

Vivemos tempos difíceis e complexos, que não sabemos quantos mais meses e anos irão durar. Vamos ter de aguentar estoicamente a sua passagem, garantindo o continuado cumprimento da missão da nossa Associação. É este o enorme DESAFIO que enfrentamos.
Numa época de incertezas e instabilidades como a presente, é impossível fazer previsões seguras, mesmo para um futuro próximo. Pois é precisamente neste tempo, que mais precisamos de UNIÃO. Nunca o lema «UM POR TODOS, TODOS POR UM» esteve mais a propósito. Durante o período de confinamento a que o País esteve sujeito, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para salvaguardar a nossa Associação e muito em particular a saúde das idosas do Lar da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO), que connosco partilham a utilização do Prédio Militar nº 34 (PM34), o antigo Quartel da Formação. Encerrámos as nossas instalações e todas as nossas actividades concessionadas. Reduzimos ao mínimo o acesso ao pátio do PM34, mantivemos o serviço de segurança através da portaria e demos uma redobrada atenção à questão da limpeza e asseio das instalações.
No início de Agosto, com a maioria dos dirigentes da Associação de férias, fomos surpreendidos pela recepção de um
Ofício do Gabinete do Chefe de Estado-Maior do Exército, intimando a Associação a encerrar o restaurante concessionado e a apresentar uma proposta de solução para a utilização do PM34.
A utilização do PM34 foi objecto de um primeiro protocolo estabelecido entre o Exército e a Associação, em 1998. Quatro anos volvidos, foi estabelecido novo protocolo, incluindo então também a AAAIO, com o objectivo de instalar dentro do PM34 um Lar de Idosos da AAAIO. Este protocolo, de 2002, é válido até 2038.
Em 2018, o Ministério da Defesa, na sequência de uma inspecção, informou o Exército, que o restaurante do PM34 devia encerrar e que o protocolo em vigor devia ser revisto, devido à legislação actualmente aplicável. Sucederam-se reuniões e trocas de correspondência do Exército com a nossa Associação, que culminaram com o Ofício de início do mês de Agosto, acima referido.
O Exército sempre esteve a par das actividades desenvolvidas pela Associação no PM34. A receita proveniente da concessão do restaurante, foi o que permitiu à Associação fazer face às despesas resultantes dos protocolos estabelecidos, nomeadamente de funcionamento, de segurança de instalações, de obras e de arranjo e manutenção das áreas descobertas. Na sequência da recepção do Ofício do Exército, foi convocada uma reunião
extraordinária do Conselho Supremo, para análise da situação. Os Conselheiros compareceram em massa, apresentaram um conjunto de recomendações úteis, verificando-se um consenso, no sentido de, em sintonia com o Exército, se caminhar para uma solução, que dê dimensão e força acrescidas à nossa Associação. É este o caminho que iremos começar a desbravar.
Quando for clara a solução pretendida, será a mesma submetida, em sede própria, à apreciação dos Associados. A vontade da AAACM é a vontade dos seus Associados.
Está na hora de tocar a UNIR. Vamos todos ser SOLIDÁRIOS, conforme é nosso dever e tradição. Vamos encontrar uma boa saída para mais este problema.
Bem hajam todos. Um sentido ZACATRAZ.
Presidente Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)
Vice-Presidente João Paulo de Castro e Silva Bessa (200/1957)
1º Secretário António Luis Henriques de Faria Fernandes (454/1970)
2º Secretário Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa (222/2000)
Presidente Filipe Soares Franco (62/1963)
Vice-Presidente José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961)
Secretário Pedro Arantes Lopes de Mendonça (222/1958)
Tesoureiro Pedro Pinho Veloso (429/1986)
1º Vogal José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951) (falecido em funções)
2º Vogal Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955)
3º Vogal Marco António Martinho da Silva (456/1983)
4º Vogal João Luis de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra (54/1984)
5º Vogal Luis Manuel Marques Cóias (190/1990)
1º Vogal Suplente Tiago Simões Baleizão (200/1987)
2º Vogal Suplente Eduardo de Melo Corvacho (343/2002)
3º Vogal Suplente Alikhan Navaz Nadat Ali Sultanali (306/2005)
Presidente António Santos Serra (95/1959)
1º Vogal Eugénio de Campos Ferreira Fernandes (180/1980)
2º Vogal Rui Manuel Gomes Correia dos Santos (225/1981)
1º Vogal Suplente Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986)
2º Vogal Suplente Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995)
PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL
Fundada em 1965 Nº 220 Julho/Setembro - 2020
FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECTOR
Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) nunomira.vaz@aaacm.pt
CHEFE DE REDACÇÃO
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REDACÇÃO
Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961)
CAPA Guião da Direcção de Educação do Exército. Foto: Leonel Tomás
ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar
MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
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Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
Quem entrar no átrio do edifício principal do Colégio, a antecâmara dos claustros do edifício do antigo Hospital de Nossa Senhora dos Prazeres, encontra aí várias lápides, ou placas, que homenageiam e recordam os Antigos Alunos caídos ao serviço da Pátria, nas diferentes guerras em que o País esteve envolvido nos últimos dois séculos. Do lado direito de quem entra, por trás do busto do Marechal Teixeira Rebelo, estão colocadas as placas mais modernas, mas que recordam os Antigos Alunos há mais tempo mortos em campanha. Recordam aqueles que caíram no decurso da Guerra Peninsular, integrados no exército anglo-luso que derrotou as tropas de Napoleão.
De acordo com a informação que nos é fornecida no livro «Para lá do Colégio Militar, uma Associação centenária» da autoria de Rui Figueiredo de Barros (62/1936) e de seu filho, Gonçalo Figueiredo de Barros (440/1967), os Antigos Alunos do Colégio mortos na Guerra Peninsular foram os seguintes:
- Alferes Luis das Neves Franco. Morto na Batalha do Buçaco, em Setembro de 1810. Primeiro Antigo Aluno caído em combate.
- Capitão António Pedro Nolasco Pinto. Morto na batalha de Arapilles (Salamanca), em Espanha, em Julho de 1812.
- Alferes Júlio César Augusto. Morto em consequência de ferimentos recebidos no combate de Zagaramendi, em Espanha, em Agosto de 1813.
- Alferes Valentim du Forest. Morto na batalha de Nivelle, em França, em Novembro de 1813.
- Alferes José Maria Mascarenhas Valdez. Gravemente ferido em combate na conquista da praça-forte de San Sebastian, em Espanha, em Agosto de 1813. Morto posteriormente em combate, em Janeiro de 1814.
Não se indicam os números destes cinco Antigos Alunos do Colégio da Feitoria, dado só a partir de 1813 terem sido atribuídos números aos Alunos do Colégio.
O conhecimento que existe entre nós do que foi a Guerra Peninsular é escasso e limita-se, em geral, ao período de 1807 a 1811, entre o início e o final das três Invasões Francesas. Das datas e locais, acima mencionados, em que caíram em combate os Antigos Alunos anteriormente indicados, verifica-se porém que o Exército Português combateu muito para além de 1811, mais precisamente até Abril de 1814, tendo atravessado toda a Espanha e penetrado profundamente em França, terminando a sua acção com a tomada da cidade de Toulouse, que praticamente coincidiu, no tempo, com a abdicação de Napoleão, que ocorreu em Paris. O Exército Português escreveu então uma das páginas mais gloriosas da sua história, que infelizmente é pouco conhecida, por as nossas forças terem estado integradas no exército anglo-luso, do comando do general inglês Arthur Wellesley (mais tarde Duque de Wellington). Os louros da vitória e a fama para a posteridade, ficaram para os ingleses, mas os portugueses sempre ombrearam com eles nos combates, com bravura, não regatean -
do o seu esforço e o seu sangue. Por vezes, até nas situações mais difíceis, foram os portugueses que avançaram na frente nas batalhas, mostrando aos seus camaradas ingleses o caminho a seguir. Foi essa atitude valorosa dos nossos soldados, que levou o Duque de Wellington, na sequência da Batalha dos Pirinéus, uma das mais mortíferas da campanha, a referir-se aos soldados portugueses, como sendo os seus «galos de combate»
Face ao pouco conhecimento que existe relativamente à Guerra Peninsular, em que pela primeira vez caíram em combate Antigos Alunos do Colégio, recordamo-la de seguida, de forma muito sucinta, a única compatível com a natureza desta nossa revista.
A causa próxima das Invasões Francesas do nosso País, foi o Bloqueio Continental, decretado por Napoleão, em Novembro de 1806, o qual não foi acatado por Portugal. Era exigido o
encerramento dos portos portugueses à navegação britânica e a confiscação dos bens dos súbditos britânicos residentes em Portugal.
Face à posição portuguesa, Napoleão decide invadir Portugal, tendo a intenção de proceder de seguida ao desmembramento do País em três regiões, que teriam destinos distintos. Começam então as Invasões Francesas.
A 22 de Novembro, um exército francês, de cerca de 26.000 homens, reforçado por tropas espanholas e comandado pelo general Junot, entra em Portugal, pela Beira Baixa, dirigindo-se a Lisboa, via Abrantes.
Decidida que estava a partida da família real para o Brasil, para evitar a sua captura pelas tropas invasoras, o Príncipe Regente D. João nomeia, a 26 de Novembro, um Conselho de Regência,
que ficaria governando Portugal depois da partida da família real. No dia seguinte, a família real, acompanhada de cerca de 15.000 pessoas, abandona Lisboa, embarcando cerca do meio-dia, em 36 navios, no cais de Belém, com destino ao Brasil; a armada real só levantaria ferro em 29, devido a um temporal, que no dia 28 impediu completamente a saída da barra.
A 30 de Novembro, as forças avançadas de Junot atingem Lisboa e ficam a «ver navios», ao longe, saindo a barra. Os Alunos do Colégio da Feitoria, postados junto à barra, à ilharga do forte de S. Julião e defronte do forte de S. Lourenço (farol do Bugio), deverão ter visto com o maior desgosto e apreensão a saída da armada real, onde seguia o Príncipe Regente, que ainda no ano anterior visitara o Colégio e muito bem impressionado ficara com o mesmo.
Junot começou assim a sua invasão de Portugal com um duplo fracasso; não conseguiu aprisionar a família real portuguesa e não conseguiu apresar a armada portuguesa. Ambos lhe fugiram por entre os dedos.
Em Fevereiro, Junot extingue o Conselho de Regência, que substitui por um Conselho de Governo, ao qual preside. Segundo ordens expressas de Napoleão, o Exército Português é drasticamente reduzido. A maioria do pessoal é licenciada, sendo o pessoal remanescente obrigado a marchar para França, para se incorporar nos exércitos de Napoleão. A partida destas tropas inicia-se no princípio de Abril. Em Maio, com estas tropas ainda em Espanha, é formada com as mesmas a designada «Legião Portuguesa» , com o efectivo de duas brigadas de infantaria e uma brigada de cavalaria. Esta legião segui -
ria Napoleão, em 1812, até Moscovo, tendo ficado perdida na vastidão das estepes geladas russas, na trágica retirada que se seguiu. Portugal, entretanto, ficou praticamente sem exército.
Junot confisca os bens dos nobres que tinham partido para o Brasil, lança pesadas contribuições sobre as populações e saqueia os bens da Igreja.
No princípio de Maio, inicia-se em Oviedo, em Espanha, a sublevação contra os franceses, face à intenção de Napoleão de nomear seu irmão José Bonaparte, rei de Espanha. Em Junho, Chaves, do lado de cá da fronteira, segue-lhe o exemplo, alastrando-se de seguida a rebelião a todo o País, constituindo-se ainda nesse mês uma Junta de Supremo Governo revolucionária, no Porto, encabeçada pelo bispo desta cidade.
De 1 a 5 de Agosto, dá-se, em Lavos, próximo da Figueira da Foz, após conversações com a Junta do Porto, o desembarque de um exército britânico de cerca de
8.000 homens, comandado pelo general Arthur Wellesley, que é de seguida reforçado com mais 5.000 homens, comandados pelo general Spencer.
A 17 de Agosto, dá-se a Batalha de Roliça , ganha pelas forças de Wellesley, contra as forças do general francês Laborde. A 21 de Agosto dá-se a decisiva Batalha do Vimeiro , contra as forças comandadas pelo próprio general Junot, ganha de novo por Wellesley.
A 30 de Agosto, é assinada a Convenção de Sintra , entre a Inglaterra e a França, com a rendição do general Junot. A questão da «Legião Portuguesa» foi ignorada nesta convenção.
Acabava assim a 1ª Invasão Francesa, de cerca de 9 meses de duração, com o embarque das tropas francesas, de 10 a 15 de Setembro, de regresso a França.
Em Dezembro deste ano, iniciam-se as convocações dos portugueses às armas, para se refazer o Exército Por-
tuguês, com o objectivo de se voltar à organização do Exército de 1806.
No fim da 1ª Invasão Francesa fica instalado em Portugal um exército inglês. Esta situação, inadmissível para a França, dá origem, a muito curto prazo, à 2ª Invasão Francesa, sob o comando do general Soult.
As tropas francesas, agora com um efectivo de cerca de 30.000 homens, entram em Portugal pelo Norte, pela fronteira de Chaves, a 7 de Março. A praça-forte de Chaves capitula a 12 do mesmo mês, seguindo o exército francês para Amarante.
Por coincidência no tempo, também no início de Março desembarca em Lisboa, o major-general Beresford, que iria reorganizar e tomar o comando do Exército Português.
A 21 de Março, o exército francês toma Braga, marchando de seguida para a ci-
dade do Porto, que é tomada no dia 29 do mesmo mês, após denodada resistência, que acabaria em fuga e mortes aos milhares no rio Douro, com a derrocada da ponte das barcas, que aí existia. Seguiu-se a pilhagem e a chacina na cidade, pelo exército francês.
Em Abril, desembarca em Lisboa o general Wellesley, para tomar o comando das tropas anglo-lusas. Desembarcam mais tropas inglesas em Lisboa e, no Norte, o General Silveira retoma a praça-forte de Chaves.
Ainda no final de Abril, a 28, o exército anglo-luso parte de Lisboa, rumo ao Norte, chegando a Coimbra em 2 de Maio. Em Coimbra concentra-se um exército de 22.000 homens, dos quais 6.000 portugueses, que marcha para Norte, a 5 do mesmo mês, sob o comando de Wellesley. A 12 de Maio, o exército aliado conquista o Porto, fugindo o exército francês para Norte. O exército francês em fuga, não podendo retroceder pelo caminho por onde entrara, só consegue sair do
País através da zona muita acidentada da serra do Gerês, tendo para isso de transpor a estreita ponte da remota aldeia da Misarela, onde teve de queimar os seus carros de transportes e destruir a sua artilharia, que tinham largura excessiva para transporem a referida ponte.
Assim acabou a 2ª Invasão Francesa, com uma duração de cerca de três meses, que não conseguiu passar para Sul da cidade do Porto e que teve de combater contra um exército aliado, em que a participação portuguesa já era significativa, tendo as forças portuguesas retomado a praça-forte de Chaves. Soult não atingiu qualquer um dos seus objectivos. Foi o segundo grande revés de Napoleão em Portugal. Logo no mês de Setembro seguinte, Napoleão torna público o seu propósito de lançar uma 3ª invasão.
1810
Em 17 de Abril, Napoleão determina a criação da «Armée du Portugal», com
um efectivo de cerca de 65.000 homens, cujo comando é assumido, a 12 de Maio, pelo Marechal Massena, em Valladolid. O objectivo estabelecido para este grande exército era simples: a conquista de Portugal e a expulsão do exército inglês do País.
O exército de Massena, vindo de Cuidad Rodrigo, penetra em Portugal pela Beira Alta e sitia a praça-forte de Almeida, a 15 de Agosto. A 27 deste mês, Almeida capitula depois de violento bombardeamento dos franceses e da explosão do paiol principal, que reduziu tudo a escombros dentro das muralhas. As forças francesas dirigem-se de seguida para Sul e Oeste, por Viseu, até que atingem a zona do Buçaco, onde são esperadas pelo exército anglo-luso.
A Batalha do Buçaco, a 15 de Setembro, onde cai em combate o Antigo Aluno Luis das Neves Franco, não é conclusiva. O exército aliado retira para Sul, executando uma acção retardadora das tropas francesas, que entram em Coimbra a 1 de Outubro, encontrando a cidade deserta. O exército aliado continua o seu movimento para Sul, indo ocupar o dispositivo defensivo das «Linhas de Torres», que estava pronto a receber o impacto do exército francês. A meio de Outubro, o exército francês atinge as «Linhas de Torres», obstáculo formidável que surpreende Massena, que não estava devidamente informado em relação ao mesmo. A 14 de Novembro, após um mês de impasse perante as «Linhas de Torres», num terreno em que tinha sido posta em prática a política da «terra queimada», não havendo nada para abastecer o seu exército, Massena inicia a retirada para a região de Santarém, mais favorável para o aprovisionamento do mesmo exército. Wellesley segue-o, ficando as forças em presença nessa zona durante os meses de Inverno.
Neste ano de 1810, quando as tropas de Massena avançam para as «Linhas de Torres», passa-se no Colégio da Feitoria um facto verdadeiramente notável, que nos é revelado pela seguinte carta, dirigida ao seu Director:
«Il.mo Snr.António Teixeira Rebelo Estes trez Cadetes, que sahirão do Colégio sem licença se vieram apresentar a Sua Exª o Snr. Marechal Beresford pedindo-lhe para que os empregasse no serviço da Linha.
S. Exª que não quer animar este procedimento os mandou outra vez apresentar no Colégio. Porém como são huns moços que ali correrão enganados, e como o motivo que pretendião hé tão honrado, espero que V. Ex.ª tenha com eles indulgência, perdoando-lhes este erro.
Tenho a honra de ser De V. Ex.ª Camarada, e mto Attento Vor.
Antº de Lemos Perª de Lacerda Enxara do Bispo 17 de Outubro de 1810
Esta foi a primeira vez em que Alunos do Colégio, em tempos de guerra ou de revoluções, saíram do Colégio, sem licença, com o intuito de tomar parte activa nas operações, como soldados de linha. Sem que ainda na altura isso estivesse escrito em qualquer documento colegial, estes jovens já tinham gravada nas suas mentes a palavra SERVIR.
No final de Fevereiro, face à falta de recursos para se manter, Massena decide retirar-se de Portugal, através da Beira, por onde entrara. As forças francesas retiram para Norte, saem de Portugal, deixando uma guarnição de 1.500 homens em Almeida, que é sitiada pelo exército aliado a 9 de Março.
Entretanto no Alentejo, a 12 de Março, tropas francesas, comandadas pelo general Soult, sitiam Campo Maior, que cai passado 10 dias, depois de heróica resistência. Beresford, reunindo tropas disponíveis, avança sobre Campo Maior, que é retomada a 25 do mesmo mês. De Campo Maior, Beresford dirige-se a Olivença, que há três meses se encontrava na posse dos franceses. Wellesley dirige-se ao Alentejo, para acompanhar as operações de Beresford, e a 15 de Abril, a guarnição francesa de Olivença rende-se às tropas portuguesas.
A 24 de Abril, Wellesley deixa Elvas, a caminho da Beira, dando instruções a Beresford para sitiar Badajoz. Quando Beresford se preparava para sitiar Badajoz, recebe a notícia de que Soult vinha em auxílio desta cidade. Beresford toma posições na ribeira de Albuera, para aí suster o avanço de Soult. De 16 a 18 de Maio, dá-se a sangrenta batalha de Albuera, em que as tropas de Soult são derrotadas, retirando de seguida para Sevilha.
A Norte, no início de Maio, Massena, crendo que Wellesley ainda estava no Alentejo, tenta libertar a guarnição sitiada de Almeida. As forças aliadas saem ao seu encontro, sob o comando de Wellesley, chegado do Alentejo, e obrigam-no a retroceder em Fuentes de Oñoro, numa batalha de dois dias, que termina a 5 de Maio. Cinco dias mais tarde, a 10 de Maio, a guarnição francesa de Almeida faz explodir as minas que construíra nas fortificações e consegue escapar-se durante a noite.
A Batalha de Fuentes de Oñoro acima referido foi decisivo para o final da 3ª Invasão Francesa , marcada no seu início pela explosão do paiol de Almeida e que terminou com a explosão das minas feitas na mesma praça-forte, um ano mais tarde pelos franceses. A derrota de Massena na Batalha de
Fuentes de Oñoro ditou o seu fim como comandante da «Armée du Portugal» , cujo comando passou para o marechal Marmont, a 12 de Maio de 1811. De novo, todos os objectivos de Napoleão não foram atingidos, não restando um soldado da «Armée du Portugal» no interior de Portugal.
Apesar dos desaires sofridos, Napoleão mantém o objectivo de invadir Portugal, fazendo grande pressão sobre Marmont nesse sentido. Marmont tem a consciência que recebeu um exército fortemente debilitado e desmoralizado, que ainda é mais debilitado, logo no início de 1812, com ordens de Napoleão para enviar algumas tropas para França, para a constituição da «Grande Armée» (cerca de 600.000 homens), com que iria empreender, alguns meses mais tarde, a desastrosa campanha da Rússia.
Em Janeiro de 1812, o exército aliado estacionado na zona de Almeida, transpõe a fronteira e cerca Ciudad Rodrigo, que cai após três dias de bombardeamentos. Iniciam-se então os preparativos para sitiar Badajoz, situada mais a Sul, que juntamente com Ciudad Rodrigo constituíam as chaves das linhas de invasão de Portugal.
No início de Abril, seguindo ordens expressas de Napoleão, o marechal Marmont, embora descrente dos objectivos traçados pelo Imperador, por irrealistas, põe uma parte das suas forças em movimento e dirige-se para Portugal. Passa por Ciudad Rodrigo, que não ataca, deixando aí dois Corpos de Observação e transpõe a fronteira portuguesa, a 10 de Abril, na zona de Alfaiates, seguindo para Penamacor. Iniciava-se assim a derradeira invasão, que apenas afectou a zona de Sabugal-Covilhã-Castelo Branco, causando porém muita destruição. Quan-
do Marmont recebe a notícia de que, a Sul, o exército aliado tinha tomado Badajoz, deixa Portugal, reentrando, a 25 de Abril, em Salamanca, de onde partira. A «4ª Invasão Francesa», que quase ninguém conhece, durara pouco mais de duas semanas.
Em Julho, Wellesley toma a ofensiva. A 22 de Julho trava-se a grande Batalha de Arapilles, perto de Salamanca, ganha pelo exército aliado. Nesta batalha morre o Antigo Aluno António Pedro Nolasco Pinto. Marmont é ferido e evacuado para Bayonne e Beresford é também ferido, sendo evacuado para Lisboa. A «Armée du Portugal» sofreu grandes perdas nesta batalha, tendo sido dissolvida pouco tempo depois da mesma.
Na sequência da derrota de Arapilles, as tropas francesas retiram para Leste. A 30 de Julho, os franceses abandonam Valladolid, que é ocupada pelos aliados. A 12 de Agosto, os aliados entram em Madrid, abandonada por José Bonaparte no final de Julho. A 19 de Setembro o exército anglo-luso sitia Burgos.
O cerco a Burgos é levantado a 22 de Outubro e inicia-se uma penosa retirada, feita sob pressão dos franceses, para Salamanca e Ciudad Rodrigo, face à ameaça de corte das linhas de comunicações com Portugal. A 20 de Novembro, o exército aliado atinge a fronteira de Portugal, onde estabelece quarteis de Inverno, para recuperação e reor-
ganização, após tão dura campanha. O exército aliado, que fez a campanha de 1812, tinha um efectivo de cerca de 80.000 homens, sendo 30.000 portugueses. É com efectivos desta ordem de grandeza que se iniciará a campanha de 1813 (total de 78.000 homens, sendo 28.000 portugueses).
O ano de 1812 corresponde ao início do ocaso de Napoleão, com um recuo considerável das suas forças na Península Ibérica, incluindo mais uma malograda «invasão» de Portugal e com a perda da «Grande Armée», completamente desbaratada na retirada da Rússia.
Em Maio de 1813, Wellesley retoma a ofensiva, penetra de novo em Espanha e entra em Salamanca.
Em 21 de Junho, dá-se a grande Batalha de Vitória. As forças francesas, comandadas por José Bonaparte em pessoa, sofrem uma pesada derrota, perdendo 150 bocas de fogo ( a maior parte da sua artilharia) e deixando atrás de si uma enorme quantidade de despojos. José Bonaparte foge para França. As tropas francesas retiram em debandada em direcção a Pamplona. Na sequência desta vitória, Beresford, já recuperado dos graves ferimentos recebidos no ano anterior na Batalha de Arapilles, escreve ao Príncipe Regente dizendo «Não há melhor infantaria no dia de hoje do que a do exército português»
O exército aliado persegue os franceses. A 7 de Julho, após alguns combates, a divisão do conde de Amarante é a primeira das forças do exército aliado a pisar solo francês.
Depois da batalha de Vitória, Napoleão manda Soult regressar a Espanha, para salvar o exército francês. Em Espanha,
depois da debandada francesa, ficaram as guarnições francesas de San Sebastian, Biscaia e Pamplona. O exército aliado põe cerco a San Sebastian e a Pamplona. Soult consegue reunir um exército de 85.000 homens, para desbloquear a situação em Pamplona e obrigar o exército aliado a levantar o cerco a San Sebastian.
Na zona de Pamplona travam-se alguns dos combates mais duros da campanha. Luta-se durante oito dias, num conjunto de cinco grandes combates, que ficaram conhecidos para a história como a Batalha de Pamplona ou dos Pirinéus, em que o exército francês é de novo derrotado.
A conquista de San Sebastian pelo exército aliado deu-se após 8 dias de ferozes combates. Combateu-se rua por rua, com pesadas baixas de ambos os lados. Segundo um testemunho da época «O ataque foi ali de homem com homem, de baioneta com baioneta e de sabre com sabre: o valor de ambos os contendores ali disputou primores de bravura, notáveis de parte a parte». A 8 de Setembro a cidade caiu. Perdeu-se a disciplina, as tropas aliadas, que tinham sofrido mais de 2.000 baixas, ficaram desenfreadas, seguindo-se a pilhagem, a destruição e as violações, que ainda hoje, passados mais de 200 anos, são recordadas com horror pela população local. Todos os anos, a 31 de Agosto, a população evoca aquele martírio, com uma procissão de velas. Após a queda de San Sebastian, o exército aliado deteve-se durante cerca de um mês, para se reorganizar, e a 7 de Outubro entra em França, transpondo o rio Bidassoa.
A cidade de Pamplona, por sua vez, acaba por cair mais tarde, a 31 de Outubro. Os franceses retiram sobre o rio Nivelle, com os aliados no seu rasto. A 10 de Novembro, dá-se a batalha de Nivelle, em que os franceses perdem 50 bocas de fogo, retirando para
Baiona e para a margem direita do rio Nive, sempre perseguidos pelo exército aliado. A 10 de Dezembro, depois de quatro dias de combate, na designada batalha do Nive, os aliados desalojam os franceses das suas posições.
Durante os dois primeiros meses não ocorreram grandes movimentações, devido a um Inverno rigoroso, com neve e muita chuva.
Em Fevereiro, Wellesley toma a ofensiva.
A 25 de Fevereiro, tem conhecimento que Soult está na zona de Orthez, tendo consigo um exército de 36.000 homens. Sabendo da desmoralização dos franceses, resultante das sucessivas derrotas sofridas, Wellesley, apesar de se encontrar em inferioridade numérica, decide atacar. Os combates duram dois dias, até que Soult percebeu que tinha a batalha perdida e retirou na direcção de Tarbes.
Logo que toma conhecimento da derrota francesa em Orthez, o maire da cidade de Bordéus, vendo aproximar-se o fim de Napoleão, envia um emissário a Wellesley, convidando-o a marchar sobre a sua cidade, cujas portas lhe franquearia. Beresford é então encarregue de seguir para Bordéus, com duas divisões anglo-portuguesas, onde é calorosamente recebido pela população a 12 de Março.
Wellesley prossegue a sua perseguição às forças de Soult, que são batidas, a 20 de Março, em Tarbes, retirando para Toulouse, onde chegam a 24 de Março e se instalam defensivamente.
A 10 de Abril, Wellesley ataca Toulouse, sem saber que dias antes, a 6 de Abril, Napoleão já abdicara em Paris. Na noite de 12 de Abril, o general Soult, vendo-se perdido, abandona a cidade de Toulouse. A 14 de Abril, dá-se o impensável, em Baio-
na, cidade com uma guarnição de 13.000 homens, que estava sitiada desde o reinício das operações. Thouvenot, o governador da praça, que, apesar de já ser conhecedor da queda de Napoleão, não se tinha rendido, lançou um ataque, logo ao cair da noite, sobre as tropas aliadas. Lutou-se bravamente dos dois lados, com baixas de cerca de 900 homens para cada lado. Tudo sangue inutilmente derramado, devido ao fanatismo de um só homem.
A 16 de Abril, é assinado um armistício e, a 24 de Abril, Soult capitula, pela Convenção de Carcassone, depois de receber ordens nesse sentido do novo governo francês. Terminou assim a Guerra Peninsular, que durou quase sete longos anos, tendo as tropas portuguesas pago um tributo pesadíssimo, com mais de 5.000 mortos e quase 9.000 feridos.
Devido aos resultados da campanha que comandara, Arthur Wellesley recebeu, da coroa britânica, o título de Duque de Wellington. Da coroa portuguesa, recebera entretanto os títulos de Conde do Vimeiro e Marquês de Torres Vedras.
O comportamento das tropas portuguesas em combate e mesmo em repouso, nos seus bivaques, foi sempre de molde a receber os maiores elogios do seu comandante, o marechal Beresford, bem como do comandante supremo aliado, o Duque de Wellington. O primeiro, após a Batalha de Nivelle, escreveu «A Europa verá e honrará as virtudes da nação portuguesa no seu exército», o segundo escreveu, após a última batalha em Toulouse, «As tropas portuguesas rivalizaram, de como é de seu costume, em valente conduta com os seus irmãos de armas do exército britânico (….) não só sustentaram até ao fim o seu carácter valoroso, e de excelentes soldados, mas ainda aumentaram a sua glória, e a da sua nação por este feito de armas».
A separação dos exércitos britânico e português deu-se em França, sendo assim narrada por um oficial britânico «No dia seguinte (30 de Maio), logo de manhã cedo, os dois exércitos estavam em marcha, e quando chegaram ao cruzamento de estradas, onde se haviam de separar, os velhos camaradas de armas abraçaram-se e trocaram saudações de adeus. E, enquanto se iam afastando, mais e mais, em direcções opostas, altos e prolongados «vivas» eram gritados de uns para os outros, ressoando e ecoando ao longe, até se deixarem de ouvir com a distância». Mais trágica foi a separação de cerca de 3.000 mulheres portuguesas e espanholas que acompanhavam os militares britânicos, vivendo, salvo raras excepções, em união de facto com os mesmos. Foram proibidas de seguir para Inglaterra com
os seus homens, excepto um número muito limitado de casos de casais que se tinham casado e nem todos nestas condições o conseguiram. Essas mulheres, corajosas companheiras daqueles militares, que passaram pelas mesmas provações que os seus homens, com excepção dos combates, tiveram de voltar às suas terras pelos seus próprios meios, a pé, acompanhando a tropa portuguesa no regresso à Pátria. Foi uma tragédia, cujas dimensões não conseguimos hoje imaginar. Os soldados sobreviventes do exército português entraram em Portugal, pelas Beiras e por Trás-os-Montes, em Agosto de 1814, e foram recebidos num ambiente de exaltação nacional nas localidades de origem dos seus regimentos. Lisboa engalanou-se com dezoito arcos triunfais para receber os seus regimentos e aqueles que, de passagem por Lisboa, se dirigiam aos seus locais de origem. A Ordem de Proclamação
da Junta, publicada na Ordem de Serviço de 18 de Agosto de 1814, dizia, a dado passo, o seguinte «Sim Portugueses, acabou-se a campanha, e os nossos ilustres guerreiros voltam finalmente aos seus lares, coroados dos seus louros imortais que o seu intrépido valor, constância e disciplina colheram desde as margens do Tejo até às do Garona».
Como se referiu, foram muitos os que não voltaram, bem como os que voltaram estropiados. Dos que não voltaram, cinco eram Antigos Alunos do Colégio da Feitoria, Colégio esse que no regresso das tropas, em 1814, já não estava na Feitoria, mas sim na Luz, com a sua nova designação de Real Collegio Militar. E é na Luz, passados mais de duzentos anos, que ainda hoje a sua memória é perpetuada e venerada. É assim a ALMA do nosso Colégio. NÃO OS ESQUECEMOS. É o nosso DEVER DE MEMÓRIA. Temos para com eles uma divida que não tem pagamento possível.
1. Após Napoleão partir para o exílio, o Duque de Wellington foi embaixador em França, mas voltou ao combate aquando do regresso de Napoleão para os seus derradeiros Cem Dias de governação, tendo derrotado definitivamente os exércitos de Napoleão na famosa batalha de Waterloo, em Junho de 1915.
Este artigo é baseado na «História do Colégio Militar», de José Alberto da Costa Matos (96/1950), nas actas do XXII COLÓQUIO DE HISTÓRIA MILITAR, de Novembro de 2013, organizado pela Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), subordinado ao tema PORTUGAL NA GUERRA PENINSULAR (1812-1815), no livro «A Invasão de França 1813-1815», de Mendo Castro Henriques, da colecção Batalhas de Portugal, da Principia Editora e Tribuna da História e ainda no livro citado no texto «Para lá do Colégio Militar, uma Associação Centenária» de Rui e Gonçalo Figueiredo de Barros (62/1936 e 440/1967).
No início das épocas balneares, os concessionários das praias, do litoral ou do interior, preocupam-se em saber se vão ser atribuídas bandeiras azuis às suas praias. Tais bandeiras, sinónimos de águas límpidas e descontaminadas, constituem um atractivo para os banhistas e um prenúncio de boas receitas para os concessionários. Não é dessas bandeiras azuis que vamos tratar. Vamos tratar sim, da «bandeira azul» que esteve integrada na formatura do Batalhão Colegial, na Parada Teixeira Rebelo, nas cerimónias das comemorações do último aniversário do Colégio, como se pode observar na capa da presente revista. Devido à situação de pandemia, as cerimónias não foram abertas ao público, tendo sido presenciadas por um número muito restrito de Antigos Alunos, em representação oficial da nossa Associação. Assim sendo, poucos foram os que observaram «in loco» a dita «bandeira». Como ela era no entanto visível numa das fotos da reportagem das cerimónias, apresentada no último número da ZacatraZ, não foram poucos os Antigos Alunos que estranharam a presença daquela «bandeira» na formatura.
Para esclarecer esta situação, tomámos a liberdade de contactar o Director do Colégio, que prontamente nos deu uma explicação. A atrás designada «bandeira O
azul», não é afinal uma bandeira, mas sim um guião. Trata-se do Guião da Direcção de Educação do Exército, entidade que tutela os Estabelecimentos de Ensino não superior do Exército, ou seja, que tutela o Colégio Militar e os Pupilos do Exército, dado o «óbito» do saudoso Instituto de Odivelas. Segundo a informação recebida, a Direcção de Educação do Exército celebra o seu dia festivo, alternadamente no dia festivo dos Pupilos (em Maio) e do Colégio (em Março). Este ano foi a vez do Colégio, daí a integração do seu Guião na
formatura do nosso Batalhão. Pensamos ser a primeira vez que tal ocorre no Colégio, pois não nos recordamos de alguma vez termos visto tal Guião.
À grande maioria dos Antigos Alunos, a designada Direcção de Educação do Exército nada lhes diz, pois a sua criação é muito recente. Tudo o que não tenha umas largas dezenas de anos de existência, é muito recente à escala colegial. Atendendo a esta situação, apresentamos alguma da informação que está disponível ao público, relativa à dita Direcção. A Direcção de Educação do Exército foi criada por despacho do Ministro da Defesa Nacional n.º 12.555/2006, de 24 de Maio, destinando-se a tutelar o Colégio Militar, o Instituto de Odivelas e o Instituto dos Pupilos do Exército, designados no mesmo despacho por Estabelecimentos Militares de Ensino não superior. Sabíamos desde sempre que o Instituto de Odivelas pertencia ao Exército, não nos recordamos porém de alguma vez este Instituto ter sido designado por Estabelecimento Militar. Tal prática seria estranha, pois o Instituto, tal como o conhecemos, não era efectivamente um Estabelecimento Militar. Dada a lamentável extinção do Instituto de Odivelas entretanto ocorrida, a questão é agora irrelevante. Anos mais tarde, o Decreto-Lei nº 125/2015, de 7 de Julho, configurou aquilo que então designou por «sistema de ensino não superior de matriz militar», definindo as atribuições, competências e estrutura orgânica da Direcção de Educação, que tinha na sua directa dependência o Colégio Militar e o Instituto dos Pupilos do Exército. O Instituto de Odivelas já estava excluído. Surgiu neste Decreto-Lei a novidade da designação «de matriz militar», quando desde sempre se usou a designação «militar». Esta situação pode ser geradora de confusões, o que não é desejável. De facto «matriz militar» pode prestar-se a muitas interpretações.
Da leitura do Decreto 125/2015, verifica-se que a Missão da Direcção de Educação é, em síntese, a seguinte: «garantir a qualidade do ensino», nos estabelecimentos por si tutelados. Esta Missão é óbvia, não suscitando qualquer comentário. A Visão que o Exército tem para a mesma Direcção, é segundo o Decreto, a de manter «escolas de futuro, integradas no sistema educativo português e sólida formação de matriz militar relevante para a relação das Forças Armadas com a sociedade civil».
A forma como é exposta a Visão parece-nos rebuscada, falta-lhe a clareza que seria desejável. Pode não ser unânime o entendimento do que são «escolas de futuro». A integração das duas escolas no «sistema educativo português» aparentemente é pacífica. Não o será porém, se se entender «a obedecer fielmente aos ditames do Ministério da Educação», o que é algo, quanto a nós, prejudicial para o Colégio, admitindo-se que também o seja para os Pupilos. Na realidade, a especificidade destas duas Instituições, implica um tratamento também específico. Não se pode admitir a hipótese de se pretender reduzir as duas Instituições a «liceus», em que os alunos «por acaso» andam fardados, apenas por um «hábito que já vem de longe», ou seja, por uma questão de «folclore». Se há quem assim pense, ou nada percebe destas duas Instituições, ou pretende deliberadamente a sua subversão e destruição.
A informação disponível relativa à Direcção de Educação do Exército, indica para a mesma a seguinte lista de Valores:
Disponibilidade – Disciplina – Honra –Lealdade – Coragem – Patriotismo – Camaradagem - Solidariedade - Liderança.
Para uma boa focagem nos Valores, por parte dos participantes no sistema de ensino, seria desejável uma redução do seu número. A relação de nove conceitos, coloca ao mesmo nível conceitos com
«pesos específicos» diferentes, ou seja, de importâncias distintas. Os Educadores que os terão de transmitir aos Alunos, terão de saber fazer essa destrinça, para que os Alunos fiquem com os conceitos bem «hierarquizados» nas suas cabeças.
Para o Colégio Militar nenhum destes Valores constitui uma novidade. Antes de se passar, pela primeira vez, a escrito o Código de Honra do Aluno do Colégio Militar, já há muito, gerações e gerações de Alunos do Colégio tinham sido educados à luz das Virtudes Militares, o que era intrínseco à natureza militar da Instituição. Mesmo os Alunos que saindo do Colégio não seguiam a carreira das Armas, guardavam estes Valores como seus para o resto das suas vidas. A informação disponível relativa à Direcção de Educação do Exército, inclui ainda as “armas da Direcção”, ou o seu «brasão de armas», como é mais vulgar dizer-se. Reproduzimos aqui as ditas armas. Na sua parte inferior sobressai a divisa da Direcção: «Ensinar nos Valores e na Liderança». Sendo a designação deste órgão, Direcção de Educação, pensamos que seria mais adequado o lema «Educar nos Valores para a Liderança», o que até estaria de acordo com aquilo que mais se valorizou ao longo dos tempos no Colégio. Os grandes vultos de Educadores da história do Colégio Militar consideraram sempre que o Colégio era um estabelecimento de «Educação e Ensino», sendo as duas palavras usadas, intencionalmente, por esta ordem. A Educação dada no Colégio aos seus Alunos, baseada nas Virtudes Militares, era o que os distinguia mais tarde, na sociedade, ao longo das suas vidas, quaisquer que fossem as profissões que abraçassem. Era o seu traço identitário, era a sua marca de origem.
A observação das armas da Direcção de Educação causou-nos alguma perplexidade. Sobre o elmo surge, na posição de pé, um animal que nos pareceu ser uma suricata, que só tivemos oportunidade de
observar na natureza, há décadas atrás, no deserto do Iona, no sul de Angola. É um animal engraçado, possuído de uma grande curiosidade, que o leva a sair da sua toca e a ficar imóvel de pé, a fitar as pessoas que o observam. Se uma pessoa se mantiver imóvel, ao fim de pouco tempo, tem a família toda fora da toca, alinhada, como que em formatura, a olhar para si. Para perceber a situação, recorremos à descrição heráldica das armas da Direcção de Educação, que nos foi facultada através do Gabinete de Apoio à Direcção do Colégio Militar. Na descrição heráldica confirmámos tratar-se do animal que pensávamos. Consta na mesma, o seguinte «o suricata, cujos hábitos diurnos e sociáveis o impelem a sair da toca, a olhar o sol, a perscrutar o horizonte, simboliza os atributos que permitem aos alunos dos Estabelecimentos Militares de Ensino superar as dificuldades e olhar com confiança para um futuro promissor, a curiosidade de saber, a camaradagem e o espirito de corpo». Temos de concordar, que o autor destas armas teve uma ideia feliz e usou uma forma imaginativa de a representar.
Quanto ao escudo, a descrição heráldica indica que se representa uma oliveira, dado da mesma se obter o azeite, que alimenta as chamas das lucernas, que simbolizam o conhecimento. A oliveira é representada
arrancada do solo e com três raízes diferentes, que representavam os três Estabelecimentos Militares de Ensino, existentes na altura, com as suas especificidades.
Quanto à divisa da Direcção, de que já falámos, a descrição das armas indica o seguinte «define de forma lapidar que a educação integral ministrada nos Estabelecimentos Militares de Ensino visa uma sólida formação académica, física e comportamental, criando os líderes de amanhã». Curiosamente a descrição apresentada levou-nos a voar em mente ao início do século XX, ao Regulamento Interno do Colégio Militar de 1901, extraordinário documento, da autoria do então Director José Estevão de Morais Sarmento. Nele se indicavam, de forma cristalina, objectivos idênticos aos agora expressos, mas segundo uma ordem praticamente inversa. Segundo Morais Sarmento, o objectivo do Colégio era criar homens de CARÁCTER honrado e resoluto, INTELIGÊNCIA lúcida e esclarecida e ORGANISMO forte e desembaraçado. Antes de tudo estava o Carácter. Agora parece que se tem medo do peso das palavras e fala-se de «comportamentos». Não é nada bom para a educação dos jovens. Há que transmitir-lhes o peso das palavras e o peso das responsabilidades. Nesta matéria há que dizer tudo com toda a frontalidade. Não são admissiveis quaisquer relativismos.
Há cerca de dois anos, numa festa de casamento, tive como companheiro de mesa, um médico aposentado, antigo director de serviços dos hospitais civis de Lisboa. Ao ver a Barretina na minha lapela, disse-me, que, ao longo dos seus anos de director, lhe tinham passado pelo serviço vários médicos Antigos Alunos do Colégio. Nada referiu acerca das suas competências técnicas, mas achou importante sublinhar, que todos eles tinham sido homens de comportamento impecável, melhor dizendo, homens de CARÁCTER. Concluiu, perguntando-me se o Colégio continuava a produzir gente assim. A minha resposta foi «Tal continua a ser o objectivo, tanto do Colégio, como da comunidade dos seus Antigos Alunos».
OMuseu do Fado decidiu, em boa hora, fazer uma exposição temporária de evocação de José Pracana , o nosso inesquecível " Óitenta" , figura grande do fado, que ombreou com os maiores fadistas e guitarristas, sem nunca ter sido profissional da música.
O “Óitenta” , de seu nome completo, José da Silva Pracana Martins , natural dos Açores e que nos Açores terminou os seus dias, ingressou, em 1956, no Colégio, onde já tinha o seu irmão mais velho, Manuel da Silva Pracana Martins (240/1953), que foi graduado, uma estrela, da 1ª Companhia, no ano lectivo de 1959/1960. O Óitenta saiu do Colégio em 1960. Apesar de não ter concluído o seu curso no Colégio, o Zé Pracana deixou atrás de si um rasto luminoso de uma enorme simpatia e de uma graça irresistível. Era um «sempre em festa» , com uma permanente boa disposição, o que o tornou numa figura do universo colegial daquele tempo. Irradiava simpatia, criando amizades de forma natural. Algumas das suas saídas repentistas ficaram famosas. Alguns professores, embora reconhecendo as suas qualidades, não terão ficado com tão boas recordações dele, pois era capaz de desestabilizar uma aula inteira com as suas facécias. Conta-se, que certo dia, numa aula de físico-quimica, com o «Ervilha» como professor, o "Óitenta" pôs a aula em desassossego, o que levou o «Ervilha», já de cabeça perdida, a
dizer «Oitenta, és um sacana» . A resposta do " Óitenta" foi instantânea, «Pracana, meu major, Pracana» Não sabemos como terá acabado aquele diálogo, possivelmente com o "Óitenta" corrido da aula para fora, com a correspondente participação ao Subdirector.
Após a sua saída do Colégio, o Zé Pracana não esqueceu os nossos claustros, pelo que voltava ao Colégio nas suas datas festivas, nomeadamente
nas comemorações do 3 de Março. Nas grandes comemorações dos 175 anos do Colégio, o Zé Pracana respondeu presente e brindou-nos com a sua arte, no grande espectáculo que teve lugar no anfiteatro principal da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Depois de se fixar nos Açores, em Ponta Delgada, passou a ser uma presença assídua nos jantares do 3 de Março, que reuniam e reúnem, naquela cidade os Antigos Alunos açorianos. Segundo o testemunho dos «habitués»
desses jantares, o Zé Pracana começava a rememorar as suas histórias do Colégio e punha todo o pessoal a rir, alguns mesmo a rir até às lágrimas, tal era a graça com que ele contava as suas peripécias.
O curso de entrada de 1956, tendo sabido da iniciativa do Museu do Fado de promover uma exposição temporária de evocação do Zé Pracana, mobilizou-se e fez uma visita colectiva ao Museu, para recordar o seu grande camarada e amigo. O Luis Nobre Chandelier Duarte (332/1957) tocou a reunir. O pessoal respondeu «pronto» e compareceu em peso. Até levaram um aderente do curso anterior, o Manuel José de Matos Almeida (262/1956).
A visita teve lugar no passado dia treze de Fevereiro de dois mil e vinte. Escolheram bem a data. Se tivessem combinado para mais tarde, o «confinamento» , devido ao malfadado vírus, ter-lhes-ia estragado os planos.
A visita foi do agrado geral, tendo sido uma visita guiada, o que aumentou o seu interesse e permitiu ficar a conhecer factos menos conhecidos da vida artística do nosso camarada e amigo.
A concluir a visita, no átrio de entrada do Museu, o Comandante de Batalhão, Pedro Braga Abecassis (15/1956), gritou bem alto um Zacatraz, em memória do Zé Pracana, no que foi secundado, em uníssono, por todo o curso. O pessoal do museu terá ficado perplexo, sem saber o significado daquela gritaria. Nos velhos tempos, tudo poderia ter terminado com uma passagem pela esquadra mais próxima da PSP, para identificação daquele grupo de arruaceiros, que assim perturbava a ordem pública. Terminada a visita, deu-se continuação à jornada de saudade e camaradagem, atravessando-se a rua e
«abancando» no restaurante existente em frente do museu. Nas fotografias que ilustram este texto podem-se ver alguns aspectos do almoço que aí teve lugar, em que se brindou, repetidas vezes, à memória do Zé Pracana. Ainda a acompanhar este texto, apresentam-se duas fotografias do Zé Pracana com figuras grandes do fado do seu tempo. Uma com o inesquecível Alfredo Marceneiro e outra com
Amália Rodrigues, sua amiga pessoal. O Museu do Fado, para além da exposição referida, homenageou também o Zé Pracana com a publicação de um livro evocativo da sua carreira no fado. O livro é interessantíssimo, sendo feito à base de depoimentos de artistas que consigo conviveram e de fotografias evocativas da sua carreira. Os títulos dos depoimentos colhidos, por si só, retractam o Zé Pra -
cana. São os seguintes: «Ser inteiro» (Sara Pereira), «Cantar, Sentir e Saber o Fado: Memória do Zé Pracana» (Rui Vieira Nery), «O Meu Primo Zé» (Clara Pracana), «A Arte de Ser Toda
a Gente» (João Braga), «Grande» (Paula Moura Pinheiro), «Recordando Zé Pracana» (Nuno de Siqueira), «Fado, Guitarra Portuguesa e Humor» (Carlos do Carmo), «Um Curador do Fado» (Camané), «O Zé Pracana» (Kátia Guerreiro), «Quanta Saudade» (João Veiga), «Memórias do Amigo Sempre Bem-Humorado» (Pedro Caldeira Cabral), «Pracana, o Aprendiz Mais Antigo» (Pedro Félix). A acompanhar este texto reproduzimos a capa do livro, que é de grande qualidade. Quem adquirir o livro, dará o seu dinheiro por bem empregue.
O Zé Pracana não foi apenas um guitarrista e um fadista de mérito, o que já por si não seria coisa pouca. Foi também um homem que amou, estudou e divulgou o fado, não só entre nós, mas também fora de portas. Felizmente, foram reconhecidos e premiados, com ele ainda em vida, o seu talento como executante e o seu labor em prol do fado.
Apresentamos de seguida, alguns dos passos mais marcantes da vida e carreira do Zé Pracana.
1946 – A 18 de Março, nasce em Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel, nos Açores.
1956 – Ingressa no Colégio Militar, onde recebeu o número 80, que ele na altura pronunciava Óitenta.
1964 – Primeira ida a uma Casa de Fados. Quis o destino que não fosse em Lisboa, foi em Lourenço Marques, na casa de Fados «A Toca», de Benvinda Correia.
Primeira actuação em público, como amador, condição que sempre manteve.
1969 – Inaugura em Cascais «O Arreda», espaço que geriu e onde actuou e conviveu com os maiores nomes do fado daquela época.
Edita o seu primeiro EP, em nome próprio. Participa no programa Zip-Zip , o primeiro «talk-show» da televisão portuguesa, apresentado por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e pelo famoso actor Raul Solnado, seu amigo.
1972 – Edita o seu segundo EP, «Lenda das Rosas», e participa no LP, «Uma Noite de Fado em Cascais», com o tema «Saudades do Fado».
Ingressa na TAP, para a categoria de pessoal de bordo, não deixando porém a sua paixão pelo fado.
1975 – Grava o EP, «A Ceia dos Intelectuais», em que conta com a participação do conjunto de Guitarras de Raúl Nery.
1976 – A RTP emite a série por si idealizada, intitulada «Vamos aos Fados».
1977 – A 10 de Junho, é homenageado, no Rio de Janeiro, pelo Clube Português de Niteroi.
Participa no LP intitulado, «Recordando Raúl Ferrão» , com o tema «Fado Campino» .
1989 – De regresso à sua terra natal, casa com Maria Natália de Sousa Borba Vieira.
1990 – Nasce o seu primeiro e único filho, António.
1991 – É distinguido pelo jornal «O Correio dos Açores», como uma das dez personalidades de maior destaque deste ano.
1992 – Apresenta na RTP Açores o programa da sua autoria, «Silêncio que se vai Contar o Fado».
1994 – Conjuntamente com David Ferreira, realiza a selecção do repertório incluído na colectânea «Biografia do Fado».
1999 – Colabora no projecto editorial da Ediclube «Um século de Fado», editado neste ano.
2000 – Realiza a selecção do repertório incluído na colectânea «Biografia do Fado de Coimbra».
2005 – Recebe o prémio «Amália Rodrigues», na categoria «Fado Amador».
Realiza a selecção dos temas incluídos na colectânea «Biografia da Guitarra»
2006 – É um dos responsáveis pela banda sonora do filme «Rio Turvo».
2007 – Coordena, no Museu do Fado, um ciclo consagrado às memórias do Fado e da Guitarra Portuguesa.
2009 – Participa, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, no conjunto de noites temáticas intitulado «Fados e Guitarradas».
É co-autor, conjuntamente com Carlos do Carmo, Rui Vieira Nery e Sara
Pereira, do documentário transmitido pela RTP, intitulado «Fado – Trovas Antigas, Saudades Loucas» Assume a direcção artística da primeira edição do Cruzeiro do Fado.
2010 – É distinguido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, com a Medalha de Mérito Municipal. Realiza uma conferência, em conjunto com Óscar Cardoso, sobre a cons -
trução da guitarra portuguesa. Actua na Sociedade Nacional de Belas Artes, na inauguração da exposição «Fado 1910» . Assume de novo a direcção artística do Cruzeiro do Fado.
2011 – Recebe o troféu «Homenagem ao Fado», da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
É apoiante e signatário da candidatura do Fado á «Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade» . A candidatura foi aprovada pela UNESCO.
2012 – É agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa, com a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro, pela sua acção na candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Integra o elenco do documentário «FADO» , realizado por Aurélio Vasques e Sofia de Portugal.
Orienta um dos «workshops» da 2ª edição do Festival do Fado de Madrid.
2013 – É agraciado com a medalha e diploma da Ordem Soberana e Militar de Malta.
2015 – A 10 de Junho, é agraciado, pelo Presidente da República, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, pela sua acção de divulgação da cultura portuguesa.
2016 – A 26 de Novembro, morre, aos 70 anos, na sua cidade natal de Ponta Delgada.
O livro a si dedicado, refere no seu final «conseguiu granjear o respeito e a admiração de todas as personalidades com que se cruzou» É um elogio muito parco. O Zé Pracana, como
já se disse, deixou atrás de si um rasto luminoso de simpatia, camaradagem e de amor. Não o esquecemos.
A partir de agora, quando falarmos de Meninos da Luz que se distinguiram em vários domínios da nossa vida em sociedade, quando chegarmos ao domínio das «Artes» , não podemos deixar de nomear José da Silva Pracana Martins. Ele faz parte, por direito próprio, dessa galeria de notáveis. Nós tivemos o privilégio de com ele compartilhar a nossa vida no Colégio.
Para que fique registado para a posteridade, segue-se a relação dos participantes na jornada de 13/2/2020, de recordação do Zé Pracana:
Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro (1/1956), Pedro Braga Abecassis (15/1956), Manuel Barroso Silvério Marques (18/1956), Luis Alexandre Lynce de Faria (27/1957), António Manuel Gomes Mendes Arnaut (45/1957), Luis Fernando Cordeiro Falcão Mena (77/1955), António Mexia Leitão (108/1956), Mário Quintanilha de Sampaio Nunes (110/1954), Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos (112/1956), Rui Alexandre Carita Silvestre (115/1956), Fernando José Raposo Marques Cavaleiro (135/1956), José Paulo Ferreira Saraiva Cabral (142/1958), António Manuel Pereira de Figueiredo Cardoso (181/1956), João Virgilio Soeiro da Costa (196/1956), Nuno Rodrigo Santos Pereira (216/1958), Manuel José Matos de Almeida (262/1956), José Maria Eça de Queiróz ( 272/1955), Eurico Jorge Henriques Pais (306/1957), José Eduardo Ferreira Rosado Pinto (329/1956), Luis Nobre Chandelier Duarte (332/1957), Mário José Roncon Santos (333/1955), António Fernando Diniz de Ayala Boaventura (339/1955), Luis Filipe Melo e Sou -
sa Pardal (340/1956), Henrique José Pessoa de Freitas Morais (345/1956), António Manuel Silva da Gama Pinheiro (357/1957), José Manuel Esteves de Carvalho (368/1957), José Fernando Décoppét dos Santos Coelho (379/1957), Manuel António Santos Correia Monteiro (419/1955), Manuel Agostinho Castro Freire de Menezes (423/1955), António Manuel Rosas Leitão (441/1958) e José Luis Rodrigues Portero (476/1958).
Como complemento a este texto, apresentamos os depoimentos de dois camaradas: o Carlos Manuel Pacheco
Teixeira da Silva (34/1956) e o António Manuel Latino Tavares (100/1954).
O depoimento do António Latino é fruto de muitas viagens que fizeram em conjunto, nos tempos em que o Zé Pracana voava na TAP.
DEPOIMENTO DE António Manuel Latino Tavares (100/1954)
Um dia o Zé Pracana estava à porta do avião a receber os passageiros, quando entra um sujeito que lhe diz: ...eu sou Secretário de Estado !
E o Pranaca chega-se mais perto do ouvido dele e pergunta-lhe:
E GOSTA ???
Largou toda a tripulação a rir !!!
Um dia , estávamos numa festa ou numa fadestisse qualquer , já não me lembro bem ! Eu conversava com o Pracana e entra o Zé Luís Pinto Basto com a Xaxão Picão Caldeira , lindíssima, muito morena , com um vestido todo branco ! E diz-lhe o Pracana : Óh Xaxão , o branco é muito bonito, mas “caga-se” muito, não acha ?
Largou toda a gente a rir .
O depoimento do Carlos Teixeira da Silva é fruto do convívio que tiveram nos Açores, nos últimos anos de vida do Zé Pracana.
DEPOIMENTO DE Carlos Manuel Pacheco Teixeira da Silva (34/1956)
S.Miguel, Açores, em confinamento Março a Maio de 2020
ZÉ
Eh pá, há quanto tempo que não falo contigo !
Ultimamente não nos temos visto, ainda por cima vivendo na mesma ilha. Mas, como sabes, anda por aí à solta um “fdp” dum bichinho que nos tem impedido de circular na nossa querida terra e, pior ainda, não nos deixa sermos nós mesmos.
Não podemos conviver com quem gostamos de estar, Família e Amigos, sejam crianças ou velhos, mesmo com os conhecidos a quem dávamos os bons-dias no café ou dizíamos uma graçola, ao benfiquista ufano porque ia em 1º lugar do Campeonato Nacional (2019/2020) mas que acabara de ser ultrapassado pelo Porto. E eu sportinguista habituado há muitos anos a “olhar para cima” !!!
Já sei, não vou falar mais de futebol contigo, foi uma coisa que nunca soube. Qual era o teu clube. Aliás, sabia que só tinhas dois clubes, daqueles que se vivem com paixão, o FADO e o COLÉGIO MILITAR.
Claro que tinhas outras paixões, à cabeça a FAMÍLIA que criaste e a que te dedicaste de alma e coração.
Os eventuais leitores destas linhas, merecem um esclarecimento prévio quanto ao porquê da sua existência.
A 14 de Dezembro de 2019 teve lugar, no Museu do Fado, a inauguração de uma exposição dedicada ao Zé Pracana, na qual tive o prazer e a honra de participar. Mais tarde, a 13 Fev 2020, o curso de entrada no Colégio Militar de 1956 dinamizou uma visita guiada à referida exposição. Sendo o Zé Pracana um dos elementos desse curso, infelizmente falecido a 26 de Dez 2018, foi decidido sensibilizar o Chefe de Redacção da nossa Revista “ZACATRAZ”, o Luis Filipe Ferreira Barbosa “Maurício”, 71/1957, para que a Re -
vista publicasse, em jeito de homenagem, algo sobre ele, escrito sobretudo por Amigos que, tendo convivido com ele mais de perto, tivessem dele a proximidade e intimidade suficientes para que a sua personalidade e caracter fossem referência e exemplo. Para o efeito, telefonou-me o Zé Fernando Santos Coelho, “Amarela”, 379/957, para que, se entendesse, escrevinhasse umas linhas, a serem integradas num bloco a apresentar à Direcção da ZACATRAZ.
De forma alguma podia recusar, por tudo o que sentia pelo Zé.
Que me desculpem o tom coloquial que utilizo.
Desculpa, Zé, ter interrompido a nossa conversa por causa do futebol. Não sei bem quando foi a última vez que estivemos juntos!
Não, não foi nos vários “ 3 de Março ” que em S. Miguel dinamizavas, sempre com empenho e dedicação, desde que passaste a viver em Ponta Delgada. Lembrando que era uma missão da AAACM, e como seu Delegado, exigias a celebração de uma Missa em memória dos falecidos, seguindo-se a visita ao Carlos Barreiro Pais de Athayde (13/1910), internado na Clínica do Bom Jesus. Para este Camarada, impossibilitado já de participar no subsequente almoço, era o reviver duma felicidade colegial não perdida, transmitindo tu depois a todos os presentes as suas reacções. E os “ Zacatraz ” também eram em sua honra.
Após a morte do Athayde os decanos passaram a ser o Profírio Pereira da Silva, 225/1929, e o Carlos Miguel Rodrigues, 85/1934, quais “Matusaléns” como carinhosamente lhes passaste a chamar. Ambos também já falecidos.
Terá sido o nosso último encontro na Praia do Pópulo ? Ou na Praia Grande do Pópulo?
Aquela praia com ondas tão saborosas, onde andavas de um lado para outro, em aquecimento, para te meteres numa água a 23º C. Ou não seria antes para tentar fazer desaparecer uma barriguinha de velhas e tão agradáveis petisqueiras, sempre regadas a tinto, do bom claro ?
Nunca me disseste quais os petiscos que mais gostavas!
Também não interessa, dizias-me sempre com quem tinhas tido o prazer de te sentar à mesa. E foram tantos os Amigos que tiveram este privilégio!
Da tasca mais recôndita com farelo no chão e mesas quadradas de már-
more, ao solar da mais alta aristocracia, com Arraiolos no chão e Gobelins nas paredes, para não falar nas pratas e nos óleos de Família, a tua galhardia e altivez, sempre igual e respeitosa, foram apanágio duma vida que mereceu ser vivida.
Zé, não sei porquê, mas tenho a impressão que preferias aquelas aos salões da alta roda. Nunca mo disseste. Mas a forma e o conteúdo que deste à tua Cave na Rua de Lisboa, não enganam. Era o teu “Lugar de Culto” . Estive lá contigo e com a Maria Natália três ou quatro vezes.
Tão poucas vezes, Zé! Paciência, são circunstâncias da Vida que só nós criamos.
E que lugar, meu Deus! As paredes “falando sempre”. Foi numa dessas
noites que diante duma fotografia me perguntaste se conhecia uma das fotografadas num grupo alargado. Claro que conhecia, era uma prima direita minha, que sabia ser das tuas relações de amizade próximas e profundas.
Carlinhos, temos que fazer qualquer coisa pela M.C.Q., disseste-me com emoção.
Exclamava e insistia, pois a vida da M.C.Q., com doença e azares familiares, deixara de lhe sorrir e ele sofria com isso. Aliás, o Zé com o seu enorme coração sofria interiormente com aqueles que, deserdados da vida, também integravam esta tremenda legião que nos envolve.
Espera aí, estou-me a lembrar com aquela “das praias” , que comemos juntos os quatro, tu e Maria Natália eu e Ana, no Bar da Praia de Água d’Alto, uns Camarões à Lá Guilho com umas boas e refrescantes cervejolas da nossa fábrica Melo Abreu, à pressão, das melhores do mundo, passe o exagero. Deliravas sempre com estes camarões.
Carlinhos, mas tu lembras-te daquele coco aos pinotes na aula de Ginástica do Victória ?
E riamos sempre os dois quando ele contava esta cena inesquecível. Que só um humor apurado, digo que de nascença, podia lembrar-se de “pintar a manta” com um verdadeiro coco escondido nas “bragas de ginástica” . Tínhamos dez ou onze anos, de S. Miguel fomos os dois para o Colégio. Custou-nos muito sair dos Avós, mais que do conforto. Eu recebera, por encomenda enviada de Moçambique por meus Pais, várias guloseimas, uma camisola à “civil” e, calcule-se, um coco.
Este desapareceu do meu cacifo e apareceu no Ginásio…
As ditas “bragas” dum pequenote, como devem calcular, não comportavam no seu interior um vulgar coco que, com os “pinotes da ginástica sueca” mandada executar pelo Ten. Victória, por quatro ou três filas todas alinhadas pela frente, redondo como era, tinha que sair por qualquer lado, obviamente desalinhado das ditas filas. Confesso que não me lembro do resultado da “expedição do coco” , mas a risada proporcionada em toda a turma, sobretudo nas filas de trás, foi hilariante. Não fomos castigados. O Victória era duma compreensão e bondade acima da média, sobretudo no Colégio. Tínhamos boas notas a Ginástica, o resto das disciplinas é que era pior. Nunca tive a oportunidade de lhe perguntar o que teria acontecido se a ocorrência fosse na aula do Bilstein Sequeira, seu primo!
Zé, também não te perdoo o teres-me acordado e a muitos outros, a imitar o toque de clarim para uma alvorada sobressaltada. Não foram duas nem três vezes. Tenho a impressão que te mandei uma vez uma bota à tola……mas foi pena ter falhado, porque continuaste a imitar o clarim! A coisa agravou-se quando te apareceu nas mãos uma “charamela” e não paravas de a tocar. Tive sempre inveja do teu jeito e, sobretudo, ouvido para a música. Não importava o instrumento já para não falar na capacidade de imitação, ou a voz não fosse um dos instrumentos sublimes ao serviço do Homem.
Ah Zé e tu perdeste a voz tão cedo! As andanças colegiais acabaram cedo para mim. Hoje tenho pena de não me ter aplicado, mas ficaram muitas amizades.
Como acabei nos Salesianos do Estoril e tu vivias em Paço d’Arcos e frequentavas o Liceu de Oeiras encontrámo-nos muitas vezes no comboio. Tivemos amigos comuns que ainda hoje são parte intrínseca do nosso passado.
O Zé Manel Rodrigues é um deles, que vivia ao pé de ti em Paço d’Arcos, que esteve comigo na Guiné e que, ainda agora, não deixa passar alguns episódios passados em comum.
Nunca me tinhas contado duma prova duns blue jeans numa loja da baixa de Lisboa, em que o Zé Manel te roubou as calças do cubículo e saíste a correr atrás dele em cuecas.
Também há uma história dum jantar onde foram os dois sem “cheta” no bolso, comendo do bom e bebendo do melhor, salvando-se a conta ao som duma guitarrada e dumas larachadas a umas senhoras em grupo que, animadas e divertidas, não sei se acabaram por cantar um faduncho ao som da tua guitarra. Tenho que lhe perguntar.
Esta nossa conversa já vai um pouco longa, mas quero-te lembrar, aliás como muitas vezes te disse, que fui tão poucas vezes ao teu “ARREDA” , só duas, talvez três. Não podia ir mais vezes porque me faltavam os cabedais e se te dissesse a razão tu insultavas-me e franqueavas as portas à borla.
Aliás, antes do “ARREDA” também estive contigo no “ESTRIBINHO” onde cantaste, se me recordo, com a Teresa Tarouca e o António de Melo Correia, de boa memória e fim triste. Já em Ponta Delgada, para onde ambos regressámos para dar uma “volta” à nossa vida, tiveste a coragem de abrir uma “casa de fados” na Rua de S.Miguel. Eu e a Ana fomos lá algumas vezes
– Manuel de Almeida esmerou-se sempre – e se não fomos mais foi porque as finanças são sempre uma limitação para os extras.
Eu sei Zé, que para ti o Fado não era extra nenhum, desculpa!
Naquele local bebemos sempre juntos um copo de tinto. Vieste sempre à nossa mesa e as anedotas não faltavam nem alguma picardia política, em que eras mestre.
E a propósito de política, mas contaram-me que passaste algumas longas horas na António Maria Cardoso – não é preciso dizer que organismo do Estado Novo tinha lá a sua Sede – é história?
Nunca me contaste esta, e se foi verdade, não te perdoo!
Ias no comboio de Paço d’Arcos para Lisboa e, do alto da tua estatura, numa carruagem apinhada, voltaste-te para alguém e, em voz alta e sem tremer as sílabas disseste qualquer coisa como:
Estou atrasado para chegar ao Técnico. Ando envolvido num projecto para construir uma cadeira nova para o Salazar !
Haverá alguém que possa confirmar esta peça de humor digna do melhor anedotário socio-político da época ? Que esperavas? Tinhas que ir “dentro”!
O teu blaser sempre impecável, a camisa engomada a preceito com gravata regimental eram adornados sempre com a Barretina na lapela, símbolo máximo do Colégio. Só não a punhas quando envergavas o teu engomado smoking.
Zé, tinhas mesmo muito orgulho em ter andado no Colégio Militar!
Já agora que estamos a falar de fadistices, não posso deixar de imaginar o
que andas a divertir-te. De certo que já arranjaste uma tertúlia permanente. Claro que não podes tocar sempre e cantar muito menos, a tua garganta não te deixa.
Peço-te, só mais uma vez, canta e toca para mim “A Lenda das Rosas” !
Que tal te aguentas com o Armandinho e Artur Paredes, onde certamente bebeste alguma da tua “nobre arte” ?
Não te quero falar do teu grande Amigo “Ti Alfredo” e da grande Amália Rodrigues que tão bem conheceste. Sei alguma coisa do muito que vos une! Grande amizade recíproca e cultivada.
E de tantos e tantos outros !
Sabes que está a correr um programa na RTP 1 que dá pelo nome de “Em Casa d’Amália” da autoria do fadista José Gonçalez e que comemora o seu centenário ? Não conhecia este rapaz que procura recriar, pelo menos lembrar, as tertúlias que se juntaram naquela casa.
Sabes, o que me tem impressionado é a quantidade e qualidade de tanta gente nova a cantar e a tocar.
Tens que aparecer por lá, conheces bem os cantos à casa e vais ficar muito contente e feliz por esta rapaziada nova que já tem pelo Fado a paixão que tu tens e que tão bem soubeste investigar, promover e sobretudo divulgar.
E por divulgação, lembras-te da série de “Fados e Guitarradas no Teatro Micaelense - Noites Temáticas ” que puseste de pé no seu Salão Nobre em 2009? Foram seis sessões de boa memória que engrandeceram aquele maravilhoso teatro. Foram uma referência, como aliás tantas outras que
lideraste ao longo dos anos em tantos palcos. Exigente, profundo, divertido, equilibrado e sempre pedagógico.
E a rapaziada nova que soubeste trazer e apresentar? Não me leves a mal, e sem desprimor de todos/as os/as outros/as recordo o António Zambujo que estava a dar os primeiros passos e ainda não era a “estrela” que hoje é. Que humildade cativante que só tu conseguias descobrir num principiante e que se tem mantido. O Camané também veio aos Açores, pela primeira vez por tua mão e empenho, à Ilha do Pico. Vi-o muito depois em S. Miguel. Enorme. Julgo que concordas.
Claro que tenho a tua “ Biografia do Fado” em 2 CD´s onde, sem favor, escreveste:
“Ao meu querido Amigo Carlos Teixeira da Silva o abraço e os meus fados” – Dia do C. Militar, P. Delgada 3/3/1995” , onde os textos assinados pelo David Ferreira , Ruben de Carvalho e por ti, são eles mesmo um Fado.
Olha Zé, não sei o que se passa, mas qualquer coisa aconteceu com esta “coisa” do Fado. Então desde que foi considerado Património Imaterial da Humanidade, tem havido muitos programas na rádio e televisão e mesmo nas redes sociais onde se fala e ouve Fado. O mais recente, que eu saiba, enquadrado pela situação que estamos vivendo, chama-se “Fique em Casa……..de Fados” na RTP1. Não tenho dúvidas de que o gostarias de ver e recordar, só olhando para as portas, os vários interiores onde certamente entraste e de imediato eras motivo de alegria e emoção para qualquer dos presentes.
Tu Zé, um “simples” Amador ! Sabes, lembrei-me agora quando foi a última vez que estivemos juntos, foi no dia a seguir ao de Natal, 26 de Dezembro de 2016.
Dia em que Stº Estevão se encheu e as Guitarras e Violas choraram, com Alfama e o Tejo a seus pés.
Eu, longe em S. Miguel, chorei com elas.
José da Silva Pracana Martins – 80/1956 n. 18 MAR 1946 - f. 26 NOV 2016
Indispensável ler e ter o livro “ ZÉ PRACANA” editado pelo “Museu do Fado”
Como importante nota final, referimos que o Zé Pracana nunca esqueceu a sua «Casa Mãe», pelo que, toda a vida, trouxe bem visível na lapela do seu casaco a nossa Barretina.
Ao António Latino Tavares (100/1954) e ao Carlos Teixeira da Silva (34/1956) o nosso agradecimento, pelos seus depoimentos. Um hilariante, o outro comovente. Era assim o Zé Pracana.
ZACATRAZ.
A RedacçãoEntre 1961 e 1974, a guerra que decorria em três frentes ativas, Angola, Guiné e Moçambique, levou para África e Ásia milhares de militares portugueses. Alguns levavam as famílias, mas na maioria dos casos, as mulheres e os filhos ficavam na metrópole. Apesar de ser uma guerra distante, foi muito sentida em Portugal Continental, pelos familiares e amigos dos militares envolvidos.
Como refere o Coronel Aniceto Afonso, antigo diretor do Arquivo Histórico Militar (AHM), na introdução ao livro “Sinais de Vida”, de Joana Pontes, “O silêncio imposto pelo regime faz a guerra parecer distante”, contudo, através da leitura de cerca de 4.400 cartas e aerogramas depositados nesse arquivo e analisados pela autora, ficamos a conhecer a situação vivida naqueles territórios, fosse na frente ou na retaguarda, bem como a que se vivia na então designada metrópole, e como foi evoluindo, ao longo desses anos, a forma como era encarada a guerra e o seu desfecho. Entre a correspondência analisada não se encontram cartas ou aerogramas dirigidos ou recebidos de crianças, filhos desses militares. Muitos deles frequentaram durante esse período os colégios existentes para filhos de militares, o Instituto de Odivelas, o Colégio Militar e o Instituto dos Pupilos do Exército. Muita correspondência terá, entretanto, desaparecido, mas outra poderá ter sido conservada. Como refere Joana Pontes, “Não creio que quem conservou a correspondência o tenha feito apenas para relembrar tempos passados. Terá sido também, para não os deixar cair no esquecimento. Guardar e arquivar são gestos que supõem
uma consciência individual dos acontecimentos vividos e a vontade de deixar testemunho ou, como diria Jorge de Sena, de se libertar da morte sem deixar de morrer”.
Faltam Detalhes foi o nome da campanha que a Liga dos Amigos do AHM levou a cabo em 2003. Criada nesse mesmo ano por um pequeno grupo de cidadãos, civis e militares, teve como primeiro objetivo ajudar o AHM na recolha de património que corria evidentes riscos de desaparecer. Este projeto revestiu-se da maior importância no que diz respeito à recolha e salvaguarda de património documental, no sentido da preservação da memória do país e dos seus intervenientes. Foi apoiado desde o início pelo então Diretor do AHM, Coronel Aniceto Afonso, militar e investigador, a que se juntou a Fundação Gulbenkian, os CTT e a Portugal Telecom. A agência de publicidade Guerreiro DDB ofereceu a campanha publicitária, difundida na comunicação social, rádio, imprensa e televisão.
Entre 2003 e 2010 foram feitos 133 depósitos relativos a diferentes cronologias e incluindo material de diversa natureza, desde objetos a documentos, registos audiovisuais e outros. Para lá das centenas de telefonemas com memórias, indicações e, também, desabafos, os depósitos mostraram que os envolvidos na guerra e suas famílias constituem ainda um grupo de “conservadores privados” que guardam documentos com grande relevância para a história deste período.
Em muitos casos, estes arquivos pessoais continuam a correr o risco de desintegração, de ser vendidos ao desbarato e de
destruição, o que é preocupante por poder estar a desaparecer um posto privilegiado de observação de um acontecimento tão marcante como foi esta guerra, a partir da experiência das pessoas envolvidas, homens, mulheres e crianças.
Um grupo de antigas alunas do Instituto de Odivelas, em articulação com a Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar, decidiu por isso recolher, estudar e analisar a correspondência entre pais militares, mobilizados em África, e os seus filhos na metrópole, sendo garantida a receção pelo Arquivo Histórico Militar, se assim for solicitado.
De que falariam pais e filhos? Dos estudos? Da família? Provavelmente falariam de tudo menos da guerra, mas até por essa omissão, dos dois lados, será interessante fazer a leitura e a análise deste espólio. A ideia será reunir o máximo de documentação que, depois de analisada, poderá resultar na publicação de um estudo caso nos queiram emprestar ou ceder os originais ou cópias, estamos à vossa disposição para mais esclarecimentos sobre este nosso projeto.
Poderão contactar-nos, para o efeito, através do seguinte email: aerogramas.ultramar@gmail.com ou diretamente: Alexandra Anjos +351 919438782
Ana Vargas +351 912350181
Lucinda Afreixo +351 965 530 492 M. Margarida Pereira-Müller +351 966177152
Onde estão os aerogramas do teu Pai?
No número 219, de Abril/Junho de 2020, da ZacatraZ, apresentámos o artigo «Os Fuzileiros e a sua História», da autoria do Sr. Comandante José António de Oliveira Rocha e Abreu, ele próprio Oficial Fuzileiro da nossa Armada. Através desse artigo ficámos a conhecer a origem deste corpo de tropas especial, no longínquo ano de 1621, ou seja durante a dinastia dos «Filipes», quando se formou o Terço da Armada da Coroa de Portugal. Era uma tropa com carácter permanente, pois era paga «de Inverno e de Verão»
Este corpo de tropas foi tendo designações várias com o decorrer dos anos, até que em 1924 recebe a designação de Brigada de Guarda Naval, a qual teve uma breve existência de 22 meses, sendo extinta em Junho de 1926, um mês após a revolução do 28 de Maio, presumivelmente por razões de ordem política.
Só no início da década de 60 do século passado, a nossa Armada volta a ter Fuzileiros. Em Junho de 1961, instala-se oficialmente em Vale do Zebro a Escola de Fuzileiros. No final desse ano, parte para a guerra em Angola o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais. Esta fase da vida dos Fuzileiros é aquela que subsiste, sem interrupção, até aos nossos dias. Nela tomou parte um número significativo de Antigos Alunos do Colégio Militar, quer como oficiais dos Quadros Permanentes da Armada, que prestaram
comissões de serviço nas forças de Fuzileiros durante a Guerra do Ultramar, quer como oficiais da Reserva Naval, que cumpriram o seu Serviço Militar Obrigatório nos Fuzileiros, também na Guerra do Ultramar. Segundo julgamos saber, fazem parte actualmente do quadro de oficiais Fuzileiros da Armada dois Antigos Alunos do Colégio.
Conseguimos obter relações dos Antigos Alunos que serviram e servem actualmente nos Fuzileiros Navais. Dado o seu interesse, apresentamos de seguida essas mesmas relações.
A primeira relação diz respeito a oficiais do quadro permanente e inclui 31 oficiais, dos quais os dois últimos se encontram actualmente ao serviço. É curioso verificar que o 29º na relação ingressou no Colégio em 1965, enquanto que o 30º nesta mesma relação ingressou no Colégio 30 anos depois, em 1995.
A segunda relação diz respeito a oficiais da Reserva Naval. Compreende apenas 15 oficiais, ingressados no Colégio entre os anos de 1953 e 1972. Os quatro últimos oficiais desta relação apresentam o posto de aspirantes a oficial, que não deve ter sido o posto com que terminaram o seu Serviço Militar Obrigatório. Se algum componente do nosso «Batalhão Naval» encontrar erros ou omissões nestas duas relações, agradecemos que nos façam chegar as correspondentes correcções. Se os nossos camaradas Fuzileiros que andaram pelas bolanhas, chanas e rios de África, quiserem apresentar testemunhos dessas experiências, as páginas da ZacatraZ estão ao seu dispor. Seria igualmente interessante ter o testemunho dos camaradas mais jovens, que ainda se encontram ao serviço, para não nos acusarem de estarmos apenas virados para o passado. A ZacatraZ está aberta à colaboração de todos.
5) CALM José Luís Pinto Gomes Teixeira (197/1945)
6) CMG Mário Augusto Faria de Carvalho (142/1945)
7) CMG João Geraldes Freire (82/1945)
8) 1TEN Alberto Manuel Barreto Pascoal Rodrigues (21/1946)
9) CMG José Carlos Lobato de Faria Roncon (333/1947)
10) CMG António Lucas Dias Costa (81/1947)
11) CALM Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro (14/1947)
12) VALM Fausto Morais de Brito e Abreu (141/1949)
13) CMG Manuel Mário de Oliveira de Seixas Serra (30/1947)
14) CMG Carlos José Saldanha Mota dos Santos (174/1951)
15) CMG Jorge Manuel Barreto de Albuquerque (404/1952)
16) CFR Francisco Alberto Calhau de Carvalho Rosado (167/1952)
17) ALM José Manuel Castanho Paes (228/1952)
18) CTEN Manuel Inácio Godinho Novais Leite (166/1953)
19) CFR Luís António Pessoa Brandão (7/1951)
20) CFR António Eduardo Barbosa Alves (427/1955)
21) CTEN Manuel Maria de Meneses Pinto Machado (92/1953)
22) CFR Pedro Manuel de Almeida Serradas Duarte (192/1954)
23) CMG João Manuel Balançuella Bandeira Enes (335/1955)
24) CMG FZ José Luís Pereira de Almeida Viegas (421/1955)
25) CMG José Luís Rodrigues Portero (476/1958)
26) CTEN FZ Carlos Manuel Pacheco Teixeira da Silva (34/1956)
27) VALM Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos (112/1956)
28) CFR FZ Rui Miguel Guedes Reis Trigoso (255/1962)
29) CFR FZ Luís Jorge Rodrigues Semedo de Matos (165/1965)
30) *1 TEN FZ Pedro Filipe da Fonseca Freire (480/1995)
31) *2TEN FZ Tiago Miguel Fonseca P. de Sousa Teles (473/2002)
NOTAS: (*) Na situação do Activo
DO COLÉGIO MILITAR (RESERVA NAVAL)
1) STEN FZ RN João Nuno Bellegarde Belo da Conceição (270/1953)
2) 2TEN FZ RN Armando António dos Santos Martins (351/1956)
3) 2TEN FZ RN Luís Manuel de Lorena Costa Nogueira (177/1956)
4) 2TEN FZ RN Francisco Manuel Ventura Paiva Caldeira (245/1957)
5) 2TEN FZ RN Nuno Rodrigo Santos Pereira (216/1958)
6) STEN FZ RN João Carlos da Cunha Bruno (128/1958)
7) 2TEN FZ RN Manuel Maria Romãozinho Alves (533/1960)
8)
9)
2TEN FZ RN Pedro Manuel Carvalho Lopes (62/1956)
2TEN FZ RN Carlos Manuel Alves Martins (26/1957)
10)
2TEN FZ RN Vasco António Reinhardt Machado Monteiro (350/1961)
11) STEN FZ RN José Carlos Carreira Jorge (515/1959)
12) ASPOF FZ RN José Manuel Soares Osório (221/1967)
13)
ASPOF FZRN Luís Filipe Amaral da Silva Gonçalves (457/1971)
14) ASPOF FZ RNJosé Manuel Monteiro Cristiano Casquinho (134/1969)
15) ASPOF FZ RN José Paulo Ramalho Ortigão Delgado (148/1972)
A Redacção
Por uma qualquer daquelas razões fortuitas que se atravessam no rumo inexorável da burocracia e dos seus arquivos documentais, terá desaparecido a Ordem de Serviço ao Colégio Militar de 1923 que procedeu à pública nomeação dos alunos finalistas graduados em postos de comando do Batalhão Escolar para o ano lectivo de 1923-1924. Por tal motivo, o livro organizado por Bernardo Diniz de Ayala e Martiniano Gonçalves sob o título de Colégio Militar - Graduados e Graduações na República e publicado em 2017 pela Associação dos Antigos Alunos apenas regista para aquele ano a identificação do comandante do batalhão, pesquisada em outras fontes.
Embora a convivência precoce e ao longo dos sete anos do percurso escolar decerto fomentasse maiores aproximações entre os alunos, é quase certo que as recordações do ano finalista, com as acrescidas responsabilidade de enquadramento dos seus restantes colegas de estudos, tenham ficado mais fortemente gravadas no espírito da maioria. Era sempre o (presumido) ano de despedida do Colégio, a expectativa da próxima entrada numa outra escola para início de pro-
fissão e o exercício de um poder considerável sobre os mais novos: proto-militar, disciplinar e simbólico – quase sempre apenas balizado pela tradição e normas informais forjadas pelo colectivo colegial, as quais se interpunham de maneira efectiva entre a ordem formal do ensino (professores e instrutores, matérias e exames) e da administração escolar militarizada (leis e regulamentos, direcção do estabelecimento, oficiais comandantes de companhia, oficiais de dia, castigos e recompensas, rituais), e a relação afectiva, mais ou menos distante, com a família de cada um.
No caso vertente, os finalistas de 19231924 eram 31, dos quais quase todos foram graduados, pois apenas dois terão ficado no menos lisonjeiro “posto de furriel”. Pela observação de uma fotografia deste curso tirada, como habitualmente, nas escadarias de pedra do palácio dos Condes de Mesquitela – muito longe ainda da sua aquisição e transformação em Enfermaria colegial –, pode perceber-se que, nesse ano lectivo, terão sido nomeados sete comandantes de companhia (com o distintivo do galão dourado trapezoidal terminando em bico na gola
de veludo verde do dólman), sete “três estrelas”, sete “duas estrelas” e sete “uma estrela”. Se esta observação fosse correcta, estaríamos então perante uma distribuição regular e racional pelas 7 companhias (na base de 2 turmas/pelotões, cada) destes graduados. De notar que o distintivo do comandante do batalhão (na gola, ou na carcela do gilet de cotim cinzento, em serviço interno) não tinha ainda a estrela metálica que mais tarde lhe foi sobreposta.
Pela infeliz razão acima referida, não vai ser possível identificar a distribuição dos postos de graduados por aqueles alunos. Contudo, foi possível recolher alguns dados, de diversos modos. Nesse ano lectivo de 1923-1924, o jornal O Colégio Militar (fundado apenas dois anos antes por Paulo de Brito Aranha e consortes) publicou três números: 9 (21 de Fevereiro de 1924), 10 (5 de Abril) e 11 (5 de Maio), sob a responsabilidade editorial do director Amadeu Santo-André Pereira, do redactor Álvaro de Castro Fernandes e do administrador Silva Freire. O primeiro alimentou as páginas do jornal com os textos “Alma!” e “Ele!” (na edição nº 9) e “Desportos” (nº 11); o segundo
assina um artigo sobre “Doenças novas” (no nº 11), que não era a “pneumónica” mas sim uma inventada para escapar à prova escrita; e o terceiro subscreve uma crónica sobre “Desporto” (nº 9), o apelo “Unâmo-nos!” (no nº 10) e o texto
de saudação “Asas de Portugal: Lisboa-Macau” (no nº 11). Mas, além destes, o seu condiscípulo João Dias de Carvalho é autor de uns “Tempos que já lá vão” (no nº 10) e da reportagem “Os alunos do ‘Grupo Dramático do Colégio’ visitam
Setúbal” (nº 11). Esta fonte informa-nos sobre temas em voga naqueles tempos juvenis e o talento literário de alguns rapazes, mas não mais do que isso.
Temos também duas fotografias em bom estado relativas aos jovens deste curso finalista. A primeira é a já referida, nas escadas da “Enferma”. Uma diligência foi por nós feita junto dos descendentes dos fotografados que foi possível alcançar1 permitiu identificar com algum grau de certeza 16 (mais 2 prováveis) dos 31 que figuram na fotografia do curso e conhecer mais alguns detalhes daqueles “meninos da Luz”. Uma pesquisa feita no Arquivo Histórico Militar (num caso, também com recurso ao da FA/MDN) logrou obter dados pessoais relativos a quase todos os militares. Para o primeiro exercício, veja-se a foto e a numeração atribuída no decalque das silhuetas correspondente. Quanto a pormenores pessoais e começando pelos que puderam ser aqui identificados, sabemos que, naquele ano, o “Ajudante” (com “duas estrelas” visíveis na gola) foi o José Pereira Monteiro (nº 212, entrado em 1916), que posteriormente foi médico militar formado na Universidade de Coimbra e nos anos 50 prestou serviço no próprio Colégio Militar, tendo falecido com o posto de major em 1982. No decalque da foto atribuímos-lhe o nº 3 (e foi identificada pela filha e neto) . Henrique Moutinho (nº 83, entrado em 1918, graduado com galão de comandante de companhia) foi um distinto médico oftalmologista (também militar, tendo o posto de tenente-coronel em 1978), formado na Universidade de Lisboa e com clínica própria em Lisboa (o palacete de gaveto na Av. Fontes Pereira de Melo onde agora estão construindo um arranha-céus), que veio a falecer em 1978. Tem na foto o nº 9 (a sua identificação foi confirmada por dois amigos de família).
João Terenas Latino (nº 207, entrado em 1917, “três estrelas” e uma medalha ao peito) foi oficial de engenharia e morreu em 1990 com o posto de brigadeiro. É o nº 6 na foto (identificado por um sobrinho).
Daniel Tavares (nº 329, entrado em 1916, graduado com “uma estrela”) foi também oficial de engenharia tendo falecido coronel em 1988 (e era cunhado do anterior). No decalque da foto é o nº 28 (e foi identificado por dois filhos).
João Correia Barrento (nº 17, entrado em 1917, graduado com “três estrelas”) foi oficial de cavalaria e emérito cavaleiro desportivo de obstáculos, falecendo em 1988 com o posto de general. Tem na foto o nº 5 e está com a mão direita postada “à Napoleão” (identificado pelo seu filho António, também general).
José Prostes da Fonseca (nº 136, entrado em 1917, graduado com “uma estrela”) foi médico veterinário militar, tendo falecido em 1990. Atribuiu-se-lhe o nº 18 na fotografia (identificado por um neto).
Fernando Paes (nº 424, entrado em 1917, graduado com “uma estrela”) foi oficial de cavalaria e equitador de mérito, medalhado olímpico em 1948 com a equipa de ensino e galardoado com o “éperon d’or” e um stick de honra na famosa escola de equitação francesa conhecida por Cadre Noir, de Saumur, depois do estágio de aperfeiçoamento que ali efectuado e que lhe valeu em Portugal a especialidade de “Professor de Equitação”, superior ainda à de Mestre. Faleceu em 1972 com o posto de coronel. Ficou com o nº 25 no decalque da fotografia (e foi identificado pelo general Martins Barrento).
Amadeu de Santo-André Pereira (nº 252, entrado em 1916, graduado em comandante de companhia) foi oficial de cavalaria e mestre de equitação, tendo falecido coronel em 1968, depois de ter comandado o grupo divisionário de
carros de combate em Santa Margarida. Tem na foto o nº 11 (identificado também por Martins Barrento).
Eduardo Augusto da Costa Cabral Metzener (nº 300, entrado em 1916, graduado com “duas estrelas”) foi oficial de Marinha, morrendo como capitão-de-mar-e-guerra em 1975. Está na foto identificado com o nº 15 (identificado por um neto).
João Lopes Guimarães dos Santos, natural de Viana do Castelo (e nº 410 no Colégio, entrado em 1917), foi engenheiro de minas formado na Faculdade de Engenharia do Porto, director dos Serviços de Fomento Mineiro do Ministério da Economia desde 1948 até aos anos 60, vindo a falecer em Lisboa em 1982. Surge na fotografia do curso com o nº 30 (identificado por um neto, confirmado por sua mãe).
Guilherme António do Amaral Abranches Pinto (nº 22, entrado em 1917, irmão do que foi general, embaixador e ministro da defesa nos anos 50) foi graduado como comandante de companhia (nº 20 na foto), foi médico militar mas ficou-se pelo posto de tenente tendo passado à reserva em 1948 e exercendo depois actividade clínica nos quadros ultramarinos, nomeadamente em Angola, cujos serviços de saúde chefiou nos anos 60 (identificado por um sobrinho).
Sebastião Gouveia Beltrão (nº 254, entrado em 1917 e comandante da 3ª companhia no ano finalista, era irmão do grande cavaleiro concursista que foi José Beltrão, um ano mais velho do que ele no Colégio) foi engenheiro electrotécnico formado em Berlim (após estudos preparatórios na “Politécnica” de Lisboa, onde continuou a ser o rival de Freire pelas melhores classificações, como já era no Colégio). Exerceu depois funções de professor de escolas industriais e Inspector-Chefe da Direcção-Geral do Ensino Técnico, e também empresário (com firma Sebastião Beltrão
- Comércio e Técnica de Máquinas), tendo falecido em 1984 (identificado por dois filhos). Está na foto com o nº 29.
Augusto Cohen Poppe (nº 416, entrado em 1917; por vezes confundido com seu irmão Álvaro, também ex-aluno mas que só entrou em 1920) foi também engenheiro (civil), fundador da empresa Sogel (construtora da autoestrada Lisboa-Estádio nos anos 40, e ainda hoje existente, gerida por seus descendentes) e está assinalado na foto do curso com o nº 31, graduado com “uma estrela” (identificado por dois filhos).
Finalmente, neste lote temos ainda o Carlos Silva Freire (nº 246, entrado em 1917), que foi o comandante do batalhão em 1923-24 e depois oficial de engenharia e do corpo do estado-maior, falecendo general em 1961, em Angola, no comando daquela campanha militar. Tem o nº 10 na foto.
Por outro lado, temos o caso especial de Carlos da Costa (nº 331, entrado em 1915), identificado pelas evidentes semelhanças fisionómicas com a segunda fotografia e com a sua imagem publicada no Calixto nº 1 editado em 1971 pela AAACM, p. 104, sendo bem reconhecível pelo seu cabelo louro e expressão visual. Surge com galão de comandante de companhia na foto dos finalistas (onde tem o nº 21). E há ainda o caso de João Augusto de Noronha Dias de Carvalho (nº 26, entrado em 1916), igualmente com fotografia individual publicada no Calixto nº 1, p. 109, que parece corresponder ao nº 7 na foto do curso, mas sem que o possamos garantir. Este, foi graduado com “uma estrela” em 23-24, seguiu para o Exército, vindo a ser oficial de artilharia e falecendo em 1990 com o posto de coronel.
A outra fotografia é a dos esgrimistas que ocuparam os primeiros lugares na competição individual inter-escolas de 1924
e que venceram a Taça ‘Challenge’ desse ano, entre equipas desses mesmos liceus da capital: Freire (sentado, à esquerda), Carlos da Costa (em pé, primeiro a contar da esquerda), Augusto Cohen Poppe (segundo, nessa mesma ordem) e Santo-André Pereira (primeiro, em pé, à nossa direita). Quanto aos dois restantes permanece a incógnita: um deles é Álvaro Herculano da Cunha (nº 18, entrado em 1916), que foi oficial de artilharia, tendo falecido novo, como capitão, em 1953, sendo talvez fisionomicamente reconhecível na foto do curso com o nº 8 (graduado com “uma estrela”); o outro, José Santos Guerreiro (412, entrado em 1917), do qual nada conseguimos apurar, é, pelo mesmo critério da parecença fisionómica, reconhecível na fotografia colectiva com o nº 24 (e graduação de “furriel”). É uma presunção, não confirmada.
Quanto aos que não puderam de todo ser identificados nas fotografias, sabemos que: Álvaro de Castro Fernandes (nº 377, entrado em 1917), foi oficial de artilharia, tendo passado à reserva em capitão em
1954 e falecido em 1977; Amílcar da Ressureição Diogo de Carvalho (nº 425, entrado em 1917), foi oficial de artilharia e faleceu com o posto de coronel em 1978; de António Santos Pinto Pereira, só sabemos que foi oficial miliciano no Serviço de Administração Militar e que em 1952 prestava ainda serviço no Exército; Dúlio Norberto Franco Simas (nº 407, entrado em 1916), foi oficial de artilharia, tendo falecido em 1990 no posto de coronel; Francisco Carlos Roma Machado Cardoso Salgado (nº 71, entrado em 1915) atingiu também o posto de coronel de artilharia, morrendo em 1985; João José Varela (nº 248, entrado em 1918) foi médico militar, tendo passado à Força Aérea em 1957 com o posto de capitão, mas atingindo o de brigadeiro nesse novo quadro, e falecendo em 1983; Luís Augusto Domingos Campos Vidal (nº 29, entrado em 1917) atingiu o posto de major nos quadros dos serviços auxiliares, falecendo em 1985; Mário Campos Costa (nº 243, entrado em 1917), da arma de cavalaria, passou à reserva em 1949 com a patente de capitão, ingressando em seguida nos quadros
administrativos do ministério das colónias prestando serviço em Moçambique, tendo falecido em 1977; e o Tristão Ilídio Ribeiro (nº 101, entrado em 1917), foi médico, pela Universidade de Coimbra, tendo falecido novo, em 1945.
Finalmente, nada se conseguiu apurar sobre Carlos Rocha (nº 402, entrado em 1917), Fernando Cantarino (nº 120, entrado em 1917) e João Barbosa Bentes (nº 232, entrado em 1918) e João Cansado da Silva Valente (nº 107, entrado em 1918).
Eis tudo o que nos foi possível deslindar sobre este assunto e que agora poderá talvez ser publicado em Zacatraz, numa espécie de Adenda ao livro Graduados e Graduações se os respectivos responsáveis assim o entenderem.
A Zacatraz agradece ao autor este valioso contributo para a História do Colégio Militar.
Há 100 atrás, frequentava o Colégio um rapaz que não deu muito nas vistas pelos resultados académicos alcançados, sobressaindo porém nas actividades físicas, afirmando-se como um excelente desportista, nomeadamente como guarda-redes da equipe de futebol colegial. Este rapaz estava porém destinado a ter uma carreira singular como médico militar. O seu nome era bem curto, João José Varela. Os que com ele se cruzaram ao longo da sua carreira profissional, como médico da Força Aérea, ainda hoje dele se recordam, como um médico fora de comum, completamente devotado à sua missão. Era assim que ele considerava a sua actividade de médico, tinha uma missão a cumprir.
Nasceu na Madeira, em 1906, na vila de Ponta do Sol, próxima da cidade do Funchal. O seu pai era médico militar do Exército, o seu padrinho de baptismo foi um oficial de Infantaria. Já era meio caminho andado para ele próprio vir a ser militar. Foi admitido no Colégio em 1918, com o nº 248 de onde saiu em 1924, para ingressar no Exército, como 1º sargento cadete. Em 1927 obteve uma licença de estudos, para se licenciar em medicina, o que veio
a ocorrer em 1934, sendo de seguida admitido no Quadro de Oficiais Médicos do Exército, como alferes. A sua primeira colocação foi no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa. No ano seguinte, em 1935, foi promovido a tenente e colocado no Regimento de Cavalaria 6, em Castelo Branco.
Em 1938, como tenente, pediu para passar à situação de licença ilimitada, para poder ir administrar os bens do seu sogro, então falecido.
Dez anos mais tarde, em 1948, já com 42 anos de idade, regressa à efectividade de serviço, como tenente, sendo promovido a capitão em Janeiro de 1949. Após o seu reingresso no quadro, começou o seu trajecto de médico em Unidades da Arma de Aeronáutica, primeiro no Campo de Espinho, de seguida na Base Aérea nº 3, em Tancos e mais tarde, em 1949, na Base Aérea n.º 4, nas Lajes, na ilha Terceira, nos Açores, onde acumulava com as funções de médico do hospital militar de Terra Chã, na mesma ilha. Em 1952, frequentou na Randolph Air Force Base, no Texas, o curso de «Aviation Medical Examiner», na sequência do qual obteve a qualificação de espe-
cialista em medicina aeronáutica, sendo o segundo médico português a obter esta qualificação.
Em 1954, ainda como capitão, mas já com 48 anos, foi nomeado para frequentar, em Espanha, o «Curso de Aptitud para el Mando de Tropas Esquiadoras-Escaladoras», que teve lugar nos Pirineus Aragoneses (Jaca), entre Janeiro e Outubro, desse ano. Era um curso de grande dureza, feito em região montanhosa agreste, em particular no Inverno. Quem lhe preparou este «presente envenenado», não conhecia a têmpera do aço de que era feito o veterano capitão Varela, aço esse temperado no Colégio Militar, onde se distinguiu, como vimos, na prática desportiva. Houve vários instruendos, bem mais novos do que ele, que ficaram pelo caminho. Ele concluiu o curso, como se isso fosse um facto absolutamente natural para a sua sua idade.
Em 1956 foi criada a Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea. Uma das áreas cruciais da sua actuação era a selecção e os exames periódicos de revisão do pessoal navegante, que até aí era feito nos hospitais do Exército, que não dispunham de pessoal especializado em Medicina
Evacuação de um ferido em Angola, com o Ten. Cor. Varela a acompanhar Aeronáutica. Para suprir essa lacuna, foi criado no Serviço de Saúde da Força Aérea, em 1957, um Centro Médico-Psicológico (CMP), cujo primeiro chefe foi o então já major médico Varela.
Com o rigor que lhe era peculiar, procurou logo instituir neste novo órgão os métodos de trabalho do Serviço de Saúde da Força Aérea dos Estados Unidos da América.
Em 1958, tomou parte na missão de reconhecimento a Angola e Moçambique, chefiada pelo General Venâncio Deslandes ( também Antigo Aluno), na altura 1º Subchefe do Estado-Maior da Força Aérea, que tinha como objectivo analisar as condições locais para a instalação da Força Aérea naquelas duas Províncias Ultramarinas.
Em 1959, foi de novo aos Estados Unidos da América, frequentar um curso. Desta vez o «Advanced Aviation Medicine Course», que lhe deu para actualizar e aprofundar os conhecimentos anteriormente adquiridos, que de imediato passaram a ser aplicados no CMP, por si chefiado.
No final de 1959, foi promovido a tenente-coronel. A sua acção à frente do CMP e a sua dedicação total ao serviço da Força Aérea, rapidamente lhe granjearam o respeito e a admiração de todos aqueles que com ele trabalhavam.
Em 1961, é criada a Delegação da Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea na 2ª Região Aérea (DDSS 2), em Angola. O Tenente-Coronel médico Varela foi nomeado seu director e entregou-se, com o voluntarismo e dedicação que lhe
eram peculiares, ao desenvolvimento desta delegação e à supervisão do serviço de saúde nas Unidades da Força Aérea entretanto criadas na 2ª Região Aérea. Era visita assídua dessas Unidades.
Em Angola deu especial importância aos problemas de Medicina Preventiva, como a imunização contra as doenças contagiosas e a medicação profiláctica contra a malária e a doença do sono. Tornou obrigatórias as vacinas e a medicação contra estas doenças, zelando pessoalmente pela aplicação das directivas que estabeleceu. Até ao final da guerra em Angola, não era autorizada qualquer licença de férias a um militar da Força Aérea, sem que o mesmo tivesse exibido previamente o seu boletim de vacinas, com as vacinas todas em dia. Uma preocupação que tinha, era a de
garantir a qualidade da água consumida pelo pessoal nas Unidades e em operações, pelo que zelava, com rigor, para que a água tivesse tratamento mínimo adequado, tanto num caso como no outro. Outra preocupação que tinha, era o da evacuação e tratamento do pessoal ferido em combate, em particular dos pára-quedistas. Quando o pessoal ferido no mato era evacuado, era frequente ter à sua espera o Tenente-Coronel Varela. Não era um homem do «ar condicionado», era um homem que estava o mais possível no terreno, apoiando os que actuavam na primeira linha. Quando os feridos eram mais graves e tinham de ser evacuados para a Metrópole, lá estava o Tenente-Coronel Varela a despedir-se deles e a garantir a sua evacuação nas melhores condições.
Graças à sua forma de actuar, o Tenente-Coronel Varela tornou-se em Angola, no seio da Força Aérea, uma figura carismática, o que lhe valeu a promoção, por escolha, em Setembro de 1962, ao posto de coronel, o que deu origem ao final prematuro da sua comissão de serviço na 2ª Região Aérea, dado a chefia da Delegação de Serviço ser um cargo de tenente-coronel. A estadia em Angola foi de curta duração, mas a sua acção foi intensa e o seu desempenho brilhante.
Regressado a Lisboa, assumiu a Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea, onde continuou a demonstrar o mesmo empenho e o mesmo entusiasmo de sempre. Por sua iniciativa os oficiais médicos da Força Aérea passaram, por regra, a frequentar cursos de Medicina Aeronáutica nos Estados Unidos da América ou em França.
Em 1966, foi promovido a brigadeiro, tendo continuado a vigiar pessoalmente o estado de imunização do pessoal militar da Força Aérea que partia para o Ultramar, continuando também permanentemente informado acerca dos evacuados
por doença ou por ferimentos, que procurava, sempre que possível, encaminhar para o pequeno hospital da Terra-Chã, da Força Aérea, na ilha Terceira, para que os mesmos se sentissem «em casa»
Lutou pela criação de um Hospital da Força Aérea em Lisboa, o que veio a acontecer, mas já depois da sua passagem à situação de reserva, que ocorreu em 1969. Após a passagem à passagem à reserva, ficou ainda durante 6 anos, até 1975, na situação de reserva activa, prestando serviço na Inspecção Geral da Força Aérea.
Faleceu em Julho de 1983, no Hospital da Força Aérea, em cuja génese teve uma acção determinante. Deixou-nos a imagem de um homem da maior honestidade, de uma completa dedicação à Força Aérea,
pugnando sempre pela valorização do seu pessoal, e de uma grande humanidade no seu contacto com os doentes e feridos, sem distinção de postos, pondo sempre a maior preocupação na sua total recuperação. Ainda hoje é recordado com saudade, por todos aqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver.
Este artigo evocativo é baseado no livro «Tópicos sobre o Serviço de Saúde da Força Aérea Portuguesa», da autoria do Coronel médico Rui Manuel Luz da Silva Gonçalves (Edição Moinho Velho – Loja de Edição Ldª, Lisboa 2008) e no artigo «Um médico aeronáutico – O brigadeiro médico João José Varela, a 10 anos da sua morte», da autoria do Brigadeiro Médico da Força Aérea Henrique P. Singer publicado na revista «Mais Alto» da Força Aérea, de Jan/Fev 1994.
Recolhido em casa por causa do vírus «chinês» (é verdade, veio da China, seria incorrecto chamar-lhe vírus norueguês) deu-me para pôr as leituras em dia, bem como para tentar pôr alguma ordem no completo caos que é a minha livralhada e papelada. No meio da tarefa ciclópica a que me abalancei, veio-me à mão um livrinho, que faz parte de um conjunto intitulado «MEMÓRIAS DE PORTUGAL – Dois séculos de fotografia», editado pelo jornal «Correio da Manhã». Durante semanas, o «Correio da Manhã» era acompanhado, às quintas-feiras, por um livrinho e assim se fazia a colecção. Devo dizer que a colecção é bem interessante e que nos recorda episódios daquilo que foi a vida quotidiana dos portugueses em tempos idos, que a esmagadora maioria dos Antigos Alunos já não viveu.
O pequeno livro de que vos falo, tinha como título «Desporto». Pensei logo que seria bem provável encontrar nele algo relacionado com o Colégio. Não me enganei.
O livro é dividido, para além do prefácio, em quatro partes, sendo a última parte intitulada «Estád(i)o Novo. Tempo de mediatismo e infraestruturas». A primeira parte deste título é uma clara alusão ao Estádio Nacional, inaugurado em 10 de Junho de 1944, em pleno período do «Estado Novo». Foi uma das
Patinando no ginásio descoberto (actual jardim da Enferma). Foto do período 1901 a 1906.
obras mais emblemáticas do regime político de então. Durante 30 anos, os Alunos do Colégio conheceram bem o Estádio Nacional, pois era nele que se desenrolavam os campeonatos de atletismo da Mocidade Portuguesa, que o Colégio quase sempre ganhava. Era também nele, que se realizavam muitos dos jogos do campeonato de futebol daquela organização, em que a rivalidade Colégio-Pupilos atingia o seu ponto mais alto,
salpicada, de quando em vez, por alguns apontamentos de «sarrafada».
Ao folhear esta última parte do livro, fui encontrar, na sua página 53, a foto que aqui apresentamos, acompanhada do seguinte texto:
«PATINAGEM. No Colégio Militar, fundado em 1803, os alunos praticam patinagem. Esta instituição foi pioneira
no ensino desta modalidade em Portugal, algo que viria a ser fundamental para a popularização, mais tarde, do hóquei em patins, que muitos títulos deu ao nosso país».
O texto está correcto. A patinagem e o hóquei em patins no Colégio tiveram tal importância que a nossa Associação chegou a ter uma equipa federada de hóquei em patins, tendo havido Alunos que se revelaram exímios praticantes desta modalidade desportiva.
Se algo pode induzir em erro o leitor do livro, é a colocação desta foto na parte do livro relativa ao período do «Estado Novo». Na realidade, a foto apresentada é bem anterior a esse período, o que pode ser comprovado por qualquer leitor atento, olhando para a farda com que os alunos nela se apresentam. No número 217 da ZacatraZ, de Outubro/Dezembro de 2019, no artigo intitulado «A farda cor de pinhão», baseado na «História do Colégio Militar», de José Alberto da Costa Matos (96/1950), pode-se verificar que o casaco que os Alunos usam é o «jaleco» do plano de uniformes de 1901, da autoria do então Director do Colégio, José Estevão de Morais Sarmento (44/1854). Este Homem, que foi um visionário na sua época, obrou uma verdadeira revolução no ensino no Colégio e deu um incremento notável à vertente da Educação Física. Foi ele que mandou fazer no Colégio um ginásio ao ar livre, no local onde hoje se situa o «Jardim da Enferma», que é justamente o local em que os Alunos representados na fotografia se encontram a patinar. O «jaleco» que os Alunos usam, foi substituído, poucos anos mais tarde, em 1906, por uma espécie de «bibe», como lhe chamou Costa Matos, que felizmente também foi de curta duração. Assim sendo, podemos datar a fotografia, com segurança, como sendo do período compreendido entre 1901 e 1906, ou seja, no tempo da Monarquia, bem anterior ao período do «Estado Novo». É mais uma prova cabal
de o Colégio ter tido um papel pioneiro no desporto nacional. Quando recentemente o Comité Olímpico Internacional atribuiu um prémio ao Colégio, praticou um verdadeiro acto de justiça.
O facto de a foto em causa ter sido tirada entre 1901 e 1906, não significa que a instrução de patinagem tenha começado no Colégio nesse período. Na «História do Colégio Militar», de Costa Matos, na página 165 do seu Volume II, é apresentado o primeiro horário escolar do tempo em que Morais Sarmento foi Director do Colégio. É o horário do ano lectivo de 1898/1899. Nele se indica, que nos dias não lectivos (domingos e feriados), da parte da manhã, havia um período de hora e meia dedicado a «Instrução Prática», o qual era preenchido com um conjunto de actividades muito diversas, entre as quais se incluíam, para os alunos do 4º ao 7º ano, a velocipedia, a patinagem e jogos desportivos. Podemos pois concluir que a patinagem se começou a praticar no Colégio nos últimos anos do século XIX, mais uma prova de que Morais Sarmento era um Homem bem à frente do seu tempo.
Referi acima que a nossa Associação chegou a ter uma equipe federada de hóquei em patins. É um facto que pode ser facilmente comprovado, consultando a obra «Para lá do Colégio Militar, Uma Associação Centenária» da autoria do saudoso Rui Figueiredo de Barros (62/1936) e do seu filho (440/1967) Gonçalo Figueiredo de Barros, que tem informação preciosa no que à Associação e aos Antigos Alunos diz respeito. O Anexo V deste livro designa-se «A Associação/Antigos Alunos e o Desporto». Nesse Anexo é citada uma notícia do jornal desportivo «A BOLA», de 2 de Novembro de 1950, com o título «A Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar premiou os seus campeões desportivos». Nesta notícia é referida uma festa de confraternização que a Associação «promoveu para oferecer aos seus
campeões de hóquei em patins, atletismo e voleibol os prémios que conquistaram brilhantemente nos últimos torneios». No que se refere à equipe de hóquei em patins, que era treinada por Olivério Serpa, uma referência nesta modalidade naquela época, indicava-se que a mesma equipe tinha sido campeã regional do Sul, II Divisão, com passagem à categoria principal. Os componentes da equipe eram os seguintes: Rui Cordeiro de Oliveira Soares (190/1935), foi também campeão regional de voleibol em reservas, Rui Sales Henriques de Andrade e Sousa (391/1939), foi também campeão regional de voleibol em reservas, Isidro Góis Féria (114/1941), Manuel Rosa da Costa (264/1940), João Manuel Conde de Mesquita (268/1938), Alexandre de Matos Fernandes Duarte Silva (59/1936) e José Nuno Mariz Costa Vieira da Fonseca (50/1939).
Aqui os relembramos e lhes prestamos a nossa homenagem.
No meu tempo no Colégio, no final da década de 50, início da década de 60, ainda existiam patins no Colégio. O que já não existia, era um local adequado à prática da patinagem, pois o campo para a prática do hóquei em patins tinha sido demolido, para dar lugar ao novo edifício do internato, vulgo «Colégio Novo». Apesar disso, lembro-me de um dia, em grupo com malta do meu curso, ter ido, num recreio, à «desportiva», onde imperava, com o seu físico imponente, o «Chico das Bolas» e requisitado patins para todos. O «Chico» lá deu satisfação ao nosso pedido. Calçámos os patins, que eram uns velhos patins para competição, com botas, e desatámos a patinar na superfície asfaltada existente em frente à entrada do ginásio. Foi um fiasco. A superfície era muito irregular e não dava para patinar nada de jeito. Foi uma primeira e última tentativa, mas que deu para eu a poder aqui recordar com saudade, passados que vão mais de 60 anos sobre aquele insucesso.
Um Bilhete Postal Alemão de 1943
O 1º e único desfile da Kriegsmarine
António João Martins de Abreu 85/1953Na minha colecção de Bilhetes Postais Ilustrados de temas militares possuo um postal ilustrado alemão (aparado) com a marca postal rectangular “Feldpost” do correio militar do III Reich, e com uma outra marca de duplo circulo, com data, 06-12-1943, mas anónima de acordo com o normal procedimento de segurança para as marcas postais utilizadas pelas Forças Armadas, especialmente em tempo de guerra, que não devem indicar a localização (Fig.1). Contudo o remetente quebrou a segurança pois indicou o local onde se encontrava: “Kiel”.
A ilustração do postal (Fig.5) apresenta um navio a desfilar ao longe, da esquerda para a direita, com o número de “51” pintado no flanco direito. Pela silhueta o navio é identificável como um
navio duma classe do tipo “destroyer”. A fotografia foi tirada dum outro navio em que a tripulação, com fardamento de verão da Marinha Alemã, se encontra
perfilada para assistir a um desfile naval. Partilho a seguir alguma da muita informação possível de obter relacionada com o local, “Kiel”, com os estabelecimentos
navais aí existentes, com as unidades navais em presença e com o desfile naval em causa, isto é sobre a Kriegsmarine em 1943, ou seja a Marinha de Guerra Alemã do III Reich.
Durante a 2ª Guerra Mundial, as unidades militares do III Reich, estavam dotadas com uma marca de carácter postal que, quando aplicada na correspondência, garantia o direito do remetente à isenção de taxa postal, comprovando que era alguém colocado no Serviço Militar. Estas marcas correspondiam, pois, a selos fixos postais militares.
Não tendo sido normalizadas, são inúmeros os modelos e as variedades com diferentes dizeres, isto é, poderá haver tantos quanto o número de unidades e estabelecimentos das Forças Armadas do III Reich.
O modelo aplicado neste postal (Fig. 2) consta de um rectângulo ao alto, de 49 x 35 mm, com cantos arredondados, contendo no seu interior, na parte superior, a palavra “Feldpost” (= Correio de campanha) em letras góticas; e na parte inferior, ocupando cerca de dois terços de toda a área, um elemento circular, de 29 mm de diâmetro, com a águia alada no centro, segurando a suástica nas garras. Inscrito no interior do círculo está a identificação do estabelecimento militar bem como o tipo de marca postal, tudo também escrito em letras góticas. Comparando na Internet com outros carimbos é possível identificar os dizeres da inscrição, que correspondem, a “Kommando 1.Schiffsstammabteilung = Comando Centro de Instrução Naval n.º1” na parte superior; e a “Briefstempel = Carimbo postal” na parte inferior.
Fig. 1 Postal ilustrado com marca postal “Feldpost” e marca do dia muda.
Fig. 2 Selo fixo “Feldpost” e marca de dia aplicados no postal.
2.2
A marca do dia é muda, de duplo círculo com a data inserida num rectângulo inscrito no círculo interior de 19 mm de diâmetro, sendo o do círculo exterior de 28 mm.
A data é numérica do tipo “dia.mês. ano.hora”, com dois dígitos para cada elemento, indicando no postal em apreciação “-6.12.43.-??” (a palavra manuscrita “Feldpost” não permite distinguir os dígitos da hora).
2.3
O Remetente identifica-se (na parte superior direita e invertido) como “Matrose Hans Rottner“, com a direcção “3./1.S.St.A.” isto é, “3./ 1. Schiffs. Stamm. Abteilung = 3.ª Companhia do Centro de Instrução Naval n.º 1”. O postal foi escrito de “Kiel, Fried.ort”, isto é, “Friedrichsort = em Friedrichs”, onde se situava o Centro de Instrução (Fig. 3), no dia 5 (de Dezembro de 1943), e é dirigido ao Pai, Schütze Heinz Rotter, em Emmerich.
Também manuscrito, mas fora do texto principal (no lado direito e na vertical), é feito o pedido “Bitte, Karte aufheben!!!” (= Por favor, guardar o Postal!!!), o que se verificou.
A ilustração do postal é uma fotografia que em primeiro plano apresenta um grupo de marinheiros de costas e com fardas de verão, no convés dum navio. Estes Militares assistem, perfilados em continência, ao desfile, numa parada naval, da esquerda para a direita, dum navio de guerra, tipo “destroyer” que tem pintado em branco, no flanco, o número “51”, (Fig. 4).
Dado que o postal foi “aparado” em toda a volta, perdeu-se a, eventual, identificação própria da imagem.
3.2 Parada naval da Kriegsmarine
Na pesquisa efectuada identifiquei a Parada Naval em 22 de Agosto de 1938, efectuada no dia do lançamento à água do cruzador pesado “Prinz Eugen” . Nesta ocasião Adolf Hitler visitou o futuro navio almirante, o couraçado ”Gneisenau” (Fig. 5).
Nesta fotografia é visível o distintivo do Comandante em Chefe, o Fürher,
no mastro principal, indicando que este se encontra a bordo. Contudo, o Fürher não assistiu ao desfile naval a bordo do navio almirante mas sim no “yacht” governamental, o “Grille” (Fig. 6), que ficou ancorado num local relativamente abrigado e menos sujeito ao incómodo de enjoos.
Estando, nesta altura, em visita oficial à Alemanha, o regente da Hungria, Almirante NiKolaus von Horty, foi este o convidado de honra a assistir à Parada Naval a bordo do “Gneisenau”
3.3 O couraçado “Gneisenau”
Para o efeito do desfile, o “Gneisenau” fundeou no Fiorde Kieler com a bandeira da Hungria no topo do mastro principal, em honra do Regente (Fig. 7). Nesta fotografia é visível a tripulação do couraçado “Gneisenau” , perfilada ao longo das amuradas.
Este couraçado foi construído, praticamente, em simultâneo com couraçado “Scharnhorst” , no seguimento da aprovação da “Lei para a reconstrução das Forças Armadas Alemãs” , de Março de 1935.
O “Gneisenau” foi construído pelos Estaleiros “Deutsche Werke”, de Kiel, e o “Scharnhorst” pelos Estaleiros “Kriegsmarine Werft”, de Wilhelmshaven.
Da curta e activa história destes dois couraçados regista-se o seguinte: Durante o período de vida, os dois navios actuaram em conjunto na maior parte do tempo, tendo realizado, com sucesso, operaçôes no Atlântico Norte e foram os únicos couraçados que afundaram um porta-aviões em operações (o “Glorious” , da Grã Bretanha, em 08-06-1940).
Os nomes atribuídos a estes dois couraçados recordavam a memória
de dois brilhantes oficiais Prussianos do período das Guerras Napoleónicas:
• August Wilhelm Anton Graf Neidhardt von Gneisenau , “Field Marshal / Comandante Supremo do Exército Prussiano” ; nasceu a 27 de Outubro de 1760, em Schildau, perto de Torgau, na actual Alemanha; e morreu a 23 de Agosto de 1831 em Posen, na actual Polónia.
• Gerhard Johann von Scharnhorst , “Ministro no Departamento da Guer-
ra / Presidente da Organização Militar” ; nasceu a 12 de Novembro de 1755, em Bordenau, Hanover na actual Alemanha; e morreu em 28 de Junho de 1813, em Praga, capital da actual República Checa.
3.4 O “destroyer” n.º 51
Na lista de “destroyers” da “Kriegsmarine” que participaram na Parada Naval de 22-08-1938, consta realmente um com o número 51 pintado nos flancos: “Diether von Roeder”, “destroyer” da Classe 1936 (Fig. 8).
Contudo, o navio
Um
Bilhete Postal Alemão de 1943 O 1º e único desfile da Kriegsmarine
entrou formalmente ao Serviço (Commissioned) em 29 de Agosto de 1938, isto é, no dia seguinte à Parada Naval.
O nome “Diether von Roeder” foi atribuído em memória do Capitão-Tenente Diether von Roeder, comandante da 13ª Flotilha de Torpedeiros, morto em combate a 10Jul1918, a bordo torpedeiro S66.
Um Antigo Aluno fez chegar até nós este belo «postal» , em que um Aluno e um Antigo Aluno se confrontam, abismados com aquilo que pode ser a obra do tempo. Não o conhecíamos e consideramo-lo ao nível do melhor que se tem feito ao longo dos anos para retractar a nossa comunidade. Quem mo deu, não fazia a menor ideia de quem tenha sido o autor desta «obra de arte» . Apenas podemos ver a inicial do nome do autor e o ano em que dita foi feita, em 2004. Pedimos ao artista que se identifique, para lhe podermos dar os parabéns. Caso ele não leia estas linhas, haverá alguém que nos possa ajudar a identifica-lo?
A Redacção.Charles Plumb era piloto da Marinha dos E.U.A., na guerra do Vietnam. Depois de muitas missões de combate, o seu avião foi abatido por um míssil inimigo. Plumb saltou de pára-quedas, aterrou incólume, foi capturado pelo inimigo e passou os seis anos seguintes numa prisão norte-vietnamita.
De regresso aos E.U.A., dedicou-se a dar palestras, relatando a sua odisseia e o que aprendera na prisão. Certo dia, num restaurante, um homem dirigiu-se a ele, dizendo.
«Olá! Você não é o Charles Plumb, que foi piloto e que foi abatido no Vietnam?»
«Sou. Mas como é que sabe isso?»
«Era eu que dobrava o seu pára-quedas. Parece que funcionou bem, não foi?»
Plumb ficou atónito de surpresa e, com a maior gratidão, respondeu: «Claro que funcionou bem, se não
eu não estava aqui hoje.» Naquela noite, Plumb não conseguiu dormir, pensando:
«Quantas vezes é que eu me cruzei com este homem no porta-aviões e nunca lhe disse, Bom Dia? Eu era um piloto arrogante e ele um simples marinheiro.»
Pensou também nas horas que o marinheiro passou humildemente no navio, dobrando os pára-quedas e tendo assim nas suas mãos as vidas de alguém que mal conhecia.
Depois desta experiência Plumb passou a iniciar as suas palestras, perguntando à sua plateia:
«Quem dobrou o teu pára-quedas hoje?»
Todos temos alguém cujo trabalho é importante para que possamos seguir em frente. Precisamos de muitos «pára-quedas» ao longo dos nossos dias: um físico, um emocional, um mental e até um espiritual.
Às vezes, nos desafios que a vida nos apresenta diariamente, perdemos de vista o que é verdadeiramente importante e as pessoas que nos salvam no momento oportuno, sem que lhes tenhamos pedido.
Esquecemo-nos de saudar, de agradecer, de felicitar alguém, ou ainda simplesmente de lhe dizer algo de amável.
Hoje, esta semana, este ano, cada dia, procura dar-te conta de quem «dobra o teu pára-quedas» e agradece-lhe.
Todos precisamos uns dos outros.
MOSTRA-LHES A TUA GRATIDÃO.
Nota da Redacção.
Pessoa amiga fez chegar até nós o texto acima apresentado. Dada a sua “mensagem”, não resistimos a publicá-lo.
No dia 3 de Dezembro de 2019, no anfiteatro do Estado Maior da Força Aérea, foi apresentado o livro de Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950), " Pára-quedistas em combate. 1961-1975", Fronteira do Caos, 2019.
A apresentação esteve a cargo do dr. Nuno Rogeiro:
SEIS NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE OS «PÁRA-QUEDISTAS EM COMBATE. 1961-1975»
1. Como canta a balada britânica da Primeira Guerra Mundial, tantas vezes retomada, «Os Velhos soldados não morrem. Apenas se vão apagando».
Este livro exemplar é uma das barreiras que os historiadores,
especialistas militares, memorialistas ou simples antigos combatentes portugueses vão criando, para que esses velhos soldados, a sua vida e o seu exemplo, não se apaguem.
2. O esforço, dedicação, coragem, heroísmo e resultados operacionais das tropas pára-quedistas portuguesas – fosse o bisonho recruta vindo das margens do Douro, fosse o enigmático Maconde treinado como membro dos GEP 1 , no Dondo – foram conhecidos, dentro e fora de portas, ao longo da história.
Foram reconhecidos, não só nos relatórios dos estados maiores e nos resumos operacionais coevos, ou nas peças jornalísticas fundamentadas, mas, cada vez mais, em investigações substanciais e rigorosas.
Lá fora, tem de se saudar a obra esforçada do meu caro amigo Comandante e Professor John Cann, um antigo piloto naval americano, veterano de missões antisubmarinas em torno de Cabo Verde, que se apaixonou pelo nosso misterioso e assombroso passado ultramarino.
Cá dentro, com mais fontes e mais amplitude, o livro do nosso coronel Nuno Mira Vaz, estudioso e combatente, actualiza, aumenta e revê a história das campanhas africanas desta tropa de escol, de que os portugueses com memória se devem orgulhar, e de que os portugueses com orgulho se devem lembrar.
3. Ao relembrar – com inúmeros documentos anexos e integrados, exaustivas notas e bibliografia pertinente, seriação de fontes e interpretação fina e adequada – a história de combate dos pára-quedistas portugueses, essencialmente na longa Guerra de África do século XX, o coronel Mira Vaz renova e confirma os contributos preciosos da sua já larga bibliografia.
Esta investiu nos estudos académicos sobre opinião pública em conflito, desafios da condição militar, problemas da profissionalização das forças armadas, ou a transformação civil das mesmas nas sociedades ditas demo-liberais, até a exactos e ritmados romances de combate, escritos em português de lei (em tempo de abastardamento da língua) e à hábil ficção de base histórica, seja sobre desenganos e descalabros, com Chão dos Ventos , seja sobre grandes aventuras e grandes ilusões na África do início do século XX, com O Soldado Clarim Ainda na obra anterior, Máscaras
de Marte , que se podia ter chamado Máscaras da Morte , e Fogo Cruzado , eram uma espécie de prelúdio do actual volume: o passar em revista (mais real do que ficcionado) de um combatente sobre o combate, sem as invenções, gongorismos, auto-embevecimentos ou divagações inúteis e exercícios de amadorismo militante de outros candidatos a novelistas, ou simples cirurgiões de banalidades poéticas em prosa.
Era um prelúdio ficcional para esta obra maior de historiografia militar. Em Pára-quedistas em Combate, 1961-1975 , o autor não toma liberdades com o passado.
4. Na verdade, o livro expõe com limpidez as campanhas meticulosas destes guerreiros que foram os primeiros a combater, em 1961, e os últimos a sair do combate, em 1975.
Saídos dos teatros de operações, mas não derrotados pelo inimigo na linha da frente. Antes instruídos pela decisão ou indecisão política, pelas novas convicções metropolitanas, ou pelas omissões ou traições do decisor na rectaguarda.
Ao contrário do que aconteceu com outros estados durante séculos, até ao exemplo recente da Dinamarca no Afeganistão e no Iraque, o poder de Lisboa não trouxe de volta, nem protegeu, todos os que defenderam a bandeira nacional. Deixou à beira da aniquilação, da execução em valas comuns, do internamento em campos de concentração, unidades inteiras de combatentes africanos, entre eles muitos pára-quedistas, que tinham dado tudo por Portugal. Conheço homens valentes que volta -
ram com a morte na alma, porque as altas autoridades do estado abandonaram à sua sorte camaradas de armas, em Angola, Guiné e, no caso dos páras, sobretudo Moçambique. Felizmente vivemos hoje épocas de reconciliação com o antigo adversário. Mas ficaria de mal comigo mesmo se não lembrasse aquela mancha.
5. O livro do Coronel Mira Vaz não é, como se disse, uma narrativa edificante à vontade do leitor, subjugada às modas de época ou feita para agradar.
Fala da vida e do fim da vida. Realça as competências e qualidades da tropa que retrata, não deixando nada envolto em ambiguidades.
Refere o papel determinante da unidade de comando, da manutenção de quadros permanentes e de milicianos especializados e adequados, do culto quotidiano do espírito de corpo, da recta proporção entre combate, descanso e rotação inteligente, da combinação doseada de elementos novos e veteranos nas unidades, dos níveis de prontidão e profissionalismo técnico, do rigor táctico e da imaginação e criatividade no campo de batalha, da continuada discussão sobre lições aprendidas, da descentralização de decisão operacional em pequenos grupos, mas também da coordenação exemplar em grandes unidades, da disciplina da adaptação ao terreno (geográfico, social e humano), em circunstâncias muitas vezes impiedosas.
Do detalhe ao grande plano, o livro cobre as áreas do equipamento e armamento, incluindo o uso
de material mais moderno ou mais adequado, capturado ao inimigo, as questões da adequada fortificação de bases e acampamentos, e as circunstâncias, razões e consequências de operações nem sempre conhecidas pelos militares de outros ramos ou especialidades, e desconhecidas do público em geral, mesmo do mais conhecedor.
Relevam na obra as discussões, sempre fundamentadas, sobre a africanização da guerra, a passagem dos para-quedistas de forças de reserva do comando para unidades de intervenção operacional de reacção rápida, nas três frentes, e a transformação do que era, em 1955, uma unidade de infantaria de assalto convencional, largada do ar, em força especializada em heliassalto, golpes de mão, emboscadas, busca em combate, reconhecimento em profundidade, patrulhas de longo raio de acção, operações psicológicas e assuntos civis.
Para além da digressão justíssima sobre o corpo de enfermeiras, presenças de primeira linha em circunstâncias sempre traumáticas, essencial é também a referência exacta e metódica à ligação aero-terrestre, neste caso facilitada pelo próprio nascimento institucional dos pára-quedistas.
Na verdade, a usar o que dizia a Lei 2055, de 27 de Maio de 1952, pensaram-se aqueles como «eventuais unidades, orgânicas ou independentes» , dentro do que no início se chamou Aeronáutica Militar, e depois Força Aérea Portuguesa (FAP)
Esta criação dentro da aviação militar facilitou muitas operações, e a funcionalidade do conjunto. Na verdade, a integração entre pá -
ra-quedistas e operadores de aviões e helicópteros – dos Dakotas e Noratlas aos Alouette de transporte de assalto e ao helicanhão Lobo Mau –foi parte fundamental do elemento de prontidão e resposta numa guerra atípica e dinâmica, não posicional, com componentes não-militares de subversão, combate ideológico e terrorismo, características do que hoje chamamos «guerras híbridas»
Esta integração levará muitos a reflectir sobre a actual situação das unidades pára-quedistas/aerotransportadas no seio do exército de terra, embora não tenha sido essa a intenção da obra ou do autor.
6. No auge das operações africanas, como se descreve no livro aqui discutido, Portugal manteve seis Batalhões de Caçadores Para-quedistas em teatros de comando diferentes da FAP.
Na verdade, ao contrário do que já vi escrito, Guiné, Angola e Moçambique pertenciam a Regiões Aéreas distintas, e não à mesma área operacional «africana».
O desafio era assim imenso, se pensarmos só na logística, e tarefas de comando, comunicação e controlo, difícil de imaginar para o português bom aluno da União Europeia de hoje.
Mas foi neste cenário que os pára-quedistas lutaram, homens rudes enquadrados por um sólido corpo de sargentos (geralmente vindos dos combatentes mais experimentados) e por oficiais dedicados, que não procuravam o generalato mas a resposta a uma vocação interior: só em 1974 um pára-quedista pode ascender acima da patente e posto de coronel. Nessa altura – 1974 – acabava a guerra. Pelo menos a guerra visível.
Começava o longo tormento de subunidades lançadas no caos político-ideológico metropolitano, faccionadas e fraccionadas, joguetes de batalhas políticas internas, às vezes combinadas com estratégias estrangeiras, como um dia se virá a saber. Mas dessa agonia resultou também uma nova alma.
No 25 de Novembro de 1975, houve pára-quedistas lançados às feras por pretorianos irresponsáveis – aliás os primeiros a zarpar do barco falido –mas também unidades que souberam manter o compasso moral e o fio de prumo operacional, e – como as tropas do depois general Heitor Almendra – restituir aos «páras» o seu lugar certo na história.
Para terminar, um renovado agradecimento ao nosso coronel Mira Vaz. Um dos seus apelidos é Bravo, e este livro é também – a vários títulos –um acto de coragem.
THOMAZ, Luís Filipe F. R., O drama de Magalhães e a volta ao mundo sem querer, seguido de Um Museu dos Descobrimentos: porque não?, 2.ª ed., Gradiva, 2019
Recensão de Nuno Mira Vaz
Fernão de Magalhães, o português que é o mais celebrado navegador da História, tem o nome ligado à primeira circum-navegação do globo terrestre. E no entanto, conforme muito bem explica o autor, não só não completou a viagem por ter sido morto nas ilhas de Maluco como, se acaso não tivesse acabado daquela forma trágica, não teria consumado a circum-navegação, porque Magalhães estava obrigado pelo rei de Castela, mandante da expedição, a regressar pelo caminho de ida 1 . A circum-navegação foi na realidade completada em desespero de causa por uma única embarcação – a nau Victoria – comandada por João Sebastião de Elcano, um basco que zarpara de Sanlúcar de Barrameda como mestre da nau Concepcion.
Não é razão para se diminuírem os méritos de Magalhães, que são muitos: não só descobriu a passagem do Atlântico para
o Pacífico através do estreito que adoptou o seu nome, como conseguiu atravessar na primeira tentativa a imensidão desconhecida do Oceano Pacífico, sem esquecer as adversidades de toda a ordem que teve de vencer durante cerca de dezoito meses, e que incluíram rebeliões instigadas por alguns dos seus capitães de navio.
Na altura em que Magalhães empreendeu a viagem, a rotundidade da Terra não carecia de verificação experimental, como por vezes é sugerido. Na verdade, a esfericidade da terra já fora afirmada por Pitágoras, no século VI a. C.. Mas não faltavam questões em aberto, e entre todas uma: eram os continentes que cercavam os oceanos 2 ou estes que cercavam a terra-firme? A viagem veio confirmar que é de facto a água que circunda a terra.
No quinto capítulo, o autor recorda-nos que o principal objectivo do empreendimento era provar que as ilhas de Maluco, onde se produzia o cravinho –uma cobiçada especiaria, mais valiosa do que a canela –, estavam situadas no hemisfério de pertença castelhana. Não seria
tarefa fácil, dadas as imprecisões do Tratado de Tordesilhas. E o pior estava por vir: Magalhães “(…) aterrou, a 16 de Março de 1521, na ilha filipina de Samar, situada a c. 125º E, por conseguinte, dois graus a oeste da posição real das ilhas de Maluco (…). Deve ter-se sentido frustrado, senão perdido, [restando-lhe agora] ou dar a mão à palmatória, traindo el-rei de Castela, ou obstinar-se no erro e trair assim a sua própria consciência (…)”.
A segunda parte do livro aborda uma temática da maior actualidade: deve ou
não Portugal celebrar os Descobrimentos com um Museu?
Luís Filipe Thomaz começa por explicar as diferenças entre descoberta e descobrimento. “(…) Descoberta usa-se sobretudo para coisas materiais e pode ser meramente fortuita: a descoberta do fogo na Pré-História (…) ou a do ouro na Austrália no século XIX. Gramaticalmente, descoberta é um particípio passivo e conota por isso com a passividade da cousa achada, ao passo que descobrimento é um nomen actionis activo e, se se quiser, interactivo (…)”. 3
O autor não tem dúvidas: o Museu, se o houver, deve chamar-se «dos Descobrimentos», um “(..) termo consagrado por largo uso, que se generaliza c. 1470 para significar o que até aí era designado por enquerer, saber parte, colher certa enformação (…) . São tudo expressões que denotam um processo minucioso de colheita de informações, que ultrapassa em muito a ideia de achar, encontrar, topar com, que só se aplicaria com inteira justeza a ilhas desconhecidas e despovoadas, como
por exemplo as de Ascensão e Santa Helena (…)”. 4
Luís Filipe Thomaz conclui a sua reflexão afirmando que “(…) Como todas as grandes transformações históricas, os Descobrimentos (…) acarretaram, de facto, sofrimentos para muita gente, através de efeitos laterais que vão da intensificação da escravatura à difusão da sífilis americana no Velho Mundo, passando pela da varíola no Novo. 5
Não inauguraram, por isso, o Paraíso na Terra; mas deram origem ao mundo moderno tal como o temos, com os defeitos e virtudes inerentes a toda a criação humana (…)”. 6
Luís Filipe Ferreira Reis Thomaz (176/1952), foi Comandante do Batalhão Colegial no ano lectivo de 1958/59 e em 1962 concluiu a licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Entre 1967 e 1972 cumpriu o serviço militar em Timor e, no regresso, ingressou na Faculdade de Letras como assistente de professores ilustres: Virgínia Rau, Teixeira da Mota e Veríssimo Serrão. É, desde 1973, membro da Academia de Marinha.
Uma bolsa da Fundação Gulbenkian permitiu-lhe frequentar, durante quatro anos, prestigiosas Universidades francesas, onde obteve diversos diplomas de estudos orientais.
Regressado a Portugal, foi docente na Faculdade de Letras e na Universidade Nova, ambas de Lisboa, sendo doutor honoris causa desta última em 2002. Foi professor visitante em Universidades de França, Brasil, Malásia e Timor. Proferiu conferências e participou em colóquios e congresso em diversos países de Europa, Ásia, Oceania e América.
Depois da jubilação organizou, entre 2002 e 2011, o Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa, após o que se dedicou à investigação na área referida, de que é conceituado especialista. É autor de cerca de 250 artigos publicados em Portugal e no estrangeiro e um dos nove livros de sua autoria foi galardoado em 1994 com o «Prémio D. João de Castro» da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.
1 No capítulo primeiro das Capitulações celebradas em Março de 1518 com Magalhães, D. Carlos I proibia-o terminantemente de transitar por qualquer forma no hemisfério que «pertencia» a Portugal.
2 O termo oceano designava originariamente o deus do Mar, uma grande massa líquida que corria como um rio em redor da terra, e assim é referido por Homero nos seus poemas. Quando os gregos transpuseram o estreito de Gibraltar e descobriram o Atlântico, supuseram que este era o mítico rio, passando a designá-lo por Oceano. (p. 45)
3 P. 92.
4 O autor sugere que a inquietação pode ter levado Magalhães a vaguear sem destino durante quarenta dias, até ser morto numa escaramuça numa ilha sem qualquer interesse para o objectivo.
5 pp. 104-105
6 P. 105
7 P. 121
Tivemos à chegada às Marquesas, por parte de todos os barcos da frota, uma receção extraordinária, principalmente do Makena, da Sarah e do Luc – que foram de uma simpatia fora do comum. Antes de deixarmos o catamaran, para completar a magnífica estadia que nos foi oferecida, ainda assistimos a um verdadeiro e maravilhoso desfile de espécies mari-
nhas, do último andar deste magnífico barco. Foi possível observar jamantas que nadavam à superfície, tartarugas gigantes e um conjunto de golfinhos, que a brincarem, saltavam fora da água, em movimentos verdadeiramente acrobáticos! A transparência das águas, incrivelmente limpas, enriqueceu este espetáculo, transformando-o num aquário gigante.
Como chegámos bastante mais tarde às Marquesas não foi possível acompanhar os restantes barcos da frota, pois tivemos que partir para Hiva Oa para fazer o “check in” na Polinésia Francesa, abastecer de gasóleo e de víveres – depois de vinte e nove dias de viagem, algumas coisas ficaram com a existência a zero!... Quando tentei levantar a âncora, verifiquei que ela estava muito pesada,
pois o motor que enrola a amarra não tinha força para a içar. Pedi ao Luís para movimentar o barco à vante e à ré, mas em vão, o ferro estava preso no fundo. O Jean e Cristiane que estavam perto de nós, apercebendo-se do problema, vieram no “dinghy” e conseguiram trazer o nosso ferro à superfície, mais um valente bloco de coral. Valeu-nos a experiência do Jean e o tamanho e a potência do dinghy para levantar tamanho pedregulho!
Depois deste contratempo, lá largámos para Hiva Oa, chegando no dia 2 de Abril, quinta feira, da semana da
por todos os lados. Esta é a situação perfeita para que os botes fiquem todos furados!...
A ilha é pequena com apenas 1213 habitantes e de origem vulcânica.
A religiosidade destes povos é de tal forma intensa, na nossa perspetiva, exagerada, que iniciam a semana da Páscoa na 5ª feira e só terminam na 2ª, mantendo o comércio fechado, incluindo o único posto de abastecimento de combustível!!!
Tínhamos um contacto em terra, a Sandra, que nos resolveu o problema da
existe o “Museu de Gauguin” , com cópias dos seus quadros mais conhecidos.
Conseguimos contactar com um possível eletricista, para ver o gerador que continuava avariado, mas apesar de ter combinado trabalhar no sábado, não apareceu e nem disse nada!
A vila Atuona, a cerca de quatro kms do cais onde atracava o ”ferry” e onde tínhamos o “Allegro” ancorado, resumia-se a uma rua principal, onde estavam instalados os principais serviços públicos da terra: Câmara Municipal, Polícia,
Páscoa, à baía de Taha Uku, a quatro Kms da principal povoação, Atuona. Ficámos como estava previsto ao ferro , mas por indicação do controlador, com um ferro à proa e outro à popa!
Fica «Um aviso à navegação» : Apesar do cais do “ferry” ter um ótimo aspeto, uma construção sólida, em betão, os pontões para os “dinguis” são do pior que encontrámos. Construídos em madeira, muito velhos e inevitavelmente cheios de pregos e parafusos a saírem
lavandaria (roupa de quatro semanas de viagem) e nos levou à “Gendarmerie” para fazer o “checK in” na Polinésia Francesa. Felizmente o Posto de Polícia tinha um pessoal muito simpático que rapidamente nos despachou da burocracia necessária.
A Ilha tornou-se conhecida e de certa forma famosa, pois lá terem vivido e morrido duas figuras ilustres – o pintor Paul Gauguin e o cantor Jacques Brel. Na vila de Atuona
Correios, Hospital, Banco, com ATM, farmácia, Centro Cultural de Gauguin, a agência da “Air Tahiti” e, para o fim, deixo o cemitério, onde estão sepultados Gauguin e Jacques Brel. A rua ainda tinha um supermercado e pequenas lojas razoavelmente bem abastecidas assim como uma casa de chá / restaurante, com um nome deveras pomposo para a terra, mas giríssimo - “Salon de Thé Chez Eliane”! Claro que tudo isto tem que ser visto, apreciado e principalmente imaginado pelos leitores, neste
pequeno contexto. A Dona Eliana servia chá e apetitosas panquecas que fizeram as nossas delícias, unicamente durante dois dias, porque nos outros, esteve fechada, na mais longa semana da Páscoa, de toda a minha vida. O “Salon” era o único lugar público que tinha acesso à “internet”, com um sinal péssimo, mas que deu para comunicar, com grande dificuldade, com Portugal.
O supermercado e as pequenas lojas estavam temporariamente abertos, mas faltavam os bens essenciais –cebolas, batatas, ovos, arroz e carne, que só chegariam no “ferry” de terça-feira! Por vezes até a cerveja acabava…a vida dependia da chegada
conhecem bem a região e muitos deles têm formação dada pelos Serviços Oficiais de Turismo, logo, de acordo com o tempo que temos disponível, arranjam bons circuitos, com locais de interesse para o visitante, explicando tudo o que se vai passando e vendo.
Foi o que aconteceu nesta paradisíaca Ilha. Percorremos as sinuosas estradas que ligavam as povoações do interior com as do litoral, passando por praias de areia preta, por paisagens montanhosas, repletas de vegetação tropical, com uma costa bem recortada, por enseadas profundas e abrigadas de ventos e mar. Qualquer ponto da Ilha é um bom ancoradouro para quem a preten-
O aeroporto foi um dos locais escolhidos para visitar. É uma pequena construção, sem qualquer recorte arquitetónico, com o nome de Jacques Brel, que, explicou o motorista, para além de ter vivido nesta ilha, era piloto e com o seu avião participou em variadíssimas missões humanitárias, bato palmas ao cantor Belga.
Coloquei na objetiva (zoom) da máquina, uma foto de duas figuras da terra, típicas da Polinésia, com seus trajes domingueiros. A minha expressão – típicas da polinésia – não tem qualquer conotação segregacionista, até porque, na sua generalidade, concordo com um grande pensador, que escreveu:
«…….Há só uma raça, a Humana, e uma só Natureza, a divina……
deste desejado e indispensável barco que fazia a cabotagem entre as ilhas habitadas da Polinésia. Só nesta data é que recomeçaria a vida comercial, e infalivelmente a reposição dos “stocks” caseiros, no nosso caso, do “Allegro”
Perante esta situação, como estávamos «atados de pés e mãos», resolvemos, no Domingo de Páscoa, alugar um carro com condutor e dar um passeio pela Ilha, com direito a um piquenique fornecido pelo motorista. Para mim, a solução carro/motorista ou contratar um táxi por um tempo determinado, é vantajoso, porque estes profissionais
de visitar, porque não há marinas e, felizmente, não é protegida por nenhum perigoso anel recife de coral, como a maioria das ilhas que encontrámos no Pacífico.
A norte, visitámos os célebres petróglifos de Tehueto, baixos relevos esculpidos em basalto. É uma arte rupestre que exibe desenhos, ilustrando cenas com histórias da vida real.
Existem vários locais arqueológicos denominados “Tikis”, e segundo a explicação do guia, representam o Deus da Polinésia, sendo as esculturas em pedra ou madeira. Os que vimos eram todos em basalto.
Por volta das treze horas, num local muito bem tratado, com relvado e coqueiros, encontrámos uma pequena igreja de arquitetura moderna, mas discreta, e no mesmo espaço, um grande pavilhão. O interior da igreja era muito simples, bem iluminada, com o teto em madeira.
Como ouvimos vozes, fomos espreitar o pavilhão – estava a decorrer uma festa de Domingo de Páscoa. Fomos convidados a entrar e a comungar o delicioso e variadíssimo almoço com aquela simpática comunidade católica. Infalivelmente tivemos que nos apresentar e contar parte da nossa história, pois as perguntas caíam em
catapulta. Passámos a ser foco principal das atenções da festa, apesar da presença do Reverendíssimo Bispo da Polinésia, que tive o prazer de conhecer e falar durante algum tempo. Era uma personalidade superior na hierarquia da Igreja, mas de uma simplicidade e naturalidade extremas – pela sua postura e maneira de vestir, confundia-se com os restantes paroquianos.
Gostou de saber que éramos portugueses e demonstrou ser conhecedor de Portugal e da nossa História, fazendo questão de valorizar a nossa importância no conhecimento e desenvolvimento do «mundo moderno».
Chegou a roupa que tínhamos entregue na quinta-feira passada!
Sete de Abril, terça-feira, atracou o grande navio, que chega de duas em duas semanas. Hoje é dia de “São Navio” , deve trazer tudo o que falta à Ilha – e deveria ser muita coisa, pois aqui só se produz manga, papaia, toranja e côco, de muito boa qualidade – uma autêntica delícia.
Ainda não foi possível abastecer de gasóleo, porque a estação de serviço fechou, para ser abastecida, só abrindo no dia seguinte.
Chegou também o mecânico e a panela ficou montada.
Quando o depósito ficou cheio, os últimos ficaram de reserva, devidamente amarrados a bombordo e estibordo do mastro.
À tarde, a Manuela Adão e eu fomos às compras. Como não há táxis nesta terra, as pessoas pedem boleia. Com facilidade arranjámos quem nos levasse até ao supermercado, tendo a gentileza e tempo, para esperar por nós, e transportar-nos de volta até ao cais. Quando arrancámos com o «dinghy» caiu uma chuvada, tipo tropical, que nos encharcou – a nós e às compras.
Vida de Marinheiro.
É reconfortante ouvir um elogio destes a milhares de milhas da nossa PÁTRIA. A grande maioria da população é católica, mas existem também anglicanos, mórmons e evangélicos.
O quarto dia, segunda-feira, dia 6 de Abril, começou muito mal, com uma avaria na panela de escape do motor, detetada pelo Luís. Situação gravíssima, pois sem motor principal, estávamos privados de tudo. Entretanto, chegou, finalmente, o técnico do congelador, que milagrosamente ou não, pô-lo a trabalhar. Através da Sandra, conseguimos um mecânico que trabalhava no aeroporto, veio a bordo, desmontou a panela e levou-a para terra.
Quarta-feira dia 8, foi o dia destinado a repor «stocks». Para abastecer um veleiro de gasóleo neste porto, tem que se ter mão de obra musculada, o que não era propriamente o nosso caso, atendendo à idade da tripulação, principalmente a minha.
Foi necessário carregar 25 «jerry cans» , cinco de cada vez, do “Allegro” para o «dinghy» , transportá-los para o cais, do cais para a bomba, encher um por um, levá-los novamente para o cais, colocá-los no «dinghy» , manobrar o bote até ao «Allegro» , içá-los com um cabo para o convés e, finalmente, vazá-los para o depósito do barco.
Esta descrição foi intencionalmente mais exaustiva para realçar a diferença entre o modo de vida na Europa, onde tudo é fácil e a canseira necessária para realizar as mesmas tarefas, nestas terras lindas, perdidas pelo Mundo, mas que nós fizemos questão de redescobrir.
«E SIGA A MARINHA»Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em Lisboa, em Julho de 1920.1
Finda a instrução primária, começou a trabalhar como aprendiza de costureira e bordadeira, depois como operária de uma fábrica de chocolates e rebuçados. Mais tarde, com a irmã Celeste, passou a vender fruta à percentagem pelas ruas de Alcântara.
Desde muito cedo mostrou gosto por cantar e, em 1935, foi escolhida para interpretar como solista o “Fado Alcântara”, nos festejos dos Santos Populares, acompanhando a Marcha Popular do seu bairro. Presença habitual em festas e verbenas, teve uma primeira referência muito elogiosa na revista Guitarra de Portugal, em 10 de Agosto de 1938.
Estreou-se como profissional em 1939 no Retiro da Severa, onde se exibiu durante seis meses, passando depois para o Solar da Alegria e para o Café Mondego. O sucesso foi tal que rapidamente
se tornou cabeça de cartaz, passando a cantar no Café Luso com um cachet muito superior ao que até aí fora pago aos maiores fadistas.
A década de 19402 é marcada por actuações nas mais conceituadas casas de fado de Lisboa e pela estreia em programas de rádio. Em 1943 ocorre a primeira saída do país, para actuar numa festa do Embaixador de Portugal em Madrid. No ano seguinte vai ao Brasil para cantar no Casino de Copacabana, no Teatro João Caetano e na Rádio Globo. Voltará ao Brasil em 1945, numa estadia que se prolongará até Fevereiro de 1946, durante a qual grava os primeiros discos.
No decurso da década de 1950, Amália realiza longas digressões artísticas pelo estrangeiro, limitando as suas aparições em Portugal a espectáculos como a Grande Noite do Fado, o Natal dos Hospitais, o Reveillon do Casino Estoril e outros festivais, muitos de beneficência. Em 1950 participa numa série de espectáculos patrocinados pelo Plano Marshall em Berlim, Roma, Trieste, Dublin, Berna e Paris. Canta pela primeira vez
em Nova Iorque em 1952 e, em 1956, no Olympia de Paris, alcançando um sucesso que marca o início de uma triunfal carreira internacional.
Na década de 19603 volta a cantar no Brasil e exibe-se em várias capitas do Norte de África, em Bruxelas, Atenas, Leningrado e Moscovo.
Em 1970 actuou pela primeira vez no Japão, onde voltou em 1976, 1986 e 1990. Em 1972 estreou-se na Austrália.
No decurso de 1989 e 1990 realizaram-se as comemorações dos cinquenta anos de carreira, as quais incluíram um espectáculo para a televisão espanhola, outro no Coliseu dos Recreios, a exposição “Amália Rodrigues. 50 Anos” no Museu Nacional do Teatro, a retrospectiva “Amália no Cinema”, na Cinemateca Portuguesa, e uma grande tournée com espectáculos em Espanha, França, Suiça, Israel, Índia, Macau, Coreia, Japão, Bélgica, Estados Unidos e Itália. As actuações nos cinco continentes serão de resto uma constante durante a sua longa carreira.
A estreia da fadista no teatro fez-se em 1940, no Teatro Maria Vitória, com a peça “Ora vai tu!”. Daí até ao final da década, participou em mais doze revistas e operetas. Mais tarde, em 1955, integrou o elenco da peça “Severa”, levada à cena no Teatro Monumental.
Protagonizou igualmente cerca de uma dezena de filmes, podendo destacar-se, em 1955, a participação no filme “Les Amants du Tage”, onde canta o famoso “Barco Negro”, com letra de David Mourão Ferreira.
“(…) Amália Rodrigues destaca-se, também, pela forma como introduziu inovações na postura e indumentária dos fadistas que vieram a transformar-se em verdadeiras convenções performativas, como é o caso do uso sistemático do vestido e xaile negros, e do posicionamento à frente dos guitarristas.
O interesse pela poesia erudita é mais uma novidade imposta pela fadista. Assim, logo no início da década de 1950, Amália Rodrigues grava “Fria Claridade” de Pedro Homem de Mello e, em 1953, “Primavera” de David Mourão-Ferreira. A colaboração com estes dois poetas será uma constante e outros fazem parte, posteriormente, das suas interpretações, caso de Luiz Macedo e Sidónio Muralha (1954), Alexandre O’Neill (1964), José Régio (1965), Vasco de Lima Couto (1967), ou Manuel Alegre e José Carlos Ary dos Santos (1970) (…).
Amália foi autora de muitos poemas que interpretou e editou em disco, alguns deles estão entre as faixas que mais a celebrizaram. Estes poemas foram editados no livro “Versos” da editora Cotovia, em 1997 (…)”.4
A decisão de cantar versos de grandes poetas portugueses não escapou a uma rude polémica quando, em 1965, in-
terpretou pela primeira vez, versos de Camões, incluídos num disco intitulado “Com Que Voz”, que muitos admiradores consideram o seu disco maior.
1965 foi um ano particularmente turbulento na vida dos portugueses, marcado por ampla contestação àquilo que os contestários – gente ligada às artes e letras
ou a ideologias de esquerda – chamavam «guerra colonial», a qual por sua vez implicava o agudizar da censura e a intensificação da repressão a cargo da PIDE. O lançamento do disco provocou uma polémica pública entre apoiantes e detractores que se manteve durante meses. Não foi o seu maior dissabor. “(…) Com a Revolução, a inveja portuguesa veio ao
de cima. Amália era, a seu modo, uma estrangeirada que se sentia bem nas sete partidas do mundo mas que regressava sempre ao torrão natal e ao lar na Rua de São Bento. Enriquecera, o Estado Novo aproveitara-se dela, mas poucos sabiam que ajudava anonimamente os perseguidos e presos políticos, até financeiramente. Acusada de fascista, o povo voltou-lhe as costas. Começava a moda da receita invejosa de ‘os ricos e famosos que paguem as crises’! Parafraseando um fado de Amália, “que Deus lhe perdoe se é crime ou pecado, mas ele é assim”. O ostracismo durou mais de uma década (…)”.5
“(…) O seu estilo e personalidade faziam a síntese impossível entre o realismo castiço de Hermínia Silva e o perfil senhoril de Maria Teresa de Noronha. Ao contrário das outras fadistas e cantadeiras (…), Amália foi-se apurando e evoluindo, ajudada por uma inteligência intuitiva (…). Amália ampliava as vogais, arrastava as consoantes, esticava a linha vocal sem a partir, antes percorrendo todas as notas intermédias num alucinante legato cromático que nos deixava estupefactos e em transe, como ela (…).”6
Em 1994 afastou-se dos palcos, mas continuou a ser convidada de honra em inúmeros eventos culturais, tendo continuado a receber numerosos prémios e distinções honoríficas. Amália Rodrigues é ainda hoje reconhecida como a maior intérprete de sempre deste tipo de música. A voz poderosa e expressiva da «Raínha do Fado» fez-se ouvir por todo o mundo, tendo sido aplaudida nalguns dos mais prestigiados palcos dos cinco continentes.
Morreu a 6 de outubro de 1999 e foi sepultada a 8, com honras de Estado. Cerca de 50.000 pessoas acompanharam a urna da artista no cortejo entre a Basílica da Estrela e o cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Os restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional em 2001.
“(…) A «Voz de Portugal» deixou escrito em testamento a vontade de instituir uma Fundação com o seu nome que tinha como fins não só criar um Museu «Amália Rodrigues» como distribuir os seus eventuais rendimentos líquidos anuais pelas seguintes entidades: 15% para a Casa do Artista, 15% para o Centro
de Saúde ou de Enfermagem e Primeiros Socorros do Brejão (caso viesse a ser construído) e os restantes rendimentos líquidos anuais de acordo com os objetivos da Fundação, tendo em conta os mais desfavorecidos, instituições de beneficência e de solidariedade social (…)”.7
1 Os documentos oficiais apontam como data de nascimento de Amália o dia 23 de julho de 1920. Mas, desconhecendo qual terá sido a data exata, a própria Amália apontou 1 de julho como o dia em que gostava de celebrar o seu aniversário.
2 Neste ano casou com Francisco da Cruz, um guitarrista amador, de quem se divorciou em 1949.
3 Nesta década, mais precisamente em 1961, voltou a casar, no Brasil, com o Engenheiro César Henrique de Seabra Rangel, com quem viveu até ao falecimento deste em 1997.
4 Wikipedia
5 Jorge Calado (revista do «Expresso» de 20.06.20)
6 Jorge Calado (revista do «Expresso» de 20.06.20)
7 Jorge Calado (revista do «Expresso» de 20.06.
Professor. Pensador. Ensaísta. Interventor cultural
Oprémio “Árvore da Vida –Padre Manuel Antunes” 2020 da Conferência Episcopal Portuguesa, foi atribuído ao professor, pensador, ensaísta e interventor cultural Eduardo Lourenço. O prémio, que já distinguiu filósofos, investigadores e artistas em vários domínios da cultura, pretende homenagear aqueles que procuram introduzir no tecido social a dimensão do espírito cristão.
A revista Brotéria publica um texto de Guilherme d’Oliveira Martins sobre esta figura impar da cultura portuguesa, no qual, resumidamente, afirma:
“(…) A atribuição do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes a Eduardo Lourenço representa o reconhecimento de um percurso de vida de quem tem refletido profundamente sobre a cultura com uma especial inquietação espiritual, significativamente convergente com o magistério da figura ímpar que inspira este prémio. E importa lembrar o que o agora galardoado afirmou no centenário da revista Brotéria, reconhecen -
do o Padre Manuel Antunes como “grande mestre e ensaísta” com uma especial “atenção aos novos tempos, os de casa e do mundo” , não privilegiando o aspeto apologético das suas profundas convicções religiosas e metafísicas, profundamente ligado à exigência crítica (…).”
Português angolano de coração, saiu do Colégio no fim do 5º ano, terminando o liceu em Nova Lisboa (Angola – “país que sente como a sua terra”), voltando a Portugal para cursar Direito na Faculdade de Direito de Lisboa onde se licenciou e foi Assistente dos Professores Sérvulo Correia e Freitas do Amaral na área do Direito Administrativo.
Tendo desenvolvido grande parte da sua vida profissional ligado aos negócios em torno do petróleo – com grande actividade internacional quer na negociação de contratos, quer como Árbitro – é hoje um advogado com um passado cheio de sucessos tendo o seu Escritório adquirido acentuada notabilidade.
Em paralelo, é de salientar a sua intensa ligação com o Colégio na sua realidade presente, a sua permanente disponibilidade para apoio aos Antigos Alunos e a grande ligação que mantém com o seu Curso.
Com o seu fino humor ligado a um elevado pragmatismo na abordagem da sociedade actual nas suas vertentes humana, social e económica, considera que o Colégio lhe “forneceu” um conjunto de valores de grande importância para a sua vida pessoal e profissional: a auto-disciplina, a lealdade, camaradagem, ...
“ANGOLA Entre a Mentira e a Vergonha” é a síntese fundamentada de um processo de observação e análise que denuncia, com elevada acuidade e honestidade intelectual, parte de um processo político num país com enorme ligação histórica à sua Família e a Portugal.
A história contemporânea de Angola está carregada de equívocos, de mentiras, de erros de análises e de interpretações e, sobretudo, de tabus que ao longo dos anos têm alimentado, de um lado a sagração de uma plutocracia despótica que encontrou no terror infligido a uma sociedade difusa em silêncio a sua melhor arma e, do outro lado, as vozes que legitimamente reclamam a verdade da História e teimam, e bem, em agitar a consciência colectiva, que não pode permanecer alheia ao mal que tem sido feito. Esses equívocos e mentiras remontam já ao tempo do início da Guerra Colonial e continuaram, apadrinhados na Declaração de Independência pela intervenção interessada de uns militares de Abril, uns mal formados e outros mal informados, que levantaram o pano do palco para a exibição de uma peça que descambou no Inferno de Dante, até aos tempos de hoje.
O 27 de Maio de 1977, e os tempos que se lhe seguiram, mostra-o e é disso consequência. Não tem perdão. A página negra da curta história da Angola independente escreve-se em torno dessa data. O outro lado da barricada não deixa de carregar consigo equívocos e tabus que devem ser quebrados. Tem a seu favor, contudo, o constituir o flanco da tormenta. A Angola da burguesia mandante, dos assalariados dos petróleos e da guerra transformados em detentores da riqueza é, apenas, efeito da política do terror jacobino que a tem governado. A receita é simples: se se quer ter o povo do lado do Poder, basta infligir-lhe o medo.
Doutoramento no ramo de Medicina – especialidade de Otorrinolaringologia
fessores das quatro maiores faculdades de Medicina do país (Lisboa, Porto, Coimbra e NOVA), o nosso “Subtil” defendeu a tese denominada “Postoperative cares after tympanostomy tubes for chronic otitis media with effusion” , tendo sido aprovado com distinção e louvor por unanimidade.
O trabalho apresentado pelo “Subtil” contribuiu com evidências experimentais, obtidas pela análise de um grupo significativo de voluntários, para uma maior aceitação das recomendações mais recentes da Academia Americana de Otorrinolaringologia.
A tese defendida debruça-se sobre a necessidade da tomada de medidas especiais, nomeadamente no contacto com a água, com crianças que tenham sido submetidas a procedimentos de inserção de tubos de ventilação nos tímpanos frequentemente recomendados na prevenção de episódios de otite média, doença inflamatória do ouvido médio, bem conhecida dos pais de crianças em idade pré-escolar.
ventilação colocado nos tímpanos, a tese questiona o uso de tampões ou bandas elásticas frequentemente recomendado para prevenir a entrada de água para os ouvidos e evitar novos episódios de inflamação dos tímpanos.
O “Subtil” tem, ao longo dos anos, contribuído de um modo intenso e significativo para o desenvolvimento desta área do conhecimento. É autor de 33 artigos em revistas nacionais e internacionais com arbitragem científica, de 10 capítulos de livros, foi editor de 5 livros e é editor/revisor para diferentes revistas científicas.
O João tem compatibilizado o seu dessossego intelectual, que o induz a procurar novos conhecimentos, com o serviço para a comunidade. Depois da licenciatura na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o “Subtil” desempenhou funções nos Hospitais da Força Aérea, de Santa Maria, Pulido Valente (Lisboa), Beatriz Ângelo (Loures) e finalmente no CUF das Descobertas (Lisboa) onde dá atualmente consultas.
Em 18 de Janeiro de 2019, o João Eduardo Brito Subtil (45/1983) prestou provas públicas para a obtenção do grau de Doutor no ramo de Medicina – Especialidade de Otorrinolaringologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa.
Perante um júri de reconhecidos médicos da especialidade, e pro -
Baseado na análise de dois grupos randomizados de crianças que foram submetidas à introdução de tubos de ventilação e na frequência de episódios de otorreia (aparecimento de secreções provenientes dos ouvidos) e constatando, igualmente, que a dinâmica da fluição da água pelo ouvido externo e médio das crianças sugere que só a profundidades muito elevadas é que haverá pressão suficiente para a água poder atravessar o tubo de
Sérgio Filipe (389/82) e Pedro Dias (399/82)
Recentemente, e no quadro da pandemia (COVID-19) que nos envolve, o João contestou, no facebook, um texto escrito por “alguém que se julga muito sábio” , sobre a pretensa “análise amoral e fria dos números” , que pretendia defender que não compensa proteger-nos da Covid, que só afectaria idosos.
Na sua argumentação conclui – depois de esgrimir argumentos e considerações sobre os aspectos negativos e positivos da utilização das redes sociais como meios de difusão – dizendo que “Só medimos o nosso valor na justa medida do que damos desinteressadamente aos outros. Todos temos valor, todos temos o tal peso imaterial. E é enquanto somos “todos” e nos sentimos como “todos” que temos valor. Pretender converter esse peso que cada um tem num valor material não é amoral, parece-me a mim imoral”.
E refere na parte final: “Sou médico e fui educado na cultura de dar aos outros muito de mim – o meu tempo, a minha formação, mesmo por vezes amputando o que deveria ser até da minha família. E antes de ser médico, venho de uma Escola que me ensinou a honra e o valor de tomar conta de todos. E ensino esses valores todos os dias ao meu filho, o respeito por todos e a importância intrínseca e imensurável que todos, cada um tem.”
A referência à “Escola que lhe ensinou a honra…” foi no facebook, na continuação dos “posts” que se seguiram, abundantemente indentificada com o Colégio Militar, os seus princípios, valores e o seu contributo para a formação “na cultura de dar aos outros muito de mim”.
Terminou o Mestrado em Administração e Gestão de Empresas na CATÓLICA LISBON, School of Business & Economics (Universidade Católica Portuguesa) em 2014, frequentou em 2014/15 a Licenciatura em Filosofia na PUSC – Pontificia Universidade de Santa Cruz (Itália), seguindo-se a sua entrada no Seminário realizando entre 2015 e 2019 o Mestrado Integrado na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Foi ordenado Diácono em 1 de Dezembro de 2019, Sacerdote em 28 de Junho de 2020 e nomeado Vigário Paroquial de Cascais a partir de Setembro 2020.
Extracto de alguns dos passos do seu Testemunho Vocacional ainda quando era Diácono.
O primeiro aspecto que gostaria de partilhar é algo que tenho aprendido a valorizar cada vez mais à medida que vou ficando mais velho. Trata-se da minha família, tanto a mais próxima – os meus pais Teresa e Victor, o meu irmão Afonso – bem como toda a família mais alargada. Não tenho dúvidas que ser filho e irmão de quem sou é uma grande graça de Deus.
Além da educação familiar, o confronto com os outros na escola e noutras realidades fez-me despertar para o confronto com a questão de Deus. Após ter frequentado os oito anos do Colégio Militar, onde tive uma ex-
periência de crescimento muito feliz, formando amizades para a vida – e onde recebi o Crisma – tive uma experiência de intercâmbio de um ano nos Estados Unidos da América, que foi importante no desvelar do meu caminho para Deus. Vivi com uma família de acolhimento, os Whites, no estado do Wisconsin, numa pequena cidade num meio rural. Fui acolhido como um filho próprio, o que foi uma experiência marcante, sobretudo pela peculiaridade da família.
Para a minha mundividência de então, os Whites foram algo que nunca tinha visto: uma família com onze filhos, profundamente cristã e, ainda assim, absolutamente normal, divertida e bem integrada na comunidade.
Foi-se desvelando com clareza o caminho que iria percorrer, apesar de muito ainda haver a caminhar. Persistiam em mim dúvidas de fé e sobre a Igreja que nunca havia esclarecido; alguns
preconceitos que me bloqueavam o caminho, muitos dos quais nem me dava bem conta. Ingressei na Universidade Católica Portuguesa, no curso de gestão, onde tive uma outra experiência de desvelamento: a Missão País.
Tive ainda a graça de fazer uma experiência de Erasmus em Roma e, mais tarde, concluir nessa mesma cidade a tese de mestrado e estudar filosofia. Viver aí desvelou-me a universalidade da Igreja, por todas as vocações e carismas que tive a graça de conhecer e que, ao mesmo tempo, me ajudaram a conhecer aquilo a que eu mesmo era chamado.
O seminário tem-me proporcionado um conjunto de experiências pastorais em diferentes contextos – nas paróquias do Estoril e da Ramada, bem como no Pré-seminário de Lisboa – que me tem ajudado a ganhar
amor e sensibilidade pela salvação de todos aqueles com quem me cruzo. Além disso, viver com outros que se preparam para o mesmo ministério vai alargando o olhar e o coração, bem como fortalece o trabalho conjunto no crescimento em virtude e graça, para que por nós muitos cheguem a conhecer e amar a Cristo.
Já como diácono, vou experimentando mais de perto a grandeza que é a salvação de Deus. Tive a graça de celebrar dois baptismos, o que me fez sentir pequeno perante o momento em que alguém se torna filho de Deus.”
O Mendo é membro de uma Família com tradição colegial.
Em linha directa é neto do 22/1940 Vítor José de Ataíde Saraiva Marques, filho do 33/1971 Vítor Miguel Raynal de Ataíde Saraiva Marques e irmão do 160/2004 Afonso Raynal e Menezes Pais de Ataíde.
É ainda sobrinho-neto do Externo/1930 José Augusto Henriques Monteiro Torres Pinto Soares e primo do 44/1953 Duarte Nuno Ataíde Saraiva Marques Pinto Soares, do 154/1954 Henrique Arantes Lopes de Mendonça, 222/1958 Pedro Arantes Lopes de Mendonça , 529/1963 António José de Sousa Valles e Saraiva de Reffóios e do 529/2003 António Maria Pinto Cardoso Saraiva de Reffóios.
Recebemos na ZacatraZ, da parte do Luís Ricardo da Silva e Costa Roncon Santos (226/1981) os três textos que de seguida se transcrevem, relativos a três Mestres que teve no Colégio e que ainda hoje recorda, com admiração e saudade. É com todo o prazer que procedemos à sua publicação. Pede-nos o Ricardo, para antecedermos os textos do seguinte pensamento de Nelson Mandela, «O que importa na vida, não é o simples facto de termos vivido, é a importância que tivemos na vida dos outros». Não há dúvida, que os três Mestres aqui recordados tiveram importância na vida do Ricardo e certamente dos camaradas do seu tempo no Colégio. Se assim não fosse, não estaria agora aqui a evoca-los. Professor Pequito, Professor Marques da Costa, Major General Bastos Moreira.
A Redacção PROFESSOR PEQUITOJá passou quanto tempo, nem sei, mas são muitas as vezes que me lembro do no nosso mestre Silvestre Pequito, nosso professor de Francês. Agora já não está entre nós, mas todos que fomos seus alunos, teremos cada um as suas lembranças, episódios que nos marcaram por uma razão ou por outra.
Recordo-me especialmente, duma aula no ano em que entrei para o Colégio, 1981. Ainda estávamos a aprender a mexer-nos naquele novo espaço que era o Colégio, a nossa nova casa e família. Nessa manhã talvez de Outubro ou Novembro fomos para uma sala que existia onde tinha sido a 1ª Companhia no tempo de aluno do meu pai que entrou em 1955, mesmo junto ao que era o Pátio da Infia. Aquele espaço foi mais tarde adaptado para ser a messe de professores e oficiais. Já foi tudo demolido, agora faz parte da Parada Marechal Teixeira Rebelo.
Mas nessa aula o Prof Pequito, apresentou-se e contou-nos como o Colégio tinha sido importante para ele, como foi importante na sua vida, mesmo não tendo sido lá aluno.
A camaradagem é um valor basilar no nosso Colégio, transpira das paredes nos edifícios mais antigos e mesmo dos mais recentes. Foi decisivo num momento difícil da sua vida. A Camaradagem é a força deste Colégio, dos seus alunos, professores e pessoal. Depois perguntou-nos como nos sentíamos no Colégio e sobre as nossas famílias. Recordo-me dum camarada meu, que vacilou ao contar que tinha uma irmã mongolóide, ao mesmo tempo que umas lágrimas matreiras que caíram. O professor Pequito chamou-o e foram conversar para a porta da sala, estavam a dúzia e meia de metros da minha carteira. Não os ouvia, ali ficaram juntos à ombreira da porta. Não sei que disse, mas a mim incutiu-me confiança e ao meu novo camarada também, como pude avaliar pelo seu estar a seguir no intervalo. Outra vez telefonou-me, depois de eu sair do meu internamento de quase seis meses em coma, para jantar em sua casa com a sua família. Um agradável jantar e uma conversa sobre tudo o que me acontecera, como era o novo Roncon depois da minha prolongada enfermidade e convalescença. O meu objetivo era, e espero ter conseguido salientar o lado profundamente Humano deste nosso professor.
Repose en Paix, monsieur le professeur Pequito.
Marques da Costa, o nosso professor de Química, um apaixonado pela ciência e pelo nosso Colégio. Quando se decidiu estudar Galileu com mais afinco, tomou, como primeira medida, tirar um curso de italiano para poder ter acesso aos documentos originais e assim fazer a sua interpretação na língua em que estavam escritos, sem perdas na tradução, para poder passar aos seus alunos. Quando ele montava uma multiplicação no quadro com várias casas decimais, mas depois chegava ao resultado da esquerda para a direita, enfim era uma arte que tinha.
Quando entrei para o Instituto Superior Técnico, estava a borregar numa cadeira de Química Geral, eu sempre fui mais das Físicas, onde fui procurar auxílio? À minha referência na Química, Prof. Marques da Costa. Já tinham passado uns anos depois do Colégio, mas a camaradagem persistia. Disse logo que sim, que seria com muito gosto que me prestaria auxílio nos estudos. Com umas explicações lá fiz a cadeira, graças ao seu imprescindível auxílio.
Como marca deste Colégio a camaradagem é força que nos liga e fortalece. Mesmo entre um antigo Mestre e aluno.
Em 1980, no final do curso para oficial superior foi colocado no Estado Maior do Exército, na 2ª Repartição, e em acumulação de funções é nomeado Professor de Electrotecnia no Colégio Militar. No Colégio, somos uma família, estamos juntos, uma unidade, um corpo. Quando entrei para o Colégio, conheci o major Bastos Moreira engenheiro da arma de transmissões, que era do curso do meu pai no Colégio. Agora o seu filho Ricardo Bastos Moreira (149/1981) e eu, eramos também camaradas de curso de entrada, coincidência. Apesar de nunca ter desfrutado das suas aulas na disciplina vocacional electrotecnia das quais foi professor efectivo desde 1992, muitas vezes lhe fiz continência, cumprimento militar, enquanto aluno do Colégio. Em 1982 é colocado como Professor efectivo na área vocacional de Electrotecnia – talvez o maior orgulho dum ex-aluno, ser chamado para leccionar no Colégio em que foi aluno. A 11 de Novembro de 1983 é promovido ao posto de Tenente-Coronel. Sendo colocado a 7 de Julho de 1986 como Professor de Transmissões e Guerra Electrónica, acumulando com as funções de Chefe do Serviço de informática no Instituto de Altos Estudos Militares.
Foi colocado no Regimento de Transmissões a 9 de Julho de 1991 como 2º Co-
mandante. No ano seguinte, a 16 de Julho é nomeado como Comandante do Regimento de Transmissões. Nesse mesmo ano de 1992, é promovido ao posto de Coronel, mantendo-se como Comandante do Regimento de Transmissões.
Ao terminar o Comando do Regimento de Transmissões em 1995, é colocado na Direcção dos Serviços de Transmissões, como Inspector e posteriormente como Subdirector.
Em 1998 é nomeado para frequentar o Curso Superior de Comando e Direcção no Instituto de Altos Estudos Militares. No ano de 1999 é colocado como Coronel Tirocinado na Academia Militar, na Direcção de Ensino.
A 9 de Fevereiro do ano 2000, foi nomeado Director do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, tendo tomado posse a 15 de Fevereiro, e ainda no ano 2000, foi promovido ao posto de Major General a 6 de Outubro.
No percurso da sua vida militar foi 7 vezes louvado por Oficiais Generais e 2 vezes louvado pelo Chefe de Estado Maior do Exército. Recebeu duas Medalhas de Prata por Serviços Distintos; Medalha de Mérito Militar -2ª Classe; Medalha D. Afonso Henriques – 2ª Classe; Medalhas de Ouro e de Prata de Comportamento Exemplar; Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas - Moçambique. Como ex-aluno do Colégio Militar, já nos Pilões, disse uma vez, em ambiente menos formal: “ Não estranhem se me virem a trajar à Civil, e eu estiver com a barretina do Colégio Militar, na lapela”. É lógico, a barretina na lapela é sentida no coração. Uma vez Menino da Luz, Menino da Luz, para sempre! Infelizmente a doença tomou lugar, nos últimos anos da sua vida, Recentemente o COVID-19, desferiu o último golpe. Saudades meu Major General, a dureza da vida militar, deixou sempre lugar ao bem disposto e cuidado professor.
No número 219, de Abril/Junho de 2020, da ZacatraZ , foi publicado um artigo de João Nuno Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1956), em que o mesmo nos recordou as cerimónias, efectuadas aos domingos, da Guarda de Honra à Bandeira e ao Altar, para as quais os Alunos eram escalados ao longo do ano, por rotação entre as companhias. Como ele lembrou, e bem, a nomeação para tais cerimónias era uma «honra» indesejada, pois correspondia a um fim- de-semana estragado. Não sabemos quando é que essas cerimónias deixaram de se realizar. Quem souber, que o diga. No entanto, por mero acaso, descobrimos como tudo começou. A descoberta deu-se, ao folhearmos o livro «O Colégio Militar, através das Ordens e Livros de Correspondência Colegiais (18031960)», da autoria do Major Balula Cid, professor do Colégio, nas décadas de 50 e 60 do século passado, e pai de dois Antigos Alunos, o José António Saturnino Balula Cid (152/1957) e o João Manuel Saturnino Balula Cid (595/1967), o primeiro um excelente cavaleiro e o segundo um excelente pianista.
Indica-nos Balula Cid na sua obra, que na Ordem nº 10, de 10/1/1916, foi determinado o seguinte: «sempre que se tiver de desfraldar a Bandeira Nacional no mastro levantado no frontispício do Colégio Militar, assistirá a este acto, devidamente armada e com uniforme de pano e boné, uma força composta de 12 Alunos e um graduado, a qual prestará as devidas honras ao símbolo da Pátria, procedendo-se de forma idêntica ao recolher da mesma Bandeira».
A fotografia que ilustrava o artigo de João Nuno Barbosa, retirada da «História do Colégio Militar», de José Alberto da Costa Matos (96/1950), apresenta os Alunos componentes da Guarda de Honra de farda de pano e de boné, como determinado na Ordem de Serviço referida. Nas décadas de 50 e 60 no meu tempo no Colégio a situação era porém diferente. A Guarda de Honra apresentava-se em grande uniforme, o que dava maior solenidade às cerimónias, mas algum trabalho adicional no fardar e desfardar dos participantes nas mesmas.
Repare-se, que na determinação de Janeiro de 1916, nada é dito em relação á Guarda de Honra ao Altar. Não é de estranhar. Nessa altura, nem sabemos mesmo se haveria missas no Colégio, pois no início da República o ambiente era abertamente anticlerical. Talvez as Guardas de Honra ao Altar tenham aparecido no tempo do Estado Novo, com um chefe do governo todo dado às coisas da religião católica. Deixamos o esclarecimento desta questão aos nossos historiadores. Terminamos com um apelo. Se alguém possuir uma fotografia de uma Guarda de Honra ao Altar na pequena capela do Colégio, dê um passo em frente e faça-nos chegar uma reprodução dessa fotografia, dado não possuirmos qualquer fotografia dessas no nosso arquivo. Não é de admirar. Sendo a cerimónia ao domingo e a hora matinal, as circunstâncias não eram de molde a incentivar qualquer fotógrafo amador a captar imagens da mesma.
Não se assustem com o termo Rutilismo. É a característica genética responsável pela ocorrência de cabelos ‘ruivos’ , ou seja, pelos e/ou cabelos de coloração avermelhada, laranja avermelhados ou vermelho acobreado. No seu total, são não mais que 1 a 2% da raça humana.
Ser ruivo é uma característica genética recessiva causada por uma mutação num gene (o gene MC1R) localizado no cromossoma 16 . Essa mutação necessita de ter sido herdada por ambos os progenitores para um seu descendente poder ser ruivo, mas há muitos seres humanos que têm consigo essa mutação e não são ruivos (e quando tal acontece, probabilisticamente, só 1 em cada 4 dos seus descendentes, será ruivo).
Um ser humano tem duas ‘versões’ de cada gene (um herdado da mãe, outro do pai); há pois 4 possibilidades para a combinação das ‘versões’ do gene MC1R no descendente dum casal e – desde que ambos os progenitores sejam portadores da mutação no gene – uma das 4 combinações possíveis produzirá um descendente ruivo. A genética é uma ciência algo complexa (não são todas?)
e a resposta à pergunta: (E se ambos os progenitores forem ruivos, será que todos os seus filhos serão ruivos?) é: Pode acontecer, mas não é uma certeza.
Como exemplo da realidade ‘probabilística’, a Escócia tem uma população com aproximadamente 13% de ruivos, mas pelo menos 40% dos adultos têm consigo essa mutação.
Ser Ruivo tem sido associado com o povo Celta. Era comum tanto os Antigos Gregos como os Romanos descreverem os Celtas como ‘ruivos’. Os Romanos aliás, estendiam essa designação ao povo Germânico (principalmente aos localizados no Sul e parte ocidental da Alemanha).
Embora o ‘fenómeno’ dos cabelos ruivos seja quase exclusivo das regiões
da Europa do Norte e Central, há casos isolados localizados no Médio Oriente, na Ásia Central e até na China. Na Rússia, há uma tribo que habita uma área na parte Norte da bacia do rio Volga que tem uma incidência superior a 10% de ruivos. A explicação científica para esta disseminação geográfica de ruivos tem a ver com o facto de todas essas populações terem o ‘haplogrupo’ R1B no cromossoma Y ( ‘haplogrupo’ que é considerado ser a origem comum existente em todos os ‘ruivos’ ). A frequência de ruivos é maior na Irlanda (10 a 30%), na Escócia (10 a 25%) e no País de Gales (10 a 15%), consoante os locais em causa.
Quanto maior a sua frequência (cor mais escura no mapa), maior será a % da população ruiva.
O processo de seleção natural na espécie humana é um factor fundamental nas mutações genéticas e o paralelo 45 do hemisfério Norte (que passa pelo centro da França, Norte da Itália e Croácia) parece ser um limite natural geográfico para uma alta frequência de ‘ruivos’. Abaixo do paralelo 45 os raios ultravioletas são mais fortes e a pele muito branca que acompanha os ruivos (devido a uma baixa concentração de ‘melanina’ , a proteína responsável por ‘colorir’ a pele) é menos resistente ao aparecimento de melanomas, potencialmente fatais, devido à exposição ao Sol. E abaixo do paralelo 41 os ruivos são muito raros, mesmo em áreas onde a % do ‘haplogrupo’ R1B é alta. No entanto, as razões científicas da existência deste ‘haplogrupo’ R1B continuam envoltas em grande controvérsia até aos dias de hoje.
(O pigmento especificamente responsável pela cor ruiva dos cabelos – uma proteína pigmentadora – é a ‘feomelanina’).
Algumas características específicas dos ruivos (para além de possuirem um gene responsável pelas ‘sardas’):
• Necessitam de menor quantidade de vitamina D que os ‘não ruivos’
• Em situações de anestesia geral, necessitam em média de mais 20% de medicamento, que os ‘não ruivos’.
• Em situações de anestesia local (nos dentistas, por exemplo) são igualmente mais resistentes às drogas usadas.
• Têm diferente sensibilidade à dor, comparativamente com os ‘não ruivos’. Estudos mostram que são mais sensíveis à dor provocada por uma qualquer fonte exterior com uma temperatura demasiado alta (por exemplo, a sensibilidade a uma queimadura) e menos sensíveis à dor provocada por uma descarga electrica.
• Não há evidência prática de que os ruivos tenham maior propensão para sofrer hemorragias graves (no entanto há estudos que indicam que são mais propensos a aparecerem com hematomas ligeiros).
• A doença de Parkinson
Um estudo terminado em 2009 e cobrindo mais de 130.000 pessoas (durante 16 anos) concluiu que os ruivos tinham quase o dobro do risco dos ‘não ruivos’ de sofrer / vir a sofrer desta doença.
• Cancros de pele (nomeadamente melanomas)
Os ruivos são mais sensíveis e propensos ao aparecimento destes tumores.
É uma condição em que células semelhantes às do endométrio – a camada de tecido que reveste o útero – crescem no seu exterior.
O dia dos ruivos - 2005
Um estudo de 2006 em mais de 90.000 mulheres dos 25 aos 42 anos de idade, mostrou que as mulheres ruivas têm 30% mais de probabilidades de sofrerem desta condição, que causa, entre outras consequências, situações dolorosas.
– ‘Roodharigendag’
É celebrado desde 2005 – e durante dois dias – na Holanda (na cidade de Breda), no primeiro fim de semana de Setembro. Durante esses dois dias são vários os eventos destinados especificamente aos ruivos/ruivas e estes festejos já reunem actualmente originários de uns 50 países. (As 2 fotografias anexas são da autoria de Bart Rouwenhorst).
O dia dos ruivos - 2007
Faz todo o sentido – pelo menos para não ter referido termos que não foram definidos – incluir neste texto uma definição ‘básica’, mas mais ou menos científica, do termo ‘gene’.
Gene, na definição da genética clássica, é a unidade fundamental da hereditariedade. Cada gene é formado por uma sequência específica de ácidos nucleicos – as biomoléculas mais importantes do controlo celular – e que contêm a informação genética. Existem dois tipos de ácidos nucleicos: ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). Eis uma representação gráfica deles:
Os ácidos nucleicos são células grandes (macrocélulas) que se concentram dentro do núcleo da célula. São os ácidos nucleicos que formam os genes que armazenam, transmitem e traduzem todas as informações genéticas.
Os ácidos nucleicos são constituídos por substâncias chamadas nucleotídeos, que, por sua vez, são formadas por ácido fosfórico, açúcar e uma base nitrogenada.
Pensava-se que o ser humano possuía aproximadamente 100.000 genes nos seus 46 cromossomas (23 pares), porém, estudos atuais sobre o genoma (que é a sequência completa do DNA de um organismo, ou seja, o conjunto de todos os genes de um ser vivo), só identificaram aproxidamente uns 20.000 genes.
O termo gene foi criado em 1909 por Wilhem Ludvig Johannsen (botânico dinamarquês, fisiologista vegetal e geneticista). Desde então, muitas definições de gene foram propostas.
O gene é um segmento de um cromossoma a que corresponde um código distinto, uma informação para produzir uma determinada proteína ou controlar uma característica, como por exemplo, a cor dos cabelos ou dos olhos.
A terminar – e para comemorar o final deste mês de Junho de 2020 e a entrada na 2ª metade deste ano – deixo-vos uma imagem duma p intura a óleo feita em 1895 por Sir Frederic Leighton (1830-1896) . O quadro tem as dimensões de 1,2x1,2 metros e é conhecido pela designação de ‘Flaming June’ (Sol ardente de Junho).
Samuel Courtauld , fundador do ‘Courtauld Institute’(1932), referiu-se a esta pintura dizendo: “the most wonderful painting in existence”.
Eis uma análise crítica (na língua original em que foi feita) desta obra de arte:
The solemnity of Michelangelo’s monumental nude has been considerably warmed up, by the Victorian painter, in the act of appropriating and adapting it. Leighton has arranged matters in such a way that, although clothed, his somnolent girl’s many charms are alluringly displayed for the delectation of
the viewer – who is implicitly put in the position of a voyeur... Her cheeks are flushed, reddened with a blush suggesting that somehow, she knows she is being watched, even though she is sleeping.
De acordo com o indicado no artigo «Os Caçadores» , publicado no número 218, de Janeiro/Março de 2020, da ZacatraZ , foi em 1962, em Angola, que se formaram os primeiros Grupos de Comandos. Os Comandos consideram que o seu «nascimento» se deu no Centro de Instrução n.º 21, em Zemba, no referido ano de 1962. Só mais tarde, em 1965, se formaram em Angola as primeiras Companhias de Comandos, que eram consideradas, por aqueles que do assunto entendiam, como umas «máquinas de guerra» . Esta tropa, que se afirmou como uma tropa de elite na Guerra do Ultramar, celebra assim este ano o seu 58º aniversário.
No passado dia 29 de Junho, o Presidente da República Professor Marcelo Rebelo de Sousa, aproveitou a celebração desse aniversário, para condecorar o Estandarte Nacional do Regimento de Comandos com as insígnias da Ordem da Liberdade.
A Ordem da Liberdade destina-se a distinguir «serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da liberdade» . Esta venera, agora atribuída a esta tropa, era-lhe devida já há muitos anos. De facto, no dia 25 de Novembro de 1975, a acção dos Comandos foi determinante para fazer abortar a instalação de um regime totalitário em Portugal. A manobra das forças defensoras de um regime democrático foi gizada e dirigida pelo então Tenente-Coronel António Ramalho Eanes, mais tarde Presidente da República. Ramalho Eanes (Prémio Barretina no ano de 2018) esteve agora presente na cerimónia de condecoração do Regimento. Estava com a sua gente, a sua presença não se podia dispensar. Na memória dos mais velhos, estava decerto também presente, a figura do falecido Coronel Jaime Neves, comandante do Regimento de Comandos no distante ano de 1975, cuja acção foi também crucial para a preservação da liberdade naquele dia 25 de Novembro. Fisicamente
presentes na cerimónia, estiveram os nossos camaradas Antigos Alunos, General João de Almeida Bruno (230/1945) e Coronel Raúl Miguel Socorro Folques (380/1952), dois dos três Antigos Alunos Comandos distinguidos com a Ordem da Torre e Espada do Valor, da Lealdade e Mérito, que são o orgulho da comunidade colegial.
A Ordem da Liberdade, agora recebida pelo Regimento de Comandos, vem juntar-se à Medalha de Ouro de Valor Militar com palma, recebida em 1979, à Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, recebida em 1985, e à Ordem Militar de Aviz, recebida em 1993. É um conjunto de distinções impressionante. A nível individual, catorze militares Comandos foram agraciados com a Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, dos quais três, como se referiu, são Antigos Alunos do Colégio Militar.
O lema dos Comandos é o verso latino da Eneida, de Virgílio, «Audaces Fortuna Juvat» (A Sorte Protege os
Audazes). O seu grito de guerra é «Mama Sumae» , que era dito pelos jovens de uma etnia do Sul de Angola, quando terminavam os seus rituais iniciáticos, que lhes davam entrada na vida adulta e na condição de guerreiros. O seu significado seria algo como, «Aqui estamos, prontos para o sacrifício».
Durante a Guerra do Ultramar, actuaram em Angola 24 Companhias de Comandos, em Moçambique 26 Companhias de Comandos e na Guiné 11 Companhias de Comandos, o que perfez um total de 61 Companhias de Comandos, havendo ainda a considerar os Grupos de Comandos que as antecederam. O efectivo das Companhias de Comandos era, em geral, da ordem dos 125 militares comandos, a que acresciam alguns militares de especialidades de apoio.
Segundo informação constante no jornal diário «Correio da Manhã» , que deu o devido destaque à condecoração agora atribuída ao Regimento de Comandos, na Guerra do Ultramar actuaram mais de 9.000 militares Comandos, tendo como baixas 357 mortos, 28 desaparecidos e 771 feridos.
Segundo informa ainda o mesmo periódico, o número actual de militares no activo com a qualificação de Comando e ligação ao Exército, é apenas de 527. Alguns, oficiais e sargentos, pela sua idade e postos, já não estarão operacionais. Mas mesmo que todos estivessem operacionais, teríamos o efectivo aproximado de um batalhão. Foi esta, a situação limite a que se chegou, fruto do continuado desinteresse pelas Forças Armadas, manifestado, durante as últimas décadas, pelos sucessivos governos.
Imposição das insignias da Ordem da Liberdade (Foto do Correio da Manhã)
Apesar do desinteresse referido e do consequente pequeno efectivo actual dos Comandos, continuam estes a trilhar a senda dos seus antecessores, concentrados na sua missão de servir Portugal, em todos e quaisquer teatros de operações onde sejam chamados a intervir. Actualmente integram o contingente português de 186 militares, que se encontra a actuar na República Centro Africana.
A ZacatraZ saúda os Comandos por mais esta distinção recebida e saúda, em particular, todos os Antigos Alunos, que serviram nos Comandos.
Ao escrever estas linhas, veio-nos de imediato à memória, a figura do saudoso Alferes Comando, Carlos Eduardo
Leal de Carvalho Afonso (267/1959), morto em combate em Angola, a quem foi atribuída, a título póstumo, aquela que julgamos ter sido a última Cruz de Guerra, da Guerra do Ultramar.
De acordo com os procedimentos habituais, a Assembleia Geral Anual da nossa Associação estava prevista para o final do passado mês de Março. Assim sendo, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação procedeu à sua convocação para o dia 26 de Março passado, não prevendo que o tristemente famoso «corona vírus», que na altura já fazia estragos avultados na China, chegasse num ápice até nós. Ele chegou e chegou em força, o que deu origem à situação de emergência nacional, ao confinamento de todo o pessoal e à paralisação geral do País. A consequência imediata foi o adiamento «sine dia» da nossa Assembleia Geral. Depois de um período de «hibernação» colectiva e com a passagem do «estado de emergência» para «estado de catástrofe» (muito animador….), o Presidente da Mesa da Assembleia Geral decidiu, a 28/5/2020, convocar a mesma Assembleia, para o dia 25/6/2020, com uma série de medidas de protecção, para garantir a segurança dos participantes, cumprindo as normas impostas pela Direcção Geral de Saúde para ajuntamentos de cidadãos. Para reduzir o ajuntamento de associados ao mínimo, foi incentivada a participação na Assembleia não por presença física na mesma, mas por representação por procuração no número restrito de associados que estivessem presentes, não devendo esse número exceder o número máximo legalmente autorizado de 20 pessoas.
A Assembleia Geral teve lugar, de acordo com a nova convocatória, a 26 de Junho, conforme previsto. A Assembleia não se
realizou no Teatro D. Luiz Filipe, como é habitual, mas no pátio anexo ao mesmo, para poder decorrer ao ar livre e com maior distanciamento possível entre os participantes. Nas duas fotografias que se anexam, podem-se observar aspectos da «tribuna» a partir da qual foram dirigidos os trabalhos e da assistência à Assembleia. Estas duas fotos, presumimos que irão ficar para a história da nossa Associação.
Antes de se entrar nos assuntos previstos na Ordem de Trabalhos, procedeu-se à ratificação da aprovação da acta da Assembleia Geral Anual do ano de 2019, que, por razões de eficácia administrativa tinha sido previamente executada pelo Presidente e Secretário da Mesa da Assembleia Geral (tendo sido uma AG em que foram eleitos novos Órgãos Sociais, foi necessário, ainda em 2019, fazer prova da sua eleição perante o Estado-Maior
do Exército, bancos e outras entidades). Ainda antes de se entrar na Ordem de Trabalhos, por solicitação de um dos associados presentes, o Presidente da Direcção pôs a Assembleia, de forma genérica, ao par da situação do Colégio e da Associação à data da realização da Assembleia.
Entrou-se então na análise dos assuntos da Ordem de Trabalhos, indicando-se de seguida os resultados da mesma.
1 – Apreciação e votação do Relatório e Contas do Exercício de 2019.
O presidente da Direcção expôs resumidamente as principais acções empreendidas ao longo do ano de 2019 pela mesma, expôs as despesas e receitas havidas e os resultados alcançados. Submetidos à votação o Relatório e as Contas, foram os mesmos aprovados por maioria, com uma abstenção.
2 – Deliberação sobre as propostas exaradas no Relatório da Direcção e no Parecer do Conselho Fiscal.
2.1 – Afectação do resultado líquido de 13.786 euros, apurado no exercício de 2019, ao Fundo Estatutário. Aprovado por unanimidade.
2.2 – Voto de pesar pelos Antigos Alunos falecidos em 2019, em particular pelo membro da Direcção da Associação, José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951). Aprovado por unanimidade.
2.3 – Voto de agradecimento à Mesa da Assembleia Geral e em particular ao seu Presidente, pelo apoio e colaboração prestados à Direcção. Aprovado por unanimidade.
2.4 – Voto de agradecimento ao Conselho Fiscal e em particular ao seu Presidente, pelo acompanhamento e verificação das contas ao longo do ano. Aprovado por unanimidade.
2.5 – Voto de agradecimento ao Conselho Supremo pelo seu apoio ao longo do ano. Aprovado por unanimidade.
2.6 – Voto de agradecimento ao Conselho de Delegados e em particular ao seu Presidente, pelo apoio dado ao longo do ano. Aprovado por unanimidade.
2.7 – Voto de agradecimento a Nuno Mira Vaz (277/1950) e ao Corpo Redactorial da ZacatraZ, pelo seu empenho na produção da revista. Aprovado por unanimidade.
2.8 – Voto de agradecimento a todos os associados que apoiaram e ajudaram a Direcção. Aprovado por unanimidade.
2.9 – Voto de saudação à Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar. Aprovado por unanimidade.
2.10 – Voto de saudação á Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. Aprovado por unanimidade.
2.11 – Voto de louvor, proposto pelo Conselho Fiscal, à Direcção da Associação, pela sua acção ao longo do ano de 2019. Aprovado por unanimidade.
3 – Apreciação da Acção da Direcção e do Conselho Fiscal. Não houve inscrições para esta apreciação.
4 – Proposta de Orçamento para 2020. O Presidente da Direcção apresentou a proposta preparada para o orçamento do presente ano, o qual, apesar de já estarmos a meio do ano, poderá sofrer ajustamentos, face às condições muito peculiares que se atravessam. A proposta de orçamento foi aprovada por unanimidade.
5 – Reeleição de dois membros efectivos do Conselho Supremo.
O Presidente do Conselho Supremo, presente na reunião, informou que ia ser submetida à apreciação da Assembleia, a reeleição de dois membros efectivos do Conselho Supremo. De acordo com o regimento do Conselho Supremo, os membros efectivos do Conselho após um primeiro mandato de 5 anos, devem ser sujeitos a um processo de reeleição. Os dois membros do Conselho que no ano transacto concluíram o seu primeiro mandato, foram propostos, pelo próprio Conselho, a reeleição pela Assembleia Geral.
Submetida a votação, por voto secreto, a reeleição dos dois conselheiros, os resultados obtidos foram os seguintes:
- José Eusébio Pereira Barata Cordeiro Araújo (591/1973). Reeleito por unanimidade.
- Luis Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957). Reeleito com uma abstenção.
E assim se concluiu uma Assembleia Geral, em moldes verdadeiramente «sui generis», que esperamos que não se venham a repetir. A
Nasceu a 28 de Março de 1934
Faleceu a 15 de Março de 2020
Filho de um capitão do exército, com 10 anos de idade o nosso pai desceu da longínqua Freixo de Espada à Cinta até à capital para estudar no Colégio Militar.
Prosseguiu os seus estudos na então denominada Escola do Exército, vendo a carreira de armas que se iniciava ser brutalmente interrompida pela poliomielite, a qual se começou a manifestar após as manobras finais de curso na Serra do Guincho.
No seguimento de árduo processo de recuperação, iniciou os seus estudos de Farmácia em Lisboa, vindo a concluir a licenciatura na Universidade do Porto, cidade onde passou a residir, onde casou e onde deixa dois filhos e cinco netas.
Profissionalmente, desenvolveu a sua actividade na indústria química, tendo sido director de várias instalações fabris.
Não tendo nenhum de nós frequentado o Colégio Militar, estamos convictos de que alguns dos valores que o acompanharam ao longo da vida lhe terão sido incutidos por esta instituição – em complemento, naturalmente, do labor e do exemplo dos nossos avós. A tenacidade e a perseverança permitiram-lhe suplantar-se na recuperação da doença: quando alguns lhe alvitraram que não passaria de uma cadeira de rodas, sempre vimos o nosso pai, até lhe começarem a escassear as forças, deslocar-se com uma simples bengala… Mas, principalmente, a rectidão moral que norteou toda a sua vida, e que
jamais poderemos esquecer como um exemplo ímpar a transmitir às nossas filhas.
O nosso pai não era especialmente pródigo a contar histórias do seu tempo de “menino da Luz” . Todavia, cremos que a melhor prova de que o Colégio Militar sempre teve um lugar reservado no seu coração se traduz no facto de nunca o termos visto de fato sem a barretina na lapela do casaco…
Os filhos, Manuel e João Gutierres
No passado dia 1 de Julho faleceu o Vitor no Hospital de Torres Vedras. Embora já tivesse um conjunto de complicações graves, o momento da notícia é sempre um choque inultrapassável. O Vitor era o tipo de pessoa de quem toda a gente gostava. Simpático, engraçado, bom camarada, leal, sempre pronto para uma piada, bom desportista. No CM nunca foi um grande aluno porque sempre levou tudo a brincar; os anos no CM foram para ele uma festa bem aproveitada. Depois quando começou com alguns problemas de saúde nunca se queixou. Esta foi a imagem que sempre passou dele, mas era muito mais do que isso. O Vitor era um Homem de família, grande empreendedor, imaginativo , bom gestor e bom negociador. Vindo de uma família de empreendedores tinha uma noção muito elevada de serviço público. Passou para o meu Curso do CM quando reprovou no 3º ano (ele dizia com muita graça, que fora um “chumbo a sério” pois reprovou a tudo, incluíndo a Moral) e sempre fomos muito amigos. Mas de todo o Curso devo ter sido o que melhor o conheci, pois, para além de termos feito juntos o CM e depois o Curso de Artilharia na Academia Militar e na EPA (11 anos), trabalhámos juntos mais duas
vezes, no Governo de Macau (entre 1974 e 1979) e na Direcção da AAACM (entre 2005 e 2008). Esta relação de trabalho e familiar durante mais de 7 anos, permitiu-me conhecer bem as suas enormes capacidades. Quando fui Governador de Macau, ele foi o meu Secretário Adjunto para Assuntos Sociais e Cultura, área que tutelava os Serviços de Educação, de Saúde, Actividades Culturais, o Instituto de Apoio Social e o Desporto. Em todas as áreas se deu uma grande volta. Sem criar roturas, com iniciativa, imaginação, organização, moderação e lealdade, trato fácil e capacidade de diálogo, criando ambiente de confiança, conseguiu progressivamente integrar nestes serviços as duas Comunidades, com resultados notáveis na Educação e no Desporto, o que foi reconhecido pela Comunidade Chinesa. Numa época muito difícil em Portugal e em Macau teve sempre a capacidade para fazer pontes. Por este enorme serviço foi feito Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Ramalho Eanes.
Mais tarde quando fui Presidente da Direção da AAACM (2005/2008) ele fez parte dessa Direção com a especial preocupação de encontrar as melhores soluções para o futuro do CM para o que apresentou várias propostas; esta Direção deu uma grande volta na AAA, nomeadamente na união dos AA, nas instalações e também se dedicou ao futuro do CM, com muitas dificuldades e com pouco sucesso.
Mas ainda fez mais! Durante alguns anos foi o Encarregado das Infraestruras Desportivas do Ministério da Educação no tempo do Ministro Roberto Carneiro, onde também deixou obra; já mais tarde criou a Escola Internacional de Torres Vedras, exemplar na concepção, nas soluções de espaço, nos novos materiais utilizados e nos métodos de ensino. Foi um velho sonho que concretizou.Infelizmente caíu-lhe em cima a crise de 2008 e passou por muitas dificuldades. Mas sempre optimista e lutador, até ao fim!
Este Curso do CM perde um grande elemento, eu senti que alguma coisa de mim partiu com ele. Fica a memória!
À Bárbara, aos filhos e aos netos fica uma palavra de consolação, de amizade e de respeito.
Seis cadetes do 3.º ano do curso de Artilharia da Academia Militar em 1960. Da esquerda para a direita à frente: Vitor Manuel Oliveira Santos (365/1949), José Alberto da Costa Matos (96/19509, e José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950); atrás, um camarada do curso de Artilharia, Vasco Prego Rosado Durão (364/1949) e José Henrique Rola Pata (151/1951).
Deixou-nos, sem que pudéssemos dizer-lhe um último adeus, o nosso camarada e amigo César Neto Portugal.
O César era uma criatura singular.
Chegou, vindo do Colégio Militar para a Academia onde foi integrado no Curso de Aeronáutica denominado “Famigerados 53”.
Trazia consigo uma já formação militar de base e, também uma alcunha, que referenciava um antigo atleta africano do Sporting Clube de Portugal Mokuna de seu nome, futebolista desembaraçado a quem chamavam de fura redes. Mas o César além do futebol também se distinguiu no Atletismo, tendo no seu tempo um “record” universitário nos 100 metros pista.
O César era um apaixonado militante, vivia as suas paixões de corpo e alma. A sua mãe era a que mais cultivava como mãe que acolhe sempre, que ajuda sempre, espera sempre, tudo cobre e que perdoa todas as faltas do seu filho.
A paixão do seu Colégio Militar que vinha sempre ao de cima em qualquer encontro, na sua qualidade de ex-aluno, como gostava de referir.
A paixão pela sua Força Aérea, que dizia ter nome de Mãe, e onde se realizou como piloto no Leste de Angola, onde um dia numa pista mal iluminada do Cazombo se acidentou quando descolava para uma missão nocturna. Prontamente evacuado para a Metrópole, dada a gravidade dos ferimentos que lhe deixaram algumas sequelas. Esta e outras acções de combate, lhe valeram a atribuição duma medalha de Cruz de Guerra. A paixão pelo Fado que estava muito de acordo com a sua sensibilidade artística; em todos os encontros festivos não terminavam sem ouvirmos o César cantar que, a todos encantava. Já fora da efectividade de serviço competia com profissionais em todos os lugares de Lisboa onde o Fado é cantado.
Como “marialva” que era, casou tarde beneficiando duma saída precária do Forte de Caxias, onde estava preso sem culpa formada,mas ainda a tempo de permitir a gestação de ter três filhos, duas meninas e um rapaz, que juntamente com a sua Zézinha foram a última paixão que lhe conheci.
O César realizou-se como um camarada leal, um cidadão exemplar e um patriota convicto.
Que descanse em paz nesta sua última morada e peça a Deus por nós que continuamos a nossa caminhada aqui na terra, gemendo e chorando.
Em boa hora a amizade deu um passo em frente e o Martins Rodrigues, camarada e amigo do seu amigo, fez do César um retrato de corpo inteiro.
O curso de 1952/59, que acolheu o César nos seus dois últimos anos de Colégio, saúda este testemunho no qual se revê. Acentuamos, no percurso do César e apoiados em testemunhos, o nome carinhoso, “CHAMUANZA” (Homem bom, em fala Luena), que a gente local lhe colou, durante a guerra no leste de Angola. E ainda uma permanente atitude solidária, preferindo sempre “ficar junto dos seus homens”, quando escolhas de pertença se lhe colocavam.
Há aqui traços colegiais, herança que o César sempre assumiu, de forma clara, nas suas muitas vivências…
Que tenha o merecido repouso.
Delegados do Curso (1952/59)
Francisco Silva Alves (392/54)
Carlos Batista (303/51)
Apresenta-se de seguida a descrição sumária do acidente aeronáutico sofrido pelo César, na pista do Cazombo, tal como foi publicado na imprensa angolana, na época.
ENTARDECERA há muito. Apenas a mancha clara da pista sobressai da escuridão.
O ruído dos motores abafava as vozes dos vultos que se recortavam em movimentos velozes. Dois T-6 da Força Aérea preparavam-se para levantar. Os pilotos, tenente Neto Portugal e o sargento Morais ocuparam os seus lugares. Pouco depois o primeiro rolava em direcção ao extremo da pista. Um piscar de luzes e ei-lo que descola. Não chegou porém, a tomar grande altura. Percebeu-se que o aparelho estava em dificuldade. Efectivamente o T-6 despenhou-se no solo, já em pleno matagal.
Fora tudo muito rápido! A estupefacção que se apodera de todos era tão profunda que durante alguns momentos nenhum daqueles homens empalidecidos se moveu. O ronronar brusco de um motor de
jeep provocou sobressalto. Um veículo afastava-se ao encontro do local do sinistro antes de alguém ter tido tempo de proferir palavra. No meio do nervosismo geral ouviu-se uma voz: «- Foi o Manel das Pedras…»
O T6 acidentado.
Fora realmente o Manuel Carlos da Silva o primeiro a recuperar-se da emoção. Num salto ganhou o jeep e arrancou. Guiou-o o instinto nato que lhe permitiu orientar-se naquele labirinto de capim alto. Mas, se um homem pode crer ser capaz de enfrentar o risco de aventurar-se sozinho naquelas paragens, o ir ao encontro do avião em chamas representa já um completo desprezo pela própria vida ou um extraordinário sentido de solidariedade. Seja o que for, Manuel Carlos da Silva enfrentou as chamas e retirou o piloto da crítica situação em que se encontrava.
Momentos depois, elementos das Forças Armadas chegavam ao local e o capitão médico Freitas de Oliveira assistia ao ferido, comunicando, posteriormente, que o ferido se encontrava livre de perigo, embora com fortes queimaduras e contusões várias.
Agora, para salientar a bravura e o sangue-frio dum homem simples que soube revelar a sua força de carácter quando lhe perguntaram: «Mas, Manel, tu não pensaste que um avião militar podia transportar explosivos?» respondendo:
«Pensei, sim…Mas…Mas o nosso tenente Neto é um... chamuanza (bom, em dialecto luena)…Tinha que lá ir... Depois é que as pernas me tremeram…»
Como todos os homens que chegam ao heroísmo, o Manuel Carlos da Silva encontrou na singeleza e na humildade a explicação dos seus actos.
Ao lado, na sua modesta oficina Manel continua a trabalhar indiferente à admiração que lhe testemunham todos os que tiveram conhecimento do seu acto heróico. Mas foi graças ao seu sangue-frio e abnegação que o “chamuanza” Neto Portugal continua a viver…
No Cazombo, Manuel Carlos da Silva é uma figura popularizada. Homem de engenho, soube engendrar uma oficina para trabalhar a pedra do Cazombo. Com uma caixa de velocidades improvisou um torno rudimentar e com ela consegue desbastar a pedra e criar objectos, fazer arte popular.
Esta é a segunda vez que NOTICIA se refere ao Manel das Pedras. Da primeira quando uma equipa de reportagem do nosso jornal se deslocou ao Leste e foi ver a sua oficina.
Em 1958 entrámos juntos para o Colégio, para a mesma turma do 1º ano. Vindo de Moçambique, era um gordinho, discreto, calmo, tranquilo, atento, que nunca se manifestou como grande aluno, mas foi um dos poucos do Curso que saiu em 1965 sem nunca ter “chumbado” .
Após sair do Colégio, rumou a Moçambique, sua terra natal, onde, em Lourenço Marques, estudou Engenharia Mecânica. Curiosamente, foi onde em 1971 vim a encontrá-lo, de novo, como seu professor no 5º e último ano do curso.
Nas férias da Páscoa, juntamente com a minha Família com um criança de 3 meses ao colo, viajámos –numa épica aventura africana com travessia do rio Búzi numa jangada improvisada – até à Gorongoza, passando pela casa dos Pais que se situava no mato perto da Beira.
Desde então – 1972 – motivos profissionais voltaram a gerar o nosso reencontro, cerca de 30 anos de -
pois: era a mesma pessoa, bonacheirão, mente esclarecida, tranquilo, aspectos da sua personalidade que o levaram a gerir mentalmente e com racionalidade a sua aceitação da doença que por várias vezes o atacou e que acabou por o levar.
Nas últimas semanas, já internado em Portimão onde vivia, preocu pou-se imenso comigo, com a minha saúde, fazendo estudos técnicos de equipamentos que me protegessem e aconselhando-me em sucessivos telefonemas que me fazia quase diariamente, até às vésperas de nos ter deixado.
Obrigado “Sobrinho” cunha) amigo César.
Um dia nos encontraremos de novo!
Os que nos deixaram
A vida foi dura contigo, querido amigo. Deu-te uma inteligência superior, mas adicionou-lhe um vulcão de emoções que dificultavam a tua relação com os outros, nomeadamente com as mulheres. Tornou-te muito exigente contigo próprio, mas não te disse que não poderias requerer o mesmo dos outros, pois bem poucos seriam capazes de compreender a tua complexidade e aceitar os teus imperativos. Por isso tornaste-te irónico, por vezes amargo e, progressivamente, mais metido contigo próprio, mais concentrado nas tuas investigações de cientista do LNEC e do IST, e nos teus múltiplos interesses na História da Antiguidade e na Geografia. Tornaste-te autor de livros técnicos, que mereceram o elogio geral, e de muitos artigos de Matemática, História e Geografia, a maior parte dos quais aguardam que alguém os descubra, num qualquer recanto de um disco rígido. Fizeste parte da Sociedade de Geografia e da Ordem dos Engenheiros, onde proferiste conferências interessantíssimas; foste um professor exemplar e um colega respeitado; foste
um amigo fiel, de quem mantemos boas recordações. Mas a vida pregou-te mais uma partida e atacou-te com uma doença cujo diagnóstico nunca conseguiram fazer. Que te debilitou progressivamente, mas que te manteve lúcido e consciente do que te estava a acontecer. E tudo aceitaste sem perderes a dignidade, até ao último momento. Enfrentaste todos os tormentos sozinho e decidiste morrer com a mesma coerência com que tinhas vivido, sem ceder a pieguices, sem diminuíres o grau de exigência contigo e com os outros.
Descansa em paz, finalmente, amigo Casaca
«O dealbar de Portugal», «Hoplitas e besteiros» e «O tratado de Tordesilhas». Eram textos reveladores de uma elevada cultura e de uma grande curiosidade intelectual do seu autor. Pelo ano da sua entrada no Colégio, constatava eu que tínhamos sido aí contemporâneos, mas a sua foto em adulto, que o identificava nos seus artigos, não me dizia nada. Comunicávamos por vezes, tendo-me ele dito, há algum tempo, que estava gravemente doente e que já lhe custava muito a escrever.
O Curso CM/1960Quando herdei do saudoso Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) a incumbência de fazer a nossa revista, herdei também um pequeno conjunto de «escritores» que com ele colaboravam, com maior ou menor regularidade. Nos mais regulares na sua colaboração, incluía-se o João Manuel Martins Casaca (458/1960), que nos enviava interessantíssimos textos sobre assuntos de História, versando factos curiosos e menos conhecidos da mesma. A título de exemplo cito as suas contribuições no ano de 2018: «O Galeão português»,
Há cerca de duas semanas, a Associação mandou-me a notícia do falecimento de mais um Antigo Aluno e a sua foto quando aluno do Colégio. Olhando para a foto disse para mim «lembro-me desta cara», mas o número nada me dizia. Dias depois, chega-me às mãos um texto evocativo do falecido, preparado pela «malta» do seu curso. Leio o texto e de repente fez-se luz no meu espírito. O falecido era o Casaca, o homem que, sem que eu desse por isso, se tinha despedido de mim, quando me mandou o seu último texto «A longa viagem dos Visigodos», publicado no nº217, de Outubro/Dezembro de 2019, da nossa revista. Fiquei varado, mas já nada havia a fazer. Mesmo que eu tivesse percebido que era uma despedida, também não sabia bem o que lhe poderia ter dito.
Agora só lhe posso dizer «Descansa em paz Casaca. Vamos sentir a tua falta e a dos teus excelentes artigos».
«A Ordem dos Engenheiros quis homenagear um dos seus mais distintos membros, o nosso camarada falecido JOÃO MANUEL MARTINS CASACA, publicando esta notícia, no número 169, Jul. Ago. Set. 2020, da sua revista INGENIUM. Bem hajam.»
A Ordem dos Engenheiros (OE) manifesta o seu pesar pelo recente falecimento do Senhor Engenheiro João Manuel Martins Casaca, figura de grande dedicação à Investigação, à Engenharia e à sua Associação Profissional.
João Casaca, Engenheiro Geógrafo, Membro Conselheiro da OE, assumiu vários cargos na Ordem, de entre eles de Presidente do Colégio Nacional de Engenharia Geográfica, Membro do Conselho de Admissão e Qualificação e, mais recentemen te, Membro da Assembleia de Representantes. Profundo interessado e conhecedor da história da ciência e da organização do território, João Casaca foi, durante muitos anos, cronista regular da INGENIUM, na qual partilhou inúmeros dados. reflexões e estudos sobre as origens e a constituição do território tal como hoje o conhecemos.
João Casaca cursou Engenharia Geográfica na Faculdade de Ciên cias da Universidade de Lisboa, instituição onde também fez o bacharelato em Matemática. Era Doutor em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Especialista em Geodesia Aplicada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil e Investigador Coordenador no mesmo Laboratório, no qual ocupou, até final de 2015, o cargo de Chefe do Núcleo de Geodesia Aplicada do Departamento de Barragens de Betão. Era, ainda, Professor Catedrático Convidado do Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura do Instituto Superior Técnico.
Como todos nós sabemos, as capicuas são, por norma e sobretudo por superstição, indicadores de “boa sorte” No entanto, quis o destino que o Zé Luís Almeida Fernandes fosse, infelizmente, a excepção a esta regra. Na verdade, o Zé Luís bem merecia ter vivido muito para além dos 100 anos. O curso de 1961/68 – que teve a enorme honra de com ele ter podido privar – sabe, melhor que ninguém, explicar isso.
Em poucas palavras podemos dizer que o Zé Luís era aquela pessoa sempre benvinda e que todos querem ter por companhia: por ser animado, por ser divertido, por ser inteligente, por pensar pela própria cabeça, ou até por estar sempre com um sorriso malandro pronto a acolher qualquer folia ingénua.
Antes de vir a ser um homem-bom, já no Colégio o Zé era um camarada-bom, talvez a fazer jus à alcunha que os nossos graduados da 1ª, em 1961, lhe puseram. É que o significado de Pinduca tem a ver com alguém
interessado na concórdia e onde estava o Zé Luís reinava sempre a boa disposição! Fosse à mesa, fosse nas aulas, ou fosse na camarata, o Pinduca com aquela a sua fabulosa arte de “entertainer” e uma talentosa maneira de contar anedotas conseguia sempre isso: a harmonia no mundo! Nada de contenciosos, nada de ameaças, nada de violência onde ele se encontrava! De certo modo quase se assemelhava ao “Cândido” de Voltaire, esse destemido optimista…
Aprendemos todos muito com ele, com o seu entusiamo – e brilhantismo até! – para além da forma divertida com que sabia desconstruir aquilo que para uns, na vida do internato colegial, era quase uma tragédia grega ou um verdadeiro drama…
Acima de tudo o Pinduca foi um AMIGO extraordinário de TODOS nós, alguém que não se esquecia nunca dos outros, estando sempre pronto a ajudar e a dar a mão quando necessário, sem ninguém lhe pedir…
A doença atingiu-o de forma explosiva e altamente agressiva, mas apesar de todos os problemas, lutou sempre com força e determinação contra esse “inimigo” devastador, mantendo-se activo enquanto pôde. Até nisso foi um exemplo!
O curso de 61/68 e principalmente o Colégio, ficaram mais pobres com a sua partida, pois ele deixou um vazio impossível de preencher! De facto, o Zé Luís Almeida Fernandes deixou uma marca, um legado extraordinário que vai certamente perdurar na memória de todos nós.
Vem a propósito transcrever uns versos de Sophia de Mello Breyner Andresen:
“Num deserto sem água / Numa noite sem lua / Num país sem nome / Por maior que seja o desespero / Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.”
Até SEMPRE, Pinduca, nesse Mundo para onde partiste! Obrigado por tudo quanto nos deste! Somos parte da tua família: jamais te esqueceremos!
Manuel Machado (275/1961)Coronel de Cavalaria
Faleceu a 27 de Junho de 2020
Chegou à Zacatraz a notícia do falecimento deste nosso camarada, ocorrência que muito lamentamos. A todos os seus familiares as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz
Oficial do Exército na reserva Nasceu a 9 de Setembro de 1962 Faleceu a 21 de Abril de de 2019
CO António Jerónimo, 570/72, “Xico Bolas” ou o “Gordo”, era mais um dos rapazes endiabrados que passaram pelo Colégio. Um Rei da Malandrice, sim senhor, mas não havia coração igual e não lhe conhecemos inimigos. Ar maroto, bem humorado e mordaz.
Como todos, tinhamos de estar espertos no meio de tantos outros. E se uns eram mais pacatos, o Xico Bolas não era um deles e tinha sempre uma resposta na ponta da língua para quem quer que fosse....amigo, vigilante, oficial ou professor, mirando cada um com o seu olhar arregalado e muitas vezes com ar angelical disfarçado.... Tal como muitos foi “largado” pelos pais no CM, a quem deram ordens para o educar. Craque a jogar à bola e a discutir futebol. Seguiu a carreira militar e refugiou-se nos Açores.
Fazendo jus, à sua fama reformou-se cedo e passou a fazer aquilo que lhe apetecesse. Nos últimos anos sofreu de doença grave sem se queixar, o que nos apanhou de surpresa.
Descansa em Paz Jerónimo.