em Setembro de 1975, foi comandar o Regimento de Infantaria de Tomar e em Novembro de 1976, já Brigadeiro, foi nomeado Chefe do Gabinete do General Chefe do EME.
Em Julho de 1978 foi comandar a 1ª Brigada Mista Independente, tendo participado, nessa qualidade, em exercícios da NATO, em Itália.
Em Outubro de 1979, já General, foi nomeado Ajudante General do Exército.
Em Fevereiro de 1981, foi colocado como vogal no Conselho Superior de Disciplina do Exército (CSDE).
Em Janeiro de 1990, estando na situação de reserva desde 1984, foi designado Presidente do CSDE.
Em Dezembro de 1992 passou à situação de reforma.
Foram-lhe averbados 19 louvores individuais, sendo 11 de General e 1 de Ministro da Defesa.
Foi agraciado com as seguintes condecorações:
Uma Medalha de Ouro e três Medalhas de Prata de Serviços Distintos, sendo uma com Palma. Comenda da Ordem Militar de Aviz. Medalha de Mérito Militar de 1ª Classe, Medalha de D. Afonso Henriques. Grã-Cruz de Mérito Militar, com distintivo Branco, de Espanha. Medalha de Mérito Militar de 2ª Classe. Medalha de Oficial da Ordem Militar de Aviz. Medalhas de Ouro e Prata de Comportamento Exemplar. Medalhas comemorativas de expedições à Índia e a Moçambique.
Foi colaborador da Revista Militar, da Revista Nação e Defesa, e da Revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Proferiu, ao longo de 40 anos, inúmeras conferências sobre Guerra Revolucionária, Estratégia Psicológica, Propaganda Política, no Instituto de Defesa Nacional, no Instituto de Altos Estudos Militares, no Instituto Superior Naval de Guerra, no Instituto Superior da Força Aérea e na Academia Militar.
Colaborou nos livros A Guerra de África, de Freire Antunes, e Contra-Insurreição em África, 1961-1974. O Modo Português de Fazer a Guerra, de John Cann.
Foi sócio efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Foi um destacado militar na Guerra do Ultramar e no decorrer da democratização de Portugal.
Promovido a Alferes em 1950, e a Coronel, em 1974. Cumpriu várias comissões no Ultramar, sendo, no posto de Capitão e no início da guerra em Angola (1961/63) condecorado com a Medalha de Valor Militar com Palma e promovido, por distinção, ao posto de Major . Nos teatros de operações, incluindo a Guiné, seria ainda condecorado com mais duas Medalhas de Serviços Distintos com Palma. Foi também agraciado com a Ordem Militar de Aviz, Medalhas de Serviços Distintos (2), Medalhas de Mérito Militar (2), além de outras condecorações e louvores, incluindo uma Comenda da Ordem de Mérito Militar do Brasil.
Além das suas actividades militares, foi praticante desportivo em várias modalidades (atletismo, rugby, futebol, voleibol, basquetebol, hipismo e esgrima), campeão escolar em salto em altura 1945, campeão universitário em 110 metros barrei -
ras e 400 metro em 1949, sagrando-se campeão nacional em 110 metros barreiras. Fez parte da selecção nacional em atletismo, tendo participado nos Jogos Olímpicos de Helsínquia/1952 em pentatlo moderno e no campeonato Europeu em pentatlo militar em França, em 1955.
Após o 25 de Abril de 1974 foi delegado da Junta de Salvação Nacional no Ministério do Trabalho e delegado na Assembleia do MFA, eleito pela Região Militar de Tomar.
Ricardo Durão foi promovido a Brigadeiro (actual Major General) em 1978 e nomeado Comandante da então Região Militar do Sul, após ter sido arbitrariamente detido em 1975, na sequência do 11 de Março.
Em 1983 atingiu o posto de General, sendo depois Director da Arma de Cavalaria, Governador Militar de Lisboa e Juiz Vogal do Supremo Tribunal Militar. Passou à situação de reforma em 1995.
Ao longo dos anos publicou, algumas vezes, artigos de opinião/denúncia no “Expresso” e foi autor de duas obras: “Nunca Esquecerei… O que não foi contado nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril. E não só…” /2014, com prefácio do
Professor Marcelo Rebelo de Sousa; e “A Minha Vida” /2017. Ambos editados pela Seda Publicações/Porto.
Apresento os meus sentidos pêsames aos seus filhos e ao Coronel Roberto Durão e restante Família. Que descanse em Paz.
Carta do Nuno Durão para o tio Roberto (15/1942):
Imagino a dor que sente pela partida do seu Irmão. Ele gostava muito de si e dos seus filhos todos. Falámos sobre isto no outro dia, pouco antes de ele partir.
Ele partiu e agora está bem… Não vai ter saudades nossas porque onde está, o tempo é eterno e, em segundos, estaremos juntos.
Nós cá temos de chorar a saudade, mas principalmente celebrar a vida do Ricardo. Podemos chorar mas… dentro em pouco celebraremos todas as memórias e ensinamentos. Beijos do sobrinho Nuno.
Resposta: Bem hajas, Nuno! Por isso me atrevo a transcrever as tuas palavras, em nome de nós todos, permitam-me, para o Ricardo, meu Irmão, sempre vivo e presente em meu Espírito.
Ricardo: Não morreste. Para nós apenas partiste, como o teu filho Nuno tão bem referiu. Deixaste em nós muito de ti próprio, levando também contigo algo de bastante vivo e importante de nós mesmos. Fica certo de que não te esqueceremos, pois contigo reviveremos e rejubilaremos com os momentos mais Belos e Felizes que, contigo, partilhámos nesta vida.
“Nunca chorem quem parte!” Aleluia!
Já vou longo; porém só desejo acrescentar isto para que, em todos, fique bem clara a sua nobreza de carácter e simplicidade. Ele adorou andar no Colégio Militar, uma das fases mais consoladoras da sua vida, quer pelos amigos que ganhou para o resto da vida, quer pelos mais elevados valores que soube colher como «Menino e guerreiro da Luz».
Como cadete, na Escola do Exército, não se sentiu tão bem como no seu Colégio… A palavra Servir sem procurar recompensas ou benesses, que aprendera no Colégio, já sofria algumas modificações, certo sentido de carreirismo e promoção que não lhe agradava. Só este exemplo:
Um dia, o coronel comandante do Corpo de Aluno da Escola do Exército disse aos cadetes impecavelmente fardados:
– Quando lá fora envergardes a vossa farda nunca devereis entrar numa fila para comprar o bilhete para o cinema ou o teatro.
O meu irmão Ricardo, perfilando-se, perguntou-lhe:
– Meu coronel, permita-me esta simples pergunta: se um dia eu, devidamente fardado, acompanhar a minha Mãe para irmos a um espectáculo e houver uma longa «bicha» para comprar o bilhete, não sou eu mas ela que se mete na «bicha» ?
O coronel engoliu em seco e só teve esta resposta:
– O senhor cadete esteja calado, deixe-se de perguntas tolas.
Escreveu um livro, era já general, com as suas memórias em toda a sua dimensão de vida, que deixou à família. Na frase final desse livro condensou tudo o que ele era na sua natural simplicidade, a sua chave de ouro. É mais ou menos assim: «não me considero um herói, mas tive isso, sim, a Honra de comandar uma Companhia de Heróicos Soldados».
Mais coisas podia contar sobre ele mas não posso alongar-me e, sobretudo, para que fazer mais elogios a quem não precisa deles? Sei que ele, onde está, não deseja que eu os fizesse. Da mesma forma pensava o meu outro Irmão, o do meio (e segundo R) que partiu antes, o Mano Rafael, como lhe chamávamos em garotos.
Agora, eu sou o R restante…Cá vou continuando até me chegar a vez (não por antiguidade mas por escolha, como eles foram) e com uma enorme responsabilidade sobre os ombros: dignificá-los sempre na espuma ou memória do tempo ou do vento, por aquilo que foram, são e sempre serão, como tanto merecem.
É só isto (Finis Patriae!...)
Faleceu recentemente com 92 anos o General Ricardo Durão que de minha parte merece uma homenagem.
Sou 12 anos mais novo, não sou da Família, nem da Arma de Cavalaria, nem dos amigos próximos, mas sou suficientemente independente para pensar que na ZACATRAZ deve aparecer um pequeno texto de alguém com estas características; outros explicarão em detalhe o que foi a sua vida, eu apenas quero deixar alguns apontamentos que também ajudem aqueles Antigos Alunos, mesmo já seniores, que nunca o conheceram.
Foi um desportista muito completo (Pentatlo Militar, Pentatlo Moderno (Jogos Olímpicos de Helsínquia-1952), Rugby (campeão nacional e seleção nacional), Hipismo, foi um Capitão operacional (Companhia de Cavalaria 122- Angola 1961-63) tendo sido promovido por Distinção a Major por ações em campanha, fez duas Comissões de Serviço na Guiné, foi sempre um excelente Comandante (Comandante Militar de S. Tomé, Comandante da Região Militar Sul (Évora), Governador Militar de Lisboa).
Mas desejo realçar que sendo um Comandante exigente, foi sempre um excelente camarada e um conversador incansável e sempre honrou o Colégio Militar, o Exército e Portugal. Era uma delícia ouvi-lo, pois era inesgotável (os filmes contados por ele eram melhores do que quando vistos).
Era Cadete quando ele era instrutor de Ginástica da Academia Mili -
tar, depois convivi com ele na Guiné e em Lisboa. Foi um homem de Valores, Família e teve uma vida cheia! Que descanse em paz!
José Garcia Leandro (94/1950)
PS - Junto uma foto do “3 de Março” de 1967 em Bissau, éramos 25, onde ele aparece indicado com uma X.
Caro Roberto, Com imensa tristeza e dor de alma estou contigo e todos os teus, nestas horas inconsoláveis em que tanto nos oprime e dilacera a partida do teu irmão Ricardo.
Desde os tempos do Colégio e começos da minha vida naval e, sobretudo, a partir dos anos 1966-1968 em que estive algumas vezes bem próximo do teu irmão em Bissau, sentia crescer dentro de mim uma profunda admiração, respeito e amizade pela sua valentia e nobreza de carácter como combatente e patriota.
Conservo recordações imperecíveis das ocasiões em que tive o gosto e a honra de o receber e com ele jantar a bordo da LFG “Orion” que então comandava. Para além dos assuntos de conversa naturalmente respeitantes à situação de guerra em curso, as histórias, peripécias e episódios que contava animadamente a respeito do seu tempo no Colégio e ocorridas ao longo da sua carreira militar eram de facto o melhor an -
tídoto contra eventuais cansaços e desalentos e a vitamina mais forte para robustecer o moral de quem, como eu, o escutavam.
Passados os anos, esfumadas as certezas, um tanto alquebrados, mas apesar de tudo, lúcidos e firmes, sem perder a esperança no porvir nem descurar o rumo do Dever, sempre apreciei as tomadas de posição críticas assumidas pelo Ricardo perante incoerências da classe política e desconsiderações da mesma face à Instituição Militar. Nesse envolvimento, foi com muito agrado que li e retive a frontalidade e veemência do seu livro “Nunca Esquecerei” . Num outro plano, confesso que foi para mim uma alegria voltar a conversar com o Ricardo e contigo nos nossos habituais almoços de convívio da
malta na Feitoria, de que ambos foram assíduos e extraordinários animadores.
Quis a má fortuna, a maldita pandemia, que dessas felizes ocasiões ficássemos impedidos desde Março do ano passado. E caiu de súbito, inesperadamente, o golpe cruel e definitivo.
Que triste Janeiro este, em que perdemos o Ricardo!
Que repouse em Paz, e lá da Casa do Pai nos ajude!
Um forte e muito sentido abraço de pêsames para a Família Durão.
Luís Joel Pascoal (145/1948)
Coronel de Infantaria Nasceu a 27 de Março de 1927 Faleceu a 22 de Setembro de 2020
Nasceu em Sernancelhe, em 27 de Março de 1927, filho de João Moreira Soveral e de Maria da Esperança Pereira Soveral. Ingressou no Colégio Militar em 1938 e aí concluiu os estudos secundários em 1945. Ingressou depois na Escola do Exército, tendo feito os “Preparatórios” e terminado o Curso de Infantaria em 1949.
Foi promovido sucessivamente a alferes (1950), tenente (1951) capitão (1954), major (1963), tenente coronel (1969) e coronel (1976).
Como oficial desempenhou funções em diversas Unidades da sua arma. Serviu também no Quartel-General da Região Militar de Lisboa, onde designadamente desempenhou funções de Sub-Chefe do Estado Maior (1972/74), tendo também sido Comandante da Escola Prática de Serviço de Transportes e Comandante Militar da Figueira da Foz (1979). Realizou três comissões de serviço no Ultramar: duas em Angola (em 1961/63 e 1975) e uma na Guiné (1970/72).
As suas qualidades e a competência e dedicação com que exerceu a sua carreira militar mereceram-lhe numerosos louvores, tenho ainda sido distinguido com o grau de Oficial da Ordem Mili-
tar de Avis (1962), o grau de Cavaleiro da Ordem de Mérito Militar dos Estados Unidos do Brasil (1966) e, entre outras, com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma (1962), a Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar (1979) e a e Medalha de Mérito Militar de 1ª classe (1979). Casou em 1960 com Rosa Maria Maciel de Soveral, falecida em 2017, e teve três filhos, que lhe sobrevivem: João Artur Maciel de Soveral, engenheiro silvicultor, também Antigo Aluno do Colégio Militar (541/1971), Ana Maria Maciel de Soveral, advogada e Maria da Graça Maciel de Soveral, farmacêutica analista. Sendo embora pouco expansivo e reservado, não escondia o amor e gratidão que tinha pelo Colégio Militar e o orgulho de ter sido “Menino da Luz”, que manifestava através do uso da “Barretina”, que sempre usava e que colocava em cada um dos seus casacos, e na presença assídua nas comemorações do “3 de Março” e aniversários do seu curso (1939/1945).
Também nunca se extinguiu ou esmoreceu a amizade e a camaradagem com os seus colegas, nomeadamente os seus colegas de curso, com quem continuou a manter contacto e com quem reunia em almoços regulares, apenas ultimamente interrompidos por razões de saúde. Faleceu em Lisboa no dia 22 de Setembro de 2020, com 93 anos.
Que descanse em paz.
OXico Néné, alcunha do nosso amigo Francisco do Carmo Medeiros de Almeida, vinha herdada dos seus três irmãos mais velhos, também alunos do Colégio, todos Nenés, porque possuíam cara de bebés, redondas, loiros e com bochechas rosadas, isto quando tinham 10 anos.
A irmandade Medeiros de Almeida foi constituída por cinco irmãos, todos Antigos Alunos. Eram filhos de um médico militar, falecido em 1944 por sépticémia contraída num acto cirúrgico. Este heroico médico foi o único que não abandonou os doentes existentes no hospital de campanha, quando da grande ofensiva alemã de 9 de abril de 1918, na 1ª Guerra Mundial.
O irmão mais velho, Mário, 362 de 1933, oficial farmacêutico, fez toda a carreira na GNR, dirigindo os serviços farmacêuticos e de análises, sendo ainda proprietário de uma farmácia na avenida de Roma, local de encontro dos colegiais do seu tempo. O segundo, João, 383 de 1934, foi oficial da marinha mercante tendo sido, por azar, o 1º piloto do Santa Maria
quando do assalto ao navio, em janeiro de 1961.
O terceiro, Pedro, 368 de 1939, faleceu com cancro no fígado aos 22 anos, quando cadete da Escola Naval. O quarto é o nosso amigo e saudoso Xico Néné.
O quinto, José, 86 de 1950, entrou para o Colégio em 1950, tendo feito o serviço militar na Reserva Naval, onde ficou após os 3 anos de serviço, como mestre de ginástica na Escola Naval, por ter o curso do INEF. Reformou-se no posto de capitão de fragata.
O nosso camarada Xico era um rapaz calmo, um pouco bonacheirão e muito amigo dos seus amigos. A meio do 7ºano adoeceu com tuberculose, deixando-nos a todos preocupados. Mas felizmente tinham aparecido, recentemente, antibióticos, que ajudaram a eliminar o terrível bacilo de Koch. Por este motivo perdeu dois anos, tendo entrado na antiga Escola do Exército para o ano letivo 1950/51, onde cursou a arma de Infantaria.
Quando estava a concluir o tirocínio de aspirante a oficial, em 1954, verificam-se em Dadrá e Nagar-Aveli, no então Estado da Índia, as confrontações violentas que, e disso só mais tarde tomámos consciência, eram os primeiros sinais do patamar armado da luta de libertação nas colónias
portuguesas em que as Forças Armadas Portuguesas viriam a estar envolvidas nas duas décadas seguintes. O Xico, com alguns outros (poucos) seus camaradas de curso, achou que era uma oportunidade para iniciar a sua carreira militar na “na linha da frente” . Ofereceu-se para a Índia. Integrado no Batalhão de Caçadores Vasco da Gama mobilizado na Escola Prática de Infantaria seria, com um dos subscritores destas linhas (PPC), um dos dois subalternos do Quadro Permanente da “Companhia de Voluntários” (2.ª do Batalhão de Caçadores Vasco da Gama), sobre a qual haveria muitas histórias para contar, mas não aqui. Regressado em 1957 faria, depois de 1961, mais quatro comissões nas campanhas africanas, três em Moçambique (1961-63, 1969-71 e 1974-75) e uma em Angola (1965-67).
Em 1974 envolveu-se no movimento militar que dava resposta às suas convicções cívicas de sempre. No 25 de Abril, mobilizado para a sua última comissão, comandava interinamente o BCaç 5016 que estava sedeado em Viana do Castelo e cujo oficial de operações, capitão Piteira dos Santos, um dos mais ativos oficiais do MFA, contava com o seu comandante desde a primeira hora. Ao BCaç 5016 coube um importante papel na “Operação Viragem Histórica”. Às ordens do Posto de Comando da Pontinha Medeiros de Almeida arrancou com todo o batalhão para o Porto onde cumpriu importantes missões, entre as quais o controlo do Aeroporto de Pedras Rubras e da sede da DGS. Não
ficaram à espera de louros. O Batalhão embarcou no mês seguinte para Moçambique e cumpriu com honra as suas missões na difícil fase da transferência do poder. O Xico Medeiros de Almeida foi dos poucos oficiais superiores com participação operacional direta e ativa no 25 de Abril. Consciente, mas discreto, orgulhava-se disso, mas nunca o invocou para colher benefícios pessoais.
A nossa amizade familiar (NVC) começou nos tempos do Colégio, passando por sermos vizinhos em Luanda (ano 1966/1967) e continuando com muitos convívios por cá. Esta amizade era partilhada pela grande afinidade que se estabeleceu também entre a minha esposa e a esposa do Xico, a Maria Antónia, que infelizmente faleceu cerca de uma semana depois do Xico, também vítima do corona vírus.
O Xico era, acima de tudo, um Homem de caráter e de grande dignidade.
Nuno Vilares Cepeda (NVC) (310/1941) e
Pedro Pezarat Correia (PPC) (10/1943)
OHeitor Patrício, o 1, entrou para o Colégio em 1942, para o 2.º ano. “Mal-compreendido” pelos professores, depois de alguns acidentes de percurso aportou ao nosso curso no 5.º ano (1947-48). E aí se adaptou como peixe na água (adiante se entenderá como esta linguagem marinheira é apropriada). O Heitor era um miúdo de baixa mas sólida estatura, um algarvio moreno e falador, alegre, voluntarioso, desenrascado e, por isso, rapidamente se tornou muito popular. Os mais velhos começaram por lhe chamar o “puto” que ele, com o sotaque do barlavento algarvio, transformou em “puti”. “Puti” foi a alcunha que ficou e pela qual todos o conheciam. Concluiu connosco o curso do Colégio, destacava-se num curso rebelde, incómodo, muito coeso que marcou uma geração. São muitas as histórias que o Heitor protagonizou, que aqui não cabe relatar. Atleta eclético e destemido, a sua carreira colegial ficaria, ironicamente, assinalada por dois marcos negativos.
No ano de 1947-48 o Colégio tinha uma boa equipa de futebol. Cândido Tavares, que era primeiro-sargento em serviço no Colégio e treinador no Benfica, orientou a equipa e pô-la a jogar um belo futebol
no sistema WM, que era o da época. Mas havia um problema, aquele que estava destinado a ser o guarda-redes, o Henrique Howell, o 42 de 1942, sofrera no ano anterior uma doença óssea (que o fez perder o ano por faltas) e não pôde dar o contributo à equipa. O recurso foi o Heitor, com o seu metro e sessenta e dois de altura mas que compensava com invulgar elasticidade e arrojo. A final dos inter-escolares foi no Estádio Nacional, com os Pupilos. Tínhamos como certa a vitória, a primeira da nossa geração contra os rivais. A desilusão foi grande. Levámos 7-0 e uma “banhada” de futebol. O Heitor teve, naturalmente as suas culpas (num 7-0 o guarda-redes nunca sai isento) mas na realidade os Pupilos tinham melhor equipa, mais equilibrada, mais madura.i Segundo revés. No nosso 6.º ano (194849) foi inaugurado o complexo do ginásio/piscina. Chegado o verão passou a haver tempo de recreio na piscina. O Heitor quis exibir os seus talentos no desporto náutico ensaiando o mergulho do “soldado de chumbo” da prancha dos 3 metros. Quando regressou à superfície sangrava da cabeça e parecia imóvel. Rapidamente socorrido, tinha batido com a cabeça no fundo (os braços iam ao longo do corpo) e fraturara uma vértebra. Passou os últimos meses do ano letivo enfiado num colete de gesso que lhe mantinha o tronco e o pescoço imóveis e o queixo apoiado. O Heitor superou tudo isso. Em 1950 entrou para a então Escola do Exército,
como a maioria do curso e, concluídos os Preparatórios, rumou à Escola Naval. Depois foi a vida da nossa geração, comissões sucessivas, guerra colonial, Índia, Moçambique, Guiné, nomeadamente em unidades de Fuzileiros onde se destacava pelo prestígio que conquistava e fácil relação com o pessoal que comandava. Camaradas e amigos da Marinha dizem que “era uma carta fora do baralho”. Em 25 de Abril de 1974 estava na Guiné e o Carlos Fabião, que o conhecia bem como camarada de curso na Escola do Exército, posterior representante da Junta da Salvação Nacional e comandante-chefe, não se cansava de elogiar o papel do Heitor na transferência do poder. Depois, com as contradições do Processo Revolucionário em Curso, a sua carreira na Armada enfrentou algumas contrariedades que o afetaram amargamente e que, na sua enorme generosidade, teve dificuldade em enfrentar. Acabou por ver a sua carreira reconstituída com a promoção a capitão-de-mar-e-guerra.
O final da sua vida foi difícil. A morte prematura do filho João (485 de 1971), o longo padecimento da sua mulher, Elsínia, inexcedível companheira de toda a vida que teve sobre ele uma forte e benéfica influência e que faleceu, alheia às realidades que a rodeavam, dois meses antes dele. O Heitor tinha-se isolado, mas acolhera bem o nosso contato para que estivesse connosco no Colégio nas comemorações dos 70 anos de saída. O COVID impediu isso tudo… e acabou por nos levar o Heitor!
Não tem medida o nosso pesar. Ao seu filho Rui, o 1 de 1968, o sobrevivente do núcleo duro do seu clã, o nosso abraço muito sentido e solidário por mais este irmão que parte mas cuja memória estará sempre connosco.
O curso saído em 1950
i O Heitor seria compensado no ano seguinte, em que novamente fomos à final com os Pupilos e ganhámos por um magro 1-0, com o Heitor então a defesa direito.
Militar da Escola do Exército, o que veio a ocorrer no início do ano lectivo de 1951/1952. Na Escola do Exército, o 52 acabou por transitar para o curso de Artilharia, tendo o 54, o Beirão, concluído o curso de Engenharia Militar.
Em Outubro de 1942, ingressou no Colégio, tendo recebido o número 54, Carlos Jorge da Cunha Fernandes Beirão. Não vinha só, acompanhava-o o Emídio José da Rocha Pereira Rodrigues, que recebeu o número 52. Vinham os dois de Coimbra, como se viessem «de mão dada» , pois já tinham sido companheiros na escola. Companheiros continuaram no Colégio, onde se dizia que eram como «unha com carne» . Os números ajudavam, sendo eles o 54 e o 52, estariam lado a lado na camarata. Foram os dois bons alunos e bons camaradas, ganhando a estima de todo o pessoal. Chegados ao último ano do curso, em 1947/1948, foram ambos graduados. Quis o destino, que até aí continuassem inseparáveis, foram ambos graduados da 1ª Companhia. O 54, o Beirão, foi graduado em 3 estrelas e o 52 em comandante de companhia.
Concluído o curso do Colégio, voltaram «de mão dada» para Coimbra, para aí fazerem, na Universidade, os 3 anos de preparatórios para o ingresso no curso de Engenharia
O que foi de seguida a vida militar do Beirão, foi a vida militar «padrão» dos militares da sua geração, em que alternavam as colocações na Metrópole, com as comissões no Ultramar. A última comissão do Beirão no Ultramar foi em Angola, no AEA - Agrupamento de Engenharia de Angola, como oficial de operações, onde serviu em 1972 e 1973.
De regresso à Metrópole, fez a sua progressão na carreira como oficial superior, tendo comandado, já como coronel, o Regimento de Sapadores Bombeiros, em Lisboa, onde granjeou a estima dos seus homens e deixou saudades. De tal forma, que passados muitos anos sobre o exercício desse comando, os Sapadores Bombeiros assinalaram agora o seu passamento, manifestando o seu pesar pelo mesmo. O seu grande amigo, o 52, já faleceu há muito, cremos que em 1991. Estarão agora de novo juntos.
Que descansem em paz.
Capitão de Fragata, José do Carmo Medeiros de Almeida (86/1950).
Nasceu em Lisboa a 13 de Fevereiro, nos idos de 1940, filho de pai Médico Militar. Entrou para o Colégio Militar onde todos os irmãos já tinham passado e assim como os irmãos ficou conhecido como Néne. Porquê? Já ninguém se lembra... Os irmãos eram Néne, este também seria! Entrou para o Curso especial de Oficiais Fuzileiros em 1963 e tinha um enorme orgulho nesse trilho militar que percorreu. Casou em 1985 com Maria Lúcia Marques da Cunha.
Lembrado pelos amigos e colegas como alguém que tratava todos por igual, ele era diferente. Os filhos recordam-se dele como um Pai diferente, pelo menos diferente dos outros pais... diferente para melhor. Amante de esgrima estava sempre presente nas provas, era o primeiro a chegar, acompanhava a comitiva do Colégio
seja para que ponto do país fosse e lá ficava ele... Calado, a zelar para que o CM levasse o máximo de medalhas para casa. Um dia deu-me um papelinho que dizia, “ler pelo menos uma vez por ano”, e lá estava o poema...
“A Barretina É aquela coisa pequenina Que se usa À altura do coração Como uma condecoração Ou um brasão de família E que nos lembra A devoção de fazer Como deve ser feito A Barretina Representa um jeito De autenticidade Como deve ser”
Faleceu a 27 de Janeiro de 2021, acompanhado.
José Medeiros de Almeida - Filho (497/95)
O 86/1950 era irmão do 145/1941, que também agora nos deixou.
ONuno foi uma figura ímpar do nosso curso. Extrovertido, irreverente, brincalhão protagonizou algumas peripécias deliciosas que faziam rir a malta e provocavam, por vezes, algum incómodo à hierarquia colegial.
Apesar dessa irreverência fez o curso sem qualquer percalço; suficiente em teóricas era um barra em físicas. Todos o recordamos como um incondicional amigo e camaradão durante toda a vida. Uma vez saído do Colégio o Nuno extravasou. Viveu a vida em pleno, foi pegador de toiros, até se fixar no sector do turismo, onde fez carreira. Foi Director da Casa de Portugal em Madrid e em Dublin.
Em Madrid conheceu a mulher da sua vida, a Marisol. Viveu em Espanha mas sempre que podia vinha a Portugal onde fazia por conciliar a data da vinda com os encontros-almoços do curso. O Zé Carva-
lheira, o 301/46, organizador desses encontros anunciava-o com ênfase: o Nuno vem.
Quando se reformou passou a ser mais assíduo pois montou casa em Fronteira, sua terra natal, onde promoveu algumas festas de anos que nos levaram a conhecer a sua esposa, a Marisol, e toda a família.
Os seus últimos anos foram de sofrimento, pois teve que enfrentar um cancro.
Durante a pandemia foi internado com uma pneumonia e veio a falecer de Covid.
Não nos pudemos despedir do Nuno. Assim, através deste escrito, queremos expressar, em nome do curso, à Marisol e a toda a família, o nosso sentimento pela perda do ente querido e nosso amigo de toda a vida.
Pelo Nuno um forte e comovido Zacatraz.
O Curso de 1946/53
DiogoB. Coelho (343/47)
Omeu irmão Rodrigo deixou-nos, “virou a última página da sua história”. No ano em que ele entrou para o Colégio Militar, eu nasci, o nono filho de uma família com cinco raparigas e quatro rapazes, todas elas andaram no Instituto de Odivelas e nós no Colégio onde fomos conhecidos por Rosinhas. Seguimos para a Academia Militar onde nos formámos em engenharia.
O Rodrigo licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica, ramo de Telecomunicações e Eletrónica, em 1967. Ao longo da sua carreira de cerca de quinze anos no Exército, prestou serviço em diversas unidades da Arma de Transmissões, a desempenhar cargos na área da sua vocação de engenheiro electrotécnico.
Em 1977, eu concluí o curso de Engenharia Electrotécnica Militar, Ramo Telecomunicações e Electrónica e ingressei no quadro permanente da Arma de Transmissões. O Rodrigo foi o meu mestre e mentor, mas também o foi de muitos oficiais e sargentos da Arma de Transmissões que ao longo da sua carreira militar o acompanharam na concretização das suas iniciativas inovadoras.
Transcrevo algumas das palavras de camaradas de Arma que me enviaram quando souberam da sua partida e que nos ajudam a compreender a razão do empenho que tiveram a concretizarem as ideias inovadoras do Rodrigo:
• Homem de mente brilhante, cientista e humanista, pensador da Vida, do Universo e do Homem. É tempo de repetir o meu reconhecimento da ajuda que de ti recebi e da grande amizade que nos uniu (coronel Jorge Golias).
• A sua sabedoria técnica, inovação e amor pela Arma de Transmissões marcaram uma época notável no desenvolvimento técnico da Arma que muito lhe ficou a dever. Foi dos poucos Engenheiros da Arma de Transmissões que tiveram uma grande aceitação junto dos Sargentos Radiomontadores e Oficiais de Manutenção. No meu caso pessoal foi uma pessoa que sempre me ouviu com atenção que é apanágio dos antigos alunos do Colégio Militar (tenente-coronel Viegas de Carvalho – ex-aluno do IMPE).
• Era uma cabeça brilhante que nunca parava de pensar, tendo sempre ideias sem fim. Muito estudioso e estava permanentemente interessado nas novidades tecnológicas de que era bom conhecedor e que o levavam a um constante lançamento de iniciativas inovadoras e arrojadas. Ele foi sem dúvida uma figura marcante na Arma de Transmissões, que pela sua acção, granjeou a reputação de possuir uma alta capa-
cidade técnica não só na área Militar como no meio civil Industrial e Comercial (major-general José Pinto de Castro);
A leitura destas referências elogiosas ao Rodrigo são uma consequência da sua personalidade e da obra no domínio da electrónica, que obrigou a um desenvolvimento técnico-científico nas Forças Armadas e na Indústria Nacional.
O Rodrigo comungava a ideia, reconhecida na época, de que as Forças Armadas detêm tarefas nos domínios da educação e nos apoios técnico-económicos além das tarefas especificamente militares. Em 1976, o novo Director da Arma de Transmissões, brigadeiro Avelino Pereira Pinto, seu chefe, compreendeu que era tempo de recuperar o enorme atraso do país no domínio da electrónica e telecomunicações.
Lança-se, então, um conjunto de iniciativas lideradas tecnicamente pelo Rodrigo, com vista à criação em Portugal de competências na formação de técnicos de electrónica, na disseminação de know how em novas tecnologias inexistentes
no país e o reequipamento do Exército em sistemas de telecomunicações passar a privilegiar a indústria nacional, sempre que possível.
Aos quarenta anos decidiu passar à situação de reserva tendo recebido uma medalha de serviços distintos e um louvor do Comandante do Exército onde se pode ler: “Possuidor de vastos conhecimentos técnicos, conhecedor da problematica das Telecomunicações do Exército e indefectível crente nas potencialidades técnicas nacionais e nas possibilidades da nossa indústria, foi o principal animador da decisão de procurar envolver prioritariamente a Indústria Nacional no reequipamento do Exército em material de Transmissões. Pela sua fé nas capacidades técnicas nacionais, de que é excepcionalmente digno representante, pelo seu inconfor-mismo quanto às soluções já encontradas e pela exigência de qualidade que impõe, o tenente-coronel Rodrigo Leitão demonstra acima de tudo, um patriotismo consciente na defesa intransigente dos interesses nacionais.
Após a sua passagem à reserva, a sua experiência profissional foi aproveitada de imediato pela indústria de electrónica e telecomunicações.
Termino com um extracto da mensagem dos sobrinhos Rosas Leitão lida na missa de exéquias: O Tio Rodrigo foi, acima de tudo um grande senhor, um senhor com S grande, em todas as ocasiões, em toda a sua vida. Um senhor de família, com o coração cheio com os Pais, Avós, Irmãos, e acima de tudo com a Tia Christa, com quem teve uma história de amor com mais anos que tantos nós, e que nos serviu de exemplo de serenidade, companheirismo e respeito.
Miguel Rosas Leitão (441/63)Comandante de Linha Aérea (TAP) Nasceu a 14 de Setembro de 1943 Faleceu a 7 Março de 2020
Gosto pela vida.
O Antonino - ‘Chico´ ou ´Saltão’ como era conhecido e tratado por muitos -, tinha um gosto pela vida, uma paixão por viver, muito própria, muito dele.
De personalidade reservada e resiliente, era amigo do seu amigo, de uma lealdade inquestionável e, discretamente, sempre pronto a ajudar.
Nasceu em Beja no ano de 1943, como o 3º de 4 irmãos. Em 1953, com 10 anos, veio para Lisboa onde ingressou no Colégio Militar, instituição onde, até ao fim, manteve contacto, frequentando convívios de antigos alunos, eventos tradicionais, e contribuindo com o apoio que achava estar ao seu alcance.
Apesar de ter vindo muito novo para a capital, mimou as suas origens alentejanas durante todo o seu percurso de vida, onde manteve amizades de infância.
Voar era uma das suas grandes paixões e, depois de vários concursos amadores de aviação, escolheu, como profissão
andar pelo ar, leal à mesma companhia durante 35 anos.
No entanto, entre voos e amizades genuínas, era a família - a quem dedicava incondicionalmente todo o seu amor característico, que lhe absorvia as atenções.
2020, genericamente, não tem sido um ano bom. 2020 não nos poupou a perder alguém tão especial, para uma doença que, já há algum tempo, o vinha a consumir. Apesar de tudo, agradecemos que lhe tenha sido permitido viver de acordo com as suas próprias regras, como gostava, com independência e autonomia, até ao fim.”
Catarina SaltãoVerificámos que a notícia do falecimento do nosso camarada Eduardo Luis de Arriaga Pinto Basto (318/1954), publicada no n.º 221 da ZacatraZ, de Outubro/Dezembro de 2020, continha erros e omissões. Por este lapso lamentável, apresentamos as nossas desculpas à sua família e amigos. Para correcção da situação, apresentamos de novo a notícia, mas agora completa e corrigida.
A Redacção
Recebemos na ZacatraZ a notícia do falecimento deste nosso camarada, ocorrência que muito lamentamos. A todos os seus familiares as nossas mais sentidas condolências.
Que descanse em paz.
Eduardo Luís de Arriaga Pinto Basto. Nasceu em Lisboa a 14 de Maio de 1944. Fez o curso dos liceus no Colégio Militar.
Nos anos de 1962 e 1963 frequentou a Universidade de Cambridge, em Inglaterra, tendo deixado os estudos para seguir uma vocação aeronáutica, alistando-se, como voluntário, na Força Aérea. A partir de 1968 fez parte dos quadros técnicos da TAP onde foi comandante de avião e instrutor. Retirou-se da actividade de voo em 1996 após uma carreira de 32 anos.
Eu voo porque o céu está por achar P’ra lá do que se alcança em pensamento. Talvez não seja o céu senão invento... ...Uma promessa apenas p’ra sonhar.
Talvez não seja tempo, nem lugar, Mas eu...Que vivo só por um momento, Como lugar, elejo o firmamento... ...E como tempo, escolho o de voar.
Um voo com o qual já me confundo No acto de abandono deste mundo E deste chão mortal de que me afasto
Com a libertação da descolagem, Nos versos... À maneira de mensagem, No céu... No branco efémero dum rasto.
Poema escrito pelo próprio Eduardo.
“Desde o Colégio que lhe conhecia a inteligência e o sonho de voar, mais tarde a capacidade de escrever e depois a de teorizar em física transcendental que nunca soube definir e muito menos avaliar, mas confesso que desconhecia o enorme poeta que nos privilegiou com este soneto inesquecível. Excepcionalmente dotado intelectual e humanisticamente, considero um privilégio termos convivido com ele e em particular ter sido um grande meu Amigo”.
Castelo Branco (384/1954)Conheci o Luís aos nove anos no Colégio e a nossa amizade desde logo se desenvolveu.
O Luís foi Comandante de Batalhão por mérito próprio e com reconhecimento e adesão geral dos camaradas do curso.
O Luís optou pela vida militar e tinha legítimas ambições, dadas as qualidades pessoais sempre evidenciadas, de construir uma carreira distinta e atingir seguramente o topo da hierarquia.
O Luís foi desde sempre generoso, amigo disponível e atento, apoiando todos os seus camaradas.
O Luís pugnava pela justiça, tinha ideais e sabia que para os concretizar havia que se entregar na plenitude à missão que assumira.
O Luis foi um dos mais ativos e comprometidos “capitães de Abril”
O Luís envolveu-se conscientemente numa causa nobre e, como sempre, dedicou-se por inteiro; concretizada a vitória não se evidenciou, buscando os louros que lhe eram devidos, antes prosseguiu e não abdicou nem cedeu, mantendo-se fiel aos princípios que sempre o nortearam.
Em resultado foi obrigado a recomeçar uma nova vida profissional em Moçambique, trabalhando para uma empresa multinacional, rapidamente se distinguindo pela competência técnica e entusiasmo concretizador. De novo teve sucesso e foi reconhecido o seu valor.
O Luís constitui um exemplo de dignidade, de altruísmo, de solidariedade e de ética
A vida foi-nos separando, mas era sempre com imensa alegria que nos encontrávamos quando tal se proporcionava.
Preparava-se para voltar a Portugal e usufruir de merecido descanso.
Já não fui a tempo de o abraçar e de lhe dizer o orgulho que sempre senti por ser seu amigo.
José Costa Braga (41/1957)Em 19 de Novembro de 2020, na sua página 14, o jornal PÚBLICO, editava um artigo do cineasta António Pedro Vasconcelos, homenageando a memória do “Capitão de Abril” Luís Macedo.
Nessa noite, a RTP1 passava o filme “O Cabo” , do mesmo realizador, numa discreta homenagem onde se documentava um episódio ligado aos acontecimentos do “25 de Abril de 1974” em que um dos principais protagonistas e relatores era o Coronel de Engª Luis Macedo.
Para nós, o Luis Ernesto Albuquerque Ferreira de Macedo era o 8/57, o nosso Comandante de Batalhão em 1963/64 e um dos alunos mais respeitados no Colégio Militar, pelos seus camaradas, professores e oficiais do Corpo de Alunos.
O Luis Macedo foi-se destacando ao longo do curso, pelas suas qualidades intrínsecas, quer fossem intelectuais ou fisicas, mas grangeou o respeito e a amizade de todos nós pelos seus atributos humanos, pelo sentido de camaradagem e fidelidade aos valores que aquela Casa nos incutiu e impregnou na nossa pele. Ele era, de facto, o paradigma do que é o Colégio Militar.
Não havia dúvida ou discussão que passasse pelo juizo do Luis Macedo, qual Juiz-de-Fora , para se legitimar o lado da Razão.
Não era o melhor futebolista no seu curso, mas era bom em quase tudo em que se metia. Da classe especial de ginástica, à esgrima ou na equitação era um dos melhores. Nas aulas não era o mais brilhante, mas era naturalmente, um dos melhores.
No 6º ano foi graduado com uma estrela, como mais alguns de nós, por efeito dos acontecimentos do ano anterior e foi destacado para a escolta a cavalo.
Curiosamente, apesar de já existir uma boa amizade, não foi no Colégio que me tornei tão próximo do Luis, mas sim na Academia Militar, onde o “efeito Colégio” se começou a fazer sentir. Com o “Zézinho” Sérgio Bacelar-184/56, o “FêQuê” João Távora-364/57, o “Esquilo” Zé Canavilhas-119/56, e o Luis, fomos os 5 para a Academia concorrendo a Engenharia, para além de outros elementos do curso que concorreram para as Armas, Aeronáutica ou para a Marinha. Nessa altura a Força Aérea ainda começava na Academia Militar.
Também aqui, o Luis, entre nós e os outros “mancebos” que pertenciam ao curso, se começou a fazer notar repetindo a caminhada iniciada no Colégio. Nas aulas, na classe especial de ginástica, na equitação e na esgrima onde pontuava entre os melhores a nível nacional.
Em 1972 fez o seu estágio do tirocínio em Angola como tenente de engenharia e, diz quem viu, era o eterno voluntário para levantar as minas da picada nas colunas em que se deslocava.
Regressou num tempo em que começou a contestação à situação
militar que se vivia e o Luis rapidamente colocou a sua inteligência ao serviço do “Movimento dos capitães” contribuindo para que ficasse claro o sentido politico dum movimento que tinha nascido duma contestação corporativa.
Quando foi o tempo de “juntar as palavras aos actos” , foi chamado para adjunto do comando das operações contribuindo para a elaboração da Ordem de Operações, mobilizando e treinando operacionalmente a sua companhia no Regimento de Engenharia 1, e garantindo o acolhimento do Posto do Comando do MFA no interior do seu Regimento.
Também na manhã do dia 25 se voluntariou para participar no desenrolar das operações, contribuindo para o seu êxito e, após a mudança do regime político, foi chamado para as funções de Conselheiro da Revolução, cargo que desempenhou durante alguns meses, após o que regressou ao Exército.
Mais tarde, sentindo que razões estranhas ao seu desempenho de Serviço, impediam a progressão da sua carreira, pediu a sua passagem à Reserva e respondeu a um anúncio de trabalho que o levou para Moçambique onde permaneceu durante 25 anos, tendo rapidamente subido ao cargo de Director Regional para a Africa Austral, da empresa franco-americana de engenharia, Louis Berger International
Recordo desse tempo um episódio significativo do sentimento de irmandade colegial que nos liga aos nossos camaradas de curso.
Numa das suas vindas a Portugal, cerca de um mês depois de o “Zéquinha” , o José Edgar das Neves Baptista de Azevedo-188/57, nos ter deixado no Natal de 2014, telefonou-me nas vésperas da vinda e deu-me instruções muito precisas: Zé, precisava que me fosses buscar ao aeroporto para ires comigo ao cemitério do Alto de S. João dar um abraço ao Zéquinha. E assim foi. Antes de ir abraçar a família, foi despedir-se do Zé Azevedo.
Nestes breves últimos anos, com o Luis, já no recato da sua casa em Santarém, onde recebia os muitos amigos feitos ao longo da sua vida mas onde sobressaíam os seus camaradas do Colégio, recordo-me com muita saudade das reuniões gastronómicas na Barragem de Belver, onde nos deslocávamos de comboio, pelo prazer, não só dos petiscos que saboreávamos mas, dos convívios maravilhosos que viviamos.
O maldito Covid raptou o Luis da nossa vida precocemente, mas não da nossa memória, visível nas numerosas expressões de pesar que se fizeram sentir com a notícia do seu desaparecimento.
Felizmente a Nação, reparou parcialmente a injustiça que lhe cometeu, agraciando-o com a GrãCruz da Ordem da Liberdade, mas não a de o ter impedido de dar um contributo valioso à nossa Sociedade, quando ainda tanto as suas qualidades prometiam.
Um sentido ZACATRÁZ, de lágrimas nos olhos, para ti, LUIS MACEDO.
Fernando D. Santos Coelho “Amarela”- (379/57)
(Extrato de um texto (Giro do Horizonte) de Pedro Pezarat Correia (10/1943) publicado no blog “A Viagem dos Argonautas” em 16 Nov)
[…] Os tempos recentes, em que se tornou moda a desvalorização da política na sua indispensável componente ideológica, trouxeram para o léxico político um novo paradigma – decência […] Ao menos que haja decência.
Luís Ernesto Ferreira de Macedo, genuíno e decisivo “Capitão de Abril” , na sua fugaz mas marcante passagem pela política e pelo poder, pautou a sua vida exatamente por essa tónica, decência […]
Jovem capitão fui colocado, nos finais da década de 50, no QG da Divisão Nun’Álvares, em Santa Margarida. Tinha como chefe de repartição o major Ernesto Luís Ferreira de Macedo, de quem viria a ficar amigo. Por vezes, nos fins-de-semana ou em férias escolares, visitava-o a família e, com ela, o seu filho Luís Ernesto, então “menino da luz” . Na minha “cumplicidade” de, também, antigo aluno do Colégio Militar, logo me cativou o seu aprumo, o seu desembaraço, a sua inteligência, a sua simpatia. Entretanto, a partir de 1961, com as sucessivas mobilizações, perdi o contato direto mas ia sabendo dele. Excelente aluno quer na área intelectual quer na física, destacar-se-ia no seu curso e, em 1963-64, seria comandante do batalhão colegial. Reencontrámo-nos mais tarde, quando também o meu filho Pedro entrou para o Colégio e o Luís já era cadete de Engenharia na Academia Militar.
Passaram mais alguns anos. Em 1973 nova comissão em Angola, a sexta e que seria a última, sou colocado no Luso (hoje Luena), onde fui encontrar o já brigadeiro Ferreira de Macedo como comandante do Setor e governador do Distrito do Moxico. Foi o reencontro de uma amizade que a distinção hierárquica e funcional não afetava.
25 de Abril de 1974. Poucos dias passados recebemos no Luso uma mensagem rádio informando que estava em Luanda um capitão do MFA e que ia deslocar-se ao Luso para a primeira sessão de esclarecimento sobre o 25 de Abril, há tanto desejado e que já festejáramos.
Preparámos a sessão e aguardámos na messe a sua chegada. Eis senão quando nos aparece o jovem capitão de Engenharia Luís Macedo. Era ele o enviado do MFA. O abraço foi longo, apertado, sentido. Confesso que me comovi. Quem nos ia levar as boas notícias era aquele jovem camarada que já em “miúdo” cativara a minha simpatia, e que agora reencontrava no mesmo lado da barricada no acontecimento cívico mais importante da minha vida. E para cujo sucesso o seu contributo fora decisivo.
Depois […]
Foi em Moçambique, no Maputo, que estive com ele, presencialmente, a última vez. Foi nas férias da Páscoa de 2019, quando fui visitar a minha filha Ana Lúcia que ali lecionava na Escola Portuguesa. Moçambique que o Luís adorava. Quando lhe pedi opinião sobre o convite que a Ana Lúcia recebera para ir para o Maputo, a sua resposta foi pronta: vá… e já.
Ironias da vida, seria no Maputo que o Luís, quando tanto ainda havia a esperar dele, viria a terminar os seus dias.
Como cidadão, amigo, camarada, militar, engenheiro, todo o seu percurso foi marcado por um denominador comum – excelência. Retomo a reflexão inicial. A vida de Luís Macedo é um exemplo, inteiro, do paradigma que se exige na atualidade – DECÊNCIA.
Pezarat Correia (10-1943)Se há algo que defina o nosso amigo João Sampaio foi a forma holística, não reducionista, como sempre encarou, e praticou, a Medicina Interna, de que foi, sem qualquer dúvida, um executor de excelência.
Algo apenas acessível a alguém que, além de possuir uma inteligência superior numa mente esclarecida, era um clínico com um respeito e uma atenção ímpar pela condição humana e psicológica dos que tiveram a sorte de lidar com ele como seu médico. Eu tive.
Por isso aqui deixo o meu testemunho, do meu respeito e da profunda amizade que sempre nos uniu, e o reconhecimento sincero pela família que lhe deu os meios necessários para poder dar expressão à sua arte e ciência.
Saudade...
António Sabbo (11/66)
A amizade entre mim e o João começou, como muitas outras, durante a nossa convivência no Colégio, mas cresceu
e cimentou-se ao longo dos anos, após a nossa saída.
Morávamos perto, em S. João do Estoril, entramos juntos para a Faculdade de Medicina e iniciamos a nossa carreira profissional no Hospital de Cascais.
Foram anos de convivência, tanto no estudo como na diversão, em que a nossa amizade se foi fortalecendo, de tal forma que o convidei para ser Padrinho de Baptismo do meu filho mais velho (que dez anos mais tarde viria a ser o 214/86) o que ele nos deu a honra de aceitar. As circunstâncias naturais das nossas carreiras conduziram-nos a um afastamento apenas interrompido pontualmente pelos nossos encontros nas reuniões de Curso e alguns jantares do 3 de Março no Colégio, mas como todos sabemos, nada consegue perturbar uma amizade criada desde a nossa juventude.
O João partiu, mas ficará para sempre na nossa memória, como grande amigo que foi, assim como excelente colega e profissional.
Até um dia, Compadre !
maram-nos naturalmente no início e a nossa permanente proximidade tornou-nos mais cúmplices!
Creio, se a memória não me atraiçoa, que no Colégio, poucas vezes nos separámos; além da camarata onde éramos vizinhos, ambos fomos sempre da turma B e portanto um a seguir ao outro. A vida afastou-nos também naturalmente ( eu fui para outra área profissional ), mas não no coração!
Como tu João dizias a nossas mulheres, num jantar social em que ambos ficámos na mesma mesa, dormimos juntos durante 5 anos!
Como médico, conheci pacientes teus que me testemunharam o elevado nível do seu conhecimento e profissionalismo, mas tão ou mais importante o Humanismo, o Caracter, a Disponibilidade e a Escuta ativa e positiva. Que orgulho para quem contigo privou!
Positivismo que o acompanhou até ao fim!
Quiz o destino que partisses agora! Todos um dia partiremos e teremos depois a oportunidade de voltar a vibrar com as nossas cumplicidades colegiais.
João Pedro Quaresma – Buzz (213/65)
Caro João, Fomos no Colégio, Amigos próximos! Os nossos Pais, ambos da Marinha, aproxi-
Beijos para a Leonor e Mariana. Um forte abraço para o Pedro ( meu ex-colega na empresa onde ambos estivemos) e para o teu irmão Rui o 139/68.
Até sempre João!
O nosso amigo João Sampaio, com quem tivemos a felicidade de conviver com maior proximidade nestes últimos anos, era um conceituado especialista de Medicina Interna, médico e crítico desassombrado de alguns aspectos da evolução da prática médica nos tempos que correm, com relevante obra publicada na área da sua especialidade.
Mas, além de médico, era também um homem de cultura histórica e filosófica com vários prémios granjeados, sendo membro de várias sociedades científicas, nomeadamente da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Círculo Eça de Queiroz, do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, com obra significativa publicada nestas temáticas.
Foi também convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian para fazer a apresentação de livros editados sobre temas filosóficos de autores consagrados.
Os nossos encontros, que muita falta nos farão, eram sempre enriquecidos pela sua vasta cultura humanista - e também pelas suas histórias, algumas bem divertidas, mesmo que irrepetíveis. Mas aguardamos a próxima oportunidade de retomarmos mais uns animados almoços e de “pormos a escrita em dia”.
Até lá, João, restam-nos as muitas saudades com que nos deixas, e o renovado agradecimento especial de um de nós (287) pelo valioso apoio que deste num momento particularmente difícil.
José Monteiro (192/66) Mário Gatta (287/66)Técnico de Informática
Nasceu a 29 de Abril de 1982
Faleceu a 25 de Novembro de 2020
Durante o funeral do “Branco”, veio-me à memória uma imagem distante, com mais de 20 anos. Nessa imagem, o Branco alinha-se entre outros atletas na partida dos 100 metros. O local é o campo de atletismo do Benfica, junto ao Colégio. Trata-se provavelmente de uma prova do Desporto Escolar, a que fui assistir em apoio aos camaradas mais dotados. Por breves momentos, cai o silêncio no estádio. Todos os olhos se focam nos atletas. Quando o sinal de partida chega aos meus ouvidos, já as pernas se movem na pista. Rapidamente, três ou quatro figuras se chegam à frente, entre elas o Branco. Parece que vai ser renhido. Chegada essa vanguarda ao meio da pista, porém, os meus sentidos são confundidos por duas ocorrências que se desenvolvem em simultâneo. Uma é um ruído estranho, crescente, que vem da pista. A outra é o adiantamento implacável do Branco face aos rivais. O ruído, começo a perceber, vem dele próprio, de algum lugar profundo dentro dele. É um rugido. Quando corta a meta, já não há concorrência à vista. O vencedor e os apoiantes festejam, o resto perma -
nece estupefacto. Ninguém festeja mais orgulhosamente do que um homem isolado no topo da bancada. É o Sr. Machado, o avô do Branco, que muitos do nosso curso recordam com afecto. O avô deixou-nos há dois anos. Ninguém podia esperar que o neto o seguisse tão cedo.
Foi uma meningite fulminante que levou o Branco, uma semana depois de ter tido alta após cirurgias a um tumor benigno, recentemente detectado junto aos nervos ópticos. Fulminante – foi esse o efeito não só no próprio, mas também nos corações dos muitos que o choram. Restam-nos as mil e uma memórias que temos dele, confirmadas nas fotos dos nossos tempos no Colégio: espontâneo e brincalhão, mas também sério quando era preciso. Como provou no desporto, sempre que algo o inspirava, era capaz de uma dedicação absoluta. Acima de tudo, era profundamente leal. Foi o primeiro grande amigo que perdi.
Depois do Colégio, onde foi graduado (1*) da 1ª Companhia, estudou Engenharia Electrotécnica na Universidade Nova de Lisboa, embora não tenha completado o curso, por pouco. Fora do horário de aulas (e talvez durante), trabalhou numa loja em Almada, cidade onde sempre morou. Em 2008, ingressou na Novabase, uma das maio -
res empresas nacionais dedicadas às tecnologias de informação. Mudou-se em 2017 para a SIBS, que domina os serviços de pagamentos electrónicos em Portugal, operando, por exemplo, a rede Multibanco. Desenvolveu vários projectos nessas empresas, onde deixa grandes saudades. Para além do óbvio profissionalismo que transparecia nas nossas conversas, não posso dizer muito mais. Quando os Meninos da Luz se juntam, não é normalmente para falar de trabalho. Mas pergunto-me agora, revendo aquelas imagens distantes de glória desportiva, se, nos monótonos gabinetes e corredores em que a maior parte de nós passa os longos anos de trabalho, ele alguma vez viveu sentimentos semelhantes.
Apesar das restrições da Covid-19, foram muitos os que compareceram no funeral. Ladeado por vários Antigos Alunos, tive a oportunidade de transmitir os nossos sentimentos profundos à mãe, Clara, à irmã, Cláudia, e à companheira de uma década, Ana, por quem o nosso curso recebeu as terríveis notícias. Entre os muitos arranjos florais, contava-se também uma homenagem de antigas alunas do Instituto de Odivelas. O baixar do caixão foi acompanhado por um Zacatraz, que muito comoveu a família e amigos próximos, conhecedores da paixão que ele tinha pelo Colégio. Não foi o Zacatraz alegre que gostaríamos de ter dedicado ao Branco, mas, ainda que cheio de sentimento fúnebre, foi um Zacatraz firme e limpo, testemunho da nossa determinação em não o esquecer. A família pediu-me para transmitir um agradecimento sentido ao Colégio Militar e aos Antigos Alunos.
Nessa manhã triste de fim de Novembro em que nos despedimos do Branco, as imagens do passado confun -
diam-se com o presente: a última vez que jantámos juntos, tardes passadas nas praias da Costa, conversas a caminho das aulas nos Claustros. A imagem que me animou o espírito foi de outra manhã, distante, cheia de vida. Na luz da Primavera, sob o olhar de todo o estádio, o Branco alinha-se entre os outros atletas e, concentrado, coloca-se em posição de partida.