


Tudo tem um começo e, por vezes, um recomeço. Mas tudo tem o seu tempo e tudo tem um fim.
Agora vai haver o começo de um novo ano letivo, que esperamos seja com muito melhores condições das do ano passado. Vão seguramente ser, o que dará a possibilidade do Colégio ir cumprindo cada vez melhor o seu projeto de ensino.
O "Estágio dos Graduados" já se realizou e na cerimónia das graduações, já foi permitida a presença de dois familiares por cada graduado. Um primeiro passo positivo.
O segundo passo positivo é o recomeço dos encontros de curso, em princípio no final de Outubro, para se celebrar os anos de entrada ou saída. Haverá limitações, que estamos a tentar colmatar da melhor maneira possível, mas vai ser uma oportunidade para revermos os nossos camaradas de curso. No entanto, como temos o calendário muito atrasado, vamos ter de estabelecer um critério, dando prioridade a algumas situações. É uma solução a encontrar em sintonia com o Conselho de Delegados.
Por último e a propósito de ter um fim, estou a chegar ao final do meu mandato. Teoricamente no próximo dia 31 de Dezembro e na prática até 31 de Março de 2022.
2) Somos uma Associação com pouca capacidade de atrair os Antigos Alunos mais recentes
3) Somos uma Associação com alguma incapacidade comunicacional com a nossa comunidade, e
4) Somos uma Associação que vive muito agarrada ao seu passado, pouco ao presente e muito menos a perspetivar o seu futuro.
Quis mudar! Quis transformar! Quis modernizar e quis resolver os problemas que herdei.
Ficou muito pelo caminho. O COVID não ajudou mesmo nada, mas não é a unica razão.
A Associação merece ser renovada e modernizada, mas para tal tem de haver empenho e ação. A primeira prioridade, vai sem qualquer dúvida, para a resolução do tema PM 34. Por isto e porque não gosto de não terminar aquilo que comecei, vou-me propor a recomeçar um novo mandato em 2022, com o fim de deixar o assunto do PM 34 sanado.
Mas vamos mesmo ter de renovar e modernizar, para deixar uma herança saudável e um projeto futuro.
Finalmente, também vamos começar a chamar e integrar as nossas camaradas Antigas Alunas.
Temos vário problemas pela frente: 1) Somos uma Associação cada vez mais envelhecida
Com um forte ZACATRAZ.
Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)
Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)
1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)
2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)
Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)
Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)
Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)
Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)
1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)
2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)
3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)
4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)
5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)
1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)
2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)
3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)
Presidente António Santos Serra (95/1959)
1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)
2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)
1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)
2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL
Fundada em 1965 Nº 224 Julho/Setembro - 2021
FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECTOR
Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt
CHEFE DE REDACÇÃO
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt
REDACÇÃO
Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)
CAPA O Guião de 1942
ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
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Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.
Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
Oano lectivo de 2020/2021, terminado no passado mês de Julho, é um daqueles que não nos deixa saudades. A pandemia do vírus «chinês», que depois veio a mudar de nacionalidade ao longo das «geografias» que foi percorrendo, conseguiu roubar-nos todos os momentos de celebração da vida colegial, a que nos habituámos há décadas.
Quando nos apercebemos, no início do ano de 2021, que a celebração do 3 de Março, nos moldes habituais, com o tradicional desfile na Avenida, estava comprometida, ainda tivemos esperança de que a situação se pudesse compor rapidamente, pelo que, de imediato, lançámos o apelo SALVEMOS O 3 DE MARÇO. Sugerimos então que o desfile na Avenida se fizesse mais tarde, fora da data tradicional, como aconteceu, por coincidência, em 1942, quando se realizou o primeiro desfile do Colégio naquele local. Os meses foram passando e a normalidade nunca voltou. Pelo contrário, entrados no mês de Junho a pandemia voltou a agravar-se e todos tivemos de
admitir, com pesar, que não havia condições para a realização do desfile.
Face à nova situação, pensou-se numa solução de compromisso, que seria a realização de uma cerimónia militar interna, de encerramento do ano lectivo. No nosso tempo, era assim que se fazia, com toda a solenidade, pelo que aderimos de imediato a esta ideia. Os Alunos graduados também receberam a ideia com o agrado possível nas circunstâncias vigentes, pois assim teriam uma derradeira oportunidade, de se fardarem de gala e de comandarem os seus subordinados numa cerimónia de cariz militar. De novo fomos atraiçoados pelo vírus. A pandemia estava em processo de aceleração, pelo que, na véspera da cerimónia, o Colégio recebeu instruções superiores para o cancelamento da mesma.
Os sentimentos de decepção e de frustração foram gerais. O azar perseguia-nos até ao fim. No caso dos Alunos graduados o desgosto era maior, tinham sido privados do seu «prémio de consolação» A Direcção do Colégio decidiu então
realizar o procedimento mínimo indispensável à transmissão simbólica do comando do Batalhão dos Alunos graduados de 2020/2021, para os Alunos que irão ser finalistas no próximo ano lectivo.
A cerimónia teve lugar nos Claustros do Colégio, no dia 18 de Junho de 2021, sendo seguida de uma outra cerimónia, que decorreu na Sala de Armas, de distribuição de prémios a Alunos e de diplomas de louvor a Professores.
No dia 18 de Junho, às 15H55, formou nos Claustros uma força armada, pronta para se dar início à cerimónia.
A cerimónia principiou com a continência da força armada ao Director do Colégio, Senhor Coronel de Artilharia António Salgueiro.
Após a continência, tomou a palavra o Aluno Comandante de Batalhão, 338, Bernardo Lopes, num discurso de despedida aos seus camaradas do 11º e do 10º ano, que irão tomar sobre si a pesada responsabilidade, de guiarem os
seus camaradas mais novos ao longo do próximo ano lectivo no Colégio.
Seguiu-se uma alocução pelo Director do Colégio que reproduzimos de seguida, na íntegra:
Desde o início deste ano letivo que sabíamos que iríamos ter fortes desafios pela frente. Iniciámo-lo com condicionantes e restrições incomuns, limitados em circuitos e acessos de circulação interna, privados dos gerais, das formaturas diárias, de almoços conjuntos, de práticas livres no nosso quotidiano colegial que, no entanto, decorreu de forma tranquila, atenta e preventiva. Neste contexto, restrito e parcimonioso nos eventos programados, conseguimos praticamente cumprir, em modo presencial, todas as nossas obrigações escolares e demais cerimónias e tradições do 1º semestre do ano letivo.
Importa registar, o quão importante foi a ação, individual e coletiva, na retoma das atividades letivas presenciais com o cuidadoso cumprimento das novas regras definidas no Plano COVID do CM; a importância da eficaz continuidade de funcionamento dos serviços que permitiram o normal decorrer das aulas e a conclusão de algumas das beneficiações planeadas, garantindo ainda todo o apoio diário indispensável às atividades correntes.
Em janeiro, o quadro geral do País agravou-se progressivamente e voltámos a ter que cumprir um novo confinamento que nos privou de viver o Colégio, em particular, de forma bem marcante, as comemorações do aniversário do “3 de março”, nos Claustros, na “nossa Avenida”, no seio e com o total envolvimento de uma comunidade tão pre-
sente quanto a nossa, nas partilhas e cumplicidades que esses dias nos permitem como Meninos da Luz!
Foi, de facto, um ano atribulado em que, mesmo depois do gradual regresso às aulas presenciais, nunca chegámos a recuperar o que mais ambicionamos: um dia a dia normal, as práticas do nosso Projeto Educativo na sua plenitude, a possibilidade de cumprir, na íntegra, as atividades previstas no cronograma deste ano letivo.
Tivemos que cancelar, suspender, reprogramar e tentar concretizar algumas das múltiplas atividades e rotinas colegiais, desde visitas de estudo a provas desportivas, festividades e tradições de índole interna. E as que realizámos, quase nunca tiveram o envolvimento dos restantes elementos desta forte comunidade colegial.
Hoje, com expectante paciência e a resiliência que nos caracteriza, tínhamos a esperança de um momento que dignificasse a despedida dos alunos finalistas, permitindo a presença e o testemunho dos respetivos Pais e Encarregagos de Educação que tanto se dedicaram no vosso acompanhamento ao longo da vida colegial, numa cerimónia significativa que minimizasse aquilo que sendo insubstituível nos desse ao menos uma outra oportunidade de viver o espírito colegial. Tal acabou por não ser possível e nesse quadro, novamente muito restrito, a opção foi reunirmo-nos neste Claustro, espaço emblemático para todos nós, para a transmissão do guião que simboliza a passagem de testemunho aos futuros finalistas. A cada um de vós, deixo uma palavra de incentivo para que, ultrapassadas
todas estas dificuldades e concluído o ano letivo, se concentrem no objetivo prioritário que é o alcançar bons resultados nos exames nacionais que se aproximam. O vosso futuro próximo depende desse desempenho, sendo que o vosso sucesso escolar será a única forma de retribuírem ao Colégio, o que o Colégio vos proporcionou ao longo destes anos, constituindo, também, uma singela forma de reconhecimento à dedicação dos vossos docentes … sem resultados, não há eficácia no que fazemos. Todos temos que fazer mais…. todos, em conjunto e a título individual, temos que continuar a trilhar o caminho do sucesso, superando as vicissitudes destes anos difíceis, continuando a contribuir para reposicionar o Colégio num lugar compatível com a sua história bicentenária, no respeito por todos quantos nos antecederam e pelo legado que nos deixaram.
Por último, uma palavra aos alunos finalistas. Este vosso último ano no Colégio não deveria ter sido assim. As vicissitudes do momento que vivemos em sociedade, impediu-nos de impor a nossa vontade e de fazermos mais. Esta Casa ensina-nos a viver as adversidades e a ter caráter. A ser disciplinados e autónomos.
A ser determinados e a dar o que podemos em prol dos objetivos a que nos propusemos. Ser Aluno do Colégio não é evocar só o que nos interessa, é ser um exemplo de conduta e uma referência para os mais novos. No Colégio de hoje, é isso que se espera de um Aluno Finalista, seja ou não seja Graduado, Interno ou Externo, rapaz ou rapariga. Ser Aluno do Colégio é só isso mesmo, é ser “Menino da Luz”. É assumir a importância de ser reconhecido pelo mé-
rito, de contribuir para a qualidade do que fazemos, de ser frontal, de ser dedicado, de ser leal e trabalhador na plenitude do seu potencial. É ser coerente e empenhado todos os dias, em todos os momentos e em todas as circunstâncias, não se refugiando em meras e frágeis justificações ou atitudes menores. Cumpram-se todos os artigos do nosso Código de Honra e tenho a certeza que as tibiezas de alguns, as fragilidades pontuais de outros ou as agruras do que tenhamos que viver, trarão ao de cima o que é, de facto, sentir o verdadeiro significado do “Um Por Todos, Todos Por Um”!
A todos e a cada um de vós expresso o meu reconhecimento pela dedicação em situação tão difícil quanto a que temos vivido e formulo os meus votos de sucesso pessoal e profissional.
Pelo Curso de 2013, um Forte ZACATRAZ
Concluída a alocução do Director, foi a vez de se proceder à transmissão do Guião ao curso de finalistas do próximo ano lectivo.
Foi uma cerimónia simples e breve, mas de grande significado. O Guião do Colégio foi transmitido pelo Porta-Guião de 2020/2021, ao Aluno mais novo do curso de finalistas do próximo ano lectivo, nesta circunstância a Aluna 689, Sofia Alves. Dado não ter sido possível a nossa presença na cerimónia, ilustramos este momento com a apresentação de duas fotografias, que nos foram facultadas pelo Colégio e que agradecemos.
A observação das fotografias recebidas deu origem a dois pensamentos, que temos de partilhar com os nossos leitores.
O primeiro pensamento foi relativo à pala da barretina do Aluno protagonista da cerimónia. A pala toda revirada para cima, é algo que não nos lembramos de alguma vez ter visto igual. Faz-nos lembrar as longas pestanas, reviradas para cima, de algumas senhoras que gostavam de dar nas vistas. Todos sabemos, que aos 17 anos a rapaziada sempre foi muito «criativa», mas não sabemos o que passou pela cabeça deste Aluno, para achar que assim é que ficava bem. Terá querido apenas dar nas vistas? Se assim foi, conseguiu-o, mas pela negativa. Ainda bem que este belo exemplar de barretina não foi exibido fora do Colégio.
O segundo pensamento foi relativo ao Guião em si. Tão tristonho que ele é. Comparem-no com o de 1942, que apresentamos na capa desta revista. Os decisores nem sempre acertam. A adopção do actual Guião foi, para o nosso gosto, um completo desacerto. O Guião começa por não identificar a «Unidade» a que pertence, não apresentando também nem um lema ou uma divisa da mesma. É um guião "mudo". Só alguém que tenha por costume passar pelo largo da Luz, poderá pensar «aquela cúpula diz-me qualquer coisa». Se somarmos a isto, a cor cinzenta escolhida, está tudo dito.
Voltemos ao que aqui nos trouxe, a descrição da breve cerimónia de transmissão do Guião. Transmitido o Guião à Aluna 689, Sofia Alves, procedeu-se de seguida à sua incorporação na formatura.
Prestada a continência ao Director do Colégio foi dada por concluída a cerimónia, depois de se dar um vibrante Zacatraz, como manda a tradição.
À cerimónia nos Claustros, seguiu-se uma sessão na Sala de Armas, para a distribuição de galardões a Alunos e Professores, que se distinguiram no ano lectivo agora findo.
Os prémios atribuídos aos Alunos foram os seguintes:
- Prémio de Instrução Militar – Aluno 338, Bernardo Lopes.
- Prémio de Educação Fisica – Aluno 12, José Ferreira.
- Prémio de Esgrima – Aluno 461, Diogo Onofre.
- Prémio de Equitação – Aluno 326, Tomás Pacífico.
Foram distribuídos Diplomas de Louvor aos seguintes Professores:
- Professora Maria Isabel Oliveira.
- Professora Isabel Branco.
- Professora Anabela Bispo.
- Professora Graça Augusto.
- Professor Alexandre Fernandes.
- Professor Miguel Santos.
- Professor Nuno Fradinho.
- Professora Susana Guedes.
Distribuídos estes prémios e diplomas, foi dada por encerrada a sessão.
A ZacatraZ saúda os Alunos e Professores galardoados.
A ZacatraZ espera que no próximo ano lectivo seja restabelecida a normalidade, permitindo-nos estar presentes nas diversas cerimónias do calendário colegial.
O atual Guião do Colégio Militar.
O Colégio é uma casa de valores, de tradições, onde valorizamos e criamos uma capacidade de superação que vem à tona sempre que é necessária – e com o mesmo empenho a usamos em nosso benefício ou em benefício dos outros. É este um dos singelos mistérios que nos une.
Dizem que este foi um ano difícil, atípico. É verdade que o foi e que o está a ser ainda. No Colégio e fora dele, não há quem não tenha sentido de alguma forma dificuldades, e a vida de cada um de nós mudou de alguma maneira.
Sobre o Colégio e sobre os Graduados, o que mais se tem ouvido nos últimos meses e que se intensificou nestes últimos vossos dias do ano lectivo, é que há tristeza por não terem conseguido
ter as vossas cerimónias como tantos antes de vocês tiveram. Diz-se que foram vítimas da pandemia, que não puderam cumprir a vossa missão e até que foram praticamente uns mártires durante este ano – foi assim a cada cerimónia que não houve.
Não foi isso que eu vi. Não é isso que eu vejo.
Como Antigo Aluno que teve a felicidade de conseguir estar próximo do Colégio nos últimos tempos, e como pai de um aluno que para o Colégio entrou neste ano estranho, o que eu vi foi um conjunto de Graduados que no primeiro dia do ano, levaram o meu filho e tantos outros “pela mão” para conhecerem a sua nova casa. Uns e outros de máscara sim, mas não há máscara que consiga esconder ou disfarçar o carinho com que esse momento aconteceu.
Depois vi as tradições todas a surgirem uma atrás da outra. Algumas como sempre foram, outras a serem adaptadas aos tempos e ao possível, mas a acontecerem, e com um foco enorme na procura de que todos as vivessem, que passassem por elas. Muitas vezes, aqui do lado de fora, preocupamo-nos que as tradições desapareçam ou se percam. Pois neste ano horrível, elas viveram e a preocupação nem teve hipótese de aparecer.
É verdade que também vi a vossa preocupação e receio por não conseguirem passar da melhor forma os valores que vos são tão caros. Mas com esse receio veio força e dedicação e sobretudo o vosso exemplo. E esse exemplo vai ser transportado por quem a ele assistiu e por isso mesmo a vossa marca não terminou aqui. Perdura.
Não houve desfile. Não houve pais e Antigos Alunos a assistir às cerimó -
nias que se conseguiram realizar. Não houve isto e aquilo. É verdade. Mas eu vi os punhos cerrados para encontrar alternativas, para tirar todo o suco possível da laranja que vos deram. Vi emoção nos vossos olhos e ouvi a força que tinham na voz para lutar contra tudo isso. Foi tudo perfeito? Não foi certamente. Nunca é e não tem que ser.
Hoje, dia em que vos escrevo, foi o vosso último dia oficial como Graduados. Eu fui um dos que se juntou a vocês para vos agradecer, ali à porta do Corpo de Alunos, todos juntos, em roda.
E novamente vi.
Vi toda a vossa emoção de força desalmada num grito, e não me sai da cabeça a forma enfeitiçada como os vossos peitos se enchiam de ar em sincronia absoluta a cada compasso do nosso Hino.
O que eu vi foi um ano exemplar de espírito, de vontade, e de elevação. Houve uma guerra e vocês foram chamados para ela. A forma exemplar como o Colégio geriu este ano tão especial, em muito se deve a vocês.
Este foi um ano em que a vossa capacidade de superação foi chamada e posta à prova. A vossa resposta, mostrou os valores do Colégio em ação.
Um dos mais assíduos colaboradores da nossa revista, tem sido, ao longo dos anos, José Alberto da Costa Matos (96/1950), que a tem enriquecido com a elevada qualidade dos seus artigos, resultante do seu inigualável conhecimento da história do Colégio e da elegância e clareza da sua prosa. Há mais de um ano que não publicávamos um artigo seu, o que terá intrigado boa parte dos nossos leitores, levando-os a imaginar a existência de algum problema. Na realidade, houve um problema. Felizmente não foi nenhum problema pessoal, mas apenas um acidente «informático». Três artigos seus andaram a vaguear pelo «ciberespaço», até chegarem finalmente até nós.
É com o maior prazer que publicamos neste número da ZacatraZ esses artigos, sendo evidente que dois deles já deviam ter visto a luz do dia há mais tempo. São eles «O novo monumento», relativo ao 3 de Março de 2020, e «Um amigo e duas vezes camarada», de homenagem ao falecido Vitor Manuel de Oliveira Santos (365/1949), o inesquecível «Palhaço».
Como se costuma dizer «Mais vale tarde, do que nunca». Temos de evitar a repetição de uma situação deste tipo.
A isso chama-se exemplo. E chama-se também missão cumprida.
Esta carta é, sem qualquer problema, quase uma carta de amor. É um obrigado, é um orgulho enorme pelo que fizeram, que por todas estas razões não foi menos, foi muito mais.
O autor desta carta é Presidente do Conselho de Delegados de Curso da AAACM
Com o presente número da revista já em revisões, ocorreu, no passado dia 8 de Setembro, no Colégio Militar, a cerimónia de imposição de graduações aos Alunos que irão exercer funções de comando, no ano lectivo de 2021/2022.
Esta importante cerimónia da vida colegial teve uma particularidade a assinalá-la. A cerimónia decorreu com a presença dos pais e encarregados de educação dos Alunos que foram graduados. Foi um primeiro passo no sentido da normalização da vida colegial. Fazemos votos para que a este passo outros se sigam, para que os Alunos possam desfrutar em toda a sua plenitude do privilégio que é ser Menino da Luz.
Tal como havia sido programado, as comemorações do Aniversário do Colégio Militar decorreram em 2020 nos dias 7 e 8 de Março, sábado e domingo. Mas não puderam ser realizadas todas as festividades planeadas porque, dias antes, irrompeu em Portugal e no mundo a pandemia “Covid 19”. E isso impôs condicionamentos e limitações.
Assim, no sábado de manhã, as cerimónias decorreram na Parada Marechal Teixeira Rebelo e não puderam, desta feita, ter a assistência de antigos alunos nem dos familiares dos actuais.
No dia seguinte, domingo, realizou-se o tradicional desfile do Batalhão Colegial na Avenida da Liberdade, mas não houve a também tradicional celebração litúrgica na Igreja de S. Domingos.
Mas situemo-nos agora na manhã de sábado, dia 7.
O cerimonial incluiu o acender da “Chama” no monumento evocativo dos 175 anos e foi feita a entre -
ga de prémios aos alunos que mais se haviam destacado no ano lectivo 2018/2019.
Seguiu-se então a Inauguração de um monumento posicionado no “Páteo dos Fâmulos” junto ao acesso à Parada Marechal Teixeira Rebelo, monumento esse que foi oferecido ao Colégio pelo Presidente do Conselho Municipal da Beira (Moçambique), engenheiro Daviz Mbepo Simango, nascido em 1964, filho do ex-Vice-presidente da Frelimo, Uria Simango, e presidente do Movimento Democrático de Moçambique, encontrando-se então no seu quarto mandato consecutivo à frente do Conselho Municipal da Beira.
O monumento foi encomendado ao escultor José João Brito, antigo professor do Colégio Militar que é também o autor do Memorial do Bicentenário, que se encontra posicionado a noroeste da fachada do edifício principal, e também do monumento evocativo daquela mesma efeméride posicionado pela Câmara
Municipal de Oeiras junto à entrada para a Feitoria.
Não assisti à inauguração do novo monumento, mas tive depois acesso a umas quantas fotografias que registaram o evento, podendo através delas constatar que essa específica cerimónia teve a presença do Director do Colégio, do escultor Brito, do Presidente da Direcção da AAACM, do aluno Comandante do Batalhão de Alunos e do “Batalhãozinho”
Este monumento é constituído por uma peanha em pedra, formada por cinco livros sobrepostos, encimada por uma barretina em bronze que se encontrava depositada há anos na sede do Município da Beira, e cujo Presidente achou por bem fazer regressar com a maior dignidade à sua origem: o Colégio Militar. E a assinalar tal gesto encontra-se colocada no monumento uma placa metálica com uma gravação alusiva.
As lombadas de cada um dos cinco livros têm gravado, de cima para
baixo, os seguintes títulos: “Zacatraz” , “Servir” , “Um por todos todos por um” , “Afonso de Albuquerque” e “Marechal Teixeira Rebelo”
“Zacatraz” é um brado e um sinal da presença do Colégio Militar, entoado pelos seus Alunos ou Antigos Alunos, constituindo uma forma de expressão laudatória, e também uma evocação de unidade entre o passado, o presente e o futuro, que têm como elo de ligação a tradição educativa do Colégio ao longo dos dois últimos séculos da História de Portugal, nela assinalada através dos portugueses que foram educados no Colégio.
Conhecido heraldicamente como um “grito de guerra” , o “Zacatraz” figura no brasão de armas do Colégio Militar por meio de um listel ondulado, prateado, encimando o timbre, tendo em letras negras, maiúsculas, de estilo elzevir, a palavra “Zacatraz”.
“Servir” é um farol, uma palavra que sintetiza o objectivo final da forma -
ção cultural e cívica ministrada e praticada no Colégio, e que figurou como “grito de guerra” no primeiro guião colegial datado de 1942, que se manteve em uso durante quase um quarto de século.
“Um por todos todos por um” é uma expressão que sintetiza o inconfundível espírito de camaradagem e solidariedade que une para toda a vida quantos foram ou são alunos do Colégio Militar. Tal frase figura de igual modo, agora como “divisa” , num listel prateado sotoposto ao escudo do brasão de armas do Colégio.
“Marechal Teixeira Rebelo” é o Fundador!
Aquele a quem o Batalhão de Alunos presta continência cada vez que desfila perante o seu busto, num gesto de gratidão, respeito e admiração. Um Militar excepcional e um Homem que foi um ilustre pedagogo, um amante do saber e da ciência, um cidadão impoluto e altruísta, e alguém de rija têmpera e determinação cuja principal obra é, sem dúvida, o seu Colégio Militar, um autêntico e grandioso padrão em sua memória.
O livro de pedra com o seu nome gravado na lombada constitui, e bem, a base do recém-inaugurado monumento pois Teixeira Rebelo foi, e continua a ser, o suporte de 217 anos de vida do “seu” Colégio.
E o Afonso de Albuquerque? Que relacionamento existe entre ele o Colégio Militar?
Em termos de contemporaneidade não existe qualquer relação, porque Albuquerque nasceu em Alhandra nos finais de 1452 e o Colégio teve berço na Feitoria (Oeiras) 351 anos depois.
Dizem no entanto alguns que é ele o “patrono” do Colégio! Mas como e porquê?
Um “patrono” é um chefe militar, personalidade civil ou divindade famosa que protege, apoia e serve de guia a uma determinada unidade militar, organização ou grupo.
Embora não fossem superiormente determinados, no Exército existem alguns patronos, padroeiros ou padroeiras tradicionais:
D. Afonso Henriques (Exército), D. Nuno Álvares Pereira (Infantaria), Mouzinho de Albuquerque (Cavalaria), Santa Bárbara (Artilharia), Nossa Senhora da Conceição (Engenharia), Arcanjo São Gabriel (Transmissões), Rainha Santa Isabel (Serviço de Administração Militar), Bartolomeu da Costa (Serviço de Material), São João de Deus (Serviço de Saúde) e Viriato
(Regimento de Infantaria de Viseu). Como já foi referido, Afonso de Albuquerque nasceu em Dezembro de 1452, tendo ao longo da sua vida servido durante os reinados de D. João II e de D. Manuel I.
Em 6 de Abril de 1503, com 53 anos de idade e uma já longa carreira militar, foi enviado por D. Manuel I
numa sua primeira expedição à Índia, tendo então participado em várias batalhas contra Calecute, e conseguindo garantir a segurança no trono do rajá de Cochim, que lhe concedeu permissão para que ali fosse construída uma fortaleza pelos portugueses, a qual veio a ser ponto de partida para a expansão do império português no Oriente.
Regressou ao reino em Julho de 1504, onde expôs a D. Manuel I a sua visão de um “Império no Oriente”, a qual assentava na conquista das principais posições estratégicas nos mares do Índico.
Tendo sido aceite o seu plano, seguiu para a Índia em 1506 como Capitão-mor do Mar da Arábia, sendo dois anos depois, em 1508, nomeado Vice-rei e Governador da Índia Portuguesa, em substituição de D. Francisco de Almeida.
Afonso de Albuquerque veio a ficar célebre pela sua coragem, e também pela sua determinação, firmeza e impulsividade. Conquistou e dominou os principais pontos-chave no Oceano Índico os quais lhe permitiram ampliar o domínio dos portugueses no Oriente durante os séculos XVI e XVII, bem como garantir o respectivo monopólio comercial.
Grande marinheiro, estratega militar e diplomata, veio a falecer em 1515.
Por ter sido um “grande marinheiro”, em 1935 a Marinha Portuguesa deu o seu nome a um Aviso de 1.ª classe com cerca de 100 metros de comprimento e uma guarnição de 189 homens, que veio a ser destruído em Goa, em 1961,nos combates que ocorreram naquele território pelas tropas da União indiana.
Mas a Marinha adoptou também o nome de Afonso de Albuquerque como “patrono” do Curso de 1942 da Escola Naval. Curiosamente, deste curso de oficiais de Marinha fazia parte um antigo aluno do Colégio Militar, o 94/1935, João Manuel Torres Grincho que, de fins de 1972 a meados de 1974, foi Comandante da Defesa Marítima da Beira (Moçambique).
Mas, nestas circunstâncias, como é que surge a eventual ligação deste “grande marinheiro” ao Colégio Militar?
Recuemos então ao começo de 1999, quando passei a ir semana sim, semana não, para Lisboa, para realizar trabalhos de pesquisa e investigação no Arquivo Histórico Militar, Biblioteca Nacional, Biblioteca do Exército e arquivos e biblioteca do Colégio, para poder escrever a “História do Colégio Militar” , e durante as quais pernoitava no piso superior do edifício do Corpo de Alunos.
Por essa altura, e até ao princípio de Fevereiro de 2001, o Director do Colégio foi o brigadeiro Deus Alves, meu conhecido dos tempos em que eu chefiara a Secção de Organização do Estado-Maior do Exército. Estive por isso várias vezes no seu gabinete de Director e recordo-me que, em determinada altura, reparei que um pequeno quadro com uma imagem de Afonso de Albuquerque, (que estava pendurado na parede entre a sua secretária e a porta de acesso ao gabinete), tinha na sua parte inferior uma pequena placa com qualquer coisa escrita que então não li por não me ter despertado curiosidade.
Só mais tarde fiquei a saber que a tal placa tinha gravado o nome de Afonso de Albuquerque que era seguido do título “Patrono do Colégio Militar” . Quando tive oportunidade procurei saber como aquilo ali fora parar, tendo-me sido referido que vinha do tempo em que foi director durante quatro anos
lectivos (1958 a 1962) o brigadeiro
Raul Pereira de Castro, que havia sido antigo aluno (365/1916).
Em 1955, sendo então tenente-coronel, Pereira de Castro foi nomeado comandante do Batalhão de Caçadores de Goa, terra que fora conquistada em 1510 por
Afonso de Albuquerque, que fez dela o centro da presença portuguesa no Oriente.
Mercê da sua proximidade com o regime vigente, Pereira de Castro, uma vez Director do Colégio Militar, conseguiu nele realizar importantes melhorias, mas também
proporcionar aos alunos finalistas de 1958/59 uma viagem a Goa, Damão, Diu e ilha de Angediva, a qual ele próprio acompanhou, e que se desenrolou de 23 de Março a 10 de Abril, tendo no regresso incluído as escolas militares do Líbano e de Cairo, e uma recepção pelo Papa João XXIII.
E terá sido este rememorar da figura de Afonso de Albuquerque que o terá levado a “tornar” o “Leão dos Mares” patrono colegial, e a materializar o facto através do tal quadro colocado no seu gabinete de Director.
Foi já na direcção do brigadeiro Tavares de Almeida, e ainda durante a minha missão de escrever a História colegial, que tive oportunidade de lhe dizer que Albuquerque não era patrono do Colégio.
E ele de pronto tomou a decisão de retirar do gabinete o enganador quadro.
Aliás, se o Colégio tivesse, ou um dia vier a ter, oficialmente, um patrono, ele teria que, incontestavelmente, ser o Marechal Teixeira Rebelo.
Debrucemo-nos agora sobre a “Barretina” de bronze que encima a peanha de livros e que peca por duas incorrecções: tem a pala deformada (levantada) e o penacho está inclinado para a frente em vez de estar na vertical.
Os desenhos, fotografias antigas e modelos da barretina mostram bem que a sua pala deve ser horizontal e diversas fotografias do arquivo histórico comprovam isso mesmo.
Alguém terá resolvido deformá-la e lembro-me que, por alturas da passagem de século, essa incorrecção
era frequente, em particular na escolta a cavalo.
A seguir ao Bicentenário fui tentando acabar com tal incorrecção referindo-me a ela nas palestras sobre “Tradições” que durante anos realizei no âmbito do Estágio de Graduados que antecede o começo de cada ano-lectivo.
E ao longo de uma década, alguma coisa se foi modificando, ainda que haja quem persista na adulteração. Quanto ao penacho, acabei por descobrir que a origem da inclinação indevida se situava nas rouparias, onde cada aluno tem um cacifo pessoal com os seus artigos de vestuário e onde a barretina se encontra depositada, mas virada ao contrário, tendo depositados no seu interior as granadeiras, as luvas brancas e o cinturão.
E é o peso destes artigos e o posicionamento da barretina que faz com que o penacho se vá dobrando para a frente.
E como a escrita já vai longa, para a concluir atrevo-me a pedir a quem olha para o novo monumento que
esqueça a lombada do segundo livro a contar da base e, em especial aos alunos, que não copiem as posições da pala e do penacho da barretina de bronze.
Assembleia Geral, de 18 de junho de 2021
No número 220 da ZacatraZ, de Julho/Setembro de 2020, relatámos a Assembleia Geral do ano passado, realizada a 25/6/2020. O título do artigo era, «Assembleia Geral sui generis» , dado a mesma se ter realizado ao ar livre, para cumprimento das normas então impostas pela Direcção Geral de Saúde. O parágrafo final desse artigo dizia o seguinte «E assim se concluiu uma Assembleia Geral, em moldes verdadeiramente «sui generis», que esperamos que não se venham a repetir». Mal imaginávamos nós o que nos iria suceder em 2021.
Passado um ano de pandemia, com avanços e recuos, lá tivemos de fazer, no passado dia 18/6/2021, nova Assembleia Geral, exactamente nos mesmos moldes da Assembleia Geral de 2020, tal como as fotos que apresentamos testemunham.
Estiveram presentes 20 associados, com poderes para representarem mais 15 associados. Iniciou-se a sessão com a formalização da aprovação da acta da reunião anterior, já aprovada do antecedente, por correio electrónico, pelos associados presentes na mesma reunião.
De seguida, o Director do Colégio, Coronel António Salgueiro, convidado pelo Presidente da Assembleia Geral da nossa Associação, fez uma síntese
da situação actual do Colégio, que resumimos do seguinte modo:
- Foi um segundo ano atípico, grandemente afectado pelo estado de pandemia.
- O desfile do 3 de Março não se efectuou. Para compensar minimamente os Alunos, estava planeado fazer-se uma cerimónia militar de encerramento do ano lectivo. A cerimónia foi cancelada, por ordem superior, na véspera da data marcada, devido ao agravamento da situação de pandemia.
- Não podendo haver baile de finalistas, estava marcado um jantar de finalistas, que teve de ser adiado para 16 de Julho.
- Está a decorrer o processo de admissões. Já foram admitidos 88 alunos. Prevê-se a admissão de um total de 110 alunos, atingindo-se os 750 alunos (1º ciclo + Batalhão) no próximo ano lectivo.
- Os resultados obtidos pelos alunos nos exames são positivos, devendo-se porém ter em mente, que o ano passado e este ano o processo de avaliação não foi o normal.
- O Colégio está agora bem servido de professores.
- O Colégio obteve o estatuto de Cambridge Partner School.
- Em Maio, foi inaugurado o recém construído pavilhão gimno-desportivo.
- No próximo ano, será modernizado o pavilhão de aulas Gulbenkian.
- Espera-se poder fundar, no próximo ano, o Clube do Colégio Militar.
- A Direcção do Colégio tem a esperança que a vida no Colégio possa retomar a normalidade no próximo ano.
À intervenção do Director do Colégio seguiu-se o período antes da Ordem do Dia, para a apresentação pelos associados de questões não contempladas na mesma Ordem.
Nuno Vilares Cepeda (310/1941) apresentou algumas sugestões para o desenvolvimento de actividades, que aproximem mais os associados da sua Associação.
Martiniano Gonçalves (9/1958) informou, na sua qualidade de Presidente da Mesa da Assembleia Geral, que pretende convocar uma Assembleia Geral Extraordinária, para o próximo mês de Outubro, para ratificação de uma revisão dos actuais estatutos da Associação.
João Coimbra (54/1984) informou que foram criadas condições condignas no «Banco de Fardas» , que as famílias dos alunos podem utilizar. Esta iniciativa teve uma excelente resposta.
O Presidente da Direcção informou sobre a situação das diligências em curso, relativas ao PM34 (Quartel da Formação). Dado o Exército ter confirmado que não tem interesse neste Prédio Militar, o assunto passou para a alçada do Ministério da Defesa. A Associação enviou, no passado mês de Março, uma carta ao Ministério, à qual ainda não se recebeu qualquer resposta. O Presidente referiu que gostaria de deixar este problema resolvido, quando terminar o seu mandato.
José Bastos e Silva(67/1957) referiu que este assunto devia ser noticiado na "newsletter" , para que todos os Antigos Alunos o possam acompanhar.
Entrou-se de seguida na discussão dos pontos constantes da Ordem do Dia.
1 – Apreciação e votação do relatório e contas do exercício de 2020.
O Presidente da Direcção expôs a acção da mesma durante o ano de 2020, tendo salientado os seguintes pontos:
- Apesar dos efeitos da pandemia, a receita obtida em 2020 com a cobrança das quotas foi superior à receita do ano de 2019.
- Houve uma poupança nos encargos com pessoal no ano de 2020, dada a redução do efectivo de pessoal a que se procedeu e dado que as compensações correspondentes já tinham sido pagas em 2019.
- Houve uma diminuição de receitas extraordinárias resultantes de actividades diversas, dado estas terem estado praticamente suspensas em 2020.
José Bastos e Silva (67/1957) questionou o Presidente da Direção acerca de alguma eventual decisão da Assembleia Geral em relação ao PM 34. O Presidente da Direção esclareceu, que não existe qualquer decisão da Assembleia Geral. Terá de ser convocada uma Assembleia Geral, quando houver propostas concretas sobre as quais a Assembleia se deva pronunciar. Bastos e Silva (67/1957) pediu esclarecimentos acerca da posição
tomada pelo Exército em relação ao PM 34, bem como sobre alguns aspectos das contas da Solidariedade. Foi esclarecido que o Exército se pronunciou verbalmente, tendo indicado não ter interesse no PM34. Quanto às contas, havia de facto uma imprecisão nos elementos distribuídos, tendo sido a situação regularizada.
A Assembleia aprovou o Relatório e Contas do ano de 2020.
Assembleia Geral, de 18 de junho de 2021
2 – Apreciação sobre propostas apresentadas pela Direcção e pelo Conselho Fiscal.
Foi aprovada a proposta apresentada relativamente ao resultado liquido do exercício afecto ao Fundo de Solidariedade.
Foram aprovados os seguintes votos de pesar, agradecimentos e saudações, propostos pela Direcção:
- Voto de pesar pelos Antigos Alunos falecidos em 2020.
- Agradecimento à Mesa da Assembleia Geral e ao seu Presidente pelo apoio dado à Direcção.
- Agradecimento ao Presidente do Conselho Fiscal e ao seu Presidente.
- Agradecimento ao Conselho Supremo e ao seu Presidente.
-Agradecimento ao Conselho de Delegados de Curso e ao seu Presidente.
- Agradecimento ao Corpo Redactorial da revista ZacatraZ e ao seu Director.
- Agradecimento a todos os associados que apoiaram e ajudaram a Direcção.
- Agradecimento à Direcção do Colégio Militar.
- Saudação à Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar e à Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas.
Foi aprovado um voto de louvor à Direcção da Associação e ao seu Presidente, proposto pelo Conselho Fiscal.
3 – Apreciação da acção da Direcção e do Conselho Fiscal.
Não houve qualquer inscrição para a discussão deste ponto da Agenda, pelo que se passou ao ponto seguinte da mesma.
4 – Apreciação e votação da proposta de orçamento para o ano de 2021.
O Presidente da Direcção referiu a grande dificuldade com que teve de se confrontar na elaboração de uma proposta de orçamento, devido à grande indefinição reinante, resultante da situação de pandemia que se atravessa. Esta indefinição não permite qualquer certeza quanto às actividades que a Associação poderá desenvolver ao longo do ano.
O Presidente da Direcção indicou que foi encomendada uma avaliação do PM34, tendo em vista as negociações em curso com o Ministério da Defesa.
O presidente da Direcção informou que foi angariada a verba de 6.000 euros, para auxiliar o Lar da Associação das Antigas Alunas de Odivelas.
O Orçamento para o ano de 2021 foi aprovado por unanimidade.
Não havendo mais nenhum assunto a tratar, foi lida e aprovada a acta da reunião, que foi elaborada no decurso da mesma.
E foi assim, novamente condicionada pela pandemia, que decorreu a Assembleia Geral Ordinária de 2021.
Quanto ao futuro, já não nos atrevemos a fazer qualquer previsão. Poderemos voltar à normalidade, com as Assembleias a decorrerem no Teatro D. Luis Filipe, ou poderemos continuar a fazê-las no «plein air» . De qualquer forma, será tudo feito como nas corridas de touros em Espanha, como «Dios lo quiera y la Autoridad lo permita».
A Redacção.
No passado dia 10 de Junho, comemorou-se, em Belém, como já é tradição e como o DEVER DE MEMÓRIA nos impõe, o Dia de Portugal e o Dia do Combatente.
A comemoração decorreu, como é habitual, em dois tempos e dois lugares. Primeiro, com uma cerimónia religiosa, missa por alma dos combatentes falecidos, celebrada na igreja do mosteiro dos Jerónimos. De seguida, com uma cerimónia militar, sessão de homenagem aos mortos da Guerra do Ultramar, frente ao Forte do Bom Sucesso e ao monumento aí erigido em memória dos mesmos.
O monumento aos mortos é singelo, consiste numa enorme parede, onde se encontram inscritos os nomes de todos os combatentes falecidos num total de cerca de 10.000. O monumento é singelo, mas o seu significado não podia ser mais profundo. Ali estão irmanados todos os que tombaram em campanha, desde o soldado ao general. E estão muito bem assim, pois na hora da verdade não há quaisquer diferenças. Todos são SOLDADOS e como escreveu Mouzinho "esse é o nosso maior orgulho".
Naquela parede estão os nomes dos 18 Meninos da Luz, que pereceram na Guerra do Ultramar, sendo três do curso de 1955 do Colégio. Tivemos oportunidade de os recordar, a todos, no número 222, de Janeiro/Março de 2021, da ZacatraZ, por ocasião da passagem dos 60 anos sobre o início da Guerra do Ultramar, no Norte de Angola. Este ano não estivemos presentes nas ceri-
mónias, o que lamentamos, pois viemos a saber, logo de seguida, que as mesmas tinham decorrido com enorme elevação, dada a superior qualidade tanto da homília feita por D. Rui Valério, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, como do discurso proferido pelo Exmo Senhor General José Calçada, na sessão que decorreu frente ao monumento aos mortos da Guerra do Ultramar.
Mão amiga fez chegar até nós os textos da homília e do discurso, o que nos permitiu a elaboração do presente artigo. Reproduzimos de seguida, na íntegra, os referidos textos, para que todos os nossos leitores os possam apreciar devidamente. Começamos pelo texto da homília proferida na cerimónima religiosa.
1. A Sagrada Escritura contém um significativo pormenor literário sobre a diferente maneira de Deus e o Maligno abordarem o ser humano. Enquanto Deus, quando se aproxima de alguém, dialoga com a pessoa usando a forma afirmativa, ou então interpelando, ou simplesmente ordenando, mas também fazendo perguntas e lançando interrogações
— por exemplo, quando procurava Adão perguntava «onde estás?» (Gn 3, 9) ou, no caso de Jesus, questionava aos que O seguiam «que procurais?» (Jo 1, 38), ou «rapazes, tendes alguma coisa para comer?» (Jo 21, 5) e ainda ao cego Bartimeu «que queres que eu te faça?» (Mc 10, 51) —, o Maligno, pelo contrário, usa sempre a forma afirmativa para falar e dizer o que entende. Nunca questiona, seja homem, seja mulher. Esta simples diferença literária encerra em si dois projetos diversos sobre o ser humano; duas prospetivas diametralmente opostas: enquanto a interrogação suscita redobrada atenção, capacidade de reagir, podendo até provocar uma atitude combativa na pessoa que é abordada, como sucedeu com Jacob e até mesmo com Moisés, a forma afirmativa de apresentar a mensagem, ao invés, apenas vem recebida passivamente e sem questionamento, induzindo à submissão.
De algum modo deparamo-nos aqui com o sentido profundo do combate. Combater exprime um projeto de humanidade assente na liberdade e para a liberdade. Só o ser humano que é livre ousa combater, ousa lutar, seja para defender os valores e a vida, seja para alcançar e realizar os ideais e horizontes de excelência para a humanidade.
Por isso, neste dia de memória aos heroicos combatentes portugueses, a nossa homenagem dirige-se, em primeiro lugar, àqueles que representam a nossa vocação, humana e lusa, de pessoas livres, que se sentem interpeladas pela história e pela vida a responder e a combater contra o mal, e contra tudo o que atropela a dignidade do ser humano e que lesa a Nação.
2. Na presença dos Combatentes, estamos perante pessoas que, na estruturação interior da sua afetividade, na hierarquia dos seus corações, o primeiro lugar, o centro das suas vidas nunca é ocupado por eles próprios. O Combatente foi e é alguém que sente os outros, os irmãos, a sua Pátria, o seu país, os seus camaradas. Por isso, estando a cultura dominante de hoje assente num exacerbado individualismo, onde cada um vive preferencialmente fechado em si próprio, a figura do Combatente coloca em crise tal cultura.
Evocando o momento sublime do evangelho (Lc 2, 8-14), cujo contexto são os pacíficos campos da Judeia onde pastam os rebanhos guardados pelos seus pastores e é anunciada a boa nova do nascimento do Salvador, descobrimos que esses pastores são pessoas que abdicam do seu bem-estar e que estão ali, e ali passam a noite, junto aos seus rebanhos, para os defender e combaterem todas as ameaças. É essa atitude dos pastores, de certo modo altruísta, que permite a segurança do rebanho. Mas fundamentalmente, Aquele menino apresentado como Salvador, Cristo Senhor, não é alguém que sempre recusou viver para si mesmo, mas foi todo para o Pai e se ofereceu para a salvação do mundo? Então, a Fonte
que inspira os que hoje recordamos é profunda, pois é o próprio Cristo. E assim, na Sua peugada vemos surgir o contraste nítido entre uma cultura individualista, que sufoca e mata dentro das suas próprias prisões, e a cultura da solidariedade, da entrega, da alteridade vivida e promovida por quem verteu o seu sangue no campo da honra e cuja morte é semente de vida. O enorme memorial onde estão gravados os seus nomes constitui um desafio para a nossa sociedade. Obriga o ser humano de hoje a olhar para além de si próprio, a exemplo de Cristo e de quem deu a vida pela Pátria e por Portugal. Estes construíram a Nação que somos. Evocando Fernando Pessoa, somos do tamanho do que vemos e maiores que a nossa altura, e o que vemos é imenso porque olhamos longe, alcançamos o Céu, vislumbramos Deus nos horizontes do tempo, e afloramos a eternidade quando reencontramos os nossos semelhantes e, por eles, damos a vida:
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura...”
3. Os mais recentes tempos de pandemia vieram despertar a sociedade portuguesa para a atualidade do espírito próprio dos Combatentes. Hoje estamos em condições de afirmar que foi esse espírito e essa mística que, tal como nas frentes de batalha travadas em São Mamede e Ourique, em Lisboa e Aljubarrota, na Flandres e no Ultramar, no Kosovo e na República Centro Africana, salvaram a vida,
a dignidade e a honra de Portugal. Também na luta contra a pandemia do Covid-19, foram e são os Combatentes das Forças Armadas e as Forças de Segurança, Médicos e Bombeiros, pessoal de saúde e tantos homens e mulheres de boa vontade que têm salvaguardado Portugal da catástrofe e os portugueses da ruína e de mais atrozes mortes. E hoje, o nome desses combatentes da atualidade está gravado na memória de quem foi protegido e defendido por eles. Neste dia, a nossa homenagem é dedicada ao espírito heroico dos que em circunstâncias diversas, mas igualmente prementes, combatem o mal, combatem o inimigo da vida e lutam por Portugal e pelos portugueses.
4. A Palavra de Deus, neste dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, em que liturgicamente celebramos o Anjo de Portugal, revela-nos a figura do protetor do mundo. É uma pertinente e bem atual conceção da humanidade. Sempre exposta à possibilidade do perigo, vai apreendendo, ao longo do processo da história, que tudo pode constituir uma ameaça à vida e à integridade do ser humano. Uma estupenda forma de dizer que para tudo e em todas as circunstâncias há necessidade de um defensor. O salmo clama alto e forte:
“Tu, que habitas sob a proteção do Altíssimo, moras à sombra do Omnipotente. Ele te livrará do laço do caçador e do flagelo maligno. Não temerás o pavor da noite, nem a seta que voa de dia; nem a epidemia que se propaga nas trevas, nem a peste que alastra em pleno dia. Nenhum mal te acontecerá, nem a desgraça se aproximará da tua morada. Porque o Senhor mandará aos seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos.” (Sal 91)
10 de Junho. Dia do CombatenteA mensagem de esperança que nos é oferecida pela Palavra de Deus reside, por um lado, na promessa de se estar protegido de todos os perigos e de nenhum mal acontecer, mas, por outro lado, essa promessa assenta na ação protetora de Deus. É pela sua obra salvífica, pela sua defesa do mundo exercida por intermédio dos Seus enviados e mediadores que cada homem e mulher pode experimentar o doce bálsamo da segurança e proteção. E, historicamente, nenhuma situação se presta tanto a ser experiência de salvação como o viver em paz e seguros; nada nos dá mais confiança na vida do que a certeza de existir Alguém que vela por nós.
Por isso, eleva-se o nosso louvor em modo de reconhecimento pelo dom daqueles que, embebidos da vocação a serem tudo para Deus e pelos irmãos, geraram nos portugueses um sentimento de amparo. E quem foram e quem são? São os que, de forma abnegada, se colocaram e colocam ao serviço de Portugal e dos portugueses, os quais reconhecemos como obreiros que colaboram na boa obra redentora de Deus. Investidos da sublime vocação de materializarem a proteção de Deus, a autenticidade e radicalidade com que se entregam ao serviço da Nação suscita nas pessoas o tão apreciado espírito de confiança.
5. O Evangelho escutado (Lc 2, 8-14) constitui um derradeiro momento de esperança para a humanidade, enquanto celebra e assinala o nascimento do Salvador. Uma boa nova que foi levada pelos anjos, aqueles que, na revelação bíblica têm, entre outras funções, a de protegerem e guardarem a humanidade. Nesta missão, encontramos a realização da profecia escutada na pri-
meira leitura quando o próprio Arcanjo Miguel, chefe das miríades angélicas, surge na frente do combate contra a desilusão e o desespero: “Então Miguel, um dos chefes principais, veio em meu auxílio. Eu estive lá, a fazer frente ao chefe dos reis da Pérsia, e vim para te explicar o que vai suceder ao teu povo, no fim dos tempos”. E o que sucedeu foi a vinda do Messias ao mundo para salvar a humanidade. A sua chegada e presença no meio de nós restaurou a esperança, deu um novo alento ao fluir da história e um novo ânimo se estabeleceu no coração da humanidade. Um velho cântico italiano diz que hoje somos nós as mãos de Cristo, os seus pés, os seus olhos, os seus braços. Ou seja, a nossa presença de homens e mulheres de boa vontade no seio da sociedade é a principal fonte de esperança, como o foram os heróis que hoje recordamos e homenageamos e que elevaram e elevam bem alto, com o seu exemplo inspirador, o fogo do alento da Nação. Na sua atitude, o povo intuiu a presença daquilo que sedimenta a chama da confiança no presente e no futuro da humanidade e de Portugal: a existência de pessoas que não se resignam ao mal, nem à mediocridade, mas combatem-nos, confiando em Deus, o supremo Bem, e no ser humano, criado à sua imagem e semelhança. E, hoje, somos nós, cada um de nós, os chamados a não ter medo dos desafios da história, e a irradiar a alegre notícia da redenção da humanidade por obra do amor oblativo de Jesus Cristo. Acolhamos a sempre renovada interpelação de Camões:
"E se te move tanto a piedade//Desta mísera gente peregrina,//
Que só por tua altíssima bondade,// Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade// Conduzir-nos já agora determina,
Ou nos amostra a terra que buscamos,//Pois só por teu serviço navegamos." (C II, 32)
São Nuno de Santa Maria e Santo Anjo de Portugal, rogai por nós."
D. Rui Valério frisa na sua homília, que é licito o ser humano combater «seja para defender os valores humanos e a vida, seja para alcançar e realizar os ideais e horizontes de excelência para a humanidade». Mais à frente, na mesma homília, afirma que no caso do combatente «o centro da sua vida nunca é ocupado por ele próprio», pelo contrário, o combatente «foi e é alguém que sente os outros, os irmãos, a sua Pátria, o seu país, os seus camaradas». Na parte final da homília, o Bispo das Forças Armadas foi particularmente feliz, quando recordou, que combatente tem sido também, todo o pessoal dos serviços de saúde e seus auxiliares, que, há mais de um ano, lutam, esforçada e abnegadamente, contra a pandemia que assola Portugal. É pena, que, até agora, as nossas autoridades não tenham manifestado publicamente a esses combatentes incógnitos, que trabalham, tanto nos Hospitais centrais mais especializados e bem equipados do País, como nos mais remotos e primitivos Lares de Idosos do interior, o profundo reconhecimento e respeito, que a Nação por eles nutre.
Na sessão que teve lugar frente ao Forte do Bom Sucesso usou da palavra o Senhor General José Calçada. Para aqueles que não o conhecem, diremos que foi um dos dois generais do Exército, que tomaram a iniciativa de apresentar a sua demissão imediata, face às
decisões tomadas pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, na sequência do inconcebível roubo de armas e munições dos paióis do Exército, em Tancos. O outro oficial que tomou idêntica atitude, é Antigo Aluno do Colégio. Não conhecendo na altura pessoalmente o Senhor General José Calçada, a primeira vez que o encontrámos, após esse episódio, saudámo-lo respeitosamente e manifestámos-lhe o nosso apreço pela atitude por si tomada, ilustrativa da sua grandeza de carácter. Reproduzimos de seguida o texto do discurso do Senhor General José Calçada:
Ex.mo Sr. Presidente da Comissão Executiva do Encontro Nacional dos Combatentes, Camaradas de ontem, de hoje e de sempre, Minhas senhoras e meus senhores, Combatentes de Portugal.
Estamos de novo aqui reunidos, da forma possível dadas as circunstâncias sanitárias sobejamente conhecidas, junto a este magnífico monumento, silencioso guardião dos nomes dos milhares de Soldados de Portugal caídos ao serviço da Pátria, durante as Campanhas do Ultramar, para os homenagear e para celebrar esta nossa nação já velha de quase nove séculos!
E as palavras que vou proferir, como não poderia deixar de ser, falam de Portugal, da sua História e dos seus Soldados, dos seus Combatentes!
Forjado na luta, no combate árduo, alicerçado na vontade férrea dum Príncipe que era um Líder, Portugal foi, desde bem cedo, um país único! Contrariando a geografia e a própria lógica feudal separou-se de Castela e soube, pela coragem e pelo sangue, garantir a sua soberania tendo alargado depois os seus horizontes ao reconquistar para a Cristandade terras submetidas ao Califado de Córdova! Foi, pois, uma independência conquistada com sangue,
suor e lágrimas! E no final do século XIII, Portugal já tinha as suas fronteiras peninsulares definidas! Houve liderança!
Uma vez consolidada a independência veio o tempo da expansão! E essa foi uma aventura, sob todos os pontos de vista, grandiosa, magnífica! Ainda hoje causa admiração pelo grau de dificuldade, pela determinação e persistência que foi preciso ter, pela capacidade de Planeamento a longo e muito longo prazo, pela coragem, enfim pela lusitana paixão que foi necessário cometer a tal empreendimento! O povo pôs ao serviço da Pátria as suas reconhecidas qualidades e soube sempre suplantar os seus defeitos! E houve liderança!
Questões dinásticas levaram ao governo um rei duplamente estrangeiro (porque era espanhol e um Áustria!) mas ao fim de sessenta anos voltá-
mos a ter um soberano português! Seguiram-se 28 anos de luta – a guerra da aclamação ou da restauração –com as características de resistência, perseverança e coragem do povo a virem ao de cima! E, mais uma vez, houve liderança!
Vieram tempos de prosperidade e reforma que alternaram com outros de desespero. As invasões francesas, a independência do Brasil, a guerra civil! E no final do século XIX, após a Conferência de Berlim, uma nova Ínclita Geração (que passou à História como a geração de Mouzinho) procedeu à ocupação efectiva das partes de África que nos tinham sido atribuídas no decurso dessa Conferência! Embora não fossem, na totalidade, as terras que havíamos reivindicado (o célebre mapa cor-de-rosa) essa foi mais uma tarefa hercúlea, que alargou o nosso “chão sagrado”! E que
se manteve como tal até bem tarde no século XX! Defender os nossos territórios ultramarinos era matéria de consenso nacional! E assim foi até aos anos 60 do século passado! E quando chegaram as Campanhas do Ultramar, de que se assinalaram, a 15 de Março passado, os 60 anos do seu início, voltaram a ver-se as qualidades do Soldado português! Porque, citando Mouzinho, “ser soldado não é arrastar a espada, passar revistas, comandar exercícios, deslumbrar as multidões com os doirados da farda. Ser soldado é dedicar-se por completo à causa pública, trabalhar sempre para os outros. E para se convencer, olhe Vossa Alteza é ver o soldado em campanha. Porventura vê-se só a marchar e a combater?
Cava trincheiras, levanta parapeitos, barracas e quartéis, atrela-se às viaturas, remenda a farda, cozinha o rancho
e o que tem de seu trá-lo às costas, na mochila. Desde os misteres mais humildes até ao mais sublime, avançar de cara alegre direito à morte, tudo faz porque todo o trabalho despido de interesse pessoal entra nos deveres da profissão. Trabalho gratuito, sempre, porque o vencimento do militar, seja pré, soldo ou lista civil, nunca é remuneração do serviço, por não haver dinheiro que pague o sacrifício da vida”.
Um espírito e uma dádiva que hoje, perante vós, aqui celebramos!
Três Teatros de Operações, a milhares de quilómetros da metrópole e separados por outros tantos entre si, uma logística gigantesca, uma capacidade estratégica geral militar notável, uma arte operacional elevada à maestria e uma adaptação táctica digna dos maiores encómios! Se algo falhou terá sido ao nível da política e da estratégia total do Estado!
Como refere Miguel Torga, “uma pátria é o espaço telúrico e moral, cultural e afectivo, onde cada natural se cumpre humana e civicamente. Só nele a sua respiração é plena, o seu instinto sossega, a sua inteligência fulgura, o seu passado tem sentido e o seu presente tem futuro”.
E o nosso passado se há coisa que tem é sentido! A História é, para uma Pátria, o seu mais importante património! Não se compra, nem se vende! Nem se deve deturpar, para o bem ou para o mal! É o orgulho nela que nos deve ajudar a trilhar os caminhos do futuro! Não repetir erros, é certo, mas nunca por nunca admitir que sobre ela se vertam as sombras da ignomínia!
Porque a nossa História é única (é sempre única a História de um país!) devemos fazer como Mouzinho, mais
uma vez, aconselhava ao Príncipe Real. “Leia-a, relei-a, medite-a, estude-a, meta-a bem na cabeça e no coração. Na convivência dos seus antepassados aprenderá Vossa Alteza a ser como eles, forte, justo, simples e verdadeiro. E bem compenetrado do que eles fizeram, conhecendo-lhes a vida dia a dia, sentirá Vossa Alteza que deles vem, que é um deles. Assim sonhará com futuros de glória que se assemelhem a esse passado de grandeza, e sonhar assim é uma felicidade e uma força. Triste do homem que só cuida do presente, que só preza a intimidade dos vivos. Pobre daquele que precisa adormecer para sonhar com o futuro. No olhar saudoso para o que já passou, no imaginar o que há de vir se vai formando a alma, se lhe vão apurando as qualidades, desenvolvendo a força.”
Infelizmente, hoje em dia, não se conhece a nossa História! E alguns, sem a conhecer ou, o que é pior, conhecendo-a, fazem sobre a mesma juízos de valor extemporâneos, porque desfasados do tempo onde essa História aconteceu!
E, por ser assim, o nosso presente terá futuro?
Tendo convivido de perto com as novas gerações ao longo de mais de 40 anos, e até há pouco tempo, sei que nas veias
dos portugueses de hoje corre o mesmo sangue que corria nas veias dos nossos antepassados! E que se derramou em Ourique ou no Salado, em Aljubarrota ou Diu, Ormuz e Malaca, nos Guararapes, no Ameixial e Montes Claros, em Marracuene, Coolela, Macontene ou nos Dembos e em La Lys! O que corria e foi derramado em Angola, Moçambique, Guiné, pelos vossos, e nossos, camaradas e cujos nomes enchem a parede sagrada à nossa frente! Se algo está mal, talvez seja uma questão de liderança... ou da falta dela! E sabe-se, por Camões, que o rei fraco, faz fraca a forte gente! Combatentes, aqui fica, sob a forma de singelo poema, o que eu e muitos dos meus contemporâneos, apesar de não termos estado nas Campanhas do Ultramar, por via da idade, aprendemos a respeitar e a admirar no vosso exemplo! O que pensamos de todos vós:
Porque era teu dever, partiste...
Lá longe, sob o sol abrasador, Foste valente, nunca desertor... Tinhas medo mas não fugiste, Passaste até para além da dor...
Para ti fugir nunca foi opção! A tua é uma estirpe ancestral, Gente com coragem, vertical... Outrora quem fez esta nação, Era como tu, não havia igual!
Daquelas bolanhas da Guiné Ao Rovuma! Foste ao fundo...
Até à terra do fim do mundo, Passando por aquela do café...
Foi teu um esforço profundo... Muito jovem era teu o futuro, Mesmo de esperança sofrida... Depois da juventude perdida, Voltaste diferente, mais duro... Com marcas para toda a vida... E ficou aquela triste sensação, A que a História nos condena:
Para nada terão valido a pena, Os sacrifícios da tua geração... E a tua alma não era pequena...
Por isso, essa mágoa no peito... É que o teu esforço foi brutal, Corajoso e à nossa pátria leal... O que pedes é tão só respeito... Tu foste Soldado de Portugal!
Por isso, o vosso testemunho e o vosso exemplo serão, obrigatoriamente, fundadores do nosso futuro colectivo!
Portugal teve altos e baixos, o que é próprio das nações antigas como a nossa! Há, no entanto, algumas constantes que sobressaem: sempre que tem um desígnio em que acredita (mesmo que o resto do mundo julgue impossível de atingir!) e uma liderança, digna desse nome, que lhe descortine a alma, Portugal transcende-se e tudo alcança!
Não pode haver lugar à descrença, ao abandono da esperança! Diz-se que esta é a última a morrer! Mas, para quem sente o nome de Portugal a arder no peito, ela, a esperança, será sempre imortal! Repetindo Torga, o nosso presente tem futuro! Tem de ter!
Era uma vez uma Pátria tão forte, Única e grande, livre e orgulhosa, Que parece andar ferida de morte... Precisa, para voltar a ser gloriosa, Do impulso da alma que a exorte... E das cinzas, qual fénix vitoriosa, Renascerá, nação valente imortal! E só aí se terá cumprido Portugal!
Disse!
Este magnifico discurso do General José Calçada começa por recordar os alvores da nossa nacionalidade, a fundação de Portugal e as guerras da Reconquista, que estabeleceram, no final do século XIII, as fronteiras do Portugal de hoje. Isso foi possível, porque o País tinha uma forte liderança.
De seguida, o discurso recorda-nos a extraordinária gesta da expansão de Portugal pelo mundo, que também só foi possível com uma forte liderança.
Fala-nos depois o discurso, dessa figura extraordinária de militar que foi Mouzinho de Albuquerque e da célebre carta por si escrita ao Príncipe D. Luis Filipe, de quem foi tutor. Essa carta, por si só, vale por um tratado de formação militar. É obra de um grande militar, a ensinar um menino a ser soldado. Nessa carta escreveu Mouzinho
«O primeiro dos meus deveres é fazer de Vossa Alteza um soldado», para dizer mais adiante «Príncipe que não for soldado de coração, fraco Rei pode vir a ser», lembrando-lhe ainda «um Príncipe para quem nascer foi assentar praça e que só pode ter baixa para a sepultura».
Permitimo-nos realçar a seguinte parte do discurso:
«A História é, para uma Pátria, o seu mais importante património! Não se compra, nem se vende! Não se deve deturpar, para o bem e para o mal! É o orgulho nela que nos deve ajudar a trilhar os caminhos do futuro!»
Não podíamos estar mais de acordo com estas palavras. Pensamos que os leitores da ZacatraZ não terão diferente opinião. É esta a mensagem que está subjacente a muito do que aqui temos escrito ao longo dos anos. É também por isto, que procuramos, permanentemente, divulgar a história do nosso Colégio e recordar os valores que nele se transmitem, para que os continuemos a cultivar ao longo das
nossas vidas, pois também nós, como Meninos da Luz, só podemos ter baixa para a sepultura.
Na parte final do discurso é apresentado um poema dedicado aos combatentes, que termina da seguinte forma:
«O que pedes é tão só respeito… Tu foste Soldado de Portugal».
Na realidade, o que mais magoa a maioria dos antigos combatentes, é a falta de respeito com que são tratados, principalmente aqueles que ficaram física e mentalmente afectados pela Guerra. Fazem-se portarias e despachos, dando-lhes direitos e apoios de ordem vária, para depois não serem passados à prática, com a justificação, inadmissível, de que não há verba. Melhor seria respeitá-los, não lhes prometendo nada e dizendo-lhes frontalmente «Não há dinheiro».
Ao falar dos dias de hoje, o General José Calçada diz-nos:
«Nas veias dos portugueses de hoje corre o mesmo sangue que corria nas veias dos nossos antepassados»
Para de seguida referir:
«Se algo está mal, talvez seja uma questão de liderança….ou de falta dela! E sabe-se, por Camões, que o rei fraco, faz fraca a forte gente!»
Camões continua actual. Há anos que a sociedade portuguesa, em geral, atravessa uma situação de descrença. Precisa de voltar a acreditar em si, como indica, no final do discurso, a citação de Torga.
Muito obrigado Senhor General José Calçada. O seu discurso foi para nós um lenitivo.
No passado mês de Maio, faleceu João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935), que foi o primeiro porta-guião do Colégio Militar, no ano de 1942. No século XIX, já tinha havido um guião, mas isso foi no tempo do Real Colégio Militar. Esse guião primitivo foi usado até à atribuição ao Real Colégio Militar, em 1888, de uma bandeira nacional de padrão idêntico ao das bandeiras regimentais.
Tendo falecido o primeiro porta-guião do tempo da República, considerámos interessante recordar, nas páginas da ZacatraZ, a forma como surgiu o primeiro guião do Colégio Militar.
Como é nosso hábito, socorremo-nos da «História do Colégio Militar», de José Alberto da Costa Matos (96/1950), que nos descreve como tudo se passou, com o seu habitual rigor histórico.
"Em 1937, foi decretada uma reorganização profunda do Exército. Ressurgiu então, o conceito de «duas bandeiras» por cada unidade: a bandeira nacional, sob a forma da tradicional bandeira regimental, e o guião identificador da unidade."
«É neste contexto que, em 1942, o Colégio vai ter o que seria o seu segundo guião. Foi impulsionador da ideia e principal autor um ex-aluno. O então major Vieira da Fonseca, professor na casa que o educara.
Mesmo sem cobertura oficial, o guião foi confeccionado e, uma vez pronto, havia que o oficializar através do uso. Estava-se em fins de Maio de 1942 e, para que pudesse ser apresentado quando dos festejos do encerramento do ano lectivo, que tinha lugar a 6 de Junho,
foi decidido inaugura-lo previamente com um evento especialmente concebido para o efeito, em que o guião fosse exibido publicamente: um passeio militar! Foram empenhadas duas companhias de alunos, debaixo de formatura, com o novo guião à frente transportado pelo recém nomeado porta-guião deste novo símbolo colegial: o n.º 47 de 1935, João Salgueiro Pinto Ribeiro, que era o mais novo dos graduados comandantes de pelotão (duas estrelas). O percurso previsto passava pela Azinhaga de Telheiras e Campo Grande até S. Sebastião, onde os alunos seriam recolhidos em eléctricos regressando depois à Luz.
E no dia 6, nas cerimónias de encerramento do ano lectivo, e tal como estava planeado, o novo guião surgiu aos olhos da assistência, entre os quais se contavam os do então Subsecretário de Estado da Guerra, Santos Costa, a quem, no final da festa, o director solicitou autorização para que o guião, que aparecera em campo com a classe de ginástica, passasse a ser usado pelo Batalhão de alunos.
Obtida a anuência daquele membro do governo, foi o facto publicado em ordem do Colégio, juntamente com a seguinte descrição heráldica:
Guião branco com uma cruz azul, tendo no cruzamento uma esfera armilar de ouro carregada com as armas nacionais encimada por uma coroa mural de seis torres de ouro. No chefe, um listel branco orlado de negro com a divisa «Servir» do mesmo esmalte, e no contrachefe um listel branco orlado de negro com os dizeres «Colégio Militar» do mesmo esmalte.
O guião é acompanhado em cada um dos seus quatro lados por uma bordadu-
ra endentada de três peças e duas meias peças de negro, com quatro peças de verde. As bordaduras são acantonadas de branco, sendo cada canto carregado por um monograma composto pelas
letras «CM» (Colégio Militar) entrelaçadas, de ouro orladas de negro.
Cordões e borlas de prata e azul cercam o guião até aos extremos da bainha, atando na haste, que juntamente com a lança são dourados.»
Este era o guião que estava em uso no nosso tempo de Aluno do Colégio, no final da década de 50, início da década de 60 do século passado. Era um guião bonito, que nos identificava inequivocamente e de que nós gostávamos. Este guião, quanto a nós o mais bonito daqueles que já conhecemos, durou apenas cerca de um quarto de século.
Em 1966, foi este guião substituído por um novo, alegadamente mais de acordo com as regras de heráldica aplicáveis a estes símbolos. O novo guião então adoptado, manteve nos quatro cantos o monograma com as letras «CM» entrelaçadas. A divisa «Servir» foi substituída pelo mote da
divisa do Colégio «Um por todos, todos por um» . Os dizeres «Colégio Militar» pura e simplesmente desapareceram, ficando assim prejudicado o objectivo primário do guião, que, tal como se referiu, é a identificação da unidade. Este guião tinha uma particularidade em relação aos restantes, era franjado a ouro.
Em 1987, deu-se nova substituição do guião, tendo sido adoptado o guião actual, o mais feio de todos os que tivemos. Se a identificação da unidade já era difícil no guião anterior, passou a mesma a ser quase impossível, para o cidadão comum. Este guião não apresenta quaisquer palavras, nem quaisquer letras. É «mudo»
Quando o guião de 1987 começou a ser usado, era uma completa tristeza. A lança deixou de ser de metal dourado e passou a ser uma lança de madeira, análoga às dos Lanceiros da Arma de Cavalaria. A haste pura e simplesmente deixou de existir, pelo que o guião, devido ao peso do tecido de que era feito, estava sempre «murcho», pendurado da lança, não sendo possível ver, ao menos, o que nele estava representado. A tristeza era tal, que houve um Antigo Aluno, antigo porta-guião, que escreveu na revista da Associação (n.º 100, de Jul/Set 1990) um artigo de protesto, que intitulou «O Trapo». A coisa levantou polémica. Ainda bem que assim foi, pois terá sido isso que levou, a que fosse adoptada, à moda antiga, uma lança de metal dourado e uma haste de idêntico material, para manter o guião desfraldado. Ao menos agora o guião, apesar de tristonho, mostra a cúpula, para quem a quiser ver. Os habitantes da freguesia de Carnide, habituados a ver a silhueta da cúpula da capela do edifício do primitivo Hospital de Nossa Senhora dos Prazeres, dirão «Olha, aquilo é capaz de ser do
Colégio Militar». Para a restante população, nada naquele guião identifica a unidade a que pertence. O que é mais curioso, é que este guião de 1987 devia ter, no seu canto superior esquerdo, as iniciais CM. Vejam como ele era apresentado na capa do número 100 da revista da nossa Associação. Lá estão as ditas iniciais. O que é que se terá pas-
sado para as mesmas desaparecerem? Será que alguém concluiu que, sendo elas bordadas a ouro, ficavam muito caras? Ou haverá alguma justificação heráldica por trás de tudo isto? Dão-se alvissaras a quem souber do paradeiro das iniciais desaparecidas.
- O guião do Real Colégio Militar era um guião verde, com as iniciais RCM em amarelo, encimadas por uma coroa real da mesma cor.
- O autor do 1.º guião do Colégio Militar, José Augusto Vieira da Fonseca Júnior (241/1909) foi subdirector do Colégio, quando coronel, de 1947 a 1952.
- O director que solicitou autorização ao Subsecretário de Estado da Guerra para o uso do 1.º guião do Colégio Militar foi o Tenente Coronel Rodrigo Álvares Pereira (director interino).
- A descrição heráldica do 1.º guião do Colégio Militar, apresentada neste artigo, encontra-se na Ordem de Serviço 175, de 23/6/1942.
Para a maioria dos portugueses com idade inferior a 50 anos, o nome S. João Baptista de Ajudá deve ser um nome estranho, que não lhes desperta quaisquer memórias.
S. João Baptista de Ajudá foi território português, de 1680 a 1961. Era uma pequena possessão portuguesa, na costa do golfo da Guiné, onde foi erguido um forte. Situava-se no território que veio a constituir a colónia francesa do Daomé, quando se deu a partilha de África entre as potências europeias, nos últimos anos do século XIX. A colónia francesa obteve a sua independência em 1960, constituindo presentemente a República de Benim.
As costas da Mina e da Guiné eram frequentadas pelos navegadores portugueses desde o século XV. Era uma zona onde se praticava o negócio, altamente lucrativo, do tráfego de escravos, para o Brasil e para as Caraíbas. Para protecção dos interesses portugueses nessa zona, o Rei D.Pedro II mandou construir um forte na
capital do Ouidah (Ajudá). O nome S. João Baptista de Ajudá só veio a surgir muitos anos mais tarde.
O ano de 1961, que ditou o fim deste território português, foi um «annus horribilis» para Portugal e para o seu Presidente do Conselho de Ministros, Salazar. Em Janeiro, deu-se o sequestro do paquete «Santa Maria». Em Fevereiro, deu-se o ataque à cadeia de Luanda, em Angola. Em Março, iniciou-se a guerra em Angola, com um assalto em grande escala a fazendas isoladas e pequenas povoações no norte da província, com a chacina tanto de europeus como de trabalhadores africanos bailundos que aí se encontravam. Em Agosto, deu-se a perda de S. João Baptista de Ajudá e em Dezembro, deu-se a invasão do Estado Português da Índia, pelas tropas da União Indiana. Seria difícil, na altura, imaginar situação pior. Relembramos, de seguida, como é que os portugueses, tomaram conhecimento, pela imprensa da época, do fim do território de S. João Baptista de Ajudá.
Para tal, tomamos como referência, o que foi publicado no jornal «Diário de Lisboa» (DL), há muito extinto.
No sábado, dia 29 de Julho de 1961, o DL tinha o seguinte título de 1ª página «O Governo de Daomé intimou o residente português a abandonar até segunda-feira S. João Baptista de Ajudá» . A pequena notícia que se seguia, era do seguinte teor
«A Agência-Geral do Ultramar informa que, segundo notícias recebidas de S. João Baptista de Ajudá, o Governo de Daomé intimou o secretário daquela Residência a abandoná-la até 31 do corrente. O residente, que se encontrava em Lisboa para ser submetido a grave intervenção cirúrgica, partiu imediatamente para o seu posto, não obstante lhe ter sido recusado o visto de trânsito pelo representante dos interesses do Daomé em Lisboa (França). Não existe a certeza de que sejam transmitidas ao secretário que se encontra na Residência as instruções que lhe foram enviadas, mas es -
pera-se que, mesmo sem as receber, cumpra inteiramente o seu dever».
Na terça-feira, 1 de Agosto de 1961, o DL indicava na 1ª página, em letras garrafais, o seguinte «Foi incendiado o forte de S. João Baptista de Ajudá pelos residentes portugueses que não quiseram ceder à intimação de Daomé». A notícia correspondente, proveniente da France Presse, era a seguinte:
«Cotonou 1 – O minúsculo enclave que é designado por o forte português de S. João Baptista de Ajudá, no Daomé, deixou de existir.
Tevoedjre, secretário de Estado para a Informação do Daomé, anunciou a noite passada, que o residente português e o seu adjunto haviam deitado fogo à fortaleza, que datava do século XVII.
Ontem à tarde, dois polícias militares tinham sido destacados para a entrada da residência, cujas janelas estavam trancadas. Os ocupantes mandavam responder, por um criado, que não recebiam fosse quem fosse.
Não se assinala qualquer incidente. Os direitos de Portugal sobre S. João Baptista de Ajudá haviam sido contestados recentemente pelo Daomé».
A notícia do DL continuava sob o subtítulo seguinte:
«Cumpriram o seu dever – diz-nos o ministro do Ultramar».
O texto da notícia relativa ao contacto com o ministro do Ultramar era o seguinte:
«O telegrama da Agência France Presse, que acima publicamos, dá-nos conta do resultado da intimação do Governo do Daomé para que as autoridades portuguesas abandonassem até ontem
Número de Sábado, 29 de Julho de 1961, do DL.
o pequeno enclave de S. João Baptista de Ajudá. Como constava de um comunicado da Agência-Geral do Ultramar, que publicámos no sábado passado, encontrava-se ali o secretário da Residência, sr. Meneses Alves, pois que o residente, sr. Capitão Agostinho Saraiva Borges, estava em Lisboa, para ser submetido a uma intervenção cirúrgica. Aperar do seu estado ser grave, em
consequência de uma úlcera aberta, o residente partiu imediatamente, por via aérea, com o fim de tentar chegar ao enclave português, com o qual não havia comunicações.
Não se sabe ainda se o sr. Capitão Agostinho Saraiva Borges teria conseguido chegar ao seu destino, pois não foram recebidas até agora, em Lisboa,
outras informações acerca do que se passou em S. João Baptista de Ajudá.
Logo que recebemos o telegrama de Cotonou, procurámos mesmo quaisquer informações complementares no ministério do Ultramar, onde foi o próprio titular da pasta que nos disse não haver ali mais notícias sobre o assunto. Não se sabe, portanto, não só do residente como do seu secretário, desconhecendo-se igualmente as circunstâncias em que foi lançado fogo à fortaleza e a situação dos dois funcionários e do seu restante pessoal.
O sr.prof. dr. Adriano Moreira, quando o procurámos no seu gabinete, para obter qualquer informação, disse-nos apenas:
Por enquanto, nada mais sabemos além da notícia de proveniência estrangeira. Nada mais posso dizer, portanto, a não ser que, se as coisas se passaram como se diz no telegrama, os portugueses que lá estavam cumpriram o seu dever.
O gesto dos funcionários a quem estava confiada a soberania portuguesa na velha fortaleza de S. João Baptista de Ajudá que faz recordar a atitude de alguns comandantes de navios, que, numa decisão de profundo simbolismo preferem afundar os barcos do seu comando a entregá-los ao inimigo, marca talvez o fim da presença portuguesa nesse minúsculo território da costa do Golfo da Guiné. Mas sejam quais forem as consequências do seu gesto quixotesco, o facto ficará na história pátria como um feito de especial relevo».
Na quarta-feira, 2 de Agosto de 1961, o DL tinha o seguinte título de 1ª página «S. João Baptista de Ajudá fora reconhecido pela O.N.U. como território português – esclarece o Ministério dos Estrangeiros». Número de terça-feira, 1 de Agosto de 1961 do DL.
O corpo da notícia rezava assim: «Do Ministério dos Negócios Estrangeiros recebemos a seguinte nota oficiosa: Em obediência às mesmas pressões estrangeiras que têm motivado iguais
atitudes de injustificada hostilidade por parte de alguns países africanos, as autoridades do Daomé apresentaram ao residente de S. João Baptista de Ajudá o pedido de entrega do Forte. Por ter data
fixada para a sua satisfação, revestiu-se o pedido de carácter de ultimato. Por este motivo, e ainda porque não tinha fundamento válido o que era solicitado, não foi dada qualquer resposta.
As construções existentes no local foram destruídas, não tendo assim caído em poder dos usurpadores.
Não dispõe ainda o governo de informações completas, mas não pode deixar de se considerar a acção das autoridades do Daomé como violadora dos direitos, acompanhada de agressão não provocada. Além dos títulos históricos e jurídicos, cuja validade não é contestável, e que sempre foram reconhecidos a Portugal, deverá acrescentar-se que a própria Assembleia Geral das Nações Unidas, embora partindo de um ângulo diferente, considerou S. João Baptista de Ajudá, pela resolução 1542 (XV), aprovada em 15 de Dezembro de 1960, como território português, sobre que exercíamos legitimamente a soberania e a administração. Deste modo, as autoridades do Daomé praticaram também um atentado contra uma deliberação da Organização das Nações Unidas e respectiva Carta.
O Governo Português regista o seu protesto formal, responsabiliza o Governo do Daomé pelo acontecido e reserva expressamente os seus direitos, que defenderá por todos os meios ao seu alcance».
Esta nota oficiosa do Ministério dos Negócios Estrangeiros era seguida por uma pequena notícia, referindo que a Junta Distrital de Lisboa prestava homenagem ao gesto dos portugueses em S. João Baptista de Ajudá e que reafirmava a sua inteira solidariedade com o Governo para a solução dos problemas ultramarinos.
E foi assim que se teve conhecimento,em Portugal, do fim desta pequena parcela de território português no Golfo da Guiné. Houve várias versões dos factos ocorridos, tendo o jornal o «Republica» destacado que «só os canhões resistiram às chamas».
Soube-se depois que o residente e o seu adjunto tinham sido conduzidos à fronteira da Nigéria num automóvel do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Daomé.
Como seria de esperar, houve vários Antigos Alunos do Colégio Militar ligados à história deste Forte. Houve Antigos Alunos que foram residentes do Forte, sendo que dois deles faleceram no seu posto e foram sepultados no pequeno cemitério do Forte.
No ano de 1987, no número 87 da nossa revista, então designada por «Revista da Associação dos Antigos Alunos do Colégio
Militar», foi publicado um artigo intitulado «Antigos Alunos relacionados com S. João Baptista de Ajudá», da autoria de Joaquim Anacoreta Correia (435/1922). De acordo com o indicado nesse artigo, os dois residentes Antigos Alunos sepultados em S. João Baptista de Ajudá, foram os seguintes:
- Tenente Viriato Henrique dos Anjos Garcez (240/1901).
Faleceu em 1928 em Cotonou, cidade vizinha de Ajudá.
- Capitão José Pimenta Segurado de Avelar Machado (5/1903).
Faleceu no Forte em 1941.
Os restos mortais destes dois Antigos Alunos, que se encontravam num pequeno cemitério existente no interior do Forte,
foram transladados para novo local, fora do Forte, por iniciativa do Capitão Carlos Alberto de Serpa Soares (442/1918), que foi residente de Ajudá, de 1943 a 1946. Este oficial era pai de António José Sinarle Serpa Soares (189/1949), que foi Aluno Comandante da 2ª Companhia, no ano lectivo de 1956/1957, quando o meu curso se encontrava no 2º ano.
Nos primeiros anos da década de 80 do século passado, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu subsidiar o restauro do Forte de S. João Baptista de Ajudá. Para a orientação dos trabalhos de restauro, a Fundação escolheu um engenheiro militar português especialista em fortificações. O especialista escolhido foi o Coronel de Engenharia Francisco José Gomes de Sousa Lobo (95/1952), que durante muitos anos foi o Presidente da Direcção da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos.
O Colégio continuou assim a ter, por intermédio deste Antigo Aluno, uma ligação a esta minúscula parcela do que foi o Ultramar Português.
Em próximo número da nossa revista, tencionamos publicar novo artigo relativo a S. João Baptista de Ajudá, descritivo e explicativo da origem e evolução deste território.
1 – Em 1912, S. João Baptista de Ajudá deixou de ter uma guarnição militar, razão pela qual deixou de ter um comandante, passando a ter um residente.
2 – O território de S. João Baptista de Ajudá era, de direito, uma parcela da Província Ultramarina de S. Tomé e Príncipe.
Todas as famílias recordam situações variadas relativamente ao crescimento dos filhos. Algumas dramáticas, outras cómicas; certamente aconteceu de tudo e as recordações surgem de tempos a tempos.
Recordo aqui o dia em que demos a um dos nossos três filhos o seu primeiro livro com desenhos para colorir, acompanhado duma enorme coleção de lápis de cores variadas.
O miúdo ficou contentíssimo e meteu ‘mãos à obra’
Nem queiram saber o que aconteceu! Qualquer semelhança com as cores ‘certas’, era mera coincidência.
Os testes que se seguiram limitaram-se a confirmar o que o ‘pintor’ tinha deixado claramente expresso na sua primeira utilização de lápis de cores variadas. Sem qualquer dúvida, ele via as cores de uma maneira diferente de nós.
Evidentemente. Tinha herdado genéticamente, através da mãe, um dos muitos tipos de daltonismo (e que se revelou ‘bem completo’, por sinal). Eis um exemplo simples, para vizualizarmos o mundo dos daltónicos (em -
bora haja muitos tipos diferentes de daltonismo):
Um não-daltónico vê nas imagens superiores, duas apetitosas maçãs: uma vermelha, outra verde. Um daltónico como este nosso filho, vê as outras duas maçãs.
Igualmente recordo que quando ele era miúdo e ia ao futebol ver o Benfica – Belenenses (há uns 40 anos o Benfica tinha equipamento vermelho e branco e o Belenenses equipamento azul e branco, sem variantes) sabia perfeitamente quais eram os do Benfica (clube que apoiava) porque ... conhecia os jogadores!
Recordo também uma meia hora muito bem passada no museu de história natural em Londres em que os outros dois irmãos, tendo encontrado um livro com testes para os daltónicos, se divertiram com ele, a ver o que ele via e eles não viam e vice-versa! Foi uma verdadeira festa!
‘Até vê coisas quando não está lá nada!’, dizia um dos irmãos, ‘estasiado’ e orgulhoso por ter um irmão ‘genial’, que acertava em todas as ‘soluções’ que apareciam no livro’!
Evidentemente que, com o passar do tempo, há coisas que ele aprendeu que não pode fazer, como por exemplo, tentar escolher que gravata deve usar com cada fato.
De resto, ‘tudo bem’, nomeadamente para conduzir, porque sabendo a ordem sempre fixa dos três sinais luminosos – que aparecem praticamente sempre na vertical – a mudança súbita da intensidade luminosa duma das cores, significa que aquele sinal, ‘abriu’ ou ‘fechou’ (e tem mais de 25 anos de condução sem acidentes).
Antes de escrever algo mais ‘técnico’ sobre o daltonismo, relembro uma sua utilização durante a primeira guerra
mundial (1914-1918) que muito contribuiu para os daltónicos passarem a ser vistos com outros olhos.
Aviões de reconhecimento de dois lugares que levantavam vôo para localizar as forças inimigas (e dar posteriormente indicações à artilharia), passaram a usar daltónicos com a missão de marcarem nos mapas a referida localização, porque eles eram absolutamente imunes às tentativas de camuflagem que eram utilizadas. Como eram daltónicos, viam perfeitamente a localização do inimigo!.
Aliás, a designação inglesa de ‘colour blind’ é – na minha modesta opinião –um dos termos menos felizes da língua de Shakespeare.
O Daltonismo, também conhecido como discromatopsia ou discromopsia, é uma perturbação da percepção visual caracterizada pela incapacidade – ou diminuição da capacidade – de diferenciar todas ou algumas cores, manifestando-se muitas vezes pela dificuldade em distinguir o verde do vermelho. Por este motivo, a visão de um daltónico é, muitas vezes, apelidada de “cegueira para as cores” ou melhor, de “deficiência de visão das cores”.
Esta anomalia, localizada na retina, tem normalmente origem genética, mas pode também resultar de uma lesão nos olhos, ou de lesões de origem neurológica; doenças como o glaucoma, a diabetes e a esclerose múltipla, entre outras, são também possíveis causas do daltonismo.
A retina é a parte do olho onde as imagens são formadas (recebidas) e posteriormente transmitidas ao cérebro, através do nervo óptico. Numa retina
normal, existem células chamadas cones que são sensíveis à cor, sendo cada uma delas sensível a um determinado espectro luminoso. A percepção da cor é adquirida por três diferentes tipos de cones e cada um desses tipos é sensível a determinados intervalos de valores do ‘comprimento de onda’, sendo o "vermelho", o "azul" e o "amarelo" as cores primárias (recebem esse nome porque são consideradas cores puras, ou seja, existem sem a necessidade de misturar outras cores). Com a mistura de cores primárias é possível criar qualquer outra cor, as chamadas cores secundárias, com excepção do branco (que aliás não é uma cor, mas sim, a junção de todas as cores do espectro da luz visível).
O daltonismo pode ocorrer de diferentes formas, conforme as células (cones) afectadas. Qualquer alteração na constituição destas células (cones) pode originar alterações na recepção das imagens através da retina e consequente “distorção” da imagem transmitida através do nervo óptico até ao cérebro.
Estão actualmente identificados vários níveis e tipos de daltonismo, conforme as células da retina afectadas e a inten-
sidade com que são afectadas (e a perceção das cores varia em função dessas alterações).
Quantos seres humanos são daltónicos?
O daltonismo afecta uma percentagem significativa da população e existe a possibilidade de as pessoas daltónicas pertencerem a qualquer dos sexos.
No entanto, a resposta mais comum a esta pergunta continua a ser: não há mulheres daltónicas (o que não é verdade) e uns 10% dos homens são daltónicos.
Na realidade, as mulheres também podem ser daltónicas, embora em muito menor percentagem que os homens (serão aproximadamente 0,5%, 20 vezes menos que os homens). Isto é devido à genética e aos cromossomas envolvidos.
No daltonismo, entre as causas mais comuns encontra-se uma falha no desenvolvimento de um ou mais dos conjuntos de cones da retina. Este tipo de daltonismo é, geralmente, uma con-
dição hereditária (e relacionada com o sexo do ser humano) pois os genes que produzem os fotopigmentos são produzidos no cromossoma X. Se eventualmente faltam – ou se encontram danificados – alguns desses genes, estão criadas as condições para o daltonismo ocorrer.
Nota: Em cada conjunto dos seus 23 pares de cromossomas, os seres humanos possuem um par de cromossomas responsáveis pelo sexo. Tipicamente, as pessoas do sexo feminino possuem dois cromossomas X e as pessoas do sexo masculino possuem um cromossoma X e um cromossoma Y.
(Das 3.200 doenças hereditárias identificadas até hoje, 307 podem ser atribuídas a ocorrência de mutações ou falhas no cromossoma X).
Eis algumas das causas que produzem o daltonismo: algumas das instruções para o desenvolvimento das suas células-cone defeituosas, as células-cone podem ser escassas ou menos sensíveis à luz, ou pode acontecer que o caminho a partir das células-cone para o cérebro não se tenha desenvolvido correctamente.
No caso do daltonismo, ‘tudo se passa’ pois no cromossoma X.
Para um homem ser daltónico tem forçosamente que ter uma ’anomalia’ no seu único cromossoma X enquanto uma mulher daltónica tem que ter a ‘anomalia’ em ambos os seus cromossomas X (se a anomalia existir apenas num dos seus dois cromossomas X, a mulher será uma sua transportadora – ‘carrier’ – e potencial causadora dessa anomalia na sua descendência, mas não é – ela própria – daltónica).
Quando ela tiver um filho, dará um dos seus cromossomas X ao bébé. Se for o cromossoma X que tem a anomalia, o filho será daltónico.
Uma recém nascida do sexo feminino só será daltónica se o pai for daltónico e se a mãe lhe tiver passado o cromossoma X com a anomalia (esta a razão ‘matemática’ para o número diminuto de mulheres daltónicas).
O esquema que se segue, permite ver um certo número possível de combinações genéticas.
O Daltonismo tem cura? O daltonismo não tem cura.
A evolução da visão nos seres humanos
• Os seres humanos vêem as cores desde que nascem?
Não. Uma semana após o nascimento um bébé vê as cores vermelho, laranja e verde. Só bastante tempo depois consegue ver o azul.
As funções desempenhadas pelas células-cone só são activadas pelos 4 meses após o nascimento.
• O que é que um recém nascido com um mês de idade, vê?
Com um mês de idade os bébés são muito míopes e tudo o que não está perto é visto desfocado e sem contornos nítidos. Com o tempo, a visão do recém nascido vai-se ajustando às necessidades! EXTRAORDINÁRIO sistema óptico!
• Como se pode descrever a evolução da visão dum recém nascido?
Quando nasce, vê a luz e movimentos, seguindo-se as faces das pessoas e formas/objectos de dimensão apreciável.
Segue-se uma evolução extraordinária ao longo do primeiro ano, findo o qual vê ‘perfeitamente’ (no entanto só entre os 3 e 5 anos de idade a visão atinge o seu pleno).
Para terminar, deixo-vos dois exemplos visuais que mostram como um não daltónico vê duas imagens específicas (à esquerda, uma por debaixo da outra) e como três daltónicos – com tipos diferentes de dal-
tonismo – vêem essas mesmas imagens.
O mundo, para a quase totalidade dos daltónicos, ‘não é a preto e branco’. Mas é – sem qualquer dúvida – visualmente diferente.
Ser português é um ser humano ter a nacionalidade portuguesa, adquirida à nascença ou ao longo da vida, podendo também ser perdida ou acumulada com outra, de acordo com o estabelecido na lei. Segundo reza a Constituição da República, são cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados pela lei ou por convenção internacional.
Ser português é uma pessoa ter a percepção que pertence a uma colectividade multi-racial, falando português, resultante de um longo processo histórico que passou por diversas fases. Na sua expressão actual, a nação está politicamente organizada numa República, um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas. O Estado rege-se não só por leis emanadas da sua Constituição mas também pelas directivas da União Europeia a que pertence, bem como pelos Tratados Internacionais que ratificou.
A localização geográfica e a dimensão do território português também foi sofrendo alterações, localizando-se hoje apenas na Europa, sendo constituído por Portugal Continental, com fronteiras definidas desde o final do
Século XIII e pelas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
A percepção da identidade portuguesa, o ser português, depende muitíssimo das origens e do extracto sócio-económico dos pais, bem como do nível cultural e económico de cada cidadão. Este tem a obrigação de conhecer os seus direitos e deveres, nomeadamente o direito e o dever de defesa da Pátria, plasmado na Constituição.
Ao nascer, a criança vai progressivamente formando a sua identidade própria, diferente da mãe que o amamenta, do pai e dos irmãos. Descobre os sons das línguas faladas em casa e do ambiente que a rodeia.
O tipo de família a que pertence, eventualmente monoparental, o género dos progenitores, o nível socio-cultural dos Pais e dos Avós reflecte-se nas atitudes, nas regras de comportamento que lhe são impostas, na delimitação entre o bem e o mal, no cumprimento ou não dos ditames de determinada religião, na sofisticação do vocabulário utilizado, com reflexo na sua capacidade e desempenho intelectual. O local onde se passou a infância, com os seus usos e costumes, a culinária tradicional, tam -
bém assumem enorme importância na formação da percepção da identidade nacional.
Todos estes aspectos, bem como a carga genética que a criança transporta, enformam a sua individualidade, a sua visão da sociedade e a forma de se sentir português.
Na escola, o pequeno ser alarga o seu conhecimento aos professores e colegas, verifica que estes têm diferentes cores de pele, assumindo-se como meninos ou meninas, insere-se ou não nestes universos, pratica jogos tradicionais, vai descobrindo que existe um mundo para além do seu horizonte, aprende novas competências e normas de vida, toma contacto com a violência física e psicológica. O jovem aprofunda o conhecimento da língua portuguesa, descobre que a sua utilização o singulariza como português, diferenciando-o por esse motivo dos espanhóis, dos ingleses e de indivíduos de outras nacionalidades, que falam outros idiomas.
Cada vez mais precocemente, a criança acede ao ciberespaço utilizando as novas tecnologias e constata que o mundo está à distância de um simples “clic” , sendo a língua inglesa um instrumento indispensável para navegar
O que é
na imensa rede. Precisa de aprender a distinguir o virtual do real e a defender-se do “bullying” cibernético.
O ensino da História de Portugal assume uma enorme importância na formação da identidade portuguesa da criança. A forma como o nascimento da nação, os Descobrimentos e a colonização são descritos pelos professores nos vários níveis de ensino, o equilíbrio ou a ausência dele na visão dos seus aspectos positivos e negativos, assume grande relevo no orgulho da pertença à nacionalidade portuguesa.
Num extremo do ensino da História, temos os aspectos empolgantes de uma pequena nação, liderada por um forte Rei que se consegue impor de forma distinta, falando português, a língua hegemónica, numa península ibérica maioritariamente hostil, onde não existem grandes acidentes orográficos que delimitem fronteiras, nem características morfológicas muito diferentes entre os habitantes. Uma nação com um poder central forte, os seus nacionais falando português, em perigos e guerras esforçados, expulsando os muçulmanos a fio de espada, sulcando o mar ignoto e imenso em cascas de noz, dominando a arte da navegação, buscando novos mundos, atraindo para a civilização os seres tribais primitivos que encontraram a guerrear-se entre si e escravizando os vencidos. O que acabo de afirmar sobre a escravatura tribal é um costume ancestral desde a antiguidade, documentado por exemplo na biografia do General Henrique Augusto Dias de Carvalho, profundo conhecedor do interior de Angola no Século XIX, em especial as províncias de Malanje e da Lunda, escrita pelo Coronel João Dias de Carvalho, impressa pela Liga dos Combatentes, publicada em 1975, na página 232.
No outro extremo da visão histórica temos os aspectos negativos, o período em que os portugueses, outros europeus e árabes, escravizaram e traficaram seres humanos, utilizando-os em trabalho forçado, práticas que hoje são justamente consideradas nefandas mas que infelizmente continuam a existir no mundo, devendo ser combatidas.
Lamentavelmente, hoje assiste-se à emersão de uma corrente de pensamento iconoclasta com expressão nos órgãos de comunicação social que tentam reduzir os Descobrimentos e a colonização aos seus lados negativos, não por ignorância mas com o objectivo político de diluir a identidade portuguesa e derrubar a textura social existente.
No ensino da História é preciso não escamotear as vertentes negativas dos Descobrimentos e da colonização mas é indispensável mostrar também os positivos. Como disse o cientista israelita Yuval Noah Harari no seu livro “Sapiens, História Breve da Humanidade” , é preciso olhar a História alcandorando-nos ao ponto de vista de um satélite espião cósmico, analisando milénios em vez de séculos, percebendo como se desenvolveram as culturas que há cerca de 70.000 anos os organismos pertencentes à espécie “Homo Sapiens” começaram a formar. Veríamos então como os impérios colonizadores conseguiram unir diversos grupos étnicos sob uma só alçada política, fundindo assim segmentos cada vez maiores da espécie humana e do planeta, na senda de uma evolução unificadora. Nos últimos 2.500 anos a maior parte dos seres humanos viveu sob égides imperiais. Os nossos antepassados, habitantes da península ibérica, por exemplo, foram colonizados pelo im -
pério romano, adquirindo uma língua mais abrangente, o latim e o direito romano, sendo o primeiro a raiz da língua portuguesa e o segundo a base do conceito de cidadania, onde se fundam a nossa Constituição e as leis que dela decorrem.
Actualmente, a identidade portuguesa, o sentimento de ser português, pode assumir muitas formas, dependendo de múltiplos factores. Com o advento da globalização, a pertença à União Europeia e à zona Euro, abdicando de emitir moeda própria, a identidade nacional sofre uma forte pressão centrífuga, devido às crescentes cedências de soberania a entidades exógenas.
No caso dos que obtêm a cidadania portuguesa por naturalização, muitas vezes oriundos de países em vias de desenvolvimento, com falta de recursos mínimos, frequentemente assolados por guerras, conseguindo alcançar Portugal ao fim de longas e penosas viagens, adquirir a cidadania portuguesa significa acima de tudo, paz, segurança, alojamento, alimentação, trabalho remunerado numa moeda forte, educação, defesa legal contra eventuais práticas de racismo, possibilidade de viajar e trabalhar livremente no espaço da União Europeia. Além disso, viverá num país lindo, com um clima ameno, numa sociedade pacífica, inclusiva, multicultural, falando português, uma língua utilizada por mais de duzentos milhões de seres humanos em vários continentes.
Conforme acabei de expor, pode-se concluir que “Ser Português”, no Século XXI, assume para cada cidadão, múltiplos e variados significados mas o conhecimento da língua portuguesa constitui um traço comum, indispensável.
Fui “rata” no ano lectivo de 1950/5l e, depois de ter entrado no Colégio, não tardou a que ficasse a conhecer a existência de um «365» , Vitor Manuel de Oliveira Santos, por alcunha o “Palhaço” , e de um «369» , com a alcunha de “Gungunhana”, que tinham sido admitidos no ano anterior, em 1949. Os dois formavam uma parelha de miúdos espertos, vivaços e amigos de diabruras. E isso tornava-os conhecidos da generalidade colegial (alunos, oficiais e professores).
Vou recorrer de seguida a palavras escritas pelo Vitor: «a malandrice, havia de me acompanhar durante todos os meus "8 anos" de vida colegial» e, a título de exemplo, relata «uma arriscada surtida nocturna à sala de aula do “Asneiras” (capitão Teixeira, professor de História)», ele e mais dois, com «entrada através das janelas (de bandeira)... procurámos nas gavetas a caderneta do 2.º ano, turma A e, à luz de uma pequena pilha, fomos folheando a
caderneta e introduzindo as alterações que trazíamos encomendadas pela “malta”. Apagava-se a nota negativa com a lixívia (com muito cuidado para não transbordar do quadradinho referente ao dia e mês respectivos), secava-se logo de seguida com mata-borrão e, passados um ou dois minutos, transformávamos um 8, num razoável 12.»
Como as travessuras e o estudo nem sempre se coadunam, o «365» e o «369» acabaram por ingressar no meu Curso no ano lectivo de 1952/53 depois de ambos terem reprovado o seu 3.º ano que, naquele tempo incluía um exame final. E é o Vitor quem nos desvenda deste modo que nem o exame chegou a fazer: «No 1° período vendi todos os livros, passei a criar duas cobaias na minha carteira, a coleccionar "bonecos da bola", cortaram-me três vezes o cabelo à escovinha e fiz tantas ou tão poucas que estive na eminência de ser expulso! Não fui a exame a nenhuma disciplina e chumbei a todas, inclusive a Canto Coral».
A partir de então tonaram-se dois bons alunos pois, como o Vítor (365) veio a escrever, «o chumbo vacinou-me de tal maneira que, daí para a frente, nunca mais fui a uma única prova oral em toda a minha vida de estudante. Dispensei sempre. Fui um repetente recuperado e cheio de vontade de não fazer asneiras». E até chegou a constar do Quadro de Honra exposto no átrio da entrada principal do Colégio.
Todavia, quando chegámos ao último ano o «365» não passou de “furriel” (sem graduação) integrando a 4.ª Companhia de Alunos.
Como éramos 60 finalistas, uns 30 acabaram sem graduação, ou seja, ficaram “furrieis” . Mas não seria isso que impediria que o Vitor fosse escolhido para integrar a escolta à Bandeira Nacional atribuída ao Colégio Militar, além de que, no último ano, dispensou das provas orais de todas as disciplinas, alcançando mesmo 20 valores nos exames escritos de Geometria Descritiva e de Matemática.
Mas as coisas não ficaram por aqui porque o Vitor fez parte da equipa de futebol do Colégio que se sagrou Vice-Campeã Provincial da Extremadura em 1957.
A 24 de Julho desse ano fomos abatidos ao Batalhão de Alunos por havermos terminado o curso colegial.
Foi a vez dos tristes abraços da partida pois no ano seguinte já não regressaríamos ao Colégio.
No “Quadro de Honra” de madeira trabalhada situado no átrio da entrada principal, frente ao busto de bronze do Marechal Teixeira Rebelo, ficava um derradeiro testemunho da passagem do Vitor pelo Colégio Militar pois, com data de 30 de Agosto de 1957, nele constava que o «365» alcançara a média de 13,6 valores.
Nos diferentes anos lectivos o “Palhaço” nunca pertenceu à minha turma, e no último ano não chegou a ser graduado, passando sim a engrossar um pelotão de “furriéis” da 4.ª Companhia que era comandado pelo seu amigo 369, o “Gungunhana”.
Como desportista nunca passei de amador pelo que também não o pude acompanhar na equipa colegial de futebol. Unia-nos porém a extraordinária camaradagem que aproxima todos os “Meninos da Luz”.
Mas o nosso relacionamento mais estreito viria a acontecer a partir do momento em que tivemos que escolher o que queríamos fazer no futuro.
Talvez marcados pela educação de raiz militar que recebêramos no Colégio, fomos cerca de uma vintena para a então chamada Escola
do Exército, cujo Curso Geral Preparatório funcionava na Amadora. E entre eles lá estava o Vitor.
Para nós, que pertencíamos à “máfia” do Colégio (como nos denominavam) tratava-se de uma espécie de prolongamento dos sete anos vividos no Colégio Militar mas, para os restantes cadetes, a exigência militar e física, a disciplina e o uniforme eram novidades a que nem sempre se adaptavam facilmente.
No fim desse ano lectivo, em função das notas alcançadas e das vagas anunciadas para cada ramo das Forças Armadas, cada cadete, por ordem da classificação obtida, escolheria por qual deles desejaria enveredar e depois, no caso de optarem pelo Exército, teriam ainda que escolher, pela mesma ordem da classificação, uma das suas Armas: a Infantaria, a Cavalaria, a Artilharia ou a Engenharia.
Estas duas últimas, embora sendo as mais difíceis, eram contudo as mais procuradas e, para o ano lectivo de 1958/59 (que funcionava nas instalações da Rua Gomes Freire, em Lisboa) entraram para a Artilharia o Vitor Oliveira Santos (365/1949), o Garcia Leandro (94/1950), o Vasco Durão (364/1949), o Rola Pata (191/1951) e eu (96/1950).
No quarto do Vitor Oliveira Santos fiquei eu e os cadetes o Carvalho Lopes, o Morais de Almeida e o Ezequiel Guiné. Era à noite, no quarto, que estudávamos e aí passei a conhecer melhor e mais de perto o «365» estudioso.
Terminado o Curso em meados de 1960, seguimos mais o Vitor para a Escola Prática de Artilharia (Vendas
Novas), já com o posto de Aspirantes a Oficial, para frequentarmos o tirocínio que nos guindaria ao patamar de Alferes.
Nessa altura o Vitor fazia-se transportar num automóvel, o que naquele tempo era uma raridade e um luxo, pois para os restantes as suas deslocações à capital no fim-de-semana eram feitas num velho combóio que passava em Vendas Novas ao começo da tarde e seguia até ao Barreiro numa enervante marcha lenta.
Em Março de 1961 eclodiu a guerra em Angola e, na manhã de 19 de
Abril, todos os tirocinantes foram mandados apresentar no gabinete do Comandante que nos anunciou ter sido recebida uma nota da Repartição de Oficiais do Ministério do Exército que determinava a interrupção do Tirocínio, uma vez que se tornava necessário empenhar os futuros alferes no enquadramento de unidades a mobilizar para as diversas Províncias Ultramarinas e que seria sorteada a ordem por que seriam mobilizados. Expirava assim, de modo impensável e abruptamente, o nosso tirocínio.
E foi com este estranho critério que, em 1961, o Vitor foi mobilizado para
prestar serviço no Estado Português da Índia onde, como Comandante de Pelotão, fez parte da Companhia de Artilharia 249, com sede em Ucassaim a Norte de Mapuçá.
Em Dezembro de 1961, pouco tempo depois de ali chegar, deu-se a invasão de Goa pela União Indiana, tendo sido feito prisioneiro de guerra até Maio de 1962 (5 meses) ficando detido no “Alfa Detenus Camp”,
em Pondá, que fora até então quartel de um Destacamento de Engenharia português.
Finda esta demorada, penosa e imprevisível experiência, acabou por ser finalmente repatriado.
Em 1964 foi promovido a capitão e logo voltaria ao Ultramar, desta vez em rendição individual, para ir comandar a Companhia de Artilharia
393, que esteve sucessivamente estacionada na Quibala, Ambriz e em Zala; daí transitou para o Comando da Companhia de Artilharia 632, em Ambriz e depois na Fazenda Tabi; e, finalmente, integrou como Oficial de Operações o Batalhão de Artilharia 1869, com sede em Úcua.
Regressou a Lisboa em 1966 indo desempenhar funções de Comandante da Divisão da PSP de Lisboa. No ano imediato partiu para Moçambique para ocupar um cargo idêntico: o de Comandante Distrital da Polícia de Segurança Pública do distrito de Moçambique primeiro, e depois em Nampula, como Comandante de uma Companhia de Polícia Móvel, ali permanecendo até 1969, e onde se lhe manifestou uma doença que o acompanharia no futuro e que, em 1970, implicou a sua classificação como Deficiente das Forças Armadas devido a doença adquirida e agravada em campanha.
Nos anos seguintes dedicou-se à sua terra natal, tendo ocupado os cargos de Vice-Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Presidente da Direcção da Tuna Comercial Torreense e Vice-Presidente da Assembleia Geral do Sport Clube União Torreense, todos entre 1970 e 1973.
Em 1974, após o “25 de Abril”, ascendeu ao posto de major e, no ano seguinte, transitou para a situação de reforma extraordinária.
Ainda em 1975, seguiu para Macau para fazer parte da equipa governativa daquele território, então liderada pelo Garcia Leandro (94/1950), que fora seu camarada de Curso no Colégio Militar e na Academia Militar.
Ali permaneceu até 1979, desempenhando o cargo Secretário Adjunto
para os Assuntos Sociais e Cultura, que englobava as pastas da Educação, Saúde, Assuntos Sociais, Habitação Social, Cultura e Desportos. Durante o seu mandato foi publicada em 1977 a Lei de Salvaguarda do Património Monumental e Edificado de Macau, ao abrigo da qual se procedeu à recuperação dos diversos edifícios classificados. Foi também impulsionador, fundador e patrocinador da Universidade de Macau, Vice- Presidente do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) durante o êxodo dos refugiados do Vietname para Macau e Hong Kong (1975/76).
Novamente em Portugal, no âmbito de disposições legais visando a reposição de carreiras dos oficiais que tivessem sido preteridos, foi graduado em coronel em 1982.
Presidente da Direcção do Sport Clube União Torreense de entre 1984 e 1991, e a ele se ficou a dever a concepção do Projecto da “Rede Integrada de Instalações Desportivas” (RIID), na Direcção Geral dos Desportos/ Ministério da Educação, do qual foi também Director-Coordenador entre 1988 e 1993, vindo a ser ele o responsável pelas Infra-estruturas Desportivas do Campeonato do Mundo de Juniores de Futebol (1991).
Depois, em 1993, foi candidato à Presidência da Câmara Municipal de Torres Vedras, acabando por ser seu Vereador e acumulando o cargo de Administrador dos Serviços Municipalizados, desde 1994 a 1997. Terminadas estas funções, foi deputado à Assembleia Municipal de entre 1998 e 2002.
Ainda entre 1998 e 2000 foi também consultor dos Projectos de In -
ternacionalização do Grupo Valouro (sector agro-alimentar) e, nos anos seguintes (2000 a 2005), liderou o Projecto de Construção e a Administração da Escola Internacional de Torres Vedras.
Foram-lhe concedidos vários louvores, quer ao serviço do Exército, quer da Polícia de Segurança Pública, do Governo de Macau e do Ministério da Educação.
Possuía as seguintes condecorações: Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, Comenda dos Prisioneiros de Guerra na Ex Índia Portuguesa e Medalhas Comemorativas das Campanhas da Índia, de Angola e de Moçambique.
A última vez que estivemos juntos foi em 13 de Outubro de 2019, num almoço do nosso Curso de Artilharia realizado na Costa da Caparica.
Deixou-nos para sempre no dia 1 de Julho de 2020.
Fica a recordação e a saudade. Uma saudade infinda...
Só desejo acrescentar isto sobre o Padre Braula (assim o tratei sempre), personagem impar no sosso Colégio da Luz. Homem de rara intuição, personalidade e craveira moral que, ouso afirmar, transcendia até a sua qualidade de padre. Homem íntegro de singular ironia e mesmo certa «rebeldia» . Espírito lúcido, atento e autêntico que, mais do que por convenções ou regras restritas se guiava por uma enorme Liberdade de Alma tolerante, humilde, descomprometida mas sempre responsável. Conto-vos dois episódios que talvez poucos conhecem:
– Quando fui comandante do Corpo de Alunos ou já professor no Colégio (nem me lembro ao certo) coube-me proferir o discurso de Abertura do Ano Lectivo para os Alunos e Mestres. Um ou dois dias depois ele abordou-me para, com a sua viva exuberância oral, me felicitar pelo discurso e, em especial, por uma frase que eu dissera ao referir o excesso de Consumismo. Era mais ou menos assim: “Neste mundo em que vive -
mos mais do que consumidores somos nós próprios consumidos ou até «devorados»! Comovido e até, de certo modo, orgulhoso, agradeci as suas palavras e disse-lhe: “Meu bom amigo Padre Braula, você para mim é um Santo! Mas penso humildemente que o meu discurso ficou aquém dos elogios que me faz!” Aí, ele fitou-me com um olhar muito sério e até algo duro e repreensivo e com extrema suavidade me respondeu: “Não, meu amigo Roberto, não exagerei, e pode crer que o meu elogio foi totalmente justo e sincero”. Logo de seguida, mudando de tom e com aquele seu sorriso aberto, franco e desarmante, acrescentou: “E, por favor, não me chame Santo, porque isso de ser Santo dá uma grande trabalheira e você está a colocar uma pesada carga sobre os meus membros… Livra!”
Era assim o Padre Braula, de uma franqueza total e desconcertante. Era justamente, isso, porventura, o que mais nos tocava e encantava. Sinceramente penso eu bem poucos souberam, como ele, interiorizar (e exteriorizar),
vivendo e sentindo o espírito colegial de então (hoje, já um pouco diferente…), feito de um grande Humanismo e Misticismo… uma espécie de “feitiço” como bem referiu um carismático Director do meu tempo. O nosso Colégio da Luz e o Padre Braula, de certa forma se uniam e entrosavam numa forte e reconfortante simbiose.
– De outra vez, na missa do meu curso de entrada, cinquenta anos depois, em plena Homilia, ele teve esta frase: “… Então Jesus com os Seus doze Apóstolos… espera aí… eram doze ou treze? Não importa o número… adiante». E tranquilamente prosseguiu a sua homilia. Só ele!
Termino. Um dia, eu, o Padre Braula e o Mensurado (252/1946) seu especial amigo, reunimo-nos num almoço, num dos 3 de Março, após a Missa. Falámos de tudo. Dos bons tempos do nosso Colégio, da vida e da morte, de Deus, das religiões e da Fé. Tudo! O Mensurado afirmava que era ateu (a meu ver, pelos seus actos, na verdade nunca assim o considerei). Agora que
já nos deixou, porventura melhor do que todos nós, que ainda por cá andamos, sempre em busca mas sempre longe da Verdade … ele a encontrou… quem sabe?
Não cronometrei essa nossa conversa mas quase posso jurar que o Padre Braula falou mais do que uma hora, eu cerca de dez a quinze minutos e o Mensurado apenas dois ou três minutos… se é que falou (mal teve tempo de antena).
Após essa nossa conversa, “Essas Longas horas” como o Manuel Barão da Cunha diz num dos seus livros, com toda a sua prodígios eloquência literária e tenaz memória para factos, números e datas, eu tive então esta “luminosa ideia” :
– Estabelecer um Ranking (como faz agora a Forbes do Times para os mais rico e “poderosos” senhores deste pobre mundo… cada vez mais pobre…). Uma simples escala, por ordem decrescente, dos simples e humanos mortais mais faladores deste nosso Império ou Universo Colegial (…não colonial…). Ela aqui vai, tanto quanto possível atualizada, dado que alguns (segundo a lei desta vida) já partiram:
– 1.º: Padre Braula Reis – Medalha de Ouro (vencedor destacado)
– 2.º: Tenente-general Ricardo Durão (17/1938), por sinal meu mano – Medalha de Prata
– 3.º: Coronel Estorninho (207/1944) – Medalha de Bronze
(Estes três primeiros estão no Pódio Mais Alto.. do Além)
– 4.º: Talvez eu (dizem que fiquei no lugar mais ingrato: nem no pódio nem medalha)
Vêm depois vários: O Manuel Barão da Cunha (150/1948) em 5.º ou 6.º.
Luís Sobral (34/1948) em 7.º ou 8.º; Pedro Lagido (330/1948), Costa Matos (96/1950). Estes dois últimos julgo que já não constam do TOP 10 e… por aí adiante, todos Dignos do nome de Meninos ou Guerreiros da Luz.
Na Zacatraz de Junho de 2021 comentámos uma das mais célebres expressões do conhecido político inglês (A nation that forgets its past has no future) para apoiar uma reflexão sobre as polémicas geradas na opinião pública portuguesa a respeito da proposta demolição do «Padrão dos Descobrimentos» e da morte do tenente-coronel Comando Marcelino da Mata. Hoje recordamos outra expressão de Churchill, porventura ainda mais conhecida do que a primeira e que pode ser relacionada com um acontecimento que recentemente afectou a comunidade dos Antigos Alunos.
Em 4 de Junho de 1940, o primeiro-ministro Winston Churchill proferiu no Parlamento britânico um
discurso destinado a convencer de uma vez por todas o Rei, o Governo, os parlamentares e o povo a nunca se renderem ao inimigo alemão. Para a História ficou um pequeno fragmento: «We shall defend our Island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills. We shall never surrender». A frase não teria chegado até hoje se não contivesse um juramento solene que foi cumprido e uma lição inesquecível.
Duas semanas antes do discurso, a situação militar na Europa não podia ser mais desanimadora para os Aliados: as linhas de defesa francesas em Sedan e no Meuse tinham sido rompidas e os exércitos francês e inglês só poderiam salvar-se do cerco alemão através de um rápido recuo para o porto de Dunquerque, de onde seriam evacuados para a Grã-Bretanha por via marítima. Estiveram en -
volvidos na operação de resgate 220 navios de guerra e cerca de 650 embarcações civis de diversos tipos, a bordo das quais foi possível subtrair a um desastre iminente 335.000 militares franceses e britânicos.
Na sequência deste salvamento, Churchill dirigiu aos parlamentares uma exortação cuja parte final merece ser transcrita de forma integral:
“Ainda que largas extensões da Europa e muitos dos seus Estados mais antigos e reputados caiam nas mãos da Gestapo e de todos os odiosos aparelhos do regime nazi, nós não desistiremos. Iremos até ao fim, lutaremos em França, lutaremos nos mares e nos oceanos, lutaremos com crescente confiança e poderio no ar, defenderemos a nossa ilha custe o que custar, lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de aterragem, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas. Nós nunca nos renderemos. E se esta ilha ou uma
larga porção dela viesse a encontrar-se subjugada e morta de fome – coisa em que não acredito nem por um momento – o nosso Império ultramarino, armado e protegido pela Armada britânica, acorreria à luta até que, por vontade de Deus, o Novo Mundo, com todo o seu poder e determinação, corresse em socorro do antigo”.
O tom geral do discurso, mas sobretudo este último parágrafo, não pode ser olhado como uma simples bravata. Na verdade, em 10 de Maio de 1940, após alguns meses de «Guerra de mentira», 1 a Alemanha invadiu a França, a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo, recorrendo a tácticas de blitzkrieg que permitiram às suas forças avanços extremamente rápidos, de tal modo que, em 22 de Junho, a França formalizava a rendição assinando o Segundo Armistício de Compiègne.
É portanto um homem isolado, recentemente empossado chefe dum Governo cujos aliados estavam a ser arrasados pelo vendaval alemão, que ousa declarar guerra à besta nazi. E di-lo de uma forma que não admite duas interpretações. As palavras contêm uma declaração solene de princípios que por sua vez encerra uma lição de vida: é na hora mais negra, quando estamos sozinhos perante a injustiça, o despotismo ou o medo, quando a exiguidade dos recursos materiais ou a exaustão física nos mandam desistir, que é preciso dizer «aqui estou; se quiseres passar, terás de fazê-lo por cima do meu cadáver». Churchill
sabe-o bem, testemunhou combates como jornalista e no comando de tropas. E pronuncia cada palavra com a grandiloquência que todos lhe reconhecem, porque precisa de convencer não só os compatriotas, mas também o inimigo que o escuta do outro lado do Canal da Mancha.
Este é o tipo de determinação que se espera dum chefe quando tudo parece estar contra os indivíduos ou as comunidades. Mas os grandes chefes não nascem assim. Fazem-se no decurso da vida, pelo exemplo e pela experiência. O mesmo se diga das Instituições. Veja-se o nosso Colégio, um velho senhor que tem resistido ao passar do tempo e às modas próprias de cada época histórica, mantendo-se firme nos valores essenciais, resistindo a múltiplas ameaças com a pertinácia dos combatentes experimentados e inculcando nos alunos os princípios da resistência à insídia, ao despotismo, à deslealdade e à subserviência. No decurso dos seus mais de duzentos anos de vida, ensinou a gerações de jovens que há valores que não podem ser atraiçoados – uma lição que não caiu em saco roto, como provaram muitos Antigos Alunos em diversíssimos ramos de actividade em todos os mares e em todos os continentes.
Ambas as afirmações de Churchill – A nation that forgets its past has no future e we shall never surrender – podem ser lidas com transcendente clareza na impressionante mensagem que o António Afonso de Abreu Ferreira
(601/1971) "Gordini" , endereçou aos camaradas do curso depois de lhe diagnosticarem duas doenças incuráveis. Por um lado, destaca o valor da memória ao “(…) referir que a infância é um passado irremediavelmente perdido, [e portanto] recorrerei, nesta e em outras circunstâncias futuras, ao "nosso passado", porque que nos une e nos faz bem (…),” recordando adiante “(…) mais uma vez que este ano, e o próximo, comemoramos 50 anos de entrada no tal sítio que a infância nos marcou, de forma particularmente indelével (…).” Por outro lado, enfrenta a doença e o inevitável sofrimento com uma bravura que até Churchill invejaria: “(…) Felizmente que a task force está em working progress e brevemente terão notícias, não destas, mas das boas (…).” Para coroar este desafio à doença, esta arrepiante decisão de dizer à morte «não passarás», o Gordini festeja a camaradagem colegial com palavras de puro sentimento: “(…) Desculpem-me esta seca, mas família é assim, não se esconde algo importante e para mim foi importante manter-vos ao par (…).”
Morreu três dias depois de escrever a mensagem. Nunca se rendeu. Morreu de pé, como morrem os HOMENS.
1 Termo utilizado para designar o período – durante o qual não houve verdadeiros combates armados – compreendido entre a declaração do estado de guerra pela França e pelo Reino Unido à Alemanha em 3 de Setembro de 1939 e o início da invasão por esta, em 10 de Maio de 1940, da França, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo.
Mail enviado ao curso no dia 14/6/2021, após dois meses e meios sem dar notícias.
Assunto: Cá estou eu de novo, a tentar manter-me novo.
Caros caríssimos, Espero que estejam todos bem.
Apesar de Pessoa referir que a infância é um passado irremediavelmente perdido, recorrerei, nesta e em outras circunstâncias futuras, ao "nosso passado" , porque que nos une e nos faz bem.
Bem, a razão da minha ausência de contacto convosco, não sendo vocês merecedores de tal desvelo, passei nestes últimos dois meses e meio por uma experiência de vida que me marcou profundamente e me fez refletir sobre a necessidade do "pragmatismo" ser a palavra de ordem sobre as opções que tomarei doravante, e deixar de lado o que não interessa merda nenhuma, isto é: – Andar a bater punhetas a grilos, não está a dar, mesmo!
Pois bem, levei com uma firmeza em cima quando me foi diagnosticado em abril um "linfoma" indolente, genuinamente alentejano, felizmente no estado inicial, por causa de uma febre e tosse grudada ao meu corpo. Esta porra não tem cura, mas trata-se. Como o seu estado é ainda inicial, não carece, para já, de tratamento (aquela cena da quimio), mas sim de vigilância. E a febre cá conti -
nuava, indiciando que mais alguma porra me havia de calhar em cima. Exames para cá, exames para lá e então levo com a segunda praxadela – uma apresentação à alvorada pano-cotim-pano com um diagnóstico de uma doença rara, auto-imune, de seu nome "vasculite" (inflamação nos vasos sanguíneos), que também não tem cura –sou mesmo um gajo especial, tipo Jorge Jesus – mas, mais uma vez, tem tratamento com corticoides, podendo estar adormecido por vários anos. By the way, comecei hoje o tratamento. Não tratando, seria uma chatice com consequências que nem vos conto.
E agora, vem a fase da camarata após a firmeza, injuriando-nos com os fp dos graduados e recuperando forças para mais um dos dias à Colégio. É esta a fase em que me encontro. Sinto-me francamente melhor, sem febre e tosse, e com outros sintomas que entretanto "levei no lombo" e que também se estão a ir (vade retro, Satana). Mais um mês e espero estar em forma.
Pois é, mas aguardamos todos pela melhor fase, a dos cavanços das batalhas espontâneas de almofadas nas camaratas, das corridas por cima das camas cujas molas é que sofriam, enfim do desafiar constante das regras colegiais, transpostas nas nossas almoçaradas/jantaradas e outras "adas" , coisas que nos divertem e nos fazem sentir que agora é mesmo o tempo de nos aproximarmos. A vida felizmente não pára. Relembro mais uma vez que este ano, e o próximo, comemoramos 50 anos de entrada no tal sítio que a infância nos marcou, de forma particularmente indelével.
Felizmente que a task force está em working progress e brevemente terão notícias,não destas, mas das boas.
Desculpem-me esta seca, mas família é assim, não se esconde algo importante e para mim foi importante manter-vos ao par.
Força na verga e abraços a todos, Gordini (António 601)
Quando o título de “octogenário” se começou a aproximar de mim, entendi por bem que talvez fosse chegado o momento de cuidar do destino a dar à imensa documentação que detenho e que, em minha casa, se espalha por estantes, armários, recantos, arrecadação da cave e outros espaços recônditos que, por vezes, até a mim me surpreendem.
E digo-vos que preparar tal destino é de facto uma grande seca! Mas tem que ser, para que tamanha papelada não venha a ter como destino... o lixo!
Entre os muitos papéis e imagens que me foram passando pelas mãos, vim a redescobrir um documento intitulado “Fado do Menino da Luz”. Dele consta tratar-se de uma “Canção dedicada aos Alunos do Colégio Militar” e que era um dos quadros da “popularíssima Revista «A Rambóia» levada à cena em 1928”.
Eram autores desse fado dois ex-alunos do Colégio Militar (a letra
era de Luís Galhardo, (143/1886), e música de Raul Ferrão, (205/1901), tendo sido cantado naquela Revista pela popular artista Hortense Luz. Décadas mais tarde esse fado viria a ser rememorado num programa da Radiotelevisão Portuguesa, mas dessa vez interpretado pela fadista Eugénia Maria.
A letra da canção era constituída por seis sextilhas intervaladas duas a duas por um estribilho que rezava o seguinte:
Ser aluno do Colégio Que à Nação deu tanta glória, É guardar o privilégio
De que vive a nossa história! Foi naquele doce ninho Que gerou p'rá nossa terra Esse herói que foi Mouzinho E os heróis da Grande Guerra.
Dizia-nos portanto este estribilho que, o “herói que foi Mouzinho” (de Albuquerque), havia tido por “ninho” o Colégio Militar (ou seja, fora seu aluno). E quem o afirmava publicamente, e por escrito, era um antigo Menino da Luz: o Luís Galhardo (143/1886).
Oitenta anos depois (2008), editado pela Oficina do Livro, foi publicado um livro com o título “Mouzinho de Albuquerque” , da autoria de António Mascarenhas Gaivão, de quem Mouzinho fora tio-bisavô.
Nesse livro biográfico o sobrinho-bisneto de Mouzinho escreve também que este valente oficial foi aluno do Colégio Militar.
Perante estes dois testemunhos escritos pareceria não restarem dúvidas de que o herói de Chaimite fora “Menino da Luz”.
Mas será assim? Vejamos.
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque nasceu a 10 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, freguesia e concelho da Batalha (Leiria), e era filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque, major engenheiro, e de Maria Emília Pereira da Silva Bourbon Mouzinho de Albuquerque.
Fez os estudos iniciais e depois assentou praça como voluntário e foi frequentar os preparatórios na Escola Politécnica para depois poder ingressar na Escola do Exército onde em 1878 viria a concluir o curso de Cavalaria, sendo então promovido a alferes.
Decorridos seis anos, por decreto de 31 de Outubro de 1884 foi promovido a tenente, sendo então colocado
no Colégio Militar como Regente de Estudos, cargo que exerceu até 3 de Novembro de 1886, altura em que foi promovido a capitão.
Seguiu então para a Índia e desta para Moçambique onde se manteve até princípios de 1892. Em Abril de 1895 voltou a Moçambique tendo tomado parte nas Campanhas de Pacificação daquele território (combate de Coolela, ocupação de Manjacaze e acção de Chaimite). Em 1896 foi nomeado governador de Moçambique, prosseguindo agora com as campanhas dos Namarrais, de Gaza e do Zambeze, tendo entretanto sido promovido a major por distinção.
Nos princípios de Agosto de 1898 regressou a Lisboa e, meses depois, foi nomeado o Oficial-Mor da Casa Real, sendo-lhe confiada a educação do Príncipe D. Luís Filipe, presumível herdeiro do trono.
E é no desempenho deste cargo que Mouzinho volta ao Colégio Militar
acompanhando o príncipe na sua passagem em revista ao Batalhão de Alunos.
Mas Mouzinho de Albuquerque não tinha feitio para ser um “homem da corte” e, após ter escrito a sua célebre carta dirigida ao príncipe, suicidou-se com dois tiros. Era 8 de Janeiro de 1902.
Além das duas anteriores referências ao Colégio, Mouzinho teve ainda uma outra ligação com este. Foi familiar de dois rapazes que vieram a ser “Meninos da Luz” : o mais velho, o João Vilas Boas Mouzinho de Albuquerque, frequentou o 1.º ano como “externo” , passando no 2.º ano a interno com o n.º 66/1921; o outro era o Fernando Vilas Boas Mouzinho de Albuquerque, que foi o aluno n.º 18/1924.
Aqueles que resolverem pesquisar o livro “Quem é Quem” vão lá encontrar outros alunos de apelido “Mouzinho de Albuquerque” , mas nenhum deles tem o nome “Joaquim Augusto” . São os que se transcrevem de seguida:
98/1855 – Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque
107/1861 – Fernando Pereira Mouzinho de Albuquerque
40/1868 – Luís Pereira Mouzinho de Albuquerque
141/1873 – Henrique Pereira Mouzinho de Albuquerque
175/1884 – Fernando Luiz Mouzinho de Albuquerque
131/1894 – Luís Pereira Mouzinho de Albuquerque
Fiquemos portanto cientes de uma vez para sempre, que «Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque» , apesar de ter sido um grande herói nacional, não foi aluno do Colégio Militar.
«... ninguém como o soldado carece de força de vontade, porque mais que em coisa alguma se demonstra ela na prática da obediência. Renunciar ao capricho, ao egoísmo, à indolência, a tudo quanto o vulgar
dos homens mais aprecia e estima, ter por único fim servir bem, por único enlevo a glória, por único móvel a honra e a dignidade, não é renúncia da vontade. E se nós que somos soldados somente desde o dia em que nos alistámos e podemos voltar à classe civil de onde saímos, precisamos para tudo de muito querer e saber querer.»
«...ser soldado não é arrastar a espada, passar revistas, comandar exercícios, deslumbrar as multidões com os doirados da farda. Ser soldado é dedicar-se por completo à causa pública, trabalhar sempre para os outros.»
Para que os amantes da música se possam deleitar a cantar e tocar, ou apenas a trautear, o Fado do Menino da Luz, apresentamos a correspondente partitura.
Na sequência do artigo que publicámos na Zacatraz nº 186, de Março de 2012, actualizamos o cenário de admissões de Alunos não portugueses ao Colégio.
Na Tabela 1 – Alunos estrangeiros admitidos no Colégio por país e sexo – sintetiza-se a evolução verificada, tomando como referências os anos de 2012 e 2020.
O ano de 2012 foi tomado como referência, por até esse ano só terem sido admitido Alunos estrangeiros originários dos Palop's.
É notável a progressão verificada: de 86 Alunos estrangeiros admitidos (todos Palop’s) até 2012, atingem-se os 201 novos Alunos estrangeiros admitidos até 2020. Representa um crescimento de 115 Alunos, ou seja, de 133% em 8 anos!
Mas, interessante é a análise qualitativa – por origens – deste crescimento.
Do total de 201 Alunos admitidos até 2020, 153 têm origem nos Palop’s.
O número de Alunos originários dos Palop's passou de 86 para 153, quase que duplicou em 8 anos foi um acréscimo de 78%.
Detalhando a origem dos Alunos por País e Sexo e a variação entre 2012 e 2020, a Tabela 1 evidencia a supremacia de Angola como principal origem 91 Alunos/ as (45% do total) – bem como do número de novas Alunas 10 (42%) num total de 24.
No “ranking” de Alunos admitidos por país, seguem-se Moçambique (25) com um crescimento de 5 Alunos entre 2012 e 2020, Timor-Leste com 16 admissões, das quais 5 Alunas, Brasil (14), e Guiné-Bissau (12), constatando-se que as admissões de Alunos de Timor-Leste e Brasil só se iniciaram após 2012. De notar, ainda que, do total dos 201, 9 entraram para o 1º Ciclo: 4
de Angola, e 1 de Brasil, China, EUA, França e Espanha.
Curioso é notar, igualmente, que apenas a Oceânia, não participa no contributo dos continentes para as admissões de alunos estrangeiros , destacando-se África com 143, como se pode constatar na Tabela 2.
No Quadro 1 apresenta-se o “ranking” das Admissões de Alunos Estrangeiros por ano de entrada . Com excepção de 1998 em que foram admitidos 11 alunos (9 de Angola e 2 de Moçambique), é entre 2015 (22 novos alunos) e 2018 num total de 53 Alunos de 14 países que se verifica o “pico” das admissões:
Na Tabela 3 Período com maior número de admissões , verifica-se que no período de 4 anos, de 2015 a 2018 (ambos inclusive), 15 alunos são de 8 países não Palop´s, dando Angola e Timor-Leste os maiores contributos: 20 e 13, respectivamente.
Na Tabela 4 apresenta-se a distribuição por países de origem e por género dos Alunos estrangeiros presentes no Colégio no início do ano lectivo de 2020/2021 (total de 34).
Tabela 4. Alunos estrangeiros no Colégio no início do ano lectivo 2020/2021.
COLÉGIO 2020/2021
Dos quais no 1º Ciclo (ano para o qual entraram):
(a) 3 rapazes (Angola) (2º ano em 2015-2019-2020)
(b) 1 rapaz (Brasil) (1º ano em 2018)
(c) 1 rapariga (China) (1º ano em 2019)
(d) 1 rapariga (EUA) (1º ano em 2017).
Internacionalizado que está o Colégio Militar “dentro de portas”, para quando dois novos Colégios Militares – sob égide portuguesa – em Angola e Timor-Leste com origem na experiência e saber de mais de 200 anos a formar portugueses, na sequência das iniciativas da nossa Associação com as autoridades governamentais locais, com os projectos que entre 2008 e 2010 realizámos para aqueles dois países?
Carta do Chefe do Estado Maior General das F-FDTL
Perspectiva do Colégio Militar de Timor-Leste.
No número 223 da ZacatraZ, de Abril/Junho de 2021, no artigo relativo à pequena cerimónia ocorrida nos Claustros, a 11 de Maio de 2021, de celebração do centenário da revista «O Colégio Militar» , referimos que a sessão se iniciou com um agradável momento musical, interpretado por parte da orquestra colegial, acompanhada por um conjunto coral de Alunos/ as, em que se integrou o professor Nuno Maria Gomes Marques (230/1966).
Na introdução musical indicada, foram interpretadas uma marcha e um fado relativos ao Colégio Militar, que para nós constituíram uma novidade. A novidade transformou-se em curiosidade, pelo que não descansámos enquanto não obtivemos as letras das duas peças musicais. As letras foram-nos facultadas por Nuno Gomes Marques, a quem expressamos o nosso reconhecimento. Para que todos possam também satisfazer a sua curiosidade, apresentamos de seguida as letras que até nós chegaram, começando pela letra da marcha, intitulada «Colégio Militar» .
Colégio Militar, sagrado templo, ali foram armados cavaleiros Heróis que ao mundo deram nobre exemplo, soldados e valentes marinheiros
E sempre essa bandeira triunfal mais alta se alevanta em Portugal!
Marchar, marchar com alegria e com saudade recordar da mocidade a valentia este hino de amor sempre a cantar. Adeus, Colégio Militar!
A tua bênção maternal pela vida fora há de guiar aos bravos heróis de Portugal!
Bendita seja a escola onde se aprende, o amor da Pátria o culto do Dever!
O lar que em seu calor no peito acende bravura e galhardia para vencer. Penhor é de nobreza e honra sem par, ser filho do Colégio Militar!
Marchar, marchar com alegria e com saudade recordar da mocidade a valentia este hino de amor sempre a cantar. Adeus, Colégio Militar!
A tua bênção maternal
pela vida fora há de guiar aos bravos heróis de Portugal!
Em alegre viveiro altivo e forte, floresce a juventude ao sol criada, Qualquer é para a vida e para a morte irmão leal e nobre camarada. E vão passando além as gerações, fraterno amor unindo os corações!
Marchar, marchar com alegria e com saudade recordar da mocidade a valentia este hino de amor sempre a cantar. Adeus, Colégio Militar! A tua bênção maternal pela vida fora há de guiar aos bravos heróis de Portugal!
Música: Cruz e Sousa Letra: Cardoso dos Santos
No final da letra são indicados os autores da música e da letra da marcha. Verificamos que o autor da música foi o Antigo Aluno, Cruz e Sousa, de seu nome completo Amândio Óscar da Cruz e Sousa (177/1887), e que o autor da letra foi Cardoso dos Santos.
Chamamos a atenção para o facto de na letra desta marcha se designarem os Alunos por "filhos do Colégio Militar".
Quanto ao «Fado do Menino da Luz» , apresentamos também a sua letra, recordando que, na sessão a que assistimos, foi este fado interpretado, com muito sentimento e segurança, por uma Menina da Luz componente do conjunto vocal.
Só quem tiver já sido Colegial, No convívio fraternal do Colégio Militar, É que percebe e sente a lealdade dessa grande intimidade que jamais pode acabar! Quando entra um rata novo para a Luz, desde logo ali traduz a repulsa p'la traição. Que se mantém na vida, de mãos dadas entre nobres camaradas De tão nobre tradição
Ser aluno do Colégio Que à Nação deu tanta glória, É guardar o privilégio, de que vive a nossa história! Foi aquele doce ninho que gerou p'rá nossa terra, esse herói que foi Mousinho E os heróis da Grande Guerra!
O tempo corre, vão-se as ilusões, mais fiéis os corações continuam a vibrar, De modo tal, que após dezenas d’anos, são os próprios desenganos que nos tornam a juntar. E mesmo até sem já se conhecer, o que vem p'ra recorrer ao amigo e diz quem é, Ao recordar da Luz os tempos velhos, Dão-se abraços e conselhos Sempre com a mesma Fé!
Ser aluno do Colégio Que à Nação deu tanta glória, É guardar o privilégio, de que vive a nossa história!
Foi aquele doce ninho que gerou p'rá nossa terra, esse herói que foi Mousinho E os heróis da Grande Guerra!
Depressa até se faz com que um petiz nos princípios varonis, educado sem temor, Aprenda a ser um verdadeiro homem P'ra que logo a sério o tomem Pelo brio e p'lo valor! Por isso quando a gente d'ali sai honra' o nome de seu pai que já foi colegial, Ao mesmo tempo dando ao sentar praça Novo sangue a esta raça, Novo alento a Portugal!
Ser aluno do Colégio Que à Nação deu tanta glória, É guardar o privilégio, de que vive a nossa história! Foi aquele doce ninho que gerou p'rá nossa terra, esse herói que foi Mousinho E os heróis da Grande Guerra!
Música: Raul Ferrão
Letra: Luiz Silva e Xavier Magalhães
Também neste caso nos são indicados os autores da música e da letra do fado. De novo o autor da música foi um Antigo Aluno, neste caso Raúl Ferrão (205/1901).
Este fado fazia parte da revista «A Rambóia» cujo autor era um Antigo Aluno, de seu nome Luis Galhardo (143/1886). Segundo nos informa José Alberto da Costa Matos (96/1950), na sua obra «O Colégio Militar na Toponímia Portuguesa», Luis Galhardo teve uma carreira algo atribulada como oficial do Exército, tendo-se distinguido mais como jornalista, escritor e empresário teatral.
Foi administrador do Teatro Nacional e chegou a ser empresário-gerente de quatro e cinco teatros em simultâneo.
Antes de falarmos do autor da música, consideramos oportunas umas curtas considerações sobre a letra deste fado, começando pela parte seguinte:
Foi aquele doce ninho Que gerou p`rá nossa terra Esse herói que foi Mousinho E os heróis da Grande Guerra.
Quando andei no Colégio, no final da década de 50 do século passado, aquilo de «doce ninho» , pouco tinha, principalmente no «Colégio Velho» Aquilo era «durinho» e o ambiente era a puxar para o «caserneiro» . Achavam que assim é que devia ser, para se obter o objectivo pretendido, que era a formação de pessoal endurecido, pronto para enfrentar, ao sair do Colégio, as agruras da vida. Para a malta da província, que quase não saía do Colégio durante todo o ano, o Colégio era verdadeiramente a sua
segunda casa, mas era uma casa espartana. Ali não existiam quaisquer mimos. Mas existia uma coisa muito especial, era uma profunda camaradagem, que é a versão militar da palavra fraternidade. Era essa camaradagem que nos unia e que nos permitia ultrapassar, todos juntos, de mãos dadas, os momentos mais difíceis. De qualquer forma, o Colégio não era o tal «doce ninho», idealizado pelo autor da letra.
Quanto ao Colégio ter «gerado» Mouzinho, podemos dizer, que não desdenharíamos ter tido Mouzinho como um dos nossos. Pelo contrário, isso seria motivo de grande orgulho para nós. Mas Mouzinho não foi «filho do Colégio». No artigo «Cada um no seu lugar», da autoria de José Alberto da Costa Matos (96/1950), também publicado no presente número da ZacatraZ, explicam-se em pormenor as ligações e afinidades que Mouzinho teve com o Colégio. Foi uma feliz coincidência, termos neste número dois artigos assim relacionados.
Por outro lado, a letra do fado retrata bem alguns dos valores que nos são incutidos no Colégio, ao referir a «repulsa pela traição», e retrata também bem o amadurecimento acelerado que era exigido ao Aluno do Colégio, quando diz «p`ra que logo a sério o tomem, pelo brio e p´lo valor».
O autor da música, Raúl Ferrão (205/1901), foi um conhecidíssimo compositor de numerosos sucessos musicais, tanto de revista, como de opereta e de filmes, da primeira metade do século XX. No entanto, Raul Ferrão, para além desta produção notável no domínio da música, teve também uma carreira militar digna de menção, senão mesmo notável.
Das inúmeras obras musicais de Raul Ferrão, ainda hoje se recordam e cantam, a Marcha de Lisboa, o Fado de Lisboa, a Tendinha, Madragoa, Rosa Enjeitada, Maria Severa, Lisboa Não Sejas Francesa e outras. Também ainda hoje revemos, com prazer, filmes portugueses dos quais compôs as músicas, tais como, Canção de Lisboa, Maria Papoila e Aldeia da Roupa Branca.
Quanto à carreira militar de Raúl Ferrão podemos referir, que concluiu o seu curso de Artilharia da Escola de Guerra com distinção, sendo o primeiro classificado do seu curso. Teve um princípio de carreira militar assinalável, tendo participado, como alferes, em 1915 e 1916, nas célebres campanhas do Cuamato, no Sul de Angola. Foi de seguida instrutor de Artilharia na Escola de Guerra, após o que fez o curso de engenheiro químico industrial no Instituto Superior Técnico. Serviu no Arsenal do Exército e na Fábrica de Munições, Armamento e Viaturas, de Braço de Prata, tendo feito a recepção no estrangeiro de metralhadoras destinadas ao Exército. Obteve ainda
o diploma de Engenheiro Fabril, tendo terminado a sua carreira como professor do Instituto Militar dos Pupilos do Exército. Era detentor de valiosas condecorações, tendo-lhe sido também concedida a «fourragére» da Ordem Militar da Torre e Espada.
As duas peças musicais anteriormente referidas, interpretadas na tarde de 11 de maio de 2021, nos Claustros do Colégio, não são as únicas existentes dedicadas ao Colégio Militar. No volume II, da «História do Colégio Militar» , de José Alberto da Costa Matos (96/1950), é indicado, por exemplo, que, em 1927, a Tuna do Colégio, na altura com 40 instrumentistas, tinha no seu reportório uma marcha intitulada «Menino da Luz» . Esta marcha era da autoria do capitão Manuel Ribeiro, que era então professor de música e canto coral do Colégio. Indica-se ainda na mesma obra, que, passados poucos anos, a Tuna tocava um hino-marcha intitulado «Colégio Militar» , com música do mesmo capitão Manuel Ribeiro e letra de Cardoso dos Santos. E há, de certeza, mais peças musicais relativas ao Colégio. Sei que um bisavô meu, maestro militar, compôs uma marcha dedicada ao Colégio Militar e que, à semelhança do hino do Colégio, se iniciava com o sinal de clarim do Colégio. Infelizmente, nunca a consegui localizar.
Seria interessante, que todos aqueles que soubessem da existência de peças musicais relativas ao Colégio, nos dessem conhecimento das mesmas, para que fossem todas reunidas no Museu do Colégio. Fica aqui o convite a todos os que tenham tais peças, ou que um dia venham, por acaso, a «tropeçar» nalguma delas, a dar-nos a conhecer as mesmas. Os nossos agradecimentos e os agradecimentos do Colégio ficam antecipadamente garantidos.
De livro O Judo, de Luís Robert, Editorial Notícias:
«Judo é uma palavra japonesa que se decompõe em ju e do.
Ju significa agilidade, não-resistência, suavidade.
Do, traduz-se por via, meio ou caminho.
Judo é, portanto, "a via da não-resistência" ou "o meio ágil" , o «caminho que leva a uma vida equilibrada, utilizando um método de educação física e mental baseado numa disciplina (...)»
Embora derivando de formas de combate no século XVI, o Judo moderno data de final do século XIX, no dojo de Jigoro Kano, nascido em 1863.10.18, filho de um intendente naval, que se iniciou em Ju-jitsu , fundando, em 1882, a sua própria escola, Kodokan . É, depois, professor no Colégio dos Nobres e, em 1907, cria os três primeiros Katas do Judo.
O Judo integra etiqueta, através de saudações respeitosas, como a simples Ritzurei , de pé, e a Zarei , mais cerimoniosa, ajoelhada. Também,
se aprende a cair, nos Ukemis, e a combater de pé e no solo, Katame-waza , embora o Gokio possa ser o mais aliciante, por envolver técnicas de projeção…
Iniciei-me no Judo em 1963, quando fui instrutor no Centro de Operações Especiais (CIOE), em Lamego – por indicação do Quartel-General da Região Militar de Angola –, incluindo o 1.º curso de Operações Especiais, tipo Ranger , dirigido pelo, então, capitão Ro -
dolfo Begonha, mais tarde, oficial general. O general Caeiro Carrasco e o ten. coronel João Egreja (o filho João Luís andou no Colégio Militar, n.º 359, de 1959/65), 2.º comandante do CIOE, mandaram-me fazer um estágio na Polícia Militar, no Regimento de Lanceiros 2, em Lisboa, onde conheci o mestre Kioshi Kobayashi…
Dava instrução numa arredação do quartel transformada em dojo, com um tatami que não passava de um
tapete improvisado com um pano de cobertura de uma camioneta sobre pneus velhos!
O mestre era muito apreciado e gostávamos de o ver ser duro para com um outro japonês, menos apreciado,
mas que teve um filho atleta olímpico a representar Portugal em Natação. Na 1.ª vez que o vimos, embora fosse dan (cinto negro), usava cinto branco, pelo que estranhámos a resistência que ofereceu ao aspirante Pedreira, 1.º dan e «braço direito» do mestre…
Mais tarde, inscrevi-me no Judo Clube da Portugal, onde fui aluno dos mestres Kioshi Kobayashi e José Bastos Nunes e colega de dr. Sebastião de Lorena (9.º marquês de Pombal, 3.º dan ) e cantor Zeca Afonso…
Ainda praticava Judo, quando fui professor no Colégio Militar, nos anos letivos de 1971/73, havendo outro oficial, mais velho, o coronel Freire que era 1.º dan . Eu julgo que ainda seria 2.º kiu (cinto azul) ou 1.º kiu (cinto castanho). Fizemos uma exibição no ginásio… Por essa altura, o diretor era o brigadeiro Frazão, o «sub» o coronel Júlio Cruz (não o localizei no Quem é quem) e o padre Braula fora substituído pelo padre Américo.
Tinha sido convidado pelo dr. Júlio Martins, meu antigo professor de Latim, para lecionar Português. Ele era dono da Didática Editora, onde colaborava o nosso grande professor de Português e de Latim, dr. Jaime da Silva Mota, de Vila Meã. Publicaram-me o meu 2.º livro, Tempo Africano… , também ilustrado pelo pintor, essencialmente angolano, Albano Neves e Sousa, em 1972.
Não cheguei a lecionar Português, mas, sim, Geografia e Desenho, tendo tido como alunos dois primos Durão, filhos dos manos Durão, Ricardo (17, de 1938/45, instrutor de Râguebi na Escola do Exército, promovido por distinção e recentemente falecido) e Roberto (15, de 1942/49); e mais filhos de ex-alunos, como de Pedro Pezarat Correia (10, de 1943/50), Carlos Blasco Gonçalves/ «Giriban» (51, de 1942/50), Luís Dias Antunes (221, de 1948/55), …
O mestre Kobayashi nasceu no Japão, em 1924, em Guma, a cerca de 150 km de Tóquio. Tive o privilégio de ter estado em Tóquio, em 1987, na 6.ª Conferência Mundial Tabaco ou Saúde, em representação da Fundação Portuguesa de Cardiologia, podendo visitar a sede mundial do Judo Kodokan.
Em 1972, Kobayashi era 7.º dan , trocando o cinto negro por outro mais largo, vermelho e branco. Chegara em Novembro de 1958 a Portugal e em 1959 já ensinava Judo no Regimento de Lanceiros n.º 2. Mas já estivera, anteriormente entre nós, ajudando a criar o Judo em Portugal, em 1956. Ensinou Judo em bastantes países, mas onde mais viveu, para além do Japão, foi em Portugal e nos Estados Unidos da América.
Na guerra de 1939/45, o jovem Kobayashi foi kamikaze do Exército, tendo ficado na «lista negra» dos militares americanos, pelo que, no após guerra, esteve refugiado numa universidade japonesa, onde se licenciou em Medicina. Mais tarde, as suas filhas viveram nos EUA…
Quanto a ele, o espírito de samurai deve incluir disciplina e respeito… e deve-se começar a aprender com 10 anos de idade, sendo que no Japão ainda havia praticantes com 70 anos!
José (Zeca) Afonso era apenas kiu , mas simpático. Quando andávamos no Judo Clube de Portugal, cheguei a entrevistá-lo para a Rádio Difusão Portuguesa, onde colaborei no programa Contra/ Ponto . Viveu bastante tempo em África, incluindo em Moçambique e no planalto do Bié, em Angola, onde também estive, em 1960, quando da transferência do Grupo
de Dragões, de Luanda para a sede do, então, maior distrito de Portugal, Bié-Quando-Cubango. Esteve, igualmente, lá o Rui Cidraes (de Elvas, 334, de 1947/54) e foi nosso comandante de esquadrão o Manuel Martins Rodrigues (de Alijó, 261, de 1940/48).
Em Moçambique, o cantor Zeca Afonso – que ficou célebre com «Grândola, vila morena» , em 25 de Abril de 1974 –, conviveu com o já referido Pedreira que fez lá uma comissão como alferes miliciano e foi colega como professor de educação física do António Hélder Sena e Silva (149, de 1948/54). Quanto ao Sebastião, como era conhecido, 3.º dan de Judo Kodo-kan, só ao cabo de vários anos de convívio, percebi que era licenciado em Direito; anos depois, que escrevia poesia; e, só em Oeiras, que era o atual e 9.º marquês de Pombal…
Aprecio muito a sua obra poética, como:
«Não se preocupem comigo/ Se fico ou se vou Eu, a maior parte das vezes,/ Já cá nem estou.» ( Às vezes sim outras não , Europress, colecção O sol no tecto , 23, 2014, pg 177)
«A criança chegou,/ Sem dar por isso, Aos oitenta anos/ De idade. Olhou para trás/ Espantou-se E perguntou:/ Será verdade?» (2012.04.21)
Ou do livro Entre um Dia e o Outro , Europress, 1993:
De 1983, em pp 14: «A criança entrou na loja/ Apanhou um chocolate/E mordeu E o paraíso revelou-se/ Entre os seus dentes.»
De 1984, em pp 22: «Oiço um pássaro/ No meu território Um tordo/Um gaio/Um anónimo qualquer Corro a abrir a porta/ E caímos nas asas um do outro.»
De 1987, pp 63: «O pássaro não canta/ Para me agradar
Mas eu agradeço.» de 1991, pp 132: «Entre um dia e o outro Que solícito cansaço
Hoje repito o que não fiz/ Amanhã repito o que não faço.
E entre esse dia e o outro / Que a memória não retém
Há uma graça que se perde / E outra que já não vem.»
Recordo-me, também, do judoca José Manuel Cunha, 1.º sargento músico e 1.º dan . Foi estudante do ensino noturno, chegando a frequentar a Faculdade de Letras. Identifiquei-me por eu ter sido professor do ensino noturno e estudante/trabalhador na Faculdade de Letras; e inspirou-me, mais tarde, a socorrer-me de terminologia de Judo,
na 10.ª edição do meu 9.º e penúltimo livro, Longas Horas do Tempo Africano, em articulação com conhecimentos musicais, para ajudar a definir as partes principais do livro:
1.º Andamento, allegro; kyu (graduação anterior à dos dan): Angola em paz (ainda antes da guerra começar);
2.º Andamento, larghissimo; ippon-seoi-nage (projeção por cima da espádua): Angola em guerra;
3.º Andamento, presto; sasae-tsuri-komi-ashi (blocagem de pé levantado, técnica de pernas de pequena amplitude): Guiné, preparação;
4.º Andamento, largo; randori (luta com resistência): Guiné, intervenção;
5.º Andamento, vivace; uki-goshi (técnica de projeção, utilizando a anca e constituindo um movimento essencialmente rotativo): Guiné, quadrícula;
6.º Andamento, allegretto; tomeo-nage (o mais famoso dos sutemis , «prancheta japonesa», técnica de projetar o adversário por sobre nós, sacrificando a nossa posição vertical): revisitar Angola;
7.º Andamento, moderato; yoko-shio-gatame (imobilização por domínio lateral dos quatro cantos, do combate no solo, katame-no-kata): recordar a Guiné;
8.º Andamento, andante; dan (cintos negros): Moçambique.
Finalmente, gostaria de referir que Jorge Niblet do Passo, aluno n.º 227, do nosso curso de 1948/55, o qual foi graduado como ajudante do comandante de Batalhão, também foi 1.º dan e esteve em Angola; e é aniversariante no mesmo dia em que também o era o nosso capelão José Maria Braula Reis, recentemente falecido, embora sejam de «colheitas» diferentes, 1937 e 1922...
Todo um mundo está contido nesta simples sigla. Sobre ela, feita de justiça e luta, umas breves considerações que julgo construtivas e pertinentes:
– ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Penso que é igualmente nosso objectivo e propósito defender e pugnar pelos justos Direitos de todos os que lutaram, dando algo de si mesmos (Deficientes ou não), que não fugiram, nem viraram a cara, que procuraram apenas cumprir o seu Dever, com Humildade e Amor, seja de um lado ou de outro, pois todos cabem nesta pequena frase: só não se honrou quem não lutou (este poderia até ser o tútulo deste artigo).
Tendo em conta, como é humano e justo, aqueles que mais se sacrificaram ou sofreram, física ou psicologicamente, e naturalmente mais necessitam de compreensão e apoio por parte da Nação.
Nesse sentido, mudando apenas o D da sigla, ficaria assim, e bem: Associação (pela) Dignidade das Forças Armadas.
Na realidade, podemos dizer e aceitar que, nesta nossa vida, não há ninguém que nasça perfeito. Podemos até, figuradamente, afirmar «Todos nascemos Deficientes» , como há uns tempos disse num artigo, ou melhor, num Poema que dediquei a todos os Deficientes que continuam, sem se sentirem inferiores (pelo contrário), e sem desistir, a praticar Desporto com todo o brio e honrando com tantas medalhas o nosso País (exemplo dos Para-Olímpicos). Dentro de uma ideia mais ampla e abrangente e usando outros termos bem adequados à nossa sigla ADFA, apetece-me dizer:
ADFA – Abnegação, Determinação, Fraternidade, Acção! Nada Mais.
Pretendo apenas realçar esta minha simples opinião pessoal que creio ser da maioria:
– Como Associação, que somos, nunca nos apoiando ou deixando ser usados ou manipulados por qualquer Partido, ou ideologia política, embora cada um de nós tenha direito de escolher ou votar em que quiser, dentro da Liberdade que a Democracia permite… Mas, como ADFA, devemos ser apartidários, livres e isentos de qualquer ideologia política ou religiosa, pugnando apenas, com o devido respeito e justiça, pela nossa Dignidade e Independência e apenas acreditando com Esperança e sem Submissão no nosso Comandante Supremo das Forças Armadas.
nas Artes e nas Letras
Olivro coordenado pelo Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949) é dedicado a Nandini Singla, Embaixadora da Índia em Portugal, e aborda as relações entre as três entidades políticas mencionadas no título, numa perspectiva de futuro, sem ocultar as especificidades dum passado comum marcado em alternância por espaços de convivência e de conflito.
Fala-se com frequência da China e da inevitabilidade de o país assumir o estatuto de superpotência no século XXI. Em contrapartida, quase se não fala da República da Índia e das imensas potencialidades da sexta economia do mundo,
habitada por 1.380 milhões de pessoas espalhadas por um imenso território com 3,287 milhões de km2. É justamente isso que Francisco Rodrigues da Silva faz no primeiro Capítulo, começando por um enquadramento geo-político suficientemente detalhado, no qual destaca cinco desafios: a falta de liquidez do sistema bancário, o desemprego crescente nos últimos anos, a atenuação do ritmo do crescimento económico, as parcerias comerciais e a intrusão da China, seu principal rival estratégico. No plano político-mlitar destaca a qualidade de potência nuclear e o eterno – e com frequência violento – conflito com o Paquistão, enquanto no plano social se manifes -
tam dificuldades na absorção das diferentes sensibilidades religiosas, na equiparação entre homens e mulheres e na consolidação duma periclitante coesão interna. Apesar disso, abundam os pontos fortes, estimando-se que, com um crescimento do PIB superior a 5% nos próximos trinta anos, a sua economia venha a ultrapassar a dos EUA no decurso do século e o seu estatuto se encaminhe para o de superpotência.
Seguidamente, Valentino Viegas fala-nos da Identidade de Goa. Embora reconheça não existirem ali traços distintivos que, por si sós, permitam atribuir-lhe uma identidade própria, uma leitura
mais abrangente permite encontrar aquilo que diferencia Goa do resto da Índia e de Portugal. Trata-se, na sua essência, da absorção por Goa, no decurso de séculos, de valores portugueses e indianos aculturados de tal forma que lhe conferem um particularismo dinâmico e multifacetado, sendo a coexistência pacífica das religiões cristã, indú e muçulmana, o exemplo mais consistente. Por fim, Manuel Vieira Pinto analisa o estado das relações luso-indianas, começando por recordar que elas estiveram interrompidas entre 1961 – data da invasão dos territórios portugueses na Índia – e 1974, quando o triunfo do golpe militar em Portugal criou condições para o seu reatamento. No período imediatamente subsequente ao Tratado assinado pelos dois países em 24 de Setembro de 1974, a relação luso-indiana não ultrapassou “(…) um carácter simbólico e superficial. Sem interesses mais substanciais, sobretudo de ordem material ou/e com o distanciamento geográfico a pesar, os contactos tornaram-se esporádicos e inconsequentes (…)”. 1
As visitas de estado efectuadas em 2017 pelos Primeiros-Ministros Narendra Modi a Portugal e António Costa à Índia, abriram caminho a uma perspectiva positiva de cumprimento do Tratado de 1974, com especial ênfase na consagração do português como uma das línguas oficiais do Estado de Goa, a integração de Goa, da Índia ou de ambos na CPLP como membros de pleno direito ou com o estatuto de observador e favorecimento de todas as iniciativas em matéria de cooperação económica já lançadas e em curso.
Como assinalou no Posfácio o Presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Rodrigues, estão criadas as condições para “(…) que se desenvolva a paz e a cooperação, nomeadamente nos campos económicos e culturais e em parti -
cular na promoção da língua e cultura portuguesas, na conservação dos seus monumentos históricos e religiosos (…)”. 2
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Prémio Barretina – Associação, Dedicação ao Colégio, de 2012, que acompanha este texto. Esse prémio foi para ele de grande significado, tendo-o sempre em local de destaque em sua casa.
Faleceu o 47 de 1935, João Salgueiro Pinto Ribeiro, Decano do Conselho Supremo da nossa Associação. Era conhecido na família por João Salgueiro, para o distinguir dos outros «Joões» na mesma existente. Tive o privilégio de ser seu sobrinho, era irmão de minha Mãe. Era um homem de carácter, firme nas suas convicções, de grande simpatia e de uma enorme bondade.
Foi a primeira pessoa que vi na vida com uma Barretina na lapela e foi ele que me explicou o seu significado. Apesar de eu ser muito miúdo, percebi logo que ele lhe atribuía grande importância. Não me lembro aliás, de alguma vez o ter visto, de casaco ou de fato, sem a Barretina na lapela. Como só se casou tarde, mimou sempre os seus sobrinhos, que o adora -
vam. Foi o ídolo da minha infância e da minha adolescência.
No início e no final dos anos lectivos no Colégio, era sempre ele que lá ia buscar-nos, a mim e ao meu irmão João Nuno (16/1956), para carregar no seu carro as nossas malas e os sacos dos nossos enxovais.
Sendo oficial do Exército, passou à situação de licença ilimitada, em 1959, como capitão, devido a um acidente que lhe afectou seriamente a visão. Em 1961, iniciada a guerra em África, sentiu que era seu dever voltar às fileiras, tendo partido ainda nesse ano para Angola, integrado no Batalhão de Caçadores 317.
O que foi o resto da sua carreira militar está expresso no texto justificativo do
Foi colocado no «seu» Colégio quando foi promovido a coronel, onde serviu dedicadamente durante 10 anos, até passar à situação de reforma extraordinária. Foi seguidamente contratado, sendo Chefe do Serviço Escolar até 1990. Foi repetidamente louvado, pela excelência dos seus serviços. Foram anos para ele muito gratificantes, pois para além da família, o Colégio era a paixão da sua vida. A sua competência, o seu rigor e o seu fino trato para com todos aqueles com quem trabalhou, fizeram com que deixasse nos oficiais, professores e outros servidores daqueles seus anos no Colégio, muitos amigos.
Sempre esteve ligado á Associação, que serviu também com a maior dedicação. Escrevia para a nossa revista, foi Director Adjunto da mesma, foi membro da comissão que preparou as comemorações do bicentenário do Colégio, foi membro vitalício do Conselho Supremo da nossa Associação. Por ocasião do bicentenário do Colégio (2003), foi o coordenador do livro «Culinária Colegial….Uma Visita
Guiada», que contou com a colaboração de Mário Silva Falcão (314/1936), Fernando Perry da Câmara (143/1940) e Eduardo Martins Zúquete (20/1945), sendo o projecto de Rui Figueiredo de Barros (62/1936) e de Fernando Perry da Câmara (143/1940). Foi um projecto bem sucedido.
Jorge Amado, no seu livro «Os Capitães da Areia», dizia, de uma personagem muito bondosa no mesmo descrita, que «tinha uma estrela no lugar do coração». Eu tive a sorte de ter uma pessoa dessas na minha família, era o João Salgueiro.
Até sempre João.
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957)
Natural de Abrantes, foi o primeiro porta-guião do Colégio Militar, para onde entrou em 1935 com o número 47.
Do Colégio Militar segue para a Escola do Exército, onde conclui o Curso de Infantaria, em 1947.
Em 1954 já como capitão comanda a 3.ª Companhia de Alunos da Escola do Exército, tendo como cadetes numerosos Antigos Alunos, que, ainda hoje, o consideram uma referência como homem e como militar.
Em 1959 razões de saúde levam-no a passar à situação de licença ilimitada mas, em 1961, quando começa a guerra no Ultramar, apresenta-se ao serviço e segue para Angola como Oficial de Ope-
rações do Batalhão de Caçadores 317. Ofereceu-se como voluntário para comandar várias operações, sendo louvado pelos exemplos de muita coragem, dados em combate e pelas qualidades de comando, factores que contribuíram para elevar o nível operacional e o moral das tropas.
Em 1965 é promovido a Major e colocado no Comando Geral da Policia de Segurança Pública, onde permanece até 1975, desempenhando as funções de Chefe de Repartição, Chefe do Gabinete de Estudos, Subchefe do Estado-Maior e Chefe do Estado-Maior.
Em 1975, já como Coronel, regressa ao Colégio Militar, «a paixão da sua vida», onde assume o cargo de Chefe do Gabinete de Estudos.
A exemplo do que sucedera, nas colocações anteriores, volta a ser louvado, e se nos anteriores eram salientadas as suas reconhecidas qualidades pessoais, neste é destacada a sua capacidade de organização e planeamento da actividade de instrução do Colégio, a perfeita coordenação entre as directivas emanadas do Estado-Maior do Exército e as disposições do Ministério da Educação, nunca esquecendo o valor da experiência e tradição Colegial, e o extremo cuidado posto na selecção do Corpo Docente.
Por todos foi considerado que as suas qualidades e os seus actos dignificaram e honraram a Instituição que devotadamente serviu, o Colégio Militar.
Em 1985 passa à situação de reforma extraordinária, sendo contratado pelo Colégio como Chefe do Serviço Escolar, cargo que exerceu até 1990.
Recebeu diversas condecorações das quais se destacam as medalhas
de prata de Serviços Distintos de Mérito Militar e a medalha de D. Afonso Henriques.
É membro vitalício do Conselho Supremo da Associação, foi Director Adjunto da revista da Associação e foi membro da primeira comissão organizadora das comemorações do bicentenário do Colégio Militar.
Pela sua permanente dedicação ao Colégio e à Associação, João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935) recebeu o Prémio Barretina – Associação – Dedicação.
foi deste modo que sempre o vi e do resto posso ser suspeito. E, de acordo com os testemunhos que nos chegaram, um bom camarada e amigo, que não deslustrou a Marinha e farda que usou.
Não posso concluir sem enviar uma palavra de agradecimento aos que o acompanharam com visitas ou telefonemas na fase final da sua vida, no Lar que se providenciou. Não vou referir nomes. Eles sabem quem são.
Nasceu a 24 de Novembro de 1935 na Vila de Ferreira do Zêzere, perto de Tomar, filho de um médico de aldeia “puro e duro” , cuja memória ainda hoje perdura.
Ingressou no Colégio em 1946, com o nº46, e fez parte – provavelmente – de um dos cursos que mais cadetes deu à Escola Naval onde ingressou em 1953. Após a sua conclusão tem a sua primeira comissão na Índia Portuguesa (Goa) entre 1958 e 1959.
Ao desfazer a casa em que habitou encontrei a carteira de seu pai com o louvor (talvez o seu primeiro) que então recebeu do Comandante-em-Chefe das Forças Navais do Estado da Índia, onde se refere o seu « ../.. bom comportamento, idoneidade moral, ../.. elevado grau de desempenho de funções, revelando excepcional espírito de deligência, cooperação e dedicação ../..». Como as primeiras impressões são as que contam, por aqui me fico em relação à sua vida profissional, pois
Como todos os que serviram o País numa fase complicada da sua História, e tal como todos nós actualmente na nossa “vida habitual” , precisou de uma boa retaguarda, alguém que o acompanhasse no caminho da sua vida. Isso foi-lhe providenciado com inigualável qualidade (sou suspeito) pela Maria da Conceição, a “sua” Xixão, desde 14 de Maio de 1960. Tiveram três filhos e cinco netos.
Depois do falecimento dela passou os últimos anos com dificuldades de saúde várias, dando-nos o seu último exemplo de vida pelo modo como suportou este período.
No dia das suas exéquias, a 04 Julho e com restrições Covid activas, o CMG de escala na Marinha foi o CMG EN-MEC Luís Ribeiro da Silva, filho do Almirante ECN Fernando Ribeiro da Silva, Chefe do seu curso da Escola Naval e também aluno do 1º ano do Colégio Militar (ex-92/77) quando eu fui finalista, e de quem fui graduado. Fez questão de comparecer às exéquias de nº1, representando não só a Marinha mas também uma Amizade por meu pai, de todos eles, e por mim “de tabela”. Definitivamente, Deus “não joga aos dados”.
José Maria (47/1942) já lá estava, pelo que o Colégio era já quase uma segunda casa para ele.
Desde o início que o Armando revelou no convívio do nosso curso ser uma pessoa de grande profundidade de pensamento e de fortes convicções que sabia defender com serenidade e respeito por convicções diferentes.
No passado dia 24 de Maio recebi um telefonema do Pezarat Correia (10/1943) a informar-me que o Armando Myre Dores tinha falecido. Participei no velório e assinei o Livro em nome do nosso curso (1946/53).
A notícia foi muito dolorosa mas não muito surpreendente pois umas semanas antes tinha recebido um telefonema do Armando que me deixou uma forte sensação de despedida.
Pela primeira vez, desde há muitos anos, a iniciativa de querer participar nos nossos almoços de curso mensais partia dele e não de mim.
Prometi informá-lo da data de regresso dos nossos almoços assim que a pandemia o permitisse.
Infelizmente não houve tempo para tal.
O Armando entrou no Colégio em 1946 herdando directamente o número do seu irmão Manuel Maria (118/1940) e quando o outro irmão
Tive a honra de ser o Comandante de Batalhão do nosso curso e embora o Armando fosse oficialmente o meu Ajudante, ele formava na realidade um trio de comando comigo e o João Goulão de Melo (265/1945).
Relembro com saudade as nossas conversas sobre todos os assuntos da vida colegial em que sempre beneficiámos da sensatez e equilíbrio das suas opiniões.
Terminado o Colégio fomos os dois para o Instituto Superior Técnico com mais dois do nosso curso – o Câncio Martins (268/1946) e o Correia Leal (270/1946).
A vida veio a separar-nos em 1955 e a impor um longo interregno no nosso relacionamento.
Em Agosto de 1974 o Armando, já Doutorado em Sociologia, regressou ao convívio do nosso curso para alegria de todos nós. O mesmo 118 de sempre.
O Armando e eu mantivemos ao longo dos anos um relacionamento de forte amizade e respeito mútuo com
inesquecíveis conversas a que às vezes se juntava o seu irmão José Maria (47/1942) também já falecido mas que era casado com uma minha colega de curso do Técnico.
Faleceu um homem bom e íntegro, de elevada craveira intelectual, um grande amigo que deixa profunda saudade e a quem o nosso curso presta esta singela mas sentida homenagem.
Foi meu ajudante de Comandante de Batalhão em 1952/53.
Ricardo Bayão Horta (25/1946)
Pelo curso 1946/53
Não sou do curso do Manel, nem partilhei com ele o Colégio, mas temos uma amizade que dura há 50 anos, por causa do Colégio e do desporto automóvel.
Tudo começou quando ao chegar ao Colégio, para o jantar do 3 de Março de 1970, vi um carro todo decorado para a Volta a Portugal, que começava daí a dois dias e que eu ia acompanhar para o jornal “Época”, no qual colaborava no Suplemento Motorizado, dirigido pelo César Torres, com o Fernando Petronilho.
Procurei o condutor e descobri que ele era o Nuno Botelho (275/48, Conde de Botelho nos ralis), também já desaparecido, que me disse «aparece na Paulistana, que está lá muita gente dos automóveis».
A “Paulistana” era um café que havia ao cimo da Avenida Fontes Pereira de Melo, onde se reunia um grupo de amantes dos ralis e das corridas, ha-
vendo, ainda, nesses tempos, grupos semelhantes na “Roma” e na “Ceuta”.
Foi na “Paulistana” que o conheci e de imediato passei a “aterrar” em casa dele, quase todas as noites, em especial quando o Manel fazia o “Road Book” (Caderno de Itinerários) do Rali TAP, tendo sido ele a desenhar o “Road Book”, que passou a ser adaptado pela Federação Internacional para os ralis mundiais, depois de para isso ter sido desafiado pelo César Torres.
Um dia estávamos a trabalhar, depois de jantar, como tantas vezes sucedia, quando o César apareceu para ver como ia o trabalho e ao ver-me disparou «o que está este gajo a fazer aqui?» , porque o César sabia que eu era jornalista e que ficava a conhecer o itinerário, antes dele ser oficialmente divulgado.
O Manel só respondeu «é meu amigo» e a questão morreu ali e o César aceitou que eu o ajudasse.
Foram muitas as noites que passei em casa dele, sozinho ou acompanhado, à volta de uma mesa de Bridge, ou quando aconteceu o recolher obrigatório na noite de 25 de Novembro de 1975.
Apesar de defender o Colégio era raro aparecer no 3 de Março e não sei se o fez nas reuniões do seu curso, mas não deixou de estar presente no 3 de Março de 1975, depois do “Diário de Lisboa” ter titulado, na véspera, “Desfile do Colégio fascista na Avenida da Liberdade”.
O facto de correr a noticia que o desfile corria o risco de ser impedido levou aquela que foi, talvez, a maior afluência de ex-alunos à Avenida.
Foi com surpresa que o vi chegar, com a pele de carneiro que costumava usar nos ralis, nos tempos em que não havia fatos de competição e cada um ia como queria, e quando a abriu mostrou-me uma corrente, com várias voltas, que trazia à cintura, que não era pequena e afirmou «eles que venham»
O Manel só esteve três anos no Colégio e depois foi para Santo Tirso para um colégio de jesuítas, mas nunca escondeu a paixão pelo Colégio e tinha uma frase em que o exprimia de forma clara ao afirmar «o Colégio forma homens, os jesuítas formam homens para a vida»
Por último foi em casa dele que conheci a minha mulher, no dia em que cheguei da Guiné.
Para a Nico e o Vicente, que vi crescer, fica um forte abraço com uma saudade imensa e eterna.
Frequentou o Colégio Militar do 1º ao 6º ano.
Licenciou-se em Economia e Gestão de Empresas pelo Instituto Universitário de Évora (ISESE) e em Marketing Internacional e Comércio Exterior pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, Brasil.
Fez parte significativa da sua brilhante carreira profissional na Banca onde ocupou diversos cargos de Administração.
As minhas recordações do Pedro Cudell do tempo do Colégio são muito difusas. Sei que estivemos sempre juntos, na mesma turma, excepto no 5º ano em que baralharam as turmas e fui parar à turma D e o Pedro foi para outra qualquer. Fora isso estivemos sempre na turma A. E na camarata dormimos sempre lado a lado, salvo no 1º ano, em que tínhamos o Lancastre, o 13, entre nós os dois. As minhas recordações colegiais do Pedro Cudell resumem-se a isso e a saber que nos dávamos muito bem nos tempos idos da juventude. Sobre o seu brilhante percurso profissional nada como consultar o site, indicado pelo Dionísio, o 20, https://pt.wikipedia.org/ wiki/Pedro_Men%C3%A9res_Cudell. Tornámos a reencontrar-nos após terem cessado
as absorventes ocupações de ambos no ganhar da vida. Não nos víamos há cerca de cinquenta anos e quando nos reencontrámos parecia que nos tínhamos visto na semana anterior. Com amigos é assim. Sempre presentes mesmo que desencontrados. E disfrutámos bem estes tempos recentes que foram interrompidos pelo covid e agora pela morte do Pedro. Experimentar restaurantes que o Pedro sabia serem excelentes, almoços de amigos organizados pelo Pedro nos clubes de que era membro. O Tauromáquico e o Pé-Leve. Jantares de família. E falávamos muito. O Pedro era um excelente conversador. Do Colégio contava encantado que tinha sido castigado pelos mais velhos porque tinha referido que a Mãe o vinha às vezes buscar de avião para ir passar o fim-de-semana ao Porto. Ninguém acreditava e criam-no mentiroso. Mas era verdade. De vez em quando a Mãe vinha mesmo buscá-lo de avião para irem para o Porto. Tive muita pena de não ter podido acompanhá-lo na derradeira viagem mas não estava em Lisboa. Acompanhei-o em pensamento e continuo, como todos nós que privámos com ele, com o Pedro no pensamento. Com saudades de um bom amigo que, sem vontade nenhuma, nos deixou. O Pedro adorava a vida. Nós adorávamos o Pedro.
Uma estória do Pedro. Estávamos em pleno 1º ano, no Pátio do Desenho durante um intervalo das aulas, quando o soldado Clarim, que se encon-
trava posicionado na plataforma da direita que ladeava as escadas de acesso aos Claustros, inicia o toque para o regresso às aulas.
Decorria o toque do soldado Clarim, quando o Pedro repentinamente, coloca o seu barrete na campânula do clarim, provocando a interrupção e o terminar abrupto do toque.
Acto contínuo, o soldado pega no clarim e arreia uma valente mocada na cabeça do Pedro, inutilizando o instrumento, que ficou amolgado.
Não me lembro se houve alguma consequência a nível disciplinar, mas tenho uma vaga ideia que o soldado foi comunicar o sucedido ao Oficial de Dia.
Luís Alexandre da Oliveira Mateus de Magalhães (146/61)
Na visita de Estudo à Siderurgia Nacional.
Onosso camarada Canário, mais conhecido no curso pela alcunha Brasinha, por motivos que desconheço, afastou-se dos camaradas de curso e do seu convívio. O curso fazia normalmente jantares anuais de confraternização organizados pelo 170/66 Pedro Barata.
Num desses jantares, em conversa com o Pedro, chegou-se à conclusão que um convívio anual era pouco, e que nesta fase da vida, com alguns já reformados, podia tentar-se realizar convívios mais frequentes.
Como tinha mais disponibilidade, aceitei a sugestão de ser eu o organizador. A condição é que tinham de ser almoços, e resolvemos fazer almoços bimestrais.
A coisa resultou em pleno, com enorme adesão, tendo as nossas confraternizações chegado a ter perto de 60 convivas. Além dos almoços propuseram-me tentar descobrir os camaradas de quem nada se sabia. Aceitei a missão. Tenho histórias muito engraçadas para contar mas não é aqui o local próprio. Fazen -
do pesquisas na internet dei com uma firma localizada perto da Av. Mouzinho de Albuquerque, cujo proprietário tinha o apelido Canário. Entrei em contacto com ele e constatei ser o tio do 618. Foi através dele que cheguei ao Brasinha. O 618 acedeu a vir aos almoços mas tinha sempre um ar reservado e algo distante; compreende-se pelos mais de 50 anos de afastamento.Era no entanto um dos mais assíduos.Nalguns almoços sentei-me ao lado dele e consegui saber um pouco mais da vida do Brasinha. Sempre residiu na Malveira.
Comprou umas centenas de cabeças de gado quando lhe saiu a lotaria.
Chegou depois à conclusão que o negócio era para profissionais do ramo.
Havia muita concorrência, as margens de lucro completamente esmagadas, e o investimento não dava retorno.
Vendeu tudo. Foi corredor de ralis; toda a gente na Malveira o conhecia por isso.
Tinha um coração bondoso; era humanista; auxiliava sempre quem lhe pedia ajuda.
Fiquei também a conhecer a filha, Ana Canário, que na altura trabalha -
va no restaurante Adega da Bairrada aqui em Alvalade.
Era através dela que o convocava para os almoços uma vez que o Brasinha não era dado às tecnologias e não tinha email.
Fiquei com a impressão que nunca conseguiu ultrapassar a morte do filho e fechou-se na sua concha.
Embora fotógrafo de fraca qualidade aqui fica, nesta breve homenagem, o retrato que consegui tirar do nosso Brasinha.
Aos familiares, principalmente à Ana, as nossas sentidas condolências.
Ao Brasinha um até sempre.
José Manuel Silva da Graça Monteiro (192/1966)
Apalavra saudade que ecoa agora nos nossos corações, nunca fez tanto sentido como agora. O Gordini partiu, mas deixou- nos um legado inestimável.
Os valores, a família, a amizade, o companheirismo, a competência, a responsabilidade, pautaram a sua conduta, sendo muito estimado no seio familiar, nas amizades, no companheirismo, e em todo o seu percurso escolar e profissional.
Tamanhos laços realçam a dura realidade de ter partido prematuramente.
Desenvolveu a sua educação no Colégio Militar, pelo qual sempre nutriu uma admiração e lealdade notáveis. O seu sentido de pertença era muito forte. A sua rede de amigos muito coesa. O lema "Um por todos, todos por um" funcionou, e fez muito sentido nesta rede, até ao fim dos seus dias.
Como Delegado de Curso preparava com todo o fervor e entusiasmo a festa dos 50 anos de saída do Colégio em parceria com o Subdelegado Ginho e outros colegas.
Após breve passagem pelos Pupilos do Exército, a obtenção posterior de uma licenciatura em Engenharia, mestrado na área do Ambiente, contribuiu para um sentido de responsabilidade sustentável e um legado para a profissão.
A sua paixão pelo ar livre e pela música clássica, nunca será esquecida. Acima de tudo, o seu sentido de humor e gargalhadas ímpares ecoarão repetidamente na memória de todos nós.
Ao António, Tó, Tózinho, Tózito, Gordini, um até sempre.
“Sem palavras, que grande m.... Aquele email dele …”
“- Ó Miguel, eu apareço em quase todas as tuas estórias! - Gordini.
- Elas são fruto de uma investigação ao nosso passado, mas muitos dos artistas que nelas participaram estão armados em maricas, portanto os nossos números e alcunhas estão lá para dar um toque romântico ao acontecimento. Eu sei que tu não te importas, ficarás para a História ao nível do major Alvega e a da Rosa! - Miguel.
E ficará! Adeus, camarada 601, até um dia destes!”
“O nosso amigo e camarada António Abreu Ferreira, 601/71 “Gordini”, foi o nosso líder Colegial. Representou-nos, manteve-nos informados, uniu-nos, orientou-nos, inspirou-nos e animou-nos….manteve sempre bem acesa a nossa chama. Manteremos sempre acesa a memória e a presença dele.”
Enviaste aquele mail fantástico em que, de forma amiga e sincera, nos contavas porque tinhas deixado de falar connosco. Lá mais para o fim, dizias:
“Pois é, mas aguardamos todos pela melhor fase, a dos cavanços, das batalhas espontâneas de almofadas nas camaratas, das corridas por cima das camas cujas molas é que sofriam, enfim do desafiar constante das regras colegiais, transpostas nas nossas almoçaradas/jantaradas e outras "adas", coisas que nos divertem e nos fazem sentir que agora é mesmo o tempo de nos aproximarmos. A vida felizmente não pára. Relembro mais uma vez que este ano, e o próximo, comemoramos 50 anos de entrada no tal sítio que a infância nos marcou, de forma particularmente indelével”
As reações foram enormes, públicas, privadas, escritas, orais, atempadas ou irremediavelmente adiadas, mas todas sinceras, fraternas, solidárias, motivadoras e gratas. Como disseste... “nem sabem o bem que isto me está a fazer”. Quando de forma abrupta a tua voz se calou, a sala ficou gelada, e o silêncio foi
sendo quebrado por vozes embargadas e anónimas, porque cada uma representava o sentimento de todos, a falar da amizade que tínhamos por ti e da falta que nos ias fazer:
“Pelas palavras recentes que lhe enviaram o Gordini partiu sabendo que tinha amigos! e maior apreço na despedida não poderia ter, e melhor consolo (possível) para a família não poderia haver.”
“O nosso amigo partiu, mas teve o cuidado de nos deixar uma grande lição de vida no seu último mail.”
“Sem palavras, que grande m.... Aquele email dele ...”
“...é como se um pouco do nosso ser se fosse”
“Perdemos todos um grande e fraterno amigo, um Amigo e Irmão”
“Via de vez em vez o Gordini, mas sempre “o mesmo Gordini”. Assim o recordarei.”
“Era um irmão. Foram anos tão importantes da nossa vida lado a lado no CM. Quando havia eventos no Colégio íamos sempre juntos. Era extraordinário, de uma grande inteligência e amigo do seu amigo.”
“O nosso amigo e camarada António Abreu Ferreira, 601/71 “Gordini”, foi o nosso líder Colegial. Representou-nos, manteve-nos informados, uniu-nos, orientou-nos, inspirou-nos e animou-nos….manteve sempre bem acesa a nossa chama.
Manteremos sempre acesa a memória e a presença dele.”
maricas, portanto os nossos números e alcunhas estão lá para dar um toque romântico ao acontecimento. Eu sei que tu não te importas, ficarás para a História ao nível do major Alvega e a da Rosa! - Miguel.
E ficará! Adeus, camarada 601, até um dia destes!”
“O nosso irmão "Gordini" partiu subitamente... o seu último "email" apresentava a carga emocional de um amigo que estava em sofrimento, mas sabia que as conversas connosco representavam parte do seu conforto.”
“Esta é daquelas notícias que chocam, esta dói mesmo.
Estas coisas deviam-nos fazer repensar o modo como levamos a vida.”
“Quando morre um dos nossos, todos nós morremos um pouco. Que triste noticia, quando ele estava animado a combater a doença. Apesar da distancia, sempre senti que estamos todos juntos…”
“Era uma grande alma, com um espírito sem igual…”
“Quem o conhecia sabe que ele era uma pessoa muito generosa e que gostava dos seus amigos. E nós éramos mais que amigos para ele. Éramos irmãos.”
“É nestes momentos de grande perda que nos apercebemos da insignificância de coisas que pensamos serem problemas… Cada vez mais temos que aproveitar bem cada dia que nos é concedido e deixar de perder tempo com coisas insignificantes e que só servem para nos reduzir a qualidade da vida que nos é permitida.”
estão a mijar para o oficial de dia, nas janelas da sala da 4ª, em vez de me rir alarvemente das tuas piadas, fico de nó na garganta à espera de que voltes e me digas onde estiveste.”
“Um por todos que nos uniu ainda mais, na amizade, no humor, na memória e na saudade”
“No dia da despedida à porta do Colégio, senti que estavas a gritar o Zacatraz connosco e que não era por ti, mas por nós. E vai ficar assim.”
ATÉ SEMPRE GORDINI Curso 1971-78Mail enviado ao curso no dia 14/6/2021, após dois meses e meios sem dar notícias.
Assunto: Cá estou eu de novo, a tentar manter-me novo.
Caros caríssimos, Espero que estejam todos bem.
Apesar de Pessoa referir que a infância é um passado irremediavelmente perdido, recorrerei, nesta e em outras circunstâncias futuras, ao "nosso passado", porque que nos une e nos faz bem.
“- Ó Miguel, eu apareço em quase todas as tuas estórias! - Gordini.
- Elas são fruto de uma investigação ao nosso passado, mas muitos dos artistas que nelas participaram estão armados em
“Resta-nos não deixarmos morrer com ele esta vontade de nos voltarmos a reunir”
“Grande Gordini, cavaste sem dizer nada e eu aqui escondido, olhando para os que
Bem, a razão da minha ausência de contacto convosco, não sendo vocês merecedores de tal desvelo, passei nestes últimos dois meses e meio por uma experiência de vida que me marcou profundamente e me fez refletir sobre a necessidade do "pragmatismo" ser a palavra de ordem sobre as opções que tomarei doravante, e deixar de lado o que não interessa merda nenhuma, isto é: ― andar a bater punhetas a grilos, não está a dar, mesmo!
Pois bem, levei com uma firmeza em cima quando me foi diagnosticado em abril um "linfoma" indolente, genuinamente alentejano, felizmente no estado inicial, por causa de uma febre e tosse grudada ao meu corpo. Esta porra não tem cura, mas trata-se. Como o seu estado é ainda inicial, não carece, para já, de tratamento (aquela cena da quimio), mas sim de vigilância. E a febre cá continuava, indiciando que mais alguma porra me havia de calhar em cima. Exames para cá, exames para lá e então levo com a segunda praxadela ― uma apresentação à alvorada pano-cotim-pano com um diagnóstico de uma doença rara, auto-imune, de seu nome "vasculite" (inflamação nos vasos sanguíneos), que também não tem cura ― sou mesmo um gajo especial, tipo Jorge Jesus ― mas, mais uma vez, tem tratamento com corticoides, podendo estar adormecido por vários anos. By the way, comecei hoje o tratamento. Não tratando, seria uma chatice com consequências que nem vos conto.
E agora, vem a fase da camarata após a firmeza, injuriando-nos com os fp dos graduados e recuperando forças para mais um dos dias à Colégio. É esta a fase em que me encontro. Sinto-me francamente melhor, sem febre e tosse, e com outros sintomas que entretanto "levei no lombo" e que também se estão a ir (vade retro, Satana). Mais um mês e espero estar em forma.
Pois é, mas aguardamos todos pela melhor fase, a dos cavanços, das batalhas espontâneas de almofadas nas camaratas, das corridas por cima das camas cujas molas é que sofriam, enfim do desafiar constante das regras colegiais, transpostas nas nossas almoçaradas/jantaradas e outras "adas" , coisas que nos divertem e nos fazem sentir que agora
é mesmo o tempo de nos aproximarmos. A vida felizmente não pára. Relembro mais uma vez que este ano, e o próximo, comemoramos 50 anos de entrada no tal sítio que a infância nos marcou, de forma particularmente indelével.
Felizmente que a task force está em working progress e brevemente terão notícias,não destas, mas das boas.
Desculpem-me esta seca, mas família é assim, não se esconde algo importante e para mim foi importante manter-vos ao par.
Força na verga e abraços a todos, Gordini (António 601)
A esposa e restante família querem agradecer:
Ao Diretor do Colégio Militar por esta sentida homenagem.
Ao Ginho, por todo o empenho e amizade, pela coordenação e pelas suas gentis palavras na homenagem do Colégio Militar, e a todos os colegas que colaboraram e estiveram presentes.
A todos os que o acompanharam a Ourém, à sua última morada.
A todos os que marcaram presença na missa do sétimo dia.
E a todos os outros colegas que nas várias fases da sua vida, e durante o período da sua doença, não pou -
param esforços para dar uma preciosa ajuda através da sua rede de contactos.
A todos o nosso muito obrigado! Bem hajam!
OAntigo Aluno Eduardo Augusto Soares e Silva Ramos com o número 235 entrou para o Colégio no ano de 1967. Foram tempos de aprendizagem, camaradagem, e acima de tudo de começar a esculpir a sua personalidade.
Foram também tempos difíceis devido ao afastamento da família que estava em Angola, cujo pai, piloto da Força Aérea, cumpria serviço em Luanda, na Base Aérea nº 9.
O gosto e até a relativa facilidade com que se aproximava dos aviões e os “sentia” certamente motivou-o a seguir a carreira do pai.
E assim o fez, ingressando no curso de navegação aérea.
Após o mesmo foi colocado na Base Aérea nº 6, no Montijo, onde cumpriu todo o tempo da sua carreira militar começando a voar nos famosos C-130 e terminando nos P3 ORION, aeronave de patrulha marítima e luta antisubmarina.
As suas capacidades de trabalho, empenho e profissionalismo devidamente reconhecidas pelos seus superiores levaram-no a ser integrado em missões da NATO sendo as de maior relevância as que cumpriu, na Sicília (Itália) , e finalmente na base aérea da NATO em Geilenkirchen (Alemanha) , que é a principal base operacional da Componente Sentinela, Controle e aviso prévio dos aviões E-3A AWACS, da NATO.
Regressando a Portugal terminou a sua carreira militar na sua base de origem no Montijo mas continuou sempre ligado à aviação tendo administrado cursos da sua especialidade a alunos na escola de pilotagem de Tires.
O Antigo Aluno 235, Tenente Coronel Eduardo Augusto Soares e Silva Ramos perdeu uma única batalha na sua vida, o que infelizmente promoveu a sua partida antecipada, deixando-nos a todos com as melhores recordações e saudades.
Aos familiares e amigos, bem como aos camaradas e irmãos do Colégio Militar, resta..