Revista ZacatraZ nº 216

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Editorial

Caros Amigos e Camaradas

Uma das obrigações da nossa Associação é preservar, conservar e recuperar o PM34. Este Prédio Militar ,que nos foi cedido parcialmente pelo Ministério da Defesa, através do Exército , já não tem obras com o mínimo de relevo faz tempo. Para além do interior do mosteiro que se encontra muito degradado , toda a fachada interior do mesmo e a parada / pátio também se encontram num estado muito deteriorado. Esta situação em nada ajuda a nossa missão de preservar, conservar e recuperar o PM 34.

Não tendo a Associação recursos financeiros para atacar o todo do problema , vamos iniciar em Julho uma recuperação da fachada interior do mosteiro , bem como da parada/ pátio , para que nós e as nossas congéneres da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas possamos ter orgulho em entrar no PM 34.

Simultaneamente , vamos também arrancar com a adaptação de parte da nossa sede , numa sala de convívio para Antigos Alunos. Esperamos que este espaço possa servir para aglutinar a convivência entre Antigos Alunos e que os

atraia a viver mais de perto a Associação. Finalmente, vamos iniciar conversações com o restaurante Jardim da Luz, para decorar as duas salas anexas ao restaurante de acordo com o prestigio e dignidade que merecem , para serem um centro de almoços ou jantares de curso, bem como de reuniões mais alargadas.

Esperamos ter tudo concluído entre Setembro / Outubro próximo.

Gozem umas boas férias.

Com um Zacatraz

3 Editorial Revista “ZACATRAZ”
Filipe Soares Franco 62/1963

Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2019-2021

ASSEMBLEIA GERAL

Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)

Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)

1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)

2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)

DIRECÇÃO

Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)

Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)

Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)

Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)

1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951)

2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)

3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)

4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)

5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)

1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)

2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)

3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)

CONSELHO FISCAL

Presidente António Santos Serra (95/1959)

1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)

2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)

1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)

2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)

Ficha Técnica

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

Fundada em 1965 Nº 216 Julho/Setembro - 2019

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

DIRECTOR

Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt

CHEFE DE REDACÇÃO

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt

REDACÇÃO

Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951)

CAPA O Nosso Colégio Foto: Leonel Tomáz

ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307

TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94

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Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

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5 04 Toféu do Comité Olímpico Internacional 10 O Jantar do Oeste 13 O Jantar do Conselho de Delegados 18 O Reconhecimento Internacional da Reocupação da Quionga 24 O Colégio Militar no Brasil em 1959 36 O Pequeno Herói de Chaves 39 Pelo Marquilhas e pelo Colégio 41 Mensagens, Cifras e Desabafos 46 Porque é que de Noite é Escuro 53 O Aluno do Colégio Militar na Sociedade 55 Antigos Alunos em Destaque 65 Curso de 1947/1954 Romagem dos 65 Anos de Saída 66 Curso de 1954/1961 Romagem dos 65 Anos de Entrada 67 Curso de 1972/1979 Romagem dos 40 Anos de Saída 68 Curso de 1993/2001 Romagem dos 25 Anos de Entrada 69 Os que nos deixaram Sumário 52 Engenheiro Manuel Rocha 21 Foi há 60 Anos Hailé Selassié I 27 O Batalhão em Madrid Ano de 1950 15 Foi há100 Anos O Regresso

Troféu do Comité Olímpico Internacional

Troféu do Comité Olímpico Internacional. Antigos Alunos Medalhados

No passado dia 2 de Março, aproveitando as cerimónias de comemoração do 216º aniversário do Colégio Militar, foi entregue ao Colégio pelo Professor José Manuel Constantino , Presidente do Comité Olimpico de Portugal o troféu do Comité Olímpico Internacional . Tratou-se de um evento de enorme relevo social e desportivo, sem que muitos se tenham apercebido da sua verdadeira importância. Do antecedente, em 2008, já o Colégio tinha sido distinguido pelo Comité Olímpico de Portugal com o seu galardão, o que já representou um facto notável, dado anteriormente só um número muito limitado de instituições o terem recebido. O troféu do Comité Olímpico Internacional corresponde a um patamar superior do reconhecimento da extraordinária acção do Colégio em prol do Desporto e da Sociedade.

O troféu agora atribuído ao Colégio destina-se a distinguir instituições, iniciativas ou pessoas que tenham tido um papel de elevada importância na afirmação do valor social do desporto e que

se destaquem pelo relevante contributo prestado ao desporto e ao Olimpismo.

O Comité Olímpico de Portugal, considerando o tema definido para 2018, «Olimpismo em Acção», propôs ao Comité Olímpico Internacional, a atribuição do prémio deste último comité ao Colégio Militar, justificando a sua proposta com o trabalho e os relevantes serviços prestados a Portugal e ao desporto português pelo Colégio, na formação de técnicos, de dirigentes e de atletas, através de um modelo formativo de excelência. O fruto mais evidente deste notável trabalho, foi a participação de 29 Antigos Alunos do Colégio nas missões olímpicas nacionais, em várias edições dos Jogos Olímpicos, a partir dos Jogos Olímpicos da era moderna, de Paris, em 1924. A proposta, em boa hora apresentada pelo Comité Olímpico de Portugal, teve a melhor receptividade do Comité Olímpico Internacional, que ao atribuir o seu troféu ao Colégio, homenageou não só os já referidos técnicos, dirigentes e atletas nele formados, mas também o próprio Colégio e os educadores e

mestres, que no seu seio, com contínuo e persistente trabalho diário, tantas vezes ignorado, formaram homens que souberam engrandecer o seu País, representando-o de forma exemplar e honrando o Colégio. Estamos todos de parabéns! Fez-se justiça.

Para assinalar este acontecimento, a Direcção do Colégio decidiu promover uma exposição relativa ao mesmo. A exposição teve lugar no corredor que estabelece a ligação entre os Claustros e a Parada Marechal Teixeira Rebelo, tendo sido responsável pela mesma o Professor Nuno Leitão, do departamento de Educação Física do Colégio, a quem felicitamos pelo trabalho efectuado. A exposição apresentada centrou-se nos cinco Antigos Alunos medalhados em três diferentes edições dos Jogos Olímpicos, nomeadamente em Paris, em 1924, em Berlim, em 1936 e em Londres, em 1948. Estes cinco Antigos Alunos foram todos medalhados na modalidade de hipismo, que é a modalidade em que os Antigos Alunos do Colégio marcaram maior número de presenças, num total de 38, desde 1924, em Paris, até 2004, em Atenas.

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Troféu do Comité Olímpico Internacional

1924 – PARIS.

Hélder Eduardo de Sousa Martins (225/1912) ganha uma medalha de bronze, por equipas, na disciplina de saltos de obstáculos, tendo-se classificado individualmente em 12º lugar. A equipa de equitação nacional era chefiada por outro Antigo Aluno, Manuel da Costa Latino (207/1888). A entrega dos prémios ficou assinalada negativamente pelo facto de a organização não dispor de uma bandeira portuguesa para içar num dos mastros de honra. Não esperariam que Portugal chegasse às medalhas.

Hélder Martins voltou a participar na disciplina de saltos de obstáculos nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928, e de Londres, em 1948.

1936 – BERLIM.

Em Berlim a equipa portuguesa na disciplina de saltos de obstáculos, formada por três Antigos Alunos, ganha de novo uma medalha de bronze. A equipa era formada por Domingos António de Souza Coutinho (262/1906), Luis Falcão Mena e Silva (200/1912) e José Gil de Gouveia Beltrão (231/1916), que se classificaram individualmente em 16º, 21º e 6º lugar. A equipa foi de novo chefiada por Manuel da Costa Latino (207/1888).

Souza Coutinho participou mais tarde nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, e de Tóquio, em 1964, mas já na qualidade de chefe da equipa de equitação.

Mena e Silva participou de novo nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948, e de Roma, em 1960, mas na disciplina de ensino, sendo também medalhado em Londres, como adiante veremos.

José Beltrão não voltou a participar em Jogos Olímpicos, por ter falecido, vítima de uma queda no Hipódromo do Campo Grande, em Lisboa, onde ainda hoje, uma

placa evocativa recorda a sua qualidade de cavaleiro de excepção.

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A Equipa que conquistou a Medalha de Bronze no Prémio das Nações das Olímpiadas Berlim 1936: ao centro Marquez do Funchal Capitão Domingos António de Sousa Coutinho (262/1906) - à esquerda Tenente Luís Falcão Mena e Silva (200/1912); à direita Tenente José Gil de Gouveia Beltrão (231/1916). Equipa portuguesa concorrente aos Jogos Olímpicos de Paris (1924) na modalidade de Obstáculos. Assinala-se Hélder de Sousa Martins (225/1912).

Troféu do Comité Olímpico Internacional

1948 – LONDRES.

Em Londres a equipa portuguesa na disciplina de ensino, de que faziam parte dois Antigos Alunos, ganha uma medalha de bronze. Os Antigos Alunos em causa foram Luis Falcão Mena e Silva (200/1912) e Fernando António Cerqueira da Silva Paes (424/1917), que se classificaram individualmente em 12º e 10º lugar.

Mena e Silva tornou-se assim no único cavaleiro português até hoje duas vezes medalhado em Jogos Olímpicos.

Silva Paes participou também nestes Jogos Olímpicos na disciplina de Concurso Completo de Equitação, onde alcançou um 25º lugar. Quatro anos mais tarde participou nos Jogos Olímpicos de Helsínquia na disciplina de ensino.

Ao lembrar os Antigos Alunos cavaleiros, que mais se notabilizaram pelas suas participações em Jogos Olímpicos, não podemos deixar de recordar um cavaleiro, que, apesar de não ter sido medalhado, teve uma acção verdadeiramente notável. Trata-se de Joaquim Miguel Duarte Silva (8/1934), que participou em quatro Jogos Olimpicos, tendo obtido um brilhante 5º lugar, na disciplina de saltos de obstáculos, em 1964, em Tóquio.

Não podemos esquecer que as participações de Antigos Alunos nos Jogos Olímpicos não se limitaram à modalidade do hipismo. Houve também participações nas modalidades de esgrima, pentatlo moderno e tiro.

A ZacatraZ tem recordado por várias vezes nas suas páginas os Antigos Alunos atletas olímpicos, nomeadamente nos artigos «As Olimpíadas de Berlim 1936» (nº 185, Out/Dez 2011), «O Hipismo, o Colégio e os Jogos Olímpicos»

(nº 190, Jan/Mar 2013) e «A Esgrima, o Colégio e os Jogos Olímpicos» (nº193, Jul/Set 2013).

A todos os técnicos, dirigentes e atletas Antigos Alunos, que com a sua acção

honraram o Colégio Militar, a ZacatraZ presta a sua homenagem.

Apresentam-se de seguida os painéis expostos no Colégio relativos aos cinco cavaleiros olímpicos medalhados.

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Dom Agostinho de Souza Coutinho (15/1939) junto da foto de seu pai. Entrega do Toféu pelo Presidente do Comité Olímpico de Portugal. Toféu do Comité Olímpico Internacional.

Troféu do Comité Olímpico Internacional

FERNANDO ANTÓNIO

DA SILVA PAES - 424/1917 (Lisboa, 24 de Maio de 190719 de Maio de 1972)

Frequentou o Colégio Militar entre 1917 e 1924

Cavaleiro, Oficial de Cavalaria, Fernando Paes, antigo aluno 424 de 1917, contaria no seu currículo desportivo com duas participações olímpicas conquistando uma medalha olímpica na sua estreia em Londres 1948 na prova de Ensino por Equipas (Dressage) ao lado do antigo aluno Luís Mena e Silva (200/1912). Montava o cavalo Matamás

Nesses Jogos Olímpicos Fernando Paes seria ainda 25º Classificado no Concurso Completo (montando Zuari) tornando-se assim o primeiro e único cavaleiro português a participar em 2 das 3 provas de Hipismo nos mesmos Jogos Olímpicos.

Regressado de Londres, o Ministério da Guerra nomearia Fernado Paes como responsável pela restruturação da Cavalaria Portuguesa e nesse âmbito acabaria por estagiar na École Nationale d’Équitation Francesa, em Saumur, integrando o Cadre Noir em várias apresentações públicas acabando por conquistar a prestigiada distinção das “esporas de ouro” do Cadre Noir. Da experiência adquirida nesse

estágio surgiria a Reprise da Escola de Mafra sob a direção de Fernando Paes.

Voltaria a ter nova participação olímpica 4 anos depois em Helsínquia 1952 na prova de Ensino individual e novamente montando Matamás

Teria nova participação olímpica, já como dirigente, chefiando a equipa portuguesa de Hipismo aos Jogos de Melbourne/Estocolmo 1956.

A Federação Equestre Portuguesa nomeou-o Sócio de Mérito.

LONDRES 1948

Medalha de Bronze em Ensino por Equipas (Dressage)

10º lugar em Ensino Individual (Dressage)

25º Lugar no Concurso Completo Individual Cavalos: Matamás e Zuari

HELSÍNQUIA 1952

26º Lugar em Ensino Individual (Dressage)

8º lugar em Ensino por Equipas. Cavalo: Matamás

JOSÉ

GIL DE GOUVEIA BELTRÃO - 231/1916

(Lisboa, 27 de Novembro de 1905 – Lisboa, 6 de Abril de 1948

Frequentou o Colégio Militar entre 1916 e 1922

Cavaleiro, Oficial de Cavalaria, José Beltrão, antigo aluno 231 de 1916 cedo se notabilizou no desporto hípico, participando em inúmeras provas hípicas nacionais (incluindo o Concurso Internacional de Lisboa) ainda como aluno do Colégio Militar. Com uma carreira desportiva notável, acabaria por obter vasto espólio de vitórias, prémios e troféus em concursos hípicos, que na sua maioria se podem observar no Museu Colegial do Colégio Militar.

O mais alto ponto da sua carreira desportiva seria a sua única participação olímpica, integrando a “Equipa Olímpica do Colégio Militar”, onde ao lado de Luís Mena e Silva e Domingos de Sousa Coutinho e tendo como Chefe de Equipa o também antigo aluno Luís Ivens Ferraz (129/1908) conquistaria o Bronze Olímpico na prova de Saltos de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações”. Individualmente, montando o cavalo Biscuit conseguiria um brilhante 6º lugar, uma das melhores classificações olímpicas portuguesas de sempre em desportos equestres.

A sua carreira desportiva seria precocemente interrompida aos 43 anos por um acidente mortal no Hipódromo do Campo Grande (então designado Campo 28 de Maio) enquanto preparava o sonho olímpico de Londres 1948 e após brilhantes vitórias nos Concursos Internacionais de Roma, Madrid e Lisboa.

A Federação Equestre Portuguesa nomeou-o Sócio de Mérito e foi distinguido em 2010 (a título póstumo) pelo prémio “Cem Desportistas, cem anos da República” da Confederação do Desporto de Portugal enquanto membro da equipa de Hipismo participante nos Jogos Olímpicos de 1936.

BERLIM 1936

Medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações”

6º em Saltos de Obstáculos Individual Cavalo - Biscuit

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Troféu do Comité Olímpico Internacional

LUIZ FALCÃO MENA E SILVA

- 200/1912

(Abrantes, 24 de Maio de 190719 de Maio de 1972)

Frequentou o Colégio Militar entre 1917 e 1924

Cavaleiro, Oficial de Cavalaria, Luís Mena e Silva, antigo aluno 200 de 1912, é um dos mais notáveis cavaleiros da história do Hipismo em Portugal, tendo participado em 3 Jogos Olímpicos e conquistado 2 medalhas olímpicas, feito apenas repetido no desporto português por Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro. Abrantino de nascimento, iniciou a sua participação nos Jogos na “Equipa Olímpica do Colégio Militar”, equipa portuguesa constituída em exclusivo por antigos alunos, que em Berlim 1936, conquistou a Medalha de Bronze em Hipismo - Saltos de Obstáculos (com Domingos de Souza Coutinho, 262/1906 e José Beltrão, 231/1916). Antes do início da prova, Sylvain, o cavalo que Mena e Silva iria montar, teve um problema renal e não pôde participar. O Cavaleiro acabaria por montar Fossette, acabando em 21º lugar no Concurso Individual, fechando a classificação coletiva portuguesa no 3º lugar, com direito ao Bronze olímpico.

Teria nova participação olímpica em Londres 1948, com um 12º lugar individual em Ensino (Dressage) e conquistando nova Medalha de Bronze em Ensino por Equipas (novamente com outro antigo aluno por com-

HÉLDER EDUARDO DE SOUZA MARTINS –

225/1912

(Lisboa, 28 de Novembro de 1901 –2 de Fevereiro de 1957)

Frequentou o Colégio Militar entre 1912 e 1918

Cavaleiro, Oficial de Cavalaria, Hélder Martins, antigo aluno 225 de 1912, inaugura em Paris 1924, a notável galeria dos 29 antigos alunos atletas olímpicos. Nesses mesmos Jogos Olímpicos, Hélder de Souza Martins, em conjunto com outros 2 cavaleiros portugueses, torna-se um nome incontornável da História do Desporto em Portugal ao conquistar a primeira medalha olímpica para Portugal: medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas (“Prova das Nações”), inaugurando a galeria dos heróis olímpicos Portugueses. Medalha que seria entregue ao Chefe de Equipa de Hipismo portuguesa, o também antigo aluno Manuel da Costa Latino (207/1888) pelo próprio Barão Pierre de Coubertin. Nesses mesmos Jogos Olímpicos, montando o seu cavalo Avrô, Hélder Martins seria ainda 12º classificado em Saltos de Obstáculos Concurso Individual. Hélder Martins teria ainda mais 2 participações olímpicas enquanto atleta, em Amsterdão 1928, novamente com Avrô, com um 16º lugar em Saltos de Obstáculos concurso individual e um 4º lugar ex-aequo por equipas (“Prova das Nações”) a escassos 2 pontos de nova medalha olímpica (fazendo equipa com outro antigo aluno, Luís Ivens Ferraz, 129/1908). 24 anos depois da sua estreia

panheiro – Fernando Silva Paes, 424/1917), sendo assim medalhado olímpico em duas provas diferentes. Regressaria aos Jogos Olímpicos em Roma 1960, 24 anos depois da sua primeira participação, para um honroso 17º lugar na prova de Ensino Individual com 58 anos de idade. A Federação Equestre Portuguesa nomeou-o Sócio de Mérito e foi distinguido em 2010 (a título póstumo) pelo prémio “Cem Desportistas, cem anos da República” da Confederação do Desporto de Portugal enquanto membro da equipa de Hipismo participante nos Jogos Olímpicos de 1936.

BERLIM 1936

Medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações” 21º em Saltos de Obstáculos individual Cavalo - Fossette LONDRES 1948

Medalha de Bronze em Ensino por Equipas 12º em Ensino Individual Cavalo - Fascinante ROMA 1960 17º em Ensino Individual Cavalo - Adónis

olímpica, Hélder Martins, com 47 anos, encerraria as suas participações olímpicas em Londres 1948, novamente em Saltos de Obstáculos, ficando pela 1ª ronda da competição.

Como Tenente voltaria ao Colégio Militar entre 1926 e 1928, exercendo funções de Auxiliar de Mestre de Equitação. Foi membro do Comité Olímpico de Portugal entre 1952 e 1957. A Federação Equestre Portuguesa nomeou-o Sócio de Mérito e foi distinguido em 2010 (a título póstumo) pelo prémio “Cem Desportistas, cem anos da República” da Confederação do Desporto de Portugal enquanto membro da equipa de Hipismo participante nos Jogos Olímpicos de 1924.

PARIS 1924

Medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações”

12º Individual Saltos de Obstáculos Individual Cavalo - Avrô

AMESTERDÃO 1928

4º ex-aequo em Salto de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações”

16º Individual Saltos de Obstáculos Individual Cavalo – Avrô

LONDRES 1948

1ª Ronda em Saltos de Obstáculos Individual Cavalo - Optus

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Troféu do Comité Olímpico Internacional

DOMINGOS ANTÓNIO DE SOUZA COUTINHO - 262/1906

(Lisboa, 19 de outubro de 1896 –29 de setembro de 1984)

Frequentou o Colégio Militar entre 1906 e 1912

Cavaleiro, Oficial de Cavalaria, Domingos de Souza Coutinho, antigo aluno 262 de 1906, teve uma participação olímpica enquanto atleta (Berlim, 1936), conquistando a medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas (“Prémio das Nações”, como era então apelidado esse concurso).

16º Classificado no concurso individual, conquistou a Medalha de Bronze no concurso por equipas ao lado de Luís Mena e Silva (200/1912) e José Beltrão (231/1916) numa equipa constituída integralmente por antigos alunos do Colégio Militar (e tendo como chefe de equipa antigo aluno Manuel da Costa Latino - 207/1888).

Nesses jogos de Berlim 1936, Domingos de Sousa Coutinho promove a captação de um conjunto de imagens e realização de um pequeno filme, onde se destacam as provas dos três Cavaleiros Portugueses antigos alunos perante um estádio olímpico de Berlim com bancadas repletas de público.

Teria novas participações olímpicas, já como dirigente, chefiando a equipa portuguesa de Hipismo aos Jogos de Roma, 1960 e Tóquio, 1964.

hípicas, como a Copa da Cavalaria Espanhola em Madrid (1932), o Grande Prémio de Lisboa (1933) e o Prémio Duquesa de Aosta em Nice (1936). Faria parte da primeira equipa portuguesa a conquistar a Taça de Ouro da Península em 1932, título que repetiria em 1940.

No âmbito desportivo foi ainda Juíz em provas internacionais de Hipismo e delegado da Federação Equestre Portuguesa junto da Federação Equestre Internacional. A Federação Equestre Portuguesa nomeou-o Sócio de Mérito e foi distinguido em 2010 (a título póstumo) pelo prémio “Cem Desportistas, cem anos da República” da Confederação do Desporto de Portugal enquanto membro da equipa de Hipismo participante nos Jogos Olímpicos de 1936. Foi nomeado Membro honorário da Sociedade Hípica Portuguesa em 1976

BERLIM 1936

Medalha de Bronze em Saltos de Obstáculos por Equipas – “Prémio das Nações” 16º em Saltos de Obstáculos Individual

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©Foto
Sérgio
Garcia
(326/1985) ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA

O Jantar do Oeste

Em 1993, Vitor Manuel de Oliveira Santos (365/1949) desafiou Luis Fernandes Bernardes dos Reis (429/62) e Fernando Faustino Roque do Vale (518/1959) a organizarem um jantar anual de Antigos Alunos na zona «Oeste». Pode-se pois atribuir ao Vitor Oliveira Santos a paternidade da ideia dos «jantares do Oeste».

A zona «Oeste» é uma entidade geográfica situada a Norte de Lisboa, de abrangência indefinida, incluindo Malveira, Mafra, Torres Vedras, Lourinhã e Peniche, quando esta última emerge dos nevoeiros matinais junto à costa e se deixa lobrigar. Nos primeiros tempos, começaram a reunir-se anualmente, grupos de 15 a 20 Antigos Alunos, quase todos de Torres Vedras e arredores, em lautas refeições, que procuraram justificar, designando-as como «jornadas de saudade» da sua Casa Mãe, o Colégio Militar. Como começou a constar que nas ditas «jornadas» se comia bem e se bebia melhor, em breve o número daqueles, que não conseguiam de outro modo satisfazer as saudades que tinham do seu Colégio, foi aumentando, começando a agregar-se ao grupo «saudosistas» das mais variadas localizações geográficas, os quais se passaram a dirigir às terras do Oeste, como que em peregrinação anual. A coisa foi aumentando de dimensão, foi-se passando de restaurante em restaurante, com uma passagem em dois anos pela adega do Carlos João Fernandes Pereira da Fonseca (277/1960), sempre em busca de um local

com maior capacidade e onde o tratamento dos comensais fosse melhor. Há cerca de uma dezena de anos, em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas, encontrou-se um local com condições logísticas adequadas ao evento, com uns anfitriões de uma amabilidade e generosidade sem limites, para aturarem anualmente, sem vacilar, várias dezenas de comilões, cada vez mais velhos, cada vez mais caturras e cada vez mais exigentes. O local da «peregrinação» é a Quinta do Castelo. Os Anfitriões são o António José de Azeredo Lopes (350/1954) e respectiva família, que, ano após ano, vão cumprindo esta sua caridosa missão (dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede), como se de uma promessa se tratasse.

Este ano o evento ocorreu no passado dia 24 de Maio. Lá fomos guiados pelo farol da hospitalidade da família Azeredo Lopes, começando a dar-se a ocupação das posições em redor do local da contenda por volta das 7 da tarde (qualquer dia haverá gente a ir de véspera). Estava um fim de tarde agreste, com uma temperatura baixa para a época e uma forte ventania. Para amenizar a espera no exterior, os anfitriões já tinham porém preparadas umas bebidas e uns acepipes, aos quais os presentes se iam atirando, sob o pretexto que era preciso «aquecer». Os pastéis de bacalhau, as chamuças, os croquetes e os rissóis desapareciam num ápice, sendo porém imediatamente repostos por umas gentis meninas, que «não queriam que nos

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Ainda no exterior. Degustando os aperitivos.

faltasse nada». Na realidade nada faltou e quando se avançou para o jantar, alguns já iam meio jantados. O jantar decorreu, como é usual, no grande edifício das antigas adegas, completamente preparado para receber os comensais, que se apresentaram este ano ao serviço em número record. Reunidos os comensais dentro da sala de jantar e antes que se instalasse a confusão, foi feito o agradecimento aos anfitriões, por mais uma vez abrirem as suas portas à comunidade colegial. O novo Presidente da Direcção, Filipe Soares Franco (62/1963), aproveitou a oportunidade para dirigir umas breves palavras aos presentes, em que fez questão de frisar, que embora muitos Antigos Alunos não necessitem no seu dia a dia da Associação, para viverem à sua maneira o Colégio, a Associação precisa de todos, para ser uma Associação forte, capaz de apoiar o Colégio, nos tempos difíceis que hoje se vivem. A Associação é necessária ao Colégio, hoje mais do que nunca, para que este possa preservar os valores pelos quais sempre se regeu. Antes de se iniciar o jantar, alguns na minha mesa já gabavam a sopa de peixe com que é usual começar a refeição. Posta a grande terrina da sopa sobre a mesa, constatou-se que mais uma vez teríamos sopa de peixe, sendo o perfume que emanava da terrina prometedor de algo de acordo com os pergaminhos da casa. O aroma experimentado não era enganador. Provada a primeira colherada, ficámos de imediato com a certeza que estávamos perante uma honesta sopa de peixe. Com as colheradas seguintes, a certeza reforçou-se e foi de tal ordem, que todos na mesa resolvemos avançar para uma repetição da sopa. Estava uma verdadeira delícia. Daqui enviamos os nossos parabéns à cozinheira. Foi uma sopa de deixar saudades. Á sopa seguiu-se uma boa carne de porco à portuguesa, acompanhada por umas batatinhas estaladiças quanto baste. As sobremesas foram variadas, com bolos caseiros diversos (não resisti a umas deliciosas farófias) e salada de frutas para aqueles que, mesmo em dias de festa, cuidam da sua linha. Os Anfitriões estão de parabéns, o jantar estava

excelente. Todos estiveram bem dispostos, o ambiente geral foi de alegria e de boa camaradagem. Para a animação do jantar terá contribuído a excelência dos vinhos que o acompanharam. Os tintos eram da casa, ou seja, da Quinta do Castelo, enquanto que os brancos, o rosé e o moscatel eram da Quinta das Cerejeiras, oferecidos pelo Carlos João Pereira da Fonseca (277/60).

No final do animado repasto, o Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943), que se constatou ser o mais antigo dos presentes, deu um enérgico ZacatraZ, sendo acompanhado, com entusiasmo, por todos os restantes Antigos Alunos. Para memória futura, apresenta-se de segui-

da uma relação dos presentes nesta memorável confraternização:

Pezarat Correia (10/1943), Geraldes Freire (82/1945), Barata Correia (28/1949), Vasconcelos Caeiro (41/1949), Oliveira Santos (365/1949), Fonseca e Silva (369/1949), João Geraldes (245/1952), Caldeira Pinto (168/1953), Bernardo Ayala (171/1953), Nuno Bello (270/1953), João Ruivo (293/1954), Azeredo Lopes (350/1954), Falcão Mena (77/1955), Ayala Boaventura (339/1955), José Magalhães (409/1955), Manuel Menezes (423/1955), Mário Tavares (274/1956), Mário Conde (275/1956),

13 O Jantar do Oeste
Ouvindo as palavras do Presidente da Direcção da Associação. O Presidente da Direcção da Associação usando da palavra no início da reunião.

Azevedo Coutinho (391/1956), Luis Barbosa (71/1957), Esteves de Carvalho (368/1957), Carlos Biscaya (469/1958), Freire Damião (236/1959), António Tinoco (500/1959), Soeiro e Sá (506/1959), Fernando Vale (518/1959), Pedro Roriz (519/1959), Pereira da Fonseca (277/1960), João Mourão (552/1960), José Fanha (289/1961), José Restani (344/1961), Norton Brandão (400/1961), Manuel Quintino (579/1961), Gomes da Silva (586/1961), Artur Pardal (587/1961), João Carmona (589/1961), Rui Almeida (40/1962), Beleza Vaz (123/1962), José Piairo (160/1962), António Restani (206/1962), Luis Reis (429/1962), Fernando Henriques (492/1962), Cortez das Neves (594/1962), Themudo Barata (608/1962), José Pantaleão (614/1962), Francisco Fonseca

(13/1963), Soares Franco (62/1963), Feio Pereira (157/1963), Carlos Lima (340/1963), João Frade (362/1963), José Portelo (431/1963), Luis Quintino (474(1963), Manuel Esquivel (516/1963), António Reffóios (529/1963), José Leitão (153/1964), Francisco Esteves (363/1964), Luis Mesquitella (517/1964), António Coelho (94/1965), Luis Matos (165/1965), Correia de Matos (196/1965), Machado dos Santos (200/1965), Eiras Dias (393/1965), Faro Viana (463/1965), José Monroy (573/1965), António Mieiro (375/1966), Ramires Ramos (211/1968), Eduardo Marques (666/1969), Faria Fernandes (454/1970), Alberto Santos (618/1970), João Caetano (609/1973), António Alexandre (527/1974), Luis Santos (687/1974), Geraldes Freire (82/1977), Pedro Alexandre

(257/1978), Santos Roma (293/1980), Moutinho Gonçalves (14/1981), Santos Gomes (223/1981), Roncon Santos (226/1981), Dário Prates (340/1981), Serra Santos (359/1981), Azeredo Lopes (378/1981), Miguel Freire (380/1981), Rebordão de Brito (8/1987), Teixeira Ribeiro (310/1989), Pereira Veloso (420/1991), Henrique Matos (216/1999) e Azevedo Caetano (1/2009).

A reforçar este pelotão de Antigos Alunos estiveram ainda presentes os sócios honorários da nossa Associação Leonel Tomáz e Prof. Garcia Carmo, o que elevou o número total de comensais a 89, estabelecendo assim um novo record de presenças no Jantar do Oeste. Por mim, vou-me já inscrever para o «Oeste 2020»

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O Jantar do Oeste

O Jantar do Conselho de Delegados

O Jantar do Conselho de Delegados

Jantar de 2019 do Conselho de Delegados de Curso

No passado dia 9 de Julho realizou-se o primeiro jantar do Conselho de Delegados de Curso, com o qual se encerrou a actividade do mesmo Conselho relativa ao ano lectivo de 2018/2019. Este jantar foi uma feliz iniciativa do Presidente do Conselho de Delegados de Curso, Nelson Manuel Machado Lourenço (377/1982), que tem imprimido uma dinâmica assinalável às actividades do Conselho, com a realização de reuniões periódicas de grande interesse, o qual é atestado pela elevada participação por parte dos delegados nas reuniões.

O Conselho de Delegados de Curso foi uma iniciativa de Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), quando presidia à Direcção da Associação. Cada curso nomeia um delegado e um subdelegado para o Conselho, que estabelecem a ponte entre os seus cursos e o Conselho e por meio deste com a Associação. É o órgão da Associação mais representativo de todos os associados e onde estes, por intermédio dos seus delegados de curso, podem fazer chegar as suas ideias, opiniões e sugestões relati-

vas ao funcionamento da Associação e relativas ao próprio Colégio, que a Associação tem a obrigação estatutária de apoiar.

O jantar, que correspondeu à 37ª reunião do Conselho, teve lugar no restaurante «O Jardim da Luz», tendo sido muito concorrido, com um total de 59 presenças. Estiveram presentes, para além de 55 delegados e subdelegados, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral e o Vice-Presidente da

Direcção, dado o Presidente da Direcção não ter podido comparecer, por motivo de força maior.

Os delegados e subdelegados presentes representavam 39 cursos (65% dos cursos com representantes). O curso mais antigo representado foi o de 1938/1945, representado pelo sempre jovem José Joaquim Fragoso (26/1938) e o curso mais recente representado foi o de 2010/2018,

Aspecto parcial da sala do restaurante “Jardim da Luz”.

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O Jantar do Conselho de Delegados

representado pelo António Gastão Neves (…..) saído do Colégio no ano passado. A diferença de idades entre eles é uma coisa «ligeira», apenas 73 anos, mas ali estavam os dois, como se se conhecessem desde sempre, tratando-se por tu, com aquela naturalidade só possível entre Meninos da Luz.

Antes do início do jantar foram apresentados sete novos delegados ou subdelegados de curso, dos quais destacamos dois, pela sua antiguidade e pelos serviços muito relevantes prestados ao Colégio. São eles o delegado do curso de 1942/1949, Nuno Vilares Cepeda (310/1941) e o delegado do curso de 1943/1950, João Martins Ribeiro Mateus (169/1943). Ambos são Coronéis do Exército, naturalmente na situação de reforma, e ambos serviram no Colégio durante a sua carreira militar. O Nuno Cepeda começou por servir no Colégio como Instrutor Militar, passando depois a Comandante de Companhia, funções em que, devido á sua rectidão, sensatez e espirito de justiça, granjeou o maior respeito entre os alunos seus comandados, que ainda hoje o revêem como um bom conselheiro e amigo. O João Mateus prestou um serviço valiosíssimo ao Colégio, tendo elaborado, por sua livre iniciativa, um número considerável de anuários do Colégio, registando assim, para o futuro, uma parte assinalável da história do Colégio. Infelizmente, nos dias de hoje, o Colégio estará certamente a necessitar de um outro Antigo Aluno que se disponha a fazer essa tarefa, pois não estão disponíveis anuários dos anos lectivos mais recentes e nestas coisas, quanto mais tempo se deixa passar, mais difícil se torna a tarefa.

A convite do Presidente do Conselho de Delegados, antes de se iniciar a refeição, o Antigo Aluno Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943) apresentou uma breve palestra subordinada ao tema «Colégio Militar. Que futuro?».

A palestra, dado o seu tema e a qualidade da sua apresentação, concitou a atenção de todos os presentes, que no final sublinharam com aplausos o seu agrado.

O palestrante começou por relembrar com saudade o Colégio do seu tempo, muito diferente naturalmente do Colégio actual e elencou os aspectos, a seu ver, tanto positivos como negativos, das transformações que o Colégio entretanto sofreu, particularmente nos últimos anos. A propósito dessa evolução, ilustrou a evolução que sofreu também ao longo do tempo um colégio militar francês, o Prytanée Militaire, que ten-

do uma natureza muito semelhante ao do nosso Colégio no século XIX, se apresenta hoje como um colégio misto, como o nosso, com enquadramento por pessoal militar devidamente fardado, mas em que os alunos têm um traje civil, tendo apenas nas cerimónias (tanto quanto nos apercebemos) a cabeça coberta com barretes-bivaque.

No final da palestra, ficou a ideia do interesse que haverá em conhecer a realidade actual de outros colégios militares que tenham traços comuns com o nosso, para dessas realidades se poderem tirar possíveis ilações.

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Pedro Pezarat Correia (10/1943) usando da palavra. A boa disposição foi geral entre os participantes.

O Regresso Foi há cem Anos

Foi há 100 Anos O Regresso

Tinha acabado a guerra e Deus lá nas alturas, Cercado de astros de oiro e pulcros querubins Ouviu sons marciais, fanfarras e clarins, E um ardente vozear de humanas criaturas. -«Que rumor – perguntou – perturba assim o ar?» -«Senhor – lhe diz alguém da corte celestialOs bravos vencedores da guerra mundial, Sob o Arco do Triunfo, estão a desfilar.»

Na célica mansão um sussurro se expande, E a densa legião das almas plenas de graça Acorre curiosa e se debruça e esvoaça, Para melhor distinguir a marcha heróica, grande! Então o bom S. Pedro, o santo venerando, Que por mando divino é dos céus porteiro, Gritou «Chamai Flambeau, o esperto granadeiro, Para vos explicar o que se for passando.»

Flambeau, que combateu e foi dos mais ousados, Acerca-se atencioso, observa por momentos E informa – «Vão ali famosos regimentos, A glória militar, indómitos soldados……»

Cavaleiros, então, avançam com ardor, E ele anunciou – «Desfilam os dragões…..»

Estremecem no céu os áureos portões, Que a voz do povo um estridulo clamor.

- «Mas isto nada é…..», disse Flambeau atento.

- «Olhai a artilharia!.....» Em enorme alarido, Reboam saudades, qual ciclone enfurecido, Ascendendo em rajada até ao firmamento.

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Major António Germano Guedes Ribeiro de Carvalho (130/1900).

Foi há 100 Anos O Regresso

E Flambeau continua – «Isto ainda não é nada!

Vereis melhor Senhor….Eis os aviadores!....»

Regougam pelo espaço os potentes motores, A ponto tal que a voz do povo é sufocada.

Flambeau proclama com enlevo – «Os marinheiros….»

Desta vez o entusiasmo os mundos excedeu E cativado, o sol, palmas de oiro abateu Sobre os rijos heróis, que foram dos primeiros.

– «Agora, Senhor meu – disse Flambeau avanteVereis quando passar a nobre Infantaria….. Tendo medo que o sol estoire e finde o dia E a noite eterna envolva a Terra num instante. Serão aclamações estrondosas torrenciais, Vibrarão no azul qual doida a trovoada, Ver-se-á a multidão frenética, entusiasmada, Delírio igual jamais se viu, jamais.»

Surgiram a seguir os homens das trincheiras, Alpinos, caçadores e toda a Infantaria.

Nas suas expressões, claramente se lia

O martírio sofrido e angústias e canseiras. Quando o canhão rugindo a morte semeava, Impávidos, no posto assim permaneciam….. Era uma corte altiva, os tantos que ali iam, Um grande imenso, mar de heróis que ali passava. Às quentes saudações que a multidão soltou Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais.

O espanto avassalou as regiões siderais.

E Flambeau, indignado, agreste se expressou: – «Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?!

Por vós riram da morte e a fome desdenharam, Cansados de sofrer jamais o confessaram, São de aço os quais aí vão, tropa digna, valente!

Deveis-lhe orgulho, sim, a graça de viver, E, em vez de os abraçar, calai-vos? Mal andais. Franceses, ouvi bem: Sois rudes, sois brutais, Tamanha ingratidão não tem razão de ser.»

Mas mal termina a frase, olhando a Terra, fica Possuído de orgulho, o coração em festa…. Os Infantes, semi-deuses, heróis de gesta, Que a luz do sol poente envolve e magnifica, Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado….. Fremente, perturbada, a densa multidão, Por um alto mandato ou estranha inspiração, Havia ajoelhado.

Anos atrás, mão amiga ofereceu-nos um exemplar deste extraordinário poema, evocativo do Desfile da Vitória, que teve lugar em Paris, no dia 14 de Julho, dia nacional de França, no ano de 1919, para festejar a vitória dos «Aliados» na 1ª Grande Guerra, em que se deu um morticínio sem precedentes, tanto de militares como de civis. O poema termina de forma magistral, homenageando os soldados de Infantaria que guarneciam as trincheiras, desde a Flandres até à fronteira com a Suiça. Estes homens sobreviviam nas trincheiras em péssimas condições, expostos às inclemências do clima e expostos, permanentemente, aos perigos dos rebentamentos das granadas de artilharia e dos morteiros, ao fogo das metralhadores, aos ataques com gases, ao fogo dos «snipers» e aos raides nocturnos da infantaria inimiga. As provações porque passavam os homens das trincheiras, quando eram submetidos a horas ininterruptas de fogo de artilharia, de preparação para os subsequentes ataques da infantaria, só as podiam compreender aqueles que passaram pelas mesmas e que em geral não gostavam de recordar essas horas. Dos homens que sobreviveram a esses bombardeamentos e ataques, pode-se dizer que «foram ao inferno e voltaram», sendo feliz a

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POEMA DE LUCIEN BOYER. Adaptação livre do Capitão J. Maria Galhardo Tenente Henrique Augusto Perestrelo da Silva (2/1902).

imagem encontrada pelo autor do poema para os homenagear. A MULTIDÃO EMUDECEU E AJOELHOU.

Também Portugal participou no Desfile da Vitória, de 14 de Julho de 1919. As forças portuguesas foram comandadas nesse desfile por António Germano Guedes Ribeiro de Carvalho (130/1900). Tal como já foi descrito no número 190, de Janeiro/Março de 2013, desta nossa revista, em artigo intitulado «De Chaves à Flandres», Ribeiro de Carvalho foi o oficial do Exército Português mais condecorado na 1ª Guerra Mundial, tendo sido também promovido, por distinção, de Capitão a Major. Comandou, a 8 de Março de 1918, o maior raid realizado pelas forças portuguesas às linhas alemãs, com um efectivo de uma companhia, tendo feito diversos prisioneiros alemães, trazidos para as linhas

portuguesas para interrogatório, sem que tenha tido qualquer baixa entre os seus homens, um facto absolutamente notável. De entre as condecorações com que Ribeiro de Carvalho foi agraciado, sobressaem as de cavaleiro e de oficial, com palma, da Ordem da Torre e Espada, a medalha de Valor Militar, a Cruz de Guerra de 1ª classe, a Military Cross de Inglaterra e a de cavaleiro, com palma, da Legião de Honra de França.

O desfile das forças portuguesas nos Campos Elísios, no dia 14 de Julho de 1919, está documentado na conhecida fotografia que se apresenta neste artigo. Nela se pode observar António Ribeiro de Carvalho marchando à frente das nossas tropas, imediatamente seguido por um grupo de bandeiras nacionais de várias Unidades combatentes na Flandres. Na primeira fila, como

Foi há 100 Anos O Regresso

porta- bandeira, pode-se observar outro Antigo Aluno herói nacional, que se distinguiu tanto nos combates do Sul de Angola como na frente da Flandres. Era ele o Tenente Henrique Augusto Perestrelo da Silva (2/1902), que também já foi recordado nas páginas do número 193, de Outubro/ Dezembro de 2013, da nossa revista, no artigo intitulado «Do Cuamato à Flandres». Também Perestrelo da Silva era um oficial altamente condecorado e de quem o Colégio e os seus Antigos Alunos se orgulham.

Cem anos volvidos sobre aquele memorável Desfile da Vitória, não é demais recordá-lo e desta forma homenagear todos os portugueses combatentes da 1ª Grande Guerra e em particular aqueles para os quais não houve um REGRESSO como o descrito no poema apresentado.

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Desfile da Victória, em 14/7/2019. O contingente português.

O Reconhecimento Internacional da Reocupação de Quionga

O Reconhecimento Internacional da Reocupação de Quionga1

Em 25 de Setembro de 1919, no âmbito dos trabalhos da Conferência de Paz de Paris, o Conselho Supremo das Potências Aliadas fixou a fronteira Norte de Moçambique ao longo do rio Rovuma, reconhecendo de forma explícita a pertença do território de Quionga a Portugal. Como é que se chegou a isto?

No decurso do Congresso de Viena de 1815, os países participantes tentaram encontrar a fórmula para um novo «equilíbrio de poder» entre as grandes potências da Europa, que impedisse, ou no mínimo dificultasse, a eclosão de conflitos armados intra-europeus. Tratava-se, no essencial, de institucionalizar um sistema de congressos diplomáticos periódicos com vista à obtenção de consensos. Infelizmente, as expectativas auspiciosas criadas pela oratória política não se confirmaram e o século XIX ficou marcado sobretudo por movimentações sociais e políticas que reclamavam justamente a revisão das fronteiras estabelecidas no dito Congresso.

Como seria de esperar, as divergências entre países europeus tiveram repercussões mais ou menos violentas nas suas possessões afri-

canas e asiáticas, onde as interferências estrangeiras potenciaram as primeiras afirmações locais de resistência ao colonialismo. O perigo maior para Portugal provinha da Alemanha2 que, empenhada em provocar danos ao imperialismo inglês, não hesitava em apoiar as reivindicações belgas e francesas em África, ao mesmo tempo que dava passos no sentido da criação do seu próprio império colonial. O perigo era real: em 1876, na Conferência Geográfica de Bruxelas –onde Portugal não se fez representar –, foi criada a Association Internationale pour l’Exploration et la Civilisation de l’Afrique Centrale, a qual, com o apoio alemão e francês, reivindicava para si toda a margem direita do rio Congo, incluindo Cabinda, Molembo e Nóqui. Em sentido contrário movimentava-se a Inglaterra, que assinou com Portugal, em 1884, numa altura em que se discutiam as fronteiras do novo Estado do Congo, pretendido por Leopoldo II da Bélgica, um tratado reconhecendo a soberania portuguesa nas duas margens do rio.

As divergências tornaram-se de tal forma inconciliáveis que os governos alemão e francês organizaram uma conferência in-

ternacional destinada a discutir o futuro do colonialismo em África. A Conferência de Berlim veio a realizar-se entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, com o objectivo oficial de «associar os indígenas de África à Civilização». Participaram nela a Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Império Alemão, Império Otomano, Inglaterra, Itália, Portugal, Rússia, Suécia-Noruega (em união até 1905) e EUA.

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Nuno António Bravo Mira Vaz
277/1950
Triângulo de Quionga, a Sul do rio Rovuma

O Reconhecimento Internacional da Reocupação de Quionga

O Acto Geral da Conferência compreendia seis capítulos. No 1.º decretava-se a liberdade do comércio na bacia do rio Congo; no 2.º estabeleciam-se as regras para o tráfico de escravos, tanto em terra como no mar; o 3.º e o 4.º tratavam da navegabilidade no rio Congo e o 5.º ocupava-se da navegabilidade no rio Niger; o 6.º era o que trazia maiores preocupações para Portugal, ao estabelecer o princípio da necessidade de ocupação efectiva para a posse legítima de um território costeiro africano. Contudo, dado que as normas aprovadas não se referiam ao hinterland, “(…) a «definição exacta das possessões actuais» ficou excluída em Berlim, tendo ainda em conta que muitas regiões permaneciam desconhecidas. Só posteriormente, no fim do século, é que, com as expedições para o sertão, se construirá o desenho de uma carta política da África (…).”3

Portugal tentou antecipar-se a conclusões que se adivinhavam contrárias aos seus interesses, assinando com os Príncipes, Governadores e Chefes de Cabinda, em 1 de Fevereiro de 1885, o Tratado de Simulambuco, nos termos do qual se obrigava

a manter a integridade dos territórios sob o seu protectorado e a respeitar e fazer respeitar os usos e costumes dos locais.4 Terá sido o único sucesso português numa conjuntura em que os restantes Estados entendiam que os domínios de Portugal em África se integravam na órbita política e económica dos interesses britânicos.

Num contexto em que os interesses dos diferentes países frequentemente se entrechocavam, a Inglaterra, que dependia do apoio alemão nos diferendos com a França surgidos aquando da construção do canal do Suez (1859-1869), optou afinal por não assumir as suas obrigações no quadro da aliança luso-britânica, num processo de distanciamento que culminou com o Ultimato de 1890.5 As consequências danosas para os interesses portugueses em África não se fizeram esperar, designadamente em Moçambique, onde a delimitação da fronteira Norte com a África Oriental Alemã sofreu sucessivos impasses até que, em 1884, a bandeira alemã foi arvorada no chamado triângulo de Quionga – uma área de cerca de 450 quilómetros quadrados, situado na margem sul

da foz do Rovuma, onde existiam terrenos potencialmente valiosos para culturas de palmares e arrozais –, um facto consumado que entregava aos alemães o controlo do estuário do rio.

A situação manteve-se até que, em 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal. Logo que tomou conhecimento desta declaração, o Governador Geral de Moçambique ordenou às forças militares estacionadas em Porto Amélia que reocupassem Quionga. “(…) O interesse do Governo da Metrópole e do Governador Geral de Moçambique, em que a expedição tomasse como objectivo imediato a ocupação de Quionga, era compreensível, não só para reparar uma afronta, mas também para atingir o objectivo militar de cooperar com os ingleses, ocupando a margem sul do Rovuma na parte mais rica junto à sua foz, tendo em vista passar para a margem norte e ocupar território inimigo (…)”6.

Quinze dias mais tarde estava formado um Destacamento misto sob o comando do major Portugal da Silveira, integrando uma Companhia do Batalhão de Infantaria

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Desembarque em Palma.

O Reconhecimento Internacional da Reocupação de Quionga

21, uma Bataria de Artilharia de Montanha e um Pelotão de Cavalaria. A força militar foi transportada no início de Abril no vapor Luabo para Palma, onde incorporou a 20.ª Companhia Indígena.

Em 10 de Abril, após uma marcha de 12 quilómetros por terrenos arenosos, o Destacamento ocupou sem resistência a localidade de Quionga, que havia sido abandonada pelos alemães. A reocupação do chamado «triângulo de Quionga» completou-se com o estabelecimento, na margem portuguesa do Rovuma, dos postos auxiliares de Namaca, Namiranga, Namôto e Nachinamoca, “(…) Estes postos, com o de Nhica, 34 quilómetros a montante deste último, constituíram uma linha de postos de cobertura com uma frente de uns 50 quilómetros até ao mar, que devia servir de base para a nossa ofensiva, cujo objectivo seriam as cidades de Mikindani e Lindi, no litoral alemão, respectivamente a 25 e 60 quilómetros da foz do Rovuma (…).”7

Apesar de pacífica, a reocupação do pequeno território pôs a nu deficiências que afectaram, de forma persistente, o desempenho operacional das tropas portuguesas em Moçambique no decurso da I Grande Guerra. Apenas três meses mais tarde, em 29 de Julho, 545 doentes julgados incapazes pelas juntas de saúde tiveram de ser evacuados pelo vapor Zaire. A situação geral em matéria de saúde foi assim descrita pelo Portal da História – «A guerra em Moçambique»:

“(…) O desembarque em Palma e a marcha para Quionga, por terrenos alagados pelas recentes chuvas, exigiram um grande esforço, enchendo desde logo os hospitais improvisados. Quionga possuía três casas comerciais e uma centena de palhotas. Assim como os seus palmares tinham uma aparência de jardim, mas um clima mortífero, também esta aparentemente fácil ocupação de Quionga e

dos postos militares de vigilância no Rio Rovuma levara aos hospitais quase todas as praças da expedição. Tão pequeno avanço representava um esforço balizado por três hospitais, acrescentando um peso morto que paralisava a expedição. A povoação e palmar de Quionga eram de tal modo insalubres que para levantar os barracões para hospital foi escolhida uma ponta arenosa junto do mar, mas sem água potável. (…)

Nós tínhamos proporcionalmente muitíssimo mais doentes europeus do que os

aliados ou o adversário, porque os nossos soldados não tinham a mínima ideia de higiene e nos graduados, era aterrador o número de sifilíticos, tuberculosos e impaludados; bocas inúteis na campanha e embaraço constante para os alimentar e transportar. Os nossos soldados não queriam beber água fervida, porque lhes repugnava o cheiro e sabor, que no mato se lhe não pode tirar; para tomarem quinino era preciso obrigá-los. Se o vapor Zaire não fosse buscá-los a Quionga, mais de metade dos doentes lá ficariam sepultados (…)”.

1 Este texto apoiou-se de modo especial em AMORIM, Fernando, A Europa dos nacionalismos Imperiais: Berlim 1885, Janus 2008 e Portal da História – «A guerra em Moçambique».

2 Não só eram públicas as reservas alemãs ao reconhecimento dos direitos portugueses no Sul de Angola e no Norte de Moçambique como, em 1884, o chanceler Bismarck colocou o litoral da Namíbia sob protecção do Império Alemão.

3 AMORIM, Fernando, A Europa dos nacionalismos Imperiais: Berlim 1885, Janus 2008

4 Só em 5 de Julho de 1913, nos termos do Acordo de Bruxelas, que definiu as novas fronteiras coloniais luso-belgas, é que o território de Cabinda se tornou enclave da colónia de Angola.

5 O Ultimato britânico de 1890, entregue a 11 de Janeiro em forma de «Memorando», exigia a Portugal que retirasse as suas forças militares do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola, uma zona reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa cor-de-rosa A cedência de Portugal às exigências britânicas, vista como uma humilhação nacional pela generalidade dos cidadãos, provocou a queda do Governo e inspirou a letra do Hino Nacional.

6 Portal da História – «A guerra em Moçambique».

7 Portal da História – «A guerra em Moçambique».

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Entrada das forças portuguesas em Quionga.

Hailé Selassié I Foi há 60 Anos

há 60 Anos Hailé Selassié I

Corria ameno, soalheiro e quente o mês de Julho de 1959. Estava eu em plenas férias grandes, na transição do 4º para o 5º ano do Colégio, naquele estado de estupor, que os italianos classificam como o «dolce fare niente», quando, para surpresa nossa, nos entra pela casa dentro uma carta proveniente do Colégio, algo assaz estranho naquela época do ano. Fiquei a olhar para a carta com alguma apreensão. Não devia vir ali nenhuma surpresa agradável. Como a carta era dirigida ao meu pai, tivemos de aguardar a sua chegada a casa, para saber o que é que ali vinha. Chegado a casa o patriarca e aberta a carta, confirmou-se a minha suspeita. Não era nada de bom. Eu era convocado, sem margem para qualquer dúvida, para me apresentar no Colégio, a fim de tomar parte numa cerimónia militar. Já não me recordo qual foi o impropério que mentalmente proferi, pois a sua verbalização, diante do meu pai, estava fora de questão. Naquela época e sendo o meu pai militar, nem nos cru-

zou o espirito a hipótese de se inventar um impedimento qualquer e deixar de comparecer. O resultado foi óbvio. No dia marcado para a apresentação, lá me meti no autocarro para Lisboa e de seguida no eléctrico para Carnide, fardadinho, de língua de fora com o calor e de maleta na mão, com meia dúzia de peças de roupa, incluindo a barretina, granadeiras e luvas brancas, indispensáveis para a cerimónia.

Chegado ao Colégio, lá fui dar com a maior parte da malta do meu curso residente em Lisboa e arredores. Os da província não tinham sido convocados. Havia um sentimento de azia geral, que foi rapidamente ultrapassado, com cada um a contar as peripécias mais mirabolantes, verdadeiras ou inventadas, das suas férias abusivamente interrompidas.

Reunido todo o pessoal, fomos informados que iriamos participar, passado um dia ou dois, na grande parada militar a realizar no Terreiro do Paço, de recepção ao Imperador Hailé Selassié I, da Etiópia, que vinha em visita de estado a Portugal. Na altura nem sonhávamos com o que era

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa
71/1957
O Imperador Hailé Selassié I, da Etiópia. Foi

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política, pelo que, tanto o objectivo como o «timing» daquela visita, nada nos dizia. O objectivo era simples, era o de mostrar ao mundo que Portugal tinha nações amigas em África, que concordavam com a nossa política ultramarina. O «timing» era ditado pelo crescente peso que iam tendo nas Nações Unidas os países que se opunham à mesma política, nomeadamente os novos países africanos, acabados de entrar na cena internacional.

Alheados de tudo isto, que nos passava ao lado, lá fomos nós, em manhã quente e soalheira, para o Terreiro do Paço, tomar parte em mais uma parada, onde, como de costume, tínhamos atrás de nós os Pupilos do Exército, também eles com as suas férias interrompidas para a mesma cerimónia. Eram 4.500 homens em parada. O Terreiro do Paço coberto de tropa, como era possível naquele tempo. A cerimónia foi como que uma repetição da chegada a Lisboa, dois anos antes, em 1957, da Rainha Isabel II de Inglaterra. O

Imperador chegou num navio da nossa Armada, o escoltador oceânico «Nuno Tristão» , que o deve ter ido buscar a Setúbal ou Sesimbra, para ele entrar directamente para a nossa «Sala de Honra» , o Terreiro do Paço. O navio fundeou em frente ao Cais das Colunas, embarcando então o Imperador na galeota real, que o trouxe até ao cais, onde o esperava o nosso Presidente da República, Almirante Américo Tomaz.

Segundo se pode ler na primeira página do Diário de Lisboa, de 26 de Julho de 1959, um domingo, o Presidente da República «vestia a farda de almirante, com a banda das três Ordens e a roseta da Torre e Espada», enquanto que a sua mulher «A srª D. Gertrudes Rodrigues Tomaz, com um vestido de seda «imprimé» com pequenas flores negras sobre fundo lilás, trazia «capeline», luvas altas, carteira e sapatos de um azul forte». Era assim a imprensa da época, que descrevia em pormenor a «toilette» da primeira dama.

Obviamente que não reparei em nenhum dos pormenores indicados no Diário de Lisboa. Quando passei, marchando e olhando à direita, em frente da tribuna, a minha atenção ia toda concentrada no Imperador, o «Negus» , vindo lá das profundezas de África, das terras do lendário «Prestes João» . Do que me recordo mais, é de que ele trazia um chapéu emplumado com plumas brancas de avestruz. Era de tez escura, como seria de esperar, e não era de grande estatura, pelo contrário, era baixinho.

Depois de passarmos em continência em frente à tribuna, contornámos o Terreiro do Paço, de onde saímos através do Arco da Rua Augusta, marchando em seguida, ao longo da mesma, até ao Rossio, ou aos Restauradores, onde embarcámos nos autocarros, de regresso ao Colégio. Em todo o trajecto, nós e os Pupilos fomos muito aplaudidos pela multidão e os comandantes das duas companhias rivais, foram em competição, para ver quem

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O Imperador Hailé Selassié I, da Etiópia, com o Presidente da República Américo Tomaz e com o Presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar.

conseguia elevar mais a voz ao dar as suas ordens. Bons tempos. A rivalidade não se esbatia, mesmo com o sol a pino sobre as nossas cabeças.

O número, de 26/7/1959, do Diário de Lisboa atrás referido, tinha um artigo de primeira página, explicando aos leitores o significado da visita. Era o seguinte o teor do artigo:

«Tem o significado simbólico de um reencontro amigo a chegada a Lisboa do Imperador da Etiópia. A bordo de um navio português, viajando ao abrigo da nossa bandeira e escoltado por marinheiros de Portugal, Hailé Selassié I entrou hoje a barra do Tejo, donde partiram há séculos os emissários que estabeleceram os primeiros contactos entre as terras longínquas do reino cristão da África Oriental e a velha Europa. Esta visita histórica vem contribuir, sem dú -

nobreza e dignidade, que não podemos deixar passar despercebidos.

Descendente directo do Menlik, o primeiro filho de Salomão e da rainha do Sabá, Hailé Selassié I tem honrado bem essa notável ascendência, numa acção que se caracteriza, pela inteligência, pela bravura e pela ponderação com que tem sabido defender a integridade da sua pátria e com que procura contribuir para o seu progressivo desenvolvimento, sem esquecer nunca as nações amigas ligadas à história da sua terra.

Não tem carácter politico esta visita, mas pelo sentido que lhe emprestam os laços que unem, há tanto, a Etiópia a Portugal, e pela expressão que tiveram sempre, mesmo em certas horas difíceis dos nossos dias, as relações entre as duas nações amigas, cumpre-nos saudar, com todo o calor do nosso coração, o ilustre visitante,

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quer caracter politico. Quem lhe reconhecesse esse caracter, era certamente vesgo ou preconceituoso.

Naquele domingo quente, de Julho de 1959, o Imperador seguiu do Terreiro do Paço para o palácio de Queluz, onde ficou instalado. Nos dias seguintes visitou alguns locais históricos e recordo-me que foi visitar o campo de instrução militar de Santa Margarida, onde mais uma vez foi recebido com as devidas honras militares. Se bem me recordo, nessa visita foi-lhe entregue, com a solenidade própria do acto, a espada de general do Exército Português. Constou, na altura, que a tinha recebido sem entusiasmo, pois acharia que o devido seria a entrega de uma espada de marechal.

Eu e os meus camaradas daquela escaldante jornada de Julho de 1959, podemos dizer que contribuímos com o suor dos

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ANTIGO
©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
ALUNO USA A BARRETINA

Foi há 60 Anos

O Colégio Militar no Brasil em 1959

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O Colégio Militar no Brasil em 1959

GUARARAPES

“Nós somos as nossas memórias” José Luis Borges

“Guararapes” - ainda hoje a palavra evoca na minha memória as primeiras sensações: um calor quente e húmido, opressivo; o paladar daquela espécie de melão “sensaborão” que era a papaia; a excitação de pôr os pés pela primeira vez em solo brasileiro.

Guararapes era e é o nome do aeroporto do Recife onde o “nosso” DC-7C da Panair fez escala após um vôo de sete horas desde Lisboa. Nesses tempos andar de avião era privilégio só de alguns. As “aeromoças” gozavam ainda de um estatuto de semi-deusas – um

misto de cortesia com um imaginário de liberdade sexual ainda inexistente na nossa juventude. Por isso os mais “engatatões” fizeram questão em passar grande parte do tempo na parte de trás da cabine, em pé junto à área de serviço, na ilusão que estavam conquistando grandes avanços.

O calor era como digo basto incomodativo e totalmente incompatível com as nossas fardas castanhas do uniforme “de passeio” . Salvava-nos apenas o nosso orgulho no Colégio, que justificava o sacrifício, a vaidade de darmos nas vistas e, claro, o facto de realmente não termos alternativa.

O Colégio Militar do Rio de Janeiro ficava algures no Bairro da Tijuca (em duas viagens subsequentes nunca consegui realmente perceber onde é

que tínhamos ficado). Aí dormíamos e aí comíamos sempre que não tínhamos convite que servisse de alternativa. O menu era invariavelmente feijoada, com arroz e farinha de pau, que rapidamente aprendemos a detestar.

E não me esqueço — da primeira vez que uns amigos de juventude dos meus Pais, residentes no Rio, me convidaram (a mim, ao Beja e a um terceiro que não me recordo quem era) para almoçar em casa deles num fim de semana — da dificuldade que tive em diplomaticamente os dissuadir de nos servirem feijoada, por ser o prato típico brasileiro. Acho que a dona da casa ficou um tanto desapontada, mas lá consegui safar-nos.

Chocou-nos a violência a que não íamos habituados de Portugal. Um dos

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O Colégio Militar no Brasil em 1959

primeiros episódios que nos marcou foi-nos relatado por um de nós: alguém que tinha sido morto em plena via pública, e cujo cadáver os passantes ignoravam seguindo o seu caminho. Nos transportes públicos, achámos curiosa a distinção entre os “ónibus” e as “lotações” . Enquanto os primeiros tinham um percurso regular à maneira dos nossos autocarros, as lotações (mais baratas) paravam sempre que algum “cliente” precisasse de entrar e iam adaptando o seu trajecto às necessidades dos passageiros. Os condutores, esses não faziam qualquer cerimónia em parar a “lotação” , e sair para dar um dedo de conversa com qualquer amigo com quem se cruzassem. Não faço ideia quanto tempo este sistema tenha subsistido, mas em 1959 era assim…

A notícia da nossa visita rapidamente se espalhou na comunidade portuguesa, na sua maior parte constituída por emigrantes saudosos de Portugal, e desejosos de reviver em nós as suas terras que tinham abandonado. Éramos por isso convidados com frequência para Clubes portugueses. Na minha memória destacam-se dois.

A Casa de Vila da Feira recebeu-nos com uma sentida ovação à chegada, a qual nos deixou completamente boquiabertos — claro que nenhum de nós se tinha nunca sentido tão importante, e que não percebíamos ainda que tal eram apenas os efeitos da saudade numa comunidade sedenta de rever em nós o “seu” Portugal deixado para trás. Após essa recepção inicial, alguns de nós fizeram dali o seu local preferido de convívio fora

dos programas oficiais — e a isso não eram alheias as atenções dos “brotinhos” que se digladiavam para ter as nossas atenções.

O segundo foi para mim o Real Clube Português de Leitura. Bastante mais formal do que o anterior e com mais estatuto social ofereceu-nos um baile de recepção a todos os títulos notável, e com uma afluência feminina que nos deixou de boca aberta. Nesses momentos mais “notáveis” fazíamos questão de envergar o uniforme número um, com granadeiras e cinturões completamente fora do protocolo, para devidamente impressionar as garotas.

Ponto alto foi também assistir a um jogo no famoso Estádio do Maracanã. Não me recordo quem jogava,

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Recepção na embaixada de Portugal.

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O Colégio Militar no Brasil em 1959

mas penso que era o Fluminense contra o Botafogo. O que me lembro lindamente, eu que não sou conhecido por ser um grande fã de futebol, foi o entusiasmo contagiante e a sensação de fazer parte de algo maior do que nós.

O Colégio Militar do Rio, em si, tinha muitos pontos em contacto com o nosso. Devo dizer no entanto que me pareceu notar um espírito menos solidário entre os alunos, que eu atribuí nessa altura a dois factores: haver um número significativo de alunos externos; e haver um grande número de colégios militares por esse Brasil adiante — ou seja, nenhum deles era único. No entanto, estabeleceu-se um grupo de alunos brasileiros que nos acompanhavam para todo o lado e com os quais estabelecemos alguns laços de amizade.

Estas memórias não ficariam completas sem mencionar as inúmeras cerimónias militares — desfiles, visitas a unidades da Marinha, Exército e Força Aérea e à Academia das Agulhas Negras, homenagens em monumentos a heróis do Brasil — as quais preencheram uma parte muito considerável do nosso tempo.

O hino brasileiro (música e letra) ainda hoje o consigo cantar, tantas vezes o repetimos. Começa assim: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o grito retumbante…”

Foi sobretudo marcante a nossa participação no grande desfile do aniversário do Brasil, no dia 7 de Setembro de 1959.

Abria o desfile a nossa representação, por ser o nosso Colégio Militar

a Unidade Militar mais antiga presente no desfile. Não nos esqueçamos que quando o Brasil se tornou independente em 1822 já o nosso Colégio tinha 19 anos de existência — ou seja a nossa antiguidade no desfile era maior do que antiguidade do próprio Brasil !…

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A Bandeira e o Guião do Colégio no desfile do 7 Setembro de 1959. Da esquerda para a direita: José Aurélio Falcão (117/1953), Carlos Beja (bandeira) (268/1953), Nuno Pinto Soares (44/1953), Pedro Roldão de Barros (guião) (218/1953), João Antas (387/1953).

O Batalhão em Madrid. Ano de 1950.

DESLOCAÇÃO DE TODO O BATALHÃO COLEGIAL (CERCA DE 350 ALUNOS) A MADRID, NO VERÃO DE

1950,

MAIS “STAFF” DE CERCA DE 50 OFICIAIS E ENQUADRANTES NUM TOTAL DE 400 PESSOAS

Não sabemos se por virtude da visita do Generalíssimo Franco a Portugal de 22 a 27 de Outubro de 1947, que foi um êxito (e a ênfase nesse sentimento foi referida pelo próprio Franco aquando da audiência que concedeu à Delegação de Alunos e Oficiais nesta deslocação do Colégio), se pelos argumentos referidos à época e que tiveram a ver com a homenagem às Forças Armadas Espanholas que detiveram os exércitos napoleónicos na Guerra Peninsular, como oficialmente foi referido, ou ainda se visava um reforço da entente política Franco/Salazar no pós-Guerra Civil Espanhola e pós-2.ª Guerra Mundial, a verdade é que Espanha se preparou da melhor maneira para receber o Batalhão do Colégio Militar com cerca de 350 alunos, o Director (Brigadeiro Pereira do Vale), o Sub-director (Tenente-Coronel Vieira da Fonseca), o Secretário (Major Coelho Sampaio), doze Professores (Majores Lacerda Machado, Bastos de Carvalho e Garcia de Brito, Capitães Vicente Teixeira, Botelho

de Medeiros, Alves de Moura, Manito Torres e Júlio Martins, Tenentes Cristovão Lima e Jaime Mota, Dr. Peixoto da Fonseca e Prof Jaime da Silva), nove Oficiais Instrutores e de enquadramento geral (Capitães Júlio Cruz, Cardoso, Nogueira de Freitas, Reinaldo Duarte e Silveira, Tenentes Araújo e Santos Moreira, Alferes Pereira de Carvalho e Nuno Vitoria, um médico (Capitão Seixas Serra), um administrativo (Tenente Esteves Martins), um Enfermeiro, quatro Sargentos, vários Serventes e Terno de Clarins. Viajaram ainda o Tenente-Coronel Chaby (49/1910), autor teatral e Augusto de Figueiredo, actor do Teatro Nacional D. Maria II e grande amigo do Colégio, num total de cerca de 400 pessoas. Qualquer que tenha sido o leitmotiv, o facto é que o Colégio Militar foi a Madrid, em representação das Forças Armadas Portuguesas, homenagear o Generalíssimo Franco, o Governo de Espanha e as Forças Armadas Espanholas que tinham vencido a Guerra Civil, e alguns dos seus heróis.

A RAZÃO DESTA INTERVENÇÃO NESTA ALTURA

Os Antigos Alunos protagonistas do acontecimento já fizeram 80 anos, ou para lá caminham. Qualquer distracção pode ser o desaparecimento do artista. Vamos pelo seguro e não estar à espera de alguma efeméride especial. Até porque o assunto tem muito mais a ver com a génese e espírito do Colégio no seu todo e para a sua História, do que individualmente com as memórias de cada um.

Pessoalmente considero que esta deslocação do Batalhão Colegial a Madrid foi extraordinária de dignidade, de elevação e de grande pundonor, contribuindo decisivamente para a definição/concretização do ADN Colegial, e daí merecer que voltemos à mesma e em toda a sua extensão.

OPERAÇÃO LOGÍSTICA

Independentemente do motivo da deslocação, o que é facto é que se montou

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O Batalhão em Madrid

uma gigantesca operação logística sem que houvesse meios ou experiência suficientes para o efeito. E dos 350 «Meninos» devidamente endiabrados, não se perdeu nenhum. «À Colégio» , desenrascámo-nos, e puxámos todos pelo brio e para o mesmo lado.

FONTES CONSULTADAS:

– Relatório-reportagem do Dr. Jaime Silva Mota, professor no Colégio, publicado no Anuário do Colégio Militar de 1950.

– O Colégio Militar em Terras de Espanha – Intervenção do Eduardo Zúquete (20/1945) na Revista nº 103 da AAACM, de Abril/Junho de 1991.

– História do curso de 1943/50 do Ribeiro Mateus (169/1943), com intervenções dele e de outros camaradas do mesmo curso. Eram eles os graduados quando fomos a Madrid.

– História de La Legion, de Luis E. Togores

– Biografia de Millán -Astray, de Paul Preston

– Las 3 Espanhas del 36, de Paul Preston

– La guerre d’Espagne, de Hugh Thomas

As fotografias foram cedidas pelo Rui Lobo da Costa (160/1943)

DESLOCAÇÃO PARA MADRID

A deslocação para Madrid fez-se em comboio, entre a Estação do Rossio (Lisboa) e a Estação das Delícias (Madrid).

CHEGADA A MADRID Estação das Delícias.

Chegámos ao fim da tarde. Muito calor. À nossa espera, além de elementos da

Comunidade Portuguesa e familiares, estavam os representantes do Estado Espanhol e de Portugal. Estavam também os Generais Millán-Astray a título pessoal e como grande amigo dos Portugueses e Hernandez Vidal, este em representação do Capitan-General Muñoz Grandes, Ministro da Defesa de Espanha, e outras individualidades, que trocaram impressões com o Embaixador de Portugal em Madrid, Cônsul-Geral e Adido Militar de Portugal em Madrid, Governador Militar de Lisboa e Comandante Geral da PSP. Ali se encontravam também representações do Estado-Maior de todos os Corpos e Armas da Guarnição de Madrid. (é importante referi-lo).

A presença de tantas personalidades e jornalistas dos vários meios de comunicação social e da Rádio Nacional de Espanha confirmava que a visita tinha sido tratada ao pormenor, com muito interesse e amplamente divulgada. Havia uma grande ânsia em entrevistar «los niños del Colegio Militar».

O DESEMBARQUE

Apesar do cansaço e da muita sede, e em vez da balbúrdia habitual, os alunos desembarcaram das carruagens, cada um com o seu saco, e formaram alinhados no cais, dentro da maior disciplina. Esta «exibição» à chegada deu logo para causar óptima impressão a todos os presentes. Não houve qualquer confusão. Houve espanto, houve admiração.

REAÇÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL ESPANHOLA

Jornal Madrid de 20/6/50

“Los chicos del Colégio Militar ya estan en Espanha. Con la impaciência que sempre produce una ciudad desconoci -

da, saben permanecer en los vagones, assomados a las ventanillas, en disciplinado silencio…. A una señal, las cuatro companhias del juvenil batallón se escalonan en el andem milagrosamente. Frente a ellos, y sin que sepamos cómo, las maletas – casi todas iguales – forman paralelamente. Hay un montón de garrafas de agua, ya vazias, que demonstran cómo há sido de feroz la exigente temperatura de la jornada.”

O Director do Colégio e dois alunos transmitem as suas primeiras impressões aos microfones da Radio Nacional de Espanha.

INSTALAÇÃO

Em Villaverde, nos subúrbios de Madrid, nas magnificas instalações da Escuela de Automovilismo del Ejercito. De pé direito muito alto, as portas tinham a encimá-las para o lado de dentro, grandes fotografias emolduradas de Franco e Carmona.

No dia seguinte, nós, os «ratas» , comprámos uma bola de futebol, afastámos as camas, e arrancámos com uma grande «ringalhada» . O entusiasmo foi tão grande que um pontapé com mais força atirou com Franco e Carmona ao chão, partindo as respectivas molduras e o vidro das mesmas. Molduras no caixote do lixo, varridela dos vidros e continua a futebolada.

2ºDIA-3ªFEIRA-20/6/50

MANHÃ DEDICADA AOS CUMPRIMENTOS ÀS AUTORIDADES MILITARES E CIVIS.

O Director, Sub-Director, Oficiais Superiores e uma Delegação de Alunos composta pelo Comandante de Batalhão, Ajudante e Comandantes de Companhia, acompanhados pelo General Pereira Coutinho,

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1º DIA-19/6/1950

Governador Militar de Lisboa, e Tenente-Coronel Carmelo Medrano, Adido Militar de Espanha em Lisboa, visitam o Estado-Maior Central, o Subsecretário do Exército de Terra, General Alcubilla, Director-Geral do Ensino Militar e General Ungria, da Capitania General e Governador Militar de Madrid. Apresentam cumprimentos também ao Alcalde de Madrid, D. Miguel Alvarez.

TARDE

No enorme Teatro Madrid teve lugar o Espectáculo Cultural que atraiu àquele vasto recinto cerca de duas mil pessoas. Estavam presentes o nosso Embaixador, altas individualidades civis e militares, deputações dos três Exércitos Espanhóis, alunos das Escolas Militares, da Frente de Juventude e muitos Portugueses. Vamos tentar descrever toda a cerimónia.

O ESPECTÁCULO CULTURAL

Apresentação do Orfeão do 1º ciclo, dirigido pelo professor Jaime Silva, que interpretou música religiosa e canções populares portuguesas. Seguiu-se um diálogo em verso do Tenente-Coronel Carlos Afonso Chaby (49/1910), intitulado «O Colégio Militar», uma história da nossa casa bem narrada e bem representada, que forneceu aos nossos vizinhos uma ideia geral dos aspectos mais salientes da vida colegial, dos seus heróis e das suas virtudes. Os alunos Martins Zúquete (20/1945) e Almeida Bruno (230/1945) foram os fiéis interpretes.

Em seguida, o aluno Monroy Garcia (38/1942) – filho de pai português e de mãe espanhola – interpretou dum modo muito profissional, em castelhano, o «Monólogo do Vaqueiro», de Gil Vicente. Prosseguiu-se com «Todo o Mundo e Ninguém», diálogo admirável de ironia e crítica social, notavelmente interpretado pe-

los alunos Vieira Lopes (59/1943), Villa de Freitas (94/1942), Nuno Bivar (121/1943) e Marquilhas (67/1944). Estas interpretações foram ensaiadas em Lisboa no Teatro D. Maria II, sob direcção do actor Augusto de Figueiredo, do elenco daquele Teatro e grande amigo do Colégio.

Finalmente o Orfeão do Batalhão interpretou variadas peças, e a fechar ouviram-se os Hinos Português e Espanhol, tendo este último causado grande admiração na assistência, QUE NUNCA O OUVIRA CANTADO, e a que as quatro vozes dos alunos adicionaram um conteúdo épico que provocou muita, mas mesmo muita, emoção.

Para que fique bem entendido, o Hino Espanhol chama-se Marcha Imperial e é um dos poucos Hinos Nacionais que não têm letra oficial. Os outros são os da Bósnia-Herzegovina, Kosovo e San Marino.

Foi aqui no Teatro Madrid que se desenvolveu outro acto marcante. O General Millán-Astray, que era um ultra do regime franquista, foi dos primeiros a estar presente a esta cerimónia. Talvez em comparação com o espectro partidário de hoje, poderia ser classificado como um independente de extrema direita. Esta figura sui generis, nas suas aparições públicas, deslocava-se com uma guarda pessoal de seis legionários com cerca de dois metros de altura com patilhas ruivas ou ruças até ao queixo, que ele próprio criou.

O Batalhão em Madrid

Millán-Astray tinha um aspecto marcado. A pala preta, a falta do braço e a falta de carne e músculo na anca por virtude da cura de uma gangrena, e o coxear, davam-lhe um aspecto diferente do comum dos mortais. Isto para miúdos de dez anos era muito marcante e ficava gravado para toda a vida. Millán-Astray acercou-se do microfone e decidiu fazer aquilo a que chamou: Alocução aos Cavalheiros Alunos do Ba-

talhão Escolar do Colégio Militar de Portugal. Com voz embargada disse:

Portuguesinhos queridos (começando a chorar pelo único olho que tinha): Bem-vindos sejais à vossa própria casa: Espanha. Portugal também é a casa dos espanhóis. Recebemo-vos com verdadeiro amor. Sois Portugueses, Portugal é um dos Impérios maiores e mais fortes do Mundo Inteiro. Portugal e a Espanha são os primeiros no cristianismo, no amor a Jesus Cristo, na bravura, na honra e no valor. Portugueses e Espanhóis foram os primeiros que deram a volta ao Mundo; descobriram a América e Oceania, vós o Brasil, nós a Hispano-América.

Aqui, em todos os sítios vos receberão com carinho. Tudo o que vereis – as ruas, os museus, o Escorial –, todas as grandezas de Espanha vos lembrarão Lisboa, alfacinhas queridos, meus filhos. Recebam o coração deste soldado mutilado espanhol, também mutilado de Honra do Exército Português; deste soldado Fundador da Heróica Legião Espanhola, da qual metade dos fundadores, aqueles que mais glória e sangue deram à Legião Espanhola chamo também dentro do meu coração, Legião Portuguesa.

Viva Portugal! Viva Espanha! A este pequeno discurso respondeu o aluno Monroy Garcia (38/1942), graduado da 1ª Companhia e excelente jogador de hóquei em patins, em perfeito castelhano:

Mi ilustrissimo general:

Quiso honrarnos vuestra excelência hablando a los Meninos da Luz. Pues permitame vuestra excelência que yo pida permisso para decirle unas poucas palabras. Sin valor pues son palabras de un joven, ellas son todavia la expression de nuestro sentir, la sencillez de nuestro corazon y amistad, de toda nuestra amistad.

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O Batalhão em Madrid

BREVE NOTA BIOGRÁFICA DO GENERAL MILLAN-ASTRAY

O General Millán-Astray, que foi uma figura sempre de primeira linha nas várias homenagens feitas ao Colégio Militar, apresentou-se fardado e com condecorações. Era o «peito mais condecorado» das Forças Armadas Espanholas. Tinha condecorações de vários Países. Era também o oficial mais mutilado e Presidente da Associação dos Mutilados de Guerra. Não tinha um olho, usando uma pala preta, não tinha um braço, usando a manga pendurada, faltava-lhe boa parte da carne e dos músculos na bacia – sequelas de uma gangrena – e coxeava. Era por conseguinte uma figura entre o sinistro e o duro. Metia porém respeito e suscitava curiosidade, quanto mais não fosse aos mais jovens.

Muito embora seja hoje apodado de fascista, tenham feito desaparecer as suas

estátuas e alterado a toponímia das Ruas e Avenidas com o seu nome, dando azo a alguma polémica, o que é verdade é que Millán-Astray foi sempre o primeiro a chegar às cerimónias públicas em honra do Colégio Militar, sendo muito participativo nas mesmas. E hoje, aqui e agora, estamos a contar uma história do Colégio Militar de 1950, e não a apreciação política de uma figura histórica.

Na época (1950), as grandes referências em Espanha eram o General Franco, o Governo por si liderado, as Forças Armadas que ganharam a Guerra Civil, e ainda, de certo modo, o General Millán-Astray, uma figura curiosíssima a que vale a pena dedicar umas linhas.

Nasceu em 1879. Aos 17 anos gradua-se na Academia Militar de Toledo e, como sub-tenente, foi voluntário para as Filipinas onde pratica actos heróicos e é ferido. Vai depois para Marrocos, onde

passa a maior parte da sua vida militar a lutar em diversos conflitos armados e onde sofre os ferimentos que ostentava na altura da visita.

Millán-Astray tinha um desígnio: criar um corpo militar de elite à semelhança da Legião Estrangeira Francesa, para combater no Norte de África. Depois de muitos anos de luta, concluiu com aproveitamento o Curso do Estado Maior e, com a patente de major, foi a França estudar a organização da Legião Estrangeira francesa. A Legião Estrangeira espanhola foi finalmente criada por Decreto Real de 28 de Janeiro de 1920, com o nome de Tercio de Extranjeros, e o seu primeiro comandante foi o tenente-coronel de Infantaria José Millán-Astray Terreros, tendo Francisco Franco como primeiro adjunto. Foi este nucleo inicial de “La Legion” o alfobre das forças que permitiram o assalto ao poder por parte do General Franco.

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General Millan Astray. Fundador da Legião Estrangeira espanhola.

Como voy a traducir mi emoción, nuestra emoción? No lo sé. Saludarle como saludaríamos al hospitalário Pueblo de Madrid? No, porque eso resultaria convencional e frio. Quiero decirle del honor y de la honda emoción que nos há causado la presencia y las palabras amigas del Comandante de la Legion, el romântico que supo dar tan bien su mística a esa misma Legion, su espiritualidade, y toda su alma.

Si, más que su fuerte inteligência, la Legion tiene su alma, el alma entera de un soldado, de un poeta y de un valiente como todos los hijos de esta noble tierra de Espanha. Nos habian dicho, lo habiamos leido, que el herói no tenia un ojo y un brazo. Si, sabíamos de sus cicatrices gloriosas, de su gran valor, pero yo como todos, no me he dado cuenta pues sobrelevando a todo se impuso imediatamente a nosotros su figura radiante, de un inspirado o de un apostol, de uno más de esta tierra de tantos Santos.

Y digo Vd mi General que nos tenia amor, y digo también que todas las casas y museus de Madrid y Escorial, esa mansion que es la gloria de la arquitectura espanhola, todo cuanto es grande en Espanha nos hablaria de Portugal, Pátria tan querida y tan amada. Verdad que si, mi General, pues al dejar Lisboa ya sabíamos que entrar en Espanha más no es que alejarse uno. Portugal e Espanha, aunque dos Pátrias distintas e igualmente nobles, son todavia un todo por la inspiración. Portugueses e Espanholes han caminhado sempre como amigos, han sido por los siglos gloriosos legionários de la causa más levantada, la causa de la cristandad.

Que emociones! Desde la frontera todo há sido para nosotros viva emoción, pues tantos nombres de pueblos han acordado nuestros recuerdos e nuestra exaltación patriótica. Con su sangre generosa, portugueses e espanholes han hecho la campanha de liberacion y como desde en-

tonces tenemos de nuestros corazones la heroica Legion e su muy honrado, noble e valiente fundador, ahora que tuvimos la gran ventura de conocer su Jefe, que sea para saludarle y en su hijo tan noble la noble y amiga Espanha.

Viva Espanha!Viva Portugal!

Millán-Astray voltou a emocionar-se. Foi muito difícil de ver e ouvir. No final dos emotivos e pequenos discursos, subiu ao palco o «rata» mais pequeno do Batalhão (agora chama-se-lhe Batalhãozinho), que era o Ghira (37/1949) – que já está na terra da verdade. Millán-Astray pega numa das suas condecorações (uma roseta amarela e vermelha, por conseguinte espanhola) e pendura-a no peito do pequeno Pechincha. Portaria especial assinada pelo Ministro da Defesa Santos Costa autoriza-lo-ia a usar a condecoração. A malta no princípio gozava com o Pechincha e este sentia-se inchado com a medalha. Mas depois começou a chatear-se e tirou a condecoração.

A sessão terminou com o Hino Português e o Hino Espanhol entoados pelos 350 alunos do Batalhão. Esta versão da letra do hino Espanhol foi tão treinada em Portugal sob a direcção impecável do professor Jaime Silva, que ainda hoje, com 79 anos e sem nunca ter pertencido ao Orfeão, a sei de cor.

4ªFEIRA-21/6/50

Chegou o grande dia da apresentação pública, oficial e solene como Batalhão, na homenagem aos Heróis da Independência.

MANHÃ

OFERTA DA PALMA DE BRONZE

No Paseo del Prado, depois da revista dos Generais Muñoz Grandes e Pereira Coutinho ao Batalhão armado e em grande uniforme, e perante enorme multidão, o Colégio foi oferecer a Palma de Bronze, dedicada aos Heróis da Guerra Peninsular. Após a revista, quatro alunos colocam na base do monumento evocativo a Palma

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Oferta da Palma de Bronze.

O Batalhão em Madrid

de Bronze, o «metal de que é feita a espinha dorsal dos heróis». O terno de clarins toca a marcha de continência e perante grande silêncio, o General Pereira Coutinho explica como Portugal rendia homenagem ao heroísmo de Espanha. Gesto e palavras calaram bem fundo no coração dos nossos vizinhos, como realçou o General Muñoz Grandes.

DESFILE

Em seguida processou-se um dos pontos mais altos da nossa visita a terras de Espanha.

Com o stress idêntico às paradas do 3 de Março, mas agora com as responsabilidades inerentes a uma representação no estrangeiro, por isso com uma dupla ou tripla pressão, de grande uniforme, armados, de baioneta calada, o Batalhão Colegial desfilou pela Calvo Sotelo até à Castelhana e desta até ao magnífico pa -

lácio onde está instalada a Embaixada de Portugal. Em frente de nove, ocupando toda a faixa, com os passeios cheios de gente, o desfile era aberto por elementos da Frente de Juventude e formações dos Colégios dos Orfãos do Exército e da Marinha de Espanha. O Batalhão Colegial desfilou atrás deles perante o Embaixador de Portugal, os Generais Muñoz Grandes, Millán-Astray, Barron e Aymat, Almirante Heras, Brigadeiro Pereira do Vale e Tenente-Coronel Vieira da Fonseca, Oficiais e Professores do Colégio e muitas outras individualidades.

O Colégio fez um desfile memorável de presença, de alinhamento permanente, de passo muito certo e cadenciado, com quatro Companhias, desde os ratas da 1ª, até aos veteranos da 4ª. Quem assistia, e era muita gente, estava extasiada, fazendo os seus comentários para o vizinho do lado:

“Mira los chicos , caramba”

FIM DO DESFILE

Ao chegar à Embaixada, o Batalhão destroçou e espalhou-se pelos jardins, salões e escadarias do edifício do rés-do-chão ao 3º andar, até ao magnífico terraço onde estavam os convidados vips, cada vez mais, e a entourage de enquadramento do Colégio.

O esforço e a fome eram mais que muitos. Nuestros hermanos não aprendem com ninguém a tomar as refeições a tempo e horas. Nós estávamos com fome desde o meio-dia. O almoço, oferecido pelo Embaixador de Portugal, começou a ser servido. Vinham criados desde o rés-do-chão a subir as escadarias com grandes travessas com lagostas e outras iguarias. A fome da malta era mais que muita e começou a desaparecer o conteúdo das travessas à medida que os criados subiam as escadarias com as mesmas a caminho dos vips que estavam no terraço. Isto foi feito com tanta frequência e com tanta intensidade que os oficiais enquadrantes do

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Desfile – Revista pelo General Muñoz Grandes

Colegio tiveram que vir escoltar os criados desde o rés-do-chão para garantir que chegasse «qualquer coisinha» ao terraço, onde até aí só tinham tido direito a bebidas.

TARDE ARANJUEZ

Para repousar do grande esforço da manhã e um pouco da tarde fomos visitar os idílicos jardins de Aranjuez com os seus múltiplos jogos de água, belíssimas esplanadas, passeios de barco na confluência do Tejo e do Jarama, além dos magníficos gelados. Foi bem saborosa a merenda encomendada pelos oficiais do Estado-Maior espanhol.

DIA 22/6/50-5ªFEIRA

MANHÃ

O dia de grande canícula começa na Escola de Educação Física do Exército,

onde, na presença das entidades militares e civis, «arrancamos» com uma grande exibição de natação e saltos para a água, numa magnífica piscina da própria Escola.

EXIBIÇÃO DE GINÁSTICA

Depois, na pista de atletismo, o nosso Batalhão faz uma exibição sobejamente treinada em Lisboa com esquema da responsabilidade do Tenente Araújo e seus adjuntos. Esta exibição também ficou gravada na nossa digressão. Entrada retumbante e saltos de plinto e sobre baionetas deixaram impressionados os oficiais espanhóis e todos os convidados, além de demonstrarem o alto nível de Educação Física praticado no Colégio Militar. A demonstração foi de tão bom nível que os representantes espanhóis solicitaram que a mesma fosse repetida em Madrid, o que era impossível devido à intensidade do nosso programa.

O Batalhão em Madrid

TARDE EM TOLEDO

Penosa subida e espectacular recepção pelos Heróis do Alcazar. Guarda de honra com os sobreviventes. Começa a visita. Em grupo e guiados pelos próprios defensores, eis-nos no histórico gabinete do Coronel Moscardó. O Embaixador de Portugal explica o facto histórico aos alunos, e um dos sobreviventes conta a história daquele Santuário do Patriotismo.

Foi a pé firme, de farda castanha e em sentido, que respeitosamente ouvimos todas estas intervenções. O sol era intenso e o cansaço da manhã um facto. Houve alguns que não aguentaram, flectiram os joelhos e desmaiaram. Mas o camarada do lado não ia em seu auxílio. Isso era serviço para o médico e enfermeiro. Os Espanhóis ficaram incrédulos com esta atitude de gente muito cumpridora, respeitadora e valente. Este apontamento ficou para consolidar a memória futura.

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A 1ª Companhia, desfilando com todo o garbo em Madrid.

O Batalhão em

Madrid

Visita-se a Fabrica Nacional de Armas onde se almoça a convite do simpático Director que faz um sentido discurso e oferece uma lembrança a cada aluno. O Brigadeiro Director do Colégio agradece.

Visita-se ainda a Catedral, a casa de S. Tomé, a Casa e Museu del Greco, a Sinagoga del Transito e o Mosteiro de S. João dos Reis.

O dia termina com uma recepção no Ayuntamiento com discurso do Alcaide e resposta do Director.

DIA 23/6/50-6ªFEIRA

MANHÃ

RECEPÇÃO PELO GENERALISSIMO FRANCO.

Enquanto todos os outros descansavam em Vila Verde, uma delegação composta pela Direcção, Oficiais Superiores e uma representação de Alunos, apresentava cumprimentos ao Chefe de Estado, que antecipou o seu regresso de Bilbau de propósito para receber os representantes do Colégio Militar. O Generalíssimo recebeu-os em El Prado. O nosso Embaixador fez as respectivas apresentações.

Franco invocou a sua recente visita a Portugal, afirmando que dela trouxe gratas recordações. Mostrou estar informado de que tem sido um êxito a visita do Colégio Militar a Madrid, nomeadamente o Sarau Cultural e o Desfile, e a sua pena de a eles não poder ter assistido devido à sua ausência em Bilbau. O nosso Embaixador agradeceu.

TARDE

Livres de qualquer programa os alunos passearam pelas ruas de Madrid consumindo os belíssimos gelados espanhóis.

DIA 24/6/50-SABADO MANHÃ

Visita ao Museu do Prado. Banho de cultura. Palavras de Boas-Vindas do Director do Museu, que foi anfitrião e guia, honrado com a visita do Batalhão Colegial. Quadros de Velasquez, Murillo, El Greco, Ticiano, Rembrandt, Van Dick e tantos outros esplendorosos, ficaram na memória dos alunos do Colégio Militar. Aqui estávamos à vontade, porque ao contrário do muito calor do exterior, as salas do Prado eram enormes e frescas.

TARDE

Visita ao Escorial. Tudo é fresco, proporcionado e bem pensado. Dizem que a Basílica, Mosteiro e Biblioteca foram feitos à semelhança de Filipe II, que era um homem dedicado aos retiros. Tudo nos foi bem explicado. Já a noite começa a cair e são horas de regressar a Madrid.

DOMINGO,25/6/50 MANHÃ

Missa em S. Francisco el Grande

Numa demonstração imponente de cortesia, e reconhecimento do valor e interesse da nossa Instituição, assistem ao acto o Ministro do Exército, capitão-general da região, e ainda oito generais com comando.

O orfeão do primeiro ciclo entoou cânticos litúrgicos apropriados, com acompanhamento de orquestra, durante a celebração da Missa, finda a qual o Orfeão do Batalhão cantou, com a mesma segurança e afinação, os hinos de Portugal e de Espanha.

Sempre num espírito de grande cortesia, ao fim da tarde e depois da visita à Armeria del Ejercito, o Estado-Maior espanhol ofereceu um magnífico lanche.

Mortal sobre baionetas

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TOUROS PARA DESPEDIDA

Até uma corrida de touros não faltou na grande jornada de recepção dos nuestros hermanos.

Assim, o Batalhão teve ocasião de assistir a uma magnífica corrida de touros na Monumental de Madrid, acompanhando as lides com olés, e a respectiva morte dos touros à espanhola, vibrando com o espectáculo.

DIA 26/6/50-2ªFEIRA

VIAGEM DE REGRESSO

Dia do regresso. Despedidas e fraternos abraços duma visita que foi muito sentida pelos oficiais espanhóis. Paragem na fronteira em Valencia de Alcantara. O calor é muito pelo que o ataque ao bar da estação é obriga -

tório. Tudo bebe e quer pagar com as últimas pesetas na mão. O dono do bar vê-se aflito para atender todos. Até que o Comandante Tafur diz para o estalajadeiro: «Quem paga tudo sou eu» . Gentileza até ao fim. Daí para a frente só pensávamos nos nossos familiares e amigos, à nossa espera em Lisboa (Rossio), e também nos exames que se aproximavam a toda a força.

Nesta viagem e representação de Portugal em terras estrangeiras, sobretudo para nós «ratas» , passou-se tanta coisa no aspecto afirmativo e de orgulho, que não tenho nenhumas dúvidas de que tudo muito contribuiu para a definição, como já atrás disse, do nosso ADN colectivo.

Mais tarde, no ano 2000, quando se completaram 50 anos desta efeméride, um grupo de cerca de cinquenta

O Batalhão em Madrid

Antigos Alunos foi a Madrid matar saudades. Estive inscrito, mas uma arreliadora e súbita doença não permitiu que fosse.

Para que tudo fique para a História, da cabeça deste Antigo Aluno, aqui ficam as minhas memórias.

Com um abraço.

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Cerimónia no Alcazar de Toledo

O Pequeno Herói de Chaves

O HeróiPequeno de Chaves

No número 187, de Abril/Junho de 2012, desta nossa revista, foi publicado um artigo meu, intitulado «Aluno 23/1905, Silva Pereira, Defensor de Chaves». Nesse artigo dei a conhecer o facto excepcional de Silva Pereira ter recebido, como Aluno do Colégio, em 30/10/1912, por determinação do Ministro da Guerra, um louvor, em Ordem de Serviço colegial, devido à «dedicação, coragem e valentia de que deu provas no combate de 8 de Julho, em Chaves». Como tive oportunidade de indicar nesse artigo, o combate de 8 Julho de 1912, em Chaves, resultou do ataque nesse dia feito a esta vila por uma importante coluna de forças monárquicas, comandada pelo Capitão Henrique Paiva Couceiro. Recordo aqui o artigo referido, porque ao consultar o nº 141, de 3 de Março de 1983, da revista O Colégio Militar, deparei-me com um artigo intitulado «O Herói de Chaves: Evocação». Pensei de imediato que se trataria da história de Silva Pereira (23/1905), mas fiquei surpreendido quando constatei que se tratava de outro herói, bem mais novo do que ele, praticamente uma criança, que se veio a tornar Aluno do Colégio Militar, em consequência dos actos de heroísmo por si praticados. O referido artigo da revista O Colégio Mili-

tar tem a seguinte introdução: «O ex-aluno 56/1933 – Sousa Dias trouxe até nós mais um dos muitos factos dispersos que vão fazendo a pequena grande história do Colégio Militar. Hoje vamos evocar a vida do ex-aluno 177/1912, LUIZ FERREIRA PINTO - «O HERÓI DE CHAVES», exemplo de coragem e determinação, para que a sua memória não seja olvidada». Segue-se o texto do artigo referido, que é do seguinte teor: «Há muito tempo que tivera conhecimento, por intermédio do meu Tio Capitão Augusto César Antunes de Sousa Dias, de muitas informações coevas, que forneceu relativas aos primórdios da República: – quer à sua implantação em Chaves, a 8 de Outubro de 1910, quer à segunda incursão de Paiva Couceiro, a 8 de Julho de 1912. Vim a saber que uma criança de 12 anos se havia notabilizado durante os combates de 6, 7 e 8 de Julho que se travaram junto à povoação de Vila Verde da Raia, levando víveres, água e munições aos combatentes que defendiam a fronteira contra a 2ª invasão monárquica. Nunca tinha conseguido a sua identificação. Conhecia essa criança de uma fotografia publicada na Ilustração Portuguesa com os defensores civis

junto ao Flávia Hotel e no Guia - «Álbum de Chaves e o seu Concelho» onde se vê junto de António Granjo e os mesmos defensores de Chaves.

Iniciada a minha actividade «eurística», depois de mais de um ano de tentativas, consegui, finalmente, apanhar-lhe o rasto. Como sabia o nome de sua mãe, Ifigénia Rosa do Carmo Ferreira Pinto Terreiro, que fora professora primária de Vila Verde da Raia, encarreguei o nosso velho amigo e camarada do Colégio Militar Alberto Rodrigues da Costa de pedir ao seu cunhado e também nosso bom amigo, António Lopes, de Chaves, de se deslocar a Vila Verde da Raia no sentido de obter as informações desejadas. Após muito indagar na povoação, conseguiu

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

obter informações sobre o seu único descendente – Luiz Figueiredo Ferreira Pinto, residente em Lisboa. Assim, por intermédio deste, em Lisboa, descobri, finalmente, o nome completo da criança que se havia destacado no combate de 6, 7 e 8 de Julho de 1912, Luiz Ferreira Pinto Terreiro, natural de Vrea de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real. Segundo seu filho, quando os seus avós tomaram conhecimento que seu pai tinha cooperado com a Guarda Fiscal na defesa da fronteira, expulsaram-no de casa, pois, como monárquicos ferrenhos, consideraram uma desonra o comportamento do filho. Deu-lhe abrigo, em Chaves, o futuro General Augusto César Ribeiro de Carvalho que acabava de derrotar Paiva Couceiro. Aí ficaria até à sua entrada para o Colégio Militar, o que se efectuaria em Outubro de 1912. Os seus pais, Manuel Gonçalves Pinto Terreiro e D. Ifigénia Rosa do Carmo Pinto Terreiro, deserdaram-no e abandonaram-no para sempre. Receberam, mais tarde, em sua casa seu neto, maldizendo para sempre até à hora da

morte a acção de seu pai. Luiz Ferreira Pinto Terreiro encontrava-se ainda no Colégio Militar quando seu pai faleceu. A mãe sobreviveu alguns anos, tendo morrido depois do casamento do filho e quando já este era oficial.

Após ter entrado no Colégio Militar, muitas vezes deslocou-se a Chaves em férias, ficando em casa do seu Protector. Foi sempre apoiado pelo velho General e António Granjo.

Luiz Ferreira Pinto Terreiro e seus descendentes, como retaliação da atitude dos seus avós, deixaram de usar o nome de Terreiro. O Governo da República sabedor da situação de uma família rica abandonar o seu filho, invocou uma razão que não era verdadeira, «falta de recursos dos Pais para custear a sua educação no Colégio Militar», responsabilizando-se assim o Estado em todas as suas despesas no Colégio Militar e na Escola de Guerra, e em virtude da nota do Conselho Tutelar e Pedagógico do Exército de Terra e Mar, da 4ª Repartição da 1ª D. G. da Secretaria da Guerra nº 2273 é

O Pequeno Herói de Chaves

No Colégio Militar, fora um Aluno de suficiente aplicação literária e um excepcional aluno em aptidão física, no que se distinguiu nos últimos anos pelo que foi medalhado. Sabemos que enquanto frequentou o Colégio Militar foi um aluno de grande comunicabilidade, relacionando-se com todos os seus camaradas, sempre bem disposto, com uma grande alegria de viver e bem humorado com ditos que ficaram famosos. A sua compleição física fazia-o destacar entre todos os alunos, contudo nunca abusou da sua força, mantendo sempre relações harmoniosas com toda a gente.

Ingressou no Regimento de Cavalaria 6, em Chaves, como voluntário, julga-se como 2º Sargento cadete. Na sua vida militar destacou-se nas práticas desportivas. Teve o 2º prémio no Raid hípico em 1925, o primeiro prémio no percurso de corta-mato, realizado em 1926, em Estremoz; primeiro prémio no concurso hípico Regimental de 1927; primeiro prémio no percurso de corta-mato de 1928

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considerado tutelado do Conselho Tutelar e Pedagógico do Exército de Terra e Mar. Grupo de “Defensores de Chaves”.

O Pequeno Herói de Chaves

e primeiro prémio no concurso de Esgrima Regimental de 1929.

Atingiu, sucessivamente, em 1924, 1929, e 1938 os postos de alferes, tenente e capitão. Exerceu em Moçambique funções de Comando da Guarda Fiscal e mais tarde Instrutor de Recrutas do Esquadrão de Dragões de Moçambique. Viria a falecer muito novo, em Lisboa, a 6 de Abril de 1947, com 47 anos.» Deste relato do Antigo Aluno António Lúcio de Sousa Dias (56/1933) sublinha-se uma série de factos extraordinários. A coragem e a consequente desventura do pequeno Luiz Ferreira Pinto Terreiro, expulso de casa de seus pais e que de imediato, como represália, deixa de usar o apelido Terreiro, inscrevendo-se no Colégio Militar com o nome de Luiz Ferreira Pinto. O fanatismo dos seus pais, monárquicos ferrenhos, que o expulsam de casa e deserdam, com a idade de apenas 12 anos, por ele ter ajudado os republicanos. A generosidade do futuro General Ribeiro de Carvalho, que na altura, como Coronel, comandava o Regimento de Infantaria 19, de Chaves, que juntamente com voluntários civis derrotaram os monárquicos vindos de Espanha (foram os célebres Defensores de Chaves). A atenção que António Granjo (advogado e político flaviense, que chegou a Presidente do Ministério e que foi assassinado no Arsenal de Marinha, em Lisboa, na «noite sangrenta» em 1921) prestou ao pequeno herói e a acção meritória do Governo da época, que, para o Estado se responsabilizar pela educação do pequeno herói, recorreu a uma piedosa mentira, dizendo que os seus pais tinham falta de recursos para custear a sua educação. O artigo do Antigo Aluno António Lúcio de Sousa Dias (56/1933) é complementado na revista referida, pela justificação saída em Ordem do Exército, de suporte do ingresso de Luiz Ferreira Pinto no Colégio Militar, em condições excepcionais. A justificação, bem curiosa, era a seguinte: «Tendo sido oficialmente comunicado pelo comando do sector de defesa entre o Mente e Cávado, na área da 6ª divisão do exército, que nos dias 6, 7 e 8 de Julho próximo passado o menor de 12 anos, Luis Ferreira Pinto,

filho da professora de instrução primária de Vila Verde da Raia, prestou valioso auxilio às forças da guarda fiscal durante os combates que se travaram naquela povoação contra os conspiradores monárquicos, levando-lhes víveres, água e munições de guerra às posições de combate, estando sempre nos sítios mais arriscados e andando debaixo de fogo com grande decisão e sangue frio, reconheceu-se que tais factos voluntariamente praticados por uma criança constituem não só um alto documento de extremado valor de ânimo como de inexcedível dedicação pela defesa da causa republicana e portanto da defesa da Pátria, digno de singular recompensa que ateste quanto tal procedimento é devidamente apreciado pela República, a qual nunca esquece o justo galardão que deve a todos que por qualquer forma a servem distintamente, honrando a Pátria e o nome português. O acto de intrepidez praticado pelo menor Luis Ferreira Pinto, arriscando intemeratamente, com a maior abnegação, a sua vida num lance perigoso de campanha em que todos os receios, toda a timidez própria da sua tenra idade eram, quando se revelassem, inteiramente justificáveis, perfeitamente naturais, e que só não se manifestaram por ser de têmpera dum verdadeiro herói a alma denodada dessa criança, que aliás não podia deixar de ter consciência do perigo que corria, andando por entre os nossos combatentes e percorrendo a zona batida pelo fogo dos rebeldes, esse acto é daqueles que, confirmando a bravura inata do povo português, merece ficar registado a letras de ouro nos anais do heroísmo pátrio e a que convém dar a maior publicidade para alentador estímulo da actual e futuras gerações republicanas.

Deseja porém, o menor Luis Ferreira Pinto servir a Pátria, a cuja gratidão já conquistou jus, seguindo a carreira das armas; e como se acha habilitado com o exame de instrução primária 2º grau, nenhuma recompensa se afigura nem mais útil nem mais nobre do que admiti-lo à matrícula no Colégio Militar, com dispensa da idade, no próximo ano lectivo. E como seus pais não dispõem de recursos que lhes permitam custear a educação naquele

estabelecimento, justo e devido é que ao referido menor sejam custeadas pelo Estado todas as despesas de educação. Nesse viveiro de auspiciosos servidores da Pátria, que é e tem sempre sido o Colégio Militar, mais tarde na Escola de Guerra e de futuro nas fileiras do exército a presença do bravo Luis Ferreira Pinto, juvenil mas intrépido guerreiro, antes, muito antes de poder ser militar, será sempre um alto estimulador exemplo vivo do heroísmo, da dedicação pela Pátria e pela República, e ao mesmo tempo a irrefutável prova de que esta não deixa sem a condigna recompensa todo aquele, de qualquer classe, condição ou idade, que por ela se sacrifica, enobrecendo-a, glorificando-a. Pelos fundamentos expostos o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Guerra, decreta o seguinte:

Art. 1º É concedida a Luis Ferreira Pinto, natural de Vrea de Bornes, concelho de Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real, filho de Manuel Gonçalves Pinto Ferreira e de Efigénia Rosa do Carmo Ferreira, a matrícula, com dispensa de idade, no primeiro ano do curso do Colégio Militar, no ano lectivo de 1912-1913, como recompensa pelo seu heróico procedimento nos combates de Vila Verde da Raia contra os rebeldes monárquicos, nos dias 6, 7 e 8 de Julho de 1912.

Art. 2º O referido menor fica ao abrigo da benéfica disposição da última parte do artigo 46º do decreto de 11 de Dezembro de 1851.

Artº 3º Na carta de curso do Colégio Militar, quando venha a conclui-lo, será lançada a verba constante do artigo 1º.

Paços do Governo da República, em 28 de Setembro de 1912. – Manuel de Arriaga –António Xavier Correia Barreto.»

E de acordo com este decreto, Luís Ferreira Pinto ingressou no Colégio Militar em 1912, onde recebeu o número 177, fazendo assim história nos anais da nossa Instituição.

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Pelo Marquilhas e pelo Colégio

Pelo Marquilhas e pelo Colégio

Através dos bons ofícios do Antigo Aluno Rui Ernesto Freire Lobo da Costa (160/1943), chegaram até nós as duas excelentes composições fotográficas que aqui se publicam da autoria do Senhor

Coronel de Cavalaria António Conde Falcão. A primeira é uma ode de amizade ao nosso saudoso António Francisco Martins Marquilhas (67/1944) um homem de uma só cara e com uma alegria de viver inexce-

dível. A segunda é uma ode ao nosso Colégio, por si justamente considerado como «Uma Luz no Ensino». Ao Senhor Coronel Conde Falcão agradecemos penhorados o seu trabalho.

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Composição fotográfica dedicada a António Marquilhas (67/1944).

Pelo Marquilhas e pelo Colégio

NOTA:

Conde Falcão, Coronel reformado de Cavalaria, nasceu no Sardoal em 1940.

Autodidacta, iniciou-se nas lides da fotografia a «preto e branco» em Moçambique em 1971, no decurso de uma das suas

três comissões de serviço no Ultramar. Tem trabalhos publicados em revistas nacionais e estrangeiras. Tendo efectuado 57 exposições individuais e 31 colectivas em diversos países, conquistou nelas cerca de 400 prémios.

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Homenagem ao Colégio Militar.

Mensagens, cifras e desabafos

Mensagens, cifras e desabafos

Quando cheguei ao Lugenda, ali entre Marrupa e Mecula, em Fevereiro de 1965, já lá estavam o furriel Dias e sete ou oito militares, que haviam avançado umas três semanas mais cedo e já haviam montado um pavilhão, edifício com estrutura metálica pré-fabricada e cobertura e paredes de chapa zincada. Servia para tudo: armazém, refeitório, dormitório, e o mais que fosse preciso. Eu, por mim, levava indicações claras: a ponte era grande, mais de quatrocentos metros de comprido, a tecnologia disponível não era espantosa (a começar pelo director de obra, eu, que seguira quase directamente do Técnico para o meio de África!), era de esperar que a obra demorasse uns dois ou três anos. Que me instalasse!

Passadas mais duas ou três semanas chegou o sargento Teixeira, com mais uns sete ou oito militares. E aí estava a equipa completa!

Havia no local uma cantina, uma daquelas lojas que vendem de tudo, dum português de Oliveira de Azeméis. Deu-nos bastante apoio, ele conhecia a zona, era bom caçador. Ainda estive aboletado em casa dele, durante um bom par de semanas.

Mapa do Norte de Moçambique.

Como o rio ia muito alto, as margens alagadas, os trabalhos pouco podiam progredir. Deu para nos instalarmos: fizemos uma casa para os graduados, um coberto para refeitório, instalações sanitárias, cozinha, um galinheiro, semeámos uma horta e fizemos os primeiros preparativos para começar os trabalhos. Definir o alinhamento, fazer umas mar-

cas de implantação de pilares, arranjar um local para explorar uma pedreira e coisas do género.

Estivemos uns dois meses autenticamente “ao Deus dará” . Nem vedação tínhamos; fizemos uma espécie de paliçada com ramos espetados no chão, em duas filas paralelas, só para mar-

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Mensagens, cifras e desabafos

car limites; e comunicações, nada, só o rádio de pilhas que dava para ouvir os relatos de futebol nas ondas curtas da Emissora Nacional e a música e os anúncios de Lourenço Marques! Se os “turras” lá tivessem ido chatear só daí a quinze dias é que se dava pela nossa falta !!! Mas, como à frente se saberá, não foram!!

Mas as coisas foram-se compondo. Chegaram uns rolos de arame farpado – fez-se uma vedação – e depois, oh maravilha: UM RÁDIO . É certo que era um grande matacão, um rádio militar, acho que era verde, parecia que tinha vindo directamente do desembarque da Normandia. Mas teria que dar para contactar o (resto do) mundo.

O rádio era, mais ou menos, uma coisa o género do apresentado nas fotos da página seguinte.

Para o instalar e pôr a funcionar tivemos o apoio do alferes de Marrupa que era responsável pela transmissões. Era um tipo porreiro; não vou dizer o nome mas tinha uma alcunha do género “segredinhos” , condizente com a sua função de responsável pelas transmissões e pelas mensagens cifradas.

Foi uma boa ajuda: deu-nos as suas indicações de como montar a antena e a sua orientação; o horário em que devíamos entrar em linha; as designações secretas dos vários postos e unidades daquela zona, impossíveis de entender por estranhos (já lá vão mais de cinquenta anos, mas ainda hoje fico espantado com a imaginação: o quartel de Marrupa, sede do batalhão, era “Olimpo” ; o comandante do batalhão era “Zeus” ; o meu posto, ali no rio Lugenda, era o “Barco” , quem poderia imaginar uma coisa destas?!!). E explicou-nos que, como a sede da minha companhia estava

....

em Vila Cabral, a uns quatrocentos quilómetros, e o meu rádio não tinha esse alcance, o batalhão teria que ser repetidor. Recomendou que para me referir a coisas de que necessitasse e que o inimigo não deveria, de forma nenhuma entender, estabelecia-se um conjunto secreto de palavras de código: se eu precisasse de cimento,

pediria farinha; para gasóleo pedia azeite; para arame, spagheti! Tudo inimaginável para o inimigo!

E, quando ninguém estava a ver, passou-me secretamente para a mão, o “livro de código” . Um caderninho de capa vermelha, meia dúzia de folhas, com os segredos necessários para ler

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Definir o alinhamento, fazer umas marcas... Local para explorar uma pedreira

uma mensagem cifrada. Era trabalhoso, não muito difícil, mas exigia atenção e paciência. Explicou-me que a mensagem cifrada seria transmitida como uma grande sucessão de letras, sem qualquer sentido aparente. O decifrador – que teria que ser, exclusivamente, eu – devia separar essa sucessão de letras em grupos de oito, colocá-las em linhas seguidas e, depois, seguir uma lista de instruções que constavam do livrinho vermelho e que mandava reordenar as letras, por exemplo, “segunda letra da primeira linha, quarta letra da segunda linha, terceira da quinta, sexta da quarta, .....etc ...etc.” Recomendou que era preciso não perder nenhuma letra, na recepção; seguir escrupulosamente as indicações do livrinho no posicionamento das letras; e, por fim, mais difícil, quase impossível, perceber onde se dividiam as palavras !!!! E olhava para mim aparentando grandes dúvidas de que eu fosse capaz! Não gostei muito, mas ajudou bastante e fiquei reconhecido.

Lá no meu grupo havia um cabo, o Ramos, estucador, tipo esperto que pa -

recia capaz, e interessado, para ser o telegrafista mor. Aceitou e cumpriu. Todos os dias, duas vezes por dia, ligava o rádio na hora aprazada, recebia as mensagens que chegavam do Olimpo e transmitia o que se lhe indicava como necessidades do Barco.

Nem toda a gente saberá mas, de vez em quando, os “turras” , que também tinham rádios, entravam nas conversas que as nossas tropas trocavam. Genericamente teciam comentários a propósito das nossas mãezinhas e da sua profissão, insistiam em sugerir alguns locais da sua anatomia para onde podíamos ir, faziam ameaças terríveis, etc. Lá, no Lugenda, só os ouvimos três ou quatro vezes, sempre com esta mesma lenga-lenga. Mas uma vez, já lá estávamos havia uns meses, a obra ia-se fazendo, perguntou-me o “segredinhos” se eu tinha ouvido uns comentários em que os “turras” se tinham referido a mim. “Não, não sei de nada; estás a gozar comigo?”; “não, a sério, há dias entraram numa nossa conversa e disseram: digam ao alferes do Lugenda

que vá trabalhando na ponte, esteja à vontade, nós não o vamos chatear, até o ajudamos; ele está a trabalhar para nós!!!”; “que grandes sacanas!” , pensei na altura. Mas a verdade, se bem nunca tenha sabido ao certo, ao certo, se esta conversa era verdade ou gozo do “segredinhos” , é que nunca me chatearam ... e o futuro confirmou que tinham razão no que diziam !!!

A vida foi correndo, o Ramos ia fazendo os seus pedidos cifrados, pedia farinha, azeite e spagheti, tudo corria bem e –palavra de honra – íamos sempre recebendo o que, de facto, pretendíamos!

(Nota: contaram-me, não sei se é verdade, que na antiga Índia Portuguesa se usavam códigos parecidos com os que referi acima. Para granadas de mão, pediam-se batatas; para granadas de morteiro, chouriços; para munições de espingarda, grão de bico. E que quando o exército indiano avançou para a invasão, uma guarnição mal armada enviou um rádio pedindo, urgentemente, batatas, chouriços e grão de bico. E disseram-me que a logística funcionou às mil maravilhas: no dia seguinte chegou a esse posto uma camioneta com .... batatas, chouriços e grão de bico !!! Verdade? Não sei, contaram-me!).

Uma tarde, ao chegar da obra estava o Ramos nervoso à minha espera; tinha chegado uma mensagem ininteligível, “não percebo nada disto, só letras sem sentido, o gajo estará grosso?”; “deixa lá Ramos, vai descansar, eu agora trato”. Era, evidentemente, uma mensagem cifrada, comecei a tratar. Parecia fácil, as letras em grupos de oito, colocá-las em linhas seguidas e, depois, seguir as instruções do livrinho vermelho, a segunda letra da primeira linha, quarta letra da segunda, terceira da quinta, sexta da quarta, .....etc. Um quarto de hora, observei, tristemente, o resultado: fagersia

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Mensagens, cifras e desabafos
Rádios do género do recebido, no Lugenda.

Mensagens, cifras e desabafos

toajused slabnure. “Que é isto? Enganei-me em qualquer sítio, vou recomeçar” : a mesma coisa e duas, três vezes, sempre a mesma coisa. O Ramos, se calhar perdeu alguma letra, estaria com atenção? ”Oh meu alferes, foi mesmo assim, o gajo até repetiu mais do que uma vez”. “Tá bem, deixa lá”. Com certeza que se perdeu uma letra. E agora? .... ah, já sei: faz de conta que falta a primeira letra; então meto aí um espaço e começo com a segunda, deve dar qualquer coisa inteligível (até para mim)” Não deu; “talvez fosse a segunda letra a perdida. Meto aí um espaço” Nada. E a coisa foi continuando, sem qualquer sucesso. Só coisas do género: z-ghlou rtloipsa vetcsima. “Chiça, já é meia noite, vou-me deitar... mas ... e se é mesmo urgente? Faltará a quarta?” ou a quinta?; ou a sexta?. Pelas três da manhã sucumbi. “Vou dormir... mas ... e se há um ataque dos turras? Que se lixem os turras !!! Vou dormir“ e fui.

Na manhã seguinte levantei-me cedo, mal dormido (mesmo sem ataque dos turras), chamei o sargento Teixeira, contei-lhe o sucedido, “não estou sossegado, vou a Marrupa, não vá isto ser urgente mesmo. Continuamos o trabalho normalmente, sem alarmes, mas ponha aí uma malta armada, só pelo sim pelo não. Eu levo o camião, faz de conta que vou só às compras, levo três soldados armados “para ajudar a carregar”” , lá fui.

Ao chegar a Marrupa mandei os soldados à cantina com a lista das compras e fui directo ter com o alferes “segredinhos” “O que estás aqui a fazer?” perguntou quando me viu, “não viste a mensagem de ontem?”; ”Ver vi, mas não consegui decifrá-la!“; “não conseguiste decifrá-la???!!!“

E juro que ouvi um sussurro baixinho, baixinho, “e estes engenheiros que têm a mania que são espertos, se calhar não conseguiu foi reagrupar as palavras!”.

“Não, não consegui, diz lá o que era a mensagem, porque é que foi cifrada?” O “segredinhos” não estava disposto a perder a oportunidade; ali em Marrupa não havia muito que fazer, era uma pasmaceira; fazê-lo perder aquela chance de gozar comigo durante um bocado seria quase desumano. E ele queria mesmo aproveitar. “Não, não digo”; não te digo a mensagem, vou-te ensinar a decifrar”. A cena estava a aproximar-se perigosamente dos meus limites; comecei a pensar que o tipo tinha a cara demasiado normal, a precisar duns retoques; mas verdade é que eu não tinha conseguido ler a malfadada mensagem.

Ele estava divertido e a desfrutar. Arvorou um ar paternalista, de mestre-escola, “mostra-me a mensagem que recebeste,...... não, não faltam letras, ...... não conseguiste ler porquê, bastava seguir as instruções, que diabo, não é assim tão difícil, não sei como conseguiste tirar um curso, ...... conseguiste mesmo?”

“Bem, deixa lá, não te chateies, eu ensino-te, vais ver que aprendes. Vamos a ver; senta-te aí, pega em papel e lápis escreve as letras toooodas da mensagem, sem esquecer nenhuma. Vá lá, falta pouco, não te distraias, como vês não é muito difícil, já está; agora pega no livro da cifra, abre-o e segue ..... oh pá, não é esse, é o outro” ; “qual outro?”

“O outro, pá, esse já foi revogado, já está desactualizado, agora é o outro”; “Qual Outro?”

“Já te disse, pá, o azul; esse de capa vermelha já está fora de uso; agora é o outro, o azul”; “QUAL OUTRO? “

“Eh pá, não me digas que não te mandei o outro...” “QUAL OUTRO???”

(acalmem-se as almas sensíveis, sobreviveu!! Intacto!).

Deu-me um caderno azul, consegui organizar a mensagem em grupos de oito e depois fiz o reagrupamento (o “segredinhos” estava abismado por eu ser capaz):

“detectados grupos em movimento nessa área; possíveis inimigos; deve reforçar guarda quer de dia quer de noite e aumentar medidas defensivas; reporte situações anómalas.”

Li, reli e fiquei sem saber se havia de rir ou de chorar (claro que a opção certa era a segunda, a primeira era mera hipótese académica!).

Reforçar a guarda!!?? Medidas defensivas??!! Estávamos lá um alferes, dois sargentos e uns 15 praças. Todos envolvidos na obra da ponte. Durante o dia íamos todos “lá para baixo” trabalhar; ao fim do dia, chegávamos “cá acima” jantávamos e, pelas 10 e meia, 11 da noite, leitinho, xixi, cama, apaga a luz e toca a dormir. Amanhã há mais!

Reforçar a guarda? Qual guarda?

Claro que com um aviso daqueles, tinha que passar a haver guarda. Anoitecia cedo e depressa, como é nos trópicos. Para fazer turnos de três horas, eram quatro turnos por noite. Mas, naquelas condições, era imprudente andar um guarda sozinho. Era fácil levar uma “naifada” , nem perceber, não dar o alerta. Dois por turno, quatro turnos por noite, ia ser dia sim, dia não. Mas tinha que ser e com todos. Chamei o sargento: “Temos que organizar isto; têm que ser oito por noite, dia sim dia não; nós três também temos que entrar na escala; como na obra os carpinteiros, os pedreiros, etc., fazem mais falta, ponha-me na escala das 2 às 5. Eu depois descanso quando puder” . E assim foi.

Custou um pouco, mas valeu a pena. A experiência humana foi espantosa.

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Mensagens, cifras e desabafos

Talvez seja necessário ter passado por uma situação destas e saber o que é uma noite do mato africano para perceber o que quero dizer.

Aqueles rapazes estavam havia mais de ano e meio no mato. A mais de 10.000 km de tudo o que lhes interessava. Havia mais de ano e meio que viviam permanentemente juntos, dormiam na mesma camarata, comiam no mesmo refeitório, trabalhavam na mesma obra, gerara-se entre eles uma grande amizade, estariam dispostos a lutar e – se assim fosse – a morrer uns pelos outros. Mas faltava-lhes, nem que fosse só por um bocadinho, a mínima espécie de privacidade. Estavam sempre exageradamente juntos. A única privacidade de que realmente dispunham era a possibilidade de se calarem. Por isso, ainda que francamente amigos, desabafavam pouco. Receavam que, depois de um desabafo, um copito a mais podia gerar uma piada, a malta gozar com eles, podia azedar tudo; por isso calavam-se, poucas ou nenhumas confidências, cada um aguenta a sua parte. E, ainda por cima, tal desabafo podia parecer uma fraqueza, e não, tudo menos isso, aquela rapaziada não queria que lhes chamassem piegas que, de facto, não eram.

E as noites, lá no Lugenda, entre as 2 e as 5 da manhã, eram mágicas.

Havia noites escuríssimas, noites de lua nova, estávamos num local um pouco elevado, de dia avistavam-se cinquenta quilómetros mas à noite, nesses cinquenta quilómetros não havia uma lâmpada, não havia uma fogueira, às quatro da manhã não havia uma candeia acesa, reinava uma escuridão total; só no céu sem nuvens é que luziam milhares de estrelas, parecia que todas as estrelas do universo ali tinham sido postas, ali, no céu do

Lugenda, um céu maravilhoso, cravejado, e que de lá de cima todos os luzeiros nos observavam, que cada estrela seguia cada um dos passos que dávamos enquanto rondávamos.

E, noutras ocasiões, noites iluminadas, noites de lua cheia, uma lua enorme, brilhante, um sol nocturno, enquanto andávamos na ronda projectava no chão as nossas sombras; e ao longe, a cinquenta quilómetros de distância, claramente se podiam ver – ver, de facto, não era só adivinharem-se – os contornos da serra de Mecula. E mediam-se cinquenta quilómetros de árvores pardas, sem qualquer outra luz que não fosse o pálido reflexo da Lua que brilhava.

E noites de trovoada, faíscas brutais que riscavam o céu de ponta a ponta, que iluminavam a noite e assustavam; depois um trovão tremendo, que nos fazia encolher; mas outras vezes, não sei porquê, ao grande clarão não se seguia o trovão, só se ouvia o silvo da faísca, como se um golpe de espada cortasse o céu; e logo um silêncio deprimente, que parecia mais aterrador ainda que o trovão.

E sempre, sempre, qualquer que fosse a Lua ou o clima, os ruídos do mato, o “cantar” dos insectos, um ou outro ronco longínquo, o piar de uma ave, vento que sopra, folhas que se agitam, ruídos que já conhecíamos, a que já nos habituáramos, que estavam lá sempre mas sempre nos agitavam um pouco por parecer, sempre, que encerravam um mistério qualquer da noite sem luzes, africana, do Lugenda.

E àqueles rapazes, havia tanto tempo no mato, tão longe de tudo o que era a sua vida, aquelas noites africanas tinham o efeito de um feitiço; sentia-se, quase se via o que lhes ia na alma; tudo tão distante, há tanto tempo; tantas perguntas, tantas dúvidas, tantas angústias escondiam; aguentavam, mas sentia-se que estavam

perto dos seus limites. Aquele seu silêncio voluntário e prudente era devastador, não estariam muito longe de ceder. Eu não queria invadir a sua intimidade, mas sentia que podia dar uma ajuda nos já poucos meses que faltavam e lançava-lhes uma pergunta simples, um “tens tido notícias de casa?” Era o suficiente; o coração abria-se-lhes, a língua libertava-se. Acho que sentiam que comigo não estavam sujeitos a brincadeiras, que eu não lhes ia chamar piegas. E falavam. Falavam. Durante uma hora falavam. E eu, sinceramente, era bom ouvinte, não os interrompia, não fazia perguntas, não dava conselhos, só ouvia.

Que histórias contavam? Ora, nada de muito especial. Tudo histórias normais, tudo histórias parecidas com tantas outras que já todos ouvimos: a minha miúda deixou-me por outro lá da terra; o gajo abusou da minha irmã, se o apanhasse aqui matava-o; há quase um mês que não recebo aerograma, se calhar há azar lá em casa; os meus pais zangaram-se, já viu meu alferes, e agora cada um para seu lado, nem sei como vou fazer quando lá chegar; tenho uma filha que nasceu já depois de eu ter embarcado para aqui, nunca a vi, já falta pouco mas.... e se ela não gosta de mim, se a mãe não me deixa vê-la; e por aí fora.

Eram só histórias de rapaziada comum, nada parecia de especial, mas cada uma era uma história muito especial, porque cada uma daquelas histórias era a história de cada um daqueles rapazes. Falavam, eu ouvia e sentia que, quando às cinco horas chegavam os outros dois que nos iam render e podíamos ir dormir um bocado, eles parecia que iam um pouco mais aliviados, que lhes tinha feito bem terem sido capazes de falar um bocado.

E eu? Nessas noites mágicas do Lugenda também desabafava com eles?

Não, claro que não, era o que faltava, ..... para depois me chamarem piegas ??!!!!

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Porque é que de noite é escuro?

Porque é que de noite é escuro?

Depois de ter escrito um artigo sobre a contagem do tempo, faz todo o sentido abordar o espaço, pois o espaço e o tempo – tanto na nossa vida como no estudo da física – andam sempre juntos.

‘Adivinho’ o que estão a pensar relativamente ao título que escolhi... Que uma criança faça a pergunta ‘Porque é que de noite é escuro?’ a um adulto, eu percebo; mas fazer desta pergunta – ou melhor, da resposta a esta pergunta – o título dum artigo para a ZacatraZ?!

Porque – evidentemente – a resposta que se pode dar à criança é simples: porque o Sol se foi embora e só volta amanhã de manhã. Estamos a enganar a criança – não foi o Sol que se foi embora – mas é a resposta que ela possivelmente mais facilmente percebe.

Suponham agora que a pergunta é feita, não por uma criança, mas por um adulto, médico e qualificado em física e em astronomia?

Esta pergunta (e a evolução da resposta até à que é actualmente considerada correcta) é conhecida como o paradoxo de Olbers1 (Heinrich Willhem Olbers foi - no século XIX – um médico, especialista em física e astrónomo amador de Bremen, Alemanha).

NOTA:

Olbers não foi (nem de perto) o primeiro a colocar esta pergunta; no entanto, em 1952, o grande cosmólogo Anglo-Austríaco Hermann Bondi publicou um livro importante em que denominava este assunto como ‘o paradoxo de Olbers’ e o termo ‘pegou’. E assim se fica famoso...

E a resposta à pergunta em causa - já perceberam – não é assim tão fácil...

1 Este é o 3º dos 9 paradoxos descritos por Jim Al-Khalili

no seu livro ‘The nine greatest enigmas in Physics’.

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Olbers (1758 – 1840). (professor de física teórica na universidade do Surrey-Inglaterra)

Porque é que de noite é escuro?

Convido-vos a todos a – se tiverem paciência para isso – acompanharem-me na descrição histórica das várias respostas que apareceram ao longo dos séculos, até hoje.

INTRODUÇÃO:

Antes de iniciarmos a descrição da evolução da resposta à pergunta feita, faz todo o sentido preocuparmo-nos com o que está em causa (o Universo), algumas definições e as unidades de medida que vamos usar, pois o tema é suficientemente complexo para querermos evitar ficar adicionalmente confusos com os números que nos vão aparecer e o seu significado.

Temos então o nosso planeta Terra, que é o 3º dos planetas que giram à volta da estrela do nosso sistema, o Sol. (Um planeta é um corpo celeste que orbita uma estrela ou um remanescente de estrela, com massa suficiente para se tornar esférico devido à força da gravidade).

Alguns dados relativamente à Terra, à galáxia a que pertence (a Via Láctea) e ao Universo:

- Velocidade de rotação da Terra (no equador): 1675 km/hora ...ou seja 465 metros/

segundo (para termos uma medida de fácil comparação, tenhamos em conta que a velocidade da propagação do som no ar é de aproximadamente 1224 km/ hora ...ou seja 340 metros/segundo)

- Velocidade de translação da Terra (à volta do Sol): 107.000 km/hora ...ou seja 30km/segundo.

NOTA:

Habituamo-nos às 24 horas do dia e aos 365 dias do ano e não fazemos as contas, não é? Mas no entanto já ouvimos muitas vezes – ou mesmo dissemos - algo como ‘o gajo ia a uma velocidade astronómica’ , não é?! Ah ah ah.

Definição de ano-luz (que – como sabemos – é uma unidade de medida de distâncias e não de tempo): é a distância percorrida pela luz durante um ano....são aproximadamente 10 triliões de km, pois a velocidade da luz é de uns 300.000 Km/ segundo (um bilião de km/hora).

A Terra está, em média, a uns 150 milhões de km do Sol (uns 8 minutos-luz de distância). A Lua (planeta-satélite da

Terra) está, em média, a pouco mais de um segundo-luz de distância da Terra (uns 380.000 kms).

Definição de galáxia: é um grande sistema, gravitacionalmente ligado, que consiste de estrelas, planetas e remanescentes de estrelas (todos de forma arredondada devido à gravidade que os mantém em conjunto), um meio interestelar de gás e poeira, e um importante, mas insuficientemente conhecido componente, apelidado de matéria escura.

A palavra “galáxia” deriva do grego ‘’galaxias’’ (γαλαξίας), literalmente “leitoso”, numa referência à nossa galáxia, a Via Láctea . Exemplos de galáxias variam desde as ‘anãs’, com até 10 milhões de estrelas, até ‘gigantes’ com cem trilhões de estrelas, todas elas orbitando à volta do centro de massa da sua galáxia.

Está estimado que a velocidade de translação da Terra em relação ao centro da nossa galáxia (a Via Láctea) é de um milhão de km/h. Evidentemente que nada é estático no Universo. As estrelas ‘mais rápidas’ movem-se a uma velocidade de até 500 km/segundo.

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Aspecto da Via Láctea (que tem aproximadamente 400 biliões de estrelas, muitas delas com o seu sistema de planetas) e da posição do Sol nela.

Porque é que de noite é escuro?

NOTA:

Se houver um ‘descarrilamento’ não fica ninguém para contar...Eh eh eh.

Dimensão da Via Láctea: Está calculado que a distância do Sol ao centro de massa da Via Láctea é de uns 26.000 anos-luz e que a distância até à sua ‘borda’ é de uns 24.000 anos-luz.

A estrela que está – na nossa galáxia –mais perto do nosso Sol, é a ‘Alpha Centauri’ que está a 4,4 anos-luz de distância. A galáxia mais perto da nossa Via Láctea chama-se Andrómeda e está a uns 2.5 milhões de anos-luz de distância. Dimensão do Universo: O número de galáxias no Universo está avaliado em cerca de um trilião!

Eis um interessante termo de comparação: se uma em cada 10.000 estrelas da nossa galáxia tiver um planeta semelhante à Terra, haverá, só na Via Láctea, uns 40 milhões de planetas semelhantes à Terra!

E – tendo todos estes números em consideração – por que motivo se pode pensar que os únicos seres inteligentes do Universo residem no planeta Terra?

2 So, where is ‘everybody?’ (Onde é que estão os ‘outros’?) Esta pergunta foi feita em 1950 pelo cientista Enrico Fermi (prémio Nobel da Física em 1938) a colegas seus durante um almoço em que o tema de ‘discos voadores’ foi abordado.

Este é o 9º paradoxo abordado por Jim Al-Khalili (professor de física teórica na universidade do Surrey-Inglaterra) no seu livro ‘The nine greatest enigmas in Physics’.

Descrição histórica da evolução de modelos para o Universo

(E da resposta à pergunta ‘Porque é que de noite é escuro?)

O Universo segundo Ptolomeu

Cláudio Ptolomeu ( 100 – 170 DC) foi um ‘homem de ciência’ de origem greco-romana, matemático e astrónomo, que viveu em Alexandria (Egipto) e que apresentou o primeiro diagrama do universo, em que a Terra aparece como o seu centro.

O Universo segundo Copérnico

Só no século XVI um astrónomo e matemático polaco, Nicolau Copérnico (1473 –1543) apresentou uma alteração enorme a esta visão do universo.

O Sol é o centro do universo e as estrelas circulam todas numa única órbita, concêntrica com as dos planetas.

O Universo segundo Digges

Thomas Digges (1546 – 1595), astrónomo e matemático inglês, visualizou o universo com uma alteração importante: as estrelas estavam disseminadas ‘por tudo o que era céu’, e não numa órbita concêntrica com o nosso sistema solar (o que era uma idéia absolutamente revolucionária para a época).

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Porque é que de noite é escuro?

Digges foi o primeiro ‘homem de ciência’ a colocar a pergunta ‘porque é que de noite é escuro’, mas não lhe deu especial importância, limitando-se simplesmente a assumir que as estrelas estavam suficientemente longe (o universo era ‘praticamente’ infinito) para produzir luz com uma intensidade suficiente para ser visível por nós.

E continuaram a aparecer sucessivas teorias, progressivamente mais elaboradas e complexas, para explicar o Universo: Em 1610, Johannes Kepler (1551-1630) astrónomo e matemático alemão (sim, é o tal das 3 leis fundamentais da mecânica celeste) revisitou o problema da escuridão noturna e concluiu simplesmente que tal se devia ao facto do Universo ser finito e, como tal, a escuridão entre as estrelas ‘não devia existir’, mas era devida à parede exterior que delimitava o universo!

‘E essa parede exterior era opaca e escura?’, perguntaria eu ao ilustre cientista que muitos problemas nos causou com as suas 3 leis! Eh eh eh!

Em 1720 o inglês Edmond Halley (1656 –1742), mais conhecido por ter sido dado o seu nome a um cometa, também estudou a escuridão noturna e concluiu – tal como Thomas Digges – que o universo era ‘infinito’ e que as estrelas estavam demasiado longe para o seu brilho ser visto por nós.

Cabe aqui uma referência especial ao astrónomo suiço Jean-Phillipe de Chéseaux (1718–1751) que provou geométricamente que a hipótese do universo ser infinito estava errada (fazendo o que os homens de ciência chamam a ‘disproof’ ), mas sem apresentar uma solução alternativa.

Seguiu-se Heinrich Olbers (o tal do ‘paradoxo’...) que em 1823 publicou a sua teoria de que o espaço estava cheio de poeira interestrelar e gases que obstruiam a progressão da luz proveniente das estrelas distantes (o termo galáxia ainda não era usado).

Evidentemente que a teoria não era válida porque – com o tempo – a poeira e os gases aqueceriam e emitiriam luz com brilho equivalente ao das estrelas que eram a origem da luminosidade.

O erro de Heinrich Olbers é, no entanto aceitável, porque até ao final do século XIX não havia evidência da existência nem de galáxias nem do facto de que a nossa Via Láctea é só uma entre os biliões de galáxias do universo, separadas por distâncias enormes (tão grandes que quase podem ser consideradas como ‘infinitas’...).

Tudo isto se alteraria nas primeiras décadas do século XX com a chegada de um ‘homem de ciência’ que colocou muitos dos mistérios da natureza ‘em pratos limpos’: Albert Einstein

O NOSSO UNIVERSO (em expansão permanente)

Em 1915 Einstein publicou a sua maior obra: a teoria geral da relatividade.

NOTA:

Não, não vamos por aí! Não vamos abordar essa teoria! Eh eh eh!

Ele descreve a gravidade e as relações ‘espaço-tempo’ duma maneira radicalmente diferente (e muito precisa e concreta), sendo que a teoria é tão complexa que –segundo consta – só outros dois ‘homens de ciência’ do seu tempo a conseguiram entender inicialmente. Não obstante isso, rapidamente se pensou que devia ser possível utilizar essa teoria para descrever as propriedades do universo. E de facto, assim aconteceu.

O astrónomo american Edwin Hubble (1889 – 1953) ficou famoso por ter descoberto que as até então chamadas nebulosas, eram na verdade galáxias, e que estas se afastavam umas das outras a uma ve-

locidade proporcional à distância que as separava (na realidade não são elas que se afastam umas das outras, mas sim o espaço entre elas que vai aumentando ... ‘aí está’ o universo em expansão!).

Não fiquemos no entanto com a idéia de que as galáxias não se movem. Elas movem-se. E como um exemplo anormal podemos citar que a galáxia Andrómeda está em rota de colisão com a nossa Via Láctea! Mas, a manter-se a situação detectada, ainda falta mais de um bilião de anos para a colisão acontecer. Podem ficar sossegados!Eh eh eh!

Edwin Hubble deduziu correctamente que, uma vez que o universo estava permanentemente em expansão, ele teria sido muito mais pequeno no passado. Logo, se andassemos suficientemente para trás no tempo, ‘tudo’ estaria concentrado, as galáxias estariam ‘umas em cima das outras’, não haveria ‘espaços livres’, e a pressão interior seria tão grande que a certa altura ‘tudo’ explodiria! (como uma autêntica ‘bomba’!). Assim terá nascido o Universo.

NOTA:

Só em 1950 é que o astrofísico britânico Fred Hoyle (1915 – 2001) denominou o nascimento do universo como ‘The BIG BANG’.

A SOLUÇÃO FINAL Recapitulando:

• A razão pela qual a noite é escura não é por o universo ter uma dimensão fixa e a escuridão ser o ‘resultado-consequência’ de termos batido no fim do Universo e aí não haver, evidentemente, qualquer luminosidade ou brilho (por aquilo que sabemos devido à potência dos actuais telescópios, o Universo continua em expansão e pode assim continuar ‘para sempre’).

• Não é por o brilho das estrelas mais distantes ser muito fraco; quanto mais longe

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Porque é que de noite é escuro?

vislumbramos, mais galáxias com milhões de estrelas aparecem, produzindo, em conjunto, uma luminosidade que reduziria a ‘escuridão’ existente entre as estrelas da nossa própria galáxia.

• Não é por a luminosidade vinda das ‘profundezas do universo’ ser absorvida por poeiras e gases. Através do tempo, as poeiras e gases brilhariam, emitindo luz, devido à permanente absorção da energia luminosa.

Não, a razão real da escuridão do espaço é mais ‘simples e profunda’ que as hipóteses mencionadas.

A noite é escura porque o Universo, não só teve o seu início com uma explosão inicial (BIG BANG), mas continua em expansão (devido a essa explosão) e ‘a luz das galáxias ainda não chegou cá’.

Embora a velocidade da luz seja um valor ‘colossal’, equivalente a dar 7 voltas à Terra num segundo (a luz não tem peso e por isso tem uma velocidade de propagação que é o limite cósmico da velocidade no nosso universo), ela não é assim tão impressiva, se considerarmos as distâncias –permanentemente em expansão – entre as galáxias. Mesmo entre galáxias ‘próximas’, a luz leva ‘anos’ a percorrer essas distâncias e a alcançar-nos.

NOTA:

Albert Einstein – ‘um curioso do caraças e que metia o bedelho em tudo’...eh eh ehmostrou brilhantemente – na primeira das suas teorias da relatividade em 1905 – que a velocidade de propagação da luz é o limite cósmico do nosso universo. Bem podem as centenas de ‘sábios e seus aprendizes’

do C.E.R.N.(a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, conhecida como CERN é o maior laboratório de física de partículas do mundo, localizado em Meyrin, na região em Genebra, na fronteira Franco-Suíça) tentar provar – entre outras coisas – recorrendo a meios extremamente avançados tecnologicamente (aceleradores de partículas) que há partículas sub-atómicas a moverem-se a uma velocidade superior à da luz (julgo que aqui há uns anos chegaram a anunciar isso ...afinal, tinham-se enganado nas contas).

Aliás, é o valor ‘finito’ da velocidade de propagação da luz que nos ajuda a resolver o paradoxo de Olber. Tendo o Universo uma ‘idade’ de uns 13,7 biliões de anos , apenas conseguimos ver as galáxias que estão a uma distância suficientemente ‘perto’ para a sua luz já ter tido tempo de chegar até nós.

O que torna o paradoxo de Olber extremamente interessante, é que a primeira resolução correcta foi baseada na intuição e não em conhecimentos científicos do seu autor, que inesperadamente foi um escritor e poeta americano do século XIX: Edgar Allan Poe.

» Sendo a sucessão de estrelas infindável, o céu deveria aparecer-nos com uma luminosidade uniforme, pois não haveria uma direcção sem qualquer estrela. A única situação em que poderemos compreender as zonas de escuridão que os nossos telescópios mostram, é que a distância em causa é tão grande, que a luz das estrelas existentes nessas zonas ainda não chegou até nós.»

Acontece que William Thomson (Lord Kelvin) físico, matemático e engenheiro britânico (1824-1907) publicou em 1901 a prova matemática desta ideia de Edgar Allan Poe.

Assim, a resposta à nossa pergunta-título (Porque é que a noite é escura?) é pura e simplesmente:

O Universo começou com uma enorme explosão (BIG BANG); devido a isso, continua a expandir-se a uma velocidade tal, que a luz da maior parte das estrelas existentes ainda não chegou até nós (nem ‘nunca’ chegará...).

Em 1934, Albert Einstein comentou nos seguintes termos o poema de Edgar Allan Poe, numa carta para um amigo:

Em 1848, no ano anterior à sua morte (com 40 anos) escreveu um ensaio como título: Eureka: A Prose Poem, que é uma notável peça literária. Na realidade, o ensaio é como que um tratado de cosmologia em que Edgar Allan Poe utiliza a sua intuição para especular sobre a origem do universo, a sua evolução e o seu fim. Tentemos uma tradução/adaptação da parte desta obra em que a escuridão da noite é analisada:

Eureka was eine schöne Leistung eines ungewöhnlich selbständigen Geistes.

‘Eureka’ - UM FEITO MARAVILHOSO DE UMA MENTE INVULGAR-

MENTE INDEPENDENTE.

Limito-me a referir que existem duas provas adicionais da existência do BIG BANG (para além da irrefutável evidência – actualmente comprovada – do universo es-

3 Assim como os arquelogistas recorrem a fósseis para determinar a idade da Terra, os astrónomos usam medições feitas a grupos específicos de estrelas. Determinando a idade das estrelas mais antigas, os astrónomos definem a idade mínima do Universo (que está calculada em 11 biliões de anos).

O ciclo de vida duma estrela (também se ‘apagam’, morrendo) é baseada na sua massa e, quanto maiores são, mais ‘combustível’ gastam na sua fusão permanente (e mais luminosas são). Medindo a radiação térmica existente no Universo, os especialistas já têm actualmente capacidade para determinar a densidade, a composição e a velocidade de expansão do Universo. E a sua idade. Os valores actuais apontam para 13,7 biliões de anos (com um nível de incerteza de 59 milhões de anos).

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Porque é que de noite é escuro?

tar em permanente expansão). Uma diz respeito ao facto de só a existência do BIG BANG permitir compreender a proporção de hidrogénio e hélio no espaço (quantificada pelos actuais astrónomos); a outra tem a ver com um fenómeno que é chamado ‘cosmic microwave radiation’ (que é ‘apanhada’ por rádio-telescópios como sinais ténues vindos do espaço longínquo e por vezes, até são apanhados por rádios e televisões normais! Éh eh eh ! ).

Mas fico-me por aqui (que ‘alívio’, não é?!)

Só um último ponto nesta ‘digressão’ cósmica:

Parece que a velocidade a que o universo se expande está a aumentar (portanto parece que, em vez de a gravidade – como seria de esperar – diminuir a velocidade da expansão, existe uma força em sentido contrário que impede a diminuição do ritmo da expansão do universo).

Parece pois que existe uma misteriosa força anti-gravidade, chamada ‘dark energy’, a actuar (e a idéia da existência duma força de repulsão cósmica mencionada por Einstein não parece tão ‘doida’ como já pareceu).

Tendo o universo aproximadamente uns 14 biliões de anos (bonita idade!), os cosmologistas actualmente acreditam que a expansão do universo como que tem ganho velocidade com o tempo. A ser assim, nunca voltará a haver uma concentração de ‘tudo’, que poderia dar origem a outro ‘BIG BANG’. Eventualmente, poderá sim acontecer uma morte por falta de calor (‘heat death’) , na medida em que ‘tudo’ se distanciará progressivamente de ‘tudo’.

Mas, estejam descansados: se tal acontecer, já não estaremos cá para ver!

Epílogo:

O professor Jim Al-Khalili termina o seu livro colocando 3 conjuntos de perguntas (algumas delas muito para além do tema em causa) que divide nas seguintes categorias: as que espera ver resolvidas durante a sua vida (1), as que pensa que serão resolvidas, mas não durante a sua vida (2) e as que pensa que nunca serão satisfatoriamente resolvidas (3)

Três exemplos de cada uma das categorias:

(1)

Como são as memórias arquivadas e recuperadas no nosso cérebro?

Poderemos prever os tremores de terra (terramotos)?

Quais são os limites do que se chama ‘conventional computing’?

(2)

Onde e como acontece a consciência no cérebro?

Qual a forma geométrica (‘shape’) do universo?

O que é que existiu antes do BIG BANG?

(3)

Temos realmente livre arbítrio (‘free will’)? Há universos paralelos?

(Se existiu alguma coisa antes do BIG BANG), o que é que provocou a sua existência?

A primeira questão de cada um dos três conjuntos de perguntas mostra – como os físicos teóricos sabem – que, à medida que o estudo da física é aprofundado, começa a ter cada vez mais ligações com áreas da filosofia. (Não, isso não é para aqui chamado! Eh eh eh!)

NOTA FINAL 1:

O método científico usa desde sempre modelos explicativos que depois tenta provar não serem válidos (‘disproof’ )

Assim avança a ciência. ‘O que fica de pé’, é a verdade actual.

NOTA FINAL 2:

Mas a explicação ‘Porque o Sol se foi embora e só volta amanhã de manhã’ é muito mais ‘apelativa’, não é?!

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Engenheiro Manuel Rocha

Engenheiro Manuel Rocha

FIGURA INESQUECÍVEL DA ENGENHARIA PORTUGUESA

Ao folhear o nº 166, de Março/Abril do presente ano, da revista INGENIUM, da Ordem dos Engenheiros, fui surpreendido por uma notícia relativa à condecoração do Engº Manuel Rocha, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. A minha surpresa não foi devida à condecoração em si, pois Manuel Rocha, figura maior da engenharia portuguesa e mundial, é digno das maiores honrarias. A minha surpresa resultou do facto de Manuel Rocha ter falecido há já 38 anos e estar ainda a ser condecorado, a titulo póstumo, nos dias de hoje. Este facto extraordinário, que só honra o Presidente da República que concedeu a condecoração, é motivo de júbilo para a nossa comunidade, pois Manuel Rocha, de seu nome completo Manuel Coelho Mendes da Rocha, foi Aluno do Colégio Militar, onde ingressou no ano de 1923 com o número 166, sendo graduado em Ajudante de Comandante de Batalhão, no ano lectivo de 1929/1930, em que concluiu o seu curso no Colégio. Transcrevemos de seguida a notícia da condecoração, tal como foi publicada na revista INGENIUM.

«No passado dia 22 de Abril, o Engenheiro Manuel Coelho Mendes da Rocha, Presidente Nacional da Ordem dos Engenheiros entre 23 de Julho de 1976 e 2 de Abril de 1979 e fundador e antigo Director do Laboratório Nacional

de Engenharia Civil, foi condecorado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República, tendo as insígnias sido recebidas por um dos netos do homenageado, Miguel Rocha. Nome de referência da Engenharia a nível mundial, Manuel Rocha licenciou-se em Engenharia pelo Instituto Superior Técnico (IST), em 1938 e fez estágios no Massachussets Institute of Technology (E.U.A.) e na Escola Politécnica Federal de Zurique. Entre outros cargos, foi Professor Catedrático do IST, Presidente da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas, Presidente do Conselho Superior dos Laboratórios de Engenharia Civil e Ministro do Equipamento Social e do Ambiente.

Foi condecorado como grande Oficial da Ordem Militar de Cristo, Grande Oficial da Ordem de Santiago (Ciências e Artes), Comendador da Ordem da Coroa (Tailândia) e Oficial da Legião de Honra (França), entre outras condecorações e distinções.

Recebeu o grau de Doutor «honoris causa» pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela Universidade do Porto, Pela Universidade Federal da Baía, pela Universidade de Toulouse e pela Universidade Técnica de Lisboa.»

Do antecedente, na ZacatraZ nº193, de Outubro/Dezembro de 2013, já tivemos opor-

tunidade de homenagear Manuel Rocha, por ocasião do centenário do seu nascimento. Do longo texto então apresentado, respigamos duas citações, feitas por engenheiros que tiveram o privilégio de com ele trabalhar e conviver. O Engº Moura Esteves, autor da sua fotobiografia, escreveu «Manuel Rocha foi um insigne investigador, professor, cientista, grande cidadão e português, espirito clarividente e de análise rigorosa, com uma prodigiosa capacidade de organização, que veio a constituir o cimento de toda a sua acção». Um colega americano, com quem trabalhou no Massachussets Institute of Technology, escreveu «My own life has been quite unremarkable and it has been one of my greatest pleasures to have had the honor of the friendship of a few very remarkable men; Manuel was the first and the greatest of them».

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957 Engenheiro Manuel Coelho Mendes da Rocha (166/1923).

O Aluno do Colégio Militar na Sociedade

SEMINÁRIO SUBORDINADO AO TEMA

O perfil do Aluno à saída do Colégio Militar, que teve lugar no passado dia 4 de Junho.

Exmo. Sr. Almirante CEMGFA, Exmo. Sr. Coronel Director do Colégio Militar, Exmo. Sr. Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Exmas. Entidades e Convidados, Caros membros da Família Colegial,

Antes de mais, permitam-me duas notas prévias:

Em primeiro lugar, em nome da AAACM gostaria de agradecer o convite que nos foi endereçado pela APEEACM para estar presente neste seminário: o nosso muito obrigado.

Em segundo lugar, sublinhar que as ideias que vou partilhar hoje, vinculam-me só a mim, como não podia deixar de ser.

Isto é tanto mais relevante quanto tenho que deixar algumas declarações de interesses: − é que para além de Antigo Aluno do Co-

légio Militar (CM), com um apreço e um sentimento de dívida para com esta casa, incalculáveis; sou pai de um actual aluno do Colégio Militar, o que significa, se outra razão não houvesse, que sou parte interessadíssima no tema.

Dito isto, vou procurar ser breve na partilha de algumas ideias, com a esperança que possam deixar algumas pistas para a discussão que se seguirá.

A educação de uma criança e de um jovem tem duas componentes fundamentais. A formação escolar e a formação humana.

E estas duas dimensões, tão igualmente fundamentais na formação de um Homem e de uma Mulher, estão bem respaldadas no atual Regulamento Interno (RI) do CM:

Neste âmbito o RI do CM é muito claro e muito atual:

O Colégio Militar desenvolve o seu Projeto Educativo (PE) de acordo com os princípios orientadores (pilares do Conhecimento) definidos no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI:

− Aprender a Ser, o que pressupõe o desenvolvimento da autonomia, do discernimento e da responsabilidade pessoal;

− Aprender a Conhecer, o que também significa aprender a aprender, exercitando a atenção e a concentração, a memória e o pensamento;

− Aprender a Viver em Comunidade, o que implica compreender e respeitar o outro, as diferenças e reconhecer as interdependências sociais.

Vou começar por abordar a formação escolar.

A formação escolar é a primeira função de uma escola: garantir que as crianças aprendem e o sucesso escolar é o primeiro indicador deste aspecto.

E se por um lado é relevantíssimo apoiar e reforçar o crescimento do conhecimento, também é importante desenvolver o gosto por aprender. A componente escolar, não só deve ter como objectivo transmi-

55 O Aluno
Militar
do Colégio
na Sociedade

O Aluno do Colégio Militar na Sociedade

tir conhecimento, mas também transmitir estrutura e capacidade para obter mais conhecimento.

É fundamental ensinar a aprender.

O sucesso escolar é condição necessária à formação de excelência. No entanto, não é condição suficiente.

É que o conhecimento é quase conjuntural dada a enorme evolução tecnológica e científica da sociedade actual, por oposição à componente humana cuja natureza é estruturante: e é este o pendor da educação no Colégio.

Para obtermos sucesso na completa formação de um homem de valor, é imperativo que ele receba também, uma qualificada formação humana.

A razão pela qual tantos de nós, ao longo das nossas vidas pessoais e profissionais, depois de sairmos do Colégio validamos positivamente os nossos interlocutores pela simples presença da barretina na lapela, é porque acreditamos que ter andado no Colégio Militar é potenciador de um conjunto de qualidades.

Para começar a Honestidade, a Autonomia, a Pontualidade, o Empenho e o Rigor.

Por outro lado, o Respeito. O respeito pela ordem, pela organização e pela hierarquia. Mas não um respeito acrítico. Pelo contrário, o respeito associado a uma convicção de que tudo pode ser questionado, depende de “onde”, “como” e “quando”.

E finalmente a Responsabilidade e o Brio. São estas duas qualidades que fazem com que qualquer que seja a tarefa entregue, sabemos que não vai ficar esquecida, mas também sabemos que vai ser levada a cabo com uma dedicação que permitirá que o resultado seja o melhor possível. Aceitando que o perfil que tracei, grosso

modo, corresponde à visão que temos do Antigo Aluno do Colégio Militar, a pergunta mais relevante é de onde vêm estas qualidades? Não tenho grandes dúvidas que há dois factores fundamentais:

- A EDUCAÇÃO DE BASE MILITAR;

- UMA VIVÊNCIA CONJUNTA MUITO INTENSA E MUITO PARTILHADA;

A educação de base militar tem como um dos vértices a disciplina, da qual resulta:

- A AUTONOMIA - A PONTUALIDADE, - O ESFORÇO

- E O RESPEITO PELAS HIERARQUIAS.

Andrew McGabe, antigo director do FBI, dizia há pouco tempo sobre a sua organização e a formação que lá obteve. Passo a citar:

“A sua natureza é para-militar. O seu sucesso depende de regras e de uma hierarquia clara.

São conceitos simples mas que nos permitem perceber qual a nossa posição.

A pontualidade não é opcional.

Se tens 20 minutos entre uma aula de educação física e o próximo compromisso e se no entretanto tens que fazer 500 metros, tomar banho, mudar de roupa, fardar-te e estar formado, tu fazes isso acontecer.

A frase é: fazes isso acontecer.” (fim de citação)

Estas palavras que citei estão tão presentes na experiência de um Aluno do Colégio Militar que me arrepio ao lê-las.

Mas há mais dois vértices fundamentais na educação de base militar.

O segundo, uma actividade física intensa, cujo principal desiderato não é a formação

de atletas, mas potenciar uma sã actividade intelectual.

E em terceiro, um uniforme, que como o nome indica, nos torna iguais aos olhos uns dos outros.

Curiosamente, há um factor que normalmente passa despercebido quando falamos da farda. A farda dá um maior sentimento de pertença a um grupo. Mas a pertença a um grupo não nos rouba a individualidade.

Pelo contrário, obriga-nos a reforçá-la e a compreendê-la. Mas impele-nos a fazê-lo sem ser à custa dos outros; sem ser à custa do grupo. Obriga-nos a conquistar a nossa posição pela nossa valorização e não pela desvalorização do outro.

Daqui resulta o segundo factor de que vos falei: uma vivência conjunta muito intensa. Não há como fugir do tema. O regime de internato tutelado pelo Código de Honra é o principal potenciador desta vivência.

É esta vivência em conjunto que permite um amadurecimento da camaradagem, através da sua prática reiterada;

O debate dentro do grupo reforça a confiança pessoal, resultando numa maior autonomia de cada um;

O efeito de camarata potencia a aprendizagem do valor da partilha;

Mas esta partilha faz-se em constante competição com os restantes camaradas: uma competição positiva, sem deslealdade, mas com bravura e orgulho.

Concluindo, provavelmente dir-me-ão: mas o objectivo era que eu falasse do aluno do Colégio na Sociedade.

O objectivo do tema não seria falar sobre o perfil do Antigo Aluno?

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Se grande parte foi uma explicação do que a educação que o Colégio proporciona terá sido cumprido o repto que me foi lançado?

Provavelmente, deveria ter falado dos 5 Presidentes da República que passaram pelo Colégio Militar e como esse facto é ímpar em estabelecimentos de ensino em Portugal. Ou de como, em diferentes momentos da vida do país, o Colégio formou personalidades na área das artes, das ciências, das letras, da economia, da vida civil e militar.

Acontece que ao pensar no perfil do Antigo Aluno não consigo dissociar o resultado dos valores que enquanto jovens foram aprendidos, experienciados e vividos no Colégio; e que enquanto adultos nos acompanharam ao longo da vida.

Definir um antigo aluno é enumerar estes princípios:

• HONESTIDADE

• AUTONOMIA

• EMPENHO

• RIGOR

• RESPEITO

• RESPONSABILIDADE

Os valores que revemos ao longo dos tempos nos Alunos do Colégio Militar são obra de uma forte formação escolar e humana. É importante não esquecer quais as bases que sustentaram esse sucesso.

Ninguém tem dúvidas que os tempos mudam e que, a essas mudanças na sociedade têm que corresponder alterações também na vivência do Colégio Militar.

Mas mudar por mudar não é uma virtude. Sejamos criteriosos na definição dessa mudança.

Antigos Alunos em Destaque

Antigos Alunos em Destaque

José Fernando Decoppet dos Santos Coelho (379/1957)

Coronel Engenheiro Militar

No período anterior ao “25 de Abril“ após o “Golpe das Caldas” (16 de Março), “ foi convidado - pelo seu Camarada de Curso do Colégio, o 8/1957 Luís Macedo - a estudar e planear a emissão de um sinal radiofónico para o eventual início de operações militares clandestinas e a ocupação duma estação emissora de radiofusão que permitisse o seu controlo e difusão das operações do MFA, junto da população”.

Obrigado

OS ANTIGOS ALUNOS E A ORDEM DA LIBERDADE

Coronel Engenheiro Militar, na altura Capitão, aderiu ao Movimento das Forças Armadas (MFA) em 1973 tendo sido designado seu delegado junto dos elementos aderentes nas Unidades Militares da Região Militar do Centro, tendo participado activamente nas reuniões clandestinas promovidas, e na dinamização do MFA com colaboração importante de outro Antigo Aluno, o 56/1949, Major Mário Brandão Rodrigues dos Santos.

Nesta missão contou com a colaboração de outro Antigo Aluno na altura Director do Rádio Clube Português – o 78/1957 Frederico Rosa Santos, igualmente seu Camarada de Curso – em duas visitas às instalações no âmbito do planeamento da operação de ocupação da estação, o que veio a correr na madrugada de 25 de Abril, integrado no “10º Grupo de Comandos do MFA“.

Com a atribuição da Ordem da Liberdade, é assim, mais um Antigo Aluno agraciado com esta distinção na continuação de nove outros Antigos Alunos que a mereceram em resultado da sua participação no “25 de Abril”:

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Antigos Alunos em Destaque

A ORDEM DA LIBERDADE DESTINA-SE A DISTINGUIR SERVIÇOS RELEVANTES PRESTADOS EM DEFESA DOS VALORES DA CIVILIZAÇÃO, EM PROL DA DIGNIFICAÇÃO DA PESSOA HUMANA E À CAUSA DA

Grau Data

Grã Cruz

Grã Cruz

Grã Cruz

Grã Cruz

Grã Cruz

Grã Cruz

Grã Cruz

Grande Oficial

Grã Cruz

Oficial

24/09/1983 01/10/1985 01/10/1985 01/10/1985 01/10/1985 11/03/1986 11/03/1986 30/01/2006 09/06/2014 21/05/2019

Da página oficial das Ordens Honoríficas:

A Ordem da Liberdade é uma das Ordens Honoríficas Nacionais cuja criação resulta de um acontecimento histórico de enorme importância para Portugal, a Revolução de 25 de Abril de 1974. Foi criada com o claro objectivo de agraciar os que se notabilizaram em defesa dos ideais mais caros aos revolucionários.

No Decreto-Lei n.º 709-A/76, de 4 de Outubro, diploma que institui a Ordem, considera-se que as ordens honoríficas então existentes deixavam “de contemplar toda uma gama de méritos cívicos assinaláveis: os daqueles cidadãos, nacionais ou estrangeiros que se distinguiram pelo seu amor à liberdade e pela sua

Nº Ano de Entrada

210/1951 10/1943 162/1943 115/1941 394/1921 8/1957 44/1953 362/1955 92/1934 379/1957

LIBERDADE.

Nome

José Eduardo Fernandes de Sanches Osório

Pedro Júlio de Pezarat Correia

Vasco Fernando Leote de Almeida e Costa

Nuno Manuel Guimarães Fisher Lopes Pires

Manuel Alfredo Tito de Morais

Luis Ernesto Albuquerque Ferreira de Macedo

Duarte Nuno Ataíde Saraiva Marques Pinto Soares

Mário Delfim Guimarães Tavares de Almeida

Eduardo Lourenço de Faria

José Fernando Decoppet dos Santos Coelho

devoção à causa dos direitos humanos e da justiça social, nomeadamente na defesa pelos ideais republicanos e democráticos”.

Foi, por isso, criada a nova ordem, “destinada a distinguir e galardoar serviços relevantes prestados à causa da democracia e da liberdade”. Com a Ordem da Liberdade foram agraciados os militares que lideraram a Revolução dos Cravos e muitas personalidades que se distinguiram pela defesa dos Direitos Humanos.

Na legislação orgânica subsequente foram ligeiramente modificados os fins da Ordem da Liberdade, para passarem a fazer referência à defesa dos valores da civilização, da dignificação do Homem e da liberdade.

O distintivo da Ordem da Liberdade é um medalhão constituído por um círculo central de esmalte branco com uma cruz grega de esmalte azul perfilada de ouro, envolvido por coroa circular de ouro lavrada em forma de raios divergentes do centro, circundada por outra coroa circular de esmalte azul-ferrete filetada de ouro pelo exterior, tudo envolvido por onze voos estilizados de esmalte branco perfilados de ouro e sobrepostos alternadamente. O medalhão é encimado por uma chama esmaltada de vermelho, realçada de ouro, contida numa capela de loureiro de esmalte verde com as folhas perfiladas de ouro, e a fita amarela com uma lista central branca.

As cores da Ordem são o amarelo e o branco.

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Placa Fita de Grande-Oficial
Grande
Banda de Grã-Cruz

Antigos Alunos em Destaque

Eduardo Manuel Palma e Santos Alves Carpinteiro

Médico. Cirurgião

ENTREVISTA A EDUARDO CARPINTEIRO, 658/1974

Eduardo Manuel Palma e Santos Alves Carpinteiro, (658/74) tem dois filhos, é Cirurgião Ortopedista licenciado em Medicina pela Universidade Nova de Lisboa, com vasta prática clínica e actividade científica, formador e membro de “faculty” em cursos e de diversas sociedades científicas internacionais...

Gostava de começar por te pôr algumas questões relacionadas com a tua passagem pelo Colégio e a tua vida profissional. Que processo familiar te levou ao Colégio? E com um irmão gémeo...

Nós não tínhamos tradição familiar de frequência no Colégio. Fizemos a instrução primária no Colégio S. João de Brito. Uma ocasião em 1973, assistimos a um programa da RTP feito pelo Fernando Pessa que assinalava os 170 anos do CM. Ficámos os dois conquistados e dissemos um ao outro: Vamos pedir ao Pai para ir para o CM! e lá fomos! O meu irmão era o 535/74 e eu o 658/74.

Como foste como aluno, e como encaras mais de 40 anos após entrares para o Colégio, o período que lá viveste?

Fui um aluno medio e que não se distinguiu particularmente em nenhuma área. Foi um período intenso que norteou toda a minha formação como homem. Recordo vivamente e com intensidade aqueles anos que me proporcionaram maioritariamente experiências muito positivas. Tenho a nitida percepção da importância do CM na construção da minha vida em todos os aspectos.

... e em que é que te marcou teres sido aluno do Colégio?

(658/74)

Em primeiro lugar os nossos mestres, militares e civis, e a qualidade dos ensinamentos que nos transmitiram e acima de tudo o estimulo que nos deram para a aquisição do conhecimento e curiosamente já fortemente cunhado do espirito cientifico. Em segundo lugar a disciplina e o ambiente castrense que não só nos deram bons hábitos como nos incutiram os valores da camaradagem, da lealdade e do respeito e que são o cimento da nossa vida tão bem sintetizados nos nossos lemas “Servir” e “Um por todos, todos por um”. Também é de referir a independência e o desembaraço característicos dos alunos do Colégio e que tão cedo se aprendem e se ganham!

Lembras-te de alguns acontecimentos de que guardas memória?

Lembro-me de muitos! Naquela altura estávamos a viver um período conturbado da nossa história, o famoso PREC. A certa altura numa visita à RTP deparámos com o primeiro debate político feito em televisão (Mário Soares versus Freitas do Amaral) interagindo com os oponentes e até subtraindo os slides que projectavam os símbolos dos partidos e que devolvemos mais tarde à procedência para não atrasar a primeira campanha eleitoral após 25/04!

O acolhimento de centenas de retornados nas instalações colegiais e com os quais ainda chegamos a partilhar espaço no início do ano lectivo.

O 11 de Março de 1975 com os conflitos protagonizados por dois ex-alunos em campos opostos (Spínola e Costa Gomes) e o reflexo destes no batalhão colegial e nos familiares. As famigeradas sessões de esclarecimento e como demos uma “corrida em osso” aos revolucionários pró-soviéticos da altura! Os desfiles na Avenida, não só no 3 de Março,

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Antigos Alunos em Destaque

mas também noutras datas e que eram feitos em ambiente tenso com muitos detractores do Colégio a assistir e também muitos Antigos Alunos e amigos do Colégio.

Noutro contexto, a altura em que o Sr. Padre Miguel (conhecido pelo Carioca, alcunha já herdada) me implorou que abandonasse o coro e que fosse “brincar para o recreio” devido á minha péssima voz e o desgosto tão grande que tive de não me deixarem cantar! A primeira vez que fumei um cigarro com o meu irmão no monte Sinai e fomos logo caçados pelo Comandante de Companhia o Capitão “peidão” o que nos valeu uma participação para casa e 25 pontos negativos no comportamento. Nunca mais fumámos no Colégio…

As idas aos concertos da Gulbenkian que, para além da música, nos proporcionavam belas sonecas e boas vistas das miúdas que lá iam.

Recordo com muita saudade o curso de vela que fiz com outros (muito poucos) na Base Naval do Alfeite e que me deu o gosto pelas actividades náuticas.

Mais tarde, os chás dançantes eram uma ocasião fabulosa e enquanto lá estive não perdi um!

As visitas à unidades militares que geralmente eram espectaculares.

A semana de campo em Mafra em que num exercício um de nós deu um pontapé numa granada ofensiva ferrugenta e abandonada e a coragem de um Alferes o “espinafre” de a desarmar granjeando a admiração e respeito de todos. A mocada fazendo eu parte dos “espanhóis” foi também um marco na minha vida colegial.

Marcou-me particularmente a doença do meu irmão gémeo, o Luís, o 535, que acabou por ser fatal após quase 3 anos de sofrimento. Acompanhei-o e fui dador de medula óssea por duas vezes, quando ele foi tratado e transplantado em Londres, cida-

de onde infelizmente vivi muito tempo, alternando com idas e vindas para o Colégio.

Como ocorreu a tua transição para a Faculdade após a saída do Colégio?

A minha saída do Colégio foi voluntária, mas nada desejada. No final do meu 5º ano e ainda com o falecimento do meu irmão muito presente, sofri uma queda a cavalo numa aula de equitação com o nosso Major Athaíde. Fiz uma fractura-luxação grave do cotovelo esquerdo e tive que ser operado no Hospital Militar Principal (HMP), à Estrela. A recuperação demorou um ano e eu entrei no grupo dos convalescentes passando a viver na “enferma”. Queria ser médico e as notas necessárias eram altas, tal como hoje. Apercebi-me que necessitava de outro ambiente para me poder concentrar no estudo e pedi ao meu pai para sair. Saí antes da melhor parte e cheio de pena!

“Aterrei” num liceu e rapidamente verifiquei quão boa era a nossa formação no Colégio. De aluno mediano passei para o grupo dos melhores. Curioso, que era a disciplina de trabalho que me distinguia! (eu que era considerado meio “baldas”).

Terminei o 12º ano com um honroso 20 a matemática no exame final, eu que era um coxo nesta matéria no Colégio!. Entrei para a Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e junto comigo entraram dois camaradas e bons amigos e grandes alunos do Colégio, o 685 - Mendonça e o 216 - Sarreira Lopes. Somos os três médicos do nosso curso. Dois ortopedistas e um gastroenterologista.

...e que influência teve o Colégio na tua vida profissional?

Começo com uma história de coincidências fantásticas e que fez do Colégio um factor determinante na minha vida profissional: Terminado o curso de Medicina, feito o internato geral e o famigerado exame de entrada para a especialidade (hoje conhecido como o

“Harrison”) e colocado como interno de Ortopedia e Traumatologia nos Hospitais Civis de Lisboa, mais concretamente no Hospital de Curry Cabral, fui assistir ao meu primeiro Congresso de Ortopedia, evento que se deu nas instalações da Universidade Católica em Lisboa. Eis senão quando fui abordado por um colega mais velho que de imediato reconheci como o Cirurgião que me tinha operado no HMP na sequência da queda a cavalo, o Dr João Mendonça (já, precocemente, falecido). Perguntou-me se estava bem e admirou-se por eu ter seguido a mesma especialidade. Despedimo-nos, mas num momento de hesitação o Dr. Mendonça pergunta-me:

“Olha lá tu não te importarias de me vir ajudar nas cirurgias do Hospital Particular de Lisboa às segundas e quintas entre as 07 e as 09h?”.

Respondi afirmativamente, mas sem sequer reconhecer o alcance da minha resposta. O Dr. Mendonça era um grande Cirurgião, completamente à frente do seu tempo e pioneiro nas técnicas artroscópicas mini invasivas articulares. Com ele aprendi o que ninguém aprendia à época, só lá fora. Se não fosse a queda do cavalo no Colégio, o meu percurso teria sido muito diferente!

Não posso deixar de referir outro tipo de influência que o Colégio tem na nossa vida profissional. São os nossos camaradas que trabalham na mesma área ou em outras afins e que se tornaram parte do nosso dia a dia. Aqui fazemos uma menção muito especial ao Nuno Pombeiro (70/1973) que para além de nosso grande amigo é um exemplo de espírito colegial!

E quanto à tua actividade científica em Portugal e no plano internacional, nomeadamente como membro de sociedades científicas, autor principal de largas dezenas de comunicações em congressos e reuniões científicas, Revisor convidado do Open Orthopedic Journal e Consultor de diversas organizções, etc.

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Antigos Alunos em Destaque

Como se estabeleceram essas ligações? Como se compatibilizam estas actividades com uma prática clínica diária?

Desde há muitos anos que temos uma área de focagem, a cirurgia do Ombro e do Cotovelo. Isto é como qualquer outra profissão, o interesse e a dedicação levam ao aperfeiçoamento e à actualização constante. Começámos a operar, a cada ano que passava tratávamos mais doentes e à medida que íamos ganhando experiência e que a casuística ia aumentando, fomos apresentando os nossos resultados sob a forma de comunicação nos congressos e reuniões científicas nacionais. Seguiram-se os internacionais e a certa altura começaram a convidar-nos, primeiro em Espanha, depois no resto da Europa e ultimamente nos EUA. Iniciámos também uma actividade regular e frequente de formação de prática cirúrgica artroscópica a especialistas (em cadáver), primeiro a nível nacional e depois seguiram-se formações a nível internacional, e de novo na Europa e nos EUA. Por outro lado, publicámos alguns artigos e tivemos alguns prémios.

No nosso caso é a prática clínica que possibilita a actividade científica uma vez que estamos a falar de investigação clínica. Claro que tudo isto representa esforço extra e fora do horário de trabalho, por vezes com prazos a cumprir e consequentemente “stressante”, mas quem corre por gosto não se cansa!

MUDEMOS DE TEMA: O COLÉGIO DE HOJE

O que é para ti o Colégio e como vês o Colégio de hoje? Qual a sua missão?

O Colégio, para mim, é o marco mais importante da minha juventude. Foi nele que me fiz homem.

O Colégio de hoje é forçosamente diferente daquele que frequentei. Nesses tempos estávamos a sair da guerra de África e Portugal tinha acabado de abdicar, por força das circunstâncias, do seu estatuto de domínio

territorial ultramarino. Os nossos heróis eram os nossos militares combatentes, muitos deles eram os nossos pais e os nossos oficiais e alguns professores que também vinham desse contexto. Quase todos nós tínhamos passado parte ou quase toda a infância em África, no nosso caso em Moçambique, mas isso era apenas o contexto porque os fins não mudaram. O Colégio hoje parece-me pujante e cheio de vitalidade porque soube acompanhar os tempos e abriu as suas portas. Não é por acaso que a instituição já tem mais de 200 anos. O facto de ser misto e ter ensino primário só o valoriza e acrescenta e, consequentemente, as probabilidades de extinção diminuíram drasticamente.

A sua missão no essencial não mudou, ao contrário do que se possa pensar. Como escola de excelência deve preparar o melhor possível os seus alunos, mas o mais importante são os valores que imprime. O nosso país necessita de jovens com esta preparação e estrutura moral para sobreviver, e isto em todas as áreas. Os militares e os civis oriundos do Colégio têm a obrigação de procurar a excelência profissional e de exemplo de vida. Para mim é nisto que o Colégio nos formata. Há bons e maus por toda a parte, mas o fundamental é que os bons sejam a larga maioria que é o que julgo que sempre aconteceu.

Constatas grandes diferenças relativamente ao teu tempo? E como imaginas a evolução que o Colégio pode ou necessita de ter?

Esta pergunta já está respondida na anterior. O futuro tem sempre a mesma receita: Disciplina, Valores, Excelência e Exigência. O Colégio deve sempre estar à frente do seu tempo e o espírito cientifico e da modernidade juntamente com o gosto pelo conhecimento têm que ser permanentemente cultivados. Só conhecendo e sabendo é que se consegue questionar e depois por esta via produzir novos pensamentos e aquisições em todos os campos.

E DOS ANTIGOS ALUNOS

Desde quando és sócio?

Desde que sai do Colégio, mas com muitas desatenções da minha parte... Vamos resolver!

O que pensas que deve ser o papel da Associação no futuro imediato e a mais prazo?

A Associação deve ser um agregante da família colegial, isto é, deve promover reuniões entre Antigos Alunos e Alunos, sejam elas de que natureza forem (convívios, praticas desportivas, solenidades, comemorações e outras). Deve, no meio de tudo, isto exaltar os valores e o espírito colegial e apontar sempre os bons exemplos a seguir, quer os contemporâneos quer os que já passaram. Nunca deve tomar qualquer partido politico ou religioso.

Na tua profissão és conhecido por dares grande apoio aos Antigos Alunos; como é isso? Tens algumas histórias engraçadas?

Dou todo a apoio que posso, mas por vezes não tanto quanto desejaria: a família colegial tem sempre um lugar especial na minha prática clínica e é alvo da maior atenção.

Aqui há uns tempos tratei um Antigo Aluno que numa das consultas ofereceu umas Barretinas autocolantes e verificando que eu tinha sempre o meu computador pessoal aberto na secretária me “obrigou” a pôr uma dessas Barretinas na sua cobertura dizendo-me: “ó pá tens que pôr aí isto para não deixares escapar nenhum gajo que não traga a Barretina!” Desde então quem quer que entre no meu gabinete não pode deixar de reparar e assim sou frequentemente identificado como Antigo Aluno e sei logo quem são os colegiais! E acreditem que são muitos!

PARA FINALIZAR, ... O DESPORTO

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O que praticas? Do que mais gostas? Consta que és altamente tecnológico nas tuas bicicletas...e que gostas de cavalos…

Faço Triatlo de longa distância. O ciclismo é aquilo de que mais gosto. Desde há cerca de 3 anos. Há cerca de 6 anos cheguei a uma encruzilhada. Não tinha hábitos de vida saudáveis e estava a trabalhar em excesso. Comecei modestamente a pedalar curtas distâncias com uma bicicleta urbana muito pesada e com o único objectivo de perder peso e fazer algum exercício. Um dia tratei o dono de uma loja de bicicletas que me explicou umas coisas e me vendeu uma grande máquina que já era equipada com mudanças electrónicas! imagine-se!,.. não existiam cabos. Equipei-me também com toda a parafernália para medir os parâmetros fisiológicos e para navegação GPS. A partir de então comecei a fazer quilómetros e nunca mais parei. Já tenho duas bicicletas, uma de estrada e outra para triatlo…

Depois alguém que trabalha comigo entusiasmou-me para começar a correr e dai ao nadar e ao triatlo foi rápido. Sempre gostei de cavalos, mas no Colégio quase que fazia parte da LAC (liga anti cavalo...)! o ensino da equitação não funcionava bem para todos. O meu pai, que é meu colega e também se dedica à lavoura, fundou há cerca de 40 anos uma coudelaria de cavalos de raça lusitana que é dirigida por um irmão meu veterinário. Sempre contactei de perto com o mundo equestre, mas nunca tive jeito para montar. Os meus filhos foram cavaleiros de obstáculos e durante cerca de 10 anos tive dois cavalos de desporto. Colaborei também muito tempo como médico com a Sociedade Hípica Portuguesa onde convivi com muitos Antigos Alunos.

Que sucessos competitivos tens tido e onde?

Os sucessos traduzem-se na finalização das provas em que participo. Tenho 54 anos e o que me interessa é o exercício em si, o bem-estar que ele produz e também o lazer e convívio que a prática desportiva me proporciona.

Já participei em várias provas de ciclismo, os conhecidos “grandfondos”, Arrábida, Évora, Santarém e outras. Para dar um exemplo de calendário desde Setembro de 2018 já fiz dois Triatlos de longa distância (Ironman 70.3 de Cascais e triatlo 70.3 de Setúbal), e com um camarada de curso, o Francisco Sancho, o Tróia – Sagres em bicicleta de estrada (demorámos cerca de 7 horas!), a meia maratona de Cascais, o Swiming Challenge de Cascais (2 Km) e preparo-me para repetir, novamente, o Ironman 70.3 de Cascais em Setembro.

E terminemos com uma “consulta médica”; falemos agora com o médico. Como é que um médico que pratica desportos violentos vê as consequências a prazo de desportos violentos (iron man)? Que fenómenos biológicos podem ocorrer?

Não há nada que se faça que não tenha consequências. O importante é que no balanço final os benefícios superem os malefícios. O corpo humano tem uma capacidade de adaptação e regeneração espantosas.

O triatlo de longa distância existe em 2 modalidades: o grande com 140,6 milhas no total da distancia percorrida e o médio com 70,3 milhas.

Este desporto curiosamente é preferido por atletas mais velhos por vários motivos entre os quais se encontram mais tempo disponível e vida mais estável. Por outro lado, a nível fisiológico verifica-se que acima dos 30 anos existe maior resiliência, a composição muscular no que respeita à percentagem de fibras lentas e rápidas começa a alterar-se e a predisposição para o exercício aeróbio de longa duração aumenta.

A chave é a motivação, quer intrínseca, quer extrínseca. Esta última vem daqueles que nos rodeiam, familiares e amigos e inclusive os das redes sociais, enquanto a primeira tem a ver com o gosto pela actividade desportiva, a competitividade e pela aquisição das competências que melhoram o desempenho. Tudo

isto cresce à medida que se completam provas e se atingem objectivos o que no nosso caso constitui a recompensa.

O conhecimento biológico é muito importante porque ajuda a não cometermos erros que nos impeçam da prática desportiva até ao mais tarde possível na idade.

Conhecer os limites, treinar adequadamente, valorizar o treino de força (ginásio) como básico para este desporto e respeitar os tempos de repouso e recuperação é o que importa para que este tipo de actividade não se torne numa violência. Na verdade e se analisarmos o universo dos praticantes desta modalidade verificamos que a grande maioria é saudável e não tem doenças incapacitantes do aparelho locomotor. Os escalões etários superiores a 50 anos têm milhares de participantes e estes vão mantendo a sua participação até muito tarde e com performances muito razoáveis. Por outro lado, verifica-se que a população sedentária e com excesso de peso sofre, incomparavelmente mais, de doenças articulares por exemplo (fora as outras). Ninguém é eterno e os desportistas não têm uma longevidade especialmente aumentada em relação aos outros, mas, seguramente, a sua qualidade de vida é muito superior.

Quem, como eu, já esteve do lado do sedentarismo durante muito tempo, sabe bem a diferença!

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Samuel Ma (29/1995)

Engenheiro

NOTÍCIAS DE UM JOVEM ENGENHEIRO, EX-MEMBRO DE DUAS DIRECÇÕES DA ASSOCIAÇÃO, NOS MEANDROS DA INDÚSTRIA DO JOGO EM MACAU.

Já desde há alguns anos longe de Portugal, disse-nos Samuel Ma em recente contacto:“Estando tão longe de Portugal, em termos de distância e diferença horária, com muita pena minha, deixei-me desligar do Colégio e da Associação”.

E continua a contar alguns aspectos da sua vida desde que emigrou para Macau: “O que tenho feito não é propriamente fora do vulgar. Trata-se apenas de suporte técnico em tecnologias de informação, de sistemas informáticos de casinos em Macau.”

Os jogos de azar não são uma indústria comum em Portugal, mas em Macau é a principal fonte de receitas e o que faz sobreviver esta antiga colónia portuguesa na China.

Vim para Macau em Dezembro de 2012, depois de uma viagem e entrevista em Outubro 2012. Fui contratado pela Bally Technologies, que é uma empresa americana fornecedora de hardware e software para casinos, depois de 2 anos a trabalhar em Portugal. Na Bally, como Engenheiro de Sistemas, aprendi os básicos: como os sistemas funcionam, estrutura das bases de dados, resolução urgente de problemas, modelo de negócio e operações dos casinos, etc. Desafios e projectos mais interessantes são o ter de suportar sistemas críticos, usados diariamente 24x7 e actualização de sistemas para novas versões.

Depois de ano e meio na Bally, mudei-me para a empresa de Hong Kong Galaxy Entertainment Group (GEG), que é cliente da Bally

Technologies e uma das maiores empresas com casinos em Macau. Tem 3 resorts (casino + hotéis + lojas + restaurantes) em Macau, receitas de 6 mil milhões de euros por ano (o que corresponde a 1/6 das receitas em jogos de azar em Macau) e projectos de expansão não só em Macau, mas também Mónaco, Japão e Filipinas. Estou há 5 anos na empresa. A natureza do trabalho é semelhante, mas muito mais desafiante que a experiência anterior, já que o número de sistemas é 10 vezes maior, é necessário manter contacto com pessoas de vários departamentos incluindo as que têm cargos executivos e também porque a empresa ofereceu-me oportunidades para crescer em termos profissionais e promover-me para cargos de mais responsabilidade. Para além de supervisionar e configurar os sistemas, a equipa a que pertenço também é responsável por resolver os problemas reportados por outros utilizadores, vigiar e garantir a segurança cibernética de mais de 200 servidores, participar na implementação de novos projectos como instalação de novos sistemas, etc.

Macau tem sido um bom sítio para trabalhar: o ambiente profissional é bastante dinâmico, e em Macau por ser uma região pequena, é fácil e importante criar contactos e relações profissionais. O Cantonês e o Português são as duas línguas oficiais da região, mas sendo muito turística e com muitos imigrantes trabalhadores, é normal no dia a dia falar as 3 línguas. Há casos de pessoas que têm conversas em que numa frase juntam as 3 línguas.

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Filipe de Carvalho (324/1995)

Criativo

(in jornal Dinheiro Vivo- Ana Marcela 19.02.2019- extracto)

O CRIATIVO NO MUNDO FILIPE DE CARVALHO ESTÁ DE REGRESSO AO DUBAI AGORA PARA A MULLEN LOWE EMA

...Agora na MullenLowe EMEA vai trabalhar um conjunto de novas contas como Pizza Hut, Infiniti (marca automóvel), a Warner Bros (Abu Dhabi), Tic Tac, Nutella e clientes regionais como o CityCentre (“uma espécie de Sonae da região do Golfo”), que detém o Mall of the Emirates, um centro comercial que tem uma pista de esqui e pinguins.

...Filipe de Carvalho é o mais recente diretor criativo associado da agência no Médio Oriente trabalhando contas como a Pizza Hut, Tic Tac, Nutella, entre outras. “Estava de férias no Japão e recebi o convite. Pareceu-me um projeto interessante, de um grupo inovador e para uma posição que nunca tinha experimentado. Decidi arriscar e cá estou de volta ao Dubai”, conta Filipe de Carvalho ao Dinheiro Vivo. Um mercado já familiar para o Criativo no Mundo que, em 2017 foi para este mercado para a Leo Burnett, na época em dupla com outro criativo português. “Foi bastante positivo na medida em que tivemos um volume enorme de briefings, o que nos fez crescer muito enquanto criativos nesta região. Quando se chega a um novo mercado há toda uma aprendizagem a fazer, somos quase juniores de novo, mas com a experiência e maturidade que os jovens criativos não têm”, comenta Filipe de Carvalho. “Trabalhei

praticamente todos os clientes da agência, com maior incidência talvez na Ferrero e em marcas de queijo como a Vaca Que Ri e Babybel”, conta .

“A propósito deste último, lançámos uma campanha regional que está a causar muito interesse a nível global. Foi uma campanha para informar as escolas (e, portanto mães e crianças) sobre snacks saudáveis e acabamos por lançar um comic book, um desenho animado, um programa de jogos lúdicos dentro das salas de aula e quatro personagens super interessantes que os miúdos das escolas da região estão a adorar”, descreve. ... “Falando da aprendizagem, parte do processo é conhecer novos costumes e novos picos de vendas na região. O binómio verão/Natal é substituído pelo binómio Ramadão/Ano Novo. Sendo que Regresso às aulas é comum. Conhecer o Ramadão é toda uma cadeira semestral. E depois também há o Diwali, o Ano Novo Indiano (maior comunidade no Dubai com 2,5 milhões de expatriados)”, refere.

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Manuel José Viegas Clemente (1/1999)

Engenharia Industrial - ISCTE-IUL

“Está na hora de admitirmos que a vida não está a resultar: acordamos a desejar que o dia passe depressa, aceitamos situações que não merecemos e vivemos uma rotina que nos deprime a cada dia.

Crescemos cercados de regras. Habituámo-nos a que fosse a sociedade a dizer-nos como comer, vestir, casar, amar e trabalhar. Em cada instante, houve sempre alguém pronto a orientar-nos com um: «Devias fazer assim…»

Se não estiverem ao serviço da felicidade, as nossas escolhas nunca vão fazer sentido.

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Formado em Gestão e Engenharia Industrial pelo ISCTE-IUL, fez voluntariado de longa duração em Cabo Verde e por lá “aprendeu a pensar com o coração”.

É, atualmente, coordenador de voluntários na “Associação Para Onde?”, uma associação que promove o voluntariado, essencialmente a nível internacional, com parcerias em vários pontos do globo.

Em 2016 começou a cativar os seus primeiros leitores quando deu à luz a página “Semtimenos” no Instagram. Escreve regularmente crónicas de opinião para o Suplemento P3 do jornal Público. Gosta de dormir para sonhar e de acordar para realizar. Acredita que ninguém é Zé-Ninguém e que todos devemos tentar viver a nossa melhor vida.

Sinopse oficial do livro

Este livro nasceu quando tomei a decisão de desistir de uma vida que não era minha. Despedi-me do emprego que tinha, viajei muito e fiz voluntariado internacional. Estas experiências permitiram-me descobrir que viver é muito mais do que acrescentar anos à idade.

Nestas páginas, procuro questionar, refletir e abordar o que são as nossas vidas numa perspetiva diferente. Mostrar que esta experiência no planeta Terra não tem de ser um martírio, bem pelo contrário. Hoje sei que, quando escolhemos o que nos faz bem, a vida começa a correr de outra forma. Está nas nossas mãos o poder de mudar e, nos nossos olhos, a capacidade de ver o mundo de uma forma diferente.

Desistir também é para os fortes, os que não aceitam menos do que merecem.

A culpa não é dos teus pais, professores, amigos, chefes, marido ou mulher. Assume a responsabilidade das tuas escolhas. Liberta-te das expectativas. Faz as pazes com o passado. Mantém-te presente e, sempre que sentires, não hesites.

Os teus sonhos estão à espera que acordes, para os realizares.”

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LIVRO

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Miguel Salgado Duarte (248/2005)

Mestre em Turismo e Comunicação

A TOPONÍMIA COLEGIAL EM EVOLUÇÃO

Inspirado em Costa Matos (96/1950), autor de “O Colégio Militar na Toponímia Portuguesa” editado em 2009 pela nossa Associação, Miguel Duarte prossegue, no quadro da sua actividade académica (Mestrado Interinstitucional em Turismo e Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa), na descoberta de novas ruas, avenidas, largos, etc.

Miguel Duarte, descreve, assim, o seu trabalho: “Escolhi como tema da minha dissertação de mestrado em Turismo e Comunicação, a qual foi defendida e aprovada em Dezembro passado (2018), o potencial turístico da toponímia, adoptando como caso de estudo a toponímia do Colégio e dos seus Antigos Alunos. A minha ideia foi interligar a indústria do turismo à toponímia como património cultural, tendo dado a toponímia do Colégio como um exemplo de um tema a partir do qual poderiam ser elaboradas estas actividades. Tanto durante a realização da dissertação, como já após a sua conclusão, pude descobrir um número considerável de novas ruas de Antigos Alunos que não são referidas no livro do Coronel Costa Matos (206 até ao momento). Posteriormente, tive a ideia de pesquisar também sobre a presença de antigos professores/directores/médicos do Colégio na toponímia portuguesa, tendo até ao momento descoberto 65 artérias urbanas em homenagem a estas personalidades. Neste contexto, passei todos estes dados para um mapa, no qual é possível observar a localização exacta de todas as ruas em homenagem a Antigos Alunos e “funcionários” descobertas até ao momento (tanto as que descobri, como as de Costa Matos). Este mapa pode ser partilhado através de um link, através do qual todas as pessoas podem ter acesso a estes dados. Este foi, então, um dos projectos que propus à Associação – a possibilidade de criar um projecto relacionado com esta temática, promovendo os Antigos Alunos neste mapa através da partilha deste link nas suas plataformas. O link seria actualizado consoante as novas descobertas que fossem feitas. Considero que este projecto seria interessante pelo facto de poder fortalecer a memória colectiva do Colégio e dos seus Antigos Alunos, para além de promover a importância visível do Colégio aos actuais e futuros alunos, e suas famílias. O mapa em questão tem, também, algumas particularidades que podem captar a atenção e o interesse de quem a ele acede, as quais poderia demonstrar numa futura ocasião. O segundo projecto consiste num roteiro ‘turístico’ no qual se passaria pelos principais pontos do con-

celho de Lisboa relacionados com o Colégio Militar e os seus Antigos Alunos, nomeadamente:

• 74 artérias urbanas em homenagem a Antigos Aunos;

• 15 artérias urbanas em homenagem a antigos professores/médicos/directores do Colégio - juntamente com a Avenida do Colégio Militar e a Rua Sidónio Serpa (treinador de hóquei da equipa da Associação);

• 10 pontos de homenagem a Antigos Alunos - como o busto de Pinheiro Chagas (118/1853), na Avenida da Liberdade, e o busto de Manuel Rocha (166/1923), na Avenida António Augusto de Aguiar;

• 11 pontos relacionados com a história do Colégiodesde as próprias instalações do Colégio, o Convento de Rilhafoles (actual Hospital Miguel Bombarda), a Igreja do Corpo Santo, onde estão sepultados os restos mortais do nosso Marechal, entre outros;

• 30 instituições fundadas ou com ligação a antigos alunos – desde as 4 estátuas esculpidas por Barata Feyo (105/1911) à Embaixada da Argentina (a Argentina foi o primeiro país a reconhecer o regime republicano em Portugal por influência de Abel Botelho (149/1867), representante diplomático português neste país);

• 14 locais com alguma ligação curiosa ao Colégio – o Rossio (onde ocorreu o célebre ‘Colégio Militar Firme’ no funeral de Sidónio Pais), a Rua Cidade de Bolama, nos Olivais (cidade da Guiné-Bissau e termo colegial), Rua Ramalho Ortigão (célebre autor que escreveu uma crónica sobre o Colégio n’As Farpas), entre outros.

A ideia do roteiro seria passar por estes pontos, promovendo e partilhando a história do Colégio e dos seus antigos alunos, presentes no concelho de Lisboa.”

Miguel Duarte termina, referindo que apenas aponta aqui “os principais pontos dos dois projectos” disponibilizando-se para apresentar “algumas particularidades que seria melhor apresentar numa futura ocasião, nomeadamente a exibição do mapa que referi acima”.

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Curso de 1947/1954

Romagem dos 65 Anos de Saída

Curso de 1947/1954

Romagem dos 65 anos de Saída 31 de Maio de 2019

Decorridos 65 anos de saída do Colégio, o curso de 1947/1954 resolveu deslocar-se de novo em romagem de saudade à Casa Mãe. Trata-se dos maiores «saudosistas» de que há memória. Esta é a sua 15ª romagem de saudade. Não há placa nos claustros que se possa igualar à sua. Aqui ficam para a posteridade os nomes dos participantes nesta jornada.

Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro (14/1947), Carlos José Sanches Vaz Pardal (100/1947), Fausto Morais de Brito Abreu (141/1949), Luis Joel Aves de Azevedo Pascoal (145/1948), João Augusto de Oliveira Ayala Botto (254/1948), Manuel Luis de Sena e Silva (293/1946), João Manuel Ribeiro da Fonseca Calixto (314/1947), José Baptista Pereira (318/1947), José Fernando Oliveira Vilar Saraiva (320/1947), Ruy Eduardo Anselmo de Oliveira Soares (332/1947).

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©Fotos Leonel Tomaz Curso de 1947/1954 - 65 Anos de Saída - 31 de Maio de 2019

Curso de 1954/1961

Romagem dos 65 Anos de Entrada

Curso de 1954/1961

Romagem dos 65 anos de Entrada 17 de Maio de 2019

Curso de 1954/1961 - 65 Anos de Entrada - 17 de Maio de 2019

Este curso fez a sua primeira romagem de saudade ao Colégio 60 anos após a sua entrada, o que é algo de inusitado. Parece que gostaram, pelo que, passados 5 anos, lá voltaram de novo e se calhar até já terão marcado encontro para daqui a 5 anos. Participaram nesta romagem de saudade os seguintes Antigos Alunos:

Eduardo Henrique Vidigal Solano d’Almeida (5/1954), José Manuel Albuquerque Cabral de Sacadura (14/1954), João Nuno Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1956), Jorge Rodrigues Teixeira (29/1954), Afonso Júlio de Lemos Chaby Rosa (30/1954), Armando Pavia Cumbre (39/1953), António Manuel Sales de Mira Godinho (48/1954), Francisco Manuel da Cunha Bruno Soares (50/1954), António Manuel

Latino Tavares (100/1954), Mário Quintanilha Sampaio Nunes (110/1954), Ricardo Centeno de Gorjão Jorge (131/1956), Luís Manuel Ferraz Pinto de Oliveira (138/1954), Francisco Augusto Ortigão de Melo Sampaio (148/1954), Leopoldo Câmara de Oliveira Bastos Jorge (154/1954), Pedro Manuel Almeida Serradas Duarte (192/1954), Luís O’Connor Shirley de Matos Chaves (195/1954), Gastão de Oliveira Costa Jacquet (235/1953), António Manuel da Costa Vieira Lisboa (237/1954), João de Paiva Leite Brandão (261/1954), Artur João Filipe Capristano (281/1954), António José Resende Fernandes Matias (284/1954), Fernando Alves de Sousa Lourenço (289/1954), João Henrique de Bivar Melo e Sabbo (301/1953), Manuel Ferrão de Castelo Branco (384/1954).

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©Fotos Leonel Tomaz

Curso de 1972/1979

Romagem dos 40 Anos de Saída

Curso de 1972/1979

Romagem de 40 Anos de Saída 24 Maio de 2019

Curso de 1972/1979- 40 Anos de Saída - 24 de Maio de 2019

Volvidos 40 anos sobre a sua saída do Colégio, o curso de saída de 1979 regressou à Casa Mãe, em romagem de saudade, fazendo-se acompanhar por vários dos seus antigos Professores, que tiveram a amabilidade de convidar para este evento. Estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos:

Miguel Rui Neves Silva Machado Trincheiras (7/1972), Carlos dos Anjos Pugsley Inocêncio (10/1974), João Manuel Candeias dos Penedos (19/1971), Rui Jorge do Carmo Cruz Silva (31/1972), Jorge Manuel Ventura Oliveira e Carmo (35/1972), João Manuel Mendes Caramês (42/1972), Aníbal José de Carvalho de Castro (49/1972), Pedro Manuel Peyssonneau Nunes de Montalvão e Silva (99/1972), António Mancelos Santos Gomes (103/1972), Paulo Jorge Pereira Gomes (106/1973), Fernando Manuel Afonso Teixeira Coelho (111/1972), Pedro Jorge Vieira Correia de Oliveira (121/1971), José Paulo Ramalho Ortigão Delgado (148/1972), José Emanuel da Rocha Brito Velhinho (165/1972), José Firmino Vieira de Meireles Corte Real (167/1972), Pedro Jorge Cabral Rodrigues (173/1972), Luís Joel Pallos da Rosária de Azevedo Pascoal (183/1972), Rui Mi-

guel Frazão Dias Ferreira (189/1972), Gustavo Lickfold de Novais e Silva (256/1972), António Manuel de Carvalho Simas e Couceiro Braga (278/1971), João Miguel Beckert Rodrigues (293/1972), Luis Miguel Guerreiro Félix António (302/1972), Duarte Miguel Wandschneider de Mesquita de Brito Caldeira (309/1972), Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo (329/1972), Pedro Luís Mouzinho Dias Antunes (337/1972), Alfredo Manuel Peixoto de Sousa Teles (348/1972), Carlos Alberto Lopes Goulart (351/1972), José Gabriel Constante Pinto Correia (369/1971), João Pedro de Vasconcellos e Sá Grave (395/1971), Paulo Renato de Morais Rogado Serra (397/1972), Pedro Frazão Alpendre (412/1972), Fernando Miguel Figueiredo do Couto (433/1972), António Carlos Peres Cansado de Azevedo Batalha (434/1972), Miguel Almadanim do Vadre Santa Marta (443/1972), João Vasco Sousa de Castro e Quadros (444/1972), António Emídio da Silva Salgueiro (461/1972), José Alexandre da Cruz Soares (463/1972), Artur Mendonça Carvalho (477/1972), Rui Manuel Faria Violante Amaro (495/1972), João Paulo Moreira de Brito (520/1972), Jaime Carlos Duarte Dias Cordeiro (526/1972), Luis Alberto Barreira

da Costa (543/1972), Carlos Alberto Caçorino da Palma Baracho (545/1972), Luis Cordeiro Dores Vaz Serra (559/1972), Joáo Vasco de Almeida e Sousa Elias de Sousa (569/1972), Rui Alberto Simões Coelho (585/1973), Francisco Manuel Guimarães de Oliveira Rodrigues de Areia (586/1973), José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973), Rui Jorge Mimoso Lopes Rodrigues (606/1972), Afonso Jorge Alves Pereira Marques (623/1972). Convidados do Curso: Prof. Mário Carmo, Prof. Gil Pereira, Padre Miguel Carneiro, Escultor José João Brito, Prof. Francisco Domingues, Coronel Álvaro Souto, Prof. Abranches de Sousa, Prof. Pires Baptista, Prof. Carlos Perdigão

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©Fotos Leonel Tomaz

Curso de 1993/2001

Romagem dos 25 Anos de Entrada

Curso de 1993/2001

Romagem dos 25 anos de Entrada 08 de Fevereiro de 2019

Decorridos 25 anos sobre a sua entrada para o Colégio, o curso de 1993/2001 regressou à Luz, convidando para este evento o seu Professor de português, José da Mota Tavares. Estiveram presentes nesta romagem de saudade, em que registaram mais uma data na sua peculiar placa de curso, os seguintes elementos do mesmo:

Diogo Miguel Dias Soares Coelho (89/1993), Francisco Nuno Girão Vieira Lamy da Fontoura (94/1993), Nuno Miguel Miranda Santos (102/1992), Fernando Jorge Paulo Lobo Santos Costa (118/1993), Tiago Filipe Rodrigues Gonçalo (133/1992), João Margarido Ruivo Chiotte Lopes da Silva (146/1993), Pedro Miguel de Almada Oliveira Pereira Dias

(232/1993), Paulo António Martins Barreiros (234/1993), Guilherme Morais Caldas Canedo Regadas Correia (247/1993), Luís Narciso Lopes Rodrigues Morais (253/1993), António Manuel Meira Dantas (323/1993), João Miguel Ribeiro Azevedo (335/1992), João Camargo Ribeiro Marques dos Santos (342/1993), Amândio Emanuel Lopes Ribeiro (368/1993), Luís Filipe Pinto Leite (384/1994), Tito Barros Caldeira (394/1993), José Manuel Silvério Miranda dos Reis (419/1994).

Convidado:

Professor de Português José da Mota Tavares

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©Fotos Leonel Tomaz Curso de 1993/2001 - 25 Anos de Entrada - 08 de Fevereiro de 2019

Os que nos deixaram

Luciano José Vieira Marques da Cunha

Colocado, de seguida, na Base Aérea nº4, Lajes, participou em múltiplas missões como observador meteorológico, a bordo da aeronave B-17, Fortaleza Voadora.

carreira militar na Divisão de Relações Públicas do Estado Maior General das Forças Armadas (EMGFA), em 1988.

Ingressou no Colégio Militar no ano de 1935, tendo concluído o seu curso no ano lectivo de 1941/1942, ano em que foi graduado em Comandante de Batalhão.

Concluído o curso no Colégio Militar, em 1942, frequentou a Academia Militar, tendo ingressado em Cavalaria 7, na Ajuda.

Ingressou no Quadro Permanente da Força Aérea, no início da década de 50, tendo frequentado, em 1953, no âmbito da sua especialidade (Meteorologia), um curso realizado na United States Air Force (USAF) - High Altitude Forecaster.

Desempenhou serviço na Base Aérea nº 2, Ota, na segunda metade da década de 50, tendo sido, de novo, colocado na Base Aérea nº4, Lajes, em 1959.

Em 1964, foi colocado no Comando da 3ª Região Aérea, em Lourenço Marques. Após um período de 11 meses em Portugal continental, regressou para uma segunda comissão em Moçambique, entre 1969 e 1974.

Em 1974, foi nomeado Comandante da Esquadra de Tráfego Aéreo, na Base Aérea nº 1, Sintra, e, posteriormente, desempenhou serviço no Estado Maior da Força Aérea (EMFA), terminando a sua

Possui várias condecorações, de que destacamos a que lhe conferiu o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis, bem como a medalha de Mérito Militar de 2ª classe. Possui, também, vários louvores, dos quais realçamos o atribuído pelo General Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas (CEMGFA).

71 Os que nos deixaram
Major da Força Aérea Nasceu a 6 de Março de 1925 Faleceu a 1 de Junho de 2019

Os que nos deixaram

Manuel Nuno da Costa Estorninho (207/1952)

presa farmacêutica, promoveu durante anos almoços de médicos ex-alunos que serviram para, mais tarde, estabelecer uma relação de médicos que apoiavam as acções de solidariedade social da Associação.

Também estendeu

tornável não só para aqueles que foram seus camaradas e colegas de curso, mas para muitos outros. Recordo-me de ele, na sua actividade de delegado de propaganda médica, entre muitos outros médicos, visitar o meu tio, Henrique Barbeitos, ex-217 de 1917, e dos elogios que mutuamente faziam entre si. Passados muitos anos, foi ele quem me recordou muitas das cenas ocorridas no nosso tempo no Colégio, que eu já esquecera, mas que a sua memória prodigiosa guardara.

Morreu o Manuel Estorninho, o nosso Manuel Nuno da Costa Estorninho, o 207 de 1952, que entrou para o 2.º ano do curso de 1951 e rapidamente chumbou para ficar no curso de 1952, onde sabia que iria encontrar os seus melhores amigos.

O Estorninho cedo veio a tornar-se uma referência do seu curso adoptivo, pela forma como se empenhava na nossa união, quer organizando as romagens de curso ao colégio nas datas redondas, quer promovendo os almoços de curso realizados todos os meses, onde comparecíamos porque o Estorninho nos chateava se não íamos.

A sua lendária memória serviu durante anos para esclarecer as dúvidas sobre os acontecimentos colegiais do nosso tempo, a constituição das turmas ou das mesas no refeitório ou, ainda, os nomes e alcunhas dos professores e dos anos e circunstancias em que nos deram aulas.

O Estorninho não completou o curso no Colégio, mas era um dos mais activos promotores do Colégio em todas as facetas da sua actividade profissional e pessoal. Como delegado de uma em-

a sua ligação ao Colégio, através da realização de acções de divulgação de hábitos de higiene dentária que realizou junto dos alunos do Colégio, tornando-o durante esses anos uma figura emblemática entre o batalhão colegial, que perdurou até aos dias de hoje.

Pela sua presença amiga, pela sua bonomia, pela sua permanente disponibilidade para tudo e para todos, pela sua amizade incondicional, vai fazer muita falta a cada um de nós e ao Curso de 1952-59 o Manuel Estorninho.

À sua família, especialmente a sua mulher Virgínia e ao seu filho Tiago, deixo um abraço de sentido pesar pela morte deste meu amigo.

Recordo o seu ar brincalhão nas conversas depois de almoço no bar do Club Militar Naval, enquanto disfrutávamos um digestivo. Recordo muitas outras coisas, todas boas, e com elas ficarei, agora que já não nos podemos voltar a encontrar neste mundo.

Obrigado, Estorninho. Foste um grande Amigo e vou sentir muito a tua falta.

O Estorninho era a presença tranquila do nosso Curso. Tinha um sorriso calmo, falava pouco e estava sempre presente quando era preciso. Tinha qualquer coisa de o irmão mais velho que nos inspirava afecto e confiança. Que esteja em Paz.

Luís Miguel da Costa Alcide de Oliveira (163/1952)

Não estava nada à espera! Era um tipo bom e extremamente dedicado ao Colégio, é uma perda.

Na morte do Manuel Estorninho, os seus amigos

Falar sobre o Estorninho é falar sobre o Colégio, ao qual ele tanto se dedicou. Apesar de não ter concluído o curso (como eu e outros), tornou-se uma referência incon-

Luís Filipe Ferreira Reis Tomáz (176/1952)

Comungo de todas os sentimentos de pesar que a malta do curso já foi expressando. Perdemos um bom camarada. Com o seu ar simpático e algo bonacheirão tinha

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Delegado de propaganda médica Nasceu a 29 de Setembro de 1940 Faleceu a 8 de Julho de 2019 José Mário Fidalgo dos Santos (253/51) Filipe Gabriel Barbeitos Gonçalves (131/1951)

sempre uma palavra amiga para cada um de nós e uma grande dedicação ao Colégio e ao nosso curso. Eram traços marcantes da sua personalidade que não esquecemos. Merecida paz à sua alma sã.

José Manuel Castanho Paes (228/1952)

Especialmente para alguns de nós que andávamos mais chegados, reunidos nos almoços das quintas-feiras, esta perda do nosso querido Estorninho é insubstituível. O homem bom, verdadeiro amigo, disponível para tudo, já não estará mais junto de nós, os seus sinceros amigos.

Luis Nuno Bravo Belo

(262/1967)

Juiz de Direito

Nasceu a 9 de Março de 1957 Faleceu a 23 de Maio de 2019

Ninguém seria capaz de retratar melhor quem era o nosso grande amigo Manuel Nuno e tudo o que ele fez pelo Curso e pelo nosso Colégio.

Ultimamente (talvez 2 ou perto de 3 anos), e como ele me dizia por brincadeira, era o seu ‘’UBER’’, indo buscá-lo ao comboio, levando-o aos nossos convívios de Curso ou de Colégio, e trazendo-o de volta. Trazia sempre fotos do tempo colegial, e sempre diferentes, e conversávamos muito nesses trajetos. Mas era sobretudo o seu sorriso de satisfação quando eu chegava, do que vou ter mais saudades.

(303/1951)

Adeus, Estorninho! Nem sequer sabia que estavas doente e sempre julguei que eras ETERNO. No Colégio, nos almoços, nos encontros, nas reuniões, em tudo. Pertences ao Património da Humanidade, no que respeita a Ubiquidade, Generosidade e Simpatia. Grande Abraço, estejas onde estiveres.

Recebemos, com pesar, a notícia do falecimento deste nosso camarada. Apresentamos de seguida um pequeno extracto dum apontamento autobiográfico seu, em que nos descreve a sua meninice e a sua vivência no Colégio, do qual guardou as melhores recordações.

Paz à sua Alma.

sora — a Senhora D. Maria Judith das Neves Rosa —, pelo que, ao fazer o exame da 4ª classe, numa Escola Primária do Fundão, ganhei dois prémios monetários: um por ter tido a melhor classificação de entre os alunos da freguesia do Alcaide (100$00) e outro por ter tido a melhor classificação de entre todos os alunos de todas as freguesias do concelho do Fundão (500$00).

Ainda em Aveiro, com 4 ou 5 anos de idade, ao ver, numa revista, uma fotografia de alunos dos Pupilos do Exército a desfilarem em parada, disse ao meu Pai que queria ir para a escola deles.

AUTOBIOGRAFIA

Nasci, no dia 9 de Março de 1957, na cidade de Aveiro, onde os meus pais residiam temporariamente, desde que o meu Pai, oficial piloto aviador, fora colocado na Base Aérea de S. Jacinto, cerca de um ano antes.

Residi, nesta cidade, na Avenida Lourenço Peixinho, até 1963, altura em que o meu Pai foi mobilizado para a guerra do Ultramar. Ele partiu para Angola (Negaje) e eu, a minha Mãe e a Ana – a nossa criada –fomos viver para o Alcaide, freguesia do concelho do Fundão, na Beira Baixa, para junto da minha Avó materna.

Fui sempre falando nisso até terminar a Escola Primária. Por isso, no Verão de 1967, depois de fazer o exame da 4ª classe e o exame de admissão aos liceus, fiz também os exames (exames físicos e psicotécnicos), extremamente selectivos, de aptidão para ingresso no Colégio Militar.

Fiquei admitido nesses exames, feitos no Colégio Militar, e fui com a minha Mãe (o meu Pai continuava em Angola: fez duas comissões seguidas, no total de 5 anos) ao Casão Militar comprar as fardas e restante enxoval necessário.

(304/1953)

No Alcaide, fiz a Escola Primária, tendo tido a sorte de ter uma excelente Profes-

Tive uma desilusão quando verifiquei que a farda principal (que se usava quando se saía do Colégio) não era azul — como a que eu tinha visto, anos antes, na tal re-

73 Os que
nos deixaram
José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) João Francisco Guerreiro Santos (263/1951) Carlos Manuel Querido Baptista Carlos Alberto Biscaia Rabaça Fraga

Os que nos deixaram

vista (que era dos alunos dos Pupilos do Exército e não dos do Colégio Militar) — mas castanha.

No dia 7 de Outubro de 1967, com dez anos de idade, entrei no Colégio Militar e fiquei imediatamente apaixonado por este extraordinário estabelecimento de ensino (e, também, pela farda “cor de pinhão” ...).

Eu, que vinha de uma aldeia da Beira Baixa, senti-me no centro do mundo!

Havia que aproveitar a oportunidade para aprender tudo o que o Colégio tivesse para me ensinar. E o Colégio tinha muito para me dar: um ensino completo, que visava tanto uma formação cultural sólida (composta pelo conhecimento específico das disciplinas curriculares liceais normais bem como por conhecimentos de cultura geral) como uma boa formação física e militar.

O Colégio oferecia excelentes instalações para ministrar o ensino: laboratórios de línguas, um amplo ginásio, pistas de atletismo, campos de jogos, picadeiro, piscina, campo de aeromodelismo, etc... Tinha um corpo docente também excelente. Ensinava, para além das matérias respeitantes às disciplinas curriculares normais de nível liceal, canto coral, música, equitação, esgrima, instrução militar, artes marciais, etc.. Cada sala de leitura tinha uma pequena biblioteca: aos 12 anos, entre vários outros livros, já tinha lido o “Crime e Castigo” de Dostoiewski. Todas as semanas, nos deslocávamos ao ”Teatro Princípe Real D. Luís Filipe” da «Formação Militar», sita no

Largo da Luz, defronte do Colégio, para vermos cinema e teatro.

Ao Colégio Militar devo uma formação pautada por valores nobres: honra, lealdade, coragem, patriotismo, verdade, camaradagem, solidariedade...; o lema era «e pluribus unum» (Um por todos, todos por um!). Devo-lhe, também, as fundações da minha formação humana, intelectual e física.

Os anos do Colégio foram dos mais felizes da minha vida (no 2º ano, fui mesmo o melhor aluno desse ano), tendo recebido alguns prémios monetários e medalhas das mãos de Sua Excelência o Presidente da República.

Lembro-me de que no meu 2º ano do Colégio já tinha tomado a decisão de vir, mais tarde, a tirar o curso de Direito. Na disciplina de Português, tinha facilidade na interpretação e análise dos textos literários e, em geral, em discorrer com lógica. Nas relações com os outros, já era apaixonado pela Verdade e pela Justiça. Repugnava-me o “despotismo”, a prepotência e a arbitrariedade. O pai do meu camarada Ruiz era Advogado: um dia mais tarde, eu queria vir a ser também para, em Tribunal, defender os mais fracos.

Camaradas do meu curso, e da minha geração, são hoje notáveis personalidades em diversas áreas do saber (da medicina, da economia, do direito, da política, da música, do teatro, do cinema, etc.): estou a lembrar-me do Carlos Vasconcelos Cruz, do António Perry e do António Simões (economia/Gestão); do Fernando

Seara (Direito); do João Balula Cid e do Ran Kyao (música); do Fanha (Teatro e Poesia); do Luís Esparteiro (o Super-Pai da Televisão); do Luís Filipe Rocha (cinema); e tantos outros, quiçá ainda mais notáveis embora menos “mediáticos”.

Neste extraordinário Colégio estudei durante 5 anos, até 1972.

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