Revista ZacatraZ nº 218

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Editorial Revista “ZACATRAZ”

Editorial

Tempo de Balanço

O tempo passa célere. Na abertura solene do ano lectivo de 2011/2012, o Ministro da Defesa de então, deslocou-se ao Colégio Militar, onde anunciou que iria proceder a uma reforma dos Estabelecimentos Militares de Ensino. Este facto deixou bom número de Antigos Alunos optimistas, por admitirem que o Colégio necessitava de uma reforma, dado o número de Alunos estar há alguns anos a decrescer, tendo passado de 407, em 2007/2008, para 356, em 2011/2012. Esta tendência tinha de ser invertida.

No Verão de 2012, foram conhecidos os planos que o Ministro da Defesa tinha para os Estabelecimentos Militares de Ensino (Despacho nº 11.863/2012, de 29 de Agosto), o que deu lugar a uma decepção geral, daqueles que, há um ano atrás, tinham tido grandes esperanças. Previa-se, basicamente, a admissão de raparigas no Colégio Militar, concomitantemente com a extinção do Instituto de Odivelas. Na altura escrevemos, para quem nos deu a notícia, «O Colégio, tal como o conhecemos e vivemos, morreu. Vamos ver agora as cenas dos próximos capítulos».

O ano lectivo de 2012/2013, foi um ano em que a nossa Associação lutou, com todas as suas energias, contra os

desideratos do Ministro da Defesa e em que as Alunas e as Antigas Alunas de Odivelas pugnaram pela sobrevivência do seu Instituto. Foram duas lutas sem sucesso. Só encontraram teimosia e inflexibilidade por parte do Ministro, que entretanto mandou avançar o processo conducente à construção de um alojamento para Alunas no Colégio Militar.

O ano lectivo de 2013/2014 foi o primeiro ano em que o Colégio admitiu Alunas. Todas em regime de externato, dado não haver ainda instalações de internato para as mesmas. No início desse ano lectivo, a composição do Batalhão era a seguinte:

Alunos internos - 313 (86%) Alunos externos - 16 (4%) Alunas externas - 36 (10%)

Total 365

Neste ano lectivo, já não se deram admissões no 5º ano no Instituto de Odivelas.

O ano lectivo de 2014/2015 , foi o ano da migração maciça e obrigatória das Alunas do Instituto de Odivelas para o Colégio. Só lá ficaram a ter aulas as Alunas dos 9º e 12º anos (anos de exames nacionais). Devido ao facto de ainda não estar pronto o alojamento para Alunas no Colégio, as restantes

Alunas deslocavam-se todos os dias de autocarro de Odivelas para o Colégio, com todos os incómodos e inconvenientes inerentes. No início desse ano lectivo, a composição do Batalhão era a seguinte:

Alunos internos - 286 (58%)

Alunos Externos - 38 (8%)

Alunas externas - 170 (34%)

Total 494

As Alunas passaram a constituir, de imediato, cerca de 1/3 do Batalhão e o efectivo do Batalhão teve um acréscimo súbito de cerca de 130 elementos. O total de Alunos internos continuou o seu declínio, sendo este o último ano lectivo, em que no 5º ano houve mais Alunos internos do que externos.

O ano lectivo de 2015/2016, foi o primeiro ano em houve Alunas internas, bem como Alunas graduadas. As Alunas internas esgotaram de imediato a capacidade do alojamento para si construído. As Alunas graduadas foram em número de 6, todas elas graduadas com uma estrela. No início desse ano lectivo, a composição do Batalhão era a seguinte:

Alunos internos - 275 (50%)

Alunos externos - 63 (11,5%)

Alunas internas - 99 (18%)

Alunas externas - 112(20,5%)

Total 549

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No ano lectivo de 2016/2017, as novidades consistiram num acréscimo do efectivo total do Batalhão, que passou para 574, e na admissão no Batalhão dos primeiros elementos provenientes do 1º ciclo do Colégio (escola primária). Foram admitidos nestas condições 7 Alunos internos, 6 Alunos externos e 3 Alunas externas.

Nos dois anos lectivos seguintes 2017/2018 e 2018/2019, o efectivo total do Batalhão manteve-se em cerca de 525 elementos. No que concerne a Alunos, o número de internos continuou a diminuir e o de externos a aumentar. No que concerne a Alunas, houve um acréscimo de Alunas graduadas, chegando

uma delas a ser graduada em Adjunta do Comandante de Batalhão, sendo-lhe atribuído o galão de Comandante de Companhia.

No presente ano lectivo de 2019/2020, a composição do Batalhão é a que já foi indicada no número anterior da Zacatraz (nº 217) e que aqui de novo se reproduz, no quadro 1. Observa-se no quadro, no que concerne a Alunos, a continuação da diminuição dos Alunos Internos (191 apenas) e a continuação do aumento do número dos Alunos Externos (112).

No que concerne a Alunas, houve um súbito acréscimo de Alunas Internas (passaram a 151), devido ao aumento

de capacidade de alojamento para as mesmas, que cremos ter sido capaz de satisfazer toda a procura. As Alunas, no seu conjunto, constituem agora 43% do Batalhão. Digno ainda de registo, no que concerne a Alunas, é a sua rápida afirmação no que respeita às graduações. Há 4 Alunas graduadas com 3 estrelas, sendo uma delas a porta-estandarte nacional (só o 3 estrelas da 4ª Companhia é um Aluno). Há uma Aluna graduada em Cerra-Fila, na Escolta a Cavalo, e há uma Aluna graduada na 4ª Companhia. É obra.

Não tendo havido no início deste ano lectivo restrições à Admissão no internato, tanto de Alunas como de Alunos, consideramos ser chegado o tempo de se fazer

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Quadro 1 Composição do Batalhão no Ano Lectivo de 2019/2020 Ano 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º TOTAIS % 13 26 29 23 28 32 20 20 191 36,2 Al. Masculinos Al. Femininos TOTAIS Internos Externos Internos Externos 29 25 11 26 15 4 2 0 112 21,2 20 12 21 20 22 21 21 14 151 28,6 22 26 11 4 8 1 2 0 74 14 84 89 72 73 73 58 45 34 528Editorial

um balanço da situação e de se tirarem algumas ilações, tanto pela positiva como pela negativa.

Pela positiva, deve-se constatar e saudar a boa integração das Alunas no Batalhão. Desde o início da sua admissão no Colégio, elas mostraram claramente, que não queriam ficar em nada atrás dos rapazes. Procederam em conformidade. Os bons resultados estão à vista. É justo realçar, o importante papel desempenhado pelos Alunos seus graduados no sucesso dessa integração. Mais uma vez, ficou demons-

Pela negativa, deve-se constatar o facto de a percentagem total de Externos ser de 35%. Esta percentagem, tão elevada, configura uma situação muito preocupante. O Batalhão está quase que partido ao meio. Como já muitos Antigos Alunos afirmaram e escreveram, o internato é o cadinho onde se caldeia a camaradagem, cujos laços nos permitem confiar sem reticências uns nos outros e nos permitem, independentemente das idades, tratarmo-nos com toda a confiança por TU, como irmãos. A situação presente tem de ser corrigida, sem o que passaremos, muito em breve, a

da nossa comunidade e o grupo a quem a nossa comunidade nada lhe diz.

Já houve Antigos Alunos a sugerirem a limitação da existência de Alunos externos aos 5º e 6º anos, sendo os Pais informados sobre esta limitação logo na inscrição dos seus filhos. É uma questão a estudar, com a maior brevidade possível, antes que seja tarde de mais.

Consideramos que a nossa Associação tem de estar muito atenta a esta situação, dando todo o apoio possível ao Colégio no sentido da sua solução. Ninguém está in

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(326/1985)
©Foto Sérgio Garcia
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA Editorial Revista “ZACATRAZ”

Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2019-2021

ASSEMBLEIA GERAL

Presidente

Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)

Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)

1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)

2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)

DIRECÇÃO

Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)

Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)

Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)

Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)

1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)

2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)

3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)

4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)

5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)

1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)

2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)

3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)

CONSELHO FISCAL

Presidente António Santos Serra (95/1959)

1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)

2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)

1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)

2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)

Ficha Técnica

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

Fundada em 1965 Nº 218 Janeiro/Março - 2020

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

DIRECTOR Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt

CHEFE DE REDACÇÃO

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) luisfbarbosa@aaacm.pt

REDACÇÃO Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)

CAPA Professor Adriano Moreira Sócio Honorário da AAACM

ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO

Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307

TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94

DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA:

Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 021 info@smash.pt www.smash.pt

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM

Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho.

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

6 NA AAACM PODE ADQUIRIR 25€ 15€ 25€ 20€ 25€ -15€ -15€ -7,50€ 35€ 14,50€ 8€ 3€ 6€ 15€ 20€ 8€ 35€ 21€ 40€ 15€ 30€ NOVO
7 06 À Memória do meu Avô 19 Prémios Barretina 2019 24 Os Caçadores 33 Jantar de Natal 2019 - Delegação Norte 35 Divagação em torno do Conceito de Felicidade 37 Os “secos e molhados” do Lugenda 42 Foi Há 100 Anos. Sociedade das Nações 44 Foi Há 100 Anos. Promulgação da Lei Seca nos EUA 45 A Esgrima da AAACM 47 Remodelação da Sede da Associação 49 A “Moeda” como um símbolo Nacional 53 Allegro - A Volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina 62 Tertúlia Direito da AAACM 64 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras 73 Antigos Alunos em Destaque 77 Curso de 1981/1989 Romagem dos 30 Anos de Saída 78 Os que nos deixaram Sumário 70 Estágio de Alunos do Colégio Militar em Empresas lideradas por Antigos Alunos 11 Jantar Anual da AAACM 67 1º Torneio TagRugby Compromisso de Honra 2019

À memória do meu Avô

Rui Figueiredo de Barros (62/1936)

Caros Camaradas,

Sou o António Maria Figueiredo de Barros Corrêa Nunes (440/1989), para quase todos Vós um desconhecido. Mas tenho a Honra de ser neto, pelo lado materno, de Rui Figueiredo de Barros (62/1936), para quase todos Vós um ilustre Conhecido e que dedicou uma Vida ao Colégio Militar (CM) e à sua Associação dos Antigos Alunos (AAACM). Foi o Antigo Aluno com mais anos de dedicação ao Colégio, entre Aluno, Director da Revista, Presidente da AAACM e membro do seu Conselho Supremo. Escreveu, em co-autoria com seu filho e meu Tio (Gonçalo Figueiredo de Barros – 440 de 1967), o livro “Para Além do Colégio Militar – Uma Associação Centenária” e, aos 93 anos, o livro memorialista com o título “Encontro com a Minha Memória”. Foi um dos grandes responsáveis pela cedência à AAACM do “Quartel da Formação”, onde se encontra a sua sede.

Não é minha intenção fazer-lhe uma nota biográfica e histórica, já muito bem-feita

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440/1989
António Maria Figueiredo de Barros Corrêa Nunes
À Memória do meu Avô
Dia de entrada no Colégio do “rata” 440/1989, à sombra protetora de seu avô, Rui Figueiredo de Barros (62/1936).

À Memória do meu Avô

pelo meu Tio Gonçalo e por outros ilustres Antigos Alunos. A razão do meu artigo é de homenageá-lo “à minha maneira”.

Lembro-me que já em miúdo em casa dos meus Avós me deliciava a ouvir as histórias do Colégio, de Antigos Alunos ilustres e dos Valores que o CM e os seus Alunos e Aantigos Alunos defendiam. Lembro-me de “um por todos e todos por um”. Lembro-me de estar a ver televisão ou ir na rua e ouvir o meu Avô a dizer “este senhor também é Antigo Aluno”. Evidentemente que tudo isto me enchia de orgulho e vontade de ir para o Colégio. Em casa dos meus Avós via com entusiasmo as fotografias do meu Tio Gonçalo quando Aluno e o conjunto de recordações que guardavam com carinho do percurso da minha Família relacionado com a Instituição.

A par desta relação com o Colégio transmitida pelo meu Avô, também a minha Avó me incutia um respeito e admiração pela Instituição, sendo ela Professora do Instituto de Odivelas.

Do lado da minha mãe há uma relação histórica e de muitas gerações com o Colégio.Do lado do meu Pai apenas um tio-avô. Desta forma teve o meu Avô Rui a difícil tarefa de convencer o meu Pai, que não era Antigo Aluno, a deixar-me fazer as provas de admissão.

Foi o meu Avô que me levou nos dias das “provas de entrada” e foi o meu Avô que me acompanhou, com os meus Pais e Avó, ao meu “primeiro dia” no CM. Já mais tarde, e curiosamente, coincidiu como Presidente da AAACM durante a última fase do meu percurso colegial. Tive também o privilégio de as minhas “graduações” terem sido colocadas nos meus ombros por Ele nos claustros.

Lembro-me do meu Avô ir buscar-me frequentemente ao Colégio e a forma de como ele era recebido e respeitado por todos. Mesmos os Oficiais e Professores mais difíceis no meu dia-a-dia tinham uma referência para com ele, pelo seu carisma, simpatia, dedicação, bondade, educação e acima de tudo Amor ao Colégio. Lembro-me de ver a “revista da

AAACM” sempre em casa dos meus Avós assim como dos “escritos” e “notas” dispersas em cima da mesa da sala de jantar sobre uns artigos que já estava a escrever para o “próximo número”

Se somos o que somos devemo-lo fundamentalmente à Família, aos Professores, aos Amigos e às Referências que a nossa Vida nos faz encontrar. E sem dúvida que o Exemplo que me transmitiu, os seus Valores e o seu espírito de Missão são um reflexo do que pretendo incutir no meu dia-a-dia e transmitir aos meus filhos. Ficam para sempre as memórias e a muita saudade.

Agradeço à AAACM e em especial a Luís Barbosa, Presidente do Conselho Supremo, e a Filipe Soares Franco, Presidente da Direcção, a simpática homenagem que lhe proporcionaram no Jantar da AAACM e que certamente Ele muito gostou.

Tive já a oportunidade de sugerir à Direcção que a partir de 2020 introduzam no jantar anual um prémio a Titulo Póstumo para homenagear Antigos Alunos que tenham contribuído duma forma relevante no espirito da Associação. Estes exemplos devem ser valorizados para que nos sirvam de referência e para que deem cada vez mais força à nossa Associação e à sua perpetuação.

Esta é a forma que tenho, no ano em que pereceu, de homenageá-lo num contexto de Antigo Aluno. E a melhor forma de o perpetuar é tornar-me também sócio da AAACM.

Um abraço com amizade

NOTA DA REDAÇÃO

Obrigado António Maria, por mais uma vez nos recordares a figura do grande Senhor que foi teu avô, Rui Figueiredo de Barros (62/1936).

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Rui Figueiredo de Barros (62/1936) impondo a graduação ao seu neto António Maria (440/1989).

Compromisso de Honra 2019

A cerimónia do Compromisso de Honra dos novos Alunos teve, este ano lectivo, lugar no dia 30 de Novembro de 2019, um sábado, na parte da manhã. O tempo não estava de feição para uma cerimónia militar, o céu apresentava-se carregado de nuvens, ameaçando chuva a qualquer momento. E a chuva chegou, como sempre na pior altura, neste caso com o Batalhão formado nos Claustros, aguardando a entrada nos mesmos dos novos Alunos. Foram caindo sucessivos aguaceiros, que deram para deixar os Alunos encharcados. Foi como que um baptismo para os «ratas», pois os mais velhos já teriam nos seus currículos outras cerimónias das quais terão saído bastante «húmidos». Como sempre, não se tratou de «chuva para militar», pelo que foi como se a mesma não tivesse existido, decorrendo tudo de acordo com o programado, pois como se dizia noutros tempos «El-Rei manda marchar, não manda chover».

A cerimónia iniciou-se com a entrada das Companhias e da Escolta apeada nos Claustros, indo ocupar as suas posições habituais nestas ocasiões. Seguiu-se a entrada do Comandante de Batalhão, É assim

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que se aprende. Desde os bancos da “Primária”.
Compromisso de Honra 2019
Na Parada Marechal Teixeira Rebelo, em continência ao Coronel Diretor do Colégio. © Fotografias de Leonel Tomaz

Compromisso de Honra 2019

que foi tomar a sua posição perante a formatura. Verificámos que este ano não existe um graduado Ajudante do Comandante de Batalhão, facto que lamenta-

mos. Durante anos, pugnámos pelo reatamento da existência de um Ajudante de Comandante de Batalhão, acabando esta «cruzada» por ter êxito. No ano

lectivo passado, chegou a haver um Adjunto e um Ajudante do Comandante de Batalhão. Este ano, por motivo que desconhecemos, voltamos a ter um Comandante de Batalhão «isolado», o que nos leva a retomar a nossa luta.

Com o Comandante de Batalhão no seu posto, os Comandantes de Companhia e da Escolta procederam à apresentação das mesmas ao Comandante de Batalhão, anunciando-lhe estarem as mesmas prontas.

Seguiu-se a entrada do Coronel Director do Colégio nos Claustros, postando-se sobre a passadeira vermelha das grandes ocasiões, em frente à formatura do Batalhão, que lhe prestou continência.

Após a continência ao Director, deu entrada nos Claustros a formatura dos «ratas», pela primeira vez em grande uniforme e armados. Esta formatura era comandada pela Aluna «três estrelas» da 1ª Companhia, que em voz forte marcava a cadência da marcha.

Com a formatura dos «ratas» em primeiro plano, o Comandante de Batalhão ordenou a chegada à frente do Guião Colegial. Com o Guião diante de toda a formatura, foi a vez de o Aluno nº 200, Comandante da 1ª Companhia, Diogo Valdrez, apresentar o Guião aos «ratas», procedendo à sua descrição heráldica, explicando-lhes o significado dos símbolos inscritos no Guião.

Após a respectiva apresentação, o Guião retomou o seu lugar na formatura, seguindo-se a celebração do Compromisso de Honra dos «ratas». Para tal, foi lido, pausadamente, para que todos tomassem consciência da transcendência do acto, o Código de Honra dos Alunos do Colégio Militar. Terminada a leitura, foi perguntado ao conjunto dos «ratas» se assumiam o compromisso de cumprir o

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Apresentação do Guião aos novos Alunos. O nosso Guião. O Coronel Diretor do Colégio em continência.

Compromisso de Honra 2019

Código de Honra acabado de enunciar. Os «ratas», em uníssono, responderam com um vigoroso SIM, ingressando assim, de pleno direito, no Batalhão Colegial.

Terminada a celebração do Compromisso de Honra, todos os assistentes foram convidados a deslocar-se para a Parada Teixeira Rebelo, onde o Batalhão iria de seguida desfilar.

A terminar as cerimónias, deu-se o desfile do Batalhão na referida Parada Teixeira Rebelo, prestando a devida continência ao Coronel Director do Colégio. O desfile decorreu à chuva, para assim se completar o «baptismo» dos novos Alunos, sendo os Alunos incitados na sua marcha com os vigorosos gritos de Zacatraz dos Antigos Alunos presentes nas cerimónias. Como notas finais de reportagem, refere-se que não havia um simples conjunto de tambores a marcar a cadência da marcha e a «alegrar» assim a festa, e que se antevê muito trabalho, para pôr os «ratas» prontos a enfrentar o desafio que os aguarda no próximo 3 de Março. Dado a maioria dos «ratas» serem externos, não sendo possível o seu treino na companhia, o trabalho não se afigura nada fácil, mas terá de ser feito, em defesa dos «pergaminhos» do Colégio.

Tanto quanto julgamos saber, foi no princípio da década de 50 do século passado, que foi introduzida no Colégio a celebração anual da cerimónia comemorativa da Restauração da Independência de Portugal, em 1 de Dezembro de 1640. Essa celebração tinha sempre lugar a 30 de Novembro, antecedendo o feriado do 1º de Dezembro. Por razões que desconhecemos e em data que igualmente desconhecemos, foi essa celebração abandonada, facto que muito lamentamos, pois o 1º de Dezembro de 1640 constitui uma das datas mais importantes da História de Portugal, que deve ser gravada nas mentes da nossa juventude. Quem

desconhece a história do seu Povo, desconhece as suas raízes, não sabe donde vem, não percebe para onde deve ir.

Tomamos a liberdade de propor que seja retomada a celebração do dia da Restauração, para que os Alunos do Colégio Militar tenham consciência da importância capital dessa data para a nossa Pátria. Só assim poderemos honrar, não só os conjurados do 1º de Dezembro, que tudo arriscaram para restituir a liberdade a Portugal, mas também todos aqueles que tombaram

na guerra de 28 anos que se lhe seguiu, até ser feita a paz e Espanha ter reconhecido a independência de Portugal.

A celebração do 1º de Dezembro pode-se com facilidade retomar, não excluindo, mas sim complementando, a celebração do Compromisso de Honra.

Ao celebrarmos o 1º de Dezembro estamos a sublinhar o carácter único do Projecto Educativo do Colégio Militar, que deve continuar a ir muito para além dos programas de ensino adoptados a nível nacional.

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A Escolta nos Claustros, ciente da sua responsabilidade.

Jantar Anual da Associação Novos Antigos Alunos - Prémios Barretina 2019

Jantar Anual da Associação

Novos Antigos Alunos Prémios Barretina 2019

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Foi no passado dia 22 de Novembro de 2019, que se realizou o jantar anual da nossa Associação. Do antecedente, o jantar realizava-se em Lisboa, nas magníficas instalações do Hotel Pestana Palace, na parte alta de Alcântara. No ano passado, deu-se uma mudança e o jantar teve lugar no Hotel Pestana de Cascais. Este ano, com nova Direcção da Associação, foi decidida nova mudança e o jantar realizou-se na Quinta dos Gafanhotos, em S. Domin -

gos de Rana, perto de Carcavelos, com fácil acesso através da auto-estrada A5 (Lisboa-Cascais).

A Quinta dos Gafanhotos tem umas excelentes instalações, tendo porém uma sala de jantar com uma capacidade de cerca de 250 pessoas, inferior à da sala de jantar do Hotel Pestana Palace, que comporta cerca de 400 pessoas. Apesar desta limitação, deu para cumprir cabalmente a função.

À chegada à quinta, os comensais foram recebidos com umas bebidas e uns aperitivos, enquanto aguardavam pela hora do jantar e pela abertura da sala. Foi o tempo reservado aos reencontros com aqueles com quem só nos cruzamos uma vez por ano e para a troca de novidades relativas à vida de cada um. Como se costuma dizer, foi o tempo de se porem as conversas em dia.

Antes de se iniciar o jantar, houve uma recepção informal aos novos Antigos Alunos, numa sala da quinta, que se reservou para tal efeito. Nessa sala, os Presidentes dos diversos Órgãos e Conselhos da Associação receberam os finalistas do ano lectivo transacto do Colégio, deram-lhe as boas vindas e explicaram-lhes, de forma sucinta, o privilégio que representa a admissão na comunidade dos Antigos Alunos do Colégio e a enorme responsabilidade que tal condição implica, para o resto das suas vidas. Esta sessão iniciática, que tem tido lugar fora das vistas dos Antigos Alunos que se reúnem para o jantar anual da Associação, é possível que venha a ser alterada e que passe a

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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957 Grupo de novos Antigos Alunos.

Jantar Anual da Associação Novos Antigos Alunos - Prémios Barretina 2019

ser feita diante de todos os presentes. Não tem nada de sigiloso, nem que tenha de se manter reservado, pelo que, ao tornar-se pública, terá um significado acrescido para os novos Antigos Alunos e será um primeiro momento de comunhão entre eles e a comunidade que ali os acolhe. Veremos se esta ideia vinga.

Reunidos todos os presentes na sala de jantar, iniciaram-se as cerimónias, sob a orientação de João Pedro Mendes Carneiro Gomes (390/1983), tendo sido chamados ao palco os novos Antigos Alunos, a quem foram impostos, nas lapelas dos casacos e nos vestidos, as barretinas distintivas dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Esta pequena cerimónia correu de forma bem organizada, sem quaisquer perturbações. Pena foi, que nem todos os novos Antigos Alunos estivessem presentes, pois houve alguns que foram obrigados a faltar por impedimentos de ordem vária.

Seguiu-se o tradicional discurso do Presidente da Direcção da Associação.

Foi nesta condição que Filipe Soares Franco (62/1963), novo Presidente em exercício, se dirigiu à numerosa assistência, que praticamente esgotava a capacidade da sala. Começou por dar as boas vindas a todos, frisando logo uma das linhas mestras do seu programa de acção, que consiste em tornar a nossa Associação o mais forte possível, para que a mesma seja considerada uma entidade importante e credível, em todas as questões em que se tenha de envolver como parte interessada. Só assim podemos defender eficazmente os nossos próprios interesses e apoiar o Colégio com eficácia. Referiu seguidamente o nosso Presidente, os melhoramentos que já foram introduzidos no Quartel da Formação, na sede da nossa Associação e no restaurante Jardim da Luz. No Quartel da Formação, procedeu-se ao restauro das fachadas dos edifícios que confinam com o seu grande pátio interior. Na sede da Associação, criou-se uma sala de estar e de convívio, de que os sócios podem usufruir, de acordo com regras entretanto estabelecidas. No restaurante Jardim da Luz, a sala do Bar foi mobilada e decorada, por forma a proporcionar condições particularmente acolhedoras para almoços ou jantares organizados pela Associação, ou por grupos de Antigos Alunos. Terminou o Presidente da Direcção a sua alocução, pedindo a todos os presentes para «viverem» a sua Associação, tomando parte nos eventos de diversa índole que vão ocorrendo ao longo do ano.

Concluída a intervenção do Presidente da Direcção, seguiu-se um dos pontos altos da noite, que foi a admissão do Professor Doutor Adriano Moreira como membro da nossa Associação, na categoria de Sócio Honorário. O Professor Doutor Adriano Moreira, figura que dispensa qualquer apresentação, já ti-

nha sido distinguido em 2013 com um Prémio Barretina «Amigos do Colégio Militar». Foi agora a vez de lhe atribuir a nossa máxima distinção. O Presidente da Direcção pediu ao Professor Adriano Moreira para o acompanhar até ao palco, onde o signatário, na sua condição de Presidente do Conselho Supremo, procedeu à imposição, na lapela do casaco do homenageado, da nossa pequena barretina, «brasão de armas» da comunidade dos Antigos Alunos. Este acto, bem singelo, foi acompanhado de uma enorme ovação da assistência, que assim quis testemunhar a sua gratidão ao homenageado, pela aceitação da nossa distinção. Quando pensávamos que o acto estava concluído, o Professor Adriano Moreira disse, com toda a simplicidade, que queria falar, desejo a que demos satisfação imediata.

O Professor Adriano Moreira começou por agradecer a distinção recebida, tendo apresentado de seguida algumas

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Grupo de novos Antigos Alunos. Grupo de novos Antigos Alunos. O Presidente da Direcção no uso da palavra.

reflexões acerca das Instituições e da sua utilidade. Começou por lembrar a sua aldeia e aquilo que designou por «Espirito Santo da Aldeia» , que é o sentimento de pertença à aldeia, que partilham e que une todos os naturais da aldeia, quer continuem a viver na mesma, quer se encontrem espalhados por diferentes locais, para onde a vida os levou. Referiu que, no seu último dia de anos, a sua aldeia se reuniu em peso, para lhe desejar, via «skipe» , um feliz aniversário. A aldeia não o esquece e ele não esquece a sua aldeia. Foi esta uma maneira de lembrar o que há de bom no espirito de pertença a uma instituição, como nós temos em relação à nossa Associação. Falou de seguida da Instituição Militar e do seu transcendente significado, lembrando que os contingentes de militares portugueses que são enviados para várias partes do globo, em missões de vários tipos, continuam a granjear o respeito e a gratidão das autoridades dos vários países e das populações que apoiam e protegem. Tudo isto, em suma, para enaltecer

Jantar Anual da Associação Novos Antigos Alunos - Prémios Barretina 2019

a importância da Instituição Colégio Militar, e da sua preservação no futuro. Como não podia deixar de ser, foi muito aplaudido, constituindo a sua intervenção um encorajamento para todos nós. Não estamos errados em apoiar o nosso Colégio, de todas as formas que nos são possíveis. Não estamos errados em mantermos a nossa Associação, cultivando o «Espirito do Colégio», que é o nosso «Espirito Santo da Aldeia».

Seguiu-se o repasto, que decorreu com grande animação. À semelhança dos anos anteriores, o serviço era do tipo «buffet» , podendo cada um comer de acordo com as suas preferências gastronómicas e de acordo com o seu apetite. O jantar estava bem servido, pelo que pensamos que não terá havido ninguém a ficar com razões de queixa.

Concluído o repasto, o Professor Adriano Moreira retirou-se, seguindo-se outro ponto alto da noite, a habitual Atribuição dos Prémios Barretina . Este ano houve seis ga -

lardoados com os Prémios Barretina, sendo três correspondentes à categoria «Colégio Militar no Mundo» e três correspondentes à categoria «Associação» . Os prémios da primeira categoria distinguem Antigos Alunos cuja acção na sociedade, portuguesa ou mundial, seja uma expressão de excelência e cuja conduta se paute pelos valores do Código de Honra dos Alunos do Colégio Militar.

O primeiro galardoado da noite foi, Eduardo Manuel Palma e Santos Alves Carpinteiro (658/1974), que recebeu um Prémio Barretina «Colégio Militar no Mundo». É cirurgião Ortopedista, com reconhecimento na comunidade científica internacional, especializado em cirurgia artroscópica do ombro, em que é uma referência a nível mundial. Ao longo dos anos tem dado apoio incansável e generoso,

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O nosso “decano”, D. Agostinho de Sousa Coutinho (15/1934), em conversa com o Professor Adriano Moreira. O Professor Adriano Moreira no uso da palavra.

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a numerosos camaradas colegiais, sendo uma referência no campo da Solidariedade praticada na nossa comunidade. Alia à sua actividade profissional, uma notável actividade desportiva nos domínios do ciclismo, da natação em águas abertas e de triatlo de longas distâncias

(Ironman).

O Eduardo Carpinteiro agradeceu à Associação e ao Colégio a distinção que lhe foi atribuída, considerando ser a mesma um prémio familiar, dado o apoio recebido da sua família. Referiu que sempre considerou o Colégio como um repositório

de grandes valores, passando de seguida a agradecer àqueles que o propuseram para este prémio e a Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958). Terminou, dizendo que esperava continuar a ser merecedor deste prémio para o resto da sua vida.

O segundo galardoado da noite foi, Nelson Nuno Pita de Olim (311/1981), que recebeu igualmente um Prémio Barretina «Colégio Militar no Mundo». É médico - cirurgião geral, sendo um cirurgião de guerra com créditos firmados em teatros de operações de África, do Médio Oriente e da Ásia. Com um desempenho de excelência em contextos de alto risco pessoal, em cenários de grande tensão e perigosidade, constitui um exemplo raro que merece destaque e que muito orgulha a nossa comunidade de Meninos da Luz.

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Aspecto geral da sala, pronta para o início da atribuição dos Prémios Barretina. Alves Carpinteiro (658/1974), agradecendo o prémio recebido. Pita de Olim (311/1981), agradecendo o prémio recebido. Mello e Castro (50/1963), agradecendo o prémio recebido.

Ao usar da palavra, Nelson Olim começou por gracejar, admitindo que a atribuição deste prémio poderia ser uma praxe colegial. Referiu de seguida que Portugal foi para ele um cais de embarque, de onde se lançou para o mundo, tendo reforçado nas suas deambulações o seu orgulho de ser português, ao encontrar por todo o lado vestígios deixados pelos portugueses, fortalezas construídas pelos portugueses e inclusive palavras portuguesas. Disse-nos que a sua vida profissional tem dado cumprimento ao lema SERVIR, inscrito no nosso antigo guião, e que nessa vida dura foi muito importante a resiliência adquirida de várias formas no Colégio, inclusive nas «firmezas». Terminou dizendo, que o que tem feito é o seu «Um por todos», que o prémio que agora recebia valia mais do que qualquer outro e que era para si o «Todos por um».

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O terceiro galardoado da noite foi, António Maria de Lencastre de Mello e Castro (50/1963), que recebeu ainda um Prémio Barretina «Colégio Militar no Mundo» . É arquitecto naval, formado no Reino Unido, onde vive e trabalha. É um dos maiores arquitectos navais contemporâneos, em particular na navegação de recreio, onde a concorrência mundial ao nível do «design» é intensa. Foi projectista de inúmeros iates de corrida, sendo que cinco deles se sagraram campeões mundiais. É membro de diversos comités técnicos e associações portuguesas, inglesas e americanas ligadas ao mar. Apoia várias instituições de caridade no Reino Unido.

No seu agradecimento, António Mello e Castro começou com um gesto de grande humildade e nobreza, dizendo que importantes

tinham sido os dois prémios anteriormente atribuídos e não aquele que agora lhe era entregue. Lembrou de seguida os seus tempos no Colégio que, segundo ele, lhe transmitiu duas características de valor inestimável, Determinação e Disciplina, e lembrou de seguida o que foi sair do Colégio com 17 anos e rumar à Escócia para aí tirar o curso de Arquitectura Naval. Disse, de seguida, que pretende agora começar a vir mais a Portugal, a viver mais em Portugal e recuperar muitos amigos, com quem entretanto perdeu o contacto. Terminou manifestando a sua gratidão pelo prémio recebido e confessando que nunca lhe tinha passado pela cabeça receber tal prémio.

Concluída a atribuição dos Prémios Barretina «Colégio Militar no Mundo» , passou-se à atribuição dos Prémios Barretina «Associação» . Estes

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Novais Gonçalves (666/ 1971), agradecendo o prémio recebido. Fonseca e Silva (440/ 1960), agradecendo o prémio recebido. Silva Coutinho (249/1980), agradecendo o prémio recebido.

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prémios destinam-se a distinguir Antigos Alunos, ou Delegações da nossa Associação, cuja acção tenha contribuído de forma notável para a concretização da missão da mesma. O primeiro agraciado com um prémio desta categoria, foi Vitor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves (666/1971), que recebeu o Prémio «Associação – Amor ao Colégio Militar». É um administrador de sucesso, com créditos firmados em diversas empresas, tanto aquelas por onde passou, como aquelas onde actualmente exerce a sua actividade. É praticante desportivo, tendo participado em mais de dez maratonas e em múltiplos campeonatos nacionais e internacionais de vela, e distingue-se ainda por uma enorme dedicação ao Colégio, tendo sido membro da Direcção da nossa Associação durante cinco anos e sendo actualmente membro do seu Conselho Supremo.

Ao usar da palavra Vitor Novais Gonçalves começou por afirmar que o prémio de «Amor ao Colégio» , acabado de receber, lhe dava comoção e emoção e que queria exprimir os seus sentimentos de agradecimento e partilha. Agradecimento à Associação por este jantar de homenagem a nós próprios e partilha com aqueles que iria de seguida citar. Começou citando Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho (307/1971), que foi quem o chamou, há largos anos, para colaborar com a Associação e a quem interpelou directamente, dizendo «Carlos, o Colégio Militar precisa de ti» . De seguida, citou Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958) e António José de Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963), que considerou terem sido grandes líderes da nossa Associação, querendo incluir nesta citação aqueles que os acompanharam nas suas Direcções.

Finalmente, citou a malta do seu curso, lembrando que era um curso notável, pois ele era agora o sétimo elemento do mesmo a ser agraciado com um Prémio Barretina. Foi o curso que entrou em 1971, ainda durante a longa guerra do Ultramar, que se estendeu por 13 anos, sendo muitos dos seus membros filhos e netos ou de «fascistas» ou de «heróis» , estando assim tudo reunido para o desastre, mas esse desastre não se deu, pois a tudo se sobrepôs a união entre todos e o respeito mútuo.

O segundo agraciado com um prémio «Associação» foi, António José Mourão da Fonseca e Silva (440/1960), que recebeu um Prémio «Associação-Desporto» . É licenciado em Educação Física, pelo Instituto Superior de Educação Física (actual Faculdade de Motricidade Humana), Professor de Edu -

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Os seis agraciados com os “Prémios Barretina” e o Presidente da Direcção.

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Novos Antigos Alunos - Prémios Barretina 2019

cação Física e Gestor Desportivo e foi um atleta extraordinário, no domínio das corridas de velocidade pura. Ainda Aluno no Colégio Militar, foi convocado para a selecção nacional de atletismo. Teve uma curta carreira como atleta federado, de apenas 6 anos, dado ter ido residir para a Bélgica, após a prestação do serviço militar. Estabeleceu numerosos recordes nacionais: 2 na categoria de juvenis, 3 na categoria de juniores e 9 como sénior. Em 1971, fixou o recorde nacional dos 100 metros em 10,4 segundos, recorde este que perdurou durante 12 anos. É um dos mais altos expoentes do nosso atletismo e um dos testemunhos mais evidentes da excelente preparação física de base ministrada no Colégio Militar.

Ao usar da palavra, António Fonseca e Silva, um homem de uma simplicidade cativante, começou por dizer que a sua primeira palavra era para o seu irmão Luis, mais velho do que ele 6 anos, também ele velocista internacional, que foi o seu primeiro treinador (lembramo-nos de os ver juntos a representar o nosso País num «meeting» Portugal-Espanha, realizado no antigo Estádio Alvalade). De seguida, «justificou-se», dizendo que o que tinha feito era uma coisa natural, era uma questão de genes, pelo que não se sentia por isso superior aos seus camaradas. Agradeceu depois aos cursos do seu tempo e acabou quase que a pedir desculpa por estar a tomar o nosso tempo, dizendo que já estava a demorar demasiado, pois os 100 metros levam apenas 10 segundos a serem percorridos.

O terceiro e último agraciado com um prémio «Associação» foi, António

José da Silva Coutinho (249/1980), que recebeu um prémio «Associação-Espirito do Colégio Militar». É engenheiro civil, Master of Science em investigação operacional. Administrador de sucesso em várias empresas, quer a nível nacional como internacional. Teve uma participação empenhada em diversas acções

da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, no período conturbado de reforma que se atravessou, sendo autor de inúmeras análises e propostas referentes ao aproveitamento escolar dos Alunos, que sempre disponibilizou às instâncias tutelares do Colégio. É membro do

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Martim Cunha (371/2012) 3º Classificado nas Olímpiadas Ibero-Americanas de Biologia e o Presidente da Direcção.

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da Associação

Novos Antigos Alunos - Prémios Barretina 2019

Conselho Supremo da nossa Associação, onde continua a dar um contributo de relevo, no que concerne aos resultados do ensino no Colégio.

Ao usar da palavra para agradecer o prémio atribuído, António Coutinho começou por lembrar a sua dificuldade em entrar para o Colégio, que naquele tempo tinha uma elevada exigência na admissão dos Alunos. Referiu de seguida, que considerava, que na génese do seu sucesso pessoal, familiar e profissional, estavam o Colégio, os seus colegas de curso, os seus graduados e os professores e oficiais do seu tempo. A todos manifestou a sua gratidão, para depois afirmar, que foi essa gratidão que o levou a matricular os seus filhos no Colégio. Referiu de seguida, que foi o facto de ter constatado, que o Colé -

gio não estava a conseguir cumprir a sua missão, de levar os Alunos a desenvolverem todo o seu potencial, que o levou a envolver-se no trabalho da Associação de Pais e Encarregados de Educação e posteriormente no da Associação dos Antigos Alunos. Reconheceu que conseguiu sensibilizar as pessoas para o problema existente, não estando o mesmo porém resolvido, pelo que desejou maior sucesso àqueles que hoje continuam o trabalho a que se dedicou. Terminou, desejando que se consiga trazer de novo o Colégio para um nível de excelência, de modo a que que cada um dos seus Alunos consiga desenvolver todo o seu potencial.

Terminada a distribuição dos prémios Barretina, o Presidente da Direcção pediu aos seis agraciados que subissem de novo ao palco,

onde foram objecto de uma grande ovação por parte da assistência. O Presidente da Direcção usou então de novo da palavra, para algumas lembranças e agradecimentos finais. Referiu que este ano transacto tinha sido também um ano notável para o Colégio, realçando a conquista de um terceiro lugar nas Olímpiadas Ibero-Americanas de Biologia, pelo anterior Comandante de Batalhão, Martim Leote Cravo e Cunha (371/2012) e a conquista de um 3º lugar no Circuito Europeu de Cadetes, em esgrima, pelo Aluno, Diogo Vasconcelos Gonçalves Onofre (461/2014). Convidou o Martim Cunha a subir ao palco, onde foi objecto de uma grande ovação. Agradeceu a Alina Nogueira , a Sofia Feijão , a João Pedro Gomes (390/1983) e a Leonel Tomaz, todo o seu trabalho de preparação deste grandioso evento da nossa Associação e acabou recordando a figura de um Antigo Aluno de dedicação excepcional à nossa Associação, falecido este ano, que foi Rui Figueiredo de Barros (62/1936), bem como todos aqueles que desde a sua fundação serviram a nossa Associação.

A concluir a sessão e como é de regra, demos em uníssono um vibrante Zacatraz pelo Colégio e cantámos o Hino Nacional

Foi uma bela jornada de confraternização colegial, em que mais uma vez distinguimos um conjunto de Antigos Alunos de grande valor e em que tivemos o prazer e a honra, de admitir como Sócio Honorário da nossa Associação um Homem de excepcional craveira intelectual e moral. Foi uma jornada para recordar no futuro, com saudade.

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Cantando o Hino Nacional no final da sessão.

Prémios Barretina 2019

Fundamentos da atribuição dos Prémios e apresentação dos Agraciados

A apresentação dos Agraciados e a leitura dos fundamentos da atribuição dos Prémios Barretina esteve a cargo de João Pedro Mendes Carreiro Gomes (390/1983).

O658 de 74 é pai de dois filhos, Cirurgião Ortopedista licenciado pela Universidade Nova de Lisboa, Especialista do Grupo Luz Saúde e Coordenador de Ortopedia do Hospital da Luz Oeiras e Hospital da Luz Amadora e do Grupo de Cirurgia do Ombro e Cotovelo

do Hospital da Luz desde 2009, com vasta prática clínica e actividade científica, autor principal de 77 comunicações em congressos e reuniões cientificas internacionais, conta ainda igualmente numerosas publicações da sua especialidade, e Prémios em Portugal e no estrangeiro, formador e membro de diversas sociedades científicas internacionais.

A par com a sua atividade profissional e científica mantem uma ligação muito activa com o Desporto.

Como médico colaborou com a Sociedade Hípica Portuguesa em Concursos de Saltos Internacionais Oficiais, com a Federação Portuguesa de Atletismo nos Jogos Ibero-Americanos de 1992 e durante cerca de 8 anos em diversos clubes de futebol do Campeonato de Portugal.

Em desporto amador é praticante de Natação em águas abertas, Ciclismo de estrada, Corrida e triatlo de longa distância. O Eduardo é discreto e simultaneamente reconhecido pelos seus pares, assumiu, no plano internacional, destaque na comunidade científica em particular na cirurgia artroscópica do ombro, sendo hoje uma referência em todo o Mundo.

Acresce, numa dimensão diferente, mas complementar da sua personalidade, o apoio incansável e generoso que ao longo dos anos tem vindo a dar a dezenas e dezenas de camaradas Antigos Alunos que informalmente o solicitam sendo uma referência da solidariedade praticada na nossa comunidade de Meninos da Luz.

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Eduardo Manuel Palma e Santos Alves Carpinteiro
(658/74) "PRÉMIO BARRETINA - COLÉGIO MILITAR NO MUNDO " Prémios Barretina 2019

Prémios Barretina 2019

Nelson Nuno Pita de Olin (311/81)

Jerusalém e Gaza como “coordenador de trauma” para Gaza.

Conta ainda a participação em missões humanitárias na Indonésia, Timor Leste, Sudão do Sul e Yémen.

António de Lencastre Mello e

Castro (50/63)

OOlin, o nosso 311 de 81 com os seus 48 anos é pai de 2 filhas.

como Médico Cirurgião Geral, fez a especialidade no Hospital de Santa Cruz em Lisboa onde foi inspirado para a verdadeira “cirurgia geral” por cirurgiões que tinham feito a guerra colonial, seguindo-se uma especialização em “cirurgia de trauma” no norte de Israel na altura da 2ª intifada (2002), posto o que voltou a Portugal e fez concurso para especialista na Marinha onde passou cerca de 6 anos.

Seguiram-se missões no Comité Internacional da Cruz Vermelha (Iémen, Sudão do Sul, Paquistão, ...) e um contrato como Cirurgião Adjunto do Cirurgião Chefe do Comité durante 3 anos, com base em Genève e cerca de metade do tempo em cirurgias em zonas de conflito armado (Sudão, Nigéria, Congo, Somália, Iémen, Irão, Iraque, Afeganistão, Líbano, Gaza, Arménia, Azerbeijão, Ucrânia).

Em 2017 é contratado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com a missão de standardizar as acções de “EquipasMédicas de Emergência” cobrindo quase todos os países do Médio Oriente.

Em 2018 com o início dos protestos em Gaza, muda-se a convite da OMS para

Em complemento da formação académica participou em diversas acções de formação específicas em “trauma” em Portugal e no Estrangeiro (Royal College of Surgeons (London, UK), Rambam Medical Center (Haifa, Israel), International Comitee of the Red Cross (Geneva, Suiça), e outras no Canadá, Finlandia, Cambodja e Jordânia.

É autor de diversas publicações internacionais no âmbito da Emergência Médica em situações críticas de guerra. Gostaria de voltar a Portugal onde se encontram as suas raízes, família e que “é um oásis de segurança que é difícil encontrar no Mundo”, mas, ... depois desta vida que tem tido e que o apaixona “é difícil encontrar no nosso país actividades desafiantes”.

O seu desempenho generoso e de excelência em contexto de alto risco pessoal em cenários de grande tensão em diversos teatros de operações militares mundiais, constitui um exemplo raro que merece destaque e muito orgulha a nossa comunidade de Meninos da Luz.

Termino a citar uma frase do nosso Olin:

“A guerra é a grande escola dos cirurgiões, pelo volume de casos e pela falta de apoios nas cirurgias... é aí que os cirurgiões têm que ser gerais”.

“Estar a operar debaixo de fogo já é habitual... já não me preocupa muito”.

BARRETINACOLÉGIO MILITAR NO MUNDO"

"PRÉMIO

OTony Castro, o 50/1963, nasceu em 52 em Lisboa e frequentou o Colégio Militar entre 63 e 68.

É Arquitecto Naval e Yacht designer, conhecido pelas inúmeras vitórias dos iates que desenhou, contando 5 vitórias em campeonatos mundiais de iates de competição.

Conta 40 anos de experiência, 10.000 barcos na água – design de exteriores e interiores - e 500 projectos diferentes (motor e vela).

Do seu portfolio constam Super Iates de 40 a 125 metros, a produção de iates de 12 a 24 metros e alguns Case Studies: Arcadia Ocean Superyacht, Clipper 70 Ocean Racing Yacht, SB0 Sportsboat, Tenacios Sail Training Ship...

O seu atelier onde desde 1980, trabalha com a sua equipa de designers e engenheiros, encontra-se em Southampton, no Hampshire, sendo, igualmente, proprietário e CEO de “MIMTECH”, que fornece know-how de produção a fabricantes de barcos e componentes.

Para além da sua vasta formação, é também Membro de diversos Technical

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Committees de entre os quais o Royal Ocean Racing Club, Royal Yachting Association, Maritime Forum, e Chairman de Júris em concursos profissionais ligados à arquitectura naval, e Membro de diversas associações inglesas e americanas com destaque para o Royal Institution of Naval Architects e Society of Naval Architects

Em paralelo com a sua atividade profissional, apoia instituições de caridade para apoio a pessoas com limitações físicas e psíquicas através da ligação ao mar e a criação de reservas marinhas e estabelecimento de modelos sustentáveis de pesca.

De entre os múltiplos prémios que recebeu e sucessos internacionais obtidos destacam-se:

4 International Offshore Racing World Championships

Designer do único barco que venceu todas as provas em que participou em campeonatos mundiais Designer de vários “Boat of Year” awards na Europa e EUA Vencedor da Admirals Cup Winner em 1989 com “Juno IV”

O brilhantismo e o sucesso da sua actividade no plano internacional consagrando-se como um dos grandes arquitectos navais contemporâneos, em particular na navegação de recreio onde a concorrência mundial ao nível do design é intensa, constituem fundamento para que nos orgulhemos de que pertença à nossa comunidade de Meninos da Luz e o destaquemos como exemplo.

Prémios Barretina 2019

Vitor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves

(666/1971)

"PRÉMIO ASSOCIAÇÃO - AMOR AO COLÉGIO MILITAR"

Ao longo da sua vida nunca abandonou a ligação ao desporto, tendo participado em mais de 10 maratonas e múltiplos campeonatos nacionais e internacionais de vela.

Voltando ao Colégio:

O666 Frequentou o Colégio entre 71 e 78, no último ano foi duas estrelas da 1ª.

Sempre bom aluno, com presença assídua no Quadro de Honra, representou o Colégio na Esgrima e no Vólei.

O Vítor Novais Gonçalves é licenciado em gestão de empresas, contando já mais de três décadas de experiência profissional em posições de Direção e Administração em empresas nos sectores financeiro, industrial e telecomunicações. Iniciou a sua actividade profissional em 1984 na Unilever. Entre 1989 e 1992, foi gestor da área de capital de risco no Citibank e mais tarde Director da área de Corporate Finance e membro da Comissão Executiva. Entre 1992 e 2000, foi Director Geral da Companhia de Seguros Império e ocupou lugares de administração em diversas empresas financeiras do Grupo José de Melo. Entre 2001 e 2009, foi administrador da SGC Comunicações, sendo responsável pela área de negócios internacionais.

Desde 2009 é administrador, entre outras, da Zoom Investment, Semapa e The Navigator Company.

Nas últimas duas décadas o Vítor Gonçalves aplicou muito tempo, trabalho e talento ao serviço do Colégio e da Associação. Recuando até 2001/ 2002, poderíamos vê-lo a trabalhar no diagnóstico de uma crise que muitos nem sequer ainda anteviam: a diminuição acentuada dos candidatos a alunos do CM. Para responder a esse problema vital, o Vítor mobilizou pessoas com capacidades profissionais muito diferenciadas, colocando à disposição do Colégio e do Exército o apoio necessário à concepção de uma solução inteligente e atempada da crise que se anunciava. Para evidenciar que era possível, o 666/1971 (ouvido eficazmente pelo 362/1955 - Mário Delfim Tavares de Almeida, à data Director do Colégio), concebeu uma estratégia de aumento de candidaturas ao Colégio Militar. E assim foi: nos anos de 2002/2003 e 2003/2004 a tendência decrescente do número de candidaturas foi invertida. Foi muito tempo e muito trabalho, mas foi essencialmente uma diferenciada capacidade de análise e gestão de organizações que o Victor disponibilizou ao Colégio. Provavelmente, a história do Colégio Militar seria diferente se o trabalho, o tempo e o talento nessa altura oferecidos tivessem sido proficuamente continuados.

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Prémios Barretina 2019

Apesar do desapontamento nunca desistiu. Em 2010, integrando a Direção da AAACM impulsionou as jornadas de reflexão “O posicionamento do Colégio Militar no contexto Educativo Global” . Estas jornadas constituíram uma reflexão dos Antigos Alunos sobre a evolução do Colégio, apoiadas na participação de oradores externos. Muito antes de qualquer iniciativa de reforma, já a AAACM plenamente dentro da sua missão estatutária, refletia sobre o futuro. Foi uma reflexão informada, inteligente e democrática, geradora de pensamento estratégico. Entre 2011 e 2015 a Associação continuou a contar com o seu tempo, o seu trabalho e o seu talento. Criou soluções e alternativas, esteve sempre na primeira linha do debate e da participação da Associação na luta pelo futuro do Colégio Militar. E continua exactamente assim, membro que é agora do nosso Conselho Supremo.

Na alma do 666/1971 está o Colégio, nas suas ações está o Código de Honra. Apesar de algum desapontamento e das mil razões que o destino lhe ofereceu para desistir, nunca desistiu. Nunca desistiu porque, diz quem o conhece bem, tem um amar poderoso que ilumina a maior escuridão. É essa luz que vemos no seu Amor ao Colégio.

António José Mourão da Fonseca e Silva (440/60)

"PRÉMIO ASSOCIAÇÃO - DESPORTO"

António Fonseca e Silva (o “Flica”) frequenta ainda o “Colégio” quando todo o seu talento começa a despontar para a prática desportiva, nomeadamente a sua enorme aptidão de velocista. Estava-se em 1967 – tinha apenas 16 anos de idade, sendo pois um “Juvenil” - quando se sagra campeão e recordista nacional dos 100 e dos 200m com 10.7 e 22.2 respectivamente. Depois, já na categoria de “Júnior”, continua a ser o recordista nacional dos 100m, agora com o tempo de 10.6. Nos 4X200 é igualmente recordista nacional logo em 1967 com o tempo de 21.8.

Para além dos recordes alcançados, é importante sublinhar que o “Flica” teve sempre – desde os tempos do “Colégio” - a enorme preocupação em valorizar o espírito desportivo: o fair-play. Pode dizer-se que esta característica também o torna num exemplo para todos nós.

Polifacetado como era, brilhou também na Classe especial de ginástica e na equipa de futebol de 11 do Colégio que em 1967 – este foi mesmo um ano admirável e alucinante - ganhou o Distrital da MP (Mocidade Portuguesa) em futebol de 11. Depois, estreou-se como Internacional, num Portugal-Bélgica em atletismo, onde

bate o record de Portugal dos 100m. Por fim, nesse mesmo ano (1967) representa Portugal num outro evento que a maioria das pessoas desconhece, talvez por não ter sido muito divulgado: foi em Agosto, nos Jogos Europeus da FISEC (Fédération Internationale Sportive de L’Enseignement Catholique) em STRASBOURG, onde o António Fonseca e Silva é medalha de ouro nos 100m, medalha de prata nos 200 e de bronze nos 4×100 m. Refira-se que Portugal é um dos membros mais antigos filiados na FISEC, participando com regularidade nas suas competições através do Desporto Escolar.

Também em Pista Coberta (1968) o António Fonseca e Silva alcança mais um record nacional nos 50m com a 5.9, record que ele próprio voltou a bater em 1969 com 5.8. E nesse ano é recordista nacional nos 4X100m com o tempo de 41.3 sagrando-se – nesta mesma distância - recordista nacional por clubes com o tempo de 42.0. Verdadeiramente notável!

Não obstante ter tido uma carreira relativamente curta - apenas seis épocas - pois decidiu ir para a Bélgica, após ter cumprido o serviço militar, foi a mesma recheada de sucessos. Depois dos êxitos de 67 e de 68, em 1969 o “440” corre os 100m em 10.5, batendo o seu próprio recorde, e dois anos depois, em 1971 melhora este tempo para 10.4! Deve sublinhar-se que este recorde permaneceu durante doze anos consecutivos, isto é, desde 1971 até 1983, sem ser batido. Várias vezes internacional por Portugal entre 1967 e 1971, participou também em inúmeros Meetings. Atleta de excepção, representou o Sport Lisboa e Benfica de 1967 a 1972 tendo sido treinado por Matos Fernandes e por António Gromicho.

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Terminada a sua carreira de atleta, o “Flica”, licenciado em Educação Física pelo Instituto Superior de Educação Física (actual Faculdade de Motricidade Humana) exerceu funções, como professor e como gestor desportivo, no maior respeito pelos valores da liberdade, e sempre muito comprometido com os princípios éticos da honestidade, da responsabilidade, da tolerância e do dever cívico, transportando dentro de si um conjunto de valores que se vinculam ao código de conduta Colegial, como a integridade, a honradez e a simplicidade, facto por todos reconhecido e por todos elogiado.

Não é por isso despiciendo falarmos neste Antigo Aluno, não apenas como um atleta de excepção, mas principalmente como um Homem de excepção em quem todo o “Colégio” se pode e deve rever, sentindo nisso uma grande vaidade e um desmedido orgulho!

Uma última nota: medalhas e recordes à parte, o “Flica” guarda com muito orgulho, um Louvor colectivo atribuído pelo General Director do Colégio (Luís Valentim Deslandes) em Ordem de Serviço datada de 16 de Maio de 1967.

Porque aquilo que nos marca nunca se esquece!

António José da Silva Coutinho (249/80)

Prémios Barretina 2019

Entrou para o Colégio em 1980 e terminou o seu percurso colegial como Comandante da 3ª Companhia. O “Urso” foi o meu comandante de companhia. É membro do Conselho Supremo da Associação desde 27 de Março de 2015.

Com a entrada dos seus dois filhos no Colégio em 2010 e 2013, iniciou e intensificou a sua colaboração com a Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar (APEEACM), tendo a partir de 2012 integrado a Mesa da Assembleia Geral e a partir de 2015 assumido as funções de Vice-Presidente da Mesa. No âmbito da APEEACM, numa altura em que o Colégio sofreu profundas alterações e algumas convulsões, participou de forma muito empenhada e intensa em muitas acções no sentido de assegurar o adequado ambiente de estabilidade académica de que os Alunos tanto necessitavam. Nessas funções, incansável na sua luta pela melhoria do aproveitamento escolar, elaborou inúmeros estudos e apresentações de elevada qualidade referentes ao aproveitamento dos Alunos que, foram apresentados e bastante apreciados pelos Alunos e pelas diversas instâncias tutelares do Colégio, e posteriormente, pelos Antigos Alunos, através dos Órgãos da AAACM (Direcção, Conselho Supremo e Conselho de Delegados). Sempre extrema-

mente empenhado na causa Colegial, fiel cultivador e difusor dos valores do Código de Honra dos Alunos do Colégio Militar, tem pautado a sua vida profissional e cívica por uma conduta de excelência, rigor, determinação e inteligência que o distingue entre pares no meio empresarial tecnológico nacional e internacional. Licenciado em Engenharia Civil pelo IST, onde foi Assistente, obteve o grau de Master of Science em Investigação Operacional em 1997, Seguiu-se a BCG - Boston Consulting Group onde, entre 1997 e 2003, geriu o lançamento da EDP Energia (actual EDP COMERCIAL), a da UNGE, braço armado da EDP para as actividades grossistas em Portugal, Espanha e França, tendo gerido, igualmente, a mudança da gestão organizacional da REN (Rede Electrica Nacional) com vista ao arranque do MIBEL (Mercado Ibérico de Electricidade); Desde 2003, a sua actividade desenvolve-se no GRUPO EDP com o desempenho de funções de Direcção e Administração em diversas empresas em Portugal e no estrangeiro. Aos 50 anos, é Membro Executivo do Conselho de Administração da EDP COMERCIAL e Presidente do Conselho de Administração da EURELECTRIC (Bruxelas), Retail Customers Committee (desde 2015) que representa mais de 3500 empresas europeias dos sectores eléctrico e electrónico. A distinção que hoje te fazemos, serve para divulgar a expressão da excelência da formação académica, social, cívica e acima de tudo de valores que é o Colégio Militar, servindo também de exemplo e motivação para as gerações mais novas de Alunos e Antigos Alunos.

O António Coutinho evoluiu profissionalmente num meio extremamente competitivo, fruto do seu muito trabalho, competência e mérito, sempre alicerçado nos Valores que lhe foram incutidos no Colégio. O seu amor ao Colégio Militar e a exaltação dos Valores estão presentes diariamente na sua vida, desde a inseparável Barretina na lapela à utilização de imagens e exemplos do Colégio em intervenções públicas, palestras e artigos de opinião evidenciam, pela prática, o Espírito do Colégio Militar.

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"PRÉMIO ASSOCIAÇÃO - ESPÍRITO DO COLÉGIO MILITAR"

Os Caçadores

No artigo «A farda cor de pinhão», publicado na ZacatraZ nº 217, de Outubro/Dezembro 2019, foi descrito como surgiu, em 1837, a farda cor de pinhão dos Alunos do Colégio Militar, decalcada, naquela época já longínqua, da farda das tropas de Caçadores. El-rei D. Pedro IV, o «Rei Soldado», tinha sido Coronel Honorário de Caçadores 5. Era tal o desvelo deste Rei por aquelas tropas, que fez questão de ser sepultado com a farda correspondente, que tinha por costume envergar em vida. Sua filha, a Rainha D. Maria II, determinou que os Alunos do Real Colégio Militar fardassem, como fardara o senhor seu Pai, o que constituiu uma honra excepcional para o Colégio.

Há largos anos que deixaram de existir em Portugal tropas de Caçadores, pelo que é natural, que, os Antigos Alunos mais modernos, nada saibam acerca destas tropas. Assim sendo, consideramos interessante preencher essa lacuna de conhecimento, com a súmula histórica das mesmas, que passamos a apresentar.

Origem e características das tropas de Caçadores.

Os primeiros Caçadores militares de que há notícia, foram os Caçadores empregues pelo conde reinante Guilherme V, de Hes-

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Os Caçadores
Figura 1 Alunos do RCM. Fardamento de 1837, baseado no fardamento dos Caçadores.

sen-Kassel, na Guerra dos Trinta Anos (16181648), em que, aliado ao Rei Gustavo Adolfo da Suécia, conseguiu expulsar de Hessen as tropas inimigas. Guilherme V chamou para o seu exército os couteiros e guardas de caça dos seus domínios, não os integrando na infantaria «de linha», mas constituindo com eles uma tropa irregular, de infantaria ligeira, com uma forma de combater adaptada ao que, poucos anos mais tarde, se veio a designar por «petite guerre».

A infantaria «de linha» actuava em formação, constituída por várias linhas de atiradores. Esta formação era pesada e pouco flexível, de comando centralizado, com execução de tiro «à voz», disparando por salvas, do que resultava uma barreira de fogo, tal era o número de projécteis disparados em cada salva. Os disparos eram feitos quase sem se fazer pontaria, havendo quem disparasse com a arma à ilharga, resultando alguns tiros perdidos. A disciplina de fogo e a manutenção das formações em linha, tinham de ser rigorosas, para manter a sua eficácia. Quando de confrontos directos entre formações de infantaria «de linha», as perdas em homens eram muito grandes, pelo que se evitavam tais situações.

A forma de actuar dos Caçadores era totalmente distinta. Actuavam de forma dispersa, os disparos eram feitos individualmente pelos atiradores. Eram disparos selectivos, feitos com a melhor pontaria possível. Os disparos podiam ser feitos na posição que o atirador achasse mais adequada à situação (de pé, de joelhos, deitado ou outra). Os atiradores deslocavam-se com ligeireza, com «passo vivo», em combate. Era uma maneira de actuar própria de quem caça, familiar aos homens seleccionados para esta tropa especial. A diferença de actuação dos dois tipos de tropa era tal, que, quando mais tarde os Caçadores constituíram Unidades permanentes, era recomendado não lhes dar instrução de infantaria «de linha»

Uma mais-valia importante da tropa de Caçadores era a arma por si usada. Em vez das

espingardas da infantaria «de linha», usavam carabinas, com cano estriado, o que lhes conferia maior alcance e maior precisão de tiro. Estas características, aliadas a uma boa pontaria, davam-lhes uma notável vantagem. Uma arma da infantaria ”de linha” tinha, à época, um alcance da ordem dos 70 m, sendo o alcance da carabina da ordem dos 225 m.

Dado o rigor e o alcance do tiro dos Caçadores, eram os mesmos muitas vezes usados como atiradores especiais, para bater alvos seleccionados, tais como oficiais, ou guarnições de bocas de fogo inimigas. Os Caçadores eram também usados para combater em terrenos acidentados e montanhosos, para cobrir a retaguarda de tropas em retirada, para cobrir os flancos de grandes formações em movimento, para tropa avançada durante as progressões, para reconhecimentos em território inimigo, incluindo emboscadas e golpes de mão.

Os Caçadores do exército do conde Guilherme V formavam 3 companhias, enquadradas pelos próprios responsáveis pela caça nas coutadas do condado. Estes Caçadores participaram com êxito em muitas operações, sendo desmobilizados no final da guerra, em 1648, voltando à sua anterior actividade nas florestas de Hessen.

Durante a Guerra da Liga de Augsburgo (1688-1697), o condado de Hessen-Kassel voltou a utilizar Caçadores, sendo que parte deles actuava a cavalo. Dado o sucesso obtido por esta tropa houve outros territórios alemães a seguir-lhe o exemplo.

Frederico II da Prússia, seis meses depois de subir ao trono, invadiu a Silésia, província polaca que estava sob o domínio dos Habsburgos. Foi a I Guerra da Silésia (1740-1742). Para esta guerra formou um Corpo de Caçadores de cerca de 60 couteiros, que se veio a tornar na mais antiga Unidade permanente de Caçadores da Europa. Dado o sucesso do desempenho deste Corpo, no início da II

Os Caçadores

Guerra da Silésia (1744-1745), foi o mesmo aumentado, passando a ter um efectivo de 300 homens, formando duas companhias. Estas duas companhias mantiveram-se até ao início da Guerra dos 7 Anos (1756-1763).

Em Abril de 1761 os Caçadores prussianos passaram a formar um batalhão (o primeiro em toda a Europa). Concluída esta guerra, o Corpo de Caçadores foi reduzido a duas companhias, voltando porém ao nível de batalhão em 1773. Quando se inicia a Guerra da Sucessão da Baviera (1778-1779) o batalhão é reforçado com uma companhia suplementar. Em França, as tropas de Caçadores foram introduzidas por um oficial alemão, Johann Christian Fischer, que veio a morrer em 1762, no posto de brigadeiro do exército francês. Em 1743 formara uma companhia com 45 infantes e 15 cavaleiros, que designou por «chasseurs», tradução literal da designação germânica. Mais tarde, durante a Guerra dos 7 Anos, o Corpo de Caçadores de Fischer chegou a ter 1400 infantes e 600 cavaleiros.

As tropas de Caçadores no Exército Português, no tempo da Monarquia.

1. As primeiras Unidades de Caçadores.

No Exército Português, face às lições aprendidas na campanha do Rossilhão (1793-1795), foi decidido reformar as tropas de infantaria. A primeira medida tomada nesse sentido foi a publicação de um decreto, de 1/8/1796, em que se previa que cada regimento de infantaria devia incluir uma Companhia de Caçadores. Anos mais tarde, na sequência da Guerra das Laranjas (1801), fizeram-se estudos que apontavam para a criação de Tropas Ligeiras constituída por 5000 caçadores e 1200 hussardos (cavalaria ligeira ou caçadores a cavalo), formando batalhões de caçadores e esquadrões de hussardos. Na reforma militar que se seguiu, em 1806, as Tropas Ligeiras não atingiam aquela dimensão e ficaram com um estatuto não permanente, semelhante ao das milícias.

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Os Caçadores

2. Os Caçadores na Guerra Peninsular.

No decurso da 1ª invasão francesa (18071808), o general Junot, comandante das tropas francesas, seguindo ordens dadas pelo próprio imperador Napoleão Bonaparte, liquidou praticamente o Exército Português. Os militares, de todas as classes, julgados mais capazes para combater, foram enviados para França, onde viriam a constituir a Legião Portuguesa, que combateu, Europa fora, ao serviço de Napoleão, incluindo na invasão da Rússia, sendo dizimada na retirada subsequente. Os poucos sobreviventes regressaram a Portugal em 1814. Os militares não sujeitos à conscrição para a Legião Portuguesa, foram simplesmente licenciados. Ficaram apenas a existir algumas Unidades no Norte do País, milícias e ordenanças.

Terminada a 1ª invasão francesa, foi necessário constituir em Portugal um exército capaz de continuar a guerra, de suster uma expectável nova invasão francesa, de expulsar as tropas francesas da Península Ibérica, derrubando de seguida o regime de Napoleão. Este exército seria um exército anglo-luso, formado pelas tropas britânicas já estacionadas em Portugal e pelas tropas portuguesas resultantes de uma renovação do Exército Português. No processo de renovação do nosso Exército foram então criados doze Batalhões de Caçadores.

Logo após a 1ª Invasão Francesa, terminada com a convenção de Sintra, a 30/8/1808, foram oficialmente criados os seis primeiros Batalhões de Caçadores, por intermédio de Decreto de 14 de Outubro de 1808, sendo assim extintas as Companhias de Caçadores, que do antecedente existiam nos Regimentos de Infantaria, conforme disposto no Decreto de 1 de Agosto de 1796. Os seis novos Batalhões de Caçadores foram incorporados no Exército, de acordo com a reorganização do mesmo, datada de 28 de Outubro de 1808. Os seis Batalhões então criados foram os seguintes:

- Batalhão de Caçadores nº 1 (BCaç 1) Teve origem no Regimento de Voluntários de Portalegre, criado em 27 de Julho de 1808, pela Junta Provisória do Governo de Portalegre, aquando da revolta contra a ocupação francesa do Alentejo. Foi organizado em Castelo de Vide (pelo que também era conhecido por Batalhão de Caçadores de Castelo de Vide). Fez toda a Guerra Peninsular, terminando a sua acção na mesma na batalha de Toulouse, em França, em Abril de 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 2 (BCaç 2)

Teve origem na Legião Transtagana, levantada em Beja, em 1808, pelo Magistrado João José, aquando da revolta contra a ocupação francesa do Alentejo. Uma parte da Legião deu origem a este Batalhão, que foi organizado em Moura (pelo que também era conhecido por Batalhão de Caçadores de Moura). Fez toda a Guerra Peninsular, terminando a sua acção na mesma na batalha de Orthez, em França, em 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 3 (BCaç 3)

A sua origem remota é na Companhia de Caçadores Voluntários Reais do Monte, de Vila Real, levantada em 1801. Em 20 de Junho de 1808, foi mandado organizar em Vila Real, enquanto Batalhão de Caçadores de Trás-os-Montes, por ordem da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, do Porto. Continuou a ser também conhecido por Batalhão de Caçadores de Trás-os-Montes. Tal como o BCaç 1, a sua última acção na Guerra Peninsular foi na batalha de Toulouse, em Abril de 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 4 (BCaç 4)

Teve origem no Batalhão de Caçadores da Beira, organizado em Viseu, em 20 de Junho de 1808, por ordem da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, do Porto. Continuou a ser também conhecido por Batalhão de Caçadores da Beira. A sua última acção na Guerra Peninsular foi na batalha de Nive, em França, em Dezembro de 1813.

- Batalhão de Caçadores nº 5 (BCaç 5)

Tal como o BCaç 2, teve origem na Legião Transtagana. Tendo sido organizado em Campo Maior, era também conhecido por Batalhão de Caçadores de Campo Maior. A sua última acção na Guerra Peninsular foi o sítio da Praça de Baiona, que durou de 27 de Fevereiro a 28 de Abril de 1814. Em 1816 este Batalhão foi aquartelado na Feitoria, de onde o Colégio já saíra, em 1814. Manteve-se na Feitoria até 1823, quando foi transferido para o Forte de S. João Baptista, na ilha Terceira, nos Açores.

- Batalhão de Caçadores nº 6 (BCaç 6)

Teve origem no Batalhão de Caçadores do Porto, mandado organizar naquela cidade, em 20 de Junho de 1808, pela Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, do Porto. O aprontamento deste Batalhão portuense foi tão célere (curtas semanas), que, em conjunto com os Regimentos de Infantaria 6 e 18, também do Porto, veio a participar, integrado nas forças comandadas pelo General Wellesley, futuro Duque de Wellington, nas batalhas da Roliça e do Vimeiro, que tiveram lugar a 17 e 23 de Agosto de 1808,respectivamente.O novo Batalhão continuou a ser também conhecido por Batalhão de Caçadores do Porto. A sua última acção na Guerra Peninsular foi na batalha de Toulouse, em Abril de 1814.

Estes 6 Batalhões tinham farda de saragoça (castanha). As cores dos canhões e das golas dos uniformes eram diversas e serviam para distinguir entre si os diferentes batalhões, sendo que nas barretinas todos usavam a trompa distintiva dos Caçadores, acompanhada do número do respectivo batalhão. A arma usada por estes caçadores era a carabina de calibre 18 mm. O efectivo de cada batalhão era, inicialmente, de 628 homens, sendo mais tarde aumentado.

A criação dos Batalhões de Caçadores deu origem em Portugal à introdução de cornetas na Infantaria, para a transmissão de ordens por meio dos seus toques. Do antecedente, a transmissão de ordens era feita,

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por tambores na Infantaria e por clarins na Cavalaria. O aparecimento da «Infantaria Ligeira», que actuava em ordem dispersa, deu origem aos toques de corneta, por terem um maior alcance do que o rufar dos tambores. De acordo com a orgânica de 1808, os Batalhões de Caçadores ainda tinham tambores, mas logo em 1809 (Decreto de 20 de Novembro de 1809), passaram a ter apenas cornetas (um corneteiro por companhia).

Em 1810, William Beresford faz publicar a regulamentação dos toques de corneta, incluída no manual «Sistema de Instrução e Disciplina para os movimentos e deveres dos Caçadores». De acordo com esta regula-

mentação, existiam 21 toques para emprego em combate para as diferentes acções tácticas próprias das tropas de Caçadores. Na publicação referida indicam-se ainda 3 cadências de marcha para os Caçadores: o passo ordinário, o passo dobrado e o passo dobrado ligeiro. O passo dobrado ligeiro (150 passos por minuto) tinha uma cadência muito viva, dupla da cadência do passo ordinário (75 passos por minuto), sendo que este último corresponde a marcha a 4 km/h.

Terminada a 3ª Invasão Francesa, decidiu-se levantar outros seis Batalhões de Caçadores, para reforçar o exército anglo-luso que iria

prosseguir a guerra, com o objectivo da expulsão das tropas napoleónicas da Península Ibérica. Nestas condições, por Portaria de 20 de Abril de 1811, é determinada a criação de mais seis batalhões, de igual força à dos já existentes. Três dos novos batalhões seriam formados a partir da Leal Legião Lusitana (integrada no Exército Português como um Regimento de Infantaria Ligeira a dois batalhões, em 24 de Junho de 1809), dois novos batalhões seriam recrutados no Partido do Porto e o sexto e último novo batalhão seria recrutado na Província do Minho. Para as acções a desenvolver no futuro, no prosseguimento da Guerra Peninsular, previa-se a

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Figura 4 Oficial de Caçadores. Figura 2 Oficial de Caçadores. Figura 3 Oficial de Caçadores.
Os Caçadores

constituição de brigadas compostas por dois regimentos de infantaria e um batalhão de caçadores, o que veio a acontecer.

Os seis novos batalhões, que foram integrados no Exército por Portaria de 4 de Maio de 1811, eram os seguintes:

- Batalhão de Caçadores nº 7 (BCaç 7)

Foi formado a partir do 1º Batalhão da Leal Legião Lusitana. Era também conhecido por Batalhão de Caçadores da Guarda. A sua última acção na Guerra Peninsular foi a batalha de Toulouse, em França, em Abril de 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 8 (BCaç 8)

Foi formado a partir do 2º Batalhão da Leal Legião Lusitana. Era também conhecido por Batalhão de Caçadores de Trancoso. A sua última acção na Guerra Peninsular foi o sítio da Praça de San Sebastian, em Espanha, que durou de 9 de Julho a 31 de Agosto de 1813 e que terminou de forma descontrolada com o saque da cidade, que ainda hoje é recordado pela sua população.

- Batalhão de Caçadores nº 9 (BCaç 9)

Foi formado com os efectivos remanescentes da infantaria ligeira da Leal

Legião Lusitana. Foi organizado em Lamego. Era também conhecido por Batalhão de Caçadores das Beiras. A sua última acção na Guerra Peninsular foi a batalha de Orthez, em França, em Fevereiro de 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 10 (BCaç 10)

Foi recrutado no Partido do Porto. Foi organizado em Aveiro. Era também conhecido por Batalhão de Caçadores de Aveiro. A sua última acção na Guerra Peninsular foi a batalha de Toulouse, em França, em Abril de 1814.

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5 Soldado de Caçadores. Figura 6 Soldado de Caçadores. Nº 6 Figura 7 Soldado de Caçadores. Nº 4
Figura
Os Caçadores

- Batalhão de Caçadores nº 11 (BCaç 11)

Foi organizado na Feira. Era também conhecido por Batalhão de Caçadores da Feira. A sua última acção na Guerra Peninsular foi na batalha de Toulouse, em França, em Abril de 1814.

- Batalhão de Caçadores nº 12 (BCaç 12)

Foi organizado em Ponte de Lima, sendo também conhecido por Batalhão de Caçadores de Ponte de Lima. Na Guerra Peninsular apenas participou na batalha de Salamanca, em Espanha, em Julho de 1812.

O comportamento destes doze Batalhões na Guerra Peninsular foi notável. Foi de tal forma, que Lord Wellington se referia a eles como sendo os seus «GALOS DE COMBATE».

3. Os Caçadores após a Guerra Peninsular.

Concluída a Guerra Peninsular, as tropas de Caçadores, de comportamento notável na mesma, continuaram a existir, nas sucessivas reorganizações de que o Exército foi objecto, até à implantação da República, em 1910.

Segundo a organização do Exército de 1837, continuaram a existir 12 Unidades de Caçadores, com uma numeração distinta da anterior e não sequencial. Onze das Unidades estavam aquartelados no Continente e uma no arquipélago dos Açores. Uma das Unidades passou a regimento, mantendo-se onze batalhões.

Segundo a organização do Exército de 1863, que ficou conhecida por organização do Marquês de Sá da Bandeira, continuavam a existir 12 Unidades de Caçadores, localizando-se 3 delas nas Ilhas Adjacentes, duas nos Açores e uma na Madeira, e passando uma delas a ser um Regimento de Cavalaria de Caçadores. Foi a partir desta organização que o Batalhão de Caçadores 5 ficou aquartelado em Lisboa, até à sua dissolução, mais de 100 anos mais tarde.

Segundo a organização do Exército de 1901, a última do tempo da Monarquia, as tropas de Caçadores foram reduzidas a cinco batalhões, sendo os Batalhões de Caçadores 2 e 5 aquartelados em Lisboa.

Por se considerar, na época, não haver nada, além da tradição, que justificasse a existência das tropas de Caçadores, foram suprimidos os Batalhões de Caçadores, voltando porém a existir a partir de 1926.

Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, a Arma de Infantaria foi reorganizada, passando a existir doze Batalhões de Caçadores. De acordo com o dispositivo territorial adoptado em 1926, as localizações dos Batalhões de Caçadores eram as seguintes:

BCaç nº 1, Portalegre, BCaç nº 2, Tomar, BCaç nº 3, Chaves, BCaç nº 4, Faro, BCaç nº 5, Lisboa, BCaç nº 6, Penamacor, BCaç nº 7, Valença, BCaç nº 8, Elvas, BCaç nº 9, Porto, BCaç nº 10, Coimbra, BCaç nº 11, Castelo Branco e BCaç nº 12, Pinhel.

O dispositivo territorial vigente em 1939, era consequência da organização decorrente do Decreto- Lei de 31 de Dezembro de 1937. O número de Batalhões de Caçadores foi então reduzido para dez, com as seguintes localizações:

BCaç nº 1, Portalegre, BCaç nº 2, Covilhã, BCaç nº 3, Chaves, BCaç nº 4, Faro, BCaç nº 5, Lisboa, BCaç nº 6, Castelo Branco, BCaç nº 7, Guarda, BCaç nº 8, Elvas, BCaç nº 9, Viana do Castelo e BCaç nº 10, Bragança.

De acordo com esta organização de 1939, os Batalhões de Caçadores eram considerados Unidades de fronteira. As quais eram organizadas, instruídas e armadas por forma a poderem entrar em acção imediata e a assegurarem a guarda e a vigilância dos pontos vitais do território nacional, em especial nas fronteiras.

As Tropas de Caçadores no Exército Português, no tempo da Republica.

Implantada a República, o Exército é objecto de uma nova organização, em 1911.

É de referir que foram também criadas unidades de Caçadores no Ultramar, sendo de menor dimensão. Eram as Companhias de Caçadores Indígenas.

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Figura 8 Sargento de Caçadores.
Os Caçadores

Os Caçadores

Os Caçadores do Exército Português na Guerra do Ultramar (1961-1974).

Ao longo dos mais de 13 anos de duração da Guerra do Ultramar, foram mobilizados para a mesma muitas dezenas de Batalhões, não só da Arma de Infantaria, mas também de Artilharia e Cavalaria, que se organizavam e actuavam de modo idêntico ao dos batalhões de Infantaria. Os Batalhões mobilizados pela Arma de Infantaria, recebiam a designação de Batalhões de Caçadores, dada a sua actuação ser bem distinta da actuação das Unidades de Infantaria em guerra convencional. Eram Unidades preparadas para actuar num ambiente de guerra subversiva, considerada uma guerra de baixa intensidade. No início da guerra, o inimigo actuava por meio da montagem de emboscadas, ou de ataques pontuais e inesperados, com grupos de guerrilheiros de efectivos relativamente reduzidos, seguindo-se retiradas rápidas, evitando o confronto directo com as nossas tropas. Com a evolução da guerra, em particular na Guiné, este «figurino» foi evoluindo, para formas de luta mais intensas.

Em 1958, havendo já consciência da elevada probabilidade da eclosão de guerras no Ultramar Português, foi decidido estudar o que se passava na Argélia, onde o exército francês combatia a FLN (Front de Liberation National). Fruto dos ensinamentos aí recolhidos, foi decidida a criação de tropas especiais no nosso Exército, aptas para o novo tipo de guerra. As tropas especiais a criar, foram inicialmente designadas por «tropas de choque» e logo de seguida por «tropas de assalto», cujos componentes seriam os «Caçadores». Em Abril de 1959, foi criado, em Lamego, o Centro de Instrução para Tropas de Assalto (CITA), destinado à instrução de Companhias de Caçadores Especiais, a formar com base exclusiva em militares voluntários para as mesmas. Passado cerca de um ano, o CITA deu lugar ao Centro de Instrução de Operações

Especiais (CIOE). Em Abril de 1960, foram dadas como prontas as 3 primeiras Companhias de Caçadores Especiais. No mês de Julho seguinte, foi dada como pronta uma quarta Companhia de Caçadores Especiais. Nesse mês ainda, as quatro companhias partem para Angola. Foram as primeiras Unidades do Exército Português a usar boinas com a cor do fardamento usado pelos Caçadores, de 1808 a 1872, o castanho, a “cor de pinhão”. Foram também as primeiras Unidades a usar fardas camufladas. Os nossos Caçadores voltavam a estar prontos para a guerra, quase 150 anos após a Guerra Peninsular.

ANGOLA.

Iniciada a guerra no Norte de Angola, em Março de 1961, cedo se percebeu que era preciso melhorar a preparação dos Batalhões aí colocados, para o novo tipo de guerra. Foi decidido dar uma preparação especial a grupos de militares, a formar no seio de cada Batalhão, que, depois de preparados, voltavam ao seu Batalhão de origem, dando-lhe assim uma capacidade operacional acrescida. Estes grupos foram designados por Grupos de Comandos. Era uma outra forma de preparar «Caçadores Especiais».

O primeiro Grupo de Comandos foi preparado, em 1962, no Norte de Angola, em Nóqui, com pessoal do BCaç 280. Face ao bom resultado desta experiência inicial, seguiu-se a preparação, até final de 1965, de mais 22 Grupos de Comandos, provenientes de 16 Batalhões de Caçadores, de 3 companhias de Caçadores Especiais, de dois Batalhões de Cavalaria e de um Batalhão de Artilharia. O local de preparação destes grupos foi diverso, ao longo do tempo. De Nóqui passou-se para Zemba e daí para Quibala Norte. Dados os bons resultados obtidos pelos Grupos de Comandos, foi decidido criar Unidades de Comandos de maior dimensão, com os efectivos de uma companhia

(125 homens), compostas por cinco Grupos de Comandos. A primeira Companhia de Comandos, que foi instruída em Belo Horizonte (Luanda), ficou pronta em Fevereiro de 1965. Em Junho desse ano, cria-se, em Belo Horizonte, o Centro de Instrução de Comandos, que deu cerca de 30 cursos, tendo formado até ao final da guerra mais 23 Companhias de Comandos para Angola e 12 Companhias de Comandos para Moçambique.

Em Angola actuaram 24 Companhias de Comandos. A última que esteve em Angola apenas durante um mês (Julho a Agosto de 1975), foi formada na Amadora.

MOÇAMBIQUE.

Os primeiros Comandos a actuar em Moçambique foram formados em Angola, na Quibala Norte, tendo recebido os seus crachás em 1963. Eram 12 homens no total. Regressados a Moçambique estabeleceram um Centro de Instrução de Comandos (CIC) na Namaacha, povoação situada a 70 Km de Lourenço Marques, junto à fronteira com a África do Sul. O primeiro curso realizado na Namaacha, foi completado por 51 elementos, que formaram de seguida dois Grupos de Comandos. O CIC da Namaacha foi encerrado no final de 1964.

Em 1966 chegaram a Moçambique duas Companhias de Comandos formadas em Angola. Eram as primeiras das 17 Companhias de Comandos que operaram em Moçambique, quer oriundas de Angola, quer oriundas da Metrópole, onde o CIOE continuava a funcionar.

Em 1969 foi decidido formar um Batalhão de Comandos de Moçambique, que passaria a reunir todas as Companhias de Comandos a actuar naquela Região Militar. Este Batalhão situava-se em Montepuez, a cerca de 225 Km a Oeste de Porto Amélia (Pemba), no distrito de Cabo Delgado. No Batalhão foi formado um CIC, para treinar

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Os Caçadores

pessoal recrutado na Província, que viriam a formar as Companhias de Comandos de Moçambique (CCmdsMoç). A 1ª CComdsMoç terminou o seu treino em Maio de 1970. Seguiram-se mais oito companhias, formadas a intervalos de 6 meses cada. Formou-se um total de 9 Companhias de Comandos de recrutamento local. Actuaram pois em Moçambique 17 Companhias de Comandos, treinadas em Angola ou no CIOE, e 9 Companhias de Comandos de Moçambique. O total foi de 26 companhias.

GUINÉ.

Tal como em Angola e em Moçambique começaram por se constituir Grupos de Comandos, passando-se de seguida para as Companhias de Comandos.

Os primeiros Comandos a actuar na Guiné foram 8 homens, que tinham recebido a sua formação em Angola, tendo tomado parte na grande operação «Tridente», que durou de Janeiro a Março de 1964

Em Julho de 1964 foi inaugurado um Centro de Instrução de Comandos (CIC) em Brá, entre Bissau e o aeródromo de Bissalanca, que formou 8 Grupos de Comandos entre Outubro de 1964 e Setembro de 1966. A partir de Novembro de 1965, Brá tornou-se o quartel da Companhia de Comandos que foi formada com os Grupos de Comandos aí instruídos.

Em 1966 chegou à Guiné a primeira Companhia de Comandos formada na Metrópole. Era a 3ª Companhia de Comandos, formada no CIOE de Lamego. Até ao final da guerra foram 9 as Companhias de Comandos provenientes da Metrópole que aí actuaram.

Em 1969 foi decidido criar Companhias de Comandos Africanos (CCmdsAfr) de recrutamento local, a treinar num centro de treino criado em Fá Mandinga. A 1ª CCmdsAfr ficou pronta para o combate em Julho de 1970, a 2ª em Setembro de 1971 e a 3ª em

Setembro de 1972. Estas companhias foram comandadas por Capitães Comandos Africanos. Os seus primeiros comandantes foram os Capitães Bacar Jaló, Adriano Sisseco e Bacar Djassi, respectivamente.

Em 1972 foi criado o Batalhão de Comandos da Guiné, que integrava as Companhias de Comandos provenientes da Metrópole e as Companhias de Comandos Africanos.

Actuaram pois na Guiné 8 Grupos de Comandos, instruídos localmente (Brá), 8 Companhias de Comandos, instruídas na Metrópole (Lamego), e 3 Companhias de Comandos Africanos, instruídas localmente (Fá Mandinga).

Os Comandos, sucessores dos Caçadores Especiais, foram a tropa de elite do Exército durante a Guerra do Ultramar. Terminada a guerra, foi criado na Metrópole o Regimento de Comandos, que recebeu os Comandos vindos do Ultramar e que se constituiu herdeiro das Unidades de Comandos que combateram em África.

Em 1979, o Regimento recebeu a Medalha de Ouro de Valor Militar com palma, em 1985, foi nomeado Membro Honorário da Ordem Militar da Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e, em 1993, foi nomeado Membro Honorário da Ordem Militar de Avis. A nível individual, catorze militares Comandos foram agraciados com a Ordem da Torre e Espada. Desses catorze, três são Antigos Alunos do Colégio Militar, facto que constitui motivo do maior orgulho, para a nossa comunidade de Antigos Alunos.

Os Caçadores Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa.

Em Novembro de 1955, foi criado no seio da Força Aérea uma Unidade de tropas pára-quedistas, o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, que foi ocupar o antigo aquartelamento do Batalhão de Pontoneiros, da Arma de Engenharia do Exército, situado no Polígono de Tancos. A 1 de Julho de 1956, dia do 4º aniversário da Força Aérea, o novo Batalhão recebeu a sua Bandeira, em cerimónia realizada no Aeroporto de Lisboa.

Em 16 de Março de 1961, no dia imediato ao do início dos massacres perpetrados pelos guerrilheiros da UPA no Norte de Angola, seguiu para Luanda, por via aérea, o primeiro contingente de pára-quedistas, que fez parte das tropas que iniciaram as acções de contra-subversão. A 5 de Maio de 1961, o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas transforma-se em Regimento. Seguiu-se a criação do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21 (BCP 21), em Angola, e do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 31 (BCP 31), em Moçambique. Em 30 de Novembro de 1961 são estatuídos os quadros orgânicos das Tropas Pára-quedistas, com um efectivo global de 2559 homens. Mais tarde, em Dezembro de 1966, foi criado o Batalhão de Pára-quedistas nº 12 (BCP 12), na Guiné. Finalmente, em Janeiro de 1967, foi criado o Batalhão de Pára-quedistas nº 32 (BCP 32), em Moçambique.

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Figura 9 Soldado Comando do Exército.

Os Caçadores Pára-quedistas tiveram um papel do maior relevo na Guerra do Ultramar, de 1961 a 1975, onde se cobriram de glória. Como testemunho da sua brilhante acção, ficaram para a História, não só os louvores e as mais altas condecorações recebidas por muitos dos seus membros, mas também as condecorações colectivas que as várias Unidades receberam. Foram condecorados colectivamente com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª classe, os Batalhões de Caçadores Pára-quedistas nº 12 e nº 31, da Guiné e de Moçambique, respectivamente. Foi condecorado com a Medalha de Ouro de Valor Militar com Palma, o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 21, de Angola. Concluída a guerra, as Unidades de Caçadores Pára-quedistas estiveram entre as escolhidas para permanecerem nos que viriam a ser os novos países de expressão portuguesa, até à sua independência.

Tendo sido extintas as Unidades do Ultramar, foi necessário fazer um reajustamento, com vista á aplicação das tropas pára-quedistas em ambiente convencional, considerando a posição de Portugal como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Nestas circunstâncias, em 1975, foi criado o Corpo de Tropas Pára-quedistas, herdeiro do património moral e das tradições das Unidades extintas.

Para além de um Comando e Estado-Maior, aquele corpo de tropas tinha os seguintes componentes: Base Escola de Tropas Pára-quedistas (BETP), em Tancos, Base Operacional de Tropas Pára-quedistas nº1 (BOTP 1), em Lisboa (Monsanto), Base Operacional de Tropas Pára-quedistas nº2, em S. Jacinto (Aveiro) e Grupo de Apoio e Serviços (GOAS), igualmente em S. Jacinto. Com a criação do Corpo de Tropas Pára-quedistas, em 1975, perderam os pára-quedistas a designação de «Caçadores», mas, como anteriormente se referiu, ficaram herdeiros morais dos Caçadores Pára-quedistas, que se bateram com honra e sacrifício, na Guerra do Ultramar.

Em 1993, o Corpo de Tropas Pára-quedistas foi transferido da Força Aérea para o Exército.

Foram assim as tropas de Caçadores Especiais, de Comandos e de Caçadores Pára-quedistas, as tropas que souberam dar continuidade à gesta de bravura escrita pelos nossos Batalhões de Caçadores da Guerra Peninsular, os «galos de combate» de Wellington. Nos uniformes destas tropas, já não há traça da cor castanha do uniforme tradicional dos Caçadores. A cor castanha era até agora mantida apenas nas boinas dos outros militares do Exército, excepção feita pela Arma de Cavalaria. Essas boinas irão agora passar a ser todas pretas, como as da Cavalaria. Fica assim o Colégio Militar a ser a única «tropa» a fardar de castanho, como fardavam os antigos Caçadores. É a nossa farda desde 1837. É uma enorme responsabilidade. É para nós um grande orgulho.

NOTA FINAL

Este artigo foi baseado nas seguintes obras:

- «Os Caçadores. Os galos de combate de Wellington», de David Martelo, Edição da Tribuna da História.

- «Os Comandos em África 1961-1974», de John P. Cann, Edição da Tribuna da História,.

- «História do Exército Português 19101945», Coordenação do General A. N. Ramires de Oliveira, Edição do Estado-Maior do Exército (1993).

- «Os Pára-quedistas nas Guerras de África 1961-1975», de Nuno Mira Vaz, Edição do Instituto Bartolomeu de Gusmão, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

- «Os Caçadores – origem histórica, teoria e prática», de António Pedro da Costa Mesquita de Brito, Comunicação ao XXII Colóquio de

História Militar (Novembro de 2013), da Comissão Portuguesa de História Militar.

- «A influência britânica nos toques de ordenança militar portuguesa», de Pedro A. M. Marquês de Sousa, Revista Militar nº 5, Maio de 2012.

A figura 1 é a reprodução de uma aguarela da autoria do Major Libertário (SGE).

As figuras com Caçadores do Exercito Português do século XIX são reprodução de aguarelas da autoria do Coronel Ribeiro Artur e foram-nos facultadas por José Alberto da Costa Matos (96/1950).

A figura 9 é da autoria de Carlos Alberto Santos, extraída da obra “Moçambique 1970. Operação Nó Górdio”, da autoria de Carlos Matos Gomes, da colecção, Batalhas de Portugal, da editora PREFÁCIO.

A figura 10 é um extracto da capa da obra “Guiné ― 1968-1973 ― Soldados uma vez, sempre Soldados!”, da autoria de Nuno Mira Vaz, da colecção Batalhas de Portugal, da editora TRIBUNA DA HISTÓRIA.

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Figura 10 Soldado Caçador Pára-quedista da Força Aérea. (Boinas Verdes)
Os Caçadores

Jantar de Natal 2019 Delegação do Norte.

Odos Antigos Alunos participantes no Jantar de Natal da Delegação Norte.

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jantar de Natal da Delegação Norte da nossa Associação, ocorreu no dia 13 de Dezembro, uns dias mais cedo do que aquilo que é habitual. A «delegação sulista» que se deslocou até ao Porto, foi este ano reduzida, dado o Presidente da Direcção da Associação não ter podido comparecer, por nessa data se encontrar ausente no estrangeiro. Face a essa situação, a «delegação sulista» foi composta apenas pelo signatário, na qualidade de Presidente do Conselho Supremo e por Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), na qualidade de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da nossa Associação. Iniciámos a viagem ao princípio da tarde, o que nos permitiu chegar ao Porto com grande antecedência em relação ao jantar, que teve lugar, da forma habitual, nas magníficas instalações do «Oporto Cricket and Lawn Tennis Club», onde, como de costume, fomos recebidos, com uma ama- Parte de Natal 2019 - Delegação
Jantar do Norte

Jantar de Natal 2019 - Delegação do Norte

bilidade inexcedível, pelo Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), esforçado chefe da Delegação Norte da nossa Associação. Sentimo-nos logo como se estivéssemos em casa. Dada a antecedência com que chegámos, tivemos algum tempo para descansar, nos quartos que nos estavam reservados nas instalações do clube e para tomar um aperitivo no bar, que, como seria de esperar num clube desta natureza, tem um ambiente muito acolhedor.

Este ano tivemos duas agradáveis surpresas. A primeira, foi a presença do Director do Colégio, António Emídio da Silva Salgueiro (461/1972), convidado pelo Bruno Soares Franco a participar neste importante evento da Delegação Norte. A segunda, foi a presença de Fernando Edgard Collet-Maigret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), antigo Director do Colégio e membro vitalício do Conselho Supremo da nossa Associação, que estando no Porto naquela data, decidiu participar também no jantar.

O jantar decorreu da forma habitual. À semelhança do ano passado, foram servidos um saboroso caldo verde e o clássico amarelo, este último bem de acordo com a versão colegial mais genuína. O cozinheiro apanhou-lhe o jeito. É de manter o cozinheiro e a receita para os anos vindouros. Para além do organizador, dos anteriormente mencionados actual e antigo Director do Colégio e dos dois «sulistas» também referidos, estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos:

Luis Augusto Nunes de Almeida Bandeira (236/1945), António Rui Prazeres de Castilho (147/1948), José António Campos Resende Santos (23/1949), José Alberto da Costa Matos (96/1950), José Manuel Simões Ramos de Campos (319/1950), Luis Manuel Ferraz Pinto de Oliveira (138/1954), Francisco Xavier de Barros Cardoso de Menezes (6/1956), António Manuel Adão da

Fonseca (286/1957), António Norton de Matos Campos Pereira (522/1959), João Paulo Wrem Abrantes da Silva (527/1959), Alfredo Filgueiras Resende (313/1961), Albino Manuel Pereira de Sousa Botelho (342/1961), Luis Miguel Moreira de Almeida Santos (607/1962), Luis Filipe da Cruz Cordeiro (130/1964), Joaquim Manuel Ramos Cavalheiro (177/1964), Rogério de Mesquita Pinto Ribeiro (283/1964), António José Mesquita da Cruz (329/1965), António Cabral de Campos Felino (577/1965), Paulo Manuel Ferreira Lobo Fernandes (487/1966), José Carlos Magalhães da Silva Cardoso (604/1967), Gualter Manuel da Mota Santos (229/1969), João Manuel Trindade Coelho da Sousa Teles (335/1969), João Manuel Sanches Roma Moreira Lobo (572/1969), José Mário Macário César Teixeira (559/1969), José Manuel Queimada da Silva Soares (82/1970), Bruno Pinto Basto Soares Franco (281/1970), Paulo César Alves Bacelar (403/1970), António Jaime Tavares Coutinho Lanhoso (176/1971), Paulo Manuel Santos Lestro Henriques (200/1973), Agenor Guerreiro Ranhado Rolo (199/1974), José Eduardo da Costa Silva Pereira (391/1974), Rui Costa Branco (37/1978), Alfredo Andresen Guimarães (518/1978), António Carlos Pires Martins (85/1982), Nelson José Cordeiro Cajão (496/1984), Amândio Emanuel Lopes Ribeiro (368/1993), Francisco José Castro Martins (409/1963), Luis Filipe Pinto Leite (384/1994), Francisco Príncipe Vaz de Almada (235/2010) e Pedro Pacheco Veiga Dias da Silva (407/2011).

No final do repasto houve discursos, todos eles breves para não castigar muito a assistência. Começou por falar o anfitrião, que agradeceu a presença de todos os que corresponderam à chamada e que informou os presentes acerca do jantar comemorativo do 116º aniversário da nossa Associação e dos Prémios Barretina atribuídos nessa ocasião, o que é objecto de uma reportagem separada nas páginas da presente revista. Falou de seguida o Director do Colé-

gio, que informou sucintamente acerca do que é o Colégio na actualidade, muito diferente do Colégio que a esmagadora maioria dos presentes conheceu nos seus tempos de Alunos, e de quais são as perspectivas futuras do Colégio, face à situação actual do Exército e ao que é a sociedade actual, o que tem reflexos importantes no dia-adia do Colégio. O antigo Director Fernando Perry da Câmara falou um pouco acerca de episódios curiosos passados nos seus tempos de Director do Colégio, em que teve como Alunos alguns dos presentes na sala. O Presidente da Mesa da Assembleia Geral falou acerca de um projecto inovador, em que a Associação e o Colégio estão empenhados, que consiste em proporcionar aos Alunos finalistas um mini-estágio de dois dias em empresas de Antigos Alunos, para que eles possam ter um primeiro contacto directo com o mundo do trabalho. O signatário complementou alguma da informação dada relativa aos Prémios Barretina, informou acerca da situação do Prédio Militar nº34 (PM 34), ou seja, do Quartel da Formação, pelo qual a nossa Associação é responsável, e informou acerca da total solidariedade e apoio manifestados, por unanimidade, pelo Conselho Supremo, a um membro seu, recentemente afastado de funções oficiais que exercia, de uma forma arbitrária e completamente inaceitável, sem que lhe tivesse sido dada oportunidade de exercer o seu direito de defesa.

Este ano houve quem não se esquecesse de trazer uma máquina fotográfica, pelo que é possível apresentar aos leitores uma imagem dos participantes no repasto. A «delegação sulista», em conjunto com o Director do Colégio e sua mulher, foram acompanhados no pequeno-almoço do dia seguinte, pelo nosso anfitrião Bruno Soares Franco, que quis ter essa última gentileza para connosco. Melhor não era possível! Apresentamos aqui o nosso agradecimento reconhecido e congratulamo-nos por mais esta bela jornada de confraternização colegial.

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Divagação em torno do Conceito de Felicidade

INSPIRADA PELA LEITURA DE DOIS LIVROS DE YUVAL NOAH HARARI: SAPIENS, DE ANIMAIS A DEUSES. HISTÓRIA BREVE DA HUMANIDADE E HOMO DEUS. HISTÓRIA BREVE DO AMANHÃ, ED. ELSINORE, AMADORA, 2018.

A felicidade é vista, pela generalidade das pessoas, como um «bem-estar subjectivo». Mas resulta de quê? E pode contabilizar-se? Se é algo que a pessoa sente dentro de si, como poderá ser medido do exterior? E que factores contribuem para o sentimento de felicidade? Será o dinheiro, a saúde, a família, a ocupação ou a genética? Ou será uma amálgama de todos eles?

Nos dias de hoje, os avanços nos domínios da ciência, as transformações na ordem social e o crescimento exponencial da economia, facultaram aos humanos condições de vida dificilmente imagináveis. E sentir-se-ão as pessoas mais felizes do que no passado? Sem dúvida que sim. E não só se sentem mais felizes do que os seus antepassados medievais,

como acreditam que estes se terão sentido mais felizes do que os caçadores-recolectores da Idade da Pedra. O contrário é que seria para estranhar. Mas poder-se-á provar, de forma inequívoca, que a felicidade atingiu hoje níveis superiores aos do passado?

Um dos métodos mais adequados para avaliar o grau de felicidade relativa de pessoas e de grupos é através de questionários. Foi de resto através deles que pôde concluir-se sentirem-se as pessoas mais felizes vivendo em democracia do que em ditadura e sentirem-se os casados mais felizes do que os divorciados. Mas algumas conclusões são mais surpreendentes e menos consensuais. Descobre-se, por exemplo, que o dinheiro só traz felicidade até um certo ponto: um homem pobre a quem saiam cem mil euros na lotaria, se souber gerir o dinheiro, vai sentir-se feliz durante bastante tempo; um homem rico a quem saia o Euromilhões vai provavelmente comprar um iate novo ou uma mansão, mas o mais provável é que retome em breve as suas rotinas. Outra conclusão interessante dos

questionários é a de que “(…) a doença diminui a felicidade a curto prazo, mas só é fonte de angústia a longo prazo se o estado da pessoa continuar a deteriorar-se ou se a doença provocar uma dor constante e debilitante (…)”. Outra ainda é a de que a família e a comunidade têm um impacte maior sobre o sentimento de felicidade do que o dinheiro ou a saúde. Em muitos casos, pessoas com graus elevados de invalidez mas que vivem no seio de famílias fortes e inseridas em comunidades solidárias, sentem-se mais felizes do que aquelas que não sofrem de qualquer tipo de inaptidão mas vivem em famílias disfuncionais. A mais surpreendente e controversa das conclusões é a de que, para a maioria das pessoas, o índice de felicidade declina no intervalo dos trinta para os cinquenta anos; contudo, para os que vivem em países ricos, a tendência inverte-se entre os cinquenta e os setenta, podendo, a partir desta idade, acontecer duas coisas: umas quantas pessoas mantêm-se felizes até morrerem, enquanto outras entram em depressão e podem mesmo suicidar-se.

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277/1950
Nuno António Bravo Mira Vaz
Divagação em Torno do Conceito de Felicidade

Divagação em Torno do Conceito de Felicidade

Certo é que a realização pessoal ou profissional alcançada cedo na vida não constitui um seguro contra o desânimo; bem pelo contrário, o esbatimento das capacidades é especialmente brutal para pessoas que em épocas passadas se sentiram altamente realizadas, como os actores da moda ou os grandes desportistas.

Durante séculos, a felicidade serviu de inspiração a poetas e de tema de reflexão a filósofos. Mas o que pensam dela os modernos biólogos? Para surpresa de muita gente, estes especialistas concluíram que “(…) o nosso bem-estar subjectivo não é determinado por parâmetros externos como o salário, as relações sociais ou os direitos políticos. Em vez disso, é estabelecido por um complexo sistema nervoso, neurónios, sinapses e várias substâncias bioquímicas como a serotonina, a dopamina e a oxitocina (…). Uma pessoa que acabou de ganhar o Euromilhões, ou que encontrou o verdadeiro amor e salta de alegria, não está realmente a reagir ao dinheiro ou ao amor. Está a reagir a várias hormonas, que festejam através da sua corrente sanguínea, e à tempestade de sinais eléctricos que deflagram entre as diferentes partes do cérebro (…)”. E esclarecem: numa escala de 1 a 10, umas quantas pessoas nascem com um sistema bioquímico que lhes permite níveis de felicidade entre 6 e 10, com tendência para estabilizar em 8; outras são dotadas duma bioquímica sofrível, que varia entre os níveis 3 e 7 e estabiliza com o tempo em 5. Sem fundamentação científica para desacreditar esta teoria, apetece ainda assim perguntar: ela é válida para quem vive no Iémen, na Somália ou na Coreia do Norte? Se as descobertas da bioquímica estiverem correctas, como poderemos conciliá-las com a anterior conclusão de que os casados se sentem mais felizes do que os divorciados? Para os bioquímicos, a explicação é simples: uma vez que tanto as descobertas recentes como as conclusões anteriores são, na realidade, correlações,

não se trata de acreditar que o casamento produz felicidade, mas sim que a felicidade induz ao casamento. Não lhes restam dúvidas: a serotonina, a dopamina e a oxitocina é que estão na origem e na manutenção do casamento. À margem destas certezas, a maioria dos bioquímicos não é fanática e aceita que, dentro de limites pré-determinados, alguns factores sociológicos e psicológicos podem ter uma intervenção significativa no indice de felicidade: “(…) Alguém que nasça com um índice de felicidade 5 nunca dançará nas ruas. Contudo, um bom casamento pode fazer com que desfrute de um nível 7, de tempos a tempos, e evite o desânimo do nível 3 (…).” E já agora, voltando às nossas reservas sobre os efeitos das hormonas, que níveis de felicidade estão reservados para os habitantes do Iémen, da Somália e da Coreia do Norte?

A procura da felicidade não é um processo fácil. Dois factores, um psicológico e outro biológico, dificultam a tarefa. Por um lado, como já vimos, a felicidade depende mais das expectativas de cada um do que das condições objectivas; porém, sempre que estas melhoram, as expectativas aumentam e, ao aumentarem, diminuem a satisfação, reconduzindo a pessoa ao início do processo.

Por outro lado, o nosso sistema bioquímico está focado em assegurar a sobrevivência e a reprodução dos humanos e não em torná-los felizes. É por isso que as actividades relacionadas com a sobrevivência e com a reprodução são recompensadas com sensações agradáveis. Mas estas, como bem se sabe, duram pouco, forçando as pessoas, se as quiserem usufruir de novo, a procurar mais comida e novos companheiros.

Se a bioquímica for de facto o motor da nossa felicidade, qualquer tentativa para melhorá-la requer uma intervenção no sistema. Mas sempre que o fazemos, os problemas não tardam em surgir, sendo o primeiro deles que a pro-

cura da felicidade através da bioquímica é hoje a maior causa da criminalidade em todo o mundo. “(…) Em 2009, metade dos reclusos nas prisões federais dos EUA tinham sido condenados por delitos relacionados com drogas. (…) No Reino Unido, 55% dos reclusos declararam ter cometido crimes relacionados com o consumo ou o tráfico de drogas (…). As pessoas bebem para esquecer, fumam erva para se sentirem em paz, consomem cocaína e anfetaminas para se sentirem perspicazes e confiantes. (…) E as drogas são apenas o início. Nos laboratórios de investigação os peritos já trabalham em métodos mais avançados do controlo bioquímico dos humanos (…).”

Enquanto esperamos pelos milagres da bioquímica, parece ajuizado acreditar que estarmos satisfeitos com o que temos é mais importante do que conseguirmos o que queremos. “(…) Quem quiser uma carroça e tiver uma carroça, ficará satisfeito. Quem desejar um Ferrari novinho em folha e só receber um Fiat em segunda mão, sentir-se-á defraudado (…)”. Alguns anos atrás, já o antigo piloto de fórmula 1 Alex Dias Ribeiro tinha proferido no mesmo sentido uma sentença lapidar: «infeliz de quem depende do sucesso para ser feliz. Para uma pessoa assim, o fim de uma carreira de sucesso é o fim da linha».

1 HARARI, Yuval Noah, Sapiens, de Animais a Deuses. História Breve da Humanidade, ed. Elsinore, Amadora, 2018, p. 445

2 Desde que a pobreza do inválido não seja demasiadamente severa ou que a doença não seja degenerativa e/ou permanentemente dolorosa.

3 HARARI, Yuval Noah, Sapiens, de Animais a Deuses. História Breve da Humanidade, ed. Elsinore, Amadora, 2018, p.450

4 HARARI, Yuval Noah, Sapiens, de Animais a Deuses. História Breve da Humanidade, ed. Elsinore, Amadora, 2018, p.453

5 HARARI, Yuval Noah, Homo Deus. História Breve do Amanhã, ed. Elsinore, Amadora, 2018, pp. 52-53

6 HARARI, Yuval Noah, Sapiens, de Animais a Deuses. História Breve da Humanidade, ed. Elsinore, Amadora, 2018, p. 447

7 Revista do Expresso, 20.07.2019, p. 28

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Os “secos e molhados” do Lugenda.

De quem tenha lido alguma das minhas anteriores histórias, poderão surgir imensos comentários jocosos, da reinação que aquilo era, etc. Mas, de tempos a tempos, lá aparece uma alma caridosa, talvez uma madrinha ou antiga professora da instrução primária que, com cara de dó e preocupação de espírito, me pergunta “e o que é que vocês comiam lá no mato? o Exército mandava-vos boa comida, carne, peixe, vegetais e fruta? e como chegava lá, em camiões frigoríficos, tudo fresquinho? e donde vinha?”

Passo a esclarecer. Naturalmente que o Exército tinha a obrigação – que lá ia cumprindo – de nos alimentar. Não, propriamente, de nos apaparicar, mas de contribuir para a nossa sobrevivência. Recebíamos várias qualidades de secos e enlatados. Feijão, arroz, massa, farinha e favas secas; conservas de atum, sardinhas, cavalas; e enlatados de fruta diversa: pêssegos (eu até gostava), peras (assim, assim) e alperces (abomináveis!). Também recebíamos uma coisa que nunca mais vi, não sei se ainda haverá: dobrada liofilizada. Era isso mesmo, uma coisa superseca, fazia lembrar aqueles rebuçados de tostão que havia dantes; não conheci

ninguém que não tentasse trincar aquilo para ver como era, a que sabia; nem ninguém que, depois, não ficasse à rasca dos dentes!!! Mas punha-se de molho, aumentava consideravelmente de volume, ficava mole e dava para fazer umas ricas “tripas à moda do Porto”. Sim, claro, também recebíamos umas latas com chouriço.

E, como tínhamos um fundo de maneio, comprávamos, numa cantina de Marrupa, umas bebidas e umas sacas de batatas.

Então, e peixe? À primeira vista parece que não podia ser difícil, apanhava-se o peixe em Nacala numa terça feira, seguia “calmamente” de combóio, passava em Nampula e prosseguia até Nova Freixo (hoje Cuamba) onde, na quinta feira, depois do jantar e enquanto se descarregava o peixe, o pessoal ia desportivamente tomar a bica e comer pastéis de creme.1

Eu não me lembro com muita certeza, mas acredito que houvesse uma “camineta da carreira” mais ou menos regular que, no dia seguinte, poderia partir a caminho de Marrupa, onde chegaria na 6ª feira ao anoitecer, levando o Mundo Desportivo de sábado e o peixe de terça feira. Depois

seria só transferi-lo para a carreira Marrupa-Lugenda que, ao contrário da carreira Nova Freixo-Marrupa, que não me parece que fosse muito, muito regular, era duma regularidade extrema: nunca havia! Claro que, se fôssemos avisados, podíamos mandar o Jeep a Marrupa e, tudo correndo bem, o Jeep regressava com o peixe no Sábado à noite e nem era preciso avisar “já chegámos!”, notava-se pelo cheiro! Recebida a encomenda, numa notável antevisão das actuais preocupações ambientais, era certo e sabido que o peixe iría directo para o Lugenda, que o encaminhava até ao Rovuma, donde seguiria até ao seu Índico Natal onde, provavelmente, poderia chegar lá para a outra 3ª feira, duas semanas depois de de lá ter saído, com menos vitalidade, diga-se.

Ou, com menos conversa fiada, não recebíamos peixe!

Aliás, no Batalhão de Marrupa onde fui diversas vezes ( todos os meses, às vezes mais do que uma vez) não me lembro de ter comido peixe. O pessoal de Marrupa também devia preferir devorar o Mundo Desportivo !!

1 “O Cavalo de Ferro”, publicado na Revista “Zacatraz”, da AAACM, nº 214 de Janeiro/Março de 2019.

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do Lugenda
Os “secos e molhados”

Os “secos e molhados” do Lugenda

E carne?

Carne era um pouco diferente e em Marrupa, sim, comia-se normalmente carne de vaca e de porco fornecida pela tropa, provavelmente com uma viagem mais simplificada que a do peixe.

Então era fácil, se havia carne em Marrupa era só mais um saltinho, não era?

Esperem aí. Não se esqueçam de que o Destacamento do Lugenda pertencia à Companhia de Engenharia 521, instalada em Vila Cabral ( hoje, Lichinga), a cerca de 400 km ― se fosse em linha recta e houvesse aquela estrada Marrupa-Vila Cabral, que está no mapa; ainda não era o caso. Na altura tinha que se vir cá abaixo, a Nova Freixo, eram perto de 700 km. E acontecia que a dita Cª. de Engª 521 era uma das três ou quatro Companhias de Construções do Batalhão de Engenharia de Nampula, que estava a mais outros centos de quilómetros. Se tudo isto já podia parecer um bocado complicado, não melhorava muito o facto de o Batalhão de Marrupa ser de Artilharia e pertencer a um Regimento que estava não faço ideia donde! Lá darem-me (com imensa simpatia, boa vontade e camaradagem) um bife de vez em quando, era fácil e acontecia sempre que eu lá ia; mas um batalhão de artilharia fornecer, regularmente, alimentos a um destacamento de engenharia cuja companhia estava em cascos de rolha e o batalhão ainda mais longe, já seria areia demais para a camionete burocrático-logística vigente.

Ou, com menos conversa fiada, não recebíamos carne!

E vegetais frescos e fruta?

Vou-vos poupar. Sem conversa fiada, não recebíamos vegetais frescos nem fruta!

Assim, nesta altura já estou a ver as caras de preocupação da madrinha e da professora,

legenda.

“coitadinhos dos rapazes, a defenderem a Fé e o Império, meses a fio sem provar peixe, nem carne, nem frescos, só coisas secas, então e as vitaminas, até podiam apanhar escorbuto como os tipos dos descobrimentos, que aflição,....”. Não, calma, a gente até comia bastante bem, eu até engordei uns três quilos enquanto lá estive!

Frescos? Começámos por montar uma “machamba” (horta). Já disse que havia lá uns tipos que vinham da agricultura, percebiam do assunto, mesmo os locais cultivavam a terra, que era fértil e quase virgem, podíamos compra-lhes frescos e ao fim de pouco tempo já tínhamos couves e alfaces e cenouras e etc e tal na machamba. E na zona havia, com alguma abundância, bananas, mangas, caju, papaias. Não, não nos faltavam frescos nem fruta, com as vitaminas necessárias e suficientes. E carne? Havia muita. Já disse que do Lugenda até Marrupa eram 100 km, havia pouquíssima população humana e havia muita bicharada comestível, com predominância de gazelas e semelhantes e também javalis. No nosso local havia um português, o Carlindo, que era de Oliveira de Azeméis e era dono de uma cantina, uma daquelas lojas que vendem de tudo, fari-

nhas e óleos, roupas e capulanas, e até (palavra de honra!) câmaras de ar para bicicletas! Deu-nos bastante apoio, ele conhecia a zona, era bom caçador. E entre os meus militares havia dois ou três que gostavam muito de caçar. Saíam esses três ou quatro à noite, no Jeep, caçavam com farolim, usavam as nossas “mausers”, ele ficava com uma quota parte, o resto era para nós (desconfio que esta actividade não era particularmente regular, se se soubesse era capaz de apanhar alguma “porrada”, mas a gente tinha que comer.... e já lá vão mais de 50 anos, certamente já prescreveu!!!!).

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Foto 1 – O Albano nas suas “7 quintas”

Mas era preciso ir à caça, era preciso o Jeep. Em determinada ocasião, era tempo de muita chuva, estradas alagadas, capim muito alto, o Jeep avariou, não se caçava nada. A estrada para Marrupa ficou com troços intransitáveis. Resultado: estivemos uns cinco dias (cinco extensos dias, cinco), a comer arroz de atum.... três refeições por dia !!!!! (“coitadinhos dos rapazes” diriam as senhoras, agora com razão).

Mas, de facto, durante um ano, no Lugenda, tirando aqueles cinco dias, nunca nos faltou carne, era abundante e variada. Tanta e tão variada que os tais caçadores levavam a coisa ao exagero de me perguntarem: “Meu alferes, podemos “ir ao talho?” O que quer para amanhã?” (Palavra que isto é verdade!!!! Claro que traziam o que apanhavam, mas muitas vezes acertavam!).

Havia bastante diversidade de herbívoros na zona. E eu comi de tudo!

Na tal altura de dificuldade, numa noite ainda assim menos azarada, apanharam um bicho que, na zona, era chamado de “namodouro” e que a malta crismara como “burro do mato”. De facto era do tamanho e algo parecido com um burro pequenote, acinzentado, quando se sentia perseguido pelos caçadores até se tornava cor de burro quando foge, tinha cara de burro (sem ofensa), parecia um burro,

só que.... tinha cornos!!!. Quando a peça chegou ao acampamento a malta fartou-se de gozar com os caçadores; e ficou claríssimo e definitivo que “a malta não come burro!”. Mas aquilo era um herbívoro como os outros! Falei com os sargentos, eles concordaram, chamei o Albano (o cozinheiro) e disse-lhe que assasse no forno, com batatinhas, um lombo do burro para nós; como a malta não come burro, .... arroz de atum para eles !!!! Viram passar o tabuleiro com o “pedaço de burro assado com batatinhas”, olharam uns para os outros, fizeram uma reavaliação dos seus preconceitos, “bem vistas as coisas...” .... estávamos a ver que havia assalto à messe !! Marchou todo!

E peixe? Havia pouco, mas havia. Lá no Lugenda havia um peixe grande, chamavam-lhe “capango”, tinha mais de palmo e meio de comprimento, uns 40-45 cm e corpo mais ou menos cilíndrico com uns 7 ou 8 cm de diâmetro. Não sou especialista, mas achava-o parecido com uma pescada, com outra cor e, principalmente, outro paladar. O pessoal local apanhava-os com umas armadilhas feitas com vimes e comiam-nos. Logo que perceberam que nós podíamos gostar – e gostá-

mos – passaram a vender-nos. E lá ia o capango, para o forno com batatas. Tinha pouco sabor, mas mais uma pitada de sal e três bagos de piri-piri fazem milagres.

O comandante do batalhão de Marrupa, o ten. coronel Napoleão Pitta Meira de Amorim era pessoa de quem eu gostei muito, sempre que eu aparecia tratava-me muito bem, qualquer coisa de que eu precisasse tentava resolver,. Certa vez em que fui a Marrupa disse-me que tinha sido promovido a Coronel, ia para outro local, iria despedir-se da companhia de Mecula e passaria no Lugenda para se despedir de nós. “Então o meu coronel almoça lá connosco” convidei. Em tom de gozo respondeu “só se fosse uma pescada cozida com batatas, nabos, cebolas, cenouras e ovo cozido..”; “está prometido” respondi. Mirou-me com cara de quem diz “mais um apanhado pelo clima” mas disse que iria. É certo que ele não comia uma boa pescada havia muitos meses; mas quando se sentou e lhe apareceu o capango cortado às postas, redondinhas, um dedo de espessura, esfregado com sal, os legumes todos e o ovo, acabou por me dizer qualquer coisa como “mas como é que os engenheiros

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Foto 2 – Se a ASAE lá fosse ... Foto 3 – Esta não foi parar “às 7 quintas do Albano”. Deve ter morrido de velha!
Os
“secos e molhados” do Lugenda

Os “secos e molhados” do Lugenda

arranjam pescada fresca no meio do mato??!!” Realmente até se comia bem. E havia mais alguma coisa aquática para comer lá no Lugenda? Havia: camarões que eram apanhados nas árvores !!!!

Não, não estou a gozar nem a curtir nenhuma. O Lugenda era um rio grande, umas centenas de quilómetros; de vez em quando chovia lá para as bandas das nascentes e, uns poucos dias depois, o rio subia, no nosso sítio, entre um e dois metros. Não era suficiente para saír do seu leito normal, mas subia de encontro às margens; e nestas havia muitos arbustos rente à água que, nessa altura, ficavam submergidos. Ora o rio tinha camarões de água doce e quando aquilo acontecia, os camarões eram arrastados pela corrente e ficavam presos nos ramos dos arbustos, diziam-me que ficavam presos pelos bigodes; o rio descia, os arbustos ficavam ao ar e os tipos iam ao longo da margem apanhar os camarões que estavam pre-

sos na ramagem !! E vinham vender-nos. Não sabiam a nada mas, mais um vez, uma pitada de sal e três bagos de piri-piri, umas cervejas frescas e um bocadinho de imaginação faziam milagres !!

E voadores? Claro, estávamos em terra apropriada. Havia lá galinhas do mato e outras coisas parecidas e, independentemente de que podíamos comprar à população local, também montámos um galinheiro, tínhamos a nossa própria avicultura - pobrezinha, mas dava para uns “cafreais” de vez em quando.

E por falar em voadores, certo sábado ficou lá, porque já era tarde para operar a jangada, um furriel que ia para Mecula. Era normal, acontecia de vez em quando, já quase noite, não queríamos que a jangada encalhasse, a manobra de embarque e desembarque era sempre um pouco delicada, “janta cá connosco, dorme cá, amanhã segues”. Assim foi.

E, como era sábado, ficávamos até um pouco mais tarde e organizava-se uma jogatana de “king”.

Era altura do ano em que a muchém ( insecto de não sei que ordem, a gente chamava-lhe “formiga”, em Angola chamavam-lhe “salalé”, fazia uns montes altos, “formigueiros” típicos, que chegavam a ter uns 5 metros de altura) atingia uma fase de vida em que voava, o corpo com uma dimensão mais ou menos como uma abelha e asas longas, semelhantes às de uma libélula. Como tinha chovido um bocado, saíam da terra, voavam por todo o lado e enchiam todo o espaço. E a nossa lâmpada atraía-as às dezenas.

Estavam, decididamente a incomodar bastante o nosso “king” !

Alguém se lembrou que aquela bicheza era muito rica em proteínas; mais alguém se lembrou que ouvira dizer que os nati-

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Foto 4 – No refeitório, à espera... de carne assada ou de arroz de atum ??

vos de muitas regiões a incluíam na sua alimentação normal; mais alguém se lembrou que até nos manuais de sobrevivência da tropa se referiam à muchém como alimento possível em caso de necessidade e grande penúria. Mais uma data de muchéns a voar à nossa volta, “o estupor do bicho” a bater-nos na cara e a pousar nas mãos; mais um brandi ou whisky; “oh Joaquim, chega aqui!” (O Joaquim era um rapazola lá da aldeia

“secos e molhados” do Lugenda

que estava connosco e nos ajudava nas tarefa domésticas). “oh Joaquim, o nosso sargento está a dizer que as pessoas daqui comem muchém, é verdade?” “nossagento diz verdade, come sim”; “mas come como, cozinhado, cru, como é?” “ come como quiser, pode ser cru”, “mas como?” insisti e o Joaquim, sereno e seguro, um gesto rápido de quem tem prática, apanhou uma muchém no ar, cuidadosamente pegou-lhe pela pontas

das asas e, trás, meteu-a à boca, mastigou e engoliu !!! Ficou com as asas nas pontas dos dedos mas, com ar de verdadeiro gourmet, sacudiu-as ao vento. Todos estávamos a olhar com certo ar de abismados, mas ele esclareceu: ”asa não presta, não come”.

O tal furriel que lá estava de passagem (tenho ideia de que se chamava Guerreiro) tinha fama de bom cozinheiro. Algarvio, na vida civil tinha um café restaurante e gabava-se dos bons petiscos que sabia fazer.

Está-se mesmo a ver, não está?

Não se passaram mais de uns minutos e já estávamos a interromper o “King” e todos à caça das muchéns voadoras, o Guerreiro na nossa “kitchenette” de frigideira em punho, a misturar óleo, vinho branco, aguardente, uma casca de limão, piripiri, e a fazer o mais excêntrico dos seus petiscos, ..... de que não sobrou nenhum !!!

Era bom? Sei lá, com óleo, vinho branco, aguardente, uma casca de limão, piripiri, não se chega a perceber !

Mas confirmo o que já afirmei lá atrás, a gente até comia bastante bem lá no Lugenda, eu até engordei uns três quilos enquanto lá estive!

(PS: fui agora à Wikipedia ver se aprendia mais sobre a “muchém”. Diz lá que aquilo é mais ou menos o mesmo que as térmites, vulgarmente chamadas “formiga da madeira” mas que não é bem uma formiga, é mais da família das baratas! Chiça, que nojo!!.... mas, enfim, já lá vão mais de cinquenta anos,.... já prescreveu!)

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Foto 6 – Um “formigueiro de muchém ( eu estou na foto a dar escala !) Foto 5 – Sala de jantar.... e casino de “king” Os

Foi há 100 Anos Sociedade das Nações

Sociedade das Nações Foi há 100 Anos

INÍCIO DO FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE DAS NAÇÕES (20 DE JANEIRO DE 1920)

ASociedade das Nações (S.N.), também conhecida como Liga das Nações, foi concebida no decurso das negociações entre as Potências vencedoras da I Guerra Mundial, tendo a sua constituição sido formalizada na I Parte do Tratado de Versalhes, assinado em 28 de Junho de 1919. Para além dos 45 países fundadores (32 assinantes do Anexo ao Tratado e 13 convidados), poderiam juntar-se outros que o desejassem, com excepção de Alemanha, Turquia e URSS, países que só mais tarde foram incorporados: a Alemanha em 1926 e os outros dois em 1934. Os Estados Unidos, cujo presidente, Woodrow Wilson, fora um dos grandes impulsionadores do Pacto fundado para impedir a eclosão de novas guerras entre Estados, nunca se incorporaram na Sociedade das Nações.

O Conselho da S.N. reuniu pela primeira vez em Paris no dia 20 de Janeiro de 1920, mas em Novembro desse ano a Sede da

Organização foi transferida com carácter definitivo para Genebra, onde passaram a funcionar os órgãos principais: o Secretariado, o Conselho, a Assembleia e o Tribunal Permanente de Justiça Internacional. Qualquer acção ou recomendação requeria votação unânime no Conselho e uma maioria de votos na Assembleia. Os idiomas oficiais eram o francês, o inglês e o espanhol; o esperanto ainda foi conside-

rado para adopção como idioma de trabalho, mas a sugestão nunca se concretizou. A S.N. nunca teve bandeira nem logotipo oficial por falta de acordo entre os Estados-membros. Não obstante, em 1939, foi exibido em diversas ocasiões um emblema – que nunca foi oficializado – com duas estrelas de cinco pontas, representando os cinco continentes e as cinco raças da humanidade, dentro de um pentágono

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277/1950
Nuno
António Bravo Mira Vaz Palácio das Nações, em Genebra, sede da S.N. desde 1938.

Foi há 100 Anos Sociedade das Nações

azul. Em cima e em baixo, apareciam os nomes em inglês (League of Nations) e francês (Société des Nations).

Ao Secretariado, chefiado pelo Secretário-Geral, competia preparar a agenda para o Conselho e para Assembleia e publicar os relatórios das respectivas reuniões. O Conselho, com funções executivas, teve de início quatro membros permanentes (Inglaterra, França, Itália, e Japão) e quatro membros não-permanentes (os primeiros foram Bélgica, Brasil, Grécia e Espanha). O número de membros não-permanentes passou para seis em 1922 e para nove em 1926. A Alemanha, quando foi admitida em 1926, tornou-se no quinto membro permanente. O Conselho reunia geralmente cinco vezes por ano. Na Assembleia, cujas sessões se realizavam anualmente, cada Estado podia designar até três representantes e tinha direito a um voto.

De entre os Organismos dependentes da S.N., alguns alcançaram notoriedade internacional, tendo sido transferidos para a Organização das Nações Unidas (ONU) depois da II Guerra Mundial. Foi o caso do Tribunal Permanente de Justiça Internacional, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização de Saúde, reestruturada como Organização Mundial de Saúde (OMS). A OIT conseguiu que muitos países adoptassem a jornada laboral diária de oito horas e de 48 horas por semana, tendo também obtido sucessos relevantes na erradicação do trabalho infantil e no aumento dos direitos da mulher no local de trabalho. A Organização de Saúde empenhou-se em especial na erradicação da lepra, da malária e da febre amarela, tendo apoiado diversas campanhas para exterminar os mosquitos transmissores das duas últimas.

Outros Organismos prestaram importantes serviços à comunidade internacional.

O Conselho Central Permanente do Ópio tinha por função regulamentar e controlar a produção e comércio do ópio e dos seus derivados, tendo estabelecido um sistema de certificados de importação e autorizações de exportação para o comércio lícito de narcóticos. A Comissão de Escravatura não só se empenhou em erradicar a escravidão em todo o mundo, como combateu a prostituição forçada, tendo alcançado êxitos significativos nos

dois planos em países como Etiópia, Libéria e Serra Leoa. O Comité para os Refugiados cuidou da repatriação e reassentamento dos refugiados espalhados por toda a Europa (só na União Soviética havia dois a três milhões de ex-prisioneiros de guerra). Calcula-se que, em 1920, o Comité tenha ajudado 425 mil refugiados a voltar para casa. Em 1922 criou o passaporte Nansen como um meio de identificação para os apátridas.

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Passaporte NANSEN.

Foi há 100 Anos

Promulgação da Lei Seca nos EUA

Foi há 100 Anos

Promulgação da Lei Seca nos EUA

Alei que estabeleceu a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos EUA, conhecida mundialmente como Lei Seca, foi promulgada em 16 de Janeiro de 1920 e esteve em vigor até 6 de Dezembro de 1933.

O Movimento para a Temperança, nascido nos EUA no começo do século XIX sob a influência de líderes religiosos protestantes e de parte da intelectualidade progressista e liberal, começou por preconizar a moderação no comer e no beber. Em breve, porém, estava a reclamar a proibição total do consumo de bebidas alcoólicas. Esta intransigência chocou de forma iredutível com a avalanche de novos emigrantes vindos da Europa Oriental, onde o consumo dessas bebidas era um hábito generalizado, dando origem a elevados índices de ebriedade e de violência familiar nos EUA nos primeiros anos do século XX. Nessa altura, a maior parte da cerveja consumida no país era fabricada por emigrantes alemães e essa circunstância foi aproveitada pelos activistas da temperança para estimular a campanha abolicionista, sugerindo que a redução do consumo era uma medida patriótica.

Em 1917, quando os EUA entraram na I Guerra Mundial contra a Alemanha, o Congresso aprovou uma emenda à Constituição, conhecida como lei Volstead, a qual foi ratificada em Janeiro de 1919 por 36 estados da União, proibindo a venda,

a importação, a exportação, o fabrico e o transporte de bebidas com mais de 0,5% de teor alcoólico em todo o território dos EUA. Finalmente, em Janeiro de 1920, foi aplicada em todo o território sem que, repare-se, proibisse o consumo.1

Se bem que algumas fontes assinalem um decréscimo do consumo de bebidas alcoólicas no decurso de década de 1920, a verdade é que a procura se manteve e, para a satisfazer, começou a produzir-se ou a importar-se bebida de forma clan-

destina, dos países limítrofes – duas modalidades que alimentaram um conhecido pico do crime organizado.2

A Lei nunca contou com aprovação generalizada e a eclosão em 1929 da «Grande Depressão» serviu aos seus detractores de argumento para exigir que fosse revogada, alegando que a liberalização do fabrico e comércio das bebidas alcoólicas permitiria a criação de novos empregos. Em Março de 1933, a produção de cerveja foi autorizada. Nove meses mais tarde, a Lei Seca foi revogada.

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Autoridades policiais apreendendo um carregamento clandestino de bebidas.

Actualmente, embora a lei federal permita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de dezoito anos, vigora nos diversos estados uma grande variedade de leis que restringem a sua produção, venda e consumo. As excepções mais interessantes são as chamadas «leis azuis», de motivação religiosa, que proíbem o consumo aos Domingos. Mas ainda há localidades, sobretudo no Alaska, onde a venda3 continua a ser totalmente proibida.

1920 é uma data com ressonâncias saudosistas para um punhado de especialistas em aromas fortes nascidos em Portugal por meados do século passado. Quando tiveram idade para tal, começaram a consumir Aguardente velha 1920 (leia-se mil nove e vinte), uma «pomada» produzida pela casa Carvalho, Ribeiro e Ferreira (CR&F), cuja designação teria origem no facto de, no decurso da II Guerra Mundial, os EUA terem manifestado o desejo de comprar a Portugal grandes quantidades de aguardente, circunstância que incentivou os produtores a aumentar as suas reservas. Na esperança de a exportar para os EUA, a CR&F, uma das firmas mais conhecidas no negócio dos vinhos e dos brandies, criou então nos finais dos anos quarenta do século XX, a Aguardente velha 1920, em memória do início da «Lei seca».

Muitos Antigos Alunos que atingiram a idade adulta por volta de 1960 foram dignos consumidores da dita «pomada». Podia beber-se pura ou com Água Castelo, e neste caso tomava o nome de «uísque saloio».

1 A Lei contemplava algumas excepções. O vinho de Jerez, por exemplo, continuou a ser importado para uso medicinal e religioso.

2 Al Capone e outros conhecidos chefes da Máfia estadounidense ganharam milhões de dólares através do tráfico e da venda clandestina e, para além de terem corrompido um numeroso grupo de funcionários e polícias, lutavam violentamente entre si, provocando situações de extrema insegurança em muitas cidades norte-americanas. O número de indivíduos presos era elucidativo: antes da proibição, havia cerca de 4.000 reclusos nas prisões federais; em 1932 o número de presos subira para 26.859.

3 O consumo, curiosamente, não é proibido.

A Esgrima da AAACM

Desde o início da época 2018-2019 que a Sala de Armas da AAACM passou a treinar na Sala de Armas do Colégio Militar.

Foi uma mudança que muito agradou aos atletas da AAACM, bem como os do CM, que assim passaram a treinar com mais regularidade com atletas mais experientes e que tão bem conhecem, melhorando a sua esgrima.

Um agradecimento bastante grande à Direcção do Colégio Militar que tornou tudo possível.

A Sala contou com vários atletas, de várias idades e géneros, sendo 12 deles Antigos Alunos, onde a camaradagem, o convívio, a adrenalina dos assaltos, a emoção da competição, fez com que o espírito de equipa imperasse durante toda a época.

Sala de Armas do Colégio / Sala de Armas da AAACM..

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190/1990
(Vogal
A
Esgrima da AAACM

A Esgrima da AAACM

Um aspecto de um treino na nossa Sala de Armas..

A transição melhorou as condições de treino, em quantidade e qualidade. Houve uma reestruturação da equipa técnica, passámos a contar com 3 treinos semanais, físico e técnico, sempre virados para a competição e melhoria da composição física.

Continuamos de portas abertas, a Antigos Alunos ou outros amantes de esgrima, para nos visitarem, para verem como são os treinos e viverem o gosto que nós sentimos quando praticamos esgrima.

Entre tantas classificações ao longo do ano, de acordo com os objectivos pessoais de cada um, é importante realçar o Joaquim Videira, que além de passar a compor a equipa técnica da AAACM e do CM, como atleta alcançou o 1º lugar numa prova do Circuito Nacional de Espada Masculi -

na Sénior. Os atletas Gonçalo Alves, 270/08, e Vasco Coelho, alcançaram o 3º lugar no Campeonato Nacional de Espada, em Séniores e Juniores, respectivamente. O nosso Veterano, treinador e atleta, Alfredo Alves, ficou em 2º lugar na Taça Herculano Pimentel em Espada Veteranos.

Mais uma época começou, onde o fruto do trabalho dos treinadores do Colégio Militar, Joaquim Videira, Tenente Coronel Hélder Alves e Tenente Sofia Nascimento, deram lugar a um prestigiante 3º lugar no Circuito Europeu de Cadetes do aluno Diogo Vasconcelos Gonçalves Onofre, 461/2014. Não podemos deixar de nos sentir um pouco responsáveis por esta conquista, devido à troca de experiências entre os atletas do CM com os atletas da AAACM, não retirando o merecido mérito ao Diogo e aos seus treinadores.

Na senda de mais uma época cheia de espírito de equipa e bons assaltos, reforço o agradecimento à Direcção do Colégio Militar, a todos os treinadores e atletas da AAACM, toda a dedicação e empenho.

En garde! Vamos Equipa!

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Remodelação da Sede da Associação

Na ZacatraZ nº217, de Outubro/Dezembro de 2019, no artigo intitulado «Homenagem ao anterior Presidente da Direcção da AAACM» , referimos que se tinham aproveitado os meses de Verão, para se fazerem obras de manutenção no Quartel da Formação, ou Prédio Militar nº34 (PM 34) e para se remodelar a sede da nossa Associação.

As paredes dos edifícios que dão para o grande pátio interior do Quartel da Formação, há dezenas de anos que não eram pintadas, apresentando-se num estado de degradação, que conferia ao local um aspecto que não era condigno com a presente utilização do Quartel. Face a esta situação, a nova Direcção da Associação decidiu mandar pintar e reparar, onde necessário, os rebocos das paredes, dando ao conjunto uma aspecto muito mais acolhedor, para quem utiliza a sede da nossa Associação e o Lar da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. Pode-se dizer, que aquele grande espaço ficou agora de «cara lavada».

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71/1957
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa Vista Aérea do Quartel da Formação..
Sede
Associação
Sala de Convívio da Sede da Associação.
Remodelação da
da

Remodelação da Sede da Associação

Quanto à sede da nossa Associação, foi feita uma remodelação interior, com uma alteração do uso dos vários espaços. Conseguiu-se com a remodelação feita criar uma aprazível sala de estar para os associados, dotada de confortáveis maples, de um grande ecrã de televisão e de mesas de jogo.

Dado uma imagem valer mais do que mil palavras, nada mais dizemos sobre os trabalhos executados, apresentando-se um conjunto de fotografias das instalações recuperadas/remodeladas.

Terminamos convidando todos os Antigos Alunos a usufruirem das instalações remodeladas da Sede da nossa Associação. Está-se bem. É um local aprazível para um convivio de fim de tarde.

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Pátio interior do Quartel da Formação.. Portão de entrada no Quartel da Formação a partir da Azinhaga das Carmelitas. Pátio interior do Quartel da Formação..

A ‘Moeda’ como um símbolo Nacional

Não sendo o único símbolo nacional (a bandeira, o hino e a língua são fundamentais), a moeda dum país também é sem dúvida, um dos mais importantes.

Sempre foi assim, desde a invenção da ‘moeda’ , até à criação do Euro (e continua a ser assim para todos os países que não adoptaram o Euro em substituição da sua ‘moeda’ , perdendo não só esse símbolo de independência, como – na prática –a capacidade de ajustar, de acordo com os seus interesses específicos, o valor relativo da sua moeda, às restantes).

Resta-nos a ‘liberdade vigiada’ pelo BCE (Banco Central Europeu) de emitirmos um número limitado de moedas comemorativas, como por exemplo a de 2 Euros, que produzimos em 2017 e é alusiva aos 150 anos da PSP – Polícia de Segurança Pública (onde se podem ler, entre outras, as palavras ‘DIREITOS’, ‘LIBERDADES’ e ‘GARANTIAS’).

A 1ª moeda no mundo

‘Diz-se’ que a invenção da ‘moeda’, substituindo progressivamente o comércio da troca directa entre produtos, pertence ao rei Aliates do reino da Lídia, no século VII A.C.

Este reino estava situado numa zona geográfica que actualmente integra o

território da Turquia. O rei Aliates terá utilizado um minério denominado ‘electro’, donde terá retirado a prata e o ouro. A moeda terá sido fundida num formato mais ou menos oval, utilizava o ouro e a prata na proporção de 4:1 e era cunhada com a efígie dum leão, que seria o símbolo da família real (e do reino).

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Moeda alusiva aos 150 anos da PSP - Polícia de Segurança Pública. A ‘Moeda’ como um símbolo Nacional

Minério de produção da primeira moeda.

O seu valor para troca por produtos seria muito variável, desde um certo número de cabras à alimentação necessária para um mês (negociação entre o comprador e o vendedor).

Em Portugal, a 1ª moeda foi cunhada em 1180, após D. Afonso Henriques ter sido reconhecido como rei de Portugal pelo Papa Alexandre III.

O Papa emitiu a 23 de Maio de 1179 a bula Manifestis Probatum Est Argumentis (assinada também pelos 23 cardeais mais importantes) em que reconheceu o então Condado Portucalense como sendo o reino de Portugal, independente do reino de Leão; D. Afonso Henriques era o seu Rei, e os seus descendentes seriam os legítimos herdeiros do trono. Só o seu reconhecimento formal de que PORTUGAL era de facto um Reino independente, estabelece a existência real de PORTUGAL como País, reconhecido por todos os restantes reinos Europeus e que, como tal, abandonavam quaisquer eventuais ideias de (re)conquista, face à tremenda ameaça do Papa (afirmada no 5º parágrafo da bula papal que reconhecia a existência de PORTUGAL como país independente) de os excomungar e de nem sequer lhes permitir o direito a um enterro com a presença de qualquer membro do clero (o que era uma arma talvez mais poderosa – na Europa ocidental do sécu-

lo XII – que a bomba atómica em 1945).

Com este reconhecimento papal, D. Afonso Henriques deixou de ser um ‘Senhor da guerra’ com sucesso e passou a ser, reconhecidamente, um Rei.

Não obstante o mais antigo documento existente com a menção do rei de Portugal D. Afonso Henriques (que se encontra na Torre do Tombo) datar de 1140 e nele de facto aparecer a designação de D. Afonso Henriques como ‘Portugalensium Rex’, é minha opinião – e como historiador amador que me prezo de ser, posso dar-me a esse luxo de ter uma opinião não coincidente com a ‘oficial’– que Portugal só é realmente um país independente (e D. Afonso Henriques o seu rei) a partir de 23 de Maio de 1179.

Não é coincidência datar precisamente de 1180, a 1ª moeda portuguesa que D. Afonso Henriques mandou o seu ministro das finanças, Yahia Ben-Yahia (líder religioso e político judaico, e Rabino-Mor de Portugal) produzir. Como rei reconhecido pelo Papa e por toda a Europa Ocidental, D. Afonso Henriques mandou então cunhar moeda (um privilégio real).

A primeira moeda portuguesa teve a designação de ‘dinheiro’ (os ‘meios-dinheiros’, que se chamavam mealhas, fizeram aparecer na língua portuguesa outra palavra: os

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mealheiros!). Estas moedas eram feitas de bolhão, uma liga de prata e cobre. ‘Eu sou o Alfa e o Omega / ‘Eu sou o Princípio e o Fim’ (disse o Senhor Deus - Apocalipse 1:8,11) Anverso e reverso da 1ª moeda portuguesa - o ‘dinheiro’ Moeda com a efígie de um leão. A ‘Moeda’ como um símbolo Nacional

A ‘Moeda’ como um símbolo Nacional

Uma face desta moeda tem gravadas a 1ª e a última letra do alfabeto grego (alfa e omega) com a cruz latina (o mais conhecido símbolo do cristianismo) entre elas. A outra face tem gravada a cruz judaica de 6 pontas! (Extraordinário!).

As mealhas deixaram de ser fabricadas por volta de 1220, no reinado de D. Afonso II, mas ― por serem necessárias para trocas ― mantiveram-se engenhosamente em circulação, com a população a cortar os dinheiros mais ou menos ao meio!

Para efeitos ‘contabilistícos’, 12 dinheiros valiam um soldo. A designação de soldo vem de uma antiga moeda romana (solidus) e esta palavra – soldo – era na Idade Média utilizada para designar o pagamento aos soldados.

A 1ª moeda portuguesa em ouro

Por volta de 1200, D. Sancho I introduziu o morabitino em ouro que valia 15 soldos (e que era uma resposta ao dinar 1 muçulmano).

O morabitino foi a primeira moeda de ouro a ser cunhada em Portugal. No seu anverso, D. Sancho, coroado, é representado a cavalo, com uma espada alçada numa mão e o cetro encimado pela cruz na outra (grafismo que é visível, se necessário com o auxílio duma boa lupa). No reverso, vêem-se as armas reais. Além do seu valor económico, a sua cunhagem tinha uma dupla simbologia:

• afirmar o poder real no reino, tanto pela representação do papel de guerreiro do soberano, como pelo

prestígio da sua prerrogativa de cunhagem de moeda;

• afirmar o prestígio da monarquia portuguesa, diante dos demais reinos peninsulares.

D. Afonso V, D. João V e os seus sucessores até 1822).

O seu nome é devido a ter numa das faces o escudo das quinas coroado. Eis uma imagem de um escudo em ouro.

O ‘morabitino’ em ouro.

Para terminarmos esta referência às mais marcantes moedas portuguesas, falemos sobre o escudo:

O ‘Escudo’ em Ouro

O nome ‘escudo’ já vem do reinado de D. Duarte, o nosso primeiro rei que terá mandado cunhar moedas em ouro com aquela designação (no que foi seguido por outros monarcas, nomeadamente

Escudo em ouro, D. Afonso V (1432-1481).

O ‘Escudo do século XX’

(e até ao final de 2001) foi certamente a moeda mais representativa da minha geração (e da república portuguesa).

Eis dois exemplares da moeda de um Escudo da república portuguesa.

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Interessante notar que a efígie da ‘República Portuguesa’ tem orientações opostas nas moedas apresentadas. Desconheço a sua justificação (política ou simples opção artística?). O metal de que era feito o ‘escudo’ do século XXfoi variando ao longo dos anos:

1914-1923 prata; 1924-1926 bronze-alumínio; 1927-1968 alpaca; 19691979 bronze; 1980-2001 latão-níquel. E assim acabou – em 2001 – o ‘escudo do século XX’, como moeda-símbolo de Portugal.

Numa rápida retrospectiva económica/ financeira direi que o ‘escudo do século XX’ foi desde a sua criação em 1914, uma moeda estável, até o nosso sistema económico e financeiro começar a sofrer as consequências da revolução de 25 de Abril de 1974. A partir dessa data, a prioridade dada aos aspectos urgentes e fundamentais de mudança de regime (com a implementação duma democracia de tipo ocidental após 48 anos de uma ‘ditadura de partido único’) produziu uma deterioração clara da produção nacional e exportação de produtos e o valor do nosso escudo foi-se progressivamente deteriorando através do recurso a uma técnica controlada pelo governo, de desvalorização cambial mensal (crawling peg).

Eis como exemplo desse empobrecimento, a taxa de conversão entre o nosso ‘escudo do século XX’ e a libra esterlina (Grã Bretanha) em 3 momentos diferentes, até à conversão definitiva para o Euro:

DEZ 1975 – 55 escudos por libra MAR 1979 – 100 escudos por libra JUN 2001 – 335 escudos por libra

O Governo português decidiu entrar para a UE – União Europeia em 1986, aderiu ao Espaço Schengen em Março de 1995 e ao Euro em Jan 1999 (início contabilístico) ou Jan 2002 (utilização da moeda), sem nunca ter pedido a opinião dos portugueses. Os nossos governos ‘pós 25 de Abril de 1974’ entenderam (e os partidos políticos concordaram) que os eleitores, ao elegê-los, lhes davam plenos poderes para decidir tudo o que dissesse respeito ao país, incluindo uma significativa redução das independências legislativa, judicial, económica-financeira, de neutralidade e da liberdade de expressão, submetendo o país às exigências sempre crescentes da União Europeia, em troca dos benefícios materiais que recebe. Há que referir, em abono da verdade, que a maior parte dos governos da Europa têm procedido da mesma maneira (sem terem tido qualquer revolução e/ou mudança abrupta de regime). Refiro no entanto que 3 países cujos governos fizeram um referendo perguntando aos eleitores se desejavam a União Europeia (Noruega, Suiça e Grã-Bretanha) ou não entraram ou sairam. Notemos ainda que em 2005, os eleitores da França e da Holanda pronunciaram-se negativamente sobre uma eventual Constituição Europeia (que por necessitar da unanimidade dos países membros para poder existir, ‘desapareceu’). Como consequência da globalização em curso e da evolução de aspectos educacionais e da sociedade (e talvez também do desaparecimento do serviço militar obrigatório que, a ser recuperado, devia ser para ambos os sexos, por razões

educacionais e de igualdade) deu-se – em minha opinião – como que um desvanecimento relativo de aspectos relacionados com a nacionalidade. O desaparecimento da moeda-símbolo do país, assim como a habituação ao facto de pertencermos a um todo europeu ( no qual representamos menos de 2% do total de habitantes), também contribuiram para a diluição do ‘orgulho nacional’.

Eu digo ainda, a título de exemplo final –acho que li não sei onde – que quando eu tinha 18 anos, mais de 90% dos adolescentes sabiam a letra do hino nacional (que a minha memória ainda conserva). Actualmente, talvez 10% dos menores de 21 anos a saibam na sua totalidade. Termino este texto com um ditado antigo (que aqui utilizo num aspecto um pouco filosófico): ‘Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal’.

A vida dos países (e das pessoas) é feita de contrapartidas e não há nenhuma opção que só tenha virtudes. O enriquecimento duma sociedade em aspectos democráticos e humanitários não é normalmente acompanhado pelo enriquecimento material (pelo menos enquanto se dão mudanças radicais em catadupa – provocadas por uma revolução – nessa mesma sociedade); mesmo que tenha sido uma revolução que – ‘caso único’ em revoluções – quase não provocou perda de vidas humanas (o que mesmo aqueles que não gostam de respeitar Portugal se vêm obrigados a considerar extraordinário e – para eles - inexplicável).

Uma confissão final de tipo pessoal: devido à minha idade e aos quase 60 anos de convivência com o ‘escudo do século XX’ – eu continuo a considerar o Euro como uma divisa estrangeira que ‘não me diz nada’, mais ou menos como a coroa sueca ou o franco suiço (e não é agora, aos 80 anos de idade, que vou conseguir considerá-la como uma moeda-símbolo de Portugal). Restam-me a bandeira, o hino e a língua.

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1915 - Escudo da República Portuguesa. 1927 - Escudo da República Portuguesa. A ‘Moeda’ como um símbolo Nacional

A Viagem do Allegro

A Volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

Allegro

A Volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

(Arquipélago de Galapagos)

Estamos em Galápagos onde chegámos a 19 de fevereiro de 2015, à Ilha de San Cristobal, Baía Moreno, na cidade de Puerto de Baquerizo Moreno, a capital do arquipélago de Galápagos, vindos do Panamá, Ilha de Contador. Foi uma viagem bastante agitada e variada no que diz respeito à meteorologia, pois passámos por todas as situações – ventos fortes a zero de vento!!!! A aproximação foi feita com grande cuida-

do, porque a quantidade de pequenas ilhas e rochedos que se encontram disseminados entre as ilhas principais é enorme, algumas delas não estão sinalizadas na cartografia digital, com a agravante de não terem qualquer farol, o que torna a navegação nestas águas, durante a noite, muito perigosa.

Apesar da cartografia desta região não ser má, pode e deve ser completada pela

aquisição de Pilotes, que são publicações de carater informativo à venda nos estabelecimentos da especialidade. Estes livros representam uma ajuda valiosa, principalmente em águas «apertadas», como é o caso das entradas dos portos, canais e todas as zonas cujas ilhas e ilhotas estão rodeadas de cordões ou anéis de corais; dispõem de cartas de aproximação, com escalas grandes, que permitem obter um

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António Rui Prazeres de Castilho 147/1948 Foto nº1 Da cidade do Panamá ao Arquipélago de Galápagos. Galápagos

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pormenor superior ao da cartografia digital normal, para além de outras indicações de caráter local – nomes e contactos, via rádio ou telefónico, das marinas, estaleiros, oficinas, velarias e todo o comércio ligado aos barcos. Não faltam também referências à vida mundana, artística e desportiva, não sendo esquecida a hotelaria e a restauração, com referência especial à gastronomia da região.

Mesmo assim, com toda esta informação disponível, mais aquela que os instrumentos de bordo nos fornecem ― GPS, radar, AIS e sonda ― além da eletrónica relacionada com as velas, força e direção do vento, velocidade do barco, toda a tripulação tem obrigatoriamente que estar em «alerta ver-

é Arquipélago de Colon, apesar de serem habitualmente conhecidas por Galápagos. O arquipélago é de origem vulcânica e é formado por mais de uma dezena de ilhas principais e uma grande quantidade de ilhotas e rochedos.

É habitat de uma fauna muito particular, como as tartarugas de Galápagos, pinguins, pelicanos, leões marinhos e iguanas que são vistos em grandes quantidades por toda a ilha, à exceção das tartarugas. Os leões marinhos vivem descontraídos por tudo quanto é sítio, independentemente de serem locais normalmente frequentados por pessoas. Saltam e instalam-se com todo o seu volume e peso nas praias, bancos dos jardins, passeios e barcos, de preferência os catamarans.

português, que fazia parte de um grupo científico espanhol, que nos informou:

“Galápagos é um autêntico paraíso para qualquer investigador, graças a Charles Darwin, e, também ao governo equatoriano que controla rigorosamente todos os pedidos de estudos científicos, preservando assim a biodiversidade do seu parque natural, local de uma fauna e flora invejável, e, com todo o direito, património mundial”.

A chegada foi preparada com algum cuidado e antecedência, tendo em vista as restrições impostas pelas autoridades no que respeita à entrada de produtos alimentares, separação de lixos orgânicos e recicláveis e o uso do tanque de águas sujas, durante a permanência no arqui-

melho». Nestes casos, a navegação à vista é indispensável, detetando e colmatando qualquer falha dos aparelhos. Mas lá chegámos, sãos e salvos, a mais um porto de abrigo.

As ilhas Galápagos ficam situadas no Oceano Pacífico, a cerca de 850 milhas náuticas da costa ocidental da América do Sul. Administrativamente são parte integrante do Equador e o seu nome oficial

Desde a estadia de Charles Darwin nesta região, Galápagos ficou a ser considerado o principal laboratório natural do mundo.

Darwin era um naturalista, geólogo e biólogo inglês, que, numa viagem à volta do mundo, encontrou nesta zona uma fonte inesgotável de material para os seus estudos. O seu nome pode ser visto e mencionado por todo o lado. Ocasionalmente, cruzamo-nos com um

pélago. A limpeza do casco do barco era fundamental para a fiscalização. Nós não tivemos problemas, pois o do Allegro estava impecável, tendo sido feita a última intervenção há pouquíssimo tempo, em Shelter Bay. À hora marcada, a polícia entrou a bordo tendo verificado e concluído que tudo se encontrava de acordo com as normativas do governo. Foi uma boa notícia, pois a partir deste momento, ficámos autorizados a ir a terra. As desloca-

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Foto nº2 Leões marinhos no catamaran. Foto nº3 Leão marinho deitado num banco.

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também possível tratar de alguma documentação oficial e saber qualquer tipo de informação.

Nesta altura da viagem as pessoas já se iam conhecendo relativamente bem e estes fins de tarde eram sempre animados e divertidíssimos, pois, após alguns dias de mar, havia sempre histórias «Trágico-Marítimas», felizmente mais marítimas do que trágicas, para as tripulações trocarem entre si. Com muito poucas exceções, as tripulações eram bastante abertas e gostavam de partilhar as aventuras e desventuras da última «perna» – a escolha das melhores rotas, ventos, estado do mar, mareações, a culinária e as avarias ― tema muito sensível e de grande importância

baterias, não havendo simultaneamente corrente para alimentar o dessalinizador, congelador e frigorifico – desastre total. O gerador é uma peça à qual eu sempre apelidei de “equipamento envenenado”!!! Não diria que se trata inevitavelmente de um aparelho indispensável, mas contribui seguramente para melhorar a qualidade de vida a bordo e torná-la mais cómoda. É uma realidade indiscutível: quando avaria, há que resolver o problema, o que nem sempre é fácil.

Em terra, ou se repara ou se substitui por outro; no mar, eventualmente, poderá ser reparado se alguém da tripulação tiver conhecimentos e a solução for viável. Caso contrário, e seguindo o

ções eram feitas por táxis aquáticos, que esperavam no cais pelas chamadas dos barcos, através de um contacto via rádio (VHF) num determinado canal, escolhido e fixado para o efeito.

Diariamente havia um encontro das tripulações no Hotel Micónia, entre as seis e as oito da tarde, ao qual chamavam happy hour. O local foi bem escolhido, agradável, proporcionando um ameno convívio dos velejadores e onde era

na vida a bordo. Pequenas ou grandes são sempre indesejáveis, principalmente em alto mar, onde a possibilidade de reparação é sempre diminuta.

Quando chegámos a Galápagos, infelizmente, tínhamos uma avaria no gerador, um equipamento fundamental para a vida de um veleiro, numa viagem como a nossa. O Luís descobriu que, apesar de trabalhar, não produzia energia. Sendo assim, não carregava as

velho ditado popular ― “Quem vai para o mar avia-se em terra” ― pela experiência que tenho destas «vidas», levar um gerador portátil, tipo Honda, resolve provisoriamente o problema. Este recurso é válido também para barcos que não tenham gerador e produzam energia a partir do alternador do motor central. Outrossim posso afirmar, que o mesmo conceito funciona para quem viaja em águas como as das ilhas do Pacífico, onde os recursos técnicos e logísticos são

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Foto nº4 Mapa do Arquipelago. Foto nº5 Leões marinhos na praia, com a Teresa Gago. Foto nº6 Leão marinho nas rochas.

A

Viagem

do

Allegro A Volta ao Mundo do Veleiro onde também navegou a Barretina

praticamente nulos!!!! Infelizmente o Allegro não tinha o dito “Honda”.

O Luís conseguiu, logo, no dia seguinte à nossa chegada, que um eletricista viesse a bordo reparar a avaria ou melhor tentar, porque o homem fez os impossíveis (o possível, para ele, era impossível). Nem a causa foi detetada, nem a avaria resolvida.

Enquanto tudo isto se passava, possivelmente, debaixo do olhar sempre atento do Comandante Adão, a Teresa Gago e eu partimos para um grande, mas cansativo passeio ao Junco da Lagoa. É uma montanha agreste, com paisagem vulcânica, quase lunar, mas que termina numa lagoa incrivelmente bela!

vulcânica que por qualquer motivo, abriu uma fissura, dividindo-a em duas partes. Parece uma escultura talhada pela mão do Homem, que sai da água como por magia! Mas não, é um monumento da natureza criada pela mão de Deus, o Criador.

O barco a motor parou à entrada dos dois rochedos onde saltámos para a água. Como quase todos estávamos equipados com material de mergulho, foi possível, dar a volta completa às duas pedras, apreciando toda a sua beleza exterior ― rochas, grutas e uma grande variedade de aves, principalmente alcatrazes e fragatas. Para os que sabiam mergulhar, ou, apenas praticar snorkeling, então, o espetáculo foi completo.

Um almoço volante foi servido a bordo e ainda tivemos tempo de visitar uma praia, onde vimos leões marinhos, caranguejos vermelhos e iguanas. Não perdemos a oportunidade de tomarmos um bom banho de mar nestas praias com água a 28º!!!!!

Foi um dia inesquecível, completo, de ótimas surpresas que fará certamente parte das histórias a relembrar e mais tarde contar em reuniões familiares e de amigos.

As coisas más são para esquecer, mas neste caso era impossível – o gerador –o problema tinha de ser resolvido, pois a próxima «perna» era a maior da volta, estimada pelo ARC em 15/22 dias, para

Como nesta ilha não se resolvia a dita, ou mais corretamente, a maldita avaria, alinhámos todos num passeio imperdível, ao rochedo Ricker Rock, situado a poucas milhas de San Cristobal. A viagem foi feita numa lancha, que, por sorte, conseguiu aproximar-se a poucos metros de uma grande baleia, entre outras, e só depois, a pouco e pouco, começámos a apreciar a famosa e não menos imponente pedra. Trata-se de uma enorme rocha

Conseguimos ver tubarões, jamantas, tartarugas e uma infinidade diferente de peixes. Magnifico, deslumbrante, foi sem dúvida, a travessia da zona que separa as duas rochas. Com cerca de quarenta metros de largura e uma altura que não deu para precisar, mas era muito alto, a sensação de pequenez que sentimos era infinita. É um local raro, difícil de encontrar novamente! Podemos darmos por felizes de ter tido a sorte de o visitar e fotografar.

uma distância de cerca de 2.980 milhas náuticas. O nosso cálculo era bem menos otimista em relação a estes dois dados, principalmente ao tempo que esta distância nos levaria a fazer, conhecidas que já eram as limitações do Allegro. Este conhecimento era fruto da experiência adquirida desde que saímos de Portugal. Experiência que não foi de todo negativa, mas sim muito saudável, pois ao preparar a logística de aprovisionamento contávamos sempre com

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Foto nº7 Paisagem lunar. Foto nº8 – Rochedo Ricker Rock.

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as prestações reais do barco. (Nunca foi declarada fome a bordo!!!).

O Per e a Christine eram nesta altura tripulantes do Ayama, do Stefan Berg e da Ana, e o Per para além de marinheiro era também mecânico, eletricista, enfim, sabia um pouco dos problemas que normalmente afetam um barco. Sendo assim, prestava serviços nos barcos que necessitavam dos seus trabalhos e como já o conhecíamos de encontros anteriores, o Luís Adão pediu-lhe para verificar o gerador. Esteve várias horas de volta do aparelho, descobrindo que havia dois fusíveis fundidos. Acabaram por jantar no Allegro com a promessa de no dia seguinte tentar novamente, mas o Luís decidiu arrancar, para a ilha de

no ferry para Santa cruz e reservou um quarto no hotel.

Segundo o plano B do Allegro, partimos também para Santa Cruz, cedo, para navegar as 48 milhas que separam as duas ilhas. O pouco vento que soprava não era suficiente para navegar à vela, por isso tivemos que ligar o motor, chegando a Santa Cruz às 15.00 horas com uma viagem de 8.30 horas.

Logo que chegámos, depois de arrumar o essencial, fomos a terra entrar em contacto com o agente do WCC, o Sr. Ricardo Arenas, que nos informou já ter falado ao eletricista e que ele estaria disponível para ir ao barco ainda hoje. (Não acreditámos muito !...)

uma escola que já tinha contactado. Fui buscar o fato de neoprene ao barco e lá nos apresentámos no local combinado. Confesso que não ia muito à vontade, estava habituado a mergulhar com os meus professores, com a minha escola e naturalmente tinha por eles e com eles uma confiança sem limites, o que é essencial numa situação e num ambiente de risco em que nada pode falhar. A vinte metros de profundidade dá para nos divertirmos, apreciar e encantarmo-nos com a beleza incomparável da natureza, fotografar, mas não dá para brincar nem ultrapassar ou desrespeitar a mínima regra de segurança!!!

Depois das apresentações da praxe, o orientador delineou o esquema de mer-

Santa Cruz, Puerto Ayora, onde segundo informações, seria o local com mais recursos técnicos para resolver a avaria. Entretanto, a Teresa Gago que tinha os dias de férias contados, com voos marcados para Lisboa, foi a terra para tentar organizar a sua estadia em Galápagos, de forma a conhecer pelo menos mais duas ilhas que estavam previstas no programa ― Santa Cruz e Isabela ― Desconhecendo a decisão do Luís, por já se encontrar em terra, comprou uma passagem

Não foi difícil nas poucas voltas que demos, num centro tão pequeno como é o de Santa Cruz, deixar de encontrar a Teresa, trocando desde logo as últimas novidades, como não podia deixar de ser, sobre o gerador.

A Teresa como sabia que eu tinha o curso de mergulho e trazia indicações da minha escola, que Galápagos era um local privilegiado para a prática deste desporto, propôs que fossemos mergulhar com

gulho, distribuiu as pessoas por grupos e seus responsáveis, baseando-se na experiência que cada um declarou, e do número de mergulhos, distribuiu o equipamento e lá embarcámos num semirrígido. O barco estava bem apetrechado, para a prática deste desporto, com o respetivo aparelho porta garrafas, ao centro, e dois motores fora de borda. Com todos estes preparativos que me eram familiares, mais a viagem até ao local previsto pela organização, o ar des-

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Foto nº9 Rochedo “Ricker Rock” fenda entre as duas rochas. Foto nº10 Tubarão.

contraído da tripulação e da maioria dos meus companheiros, incluindo a Teresa Gago, sempre simpática, amável e bem-disposta, comecei a relaxar. Finalmente o profissionalismo que o orientador e a sua equipa transmitiam ― picaram bem picadinho o meu stress, derreteram-no por completo ― e eu iniciei o meu mergulho, bem descontraído e confiante. No primeiro vimos tubarões, raias e uma enorme variedade de peixes. Mudámos de local, foi servida uma pequena refeição, para retemperar as forças, antes do segundo mergulho; de seguida, voltámos para a água, desta vez para os vinte metros, mesmo junto ao fundo, que variava entre zonas lisas de areia fina e rochas salpicadas de corais multicolores, uma vegetação de verdes ton

cerca de dois metros. Vimos mais tubarões, jamantas e tartarugas.

Foi realmente um dia fantástico com a vantagem de ter a água a 23º.

Eu reclamei o preço debitado, 150 dólares por dois mergulhos, que era cinco vezes o valor praticado na Europa. A resposta foi tão simples como isto:

“Mas não é nestas maravilhosas águas de Galápagos?”

Perante isto, não há nada a fazer, só nadar, mergulhar e pagar!!!!!

O bom do eletricista, (bom ou mau, não sabíamos), era o que havia na

do TM, de idas e vindas a terra para comprar e substituir os fusíveis por uma placa de disjuntores, o trabalho recomeçou lentamente da parte da tarde, com o mesmo tipo de paragens e viagens a terra para adquirir e retificar isto e aquilo. Finalmente o Sr. Cláudio deu o trabalho como pronto e pediu ao Luís Adão para ligar tudo ― e tudo funcionou!!!! O gerador estava a trabalhar. Para nós, pela importância que a avaria representava, pareceu-nos um milagre, para o Sr. Cláudio, somente e por momentos, um semblante de satisfação percorreu-lhe a face, pois, na sua genuína simplicidade continuava a transparecer um olhar calmo, como se nada de importante tivesse feito.

sur ton e uma quantidade de peixes, de todas as cores, que saiam e corriam por tudo quanto era sítio. Uma maravilha da natureza, que bem mais parecia estar a sair de um documentário extraordinário da National Geographic, do que de um simples e normal mergulho comercial.

Tive ainda a sorte de encontrar e filmar um tubarão que estava parado, colado à areia e que me permitiu, nadando encostado ao fundo, aproximar-me até

terra, o Sr. Cláudio, cumpriu com o combinado e apareceu no Allegro da parte da manhã. Era um homem de aspeto simples, mas transparecia nele um olhar vivo, atento e recetivo a tudo que o Luís Adão detalhada e rigorosamente lhe descrevia, principalmente as démarches que tinham sido feitas até então, sem esquecer o problema dos fusíveis. Depois de variadíssimas interrupções de trabalho, porque o Sr. Cláudio era muito solicitado através

O universo dos leitores do Zacatraz é grande e grande também é o leque dos seus interesses, em relação aos temas de leitura, por isso, no tocante a alguns deles que tenho apresentado, por exemplo os de natureza náutica, com toda a sua terminologia, tenho tido o cuidado de os abordar com alguma ligeireza. De qualquer forma, no caso presente do gerador, foi descrito com algum pormenor, inclusive o de mencionar o nome do eletricista, o Sr. Cláudio, que não terá interesse para

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Foto nº11 Jamanta. Foto nº12 Pinguins de Galápagos.
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muitos, mas fi-lo propositadamente na hipótese de ser útil a algum de vós, que ao navegar por aquelas paragens, com problemas parecidos, saiba onde, como e a quem recorrer. Outrossim alertar que estas ilhas do Pacífico são, como todos sabemos, de uma beleza extraordinária, mas também de um atraso tecnológico e social impensável, facto que causa, por vezes, sérios problemas técnicos e logísticos aos navegadores.

Reposta a situação de normalidade do gerador foram repostos também os níveis da tripulação que iria fazer a grande travessia do Pacífico, a Manuela, o Luís e eu, porque a Teresa infelizmente deixaria o Allegro em Galápagos, rumo a Portugal, via aérea, transporte

confusão com os lugares e a lotação do barco dando direito à intervenção da polícia marítima para colocar ordem, naquela desordem total. Segundo nos contaram é uma situação normal, pelo que nada pareceu estranho para toda aquela gente já habituada a viver assim. Finalmente depois de saneados os principais problemas, as autoridades deixaram sair o ferry, que, depois de duas horas de viagem, chegou ao porto de Villamil.

Depois de instalados no Hotel e para aproveitar o dia, embarcámos numa lancha para dar um passeio na baía o que nos permitiu ver várias colónias de pinguins de Galápagos, iguanas e fragatas.

de terceiro mundo, apesar de implantada num local cuja beleza natural é fascinante!!!

O último dia em Isabela foi dedicado à subida do vulcão Sierra Negra. Começou com uma viagem de camioneta com bancos de madeira, por uma picada em muito mau estado, cheia de covas. Fomos bem chocalhados durante quarenta minutos, até ao fim deste caminho em terra batida, que por falta de manutenção se foi progressivamente degradando ao longo de sucessivas épocas de chuva. Quem viveu em Africa, no mato, militar ou civil, sabe bem do que estou a falar. Mas tudo bem, não viemos de tão longe, navegando como Fernão de Magalhães, julgando

sem dúvida mais rápido, mais cómodo, mas muito menos interessante. Faltava a Ilha de Isabela por visitar e concluímos, depois de algumas hipóteses postas na mesa, que a viagem de ferry, com estadia de dois dias e dormida uma noite num hotel, seria a solução mais viável e económica. Fizemos as reservas e no dia seguinte, 26 de fevereiro de 2015, bem cedo, arrancámos para Isabela. Uma organização péssima no embarque gerou uma

Regressámos à vila e a partir do centro fizemos uma grande caminhada para visitar um lago com flamingos, um centro de criação de tartarugas gigantes e por último um local com tubarões do recife, também chamados de tintureiras.

Neste passeio a pé deu para observar e concluir que a falta de um plano urbanístico, aliado possivelmente a reduzidíssimos recursos económicos façam de Porto de Villamil uma terra

que iriamos encontrar autoestradas em Galápagos; viemos para ver paisagens incríveis com que a natureza nos delicia e tudo o mais que não há em Portugal. Sendo assim, mãos à obra, ou melhor, pés ao caminho, porque nos esperavam três horas de caminhada nada fácil, por montes e vales pedregosos e irregulares até chegar à maior cratera do mundo – 10 km de diâmetro. Não há palavras que descrevam, nem máquinas fotográficas que

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Foto nº13 Iguanas. Foto nº14 Fragatas.

consigam registar esta paisagem!!! Conheço bem o nosso arquipélago dos Açores e as suas caldeiras espalhadas pela maior parte das ilhas, elas encantam-nos pela beleza, o verde da vegetação e o recorte do seu desenho a uma escala acessível ao primeiro olhar e à nossa imaginação; mas a caldeira da Sierra Negra é tudo isto, mas extravasa tudo isto, pela sua vastidão.

Quase refeitos da caminhada e por tudo que nos foi dado ver e apreciar, continuámos a andar para NE para ver a cratera do vulcão Chico e a incrível paisagem que de lá se avista.

O caminho de regresso fez pensar muita gente, mesmo os mais novos, (eu

um barco. Mas felizmente tudo correu bem. Apesar de estafados, todos demos por bem empregue este esforço de seis horas.

Neste mesmo dia, regressámos a Santa Cruz, ao fim da tarde, onde começámos a planear tudo o que era necessário para a grande travessia do Pacífico.

O abastecimento de gasóleo foi a primeira coisa a ser tratada, porque o sistema existente não era de todo rápido nem prático. Os veleiros não tinham possibilidade de atracar ao único cais existente, o do ferry, nem havia uma bomba de combustível nesse cais. De véspera, o precioso produto era encomendado, numa quantidade X, julgada suficiente, e digo julgada, porque

gunda feira é que vinham buscar estes pequenos depósitos para encher!!!

Mais uma vez, foi feita a descrição de uma tarefa, que, em Portugal ou noutro país da Europa, se reveste de uma simplicidade extrema, mesmo para a mais amadora tripulação, aqui, é um berbicacho de primeira apanha.

Hoje é domingo, dia 1 de março, assisti a uma celebração católica na igreja local e esperei que a Teresa Gago chegasse do hotel para me despedir, pois apanhava o avião para Portugal. Foi uma curta, mas simpática passagem pelo Allegro porque a Teresa, para além de uma ótima velejadora é também uma boa AMIGA.

era o mais velho) pois eram mais três horas, que fatalmente teriam que ser feitas e, infelizmente, pelo mesmo caminho. (Que falta de imaginação, diria a Senhora minha Avó). Atendendo ao acidentado do terreno, à irregularidade do piso e aos meios de resgate existentes na ilha, em caso de se verificar um acidente, podemos considerar que foi uma caminhada de risco, principalmente para velejadores que caminhar não é a prática mais comum dentro de

com exatidão não é possível saber o líquido que falta para atestar qualquer tanque, o que para nós era fundamental, atendendo à distância que havia a percorrer.

Com um atraso de três horas, chegou um barco a remos com três homens e vários depósitos de gasóleo, que foi trasfegado diretamente para os nossos tanques, mas insuficiente para atestar os jerrycans. Como era sábado, e entrava o fim de semana, só na se -

Neste dia já tinha perdido uma tripulante e logo de seguida perdi o meu telemóvel, ficou esquecido no banco do jardim, estou a vê-lo. Que cabeça a tua, Castilho? Não se pode sair de casa, melhor, do barco.

Depois da lista das compras ser elaborada, ultimada, contando com os dias de viagem previstos e respetivas refeições, fomos ao mercado e ao super comprar tudo. A logística deste aprovisionamen-

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Foto nº15 Centro de Criação de Tartarugas gigantes. Foto nº16 Tartarugas Gigantes.
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to não é fácil e é muito importante, porque não podem faltar mantimentos, nem se podem comprar quantidades excessivas, porque os espaços para os colocar não são demasiados. A arrumação tem de ser bem cuidada, com uma estiva perfeita, para que, com qualquer tipo de mar, as coisas não se desprendam e acabem por cair violentamente para o chão ou outros locais do barco, inclusive dos tripulantes.

Enquanto isto, o Luís Adão acompanhava o eletricista que foi chamado novamente, porque os disjuntores de 15 amperes começaram a disparar.

Neste dia, o meu pensamento esteve muitas vezes virado e ligado ao Colé -

gio Militar, pelo inesquecível tempo que por lá passei como Aluno e posteriormente como Antigo Aluno.

Hoje é um dia simbólico para o Colégio Militar, 3 de março de 2015, dia em que o nosso Colégio completa o seu 212º aniversário. Que Deus continue a orientar os seus diretores no sentido de fortalecerem um ensino alicerçado pela excelência académica, enquadrado nos valores morais e éticos, que são a pedra base que norteiam uma Instituição Militar, como a do Colégio Militar, formando e preparando alunos e alunas responsáveis, com capacidade de liderança nas variadíssimas áreas do mercado do trabalho, nacional e global, cada

vez mais exigente, e necessitando, mais do que nunca, de profissionais de exceção.

Os dias passaram a correr em Galápagos, terminando aqui a descrição da estadia do Allegro e da sua tripulação, desta maravilhosa terra, onde passámos oito dias e vinte e duas horas, pois a largada está prevista para hoje, quatro de março, pelas 12 horas, rumo ao arquipélago das Marquesas, na Polinésia Francesa.

Que Deus nos acompanhe e nos dê ventos de feição e um mar calmo.

SIGA A MARINHA”

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Foto nº17 Cisnes cor de rosa. Foto nº18 Caldeira do vulcão de Sierra Negra. Foto nº19 Caldeira do vulcão de Sierra Negra. Foto nº20 Vulcão e Vista. Foto nº21 Vulcão e Vista.

Tertúlia Direito da AAACM

Tertúlia Direito da AAACM

OConselho de Delegados existe porque existe cada um de nós. De entre Todos, elegemos Um que seja voz do nosso curso. Juntos, definimos objetivos de trabalho e um deles aposta em recuperar e fomentar actividades sociais entre grupos profissionais ou de interesse comum. Aqui está o primeiro, com o compromisso de não ser o último. Aqui está uma ideia, de alguém que se levantou da cadeira para dizê-la, e que por isso ganhou vida.

No seguimento de uma ideia surgida no âmbito do Conselho de Delegados de Curso da AAACM ― desde logo acolhida por todos e em particular pela Direção da AAACM ― realizou-se no passado dia 7 de janeiro, no Teatro D. Luiz Filipe, uma interessante Tertúlia, onde um conjunto de 35 atuais e Antigos Alunos das mais diversas idades, mas intimamente ligados, ou com especial interesse, na área do Direito, puderam partilhar ― em amena e salutar camaradagem colegial – diversos pontos de vista

sobre o atual estado do Direito e da Justiça no nosso País, bem como a influência que o Colégio Militar teve nos seus percursos profissionais e académicos.

De realçar, em primeiro lugar, que num reduzido universo de Antigos

Alunos ligados à área do Direito – cer ca de 70 no total, dados da própria AAACM ― estiveram presentes quase metade, o que denota o sucesso da iniciativa. A este propósito, de notar que até há cerca de trinta anos, os alunos do Colégio Militar que preten

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Painel com o Presidente da Associação Filipe Soares Franco (62/1963).

dessem aceder às Áreas Cientificas que poderiam dar acesso ao Curso de Direito (mas também à Economia ou Gestão) tinham de sair no (antigo) 5.º Ano, o que justifica o reduzido “efetivo” dos antigos alunos ligados a esta área específica, particularmente entrados para o Colégio antes dos Anos 80 do século passado.

E, em segundo lugar, a presença (e interessante participação) de cinco atuais Alunas do Colégio, respetivamente, três do 12.º e duas do 11.º Ano, bastante interessadas nesta área do Saber.

A Tertúlia iniciou-se com a intervenção do Filipe Soares Franco, em representação da AAACM, onde – após saudar todos os presentes ― começou por salientar que esta se tratava da primeira de muitas Tertúlias Setoriais que a AAACM pretendia organizar nos próxi -

do uma plateia de Juristas) com a situação económica e jurídica do PM34.

De seguida, e como previsto, a Tertúlia contou com um distinto Painel de Antigos Alunos composto (do menos para o mais jovem) pelo Paulo Sande (60/1967) – Consultor para os Assuntos Europeus do Presidente da República e antigo Diretor do Gabinete do Parlamento Europeu em Portugal – pelo Nuno Garoupa (286/1980) – Professor na George Mason University, Antonin Scalia Law School e antigo Presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos – pelo Nuno Mansilha (254/1990) – Advogado, atualmente na CMS Rui Pena & Arnaut, mas que já passou pela Miranda Law Firm – e pelo Filipe Bismarck (187/1997) – Advogado na Teixeira Duarte e Presidente da Associação Nacional dos Jovens Advogados Por-

da Estudante de Direito e Presidente da European Law Students Association Portugal (ELSA-Portugal).

Decorreu então, e ao longo de cerca de duas horas, uma interessante e amena troca de diferentes experiências profissionais e académicas, ligadas ao universo do Direito, não só com a participação dos membros do Painel, mas também da dinâmica (apesar do frio sentido) assistência. Por fim, e apesar de um ligeiro problema logístico relacionado com a reserva para o jantar, o evento terminou com um fraternal e agradável convívio, no Restaurante “Jardim da Luz” , paredes-meias com o Teatro D. Luiz Filipe e com a sede da AAACM, numa sala recentemente embelezada com diversas fotografias alusivas ao universo colegial, onde atuais e Antigos Alunos trocaram experiências e

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(326/1985)
©Foto Sérgio Garcia
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
Tertúlia Direito da AAACM

Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

LANÇAMENTO DO LIVRO Longas Horas do Tempo Africano

No dia 26 de Novembro de 2019 foi lançada na Livraria-Galeria Municipal Verney, em Oeiras, a 10ª edição do livro Longas Horas do Tempo Africano , de Manuel Barão da Cunha (150/1948). A apresentação esteve a cargo do general Tomé Pinto, do coronel Ataíde Montez, de Daniel Gouveia (editor) e do dr. Isaltino Morais, autor do Prefácio do qual se respigam dois expressivos trechos:

“(…) No meio de metralhadoras, de carros de combate e de morteiros, este militar dinâmico, culto e meticuloso, reaprendeu, digamos assim, tudo aquilo que sabia do mundo, no meio do mato. Tal como no cinema há uma educação apoiada a partir do olhar, e

na filosofia uma reflexão sobre as mais diversas situações, Barão da Cunha terá reaprendido a ver o mundo, baseando-se no poder da interrogação e no poder do silêncio. Na esteira dos velhos filósofos, também o autor de Longas Horas do Tempo Africano faz caber a essência humana dentro dos quatro elementos naturais. O mesmo é dizer que conhecimento, energia, matéria e sentimento, estáveis ingredientes deste livro, se fundem com Ar, Fogo, Terra e Água, somados a muito esforço e a muita dedicação. Parece ser que o autor se antecipou ao grande desafio do século XXI: a construção de novas formas de colaboração entre todos, em lógicas adequadas às complexas e exigentes expectativas dos tempos modernos (…).

66 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950

Alunos nas Artes e nas Letras

Barão da Cunha revela-se mestre na arte da observação de territórios e de almas, compondo ideias, descrevendo cenários, retratando gentes, criando diálogos e não se cansando nunca de refletir sobre vivências e de se interrogar sobre a natureza humana. Do mesmo modo que Almada, também Barão da Cunha pertence a uma geração construtiva. Associado à sua sensibilidade, tudo isto se traduz num inegável contributo para a historiografia portuguesa contemporânea sobre um dos acontecimentos mais impactantes da vida do nosso país: a guerra colonial ou a guerra de África (1961-1974) que, nos seus 14 anos de duração, mobilizou quase um milhão de jovens portugueses e que − 45 anos depois da “Revolução dos Cravos” − ainda terá abundantes feridas por cicatrizar e traumas por sarar (…).”

Manuel Barão da Cunha, militar de carreira, dedicou-se após a passagem à reforma a actividades de natureza cultural, primeiro em ligação com a Câmara de Lisboa e depois com a de Oeiras, sendo justo destacar-se a realização de dezenas de Tertúlias dedicadas às Artes e às Letras no município de Oeiras. É autor de uma significativa obra literária, da qual se destaca justamente este livro, que já vai na 10.ª edição.

Dar uma Razão à Força

TELO, António José, BORGES, João Vieira e PIRES, Nuno Lemos, DAR UMA RAZÃO À FORÇA E UMA FORÇA À RAZÃO, Nexo Literário, Alcochete, 2018

Sob um título bem sugestivo, os três autores abordam questões da maior actualidade.

Em primeiro lugar, João Vieira Borges identifica e caracteriza sumariamente, de entre os «aceleradores da mudança» no mundo, aqueles que produzem impactes mais significativos na Segurança e Defesa – alterações climáticas, evolução demográfica, recursos e novas tecnologias – para em seguida sugerir de que forma eles vão influenciar o futuro do sistema internacional.

Sobre este pano de fundo, Nuno Lemos Pires (345/1975), explica detalhadamente as razões pelas quais as unidades políticas têm de optar por Estratégias de Coesão. Sabendo-se que as estratégias – sempre subordinadas às políticas – se constroem em função das ameaças e dos riscos que possam afectar os interesses das unidades políticas, importa então enunciá-las e, para o efeito, o autor recorre a uma figura de estilo, chamando-lhes Os Quatro Cavaleiros Hodiernos do Apocalipse: o da Tormenta, ligado às alterações

climáticas e às pressões demográficas; o do Caos, que representa a atomização do poder e a desintegração social; o da Vertigem, que emerge das novas tecnologias e o da Anarquia, que «cavalga» os efeitos desagregadores das narrativas radicais.

Para enfrentar as ameaças emergentes, Nuno Lemos Pires propõe uma «Estratégia de Coesão» em quatro patamares e, concorrentemente, através de três dimensões. O patamar local alimenta-se da participação individual, o nacional trata da organização das sociedades e dos seus valores fundamentais, o internacional ocupa-se da concertação entre Estados e das formas como as Organizações internacionais zelam pela segurança colectiva e o global remete para o desenvolvimento e sustentabilidade da segurança planetária. No que respeita às dimensões, o autor recomenda: no âmbito da atitude, o enfoque nos comportamentos éticos; no plano do conhecimento, uma aprendizagem permanente, dirigida à comunidade e ao colectivo; por fim no domínio da consciência, o reconhecimento da dificuldade em controlar os princípios e os valores que fundamentam a acção.

Na terceira Parte, António José Telo traça o quadro da conflitualidade futura e, nela, da tipologia das forças militares, com especial incidência nas forças terrestres. Releve-se o aviso

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Antigos

Antigos Alunos nas Artes e nas Letras

deixado pelo autor: as forças regulares não ver ser os únicos, nem os mais importantes, actores armados nos campos de batalha do futuro.

Os três contributos complementam-se no desenho dos futuros cenários da conflitualidade violenta no mundo e convergem no objectivo de apontar, explicando-os, os contornos duma Estratégia necessariamente nova para os riscos e as ameaças que o futuro vai inevitavelmente trazer. Numa altura em que as opiniões públicas são cada vez menos complacentes com o uso injustificado da coacção, militar ou outra, «dar uma razão à força» revela-se um elemento central na fundamentação das estratégias das unidades políticas.

Quadro:

António José Telo é licenciado e Doutorado em História, professor catedrático de História na Academia Militar e autor de vasta obra no campo da História, Defesa e Relações Internacionais, com cerca de 40 livros e mais de 120 artigos e colaborações em obras coletivas, publicados em cinco países. O livro História Contemporânea de Portugal – do 25 de Abril à Actualidade , conquistou em 2009 o Prémio John Dos Passos. Foi director do Instituto de Defesa Nacional entre 2008 e 2010.

O major-general João Jorge Botelho Vieira Borges concluiu a licenciatura em Ciências Militares – Artilharia na Academia Militar em 1983.

No decurso da carreira militar desempenhou diversas funções de comando e estado-maior, foi Professor de Geografia Militar, Geopolítica, Relações Internacionais e Elementos de Estratégia na Academia Militar e Assessor

de Estudos no Instituto da Defesa Nacional, tendo desempenhado funções de 2º Comandante e Director de Ensino da Academia Militar, entre 2014 e 2016. Tomou posse como Comandante da Academia Militar a 3 de Maio de 2016.

É conferencista e autor de várias obras (22 livros – 9 dos quais como coordenador ou co-autor – e 117 artigos) nas áreas da Estratégia, História Militar e Segurança e Defesa.

Nuno Correia Barrento de Lemos Pires , Coronel Tirocinado de Infantaria/Operações Especiais, Doutorado em História, Defesa e Relações Internacionais pelo ISCTE-IUL, é Professor na Academia Militar e investigador do CEI do ISCTE-IUL.

Exerceu funções de comando, estado-maior e ensino em Unidades e Estabelecimentos das Forças Armadas. Esteve mais de 5 anos em serviço na NATO e participou em diversas missões internacionais, entre as quais se destacam Moçambique, Angola, Paquistão e Afeganistão.

Tem 9 livros publicados e é autor de mais de 100 capítulos ou artigos em vários livros e publicações, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola.

Foi empossado no dia 29 de Janeiro de 2019 no cargo de Subdiretor-Geral de Política de Defesa Nacional pelo Ministro da Defesa Nacional.

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1.º Torneio TagRugby

RUGBY NO COLÉGIO

O Rugby é, como gosto de o definir, “um jogo colectivo de combate organizado para a conquista de terreno com o propósito de marcar ensaios” e que tem duas características muito próprias: a bola, que é oval, não pode — uma primeira particularidade — ser passada para a frente, podendo, no entanto, ser chutada e — segunda particularidade — podendo o seu portador ser placado, acto em que, se agarrado, é derrubado até entrar em contacto com o solo.

Estas duas características impõem um conjunto de princípios estratégicos fundamentais que formatam as tácticas do jogo e que são:

AVANÇAR SEMPRE! contrariando, pelo transporte da bola e porque o “objectivo ensaio” está lá à frente, a obrigatoriedade da regra do passe;

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João Paulo de Castro e Silva Bessa 200/1957 (Prémio Barretina Desporto 2012)
1.º Torneio TagRugby

1.º Torneio TagRugby

APOIO , absolutamente necessário quando se pode ser placado no transporte da bola, compondo uma espécie de “corrida de estafetas: chegaste até aí, passa! que eu levo-a até ali” que a eficácia do jogo procura;

CONTINUIDADE

para garantir que é possível, articulando passe e transporte da bola, o movimento encadeado de uns e outros para avançar e conquistar terreno, “indo até lá ao fundo” ;

PRESSÃO, se atacante para obrigar os defensores a encurtarem a largura da sua linha defensiva e permitirem a utilização de espaços tornados livres, se defensiva, retirando espaço e tempo de decisão aos atacantes.

Para um uso eficaz da bola depressa se aprende que no combate, como ensinava Nuno Álvares Pereira no seu conceito estratégico essencial, a manobra deve prevalecer sobre o choque (1). Mas também se aprende a necessidade de camuflar até ao limite a decisão que se vai tomar — razão principal da exigência do transporte da bola em “duas mãos” . E, também rapidamente, se compreende que é o colectivismo e a coesão dos membros da equipa na estratégia e nas tácticas, que produzem a eficácia pretendida, re -

conhecendo-se, também desde logo, que o valor global da equipa depende do nível do(s) seu(s) elemento(s) mais fraco(s) — o que obriga a um treino de desenvolvimento técnico e táctico constante, equilibrado, objectivo e permanente. Individual e colectivo.

De alto espírito colectivo e subordinado ao conceito — que a nós, Colégio, diz tudo — de “cada um por todos”, num nós sempre superior aos eus e com as características técnicas e regulamentares que o definem, não admira que a americana West Point, formalizada como United States Military Academy em 16 de Março de 1802 (um ano antes da também formalização do nosso Colégio), tenha, em 1965 e dez anos antes da formalização da Federação Americana de Rugby, inserido o Rugby na sua componente desportiva curricular. A justificação do interesse militar pelo jogo pode centrar-se na explicação do ex-Conselheiro de Segurança Nacional de Trump — cargo aceite por “sentido militar do dever” como justificam amigos(2) — e antigo três-quartos ponta do anos oitenta da equipa de West Point, Tenente-General HR McMaster:

“Para vencer no Rugby, é preciso estar comprometido com cada um e trabalhar em conjunto, jogando juntos como uma equipa. E isso é o que o combate exige. Exige treino duro sob as mais difíceis condições porque só

assim se constrói confiança — confiança nas suas capacidades técnicas, confiança na sua equipa. Essa confiança é o que permite em combate ultrapassar o medo, assumir o risco e tomar a iniciativa. Trata-se acima de tudo de fazer alguma coisa inesperada, explorando as vantagens conseguidas com rápidos movimentos e decisões, actuando em conjunto. Uma operação de cavalaria em combate assemelha-se bastante à forma como uma equipa de rugby joga colectivamente.”(3), acrescentando ainda: “Uma boa equipa de rugby une-se sempre dentro e fora de campo para apoiar um companheiro que caiu.”(4).

E assim se explica a relação entre o jogo e o combate.

Depois de ter — após a saída do Colégio — conhecido o Rugby e pelas evidências então reconhecidas, nunca percebi porque não estava inserida a modalidade nas nossas práticas desportivas colegiais. Ajudaria a exemplificar os nossos princípios.

No entanto e graças à notável qualidade e diversidade do sistema de ensino da Educação Física e da Prática Desportiva que o Colégio nos fornecia, muitos de nós dedicaram-se ao Rugby sem qualquer dificuldade de adaptação. E constituímos, apesar de se tratar de uma modalidade desconhecida e num inte-

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Participantes no torneio, antes da distribuição dos prémios.

1.º Torneio TagRugby

ressante caso de aprendizagem adulta, o maior número de Antigos Alunos internacionais —18 — de uma selecção principal sénior de Portugal em qualquer modalidade desportiva colectiva.

Tudo começou em 1965 - altura do retorno de Portugal às competições internacionais de Rugby interrompidas desde 1954.

No quadro seguinte apresentam-se os 18 internacionais, com a indicação dos anos das suas primeiras internacionalizações.

Antigos Alunos Internacionais de Rugby

1965 1965 1965 1966 1966 1967

1968 1969 1969 1972

Carlos Pardal (100/1947)

Manuel Castelo Branco (Ponte) (384/1954)

Luís Matos Chaves (195/1954)

Pedro Lynce de Faria (21/1954)

Luís Lynce de Faria (27/1957)

Júlio Magalhães Faria (219/1954)

Nuno Lynce de Faria (490/1958)

João Paulo Bessa (200/1957)

Francisco Lucena (405/1958)

António Duque (12/1958)

José Spínola de Brito (539/1963) 1973 1974

Carlos Moita (392/1965)

Olegário Borges (354/1963) 1979 1979 1979 1981

1986 1986

Duarte Lynce de Faria (446/1970)

Carlos Duarte Ferreira (398/1964)

Vasco Lynce de Faria (21/1960)

Ricardo Durão (23/1970)

António Moita (214/1971)

Destes internacionais foram ainda treinadores-seleccionadores da selecção principal de Portugal o Pedro Lynce de Faria, o João Paulo Bessa, o Olegário Borges e o Vasco Lynce de Faria

Aquando da sua passagem como Director do Colégio — lançando, no que tive a oportunidade de participar, a obra de colocação do tapete de relva artificial no campo de futebol e a construção de inovadoras balizas que suportam os postes que a modalidade exige — o Major-Ge-

neral Raúl Passos, decidiu proporcionar a prática do Rugby aos alunos do Colégio. Como resultado da infraestrutura criada e da aprendizagem que foi permitindo — já há alunos a jogar em equipas juvenis federadas — realizou-se no passado mês de Dezembro, o 1.º Torneio Colegial de TagRugby. Tratou-se de uma iniciativa que ocupou uma tarde e uma manhã de dias semanais consecutivos em que os participantes voluntários do 4.º ao 12.º ano tiveram — numa decisão louvável de reconhecimento da importância educativa da prática desportiva — dispensa das aulas curriculares.

Este 1.º Torneio, muito bem organizado por uma equipa coordenada pelos Professores Nuno Leitão e Bruno Fradinho, contou, marcando a sua importância pedagógica, com a presença oficial do actual Director do Colégio, Coronel António Salgueiro, bem como com os antigos internacionais que responderam ao convite feito, António Duque, Carlos Duarte Ferreira, António Moita e eu próprio e teve a participação de 372 alun@s representando na sua totalidade 65,5% dos 568 alun@s que poderiam fazê-lo dos quais 241 eram raparigas (63,5% das alunas possíveis), constituindo 61 equipas mistas de 5 jogador@s de campo para realizar um total de 183 jogos que formataram a competição operacionalizada em diversos terrenos-de-jogo de dimensões reduzidas e proporcionadas à dimensão das equipas em presença.

Embora e como jogo de iniciação o TagRugby não tenha placagens — controla-se o portador da bola retirando-lhe a fita de tecido que leva presa á cintura num gesto que conduz à postura corporal próxima da placagem — o que se viu foi muito interessante e demonstrativo de um bom início de apreensão dos Princípios Fundamentais do jogo, mostrando que há enormes potencialidades para a prática competitiva da modalidade, nomeadamente no seu carácter representativo.

Será aliás uma das enormes vantagens do Clube desportivo em criação que, logo que formalizado, permitirá que equipas masculinas e femininas colegiais de Rugby possam competir nas provas federadas dos respectivos escalões etários. E com a “atleticidade” que possuem e a coesão que transportam não é difícil de admitir que as equipas colegiais possam, com prestações de alto nível, tornar-se “casos sérios” da modalidade — nomeadamente e por razões óbvias que o ecletismo desportivo curricular dita, nas equipas femininas que, hoje em dia, constituem um notável fenómeno de crescimento no Rugby mundial, disputando já provas de dimensão europeia, mundial e olímpica. E então, quer rapazes quer raparigas, irão, com orgulho e certeza de todos nós, ampliar a lista de rugbistas internacionais absolutos oriundos do Colégio Militar. O que será bom para o Rugby português e prestigiante para o nosso Colégio.

1)- Bessa, Carlos, “Batalha dos Atoleiros, seu carácter precursor em Portugal”, Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1989.

(2)- Keefe, Patrick Radden, “McMaster and commander”, The New Yorker, 30/4/2018.

(3) - Pengelly, Martin, “HR McMaster on rugby: The Warrior Ethos is what a good team as”, The Guardian, 28/5/2018. Tradução de: “To win in rugby,” he says, “you have to be committed to each other and work together, play together as a team. And that’s what combat requires. It requires tough training under the most difficult and challenging conditions because it’s only that which builds confidence –confidence in your own skills, confidence in your team. That confidence in combat is what allows you to overcome fear, to take risk and to seize the initiative. It’s all about doing something unexpected, about exploiting what you create by rapid action and rapid decisions and operating together. A cavalry operation in combat in many ways resembles how a rugby team plays together.”(tradução do autor).

(4)- op.cit The Guardian Tradução de: “A good rugby team always comes together on and off the pitch to support a fallen team-mate.”(tradução do autor)

NOTA:

Para quem estiver interessado em melhor perceber o jogo de Rugby assinala-se o link de um curto vídeo explicativo da minha autoria em https://xvcontraxv. blogspot.com/2019/09/comeca-o-mundial-2019.html

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Estágios de Alunos do Colégio Militar em Empresas lideradas por Antigos Alunos

No âmbito do programa da actual Direcção da Associação ― em que a aproximação entre os Antigos Alunos e os “futuros novos Antigos Alunos” é um dos principais vectores ― foi retomada uma iniciativa da nossa Associação com cerca de 10 anos, tendo sido sugerida à Direcção do Colégio a ideia de promover aos Alunos dos últimos dois anos o contacto com a realidade empresarial em empresas / instituições lideradas por Antigos Alunos dos mais variados sectores da actividade económica.

No seguimento de vários contactos informais, o tema começou por ser tratado em reunião da AAACM com o Director do Colégio realizada em 15 de Maio de 2019, tendo sido abordados os temas seguintes:

1. O Colégio considera importante para a formação dos Alunos, que ― com a colaboração de Antigos Alunos (AA), no quadro das relações com a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar (AAACM) ― sejam feitas, no âmbito das Actividades do Colégio programadas anualmente, dois tipos de acções:

a. Dentro do Colégio, em ambiente escolar e preferencialmente ao longo do ano lectivo: comunicações, do tipo coloquial, aos alunos do Secundário de experiências profissionais de AA de diversas especialidades e faixas etárias que sejam interessantes para as potencias opções profissionais dos Alunos, em linha com iniciativas do mesmo tipo realizadas pela AAACM no passado;

b. No exterior, em ambiente empresarial: estágios curtos (2/3 dias) em empresas/ instituições, em regime de voluntariado por parte dos Alunos, debaixo da orientação de AA para Alunos do Secundário, a ocorrer no intervalo dos dois semestres do ano lectivo;

Dado que naquela data nos encontrávamos já perto do final do ano lectivo, não

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Martiniano Nunes Gonçalves 9/1958 Medicina Cirurgia Ortopedia
Estágios de Alunos do Colégio Militar em Empresas lideradas por Antigos Alunos

Estágios de Alunos do Colégio Militar em Empresas lideradas por Antigos Alunos

iria ser possível realizar nenhum dos dois tipos de acções, pelo que iriam ser incluídas no âmbito das Actividades do ano lectivo 2019/20. Para a execução dos estágios curtos, aos quais se atribuiu a designação de “acções de orientação profissional”, a Direcção do Colégio tomou a seu cargo a apresentação do projecto aos Pais e Encarregados de Educação dos Alunos, enquanto que, do lado da

Associação foram estabelecidos contactos com Antigos Alunos de diferentes profissões com vista à elaboração de uma lista de possíveis empresas/instituições dispostas a receber e conduzir os Alunos durante 2 dias, na última semana de Janeiro do corrente ano, período de interrupção lectiva na transição do 1º para o 2º semestre. A resposta e o entusiasmo da “malta” (leia-se “Antigos Alunos”) foi notável:

Profissões Escolhidas

Áreas de Formação

ao fim de 5 dias já se tinham “chegado à frente” 55 Antigos Alunos ― plenos de entusiasmo e vontade ― de 28 profissões diferentes, com ofertas que vieram a satisfazer a procura de 49 Alunos dos 11º e 12º anos... tendo as ofertas de outros Antigos Alunos continuado nas semanas seguintes...

Aviação Biologia Comércio Internacional Direito Eng. Sistemas Engenharia Civil Farmacêutica (Distribuição e Indústria) Fisioterapia

Gestão / Economia Gestão de Centros Comerciais Gestão Hospitalar

1 7 2 1 2 3 1 1 1 4 1 1

Hotelaria Informática Média/Comunicação Medicina - Anestesiologia Medicina - Cirurgia Ortopédica/Fisioterapia Medicina - Dentária Produção Agrícola Produção de Vinho Publicidade e Indústria Gráfica Sector Automóvel Tecnologias da Informação

Arquitectura 5 2 1 2 2 2 1 1 1 2 3

Total Procura/Ofertas 47

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Economia e Gestão.

As profissões escolhidas e o número de alunos de cada opção foram as que se apresentam no quadro da página anterior. Das experiências, com caracter acentuadamente prático, que se verificaram em todas as profissões, alguns casos que poderiam vir a ter uma componente mais difícil de concretizar, como a assistência a cirurgias em bloco operatório ou a julgamento em Tribunal, foram, contudo, realizadas.

De salientar, ainda, a convivência e a relação desenvolvida entre Antigos Alunos e Alunos, plenas de boa disposição, ficando, na generalidade, os Alunos satisfeitos. Não menos significativas e intensas para lá do já referido entusiasmo da “malta” em poder colaborar, registamos, igualmente, as expressivas e inúmeras manifestações de agradecimento e simpatia pela iniciativa da Associação, por parte dos Pais e Encarregados de Educação, muitos deles pedindo que no próximo ano sejam realizadas acções em que os seus educandos possam experimentar o contacto com outras actividades profissionais, o que constitui um forte estímulo para a continuidade deste tipo de programa nos próximos anos.

Ao Colégio manifestamos a nossa satisfação e agradecimento por esta iniciativa em favor dos Alunos, em colaboração com a nossa Associação.

Aos Pais e Encarregados de Educação agradecemos a confiança que em nós depositaram para, durante dois dias, nos responsabilizarmos por esta acção de formação junto dos Alunos. Fica aqui, igualmente, o agradecimento à “nossa malta”: não só a todos os Antigos Alunos que participaram, mas também àqueles que se ofereceram para profissões que os Alunos não escolheram, ficando na expectativa de podermos contar com todos nos próximos anos.

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Tecnologias de Informação. Aviação Fisioterapia Infotmática UM por TODOS TODOS por UM!
Estágios de Alunos do Colégio Militar em Empresas lideradas por Antigos Alunos

Antigos Alunos em Destaque

Antigos Alunos em Destaque

mandante de Batalhão, com a altíssima classificação de 19 valores, que naquela época era uma classificação “impossível”

No passado dia 28 de Novembro de 2019, Luis Filipe Reis Thomaz , recebeu, em sessão solene realizada na Sociedade de Geografia de Paris, o prémio Auguste Loriol, atribuído ao seu livro, “L`expansion portugaise dans le Monde du XIVe au XVIIIe siécles – Les multiples facetes d`un prisme” , publicado pelas Editions Chandeigne, Paris, em 2018. Poucos dias mais tarde, em 11 de De -

zembro de 2019, recebeu, na Sociedade Portuguesa de Autores, o prémio de ensaio do Pen Club, atribuído ao livro, “O Drama de Magalhães e a volta ao mundo sem querer”, publicado pela Gradiva, em 2018.

Luis Filipe Reis Thomaz foi um dos Alunos mais brilhantes do Colégio Militar, onde se formou, no ano lectivo de 1958/1959, em que foi Co -

Licenciou-se seguidamente em História, na Faculdade de Letras de Lisboa, com uma tese sobre «Os Portugueses em Malaca no século XVI» , já indicativa daquilo que seria a paixão de toda a sua vida, os estudos orientais e a acção dos portugueses no Oriente. Frequentou de seguida o curso de Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Coimbra, que não concluiu, por ter sido mobilizado para uma comissão militar em Timor, para a qual se oferecera. Em Timor continua a aprofundar os seus conhecimentos sobre o Oriente, visitando, em gozo de férias, Malaca, Indonésia, Singapura, Tailândia, Macau, Hong Kong e Filipinas. Em Timor inicia também a sua longa carreira docente, ensinando grego e latim, no Seminário Diocesano de Dare.

De regresso a Portugal, torna-se assistente da Faculdade de Letras de Lisboa. Tendo obtido uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, segue para Paris, onde estudou, durante 4 anos, de 1978 a 1982, na École Pratique des Hautes Études, na École des

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Antigos Alunos em Destaque

Hautes Études en Scinces Sociales, no Institut National des Langues et Civilizations Orientales, na Universidade Paris III e no Institut Catholique, aprofundando os seus conhecimentos das culturas orientais.

De novo em Portugal, continua a sua carreira no ensino universitário, que se estendeu à Universidade dos Açores,

ao Instituto Gregoriano de Lisboa e à Universidade Nova de Lisboa, a qual lhe atribuiu o grau académico de Doutor Honoris Causa. Depois de se aposentar da função pública foi ensinar para a Universidade Católica, onde organizou o Instituto de Estudos Orientais, que dirigiu de 2002 a 2011. Foi professor visitante de uma série de universidades estrangeiras e teve uma intensa acti-

vidade como conferencista, tanto em Portugal, como no estrangeiro.

É um notável poliglota, dominando cerca de uma dezena de línguas, que aprendeu para poder aprofundar os seus estudos com recurso aos documentos originais.É autor de 9 livros e de cerca de 250 artigos, publicados em mais de uma dúzia de países.

Bernardo Manuel de Almeida e Vasconcelos Diniz de Ayala (171/1980)

Jurista

Écapa de revista internacional Exigência e meritocracia, na base do sucesso de um escritório de advogados de que é co-gestor.

Sócio da Uría Menéndez desde 2008 e anterior sócio da Sérvulo & Associados é, actualmente, sócio-gerente do escritório de Uría Menéndez-Proença de Carvalho em Lisboa.

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Antigos Alunos em Destaque

A sua actividade cobre diversas especialidades, que vão do Direito Público, às áreas dos recursos ambientais, energéticos e naturais, concentrando-se nos contratos públicos, em particular de project finance, contencioso administrativo e público, arbitragem, responsabilidade civil das autoridades públicas, fusões e aquisições, privatizações e produtos financeiros contratados por entidades públicas.

Conta-nos na entrevista que a Iberian Lawyer de 4 de Novembro de 2019 destacou em capa, alguns dos elementos-chave que considerámos interessantes pela abordagem, muito particular, como a empresa se posiciona, é gerida e se relaciona com os clientes, contribuindo para o seu sucesso em Portugal.

As funções que desempenha na gestão da sociedade, são partilhadas com o sócio-gerente Antonio Villacampa, encontrando-se, assim, associado ao sucesso deste escritório de Advogados em Portugal, para o que contribui o facto de a empresa ter dois sócios-gerentes: o próprio que desenvolveu a sua carreira no mercado nacional e, Villacampa, cidadão espanhol membro da Ordem dos Advogados de Madrid e da Ordem dos Advogados Portugueses que está na Uría Menéndez desde 1995.

A empresa beneficia, assim, de um “sócio-gerente português possivelmente mais conhecedor das especificidades do mercado português e de um sócio-gerente espanhol nascido e criado na Uría Menéndez que pode facilmente relacionar-se com o lado espanhol da cultura ibérica, sendo um factor muito importante o facto de estar em Portugal há mais de 15 anos”.

Na entrevista concedida, Bernardo Ayala salienta como factores principais do

sucesso “um modelo de carreira e uma cultura corporativa e de equipa muito forte, e um nível consistentemente alto de qualidade em todas as suas equipas jurídicas: estamos mais focados em equipas de estrelas do que advogados de estrelas.”

Refere, ainda, a importância das decisões corretas ao recrutar: “somos extremamente exigentes e treinamos os nossos advogados em cultura corporativa e atendimento ao cliente, temos várias camadas de advogados de alta qualidade”.

Outra razão pela qual Uría Menéndez obteve sucesso em Portugal, segundo Bernardo Ayala, é que a sociedade é administrada como uma “verdadeira meritocracia”, aplicando uma cultura estrita ‘up ou out’ – que conduz a equipas fortes, com constante renovação de talentos e advogados altamente motivados”, acrescentando que ”se os advogados da firma não são partners ao fim de dez anos, terão que sair. Além disso, em níveis mais juniores, os advogados devem deixar a empresa se não forem promovidos. “Isso permite a renovação de talentos a cada ano, o que é uma prioridade”.

Referindo-se, ainda, às vantagens deste sistema, explica que a política de “up ou out” permite que a empresa “evite crescer excessivamente em termos de número de advogados, o que, por sua vez, permite rentabilidade e selectividade em relação ao tipo de trabalho aceite” e, complementarmente, a uma abordagem meticulosa no recrutamento. “Temos um processo de recrutamento quase perfeito, que é muito exigente e envolve uma análise minuciosa de cada candidato”, que é entrevistado pelo menos três vezes. A empresa que recebe centenas de solicitações, recebe de 8 a 12 novos advogados em cada

ano – em resultado da saída anual de cerca de 10% dos advogados da empresa por não terem sido promovidos.

No que respeita ao seu estilo de gestão, descreve-se como um “primus inter pares” meramente temporário:

“eu sirvo nesse contexto, como um igual aos meus parceiros e apenas pelo tempo que a empresa me pedir para desempenhar esse papel”, salientando que ele e Villacampa “ tentam ser bons ouvintes e concentrar-se mais em ouvir do que falar ”.

Embora reconheça que, em rigor, a Uría Menéndez - Proença de Carvalho é uma empresa de serviço completo, enfatiza que são muito cuidadosos com o trabalho que aceitam: “temos princípios de conformidade inabaláveis, “atravessamo-nos” pelo nosso cliente, mas somos muito rigorosos quanto a conflitos de interesses e outras regras de deontologia”.

Outra importante prioridade da empresa é fazer um “Esforço diário para garantir um alinhamento perfeito da estratégia, comunicação dentro da empresa e decisões do dia a dia”.

E acrescenta: “Antonio Villacampa e eu somos os guardiões desse alinhamento perfeito, e isso determina quem promover, quem não promover e que trabalho aceitar: a consistência gera confiança, se não formos consistentes, acabamos com a confiança para sempre.“

Em síntese, argumenta que o produto de todos esses diferentes elementos estratégicos são “Excelentes resultados” : esforçamo-nos sempre para obter os melhores resultados para os nossos clientes e, quando obtemos sucesso nessa tarefa, forçamo-nos a não descansar nos louros”.

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Antigos Alunos em Destaque

Francisco José Nina Martins Rodrigues dos Santos (128/1998)

OFrancisco José Nina Martins Rodrigues dos Santos (128/1998) nasceu em Coimbra em Setembro de 1988. Entrou para o Colégio aos 10 anos .

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, trabalha hoje no escritório de advogados Valadas Coriel & Associados.

Iniciou a actividade política ao filiar-se na Juventude Popular do CDS-PP em 2007, tendo sido eleito seu presidente em 2015 e reeleito em 2018. Em 2010 filiou-se também no Partido. No currículo conta uma experiência autárquica na Junta de Freguesia de Carnide e outra como deputado na Assembleia Municipal de Lisboa.

Em 2018, conforme noticiou a Zacatraz, foi apontado pela revista Forbes como um dos “30 jovens mais brilhantes, inovadores e influentes da Europa” na categoria Direito e Política.

Em Janeiro deste ano foi eleito Presidente do Centro Democrático Social-Partido Popular.

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Presidente do Centro Democrático Social - Partido Popular (CDS-PP)

Curso de 1981/1989 Romagem dos 30 Anos de Saída

Curso de 1981/1989

Romagem de 30 Anos de Saída 29 de Outubro de 2019

Passados 30 anos sobre a sua saída do Colégio, em 1989, os «ratas» de 1981 resolveram voltar ao Colégio, em mais uma romagem de saudade. Foi a terceira, esperamos que outras se sigam. Estiveram presentes os seguintes Antigos Alunos:

Manuel Martinez Sélles d´Oliveira Soares (5/1981), António Manuel Ramalho Moutinho Gonçalves (14/1981), Pedro Miguel Cruz Algéos Ayres (48/1981), Sérgio Manuel de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (55/1981), Rui Pedro Paes de Freitas Catarino Anselmo (68/1981), Bruno António Teixeira Rodrigues Ferreira Teles (72/1981), Tiago Miguel Tribolet de Abreu (100/1981), Ricardo Jorge Boavida de Bastos Moreira (149/1981), João

Miguel Ferreira da Silva Teodoro (152/1980), Nuno Miguel Pinto Bouça Flores Santana (191/1981), Nuno de Paula Santos Alves Monteiro (212/1981), António Luis Novo da Silva Rodolfo (213/1981), João Paulo dos Santos Gomes (223/1981), Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981), Hilário João da Fonseca Margarido (233/1980), Luis Filipe de Sousa da Silva Louro (239/1981), Henrique Miguel Cabrita de Araujo Leite (265/1981), António Pedro Pascoal Anaia (273/1980), Luis Henrique Marcelino Alves Delgado (287/1981), José Manuel Coelho Jesus Francisco (294/1981), Pedro Eduardo Laboreiro Risques da Costa Ferreira (304/1981), Valter Luis de Carva -

lho Rainha (306/1981), José Luis Trindade de Miranda da Conceição Santos (318/1980), Carlos Manuel Pires Viegas (334/1981), Dário Duarte Mendes Prates (340/1981), Luis Miguel Alexandrino Serra e Santos (359/1981), Luis Miguel da Luz de Sousa Gonçalves (373/1981), António Mucharreira de Azeredo Lopes (378/1981), João Pedro Mendes Rodrigues da Silva (428/1982).

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©Foto Leonel Tomaz Curso de 1981/1989 - 30 Anos de Saída - 29 de Outubro de 2019

Os que nos deixaram

Os que nos deixaram

José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951)

DESPEDIDA AO ZÉ MÁRIO

Morreu o Zé Mário, nosso companheiro da Zacatraz. O 253/51 entrou para o Colégio um ano depois de mim e, vá-se lá saber porquê, descobrimos a certa altura que partilhávamos o interesse pelas letras e pela sociologia e a partir daí passámos a intercalar referências literárias e sociológicas com as brincadeiras próprias da idade.

A vida levou-nos para paragens onde não era fácil encontrarmo-nos. Mas ao longo de todos estes anos, fosse no 3 de Março ou noutra qualquer festividade colegial, íamos matando saudades com a alegria própria de quem revê amigos de longa data. Quando tomei conta da Zacatraz pensei imediatamente que o Zé Mário poderia prestar uma excelente colaboração à nossa Revista. Foi pronto a

dizer presente, de início como colaborador externo e finalmente, desde o ano passado, como membro da Redacção. Sem surpresa, o primeiro artigo foi sobre a obra e a vida de António Sérgio (17/1894) e preparava um artigo-homenagem à poesia do José Bação Leal (89/1954).

Na hora da partida, lamento imenso a falta do colaborador. Mas vou sentir muito mais a falta do amigo: um espírito aberto, culto, amável e dialogante, sempre disponível para servir o interesse do nosso Colégio.

avisar. Então como é que isto foi acontecer? Apesar de te conhecer há pouco tempo, tanto ainda tinhas para dar à Associação e ao Colégio, a quem te estavas a dedicar intensamente. Ficaram tantas coisas por contar, tantas notícias por dar, tanto trabalho por realizar. Ias semanalmente à Associação, normalmente pela manhã. Sabias muita coisa, contavas algumas boas histórias e estavas bastante bem informado. Eras culto, um excelente ouvinte, qualidades raras nos dias de hoje. Eras um cavalheiro e muito bem educado. Zé Mário, Vais fazer muita falta. Aquele teu lugar na mesa de reuniões da Associação, durante uns tempos vai ficar vazio.

Um vazio chamado JOSÉ MÁRIO FIDALGO DOS SANTOS.

Uma Figura. Que descanses em PAZ! E um grande ZACATRAZ!

JOSÉ MÁRIO

FIDALGO DOS SANTOS

Meu Caro Amigo e Camarada Zé Mário, não há direito de te ires embora assim sem

Pregaste-nos uma grande partida! E agora que estávamos precisamente a contar contigo, para manter o convívio de curso. Convívio que bem preciso é nesta nossa idade!

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Consultor de Gestão Nasceu a 30 de Dezembro de 1940 Faleceu a 7 de Janeiro de 2020 Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Filipe Soares Franco (62/1963)

Sempre te relacionaste com cada um de nós de forma amistosa e jovial. O teu sorriso, espontâneo e brincalhão, sempre foi a marca da tua presença. Presença amiga, próxima e de um bom Camarada.

Mas a tua marca “Galinha” ultrapassou o nosso espaço e tinha conhecedores e apoiantes um pouco por todos os cursos do nosso tempo. Eras uma das nossas identidades externas!

De resto, desde os tempos da tropa em Angola e durante o teu percurso profissional, que não foi pequeno-Publicidade, Publicações Europa América, Kodak Portuguesa, Empresa de Consultoria de Gestão-sempre foste deixando boa esteira. Como dizem os marinheiros… E depois, fincaste o pé na historia – a tua grande paixão secreta – e concluíste, passados muitos anos, o Curso de História. E de seguida ainda, continuaste e obtiveste um Mestrado em História Contemporânea. Era esse agora o teu grande orgulho profissional: a investigação histórica!

Estavas neste momento a aplicar, de forma voluntariosa e dedicada como era teu timbre, essa tua vasta experiência na direcção da nossa Associação e no nosso Colégio.

E fazes-nos esta!

Como vamos conviver com a tua falta? Como vamos lidar com este espaço vazio que deixas?

Mas todos sabemos, e tu também o sabias, que temos de aceitar e enfrentar o que a vida nos traz em cada momento. Vamos, pois, continuar. Também por ti.

Adeus, José Mário. E obrigado, nosso querido amigo.

Descansa em paz.

que nos deixaram

Lisboa, 2020.01.08

Evocação lida, no funeral, em nome do Curso do Colégio Militar de 1952/59.

Jorge Alberto Figueiredo Monteiro da Graça

(225/1966)

OBranco – julgo que pela sua tez, era o Jorge Graça, um cidadão transparente nas suas propostas éticas e estéticas, ancoradas solidamente à sua profissão de historiador e pedagogo. Nunca se resumiu ao espírito colegial, nunca de lá saiu. Ás venturas da contemporaneidade cedeu o corpo cedo demais na teima de que o espírito por aí não se subjugaria. Umas boas dezenas de anos após o convívio colegial, não re-

José da Paz Olímpio

(327/1937)

Agrimensor

Foi com profunda tristeza que no dia 2 de Novembro li no Diário de Coimbra a notícia do faleciemto de Paz Olímpio. Ambos entramos no colégio Militar, eu em 1934 e o Paz Olímpio em 1937.

É nestas idades que se criam verdadeiras amizades que perduram durante toda a nossa vida. Sempre apreciei as suas qualidades como cidadão e Chefe de Família. Como cidadão foram igulamente dignos do nosso apreço os seus

cordo como reapareceu, mas ainda dedicou um bom par de lustros a levar-me para uma paixão comum, o bridge.

De uma generosidade ímpar e verse atenta, evoco a correcção como uma sua vertente dominante.

Um Grande abraço e um Zacatraz

dons abertos ao semelhante com o apoio caloroso de palavras e ação.

Considerava a família como um pilar fundamental da vida na sociedade tornou-se um Chefe de Família exemplar.

Amigo do seu amigo, a todos deixou um mínimo de saudade que perdurará até ao termo das nossas vidas.

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João Francisco Bastos de Teixeira Chaves (220/66) Aníbal José Santos Veigas (256 /1934) Os

Luís Manuel Madail Manitto Torres

(56/1967)

Advogado

Nasceu a 29 de Junho de 1956

Faleceu a 6 de Abril de 2019

OLuís era o 56. Meu vizinho na camarata durante três anos (eu era o 60). Revi-o algumas vezes ao longo da vida, não muitas, tendo-se dado a coincidência de termos frequentado o mesmo curso e feito parte da mesma turma na faculdade de direito. Depois disso, meia dúzia de encontros, fugidios, o último dos quais, se bem recordo, num jantar da turma de direito. Mas nunca o esqueci, ao meu colega do lado, o Luís, bom miúdo, boa pessoa, um amigo. Um camarada. Parte muito cedo, a vida deixa partir prematuramente aqueles de quem mais gosta. Chocou-me a notícia da sua morte, hoje pensei nele, há mais um vazio na memória de cada um de nós, que o conhecemos, neste percurso em maré-vaza que é hoje o nosso. Fica bem Incas , onde quer que estejas, sabendo que aqui, onde ainda estamos, há muitos a pensar em ti. Um Zacatraz sentido, um abraço amigo do Paulo.

Jorge Manuel Cardoso Ribeiro Leitão

(316/1947)

Nascido na Covilhã em Outubro de 1937, frequentou o Colégio, de 1947 a 1953, que foi para ele uma segunda casa. É recordado pelos seus contemporâneos como um bom camarada, que ao longo da sua vida foi sempre de uma grande cordialidade e simpatia para com todos. Fez uma boa parte da sua vida profissional em Moçambique, sendo técnico da Sonarep em Lourenço Marques. Regressado ao rectângulo europeu, continuou a trabalhar no sector petrolífero, em Sines, como consultor da Petrogal.

A ZacatraZ apresenta as condolências à família enlutada.»

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Paulo José Rombert de Almeida Sande (56/1967) Consultor da Indústria Petrolifera Nasceu a 31 de Outubro de 1937 Faleceu a 26 de Dezembro de 2019
Os que nos deixaram
©Foto Leonel Tomaz

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