Revista ZacatraZ nº 195

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Editorial Revista “ZACATRAZ”

José António Madeira de Ataíde Banazol (631/1968) Vice-Presidente da Direcção

Editorial E

m 10 de Junho a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar esteve representada nas cerimónias de homenagem aos Combatentes. As cerimónias decorreram no âmbito do XXI Encontro Nacional e iniciaram-se com uma missa por intenção de Portugal e de sufrágio pelos que tombaram pela Pátria, e continuaram junto ao Forte do Bom Sucesso, em Lisboa. Neste local ergue-se o monumento evocativo d’aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando. As lápides que cobrem as muralhas do forte lembram os nomes de todos os que desde o início do conflito ultramarino do século XX, quando chamados responderam: SIM! Que sem questionar, cumpriram a sua missão e cumpriram-na até ao limite da sua existência física. Entre eles encontram-se inscritos os de muitos Antigos Alunos do Colégio Militar que, fazendo jus ao lema “SERVIR” Serviram, não se servindo. Tudo deram e nada reclamaram em troca. Luís das Neves Franco (sn/1803) - morto na Batalha do Bussaco em 27 de Setembro de 1810, Carlos Eduardo Leal de Carvalho Afonso (267/1959) - morto em combate no Leste de Angola em 1973. Mais de século e meio separam as datas da morte destes dois Antigos Alunos. Ao recordá-los queremos, de forma humilde e sincera, render homenagem a todos quantos, ao longo destes dois séculos, fiéis aos seus juramentos, simplesmente SERVIRAM. A nós cumpre-nos honrá-los e não permitir que a sua memória seja esquecida ou, pior, aviltada. Cumpre-nos combater o bom combate. Combater o apagar da memória, combater a insídia, combater o desamor pátrio.

Cumpre-nos pugnar para que no Colégio Militar se continuem a cultivar os valores e os princípios que permitam que hoje ou amanhã, como outrora, quando a Pátria chamar tenhamos a grandeza de responder SIM.

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Ficha Técnica

CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2014-2016

Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 195 Abril/Junho - 2014

DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente

FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)

António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 José Nuno Castilho Ribeiro Pereira - 233/1973 Miguel Assis das Neves Carneiro de Góis - 188/1983 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994 Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa - 222/2000

DIRECTOR Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949) CHEFE DE REDACÇÃO Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA O Fundador e os Antigos Alunos mortos em combate na Guerra do Ultramar. © Foto Leonel Tomaz ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário

MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307

António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira - 332/1950 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980

TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94

CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente

DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA: Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 020 info@smash.pt www.smash.pt

José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 José Francisco Machado Norton Brandão - 400/1961 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho. Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.

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Sumário

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04 Assembleia Geral de 7 de Março de 2014

06 Conselho Supremo 07 Orientação estratégica e objectivos da Direcção da Associação

08 Antigos Alunos em Destaque 10 Descaracterização do Colégio Militar 13 Delegação do The Duke of York’s Royal Military School, nas comemorações do 3 de Março

14 Curso de 1947/1954 17 Curso de 1954/1961 18 O Comandante desconhecido

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Visita do Director do Duke of York’s Royal Military School, à Sede da Associação

Curso de 1967/1974

19 O Curso de 1948/1955 e a Feitoria 22 As Nossas Campeãs de Esgrima 24 3 de Março Açores, Macau, Luanda e Londres

26 Antiga Formação, actual Sede da Associação

28 Considerações sobre o Golf 30 Quinta do Castelo

38

A Inflação

Jantar do Oeste 2014

32 Colégio Militar - Cavaleiro da Ordem da

Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito

35 O Colégio e a Instrução Primária Toca a marchar!

36 Uma Escola de Virtudes 37 Lá vem o Colégio Militar

que tem muito que contar

47 Mandela - O rebelde exemplar O Soldado clarim

49 Flagrantes da Vida Real 52 Eusébio e o Colégio Militar

Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

55 Os que nos deixaram

40 Bicentenário do Colégio Militar Imagens de Projecção Externa de uma Escola singular


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Assembleia Geral de 7 de Março de 2014

Assembleia Geral

de 7 de Março de 2014 Síntese

N

os termos dos Artigos 14º e 16º dos Estatutos da AAACM reuniu, em 7 de Março de 2014, a Assembleia Geral da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1. Apreciação e votação do Relatório e Contas do exercício de 2013; 2. Deliberação sobre quaisquer propostas formuladas nesse Relatório ou no Parecer do Conselho Fiscal sobre ele exarado; 3. Apreciar a acção da Direcção e do Conselho Fiscal; 4. Apreciação e votação do Orçamento para 2014; ©Fotos Leonel Tomaz

A

Assembleia, que teve lugar no Teatro D. Luís Filipe no Quartel da Formação, reuniu às 18 horas em segunda convocatória por não haver quorum para deliberar validamente às 17h30. Na ausência do Presidente da Mesa - Manuel Rio Carvalho (124/1945) – por motivo de doença, foi a Assembleia dirigida pelo Vice-Presidente Duarte Manuel Costa Freitas

(199/1957) que, tendo verificado a regularidade da sua constituição, deu início aos trabalhos com a leitura de uma carta do Manuel Rio Carvalho em que justificava a sua ausência. Seguiu-se um minuto de silêncio, pelo falecimento do Frederico Eduardo Rosa Santos (78/1957), Primeiro Secretário da Assembleia e candidato na lista a ser apresentada à votação que iria ser feita posteriormente, pelo

5. Eleição de Novos Órgãos Sociais da AAACM para o triénio 2014-2016

(no termos do art.º 11º – n.º 1 dos Estatutos).

6. Eleição de novos membros (3) para o Conselho Supremo (nos termos

do art.º 34º dos Estatutos).


Assembleia Geral de 7 de Março de 2014

Mário Margarido e Silva Falcão (314/1936), pelo José Manuel Campos Soares de Oliveira (112/1936), pelo Álvaro Nuno Lemos de Fontoura (167/1931), todos eles membros do Conselho Supremo, e também por todos os Antigos Alunos recentemente falecidos. Foi de seguida iniciado um período de 30 minutos para a discussão de assuntos a tratar antes da entrada na Ordem de Trabalhos. Questionada a Assembleia, verificou-se a existência de um pedido de intervenção do Martiniano Gonçalves (9/1958) que, dado o desconhecimento recentemente manifestado nas redes sociais por alguns sócios sobre diversos aspectos do funcionamento da sociedade PM34 - Gestão de Imóveis e Promoção de Eventos, Sociedade Unipessoal Lda., apresentou esclarecimentos sobre a sua constituição, objecto, forma como é gerida e controlada pela Direcção da Associação, tendo, no final, questionado se continuaria a haver dúvidas sem que outros esclarecimentos tivessem sido solicitados pelos presentes. Seguiram-se os seguintes propostas aprovadas por unanimidade: - a aprovação por unanimidade da acta da Assembleia Geral de 8 de Março de 2013 com dispensa da sua leitura; - o agradecimento pelo apoio e colaboração prestados à Associação pela Mesa da Assembleia Geral, Conselho Fiscal, Direcção do Colégio Militar, Director e Chefe de Redacção da Revista e a todos os sócios que contribuíram com donativos e colaboraram com a Direcção; - um voto de saudação à Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do CM pela forma como tem sabido defender a Instituição saindo em sua defesa sempre que necessário; - um voto de saudação a todas as Associações congéneres e muito em especial à Associação das Antigas do Instituto de Odivelas e dos Antigos Alunos dos Pupilos do Exército; - voto de pesar, respeito e saudade por todos os sócios que faleceram desde a última Assembleia Geral. De igual modo, foram ainda aprovados com 2 abstenções o Relatório e Contas de

2013 e com 8 abstenções as propostas de agradecimento ao Presidente do Conselho Supremo e ao Presidente do Conselho de Delegados pelo apoio e colaboração prestados à Direcção durante o ano. Relativamente à apreciação da acção da Direcção e do Conselho Fiscal, intervieram vários dos presentes concordando com a actuação da Direcção, tendo o Luís Jorge de Matos (165/1965) manifestando desacordo quanto à sua actuação no quadro do processo de reestruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino, resultante de Despacho do Ministro da Defesa Nacional. Foram ainda aprovadas por unanimidade as seguintes suas duas propostas: - de louvor à Direcção pela criação em 2013 de uma secção de tiro e inscrição de atletas na Federação Portuguesa de Tiro, incluindo, também, atletas do sexo feminino. - de louvor à equipa feminina de tiro da AAACM, nos seguintes termos “Pelo muito meritório desempenho na competição, em particular pela conquista – numa prova muito competitiva – do título de campeãs Nacionais de Tiro, na modalidade P10”. Após intervenção do Presidente da Direcção foi aprovado o Orçamento para 2014, a que se seguiu um animado conjunto de intervenções, com pontos de vista dos mais variados e contraditórios, a propósito de uma proposta da Direcção manifestando repúdio pela visita do Ministro da Defesa Nacional, ao Colégio, na véspera das cerimónias do 3 de Março e comunicada à sua Direcção pelas 23 horas do dia anterior. A proposta foi retirada por se ter verificado falta de consenso sobre o seu teor. Na eleição para os Órgãos Sociais, a lista única concorrente foi aprovada por maioria dos votos, com 5 brancos e 1 nulo. Os três candidatos indigitados para o Conselho Supremo foram eleitos por maioria dos sócios presentes. Antes do encerramento da Assembleia foram dadas a posse, pelo Vice-Presidente da Mesa da Assembleia, ao novo Presidente da Mesa e por este ao Presidente da Direcção eleita para o novo triénio.

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CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2014-2016 DIRECÇÃO Presidente António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios 529/1963 Vice-Presidente José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Secretário Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Tesoureiro Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves 666/1971 1º Vogal Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 2º Vogal Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 3º Vogal Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 4º Vogal José Afonso Correia Lopes - 237/1976 5º Vogal José Nuno Castilho Ribeiro Pereira - 233/1973 1º Vogal Suplente Miguel Assis das Neves Carneiro de Góis - 188/1983 2º Vogal Suplente Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994 3º Vogal Suplente Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa - 222/2000

ASSEMBLEIA GERAL Presidente António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira - 332/1950 Vice-Presidente Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 1º Secretário João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980

CONSELHO FISCAL Presidente José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 1º Vogal Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 2º Vogal José Francisco Machado Norton Brandão - 400/1961 1º Vogal Suplente António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 2º Vogal Suplente João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra 54/1984


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Conselho Supremo Alterações da sua composição e direcção

Conselho Supremo Alterações da sua composição e direcção.

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e acordo com o Artigo 3º do Regimento do Conselho Supremo da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, este Órgão é constituído por quinze Conselheiros efectivos, que elegem entre si, um Presidente, um Vice-Presidente e um Secretário, e por um número variável de Conselheiros vitalícios. Ainda de acordo com o referido artigo, são Conselheiros efectivos os sócios da AAACM que nos termos do artigo 34º dos Estatutos forem individualmente eleitos pela Assembleia Geral da Associação, sendo Conselheiros vitalícios os que tenham terminado dois mandatos como efectivos ou tenham atingido os 80 anos de idade.

PRESIDENTE DO CONSELHO SUPREMO

VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO SUPREMO

Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)

Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947)

OS NOVOS CONSELHEIROS ELEITOS NA ASSEMBLEIA GERAL DA AAACM DE 7 DE MARÇO DE 2014

Tendo havido três Conselheiros efectivos que completaram dois mandatos e consequentemente passaram a vitalícios, houve necessidade de preencher as vagas deixadas em aberto. Passaram a Conselheiros vitalícios: - José Eduardo Carvalho Paiva Morão (256/1946), - António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948), - José Alberto da Costa Matos (96/1950). Para a sua substituição, pelo Conselho foram propostos os seguintes sócios da Associação: - Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), - Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), - José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973). Na Assembleia Geral da AAACM, realizada a 7 de Março de 2014 no Teatro D. Luís Filipe, foram eleitos para integrarem o Conselho Supremo os três antigos alunos anteriormente referidos, aos quais foi posteriormente conferida posse, como membros efectivos, pelo Presidente da Assembleia Geral António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira (332/1950). Tendo o Presidente cessante, José Alberto da Costa Matos (96/1950), transitado para a situação de Conselheiro vitalício, procedeu-se à eleição para este Órgão da AAACM de novos Presidente, Vice-Presidente e Secretário. Foram eleitos para o desempenho destas funções os seguintes antigos alunos: - Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), Presidente, - Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947), Vice-Presidente, - Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), Secretário. O Conselho Supremo passou a ter 12 Conselheiros vitalícios, dos quais os mais antigos são o João Salgueiro Pinto Ribeiro (47/1935) e o Joaquim Lopes Cavalheiro (131/1935).

Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957)

José Eusébio Cordeiro de Araújo (591/1973)

CONSTITUIÇÃO DO CONSELHO SUPREMO EM MARÇO DE 2014 Conselheiros Efectivos

Conselheiros Vitalícios

José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946)

João Salgueiro Pinto Ribeiro

João Augusto de Oliveira Ayala Botto (254/1948)

Joaquim Lopes Cavalheiro

José Luís Câncio Martins (268/1946)

Rui Manuel Figueiredo de Barros

(47/1935) (131/1935)

Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947)

(62/1936)

Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948)

(143/1940)

João Ribeiro da Fonseca Calixto (314/1947)

(372/1940)

Manuel de Mendonça Tavares da Silva (116/1950)

Fernando de Mendonça Perry da Câmara Pedro José Rodrigues Pires de Miranda Ricardo Manuel Simões Bayão Horta (25/1946)

José Manuel Nunes Salvador Tribolet (230/1959)

José Eduardo Carvalho de Paiva Morão

Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958)

José Baptista Pereira

José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950)

António Eduardo Queiroz Martins Barrento

Vasco Paulo Lynce de Faria (21/1960)

(256/1946) (318/1947) (40/1948) José Alberto da Costa Matos

Francisco Miguel Teixeira de Sousa Ferreira (23/1972)

(96/1950)

Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)

(127/1950)

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) José Eusébio Pereira Batalha Cordeiro de Araújo (591/1973)

Vasco Joaquim Rocha Vieira Duarte Pio de Bragança (97/1960)


Orientação estratégica e objectivos da Direcção da Associação

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Orientação estratégica e objectivos da

Direcção da Associação A

lista eleita para os Órgãos Sociais da nossa Associação para o triénio 2014/2016 deu a conhecer o seu programa aos Associados, por intermédio do documento intitulado «Orientação Estratégica e Principais Objectivos». Para aqueles que por qualquer razão não tiveram oportunidade de ler este importante documento, apresentamos de seguida uma súmula do mesmo. Logo na parte da Introdução do documento, a Direcção eleita indica que a sua acção será norteada pelos três seguintes princípios: ■ Unidade entre os Antigos Alunos. ■ Defesa intransigente da identidade do Colégio. ■ Colaboração leal com a Direcção do Colégio e a respectiva tutela. Na nossa opinião, só estes três princípios já constituem um programa. Tendo em conta a missão da Associação e as principais actividades dela decorrentes, a Direcção eleita propõe-se actuar nos seguintes campos: o Apoio ao Colégio, a Solidariedade, a Ligação entre os Antigos Alunos, o Património e as Áreas de Apoio (comunicação, financeira e relação com o Colégio). Destes campos de actuação sobressai, pela sua importância na conjuntura actual, o Apoio ao Colégio, pelo que é sobre ele que nos iremos debruçar, procurando apresentar, de forma sintética, os seus aspectos que consideramos mais relevantes. Na introdução ao tema Apoio ao Colégio indica-se no documento que a Associação terá de actuar num quadro adverso, visto que o Colégio Militar não constitui uma prioridade para as tutelas politica e militar. Reconhece seguidamente a Direcção eleita que a estabilidade do funcionamento interno do Colégio e dos seus Alunos é uma prioridade inquestionável e que as medidas decorrentes do Despacho Ministerial 4785/2013, de 8 de Abril, representam uma forte ameaça á identidade do Colégio, podendo conduzir à sua descaracterização e morte a curto prazo. Considera no entanto a Direcção eleita, que o mal que foi feito não pode aceitar-se como irreversível e espera que, tal como em situações

adversas ocorrentes no passado, o Colégio possa também desta vez encontrar o seu caminho. Quanto ao posicionamento e orientação estratégica da Associação, indica o documento, que a Direcção eleita considera que o Colégio deve permanecer como uma escola pública tutelada pelo Exército, relembra que apoiar o Colégio não é uma opção, mas sim um dever da Associação e indica que pretende manter a solidariedade com a luta das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, no sentido da preservação do Instituto e do seu património moral e histórico. Termina esta parte do documento, indicando que os objectivos prioritários da Associação no âmbito da sua missão de apoio ao Colégio são os seguintes: ■ A preservação do ethos do Colégio. ■ A promoção do funcionamento eficaz e da excelência académica do Colégio. ■ A rentabilização da capacidade existente. No que concerne à preservação do ethos do Colégio, a Direcção eleita propõe-se: ■ Acompanhar e apoiar os Alunos, em especial os Alunos graduados, na valorização dos elementos simbólicos da identidade do Colégio. ■ Acompanhar a vida colegial, em permanente diálogo e colaboração com a Direcção do Colégio, nos termos do protocolo assinado do antecedente entre a Associação e o Colégio. ■ Diligenciar junto dos decisores, no sentido de anular a decisão de instalar um internato feminino no Colégio. ■ Diligenciar junto dos decisores, no sentido de anular a decisão de autorizar a entrada de alunos/alunas depois do 7º ano de escolaridade. ■ Partilhar informação junto da comunidade de Antigos Alunos e promover o seu envolvimento no esclarecimento público sobre o Colégio e os riscos da sua descaracterização.

Quanto à promoção de um funcionamento eficaz e de excelência académica, a Direcção eleita propõe-se: ■ Incentivar os Alunos ao cumprimento do Código de Honra e à melhoria do seu desempenho académico e desportivo. ■ Acompanhar os processos de mudança e os indicadores de desempenho do Colégio. ■ Promover a discussão da revisão curricular no sentido da melhoria da qualidade do ensino nas vertentes académica e desportiva. ■ Contribuir para a definição clara das diferenças entre o programa formativo dos Alunos internos e externos. ■ Contribuir para a formação para a liderança, que culmina com a graduação dos Alunos. No que respeita, finalmente, à rentabilização da capacidade existente, a Direcção eleita propõe-se: ■ Apoiar o desenvolvimento do 1º ciclo do ensino básico (escola primária). ■ Divulgar e promover a oferta do Colégio junto de potenciais alunos dos países lusófonos (CPLP). ■ Apoiar todas as iniciativas de carácter desportivo, cultural ou lúdico, que contribuam para a divulgação do Colégio. Em nota final relativa ao Apoio ao Colégio, a Direcção eleita sublinha a importância da unidade de acção dos Antigos Alunos e reafirma a sua disponibilidade para dar o seu melhor contributo ao Exército e à Direcção do Colégio na condução dos seus destinos. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957)


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Antigos Alunos em Destaque

Antigos alunos

em Destaque

Francisco Maria Sarmento Cavaleiro de Ferreira (58/1977) Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).

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rancisco Cavaleiro de Ferreira, Presidente do Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro assumiu, para o triénio 2013 a 2015, a Presidência Nacional desta Instituição, como resultante das suas enormes capacidades já demonstradas nas mais diversas situações. Francisco Cavaleiro de Ferreira fez os seus estudos liceais no Colégio, tendo sido, no

ano de finalista, Comandante da 4ª Companhia, manifestando sistematicamente o grande orgulho que tem da sua condição de Antigo Aluno. Os seus Filhos, António Maria Mendes de Almeida Cavaleiro de Ferreira (57/2005) e Luís Maria Mendes de Almeida Cavaleiro de Ferreira (285/2005) foram os Comandantes do Batalhão, respectivamente, nos anos 2011 e 2012. De 2005 a 2010 foi Presidente do Conselho Fiscal da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar e de 2011 a 2013 fez parte da Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Concluído o Colégio Militar, ingressou na Escola Naval da Marinha de Guerra Portuguesa onde permaneceu apenas no 1º ano, para em seguida frequentar cursos de Engenharia Mecânica e Naval e concluir a licenciatura em Engenharia Industrial. Em 2011 frequentou o General Management Program Executive Education, na Harvard Business School de Boston. Entretanto, na sua vida profissional para além de professor, formador e gestor de empresas a que estava ligado por participações no seu capital, foi Adjunto dos Serviços Técnicos da Sonae Imobiliária, SA, Director Adjunto do Centro Vasco da Gama e Direc-

tor Geral do Centro Almada Fórum, sendo actualmente Administrador da Multi Mall Management Portugal e Espanha, (Grupo Multi Corporation). A LPCC é uma instituição de Utilidade Pública assente em dois princípios fundamentais: a Humanização e a Solidariedade. Com 73 anos de história desenvolve a sua actividade em 4 eixos estratégico: o Apoio ao Doente Oncológico e sua Família, a Prevenção Primária, a Prevenção Secundário e a Formação e Investigação na Área Oncológica. Ao Francisco Cavaleiro de Ferreira, com provas dadas das suas brilhantes capacidades, desejamos os maiores êxitos nas funções em que está investido na Instituição dos mais nobres fins na luta contra um dos flagelos que atinge de forma drástica a Humanidade deste tempo. Para mais informações sobre a Liga portuguesa Contra o Cancro consultar www.ligacontracancro.pt.


Visita do Director do Duke of Yorks Royal Military School, à Sede da Associação

Visita do Director do Duke of Yorks Royal Military School, à Sede da Associação N

o passado dia 8 de Maio de 2014 foram recebidos na Sede da Associação, pelo Presidente do Conselho Supremo, Martiniano Gonçalves (9/1958), e pelo vogal da Direcção e Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Afonso Lopes (237/1976), o Senhor Chris Russel, Director do Duke of Yorks Royal Military School (DoYRMS), e o Senhor Nick Scott-Kilvert (Director Financeiro e Operações do DoYRMS), que se encontravam em Lisboa no âmbito de uma visita ao Colégio, tendo sido acompanhados pelos Senhores Coronel Tirocinado José Figueiredo Feliciano, Director, Tenente-Coronel António Grilo (338/2978), Subdirector, e Professor Pedro Ferreira, Coordenador Pedagógico. Chris Russel prestou homenagem ao Marechal Teixeira Rebello junto do busto que se encontra na nossa Sede, findo o que numa curta reunião de apresentação de

©Fotos Leonel Tomaz

cumprimentos foi relembrada a visita que uma missão da Associação fez ao DoYRMS e manifestada a esperança recíproca de um estreitamento de relações entre os dois Colégios, tendo-lhe sido oferecidos exemplares dos livros “Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses” e “O Colégio Militar na Toponímia Portuguesa”. Dada a idêntica perspectiva das duas Instituições relativa à formação dos seus alunos, a visita do Director do DoYRMS constituiu um primeiro passo para o estabelecimento de um amplo projecto de colaboração entre as duas escolas, com vista à preparação da assinatura de um Memorando de Cooperação que promova o intercâmbio futuro de alunos nas vertentes académicas, desportivas, militares e de lazer. Prevê-se que já nos próximos meses alguns alunos dos dois Colégios participem em programas conjuntos, dando corpo ao acordado.

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Descaracterização do Colégio Militar

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Descaracterização do Colégio Militar Q

uando, em Setembro de 2012, tomei conhecimento do primeiro despacho do ministro da Defesa, relativo às mudanças a introduzir no Colégio Militar, o meu comentário foi «O Colégio, tal como o vivemos e conhecemos acabou. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos». As cenas dos próximos capítulos até agora consumadas são do conhecimento de todos, as que estão prometidas, são ainda piores. No decurso da Assembleia Geral da nossa Associação realizada no auditório do Colégio em que mandatámos a Direcção da Associação para seguir o processo de mudanças anunciado, no sentido de preservar o Colégio, tive a oportunidade de pedir publicamente à mesma, para fazer tudo aquilo que estivesse ao seu alcance, para evitar a admissão de meninas como alunas, pois isso corresponderia, a meu ver, à completa descaracterização do Colégio. A Direcção da Associação eleita no passado dia 7 de Março de 2014, para exercer as suas funções no triénio agora iniciado, apresentou o seu programa de acção por intermédio do documento intitulado «Orientação Estratégica e Principais Objectivos». Neste documento, de que é apresentada uma síntese em notícia incluída no presente número da nossa Revista, refere-se que não se considera que sejam irreversíveis as mudanças já introduzidas no Colégio e que a Direcção da Associação continuará a

pugnar para evitar a descaracterização do Colégio. Tem sido abundante a troca de correspondência, por e-mail, entre Antigos Alunos, relativa a tudo o que se tem vindo a passar e àquilo que já está anunciado vir a ocorrer no Colégio. Da correspondência chegada ao meu conhecimento, houve uma mensagem que me causou espanto. Dizia um Antigo Aluno nessa mensagem, que aceitava a admissão de meninas no Colégio, mas que tínhamos de estar atentos, para que não fossem nele introduzidas mudanças que levassem à sua descaracterização. A interrogação que de imediato me ocorreu foi «Se a admissão de meninas no Colégio não o descaracteriza, o que será então aquilo que o poderá descaracterizar?». Face à situação descrita, decidi escrever o presente artigo, que é da minha exclusiva responsabilidade pessoal e que não reflecte qualquer posição, nem da Redacção desta revista, nem da Direcção da Associação, nem do Conselho Supremo a que agora pertenço. A preservação da identidade do Colégio Militar não é uma questão de hoje, é uma questão antiga e acerca da qual tem havido as mais variadas opiniões de Antigos Alunos que continuaram a «viver o Colégio» depois da sua saída do mesmo. Muitos Antigos Alunos consideram que o Colégio do seu tempo é que era o bom e o autêntico, pelo que será de ficar de pé

atrás, sempre que se anunciem mudanças. Elas devem ser bem escrutinadas (como agora se diz), não vão as mesmas levar à descaracterização do Colégio. Recordo, a título de exemplo, que quando em 1958 foi inaugurado o «Colégio novo», ou seja, o novo edifício de internato e dos refeitórios, houve Antigos Alunos que acharam que o Colégio iria deixar de ser o que era. Vivi como Aluno essa mudança de instalações e acho que o Colégio não foi adulterado pela mesma. O Colégio mudou várias vezes de instalações e de localização ao longo dos tempos e sempre sobreviveu, pois o Colégio é muito mais do que os edifícios onde está instalado. A descaracterização, ou não, do Colégio, depende daquilo que cada um pensa que constitui a sua identidade, que não deve ser alterada. Para mim, a identidade do Colégio é um edifício assente em três «pilares», ou características fundamentais, que se podem traduzir pelos seguintes adjectivos: - MILITAR; - INTERNO; - MASCULINO. Estes três «pilares de apoio» assentam numa rocha duríssima, que é a história do Colégio e dos seus Antigos Alunos. Sendo esta rocha indestrutível, mantenham-se os pilares, que o edifício subsistirá. A destruição das instituições não se dá muitas vezes de forma abrupta e de um só


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golpe. Dá-se sim de forma gradual, intencional ou não, por corrosão progressiva, até ao desmoronamento final. Por vezes a corrosão é de tal ordem, que basta uma pequena pancada final para que tudo se desmorone. A meu ver, a descaracterização do Colégio tem-se vindo a dar de forma progressiva ao longo dos últimos tempos, facto facilmente detectável pelos mais atentos à vida do Colégio. Um profundo conhecedor daquilo que se vem passando no Colégio no decorrer dos anos, dizia-me, já antes da actual crise, que sentia que o Colégio estava, de ano para ano, a «ir-se embora», o que me recordou uma mão cheia de areia a fugir-nos rapidamente por entre os dedos da mão. Analisemos pois os referidos «pilares de apoio».

1º PILAR A natureza militar do Colégio é o primeiro «pilar de apoio» da sua identidade e constitui a sua essência mais íntima, incutida pelo seu fundador, um militar de excepção. Desde a sua fundação o Colégio está integrado no Exército Português. O seu corpo de alunos constitui um Batalhão, ao qual foi atribuído, ainda no tempo da Monarquia, o seu Estandarte Nacional, o qual, não por acaso, é o mais condecorado das nossas Forças Armadas. No Colégio Militar sempre se praticou o culto da Pátria e sempre se educaram os Alunos no respeito e na vivência das virtudes militares. HONRA, DEVER, VALOR, LEALDADE, MÉRITO e ABNEGAÇÃO, sempre foram palavras prenhes de significado para os Alunos do Colégio, que depois, ao saírem, as continuam a tomar como guias para o resto das suas vidas. Os Antigos Alunos que saíam do Colégio e ingressavam nas Forças Armadas, verificavam que no aspecto da sua formação como militares, pouco tinham a aprender. A aprendizagem estava feita pela «cartilha» do Colégio Militar, incluindo o exercício de funções de comando, como graduados. Como é conhecido, o ambiente militar que se vive no Colégio tem-se vindo a alterar progressivamente. Enquanto que dantes, os professores eram na sua grande maioria oficiais, do quadro ou milicianos, hoje em dia são na sua maioria civis. Enquanto que

dantes, os alunos se deslocavam dentro do Colégio sempre em formatura e tinham desfile diário na parada, hoje as formaturas são em menor número. Quanto á Instrução Militar não me posso pronunciar, por desconhecer o seu nível actual, mas recordo que no tempo do Serviço Militar Obrigatório o seu nível dava equivalência ao 1º ciclo do curso de oficiais milicianos. Mas tanto ou mais importante do que isto, é a chefia do Exército não abrir mão da condução da vida do Colégio em todos os aspectos pedagógicos e disciplinares, não tendo de seguir os ditames do Ministério da Educação, que passa o tempo a experimentar novas invenções, chegando-se ao ponto de pretender aplicar no Colégio o estatuto dos alunos daquele ministério, o qual tem levado á indisciplina e desordem nas escolas, que são do domínio público. É oportuno recordar que mesmo no tempo de Salazar nunca foi içada uma bandeira da Mocidade Portuguesa no Colégio. Mesmo nesse tempo o Exército soube manter a independência e a identidade do Colégio, não deixando que a mesma fosse desvirtuada. Em suma, o primeiro «pilar de apoio» da identidade do Colégio tem vindo a ser progressivamente corroído, para desgosto dos Antigos Alunos e dos próprios Alunos mais velhos, que bem se apercebem desta triste situação. É essencial que a chefia do Exército considere como fundamental a continuação da natureza militar do Colégio.

2º PILAR O segundo «pilar de apoio» da identidade do Colégio é o regime de internato dos Alunos. Este «pilar» também tem sido vítima de corrosão progressiva. Anos antes

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de eu entrar para o Colégio, os Alunos só tinham saídas um fim de semana por mês, o que era duríssimo. No meu tempo, os que não estavam castigados, podiam sair todos os sábados, a partir das 5 horas da tarde, regressando ao Colégio aos domingos, até às 10 horas da noite. Actualmente os Alunos podem sair nas 4ª feiras à tarde depois das aulas, regressando à noite ao Colégio e podem sair nas 6ª feiras após as aulas, regressando aos domingos ao Colégio, até às 11 horas da noite. Os Alunos do quadro de honra, que são actualmente cerca de um terço dos Alunos do Batalhão, podem regressar das saídas das 4ª feiras na 5ª feira de manhã e podem regressar das saídas de fim de semana na 2ª feira de manhã, ou seja, se assim o entenderem, um terço dos alunos internos dormirão no Colégio apenas 3 noites por semana. Se a este panorama acrescentarmos a quantidade de Alunos externos agora permitidos (todos aqueles que o quiserem) estamos esclarecidos quanto ao regime de internato vigente. A consideração do regime de internato como um dos «pilares de apoio» da iden-


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Descaracterização do Colégio Militar O Convívio

tidade do Colégio não é uma caturrice de velhos. Quando se abriu, há anos atrás, o Colégio a Alunos externos, pouco tempo após o inicio do ano lectivo, foram os próprios Alunos externos que pediram na sua maioria aos seus pais a passagem a Alunos internos. Eles lá sabiam porquê. Reconheço que hoje em dia, em que muitos pais tratam os seus filhos como bebés irresponsáveis até à sua adolescência, há muitas famílias que não gostam de pôr os seus filhos em internato aos 10 anos de idade, mas se o internato se tornar obrigatório só a partir do 7º ano (3º ano antigo), penso que a situação poderia ser melhorada. A camaradagem, expressão militar de fraternidade, que tão querida nos é e que constitui a base do nosso relacionamento, cresce e frutifica em regime de internato. É a vivência comum, 24 horas por dia, de todos os bons e os maus momentos da vida colegial, que nos une. É nos gerais, nas camaratas, nos recreios, nos desportos e também, porque não, nas «golpadas», que a camaradagem se desenvolve. É esse o seu cadinho. É a camaradagem que justifica o nosso lema «UM POR TODOS TODOS POR UM». Foi o regime de internato que esteve na base do conhecido e belo texto intitulado «Convívio», da autoria de José Maria Sardinha Pereira Coelho (56/1889), publicado na revista «O Colégio Militar» em 1925, que termina desta forma tocante:

«Foste educado naquela exemplaríssima escola de camaradagem? Eras o 30, o 26, o 84 ou o 14? És meu irmão! Estás ligado a mim por esse traço indestrutível da mesma saudade, tão forte, tão viva, tão doce, que eu ao escrever estas linhas tenho as lágrimas nos olhos...»

3º PILAR O terceiro «pilar de apoio» da identidade do Colégio Militar é o seu carácter masculino, mantido durante 210 anos e agora adulterado por despacho de um dos piores ministros da Defesa de que tenho memória e que não nos deixará quaisquer saudades. Há quem argumente que o carácter masculino do Colégio era algo de anacrónico nestes tempos em que se admitem nas Forças Armadas mulheres. Esquecem os que assim pensam, que no caso do Colégio não estamos a falar de mulheres, mas sim de meninas e adolescentes, o que é uma situação completamente diferente. A presença de mulheres nas Forças Armadas não tem sido uma questão isenta de problemas, nem no nosso país, nem por esse mundo fora. Esses problemas não são, por razões óbvias, publicitados, mas que existem existem e são por vezes bem delicados. No próprio Colégio, com a sua população de rapazes até aos 18 ou 19 anos de idade, não é difícil imaginar os problemas

que se podem gerar. Considero a admissão de meninas no Colégio Militar uma insensatez. Como já ouvi dizer, é pôr o fogo ao pé da estopa. Quando as coisas correrem mal, as meninas serão as vitimas que sairão sempre a perder, podendo os respectivos pais responsabilizar o Colégio pelo sucedido. O terceiro «pilar de apoio» da identidade do Colégio tem de ser mantido, para o que é essencial que o Instituto de Odivelas se mantenha. É o reconhecimento desta circunstância que explica a urgência que o ministro tem em encerrar o Instituto, para se ficar perante um facto consumado. Temos de juntar forças para o impedir. Nada me move contra as meninas. Tenho agora a minha sucessora na escola primária do Colégio, a qual vejo com ternura, como se fosse minha neta. Como já escrevi, a propósito do último 3 de Março, gostaria de ver as meninas num desfile do Instituto de Odivelas e não do Colégio. É este o meu ponto de vista, estritamente pessoal, não reflectindo a posição de qualquer órgão da nossa Associação. Defendo o direito à liberdade de optar pela diferença. Ajudemos todos o Colégio a superar o ataque a que está agora sujeito.

O Convívio «Tu lá que és? Um avançado? Um conservador? Um ateu? Um crente? Um desventurado? Um triunfador? Um vencido? Que importa? Estiveste no Colégio Militar? Viveste debaixo do mesmo tecto em que eu vivi? Há dez, há quinze, ou há vinte anos? Comeste na mesma mesa? Dormiste na mesma camarata? Guardas no peito as recordações imorredoiras daqueles anos de convivência? Lembras os recantos do «geral», o Sol que

víamos pela janela, a ânsia de liberdade, a tristeza do entardecer, a conversa da camarata, a tortura da alvorada, o pavor das aulas, os companheiros de carteira, as nossas esperanças, as nossas ilusões, as alcunhas, o calão, a graça, a vida daquela colmeia, a bondade com que nos olhávamos, a simpatia que nos ligava, a alegria da nossa mocidade fresca e vigorosa? Foste educado naquela exemplaríssima escola de camaradagem?

Eras o 30, o 26, o 84 ou o 14? És meu irmão! Estás ligado a mim por esse traço indestrutível da mesma saudade, tão forte, tão viva, tão doce, que eu ao escrever estas linhas tenho as lágrimas nos olhos…..»

José Maria Sardinha Pereira Coelho 56/1889


Delegação do The Duke of York’s Royal Military School nas Comemorações do 3 de Março

Delegação do The Duke of York’s Royal Military School nas Comemorações do 3 de Março N

o decorrer o fim-de-semana em que se comemorou o 3 de Março respeitante ao 211º aniversário do Colégio, esteve connosco uma Delegação do The Duke of York’s Royal Military School composta pelo Vice Principal Lt Col Steven Saunderson e pela Assistant Principal Mrs Alie Kehaya, retribuindo a visita feita anteriormente por alguns Membros da Direcção da Associação, a esse Estabelecimento de Ensino, tendo à frente o seu Presidente António Reffóios. A visita foi efectuada a convite da AAACM em articulação com a Direcção do Colégio e os nossos convidados assistiram a todas as cerimónias realizadas, tendo também tido oportunidade de visitar pormenorizadamente as Instalações Colegiais. A sua excelente impressão sobre tudo o que tiveram oportunidade de ver e de assistir foi frequentemente transmitida durante todo o tempo em que estiveram connosco, ficando especialmente sensibilizados com alma que emana dos Claustros e que engloba toda a Família Colegial e o orgulho do Batalhão Colegial e dos Antigos Alunos pela pertença que significa a sua passagem por esta Instituição que completou já 211 anos de existência. Reproduzimos a carta que foi enviada ao Presidente da AAACM.

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CURSO DE 1947/1954

CURSO DE 1947/1954 Romagem dos 60 anos de Saída 9 de Maio de 2014

Curso 1947/1954 – 60 Anos de Saída – 9 de Maio de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz

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stiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro (14/1947), Carlos José Sanches Vaz Pardal (100/1947), Jorge Maria de Lemos Pereira Máximo (101/1947), João Manuel Soares de Almeida Viana (107/1947), António Costa Gil Sousa Prates (138/1947), Fausto Morais de Brito e Abreu (141/1949), Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948), António Henrique Trigo Perestrello de Alarcão e Silva (202/1946), Joaquim Manuel Trigo Mira Mensurado (252/1946), João Augusto Oliveira de Ayala Botto (254/1948), José de Oliveira Tojal (273/1946), Manuel Luís de Sena e Silva (293/1946), Francisco Manuel Alcântara Mota Ferreira (307/1947), Fernando José Pinheiro Alçada (309/1947), Filomeno Jorge Malheiro Garcia (311/1947), João Manuel Ribeiro da Fonseca Calixto (314/1947), Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947), José Baptista

Pereira (318/1947), José Fernando de Oliveira Vilar Saraiva (320/1947), José Manuel Lameira Machado Faria (324/1947), Ruy Eduardo Anselmo d'Oliveira Soares (332/1947), Joaquim Guilherme Pignatelli Galvão Videira (377/1949). Na Biblioteca, na apresentação de cumprimentos ao Exmº Director, o Antigo Aluno Luís Joel Alves de Azevedo Pascoal (145/1948) proferiu as seguintes palavras: Por decisão da comissão organizadora e de acordo com o princípio de rotatividade que tem vindo a ser seguido no nosso Curso, cabe-me hoje a honra de, em nome de todos nós, cumprimentar V.Ex.ª nesta ocasião em que comemoramos o 60º aniversário da nossa saída do Colégio. Assim, começo por agradecer ao Senhor Director a oportunidade que nos proporciona de regressar, por um dia, em nova

romagem de gratidão e saudade, à querida Alma Mater que nos acolheu em criança, nos educou, soube formar e tão bem nos preparou para a vida, como cidadãos responsáveis ao serviço da comunidade de afectos, tradições e memórias que é a nação portuguesa. O nosso 7º ano de 1953-1954 incluía o total considerável de cinquenta elementos, os quais subsequentemente enveredaram pela carreira das armas e pela vida civil na exacta proporção de metade para cada uma, num curioso e pouco vulgar equilíbrio de opções profissionais. Perante si, Senhor Director, estão muitos desses 50 finalistas, que se tornaram professores universitários, engenheiros, médicos, economistas, comandante da marinha mercante, empresários, gestores públicos, além de almirantes e generais do Exército e da Força Aérea, bem como oficiais superiores dos três ramos das Forças Armadas,


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tendo ainda pertencido ao curso um advogado e um farmacêutico, entretanto falecidos. Este eclectismo é mais uma prova incontroversa da sólida educação integral que nos foi ministrada no Colégio, e que sempre recordamos com orgulho e emoção cada vez que, como agora, aqui voltamos. E isto porque o nosso curso, Senhor Director, é “muito beato” em relação ao Colégio, como disse com fino humor aquela figura inesquecível e tão grata aos nossos corações que é o antigo e saudoso capelão colegial Padre Braula Reis, ao verificar que promovíamos repetidamente romagens desta natureza. De facto lá está a atestá-lo, nos claustros, a placa comemorativa do 25º aniversário de saída (19.5.1979), sobreposta a outra mais abrangente onde se deixam gravadas, para a posteridade, as datas das nossas treze sucessivas comemorações, quer de entrada como “ratas” (40, 45, 50, 55 , 60 e 65 anos) quer de saída como finalistas (30, 35, 40, 45, 50, e 55 anos), até precisamente o dia de hoje. E lá está também reservado o espaço para a devida gravação das comemorações vindouras, a mais próxima das quais a ocorrer, se Deus quiser, em 2017. Temos, pois, uma evidente, profunda, muito significativa e continuada ligação sentimental à Casa onde crescemos e aprendemos a ser homens. A somar à saudade dos verdes tempos de criança e de juventude, das nossas lides estudantis, dos despiques atléticos e desportivos, dos anseios, partidas, reinações e devaneios da tenra idade, das euforias e entusiasmos partilhados em comum, a par dos contratempos, dificuldades e carências que tivemos de vencer individual e colectivamente, junta-se o reconhecimento de quão valiosas foram para nós a qualidade do ensino escolar recebido e as bases formativas de honra, pundonor, disciplina, lealdade, frontalidade e camaradagem que o Colégio nos

inculcou logo de início e que a vivência exclusiva do internato veio a tornar crescentemente mais arreigadas dentro de nós. Vir ao Colégio é um verdadeiro regresso às origens, que nos retempera a alma e nos dá força acrescida para suportar os desenganos e as ilusões perdidas e trilhar os caminhos que ainda nos resta percorrer. Nestas seis décadas volvidas sobre o adeus à farda cor de pinhão, o Curso re-

gista, infelizmente, já vinte e quatro camaradas falecidos, o primeiro dos quais logo em 1958 (aspirante miliciano vítima duma explosão de granada quando dava instrução a recrutas). Em seguida, como parte integrante da geração da «Guerra do Ultramar», sofreu dois mortos em campanha. É, aliás, muito em memória dos nossos mortos que hoje aqui estamos, de novo, comovidamente a recordá-los, interiorizando ainda com sentido e mudo respeito o seu

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supremo sacrifício dos caídos em campo de batalha. Durante a guerra, como oficiais dos quadros permanentes e dos quadros de complemento, estivemos envolvidos nas campanhas de Angola, Guiné e Moçambique ao serviço e em defesa da Pátria; cumprimos o nosso dever com galhardia e vontade, suportando as privações, as angústias e as incertezas do combate, vencendo desânimos e liderando os nossos homens; e demos tempo bastante para que fosse possível uma solução não militar do problema da guerra nas três frentes africanas. Com a Revolução do 25 de Abril e o advento do Estado de Direito democrático, surgiram algumas divergências e clivagens ideológicas no seio do nosso Curso. Todavia, os laços de amizade viril estreitados ao longo de tantos anos de convívio colegial foram mais fortes do que eventuais pulsões centrífugas e por isso o clima de união fraterna cedo voltou, e continua, a reinar frutuosamente entre nós. Senhor Director O Curso de finalistas de 1953-1954 tem consciência clara da complexidade e delicadeza da missão que está cometida a V.Ex.ª, nestes dias tumultuosos por que passa desde há cerca de dois anos o Colégio Militar. Além disso, os oficiais generais e os oficiais superiores de Terra, Mar e Ar que como eu integram o nosso curso conhecem perfeitamente os ditames do dever militar e do cumprimento cabal das missões que o poder político e a hierarquia castrense atribuem aos diversos escalões de comando. Daqui decorre que não deve nem pode de forma alguma entender-se estar V. Ex.ª a ser posto em causa, quer no espírito, quer no teor, das considerações que irei tecer de seguida em representação do nosso curso. No universo dos “Meninos da Luz” nós, os do 7º ano de 1953-1954, estamos na linha


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da frente da “Velha Guarda” colegial. A lei da vida não faz pressupor a possibilidade de haver cursos a comemorar mais além do que o 80º aniversário de saída do Colégio. Ao longo da nossa já tão dilatada vida, e com percursos profissionais tão diversos, adquirimos em conjunto uma vasta experiência das coisas e do mundo, que nos permitem desaconselhar e não aprovar tomadas de decisões precipitadas, mal fundamentadas, impostas apressadamente, ao arrepio do diálogo e sem ponderação de argumentos válidos de sentido contrário, no exercício de um poder de perfil autoritário e arrogante. Acontece que o Colégio Militar está sofrer os efeitos nefastos de uma decisão desta estirpe, tomada por uma tutela política desacreditada e incompetente, que irá por certo descaracterizar e conduzir à ulterior perda total de identidade da obra concebida pela visão sublime do nosso Fundador, Marechal Teixeira Rebelo e iniciada há mais de dois séculos. Nesta era de globalização infrene, em que se atenuam as diferenças entre países, povos e localidades e se vão replicando cada vez mais estilos de vida semelhantes em sociedades dispersas pelas mais diversas latitudes, vai-se já notando um sentimento de fadiga civilizacional, um desencanto e uma rejeição por parte das pessoas expostas aos efeitos de uma normalização que torna os seus aglomerados urbanos meras cópias uns dos outros. E cada vez mais se procura aquilo que é único, aquilo que faz a diferença e dá valor acrescentado a um projecto, a um produto, a um empreendimento ou a um desígnio. Ora o Colégio Militar, o nosso Colégio, único no panorama educacional português, é por isso um bem valioso por ter mantido desde a Fundação a sua matriz estruturante, o seu modelo de internato masculino (com pontuais admissões de alunos externos). Portugal, aliás, conhece e admira a Casa que deu origem a tantas figuras gradas da nossa História, em tão diversificados campos, tais como os das artes, das ciências, das tecnologias, do desporto, do direito, da economia, do ensino e, claro está, da arte e ciências militares. A reforma ou reconfiguração que teimosamente se pretende impor ao Colégio é negativa por uma série de razões, como as seguintes, entre outras: ■ Não decorre de qualquer imposição ex-

terna a Portugal nem de um qualquer compromisso vinculativo inscrito no programa eleitoral de algum partido com assento parlamentar; ■ Foi delineada e mantida sem atender à generalizada oposição das Associações de Antigos Alunos e de Pais, quer do Colégio, quer do Instituto de Odivelas (IO); ■ É incoerente e contraditória pois afirma visar uma racionalização e redução de custos de funcionamento e ao mesmo tempo autoriza o dispêndio de mais de 2 milhões de euros para a futura construção de um edifício de internato feminino, existindo já uma alternativa perfeitamente disponível e funcional no IO; ■ Baseia-se, por fim, numa falsa questão da igualdade de género. A questão da igualdade de género só se põe quando se trata de adultos já feitos e imputáveis (caso dos militares femininos das Forças Armadas); e não é aplicável no caso de crianças e adolescentes em pleno processo de crescimento e de formação, com interesses, inclinações e ritmos de desenvolvimento físico e intelectual naturalmente diferenciados. O regime misto irá fracassar, por força da própria natureza humana: colocar rapazes e raparigas dentro do mesmo perímetro de internato (mesmo que em edifícios separados), face aos ímpetos, assomos e fantasias sexuais da puberdade, é uma receita para um desastre anunciado; não vai haver meios humanos suficientes, nem disponibilidades financeiras bastantes, para assegurar uma vigilância eficaz e permanente após as horas normais de serviço. As hormonas terão sempre a última palavra; e portanto a questão que se coloca não é “se”, mas sim “quando” ocorrerá um embaraço chocante. Ou será que a Igreja Católica, na sua imensa sabedoria de mais de dois milénios, iria alguma vez decidir criar num perímetro único instalações para seminaristas e para noviças? Por outro lado, mesmo que haja primeiras indicações favoráveis, a verdade é que ainda não decorreu tempo suficiente para se poder concluir que a entrada de alunas para o batalhão colegial é um caso de sucesso. É sempre preciso esperar pela validação de resultados num espectro temporal credível; e se essa validação ocorrer – o que confio e espero não suceda – será então apenas uma vitória de Pirro e um problema adicional para quem a tutela o quiser depois

reencaminhar, a sacudir responsabilidades, como Pilatos. Tudo na vida é reversível, excepto a morte. Num quadro de alternância democrática, um despacho ministerial proveniente de uma certa origem partidária pode muito bem ser objecto de anulação e de reversão de efeitos vindo de um qualquer outro quadrante político. O nosso Curso, com a autoridade moral e simbólica da “Velha Guarda”, espera, confia e tudo fará para que assim seja. Já vai longa esta intervenção e cumpre-me, pois, dar-lhe termo. Permita-me, no entanto, Senhor Director, concluir com uma citação, que em outros tempos já utilizei, do antigo aluno Dr. Júlio Dantas (114/1884), extraída na sua obra “Páginas de Memórias”: «Os rapazes do Colégio Militar podiam não aprender a ter juízo, mas todos aprendiam a não ter medo. Para a formação da nossa personalidade concorria, não só o que nos ensinavam os mestres, mas o que nós ensinávamos uns aos outros: a lição do aprumo, da dignidade, da obrigação, da solidariedade moral, da disciplina sem subserviência, da cortesia sem bajulação. Por isso o Colégio da Luz… foi sempre uma escola de “homens” que entravam na vida de cabeça levantada, servindo o desinteresse, falando o desassombro e, quando era preciso, lutando com intrepidez».


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CURSO DE 1954/1961 Romagem dos 60 anos de Entrada 28 de Março de 2014

Curso 1954/1961 – 60 Anos de Entrada – 28 de Março de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz

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stiveram presentes nesta romagem de saudade os Antigos Alunos Eduardo Henrique Vidigal Solano de Almeida (5/1954), José Manuel Albuquerque Cabral de Sacadura (14/1954), João Nuno Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1956), Jorge Rodrigues Teixeira (29/1954), Afonso Júlio de Lemos Chaby Rosa (30/1954), Armando Paiva Cumbre (39/1953), António Manuel Sales de Mira Godinho (48/1954), Francisco Manuel da Cunha Bruno Soares (50/1954), Paulo Amado Carreira (56/1954), António Manuel Latino Tavares (100/1954), Mário Quintanilha de Sampaio Nunes (110/1954), Ricardo Centeno de Gorjão Jorge (131/1956), Luís Manuel Ferraz Pinto Oliveira (138/1954), Ventura José Ortigão de Melo Sampaio (148/1955), Pedro Manuel de Almeida Serradas Duarte (192/1954), Luís O’Connor Shirley de Matos Chaves (195/1954), João Manuel Gomes de Sousa (202/1954), Gastão de Oliveira Costa Jacquet (235/1953), António Manuel da Costa Vieira Lisboa (237/1954), João Evangelista Barradas Cardoso (252/1954), José Joaquim Boaventura de Sousa da Cunha Lima (254/1954), João de Paiva Leite Brandão (261/1954), Artur João Filipe Capristano (281/1954), Fernando Alves de Sousa Lourenço (289/1954), João Henrique de Bívar Melo e Sabbo (301/1953), Eduardo Luís de Arriaga Pinto Basto (318/1954).

Para os componentes deste Curso foi enviada a seguinte mensagem: Meus queridos condiscípulos nesta comemoração da nossa partida colectiva e colegial para a dura mas libertadora (ao fazer de nós precocemente adultos) “odisseia” do CM, nada menos do que três quintos de século depois. Este foi um dia extraordinário do qual guardarei sempre uma alegria e uma convicção que não posso deixar de partilhar convosco: dos últimos sessenta anos, os ensinamentos dos primeiros sete foram sem dúvida aqueles que me acompanharam sempre como bússola fiel e segura na opção pelo caminho certo quanto ao carácter, aos valores e aos princípios. Incluindo, é claro, os que hoje não puderam estar presentes, devo dizer que, sem o vosso convívio, a vossa camaradagem e o vosso exemplo, não só esse caminho teria sido, com certeza mais difícil, como também, o mesmo caminho iria determinar a escolha entre abandonar ou conseguir o impossível. Ao olhar sessenta anos para trás e pensar na idade que tínhamos então, naquilo que me diz respeito, avalio o vosso contributo para a minha formação como único, insubstituível e de grande generosidade. Foram anos em que valeram e contaram cada hora, cada minuto e cada segundo nesse tempo de ousar e descobrir.

Os restantes cinquenta e três foram, com a felicidade própria daquele que acredita nos méritos da sua aprendizagem, uma continuação, tanto na filosofia de vida como na prática da sua aplicação. E se muitas das virtudes do Colégio não foram logo evidentes para as crianças que éramos quando tudo começou e os adolescentes que nos tornámos depois, a experiência desta reunião, como todos constatámos, demonstrou – pelo espontâneo e caloroso acolhimento afectivo e efectivo que houve entre nós – quanto as percebemos e adoptámos para modelo de conduta e do tal caminho condutor dos passos. Mas com isto, afinal, não quero senão traduzir em palavras o mais amplo dos abraços e a maior das gratidões. Bem hajam. Agora já só fico à espera da repetição num dia que seja o mais parecido possível com o de hoje. Para ti, Pedro Serradas Duarte, um especial obrigado pela dinamização deste encontro que sem ti, sinceramente é provável, ou que não tivesse acontecido ou, pelo menos, que não tivesse acontecido com este êxito. Zacatraz, Zacatraz, Zacatraz para os “putos” de 54. Eduardo Luís de Arriaga Pinto Basto 318/1954


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O Comandante desconhecido

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o final da 1ª guerra mundial houve vários países europeus que decidiram homenagear os seus soldados que tinham perecido em combate e cujos corpos, ou tinham desaparecido ou não tinha sido possível identificar. A esses soldados foram erigidos monumentos naqueles países, tendo-se colocado em cada um desses monumentos a urna de um dos soldados não identificados. Esses monumentos foram designados por «monumentos ao soldado desconhecido». O monumento ao soldado desconhecido português situa-se no Mosteiro da Batalha, sendo-lhe prestada homenagem todos os anos no dia 9 de Abril, dia este em que ocorreu a batalha de La Lys, no teatro de operações da Flandres, em França, no ano de 1918. O Colégio não teve Antigos Alunos seus desaparecidos em combate, tendo tido porém, ao longo de mais de 50 anos, um Comandante de Batalhão ausente em parte incerta, cuja fotogra-

fia e identificação estiveram omissas, ao longo de todos esses anos, na galeria dos retratos dos Comandantes de Batalhão existente no Colégio, cujo primeiro retrato é o de Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto (159/1858), o famoso explorador africano português, que fez a travessia de Angola à contra costa no Índico. Todos os que visitaram a galeria dos Comandantes de Batalhão ao longo dos anos, com alguma atenção, terão notado não haver lá qualquer dado relativo ao Comandante de Batalhão do ano lectivo de 1960/1961. Esse comandante, considerado como o «comandante desconhecido» ao longo de mais de meio século, foi Francisco Manuel da Cunha Bruno Soares, aluno nº 50 de 1954. O curso de entrada de 1954, a que o Bruno Soares pertence, nunca tinha voltado ao Colégio em romagem de saudade, desde a sua saída em 1961, até que este ano decidiu visitar o Colégio

CURSO DE 1967/1974 Romagem dos 40 anos de Saída 16 de Maio de 2014

Curso 1967/1974 – 40 Anos de Saída – 16 de Maio de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz

para comemorar os seus 60 anos de entrada. Como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca. O Bruno Soares respondeu à chamada e apresentou-se munido de uma fotografia sua, tirada no seu ano de finalista, como comandante de Batalhão, facto que assinalamos com grande satisfação. A fotografia que ofereceu ao Colégio é uma fotografia do tipo usado para fotografias de identificação, em que está em farda de passeio e não em farda de gala, como é regra nas fotografias da galeria dos Comandantes de Batalhão. É melhor do que nada. Vamos agora esperar que o responsável pelo Museu Colegial mande ampliar e emoldurar a fotografia e a coloque no seu devido lugar, o que vai dar origem à deslocação de mais de 50 fotografias. É obra. Cá ficaremos a aguardar o resultado desta ciclópica tarefa. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957


O Curso de 1948/1955 e a Feitoria

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stiveram presentes nesta romagem de saudade os Professores Padre Miguel Silva Carneiro e Escultor José João Machado Carneiro de Brito e os seguintes Antigos Alunos: José Mira de Villas-Boas Potes (3/1967), João Eduardo Correia Barrento Sabbo (17/1967), Álvaro Manuel da Cruz Cordeiro (48/1967), José Luís Deslandes Teixeira Gomes (53/1967), José Manuel da Silva Pinto dos Reis (100/1967), João Correia Rasquilho Raposo (101/1967), Jorge Manuel Moreira de Melo Sampaio (115/1967), Mário Gil Correia Rodrigues Mendes (116/1967), José Pedro Galvão de Figueiredo Valente (124/1967), Gilberto Diogo Lima Castelo Branco (154/1967), António Carlos Rainha Perry da Câmara (166/1967), Adelino Augusto Reis da Fonseca Laje (176/1966), José Eduardo Goulão Marques (182/1967), José Carlos Benito e Bismarck de Melo (187/1967), Rui Caseiro Viana (204/1966), Carlos Manuel de Lucena e Vasconcellos Cruz (209/1967), Artur Luís Reynolds Chaves Brandão (234/1967), José de Melo Ribeiro (286/1968), João Carlos Bonifácio da Silva Matos (291/1967), João Francisco Rocha Pereira do Nascimento (332/1967), António José Cardoso de Sousa Simões (343/1967), António Conceição de Sousa Matos (355/1966), Miguel da Gama Costa Gomes (356/1967), Francisco Emílio Neves da Piedade Vaz (373/1967), Fernando Manuel Gil da Cruz Garcia (395/1967), Walter José da Guia Lúcio (404/1967), Nuno Rolando Fernandes Tomaz Ferreira (496/1967), Mário João Gonçalves Alves de Matos (497/1967), Carlos José Ferreira Paixão Soares (506/1967), Luís Manuel Soares Franco (510/1967), António Vítor Duarte Domingues (511/1966), Luís Augusto Neves Duarte (525/1967), Rui Fernando do Vale Caseiro (578/1966), Luís Miguel Henriques da Cruz Bucho (579/1967), Fernando Jorge Teixeira Barroso de Moura (583/1967), João Manuel Saturnino Balula Cid (595/1967), José Carlos Teixeira Barata (597/1967), Jorge Manuel Lourenço Marques Esgalhado (631/1967), Ricardo José Vassalo Galiano Tavares (651/1968).

O Curso de 1948/1955

e a Feitoria

Participantes no convívio de 16 de Maio de 2014 ©Fotos Leonel Tomaz

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Curso de 1948/1955 é seguramente um dos cursos com maior articulação à Feitoria, berço do Colégio, que aí nasceu em 1803 fruto da determinação e mérito da figura grandiosa do Marechal António Teixeira Rebello. Em 3 de Junho de 2005, a comemoração dos 50 anos de saída decorreu na Luz e na Feito-

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O Curso de 1948/1955 e a Feitoria

ria, com a presença do Capelão Braula Reis e de 46 Antigos Alunos. A data foi assinalada com o descerramento de um painel de azulejos da autoria do saudoso Tito Lívio Xavier (335/1947). Em Outubro de 2005, iniciou a sua actividade o Núcleo da Feitoria da AAACM, presidido pelo Diogo Baptista Coelho (343/1947), tendo como tesoureiro o Carlos Mello e Motta (48/1945), e sendo responsáveis pela logística o Hélder Sena e Silva (149/1948) e o Pedro Lagido (330/1947). Desde o início da sua actividade e até aos nossos dias, realizaram-se convívios mensais, actualmente à 3.ª Sexta-feira, com almoço confeccionado no Colégio em que, invariavelmente, é servido o caldo verde, o amarelo de carne e respectiva salada, e arroz-doce. Um verdadeiro menu colegial para recordar os bons tempos passados na nossa juventude na grande Instituição que é o Colégio Militar. Em 2007, o Núcleo da Feitoria, já presidido pelo Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947), descerrou um segundo painel de azulejos, de homenagem ao Capelão José Braula Reis, igualmente da autoria do Tito Lívio Xavier (335/1947). A 10 de Outubro de 2008, uma 6ª Feira, na comemoração dos 60 anos de entrada para o CM, a concentração inicial foi no Colégio, na Luz, conjuntamente com o curso de 1968 onde, numa evocação feita pelo Tito, se prestou homenagem aos então 23 Camaradas já falecidos. Por força dos condicionalismos físicos do Luís Manuel Dias Antunes (221/1948), habitual organizador e grande impulsionador dos nossos encontros, deslocámo-nos para a Feitoria onde foi celebrada missa pelo Capelão Braula Reis, seguindo-se o tradicional almoço de confraternização comemorativo da data durante o qual usaram da palavra o Capelão Braula Reis e o António Pedro Bacelar Carrelhas (159/1947), residente no Brasil e que leu uma mensagem vinda deste país e escrita pelo Fernando Augusto Falcão Lamy (157/1947). Ao painel inicial da autoria do Tito, foi descerrado um acréscimo de azulejos evocativo desta efeméride, tendo sido angariada uma oferta para a recuperação da casa de Teixeira Rebello. Estiveram presentes o Director e Subdirector do Colégio, respectivamente, General Raul Passos e Coronel João Alves Caetano (609/1973), 41 Antigos Alunos do Curso e os convidados Capelão

Braula Reis e Coronel António Romeiras Júnior (Sócios Honorários), José Maria Myre Dores (47/1942) e Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947). Após outros convívios do Curso, nomeadamente no Jardim da Luz e na Cooperativa Militar, em 16 de Maio de 2014 voltámos à Feitoria numa cerimónia de homenagem póstuma aos 38 Camaradas do Curso já falecidos, descerrando um novo painel de azulejos com os nomes dos pioneiros do Núcleo também falecidos: Luís Manuel Dias Antunes (221/1948), Eduardo José Naughton Félix Rodrigues (278/1947) e Tito Lívio Xavier (335/1947). A cerimó-

nia contou com a presença de familiares e amigos, onde se incluem a Maria João e a Rita Dias Antunes; a Fernanda Xavier, a Tita Xavier e a Ana Xavier; os enteados do Eduardo Naughton. Coube ao Luís Gonzaga de Castro Mendes de Almeida (285/1948), Comandante de Batalhão deste Curso, a voz de comando que foi mencionando todos os falecidos, ao que em uníssono o Curso respondeu «Presente». No acto do descerramento participaram um familiar de cada homenageado e o Jorge Alberto Gabriel Teixeira (315/1947), actual Presidente do Núcleo.

Do Curso, os 31 que aqui estiveram foram: Luís José Passanha Braamcamp Sobral (34/1948), José Alberto Alves de Paula (62/1948), Jorge Maria Lemos Pereira Máximo (101/1947), Guilherme Luís Faria Câncio Martins (126/1948), António Rui Prazeres de Castilho (147/1948), António Hélder Monteiro de Sena e Silva (149/1948), Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948), Fernando Augusto Falcão Lamy (157/1947), António Pedro Pereira de Bacelar Carrelhas (159/1947), José Manuel Rocha Carvalho Araújo (170/1948), João Diogo Weinstein (186/1950), José Manuel dos Reis Moreira (200/1948), António Henrique Trigo Perestrelo da Silva (202/1946), Jorge Carlos Niblet do Passo (227/1947), António Carlos Dias da Cunha Nogueira (262/1948), Nuno Gonçalo Gago da Câmara Botelho de Medeiros (275/1948), Luís Gonzaga de Castro Mendes de Almeida (285/1948), Vasco Manuel de Lucena (290/1948), Fernando Manuel da Câmara Marques Moreira (317/1948), Abílio Matos e Noronha de Pais de Ramos (323/1948), António Maria de Almeida Bívar de Sousa (325/1948), Pedro do Canto Lagido (330/1947), José Carlos Lobato de Faria Roncon (333/1947), João Augusto Serrinha Figueira (339/1947), Rui Armando de Sousa Carneiro (345/1948), Álvaro António Duarte Dinis Varanda (347/1948), José Manuel de Abreu Chagas Pinto (350/1948), Humberto António de Portugal Restelho Guterres (360/1948), Luís Lince Núncio (362/1949), José Maria de Avilez Corrêa de Sampaio (367/1949), Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949).


O Curso de 1948/1955 e a Feitoria

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Em 16 de Maio de 2014, 7 Comandantes relacionados com o Curso. José Sampaio (367/1949) Cmdt 4ª em 1954/55, Pedro Lagido (330/1947) Cmdt 1ª em 1954/55, Luís Sobral (34/1948) Cmdt 3ª 1955/56, Luís Mendes de Almeida (285/1948) CB em 1954/55, José Myre Dores (47/1942) CB 1948/49, Guilherme Câncio Martins (126/1948) Cmdt 2ª em 1955/56, António Nogueira (262/1948) Cmdt 4ª em 1955/56

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stiveram também o Comandante de Batalhão do ano de entrada deste Curso no Colégio, José Maria Myre Dores (47/1942) e dois especiais amigos do Dias Antunes e Tito Xavier, coronéis Serra Pinto e Rui Marcelino, para além de outros habituais frequentadores dos convívios na Feitoria. Relacionadas com este encontro do Curso foram recebidas as seguintes mensagens:

De José Maria Myre Dores (47/1942) «Amigo Luís, desejo agradecer-te e a todos os amigos presentes no almoço a amizade que me demonstraram. Fiquei sensibilizado e retribuo essa consideração. Apreciei o mérito de cada colega, ao trocar impressões e conhecer melhor a vida de cada um. Parabéns pela reunião do teu curso. O ambiente foi festivo e de camaradagem colegial. Abraço do Zé Maria.»

De António Rui Prazeres de Castilho (147/1948) «... Parabéns pela organização, correu tudo muito bem e o resumo que enviaste

agora é fantástico. Para o próximo almoço já não estarei cá, pois parto a 27 de Setembro de 2014. De qualquer maneira, podes continuar a mandar-me os mails porque eu pelos locais de paragem e são muitos vou tendo possibilidade de acesso à Internet e gostaria de continuar a acompanhar as actividades do nosso curso. Vamos criar um blogue para a viagem e, logo que saiba, digo-te para (…) divulgar pela malta. Estarei no facebook com notícias com o nome de Rui de Castilho. O Zacatraz também vai publicar notícias da viagem do ALLEGRO que é o nome do barco. Até daqui a dois anos, se Deus quiser. Um grande abraço, Rui»

De José Maria de Avilez Corrêa de Sampaio (367/1949) «Meus Queridos Luís e Manuel. Operado ontem a uma catarata, só hoje, ainda com o olho “à Belenenses”, me é dado reagir aos vossos escritos e comentar o nosso almoço de curso. Antes do mais, um grande xi-coração a ambos pelo empenho e amor posto na organização do evento que pecou por curto em tempo de convívio, que não em emoção, ao rever aqueles com

quem partilhamos, quiçá, os melhores anos da nossa vida. A intervenção do Pedro Lagido e o episódio com o Medeirinhos (um dos maiores “tangas” do nosso curso), relatado pelo Lamy (que reapareceu enorme e volumoso de corpo mas igual na deliciosa capacidade de expressão), deixaram-me água na boca em relação a tantas histórias, aventuras e episódios castiços que, fazendo parte do nosso imaginário, do conto de fadas em que transformamos os anos passados no Colégio, ficaram, como ficam sempre, desgraçadamente, por contar. Fica o repto para que no próximo almoço haja essa preocupação, que vai deixar o Manuel com menos tempo para promover livros, mas que poderá trazer uma leveza acrescentada e, seguramente, muitas gargalhadas ao nosso repasto. Mais uma vez um especial bem-haja aos dois, e abraços já saudosos e apertados para todos.» Manuel Júlio Matias Barão da Cunha 150/1948


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As Nossas Campeãs de Esgrima

As Nossas Campeãs de Esgrima

Sara Fernandes, Joana Nunes, Rita Nunes e o Mestre de Armas Tenente-Coronel Helder Alves

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esde 2011 o Colégio Militar tem sido discutido em torno do género dos seus alunos, como se essa questão fosse muito importante. Num recente filme de propaganda posto a circular pelo Ministério da Defesa, a existência de alunas no Colégio Militar foi considerada uma questão tão relevante como a construção de navios patrulha, a fusão dos hospitais militares ou as missões militares no quadro da NATO. Para a AAACM a questão importante sempre foi e continua a ser a qualidade do produto educativo e a manutenção da essência do Colégio Militar, depurada em mais de dois séculos. Reduzir o Colégio Militar à questão do género é estultícia. Poderá servir a propaganda mas não promove o bem e o futuro do Colégio Militar. A esgrima está na nossa essência. O Marechal Teixeira Rebello incluiu a esgrima no programa do Colégio Militar logo desde a fundação, reconhecendo o seu

enorme potencial formativo. Desde aí e até aos dias de hoje a esgrima é um factor distintivo do Colégio Militar e dos seus alunos. A esgrima marcou o Colégio mas o Colégio também marcou a esgrima produzindo gerações e gerações de grandes esgrimistas. O Mestre de Armas é determinante qualidade da esgrima que se pratica. Passaram pelo Colégio, como alunos ou mestres, alguns dos mais ilustres e marcantes Mestres de Armas da história da esgrima em Portugal. O representante actual dessa tradição de excelência é o Tenente-Coronel Hélder Alves, responsável, desde 2006, pelo aumento substancial da qualidade e resultados da esgrima no Colégio e também desde essa altura treinador da Sala de Armas da Associação. E aqui entram as nossas bicampeãs, Joana Nunes, Rita Nunes e Sara Fernandes que em 2013 e 2014 ganharam o campeonato nacional de espada por equipas

pela AAACM. Elas têm crescido como esgrimistas no nosso clube de esgrima, treinando semanalmente com os alunos do Colégio Militar, desde 2007. Não são, naturalmente, alunas do CM mas interagem muito positivamente com o universo do Colégio, merecendo o aplauso de todos nós. A AAACM tem promovido a esgrima feminina e vai continuar a fazê-lo, sejam ou não essas esgrimistas alunas do Colégio Militar. A esgrima está na nossa essência desde há mais de 200 anos e é essa essência que promovemos, cultivamos e protegemos. As nossas campeãs de esgrima ajudam-nos a fazê-lo.

Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho 307/1971



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3 de Março Açores, Macau, Luanda e Londres

3 de Março nos Açores

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ntigos Alunos dos Açores encontraram-se num almoço para comemorar o 3 de Março, onde não faltaram os “submarinos” e um bolo para a sobremesa decorado com uma Barretina que ostenta uma curiosidade: em vez da coroa que encima as letras CM, aparece um “açor” (Accipiter gentilis) ave de rapina que integra a bandeira da Região Autónoma dos Açores. Terá sido um devaneio artístico de quem fez esta sobremesa de excelente aspecto e, certamente, muito gostosa? Participaram nesta comemoração os AA que se encontram na foto acima. Da esquerda para a direita estão: Carlos Miguel Ribeiro Ferreira Barbosa (16/1961), Victor Manuel Patrício Corrêa Mendes (524/1963), Mário Alexandre Pousão da Costa Gatta (287/1966), Carlos Manuel Pacheco Teixeira da Silva (34/1956), Marco António Nunes Guerreiro Inácio (403/1984), Ricardo Jorge Bugalho dos Santos (292/1992), António da Câmara Homem de Noronha (72/1959) e Tiago Manuel Fernandes Garcia (84/1996).

3 de Março em Macau

Pedro Cortés (125/1985), Luís Sá Machado (384/1961), Aníbal Mesquita Borges (612/1964), Vasco Silvério Marques (404/1950), Samuel Ma (29/1995), Luís Pimenta Machado (209/1965)

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umprindo a tradição reuniram-se no Clube Militar de Macau os Antigos Alunos actualmente a viver na Região Administrativa Especial de Macau para comemorar mais um aniversário do nosso Colégio. A camaradagem que nos une e as histórias intemporais animaram o repasto que terminou com um sonoro Zacatraz. Ramalho ao Colégio Militar pelos seus 211 anos! e um Zacatraz a toda a Família Colegial.

3 de Março em Luanda A

ntigos Alunos que se encontram em Luanda, num total de trinta, comemoraram o 3 de Março num jantar que se realizou nesse dia no Clube Náutico desta cidade. Reproduzimos as fotografias que nos foram enviadas bem como a lista dos presentes nesta comemoração. Estiveram presentes os seguintes AA: António Santos Serra (95/1959), João Sanches de Miranda Mourão (552/1960), Nuno Miguel Dias Agrely Rebelo (331/1962), Luís Manuel Gomes do Prado Quintino (474/1963), João Manuel Trabulo Espinosa de Seixas (161/1964), Miguel Maria Sanches de Miranda Mourão (550/1964), Nuno António Pimentel Lopes dos Santos (298/1965), António Augusto Vieira Galvão de Melo (407/1968), Fernando José Rodrigues Rolo Duarte (475/1969), Henrique Francisco de Sousa Santos Jales Moreira (4/1972), Afonso Jorge Alves Pereira Marques (623/1972), Paulo Jorge Lemos de Araújo de Faria Barbosa (381/1973), Francisco Henrique Zagallo Paz de Saraiva (155/1974), Eurico Leonardo Chandavoine Corvacho (453/1975), Vítor Paulo Oliveira Camilo (337/1980), João Pedro Franco Pancada da Silveira (356/1980), Paulo Jorge da Silva Gonçalves Serrano (449/1983), Paulo Jorge da Silva Curto (431/1984), Diogo Rodrigues da Cruz (504/1986), João Carlos Benevenuto Falcão Correia Gonçalves (32/1987), Luís Manuel Nunes de Matos (324/1987), Miguel Rodrigues da Cruz (304/1989), Pedro Miguel Costa Santos (155/1990), Tiago João de Lima Osório Dá Mesquita (82/1991), Francisco Nuno Girão Vieira Lamy da Fontoura (94/1993), Tiago Jaime da Silva Ferreira (198/1993), André Miguel Martins Rodrigues (162/1995), Nuno Manuel das Neves Camarate Ribeiro (200/1995), Emanuel Osvaldo Francisco da Silva (408/1995).


3 de Março Açores, Macau, Luanda e Londres

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3 de Março em Londres

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oi no passado dia 15 de Março que a comunidade de Antigos Alunos a residir no Reino Unido se juntou para a celebração do “3 de Março” deste ano. Repetindo a estratégia de desfasar a data do evento relativamente às cerimónias oficiais em Lisboa, registou-se a maior participação até à data em convívios organizados em Londres (13 presenças), com camaradas provenientes de diversas localidades britânicas.

Para esta edição, foi levado a cabo um processo de selecção de local com rigoroso escrutínio, tendo a escolha recaído num restaurante na zona londrina conhecida como “Little Portugal” (desfecho previsível tendo em conta o critério único de escolha - Arroz Doce e Vinho do Porto na ementa). Tivemos assim as condições ideais para invocar histórias e episódios passados, discutir a actualidade e perspectivas futuras do nosso Colégio, resultando num convívio de enorme cordialidade e fraternidade onde se cumpriram todas as práticas que se impunham – PêGê (sem originar nota de quebra), Zacatraz (sonoro e emocional) e concluindo as actividades com um vigoroso Ramalho (agradece-se novamente ao “voluntário” para o efeito). Estiveram presentes João Gonçalo Leal Bravo da Costa (329/1985), Renato Miguel Barreiras Pereira (358/1986), Nuno Gabriel Barbosa Amado Lopes da Silva (376/1986), Tiago Simões Baleizão (200/1987), João Ricardo Rosmaninho Duarte da Silva (117/1989), Bruno Alexandre Esteves Afonso (215/1991), Ricardo Jorge Ferreira Monteiro (58/1992), Paulo Jorge Ferreira Torres (414/1992), Tiago Vaz (44/1994), João Pedro Pascoal Marvanejo Barreto (428/1994), João José Meira Dantas (53/1995), António Sardinha (513/2003), Pedro Botelho de Viveiros Cardoso (33/2005). Foi anunciada a data provável do próximo jantar – Sábado, 17 de Maio – estendendo-se o convite a todos que possam coincidir por estes lados nesse dia. Cá estaremos para vos receber com plena etiqueta britânica… “colegial”!

Registe-se um merecido destaque para o Pedro Cardoso (33/2005) que voltou a ser o “long-runner” do evento, ao deslocar-se de Glasgow (a mais de 600km) para marcar presença. Tiago Simões Baleizão 200/1987 tbaleizao@clix.pt


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Antiga Formação, actual Sede da Associação

José Alberto da Costa Matos 96/1950

Antiga Formação,

actual Sede da Associação

Possivel aspecto do que poderia ser o Santuário de Nossa Senhora da Luz e do Convento, antes do Terramoto de 1755. Desenho do autor deste texto

Breve história E

m 1814, quando o Real Colégio Militar se transferiu da Feitoria (Oeiras) para o Hospital Real de Nossa Senhora dos Prazeres, situado num dos topos da Alameda da Luz, havia um outro edifício que se destacava do lado poente no qual era ainda visível a ruína que o terramoto de 1755 lhe causara. Do lado sul estavam os restos do que fora o imponente santuário de Nossa Senhora da Luz. Seguia-se-lhe para norte o extenso piso térreo de um edifício conventual, decapita-

do dos seus dois andares superiores pelo abalo sísmico que destruíra Lisboa. Conta-se que, no lugar desse santuário, teria aparecido a um homem que fora cativo dos árabes quando da falhada conquista de Tanger em 1437, uma imagem rodeada de “luz” igual à que, no cárcere africano, lhe valera às suas súplicas de liberdade. Nasceu assim uma espontânea devoção popular pela santa e pelo local, a quem deram o nome de «Luz». Seguiu-se-lhe a cons-

trução de uma ermida que foi benzida em 1464, sendo por D. João III confiada aos cuidados de freires de Cristo que, até disporem de um convento que se iria construir, ficaram acomodados numa pequena e humilde casa local. Tal convento só veio a concretizar-se anos mais tarde e, apesar de já dispor em 1599 de algumas condições de habitabilidade, as obras de edificação prosseguiram nos anos imediatos.


Antiga Formação, actual Sede da Associação

Nos finais desse século, por necessidade de espaço para mais alunos, a caserna dos soldados em serviço no Colégio, os seus lavatórios e o refeitório por elas utilizado foram também transferidos para antigo convento, mas o ginásio e o picadeiro mudaram-se para edifícios próprios entretanto construídos no espaço interior do Colégio, No começo do séc. XX, os «quartéis velhos» passaram a dispor no topo sul de uma importante instalação cultural e educativa: um pequeno teatro, destinado a representações teatrais, conferências, concertos musicais e, mais tarde, cinema, que foi inaugurado em 2 de Março de 1903, por ocasião das comemorações do 1.º centenário do Colégio Militar, com o nome «Teatro D. Luís Filipe» (o príncipe que o rei D. Carlos, seu pai, nomeara comandante honorário do Batalhão de Alunos). É, para o grande público, o hoje conhecido como “Teatro da Luz”. Com as transformações e reorganização operadas no Colégio Militar nos anos quarenta do séc. XX, no antigo convento ficou instalada a «Formação» colegial, uma subunidade militar de apoio de serviços (reabastecimento, transportes, oficinas, manutenção de instalações), que integrava também as cavalariças e as instalações dos soldados que já ali existiam do antecedente.

©Foto Sérgio Garcia (326/1985)

O santuário definitivo (de que hoje só existe o que foi a capela mor) mandou-o construir a suas expensas a infanta D. Maria (filha do terceiro casamento de D. Manuel e irmã de D. João III), para servir de sua jazida eterna. Com a secularização das ordens militares em 1789, retiraram-se do convento da Luz os poucos freires que ainda ali residiam depois do terramoto. E o que restava do convento foi ficando ao abandono até 1851, quando aí (e no hospital) foi instalado o Depósito Geral de Cavalaria, quatro anos mais tarde mudado para Belém. Quase decorridas duas décadas, em 1873, o Colégio Militar, depois de deambular por Rilhafoles e, duas vezes, por Mafra, regressou em definitivo à Luz, ocupando então o edifício do antigo hospital, e também o outrora convento dos freires de Cristo, cujas instalações se encontravam, como se calcula, em muito mau estado (ficaram conhecidas, até há bem pouco tempo, por «quartéis velhos»). No começo dos anos noventa do séc. XIX, o Colégio Militar tinha instalados no extinto convento, além de diversas arrecadações, um picadeiro, um ginásio e a cavalariça para os corcéis utilizados na equitação dos alunos.

ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA

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A concretização de um plano geral de infra-estruturas delineado em 1978 para o Colégio Militar e concluído trinta anos depois, permitiu que o edifício dos “quartéis velhos” ficasse definitivamente devoluto no final de 2007. O convento dos freires de Cristo ficou então confiado à Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, que nele tem a sua sede e demais instalações sociais, e que vem procedendo à recuperação e adaptação do conjunto edificado, no respeito pelo património e pela sua traça arquitectónica original.

Nota da Redacção Este breve historial encontra-se impresso nas toalhas de papel utiliuzadas no Restaurante “Jardim da Luz”, divulgando assim, por quem o frequenta, um pouco da história desse local.


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Considerações sobre o golf

José Manuel de Vasconcelos Caeiro 41/1949

Considerações sobre o golfe


Considerações sobre o golf

O que é o Golfe?

É um desporto praticado ao ar livre que pode ser jogado dos 5 aos 92 anos, que consiste em movimentar uma bola parada com um taco.

Qual o objectivo do Golfe?

O objectivo do Golfe é meter a bola num buraco, situado a uma certa distância, com o menor número de pancadas. A pancada ou tacada é a acção de impulsionar a bola com o taco.

Onde se joga?

Em campos que podem ter 9, 18 ou 27 buracos. O mais corrente é o campo de 18 buracos.

O que se entende por um buraco no Golfe?

Um buraco é constituído pelo Tee de saída, Fairway, Rough, Obstáculos e Green. Tee de saída é o local onde se inicia o buraco. O jogador coloca a bola num tee (pequeno suporte para a bola) e inicia o jogo com a primeira tacada. Green é a área onde se localiza o buraco em que se pretende introduzir a bola. Fairway é o percurso mais indicado que a bola deve percorrer até ao green. Obstáculos são acidentes geográficos entre o tee de saída e o Green. Rough é tudo o que não é fairway ou obstáculo.

O que é o PAR dum buraco?

Como se pode jogar?

A pé, carregando o saco com os tacos ou levando o saco num trolley. O trolley pode ter um motor elétrico. De Buggy, carrinho expressamente desenhado para este fim. Pode ainda ter-se a ajuda de um ajudante (Caddy), que não só carrega o saco do jogador como constitui precioso auxiliar nos seus conselhos ao jogador.

Como se nivela o jogo entre jogadores de diferentes capacidades? Através do Handicap. O Handicap é o número de pancadas a mais que um jogador amador deverá dar para igualar o PAR do campo.

Como começar?

Deve iniciar-se a prática do golfe com lições de professor.

Onde começar?

Na zona de Lisboa há no Jamor uma escola de golfe da Federação Portuguesa de Golfe. (www.fpg.pt)

Quanto custa?

Um saco com meio set de tacos, em segunda mão e bom estado, pode custar cerca de 200 €. Para as lições é necessário contactar a escola pois os preços são variáveis (lições individuais ou de grupo, para jovens ou menos jovens, etc.).

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Para jogar, começar no Jamor, onde os preços para 9 buracos são muito baratos.

Quais as vantagens da prática do golfe? a) É um desporto ao ar livre, normalmente praticado em cenários de grande beleza. b) Não exige grande esforço físico, pode ser praticado até idades avançadas. c) Não há contacto físico com adversários, pelo que as lesões devido a esses contactos são inexistentes. d) As lesões são raras por não haver movimentos bruscos, mas sim baseados em movimentos em “souplesse”. e) Permite o confronto entre jogadores de níveis diferentes, devido ao sistema de handicaps. f) Pode ser praticado a sós, jogando contra o campo, individualmente contra os companheiros, ou em equipe. g) É um desporto em que a técnica e a mente são igualmente importantes, defendendo alguns que a mente é ainda mais importante que a técnica. h) Devido à possibilidade de aperfeiçoamento constante, pelo treino, lições e competição, pode tornar-se obsessivo, o que se traduz por vantagem adicional para quem necessite de descanso mental devido a vários motivos (profissionais, de saúde, familiares, económicas, etc.)

O PAR dum buraco é o número de pancadas que um profissional de golfe deve fazer para meter a bola no buraco desde o tee de saída (Profissional Average Result). Os buracos podem ser de PAR 3, 4 ou 5.

O que é o PAR dum campo?

É a soma dos PAR’s dos buracos do campo. Os campos de 18 buracos podem ser de PAR 71, 72 ou 73.

O que é necessário para jogar Golfe?

Tacos, bolas e sapatos de golf. O jogador para cada pancada escolhe o taco que entende mais adequado, conforme a distância e como a bola está. Os tacos podem ser de diferentes tipos (madeiras, ferros, wedges, putters), sendo 14 o número máximo de tacos que cada jogador pode levar consigo no seu saco.

Quantos jogadores podem sair ao mesmo tempo? 1, 2, 3 ou 4.

Nota da redacção Em 2010 a Selecção Nacional de Masters Seniores sagrou-se Campeão Europeu, em Franciacorta, Itália, campeonato disputado por 17 selecções europeias. Masters Seniores são os amadores maiores de 70 anos. A selecção portuguesa era composta por 6 elementos previamente seleccionados em provas de qualificação, e foi capitaneada pelo Carlos José Sanches Vaz Pardal (100/1947) integrando ainda o José Manuel de Vasconcelos Caeiro (41/1949). Na fotografia inserida neste texto, encontram-se Antigos Alunos pertencentes à Ordem de Mérito Cor-de-Pinhão que, em 2013, disputaram a Taça Teixeira Rebello.


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Quinta do Castelo Jantar do Oeste 2014

Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949

Quinta do Castelo

Jantar do Oeste 2014

O Anfitrião António José Azeredo Lopes (350/1954) e o Organizador Luís Fernando Bernardes dos Reis (429/1962) © Fotos Leonel Tomaz

A

hospitalidade do António José de Azeredo Lopes (350/1954) e do seu filho António de Azeredo Lopes (378/1981), mais uma vez abriu as portas da Quinta do Castelo para, calorosamente como vai sendo hábito, nos receber nas suas magnificas instalações decoradas com bom gosto e onde sobressaem variados elementos relacionados com o Colégio.

O Jantar Anual do Oeste, actualmente assim designado, começou por ser, há já bastantes anos, uma reunião de Antigos Alunos residentes nesta região. Nos seus primórdios, em cada ano tinha lugar por duas vezes, uma na Primavera/ Verão e outra no Outono/Inverno, variando o local da sua realização mas sempre em restaurantes desta zona.

Foi seu promotor e impulsionador o Vítor Manuel de Oliveira Santos (365/1949), ao tempo Delegado da AAACM para o Oeste. A breve trecho, num desses jantares, o nosso actual anfitrião teve a feliz ideia de oferecer a sua Quinta para a realização destes encontros, sendo este o quinto ano em que aí se realiza, proporcionando instalações extremamente agradáveis e onde se desfruta um ambiente mais acolhedor e mais colegial. Estes convívios da mais pura camaradagem colegial, com o decorrer do tempo, foram sendo alargados a Antigos Alunos não residentes no Oeste, mas com eles relacionados por muitos e variados motivos sendo o principal a sua condição de Menino da Luz. Actualmente e desde alguns anos, coordenam estas realizações o Luís Fernando Bernardes dos Reis (429/1962) e o Fernando Faustino Roque do Vale (518/1959), com a ajuda dos Azeredo Lopes, António José e António, e o apoio de um inestimável staff que nos bastidores tem preparado aperitivos, cozinhados e sobremesas, de excelente qualidade e que têm sempre merecido os maiores elogios de todos os que têm o privilégio de os saborear. Uma nota especial para a magnifica sopa de peixe que todos os anos deslumbra o apetite gastronómico dos presentes, com inevitáveis repetições, o que diz bem da excelente qualidade e confecção desta iguaria.


Quinta do Castelo Jantar do Oeste 2014

Nesta organização dos jantares de convívio e camaradagem têm sido convidados antigos Servidores do Colégio que, no exercício das suas funções, mais se distinguiram pela forma com as executaram e pela forma como se relacionaram com os Alunos do seu tempo. Este ano estiveram connosco o Leonel Tomaz (Sócio Honorário da AAACM) e o José Luís Pontes. Também como vai sendo hábito, esteve presente convidado pelo dono da casa, José Augusto Matias, irmão do João Carlos Romão Matias (415/1965). A boa disposição de todos tem sido uma constante ao longo do tempo e, este ano, mais uma vez ela marcou presença num ambiente de grande amizade e cordialidade. Mais uma vez se verificou a regra de ouro que a todos congrega na recordação do passado e que emana do Espírito Colegial, independentemente de perspectivas divergentes que salutarmente existem, neste magnífico encontro que reuniu 68 Camaradas de variados Cursos. O Luís Fernando Bernardes dos Reis (429/1962) em breves palavras agradeceu ao dono da casa a disponibilidade deste magnífico local para a realização do encontro, o 22º desde que foi instituído, referindo que todos os anos se levanta o problema da marcação da data e da eventual disponibilidade do dono da casa para nos acolher, terminando com um ZacatraZ pelo António José e pela Família. O António José Azeredo Lopes (350/1954) referiu o enorme gosto que tinha em nos receber na sua Quinta, dizendo que era ele que agradecia a nossa presença e realçando a camaradagem e a amizade como duas condições das mais nobres que norteiam a vivência do ser humano. O importante é sermos amigos e mantermos os espírito de entreajuda que nos caracteriza, e que estes encontros sejam úteis para fortalecer a amizade entre todos. São estas condições que prevalecem nestes nossos encontros que deseja tenham continuidade. Uma grande variedade de aperitivos e digestivos para além da excelente qualidade dos vinhos servidos durante o jantar, mais uma vez oferecidos por Antigos Alunos. Do nosso anfitrião tivemos os tinto Quinta do Castelo Lágrima 2011 (Piriquita, Caladoc e Syrah), Quinta do Castelo Lágrima 2011 e 2012 (Syrah e Piriquita) e Quinta do Castelo 2010 (Syrah). Da Companhia Agrícola do Sanguinhal, do Carlos João Fernandes Pereira da Fonseca (277/1960), foram servidos o tinto Sanguinhal Cabernet Sauvignon 2010 e o branco Sottal 2012.

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A Barretina do Anfitrião em evidência numa das meses, elementos decorativos da sala e a travessa de arroz-doce

Lista de presenças no Jantar do Oeste 2014 João Geraldes Freire (82/1945), Francisco Manuel Alcântara Mota Ferreira (307/1947), Vítor Manuel de Oliveira Santos (365/1949), Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira (332/1950),Francisco Manuel Vidigal Solano de Almeida (188/1951), João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes (245/1952), João Nuno Bellegarde Bello da Conceição (270/1953), António José de Azeredo Lopes (350/1953), Eduardo Henrique Vidigal Solano de Almeida (5/1954), Mário Quintanilha de Sampaio Nunes (110/1954), António Manuel da Costa Vieira Lisboa (237/1954), Manuel Augusto Moutinho da Silva Pereira (292/1955), Nuno Álvaro Pistacchini Calhau (320/1955), António Fernando Diniz de Ayala Boaventura (339/1955), José Manuel Vasconcelos e Silva de Magalhães (409/1955), Manuel Agostinho de Castro Freire de Menezes (423/1955), António dos Santos Castro (63/1956), Mário Carlos de Sousa Tavares (274/1956), Mário João Conde de Carvalho Pereira (275/1956), Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957), Arnaldo José Lima dos Reis Maia (242/1957), Martiniano Nunes Gonçalves (9/1958), Carlos Manuel Pires Nobre Biscaya (469/1958), João Luís Madeira de Carvalho Igreja (359/1959), Rui Manuel de Sá Leal (502/1959), Fernando Faustino Roque do Vale (518/1959), Manuel Pedro da Costa Pereira Roriz (519/1959), Joaquim José Arranhado Bação (77/1960), Gonçalo Rui Santos Pereira (221/1960), Carlos João Fernandes Pereira da Fonseca (277/1959), Luís Alexandre de Oliveira Mateus Magalhães (146/1961), Manuel Quintino Filipe da Silva (579/1961), José Francisco Machado Norton Brandão (400/1961), Artur Manuel de Spínola e Santos Pardal (587/1961), João Manuel Gomes Pereira Carmona (589/1961), João Carlos Beleza Gonçalves Vaz (132/1962), António Manuel Restani Graça Alves Moreira (206/1962), Luís Fernando Bernardes dos Reis (429/1962), André Grant Aires de Abreu (612/1962), Francisco José Petrucci Guterres da Fonseca (13/1963), José Júlio Costa de Moura Borges (74/1963), João António Feio Pereira (157/1963), Carlos Manuel Dias Lima Costa (340/1963), João Manuel Porto Silva Frade (362/1963), António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963), José Manuel Spínola Barreto Brito (539/1963), Luís Carlos Fonseca Mourão da Costa Campos (118/1964), José Nunes do Rosário e Silva Leitão (153/1964), João Manuel Simões de Carvalho (464/1964), Francisco Manuel de Carvalhosa Matos Silva (52/1965), António Alexandre Castanheira Coelho (94/1965), Luís Jorge Rodrigues Semedo de Matos (165/1965), Luís Alberto de Brito Correia de Matos (196/1965), José Eduardo Jorge Eiras Dias (393/1965), João Carlos Romão Matias (415/1965), José Manuel Pais Sampaio (483/1965), Eduardo Manuel Abreu de Oliveira Pegado (205/1969), Eduardo José de Carvalho Marques (666/1969), Sérgio Vasco Travassos Valdez Marques de Lemos (473/1970), Alberto Luís Santos (618/1970), João Paulo dos Santos Gomes (223/1981), António Mucharreira de Azeredo Lopes (378/1981), Miguel de Oliveira Baptista da Costa Freire (380/1981) e Bruno Miguel Fernandes Pires (27/1995).


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Colégio Militar - Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Colégio Militar Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito N

Imposição das insígnias

o nº 191 (Abril/Junho de 2013) da ZacatraZ, tive o grato prazer de homenagear a plêiade de Antigos Alunos do Colégio que ao longo dos anos foram agraciados com a Ordem da Torre Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Como então referi «Foram nada menos do que 163 os Antigos Alunos agraciados. Ler os nomes dos agraciados é de certa maneira rever a História de Portugal dos dois últimos séculos». Tive oportunidade de recordar então que o próprio Colégio foi também agraciado com a Ordem da Torre Espada, cujas insígnias estão patentes no seu Estandarte Nacional. Referi ainda, brevemente, a cerimónia de imposição das referidas insígnias, ocorrida em 3 de Março de 1921, no Largo da Luz, e terminei dizendo «Aqueles que tiveram o privilégio de viver essa memorável cerimónia militar de exaltação do valor do Colégio, de certeza que a guardaram nas suas memórias até ao final dos seus dias». No nº 193 (Outubro/ Dezembro de 2013) descrevi, com mágoa, aquilo que foi a jornada de luto dos Antigos Alunos protagonizada no início do presente ano lectivo, no Largo da Luz, e não pude deixar de recordar, que naquele glorioso local tinha decorrido, no longínquo ano de 1921, um dos momentos mais altos da vida do Colégio, com a imposição daquelas insígnias. Como as últimas recordações são aquelas que mais perduram nas nossas memórias, olvidemos agora a jornada de luto e voltemos ao inicio da década de vinte do século passado,


Colégio Militar - Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

quando os nossos governantes eram de outra cepa, sabiam reconhecer o real valor do Colégio e agraciavam-no com a mais alta condecoração nacional. Em 18 de Dezembro de 1920, o então Presidente da República António José de Almeida e o ministro da Guerra Major Doutor Álvaro Xavier de Castro (206/1890) assinaram o decreto de concessão do grau de Cavaleiro da Ordem da Torre Espada ao Colégio Militar. O texto deste decreto era o seguinte: «Atendendo aos valorosos serviços prestados pelo Colégio Militar ao País, que durante mais de um século tem recebido acção benéfica dos seus alunos, quer no labor árduo das sciências, das letras e da politica, quer nos embates e pelejas da guerra: Atendendo a que sob a direcção do Visconde de Nossa Senhora da Luz, antigo aluno do referido Colégio Militar, outros antigos alunos, poderosamente contribuíram para a organização e desenvolvimento material da nossa Pátria, iniciando o uso da telegrafia eléctrica, do sistema métrico, executando trabalhos de geodesia e corografia, os primeiros estudos mineralógicos, os serviços dos caminhos de ferro e das companhias das águas de Lisboa, Porto e Coimbra: Atendendo a que filhos do Colégio Militar foram Agostinho Coelho, Francisco Pereira de Miranda, Manoel Pinheiro Chagas, Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, João Andrade Corvo, José Maria Latino Coelho, Júlio César Machado, e tantos outros que tam levantadamente se assinalaram como literatos, historiadores, estadistas, professores, etc.; Atendendo a que liberais de destaque como José Maria de Serpa Pinto, Lourenço José Duarte e muitos dos combatentes da Legião Lusitana igualmente frequentaram o Colégio Militar e nele criaram esse espírito militar e liberal que os impulsionou na defesa dos seus ideais; Atendendo a que, mais recentemente, entre a plêiade dos nossos mortos na grande guerra se contam bastantes dos antigos alunos do Colégio Militar, que bem souberam honrar a Pátria e a República, tais como Óscar Monteiro Torres, o único aviador português morto em combate contra os alemães, Viriato Sertório Correia de Lacerda, que , ao cabo de encarniçada resistência em Moçambique, heroicamente morreu, encravando a sua metralhadora, de preferência a deixá-la nas mãos do inimigo, João Teixeira Pinto, Jorge de Sousa Gorgulho e Humberto de Ataíde, mortos em África na última campanha;

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Guarda de Honra de Antigos Alunos.

Atendendo a que, assim, justo é premiar no Colégio Militar as qualidades de valor, lealdade e mérito exuberantemente manifestadas por tão grande número dos seus antigos alunos, gravando impressivamente nas almas infantis daqueles que frequentam este estabelecimento, e que mais tarde serão os homens de Portugal, as tradições do passado e as aspirações do futuro, incitando-os a continuar a honrá-lo como aqueles de que se faz menção e que para o Colégio Militar ganharam a suprema venera no peito de um soldado: Como alto exemplo de culto e de respeito pelas qualidades de isenção e de sacrifício e puro patriotismo, que tem sido a norma neste estabelecimento de educação: Hei por bem decretar, sobre proposta do Ministro da Guerra, que nos termos do decreto nº 6285 de 8 de Novembro de 1919, seja conferido ao Colégio Militar o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, sendo-lhe aplicável o disposto no artigo 42º do mesmo decreto». Antes de uma apreciação geral do texto deste louvor convém responder a uma questão, que imagino se levante na mente de muitos leitores. Quem foi o Antigo Aluno, Visconde de Nossa Senhora da Luz, que guiou vários dos Antigos Alunos citados na promoção do desenvolvimento de Portugal? O referido Antigo Aluno foi o 8/1813, de seu nome Joaquim António Velez Barreiros. Foi um homem notável. Nasceu em S. Julião da Barra a 25 de Novembro de 1802 e faleceu em Lisboa a 1 de Outubro de 1865. Em Dezembro de 1820 inicia a sua carreira militar com alferes. Abraçando a causa liberal, foi reunir-se aos

defensores da ilha Terceira, vindo a desembarcar em 1830, com o exército liberal, nas praias do Mindelo, ao norte do Porto. Distinguiu-se como combatente em várias ocasiões, nomeadamente durante o cerco do Porto, tendo recebido rasgado elogio do General Saldanha. Em 1837, comissionado do nosso governo junto do general em chefe do exército de Isabel II, em Espanha, distingue-se de novo em combate contra os carlistas, é ferido e recebe numerosos louvores de generais espanhóis. Em 1843, de volta a Portugal, toma posse da Inspecção Geral de Obras Públicas. Em 1846 retoma a sua carreira militar, sendo agraciado no ano seguinte com o título de barão. Em 1847 é encarregado da pasta dos Negócios Estrangeiros, cargo que ocupa de Agosto a Dezembro. Depois da regeneração foi ministro interino do Reino, Estrangeiros e Marinha. Mais tarde foi Chefe do Estado Maior do Comando em Chefe do Exército e Director Geral de Obras Públicas. Em 1853 foi eleito Par do Reino e em 1854 é elevado ao título de Visconde de Nossa Senhora da Luz. Entre outras, foi agraciado com as veneras de comendador das ordens de Nossa Senhora da Conceição e da Torre Espada e da ordem de S. Fernando em Espanha e grande oficial da Legião de Honra de França. Todo o texto do louvor acima transcrito, é uma ode ao valor do Colégio Militar, donde me permito destacar algumas particularidades dignas de nota. Este é o único texto que conheço onde os Antigos Alunos são designados por «filhos do Colégio Militar» e se indica que foram eles que ganharam para o Colégio Militar a «suprema venera no peito de um soldado», a Ordem da Torre e Espada. Este é um texto onde se


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Colégio Militar - Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

Visconde de Nossa Senhora da Luz (8/1813)

de, em 1926, seria ajardinado. Na altura era um terreiro que servia de palco aos actos festivos do Colégio e que era também usado para a instrução e prática dos exercícios militares dos alunos. O acto de imposição da condecoração foi um acto de grande elevação e foi magistralmente recordado no dia 3 de Março de 1967, pelo então professor de português do Colégio e notável pedagogo Dr. Júlio Martins, que mais tarde viria a ser nomeado Sócio Honorário da nossa Associação, em Assembleia Geral de 21 de Março de 1985. Relembrando o evento, disse então o Dr. Júlio Martins: «Nesse dia, o Batalhão Colegial viera aqui formar alguns minutos antes das 15 horas. Comandava-o o aluno nº 356, Paulo Emílio de Brito Aranha, espírito culto, empreendedor e de rara cintilância, que deixou, com sua efémera vida, o nome bem assinalado, mesmo aqui no Colégio, onde, por sua iniciativa, se fundou, em Maio daquele mesmo ano, o jornal «O Colégio Militar», que ainda perdura. Dirigia o Colégio o General Bernardo de Faria, nobilíssima figura Militar e de Educador, a cuja memória os antigos alunos prestaram justa homenagem, ao descerrarem há 17 anos (1950), o seu busto, no átrio do edifício, bem perto do busto do fundador. O Subdirector era o Coronel Octávio Dias, outra notável figura de Educador, grande

amigo do Colégio, onde sempre o vi presente nos dias festivos, a bem dizer, até quase à hora do seu passamento. Numa velha fotografia do acto da condecoração, recordo-me de ter visto mais dois oficiais do Colégio: o Secretário, Coronel Mousinho de Albuquerque, e o Ajudante de Campo do General Director, Sr. Capitão Sardinha da Cunha (183/1896), único sobrevivente do grupo, a quem me permito apresentar as minhas saudações, como um dos mais antigos ex-alunos que presentemente é. Nesse mesmo dia o Batalhão Colegial honrava-se com a presença de outra formatura neste mesmo local; a dos antigos alunos, que constituíam a Guarda de Honra à Bandeira, sob o comando de duas notáveis figuras militares: os Generais Gomes da Costa (66/1873) e Alberto da Silveira (121/1870). Às 15 horas chegava o Ministro da Guerra, Major Dr. Álvaro de Castro (206/1890) que era também antigo aluno. Após os cumprimentos e a revista às duas formaturas o aluno nº 66, Azevedo Coutinho, porta-bandeira, destaca-se do Batalhão avançando alguns passos. Chegara o grande momento ansiosamente aguardado: momento em que o ministro coloca as insígnias na Bandeira e, acto contínuo, beija comovida e respeitosamente o alto símbolo da Pátria confiado à guarda dos alunos

realça que foi no Colégio que se criou o espírito militar e liberal que impulsiona os Alunos e Antigos Alunos na defesa dos seus ideais, ou seja, reconhece-se que, militares ou civis, pautamos o nosso comportamento pelas virtudes militares, que nos inculcaram no Colégio, que temos um espírito aberto e liberal e que nos guiamos por ideais, o que mesmo naquele tempo já não era coisa pouca. Finalmente sublinha este texto a norma seguida no Colégio de culto e de respeito pela isenção de carácter, pelo espírito de sacrifício e pelo patriotismo mais puro. Era difícil encontrar um texto mais adequado à circunstância. Quem o escreveu sabia do que falava. O referido Decreto-Lei de 18/12/1920 foi publicado na Ordem do Exército nº 23, 2ª Série, de 31/12/1920 e foi transcrito na Ordem Colegial nº 14, de 14/1/1921. Na ordem colegial nº 60, de 1/3/1921, foi dada a informação que as insígnias da Ordem da Torre e Espada seriam entregues solenemente ao Colégio Militar no dia 3 de Março, dia do seu 118º aniversário. A entrega das insígnias seria efectuada no Largo da Luz, que só anos mais tar-

Confraternização de Antigos Alunos


O Colégio e a Instrução Primária Toca a marchar!

do Colégio. Rompem os primeiros acordes da Portuguesa. Estrondeiam no ar as 21 salvas da ordenança. A emoção transparece no rosto de todos os presentes. E, no depoimento de um cronista da época, havia lágrimas nos olhos dos velhos Generais e dos novéis Alferes. A emoção sobe de ponto, atinge o auge, no momento em que o General Gomes da Costa, por impulso irresistível, ergue ao alto, nos seus vigorosos braços um dos mais pequenos rapazes do Batalhão e o beija também comovidamente. Beijo que selava duas gerações: a daqueles que se haviam coberto de glória nos campos de batalha da Flandres e do Ultramar Português e a daqueles que no Colégio Militar, perante tão altos exemplos, sentiam-se dilatar-se-lhes o peito na ânsia de um dia poderem igualmente servir a Pátria, com a mesma galhardia, a mesma abnegação. Desfila o Batalhão Colegial, precedido da Guarda de Honra dos Antigos Alunos. Espadas desembainhadas, peitos constelados, desfilam oficiais do Exército e da Marinha, grandes figuras militares, venerandos heróis das campanhas da ocupação e da Grande Guerra em África e em França! Soldados desse Exército de Terra e Mar, que era bem, como o é hoje! - o espelho da alma da Nação! Vede bem, que memórias do passado nos evoca este local, à sombra do Colégio Militar. Nas horas retentivas, continuam a desfilar os vultos heróicos daqueles que vos precederam. E aos nossos ouvidos parecem ecoar, ainda, as palavras de fé aqui tantas vezes pronunciadas, na exaltação do Colégio Militar, das suas virtudes, das suas tradições, da sua mística!...» É de facto um lenitivo, para qualquer um de nós, a leitura desta magistral evocação daquela memorável e gloriosa jornada do 3 de Março de 1921. Esperemos poder ainda vir a viver outras jornadas de exaltação do valor do Colégio, sendo dignos da herança que nos deixaram os «filhos do Colégio» que nos antecederam.

Nota Final A Ordem de Serviço nº 85, de 26/3/1921, informa que «por amável aquiescência da Empresa do Salão Olímpia, os Alunos presentes no Colégio devem assistir amanhã no mesmo Salão, a uma sessão cinematográfica em que se exibe o filme «Festa da Condecoração da Bandeira do Colégio Militar». Onde estará esse filme? O presente artigo baseou-se na «História do Colégio Militar» do José Alberto da Costa Matos (96/1950) e em informação complementar por ele facultada, que aqui agradecemos.

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O Colégio e a Instrução Primária R

eferindo-se ao número especial da ZacatraZ, dedicado à Instrução Primária no Colégio, António Francisco Martins Marquilhas (67/1944), disse: Os meus netos já são grandes... já não podem usufruir desta oportunidade... mas se vier, no meu tempo de andar por cá a ter bisnetos, meu Deus, me dê saúde para os ver a sorrir felizes como estes. Leiam-lhe bem nos olhos o que lhes vai na alma.

Toca a marchar! N

os últimos anos tenho presenciado os desfiles e formaturas do Colégio e tem-me causado uma impressão estranha a maneira de marchar e a atitude nas formaturas. De uma maneira geral a apresentação é impecável, mau grado as fardas mal feitas, mas o que choca os mais antigos como eu é a marcha a bater com os pés no chão, a fazer lembrar a Coreia do Norte. Não está nos regulamentos nem na tradição militar portuguesa esta maneira de marchar. Muito pelo contrário, no Colégio Militar sempre houve a preocupação de não bater com os pés, pois isso poderia confundir-nos com outros estabelecimentos de ensino ou com a cavalaria (a cavalo, bem entendido). O nosso marchar era natural, elegante e silencioso. As nossas botas tinham tacão de borracha, não faziam ruído. Na época havia muitos desfiles e cerimónias militares; era frequente ouvir dizer que os Pupilos do Exército marchavam melhor do que o Colégio porque o batimento no chão tinha um belo efeito. Não nos comovemos, continuámos sempre com o nosso estilo. Entretanto algo terá acontecido para se operar esta mudança para a situação actual. Importaram costumes estranhos que se adaptam mal a soldadinhos de pequena estatura e, muito menos agora, a meninas. O que é que se vê actualmente? Os alunos muito contraídos numa marcha deselegante, esforçada e antinatural, que não se pode aguentar nos longos percursos. Não é bonito de ver. Do mesmo modo, a atitude dos alunos na posição de sentido é também estranhíssima, de nariz no ar a olhar para o céu. De onde veio isto? Recordo com saudade o capitão

Simões, na instrução militar a dizer: ”Em sentido não mexe nem que venha o raio que o parta. Olhar para o infinito”. Só que o infinito era em frente e não lá em cima. É certo que tudo muda, e como bem sabemos no Colégio, nem sempre para melhor. As pessoas passam, trazem ideias, modas, inventam tradições e o que fica é o substrato de tudo isso. Mas é preciso aplicar um filtro de vez em quando, para retirar as impurezas. Não estará na altura de pôr isto no são? João Nuno Ribeiro Ferreira Barbosa 16/1956


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Uma Escola de Virtudes

General Gabriel Augusto do Espírito Santo

Uma Escola de Virtudes Nota da Redacção Texto transcrito da Revista Militar Nº 2/3, Fevereiro/Março de 2003, dedicada ao bicentenário do nosso Colégio, por amável deferência da Direcção desta publicação, de grandes méritos consagrados desde sempre ao longo tempo. Aqui registamos o nosso agradecimento pela disponibilidade sempre manifestada no apoio solicitado pela ZacatraZ. Este texto, publicado há cerca de treze anos, tem toda a actualidade na vivência actual.

A

Revista Militar associa-se às comemorações dos 200 anos do Colégio Militar dedicando-lhe este seu número, que inclui artigos sobre o relacionamento entre estas duas Instituições durante o longo percurso das suas existências. É uma Homenagem singela, que pretende lembrar, em tempos que tantos pretendem caracterizar como de crise de virtudes, como as divisas de estas duas Instituições, UM POR TODOS TODOS POR UM (Colégio Militar) e PRÓ PÁTRIA (Revista Militar) contribuíram para incentivar valores, conceitos e Virtudes Militares, que constituem alicerce da Instituição Militar. Quando das comemorações dos 175 anos do Colégio (1978), o Nº 3 (Março) da Revista incluiu colaborações sobre a efeméride. Desejamos destacar parte do Editorial do então Presidente da Direcção, General Luís da Câmara Pina: “O Colégio não criou, nem cria, uma casta. A sua missão projecta-se em escala nacional. Disciplina, sentido da responsabilidade, valor, lealdade, competência, dedicação, ideal – são virtudes que inculca. Coragem, autoridade no Comando, abnegação – é o comportamento que estimula. Um só rosto e uma só fé – é o que exige. O seu mais alto objectivo de ensino, a sua ambição, é entregar ao País homens capa-

zes de o servirem com a totalidade das suas forças e dos seus dons. Homens de carácter. Portugueses.” Desde o primeiro dia em que dormimos numa caserna e até hoje, tivemos o privilégio de ter por Amigos e Camaradas de Armas, nos três Ramos das Forças Armadas, ex-Alunos do Colégio Militar. Percorremos, juntos, um caminho de vida militar que não foi fácil. Que muito exigiu de todos e que pôs à prova todas aquelas Virtudes de que falava o General Câmara Pina. Vi sempre os ex-Alunos do Colégio Militar na primeira linha de defesa dos princípios e Virtudes que fazem da Instituição Militar uma singularidade na Nação. Que não pretende ser diferente, mas que deseja, quando se fala de Pátria e Valores, ser ouvida. A Nação, diz-se, está a atravessar um mau momento da sua História. Aparentemente um pouco perdidos, todos nós, vamos esquecendo que são virtudes dizer a verdade, sermos solidários, termos orgulho no que somos, assumirmos responsabilidades, cumprir e fazer cumprir ordens. Fala-se em crises, entre elas a do ensino, e na falta de liderança. Longe de nós defender modelos de sociedades militarizadas. Até porque entendemos que o assumir da condição militar tem de ser

um acto voluntário, que exige muito do sentido de serviço público. Mas, também, longe de nós apoiar a ideia que não exija da escola o ensino de valores, a prática de Virtudes e o ensino da responsabilidade, que traz consigo a liderança. O Colégio Militar foi, é, e será, uma escola de Virtudes.


Lá vem o Colégio Militar, que tem muito que contar

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João José Brandão Ferreira TCor/PilAv (ref)

Lá vem o Colégio Militar,

que tem muito que contar

Artigo publicado no jornal PÚBLICO no dia 11 de Março de 2014, aqui reproduzido por amável deferência do seu Autor.

Não há razão minimamente válida para encerrar o Instituto de Odivelas.

E

ncerraram-se com um desfile militar, Avenida da Liberdade abaixo (já só falta proibir o desfile…), e com uma missa em São Domingos, as comemorações do 211.º aniversário do Colégio Militar (CM). 1 É um bálsamo para a alma, um retempero para o espírito e um exemplo para o país assistir a tais eventos desta escola centenária que, juntamente com o Instituto de Odivelas (IO) e os Pupilos do Exército, compõe a trilogia dos "colégios militares" portugueses. E mais se nota se tivermos em conta o extenso desastre que, há décadas, percorre o nosso ensino secundário … Naqueles se forma, tanto quanto se consegue, um escol de futuros cidadãos, portugueses de corpo inteiro. Pelo menos são-lhe dadas as ferramentas, a instrução e a educação, para bem singrarem na vida. Está, depois, ao nível de cada um aproveitá-las da melhor maneira. A missa que se segue ao desfile e coloca um ponto final nas cerimónias, é um coroar de excelência. E creio que representa, salvo melhor opinião, a mais bela cerimónia religiosa, se quisermos, militar-religiosa, de quantas em Portugal se realizam. Num Portugal trucidado pela baixa política e pela corrupção, ferido gravemente na sua soberania e desfibrado de carácter, a afirmação de tal colégio (de tais colégios!) é uma centelha de esperança no porvir da nação.

Por isso mal se entende a sanha persecutória, mascarada de acção reformadora, a que se tem assistido nos últimos anos e que culminou no expoente de iniquidade do actual consulado governativo. Não há razão minimamente válida para encerrar o IO (uma escola com uma média escolar de 16 valores!), tão-pouco para qualquer internato misto, nem sequer para uma existência simultânea de internato e externato, só para ficarmos por aqui. E tudo ainda se torna mais mesquinho, por exemplo, castigar oficiais pelo seu bom desempenho, como foi o caso do anterior director do IO, afastado do cargo e vetado, posteriormente, para a função de adido militar em Madrid, o que constituiu, em simultâneo, uma afronta à chefia do Exército. É um ministro “pequenino” e arrivista que protagonizou tudo isto que teve o despautério de querer visitar o CM na antevéspera do desfile. Que foi lá fazer quando as cerimónias militares oficiais – ou seja, o dia da unidade – se realizaram no dia seguinte? Se queria dar uma de autoridade, por que só confirmou a sua presença às 23:00 do dia anterior? Teve medo que lhe fizessem uma boiada?2 Se queria enfrentar algo com destemor, por que não o fez às claras? Por que não foi presidir ao desfile, se por acaso lhe passou pela cabeça dar relevância ao evento? Por ser domingo e não lhe dar jeito? Presumo que tenha a consciência clara de que

não é bem visto nem bem-vindo. E a hierarquia apenas o deve tolerar por dever de ofício. Já agora, sempre lhe sugiro que, a querer estar presente em algo, escolha a Santa Missa, onde, estou certo, todos o receberiam em silêncio compungido, mas por respeito ao acto e por caridade cristã, de que bem aparenta precisar. E podia ser que o Espírito Santo o iluminasse, porque, sendo quem É, consegue obrar em todos. Teria ainda oportunidade para fazer algum acto de contrição, caso a sua consciência já o tenha preparado para tal. Até lá, vamos ter que rezar por si, para ver se atina. Pedimos, por outro lado, ao novel comandante do Exército, para ver se inocula algum bom senso e espírito de bem servir em tão desajeitada personagem, relativamente ao cargo que exerce, já que quem o precedeu não o quis, soube ou conseguiu fazer. Meu caro Jerónimo, põe os olhos nos bons que te precederam (e só nesses) e tenta. Eu sei que é difícil, mas tenta. 1 Fundado em 3 de Março de 1803, uma das mais antigas instituições do país, a par das Misericórdias (1498) – que continuam a fazer aquilo que o Estado nunca conseguiu – e do Supremo Tribunal Militar (1641), lamentavelmente extinto, há meia dúzia de anos. 2 Obrigou, inclusive, o CEME a abandonar um Conselho de Chefes para o ir receber.


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Ainda o discurso do Comandante do Batalhão A Inflação

Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Ainda o discurso do Comandante do Batalhão

A Inflação C

onforme escrevi no artigo «Jornada de Luto», publicado no nº 193, de Outubro/Dezembro de 2013, desta nossa revista, relativo ao dia da inauguração solene do ano lectivo, o desgosto que expressámos nesse dia «… só foi amenizado mais tarde, quando conhecemos o teor do discurso proferido pelo Aluno Comandante do Batalhão nos Claustros. Disse aquilo que alguns generais deveriam ter dito, mas que, tanto quanto sabemos, nunca disseram. Deu a todos uma lição». Aquele magnifico discurso do Senhor Aluno Comandante do Batalhão foi publicado, na íntegra, no Editorial do referido número da nossa revista, para que todos os associados o pudessem ler e dar-lhe o seu devido valor. Tal discurso foi um dos elementos que esteve por trás da alocução do Presidente da Associação ao Batalhão Colegial nas comemorações do último aniversário do nosso Colégio. A visita que fiz ao Colégio no âmbito das comemorações referidas e o desfile do Batalhão na Avenida, a que assisti no dia seguinte, levam-me de novo ao discurso do Comandante do Batalhão. A dado passo da sua alocução, o Comandante do Batalhão pôs o dedo na ferida, que tem sido a modesta posição do Colégio no «ranking» nacional dos estabelecimentos de ensino liceal (ainda não sei dizer isto em eduquês). Para que o Comandante do Batalhão considerasse seu dever dizer aquilo que disse, é porque teve a plena consciência de se estar perante uma situação tão grave, que o obrigava a interpelar tanto os professores como os alunos. Aos professores disse, sem rodeios, o seguinte: «Professores, da vossa parte esperamos total disponibilidade e máximo empenho porque sois

um pilar fundamental na aprendizagem dos nossos alunos. Um bom professor não é aquele que se alheia das suas responsabilidades e que permite aos alunos que tudo seja feito, só para cair nas boas graças destes. Um bom professor é aquele que exige o máximo dos seus alunos e não permite falhas por desleixo, mesmos que isso lhe custe uma reputação menos boa perante os discípulos. Empenho e dedicação é tudo o que vos peço porque esta Casa também é vossa e cabe-nos a todos trabalhar por ela». Com os seus camaradas alunos não foi mais brando, tendo-lhes dito o seguinte: «Nós somos a razão de ser desta Casa e não temos estado à altura das circunstâncias. Os resultados escolares dos últimos anos não são admissíveis numa escola que se diz de excelência. É tempo de inverter a postura de ociosidade que se tem vindo a generalizar nos últimos anos e de nos aplicarmos nos estudos e nos resultados, já que eles são para a sociedade, o espelho desta Casa e deles depende muito a entrada de novos alunos». É de facto extraordinário um aluno ter de se dirigir nestes termos aos seus professores e condiscípulos, para lhes dizer que é preciso acabar de uma vez por todas com o facilitismo e que têm todos de se mobilizar para, em conjunto, reporem o Colégio no lugar que lhe compete no panorama do ensino liceal e donde nunca deveria ter saído. Obrigado pela tua desassombrada atitude, caro Comandante do Batalhão. Ao entrar no Colégio no passado dia 8 de Março para assistir às cerimónias comemorativas do seu 211º aniversário, fi-lo através do átrio principal, para desfrutar do ambiente único que aí se res-

pira, com o busto do Fundador e todas as lápides que nos recordam os Antigos Alunos, que ao longo dos anos deram a sua vida pela Pátria (do meu curso foram três). Ao deter-me no átrio não pude deixar de observar o Quadro de Honra aí exposto, destinado a patentear os nomes dos alunos que, atingindo elevadas classificações académicas, se considera deverem ser apontados aos seus condiscípulos como exemplos a seguir. O que observei deixou-me perplexo. Só do 5ºano (antigo 1ºano) havia 33 alunos no Quadro de Honra. No meu tempo o total de Alunos de todos os anos que estariam no Quadro de Honra não atingiria um número tão elevado. Quando no ano lectivo de 1952/1953 foi criado o Quadro de Honra da «era moderna» do Colégio, as condições de acesso ao mesmo consistiam em ter um comportamento não inferior a Bom, uma média geral não inferior a catorze valores e nenhuma classificação inferior a dez valores. A título de curiosidade, indico de seguida os alunos que no final do 1º período desse ano lectivo tiveram em cada ano as melhores classificações. 1º Ano / 132, Artur Bentes Penedo / 14,8 valores 2º Ano / 67, António Franco Preto / 14,4 valores 3ºAno / 372, José Gonçalves Dias / 14,2 valores 4ºAno / 285, Luís Mendes de Almeida / 16,2 valores 5º Ano / 195 Armando Rocha Trindade / 16,1 valores 6ºAno / 25 Ricardo Bayão Horta / 15,3 valores 7º Ano / 20, Eduardo Martins Zúquete / 15,6 valores

O 20, Eduardo Zúquete era naturalmente o Comandante do Batalhão nesse ano. Dos restantes Alunos constantes do quadro, quatro acabaram por ser também mais tarde Comandantes de


Ainda o discurso do Comandante do Batalhão A Inflação

Batalhão. As médias que apresentavam, vistas à luz do actual panorama do ensino, eram modestas, pois agora, com a INFLAÇÃO reinante no ensino, classificações de 18, 19 e 20 é o que por aí não falta. No entanto, todos eles foram Alunos brilhantes, que mais tarde, ao longo das suas vidas profissionais se prestigiaram a si próprios e ao Colégio. O que agora observei leva à conclusão que a inclusão de um aluno no Quadro de Honra passou a ser um acontecimento banal, tendo perdido o valor que dantes lhe era atribuído. É um caso típico de INFLAÇÃO e como é sabido tal situação não é saudável para nenhuma economia. O desfile do passado dia 9 de Março só veio reforçar a impressão com que tinha ficado na véspera, mas agora tendo como motivo de reflexão as medalhas. Quando frequentei o Colégio, as medalhas era algo a que muitos aspiravam, mas que poucos atingiam. Isto tanto para as medalhas das «teóricas» (aplicação literária) como das «práticas» (aptidão militar e física). Lembro-me bem que no meu ano de finalista os quatro Comandantes de Companhia tinham no seu conjunto uma meia dúzia de medalhas. Agora é o que se vê, com os peitos dos Alunos mais velhos recamados de medalhas e alguns dos peitos com profusão de «dourados», ou seja, com várias medalhas de ouro. No meu tempo, receber uma medalha de ouro era algo excepcional e quase que reservado apenas àqueles Alunos que no ano final do seu curso ascendiam a Comandantes de Batalhão. Também na atribuição das medalhas se assiste a uma INFLAÇÃO. Trata-se de uma vulgarização a que há que pôr cobro rapidamente, para que as medalhas voltem a ter valor e para que a sua atribuição retome credibilidade e o significado de outros tempos. Tendo ficado a pensar naquilo que vi, resolvi aprofundar um pouco a questão e saber qual o número total de Alunos no Quadro de Honra e qual a sua percentagem em relação ao total do número de Alunos do Batalhão. Consegui apurar que o número total de Alunos no Quadro de Honra relativo ao 1º período do presente ano lectivo foi de 117. Havendo cerca de 350 Alunos no Batalhão, a percentagem apurada foi de 33%, ou seja, cerca de um terço dos Alunos estão no Quadro de Honra. Esta situação poderia levar a concluir que estaríamos ou perante um universo de Alunos sobredotados, ou perante um Colégio com um ensino de excelência. Nenhum destes casos se verifica. Os Alunos do Colégio são jovens normais e o ensino está longe de ser de excelência, como os resultados obtidos a nível nacional demonstram e como o próprio Aluno Comandante do Batalhão reconhece.

Quanto às medalhas, resolvi comparar o que se passou este ano no Colégio e o que aí se passou quando se iniciou o ano em que fui finalista. Verifiquei que este ano foram distribuídas 161 medalhas, para uma população colegial de cerca de 350 Alunos, o que dá uma relação geral de uma medalha por cada 2,2 Alunos. No inicio do meu ano de finalista foram distribuídas 65 medalhas, para uma população colegial de 553 Alunos. O que dá uma relação geral de uma medalha por cada 8,5 Alunos. Os números falam por si. A desvalorização das medalhas não surgiu agora subitamente, foi ocorrendo paulatinamente ao longo do tempo. Apurei, a título de exemplo, que a relação geral ocorrente no ano lectivo de 1984/1985 foi de uma medalha por cada 5,0 Alunos. Do exposto se infere a necessidade que há de alterar a presente situação. A situação actual é altamente prejudicial para os Alunos, levando-os a pensar que a vida é feita de facilidades. Está-se a prestar um mau serviço aos Alunos, que dele serão as principais vítimas. Concluídos os seus cursos no Colégio, o que os espera cá fora não é um «mar de rosas». Se é que ainda há lugares garantidos, eles destinam-se apenas aos melhores. O Aluno Comandante do Batalhão deu um grito de angústia, que não pode ficar sem resposta adequada. A resposta não é complicada. Ele próprio se encarregou de a apontar, de forma simples, no seu discurso: exige-se empenho e dedicação aos Professores e aplicação nos estudos aos Alunos. A montante, há porém uma questão fulcral, que consiste na cuidada selecção de Professores para o Colégio. Esta questão é do foro da tutela do Colégio, que tem de lhe dar a devida atenção, sem o que a melhoria da situação ficará comprometida. Aqui chegados, os Antigos Alunos poderão perguntar. - O que podemos nós fazer? A resposta a esta pergunta é clara. Os Antigos Alunos poderão actuar, como um colectivo a nível da Associação e também a nível individual. A resposta a nível da Associação está exposta na parte do programa da Direcção eleita relativa ao Apoio ao Colégio, onde se indica que um dos seus objectivos é a promoção de um funcionamento eficaz e da Excelência Académica do Colégio. O que compete aos Antigos Alunos a nível individual, será dar apoio moral aos Alunos, sempre que com eles contactem, para que não lhes falte ânimo nos seus estudos e para que tomem como modelos os Antigos Alunos que mais se distinguiram ao longo dos últimos dois séculos nos mais diversos domínios da vida nacional. Temos de dizer aos Alunos que nada se consegue sem trabalho. Temos de os levar a procurar peque-

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nas conquistas diárias, que todas somadas dão as grandes conquistas. Temos de lhes dizer que devem entregar-se completamente ao cumprimento dos seus deveres, transmitindo-lhes o grande ensinamento do Fundador do Colégio, que escreveu: «Fazer as coisas completamente, ou não as empreender»


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Bicentenário do Colégio Militar

Coronel Carlos Gomes Bessa *

Notícias do Mundo Militar

Bicentenário do Colégio Militar Imagens de Projecção Externa de uma Escola singular Nota da Redacção Texto transcrito da Revista Militar Nº 2/3, Fevereiro/Março de 2003, dedicada ao bicentenário do nosso Colégio, por amável deferência da Direcção desta publicação, de grandes méritos consagrados desde sempre ao longo tempo. Aqui registamos o nosso agradecimento pela disponibilidade sempre manifestada no apoio solicitado pela ZacatraZ.

A

o passarem duzentos anos sobre a fundação do Colégio da Feitoria, a Revista Militar dedica um número todo a render preito à Escola ímpar dos “Meninos da Luz”. Assim dá testemunho das profundas ligações estruturais e morais mútuas e da influência que, de modos diferentes entre si, mas de forma relevante, têm exercido para valorização em Portugal da Instituição Militar. Referir-se-á que, aqui na Revista, um “Menino da Luz” há vinte e cinco anos, sentindo a premonição de não vir a poder festejar a presente efeméride por não pertencer já ao número dos vivos, pretendeu antecipar-se. Passava-se então apenas o 175º Aniversário do Colégio Militar e a comemoração dessa data normalmente é mais discreta, quando noutros casos, embora não neste, fica mesmo ignorada habitualmente por grande número de instituições. Mas o ex-aluno do Colégio Militar nº 239/1922 não quis em 1978 fazer as coisas por

A fundação do Real Colégio da Feitoria, completam-se agora 200 anos, representa um acontecimento tão assinalável e constitui, além disso, a razão de ser e o ponto de partida de tudo quanto se possa e deva dizer acerca dos méritos formativos de uma Escola como o Colégio Militar. pouco, e propôs, na sua qualidade de Director-Administrador da Revista Militar, obtendo pronto, unânime e caloroso apoio da Direcção, que se lhe dedicasse o número de Março todo, e que nele só depusessem alunos do Colégio. Uma única, mas parcimoniosa excepção foi concedida ao Presidente da Direcção da Revista, o General Câmara Pina, para, em nome dela, formular ao Colégio Militar uma saudação breve, se bem que expressiva. A pretensão viu-se favorecida pela circunstância de o Chefe do Estado-Maior do Exército e o próprio Director do Colégio, serem ex-alunos e se pretender obter de ambos transmissões de Mensagens

suas. Nestes termos, o General Fernando Louro de Sousa, pois é a ele que nos estamos referindo, tocou a reunir os ex-alunos e sócios da Revista, e não se poupou a canseiras e a recolhas de documentação valiosas, pelo que o número veio a sair interessante compêndio de depoimentos e informações do grande significado e interesse antológico. Afigura-se-nos justo trazer agora o ex-aluno Louro de Sousa a também responder à chamada, se bem que apenas simbolicamente, a uma formatura a que tanto gostaria de estar presente, lembrando a sua operosa dedicação e amor compartilhados ao Colégio e à Revista

* Coronel de Artilharia e do Antigo Corpo de Estado-Maior do Exército. Sócio Efectivo da Revista Militar, de que foi Secretário (1976) e Director-Gerente (1977-1995).


Bicentenário do Colégio Militar

...confere valor de tal modo incomparável que o sucessor de Teixeira Rebelo na Direcção do denominado Real Colégio Militar, o coronel Cândido José Xavier, no enaltecimento da sua memória e da sua obra, conferiu primazia ao distinguir a tão destacado serviço entre a relevância dos demais que se lhe ficaram devendo. Militar, a quem prestou relevantíssimos serviços e contribuiu para evitar a esta os danos dos ventos ciclónicos revolucionários e legar-lhe preciosos dados que reunia mais do que ninguém, relativos à nossa história, aos dilemas da nossa actividade e à evolução que tiveram, bem como a registos abundantes de estatísticas e referências sobre a nossa vida institucional. Saber-se lembrado representaria para ele grata satisfação e é bem que o façamos, pois para que os actuais sócios, sobretudo os mais novos, não esqueçam os numerosos serviços e motivos porque isso lhe é substancialmente devido pela Revista e, naturalmente, por quantos nos termos estatutários são seus proprietários vitalícios. A fundação do Real Colégio da Feitoria, completam-se agora 200 anos, representa um acontecimento tão assinalável e constitui, além disso, a razão de ser e o ponto de partida de tudo quanto se possa e deva dizer acerca dos méritos formativos de uma Escola como o Colégio Militar. Parece-nos indispensável, portanto, determo-nos em alguns comentários sobre o tempo, o modo e o significado de como se processou esse acto original. Ocorreu em tempo agitado, antecedido de pouco pela campanha do Russilhão, onde o Fundador actuou com raro valor e valentia, e pela infausta guerra das Laranjas em 1801 e, em contrapartida, já se faziam temer e avizinhar as violências e tragédias das Invasões Francesas. Em 1802 o então coronel António Teixeira Rebelo foi colocado como Comandante no Regimento de Artilharia da Corte, sedeado na Feitoria ali ao lado de S. Julião da Barra. O patriótico e voluntário combatente, que se oferecera aos 14 anos para lutar pelo seu País, era também homem sensível e de cultura. Não obstante as preocupações, ou até devido a elas, desde logo se empenhou em criar uma obra sem precedentes, em pôr em prática o que nunca antes fora empreendido, a que deu o nome de Colégio de Educação Militar de Artilharia da Corte, destinado aos filhos dos oficiais do Regimento, mas sem deixar de acolher alguns outros alunos mais.

Tal significa que o Colégio, para nascer, teve de vencer dificuldades enormes, dadas as demais obrigações dos professores, que eram os seus oficiais, sobre quem pesavam graves responsabilidades militares. Tornou-se na nossa história caso raro, senão único e inovador, o de se criar um estabelecimento de ensino a nível interno regimental. E não se pode deixar de recordar também que, mal acabado de fundar, pouquíssimo tempo decorreu para alguns dos seus alunos sentirem cair sobre eles a obrigação de lutar contra os invasores franceses de 1807 de armas na mão, distinguindo-se pelos conhecimentos militares e pelo destemor e combatividade. Tão notável arranque, dada a escassez de apetrechos de um Regimento para suportar responsabilidades desse vulto e natureza, confere valor de tal modo incomparável que o sucessor de Teixeira Rebelo na Direcção do denominado Real Colégio Militar, o coronel Cândido José Xavier, no enaltecimento da sua memória e da sua obra, conferiu primazia ao distinguir a tão destacado serviço entre a relevância dos demais que se lhe ficaram devendo. Afirmou, lapidar e consensualmente, que, acima do muito que na sua vida realizou, se situava o facto de nada ter impedido que Teixeira Rebelo, “tendo concebido desde 1802 a ideia da criação do Colégio da Feitoria, executasse o plano mais digno do seu patriotismo, e lançasse pelo meio dele a base mais sólida da sua Glória.” A tal respeito não se deve salientar apenas o valor do esforço acrescentado dos oficiais do Regimento da Corte como professores e educadores desmentindo objectivamente mediante esse exemplo a choradeira injustiça de Ramalho Ortigão sobre os militares de carreira, estigmatizada pelo distinto ex-aluno coronel Fernando Valença, ao chamarem a si por vontade própria as tarefas suplementares da docência do Colégio da Feitoria. Há que acrescentar que a firme consistência dos alicerces dessa Escola, além do pioneirismo da iniciativa, resultou do talento da concepção e orientação que lhe foram dados ao longo do tempo, tornando-a numa escola de formação integral, conceito que me é par-

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ticularmente caro e também procurei servir noutros lugares e circunstâncias. Nos duzentos anos de vida decorridos, o Colégio Militar foi firmando e confirmando os seus créditos mantendo como Escola características muito próprias não identificáveis com qualquer outra. Por quanto deu às Forças Armadas, ao Exército em particular, e em termos mais gerais ao País, tornou-se valioso património nacional a que não tem faltado capacidade, projecção e razão de ser para enfrentar preconceitos, resistir e continuar a marchar em frente e enriquecer os valores pelos quais propugna e enriquece o meio em que se insere. Com base em documentos disponíveis de momento, apreciemos agora algumas impressões manifestadas em consequência de visitas efectuadas pelos “Meninos da Luz” a Espanha e ao Brasil, e por estrangeiros que estiveram no Colégio Militar e comentaram o que viram. Reportar-nos-emos a dois períodos muito diferenciados: os anos 50 do século XX e os últimos vinte anos. Verificamos, curiosamente, que as impressões não mudam em muito longa medida, não obstante as diferenças dos tempos. Encararemos tais comentários, sobretudo, no que respeita às bases estruturais da vida e actividades do Colégio Militar e dos objectivos prosseguidos na formação dos seus alunos. Em Junho de 1950 o Batalhão Colegial foi a Espanha, deslocando-se de Lisboa em comboio e apeando na Estação das Delícias em Madrid. No dia 19 de Junho, o jornal Arriba estava lá, e disso faria relato no dia seguinte. O calor apertava quando o comboio estava prestes a chegar e, sendo eles a dizê-lo, calcula-se quanto afligiria os “Meninos da Luz”, enver-

Afirmou, lapidar e consensualmente, que, acima do muito que na sua vida realizou, se situava o facto de nada ter impedido que Teixeira Rebelo, “tendo concebido desde 1802 a ideia da criação do Colégio da Feitoria, executasse o plano mais digno do seu patriotismo, e lançasse pelo meio dele a base mais sólida da sua Glória.


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Bicentenário do Colégio Militar

Nos duzentos anos de vida decorridos, o Colégio Militar foi firmando e confirmando os seus créditos mantendo como Escola características muito próprias não identificáveis com qualquer outra. Por quanto deu às Forças Armadas, ao Exército em particular, e em termos mais gerais ao País, tornou-se valioso património nacional a que não tem faltado capacidade, projecção e razão de ser para enfrentar preconceitos, resistir e continuar a marchar em frente e enriquecer os valores pelos quais propugna e enriquece o meio em que se insere. gando as suas algo sufocantes fardas cor de pinhão. No cais amontoavam-se muitas entidades oficiais e Portugueses e Espanhóis, que ali tinham ido para os esperar. A vendedora de gelados estava esfusiante. Em breve chegar-lhe-iam fregueses militares, para mais dos 11 aos 18 anos! Os jovens visitantes, por irem chegar a uma cidade estrangeira, o que nos anos 50 constituía um acontecimento raro, quase dádiva celestial, com o marchar do comboio em direcção ao seu destino cada vez estavam mais impacientes por chegar. Era assim, mas o Arriba regista duas surpresas que alguns vieram a ter. A primeira, foi a de que, chegado ao destino, o comboio parou e, com espanto geral, os “Meninos da Luz” apenas vieram à janela em disciplinado silêncio. Depois, a um sinal, as quatro companhias do juvenil batalhão formaram no cais “milagrosamente”. Defronte deles, e sem que os do jornal se apercebessem como, as suas malas, quase todas iguais, ficaram também logo alinhadas no cais. Um montão de garrafas de água vazias mostravam como estava “feroz” a tempera-

tura nesse dia. A mulher dos gelados esfregava as mãos: ainda para mais são meninos! Comenta o jornalista que a disciplina é mais disciplina quando se tem sede e um posto de gelados próximo. Mas os moços desfilaram em silêncio, e o mais que fizeram foi um apaixonado, mas disfarçado “olhar à esquerda” ao passar junto do posto de gelados. A noite caía quente e, com ordenada rapidez, subiram para os autocarros que os esperavam e partiram. Nos dois dias seguintes o Informaciones, o Ya e o ABC deram também as suas notícias. “Os ‘Meninos da Luz’, com uniforme de gala, traje negro, barretina e mochila às costas, bela estampa romântica, desfilaram marcialmente ante o monumento e as autoridades. Os pequenos, encantadoras miniaturas de soldados, marchavam como os maiores, graves, sérios, como granadeiros da velha guarda, e desfilaram com brio marcial, entre os inflamados aplausos do público. E assim subiram pelas avenidas de Calvo Sotelo e da Castellana. O público admirava a marcialidade dos jovens e aplaudia-os com carinho e entusiasmo”. “A actualidade madrilena esteve durante estes dias, concentrada na passagem pela nossa capital dos alunos do Colégio Militar Português que, em visita à nossa Pátria, despertaram a admiração e o aplauso pela marcialidade do seu passo nos desfiles em que tomaram parte. Com o tradicional uniforme castanho, que vestem desde a sua fundação, os alunos do Colégio ofereceram um grandioso espectáculo de marcialidade e disciplina.” “O passo marcial dos ‘guerreiros pardos’ do Colégio Militar de Portugal, que ontem fizeram a sua apresentação oficial em Madrid com um brilhante desfile na moldura grandiosa do Salão do Prado, foi o signo de uma jornada peninsular em que estiveram pre-

sentes, junto ao mais genuíno das novas gerações dos dois povos irmãos, figuras proeminentes da vida actual das duas nações, que constituem para elas um claro exemplo das mais altas virtudes castrenses. Na sua passagem pelas ruas de Madrid, ladeadas pelas Juventudes de Espanha, que tiveram a sua representação autêntica nas centúrias da Frente de Juventudes e nas formações dos Colégios de Órfãos do Exército e da Marinha, os pequenos cadetes lusitanos souberam despertar o entusiasmo clamoroso do público que acudiu a presenciar o desfile.” Dois dias depois foi o jornal Madrid que fez uma síntese final mais completa e profunda, altamente enaltecedora das impressões colhidas sobre a visita dos “Meninos da Luz” a Madrid. Algo extensa, iremos transcrevê-la, como o fizemos com as anteriores, por calcularmos que, uma das melhores formas de celebrar este Duplo Centenário será reviver o acontecimento, sobretudo por parte daqueles que participaram nesta visita a Madrid. “O Colégio Militar da nação irmã que estes dias atraiu a atenção e simpatia de quantos tiveram ocasião de admirá-lo, é para nós a melhor embaixada de Portugal. Não é só o brilhantismo do desfile, o que já foi muito, mas o que nos fez ver a portada de anteriores valores espirituais e muito mais: o seu porte, a sua correcção, os actos em que tomaram parte, a disciplina efectiva dos superiores, a educação, capacidade e sentimentos dos alunos fizeram que o Colégio Militar conquistasse o coração dos Espanhóis. Em especial a delicada oferta de uma palma de bronze aos nossos mortos na guerra de Independência, na qual Portugueses e Espanhóis fizeram frente à invasão napoleónica, perdurará para sempre na recordação dos madrilenos.” Mas não seríamos fiéis à verdade se, ao que os alunos aprenderam na sua viagem a Espanha, não acrescentássemos o que nos ensinaram professores e alunos nestes dias

Os jovens visitantes, por irem chegar a uma cidade estrangeira, o que nos anos 50 constituía um acontecimento raro, quase dádiva celestial, com o marchar do comboio em direcção ao seu destino cada vez estavam mais impacientes por chegar. Era assim, mas o Arriba regista duas surpresas que alguns vieram a ter. A primeira, foi a de que, chegado ao destino, o comboio parou e, com espanto geral, os “Meninos da Luz” apenas vieram à janela em disciplinado silêncio. Depois, a um sinal, as quatro companhias do juvenil batalhão formaram no cais “milagrosamente”.


Bicentenário do Colégio Militar

Mas não seríamos fiéis à verdade se, ao que os alunos aprenderam na sua viagem a Espanha, não acrescentássemos o que nos ensinaram professores e alunos nestes dias de convivência. As virtudes militares mais puras: sobriedade, simplicidade, correcção, valor, espírito de sacrifício. de convivência. As virtudes militares mais puras: sobriedade, simplicidade, correcção, valor, espírito de sacrifício. Às sete da manhã avançaram as caravanas de camiões com os 400 alunos a caminho de Toledo. Às dez, rapidamente, em traje de ginástica, na respectiva Escola, vimos uma exibição de ginástica perfeita de execução, ritmo e forma. Uns saltos sobre cavalo, plinto e, o mais impressionante, sobre um obstáculo de espingardas com a baioneta calada; exercícios de atletismo e depois demonstrações por pessoal da Escola. A visita prolongou-se mais do que o tempo previsto e a do Alcazar sofreu naturalmente também atraso. Às três da tarde, sem provar qualquer alimento, cansados os pequenos de toda uma manhã de fadiga, o Governador Militar de Lisboa perguntou a um colegial de dez anos: Tens

Às três da tarde, sem provar qualquer alimento, cansados os pequenos de toda uma manhã de fadiga, o Governador Militar de Lisboa perguntou a um colegial de dez anos: Tens vontade de comer? E o pequeno, sem vacilar, respondeu: Quando se contemplam estas ruínas não se pensa em comida. vontade de comer? E o pequeno, sem vacilar, respondeu: Quando se contemplam estas ruínas não se pensa em comida. A visita rápida que realizaram deixará seguramente no ânimo de professores e alunos recordações de gestos heróicos e arte sublime de que é rica a Espanha. Porém, para nós, ficar-nos-á sempre a maravilhosa impressão de uma arte que consideramos mais elevada: a modelação dessas almas infantis com a perfeição conseguida para as forjar no espírito da mais gloriosa tradição. Nos Anais do Colégio Militar esta visita deverá inserir-se, na verdade, como uma fecun-

da e brilhante Embaixada a deixar um rasto de elevado prestígio e admiração por Portugal no país vizinho. Por essa época ainda há a registar a visita efectuada ao Colégio Militar por duas altas e prestigiosas individualidades estrangeiras: a do Adido Militar Espanhol, Tenente-Coronel Carmelo Medrano e a do Ministro do Peru em Lisboa, Dr Jorge Mac Lean. O primeiro, no seu discurso, lembrou não ser a primeira vez que tinha o prazer de visitar o Colégio, sublinhando um aspecto saliente da sua acção formativa: ao mesmo tempo que se cultiva o dever, a lealdade e o patriotismo e se formam intelectualmente os alunos, fomenta-se o espírito de camaradagem que os há-de unir através de todas as vicissitudes da vida, simbolicamente ligados ao emblema da “barretina” e, espiritualmente, ao amor da Pátria, o que faz dele a melhor escola de cidadania. A respeito da visita a Espanha reiterou a recordação gratíssima que tinham deixado, despertando admiração e correcção, marcialidade e disciplina que mostraram. A ponto de, como em Espanha não existia Colégio semelhante àquele, terem despertado nas altas esferas, com o seu exemplo, o desejo de elas virem a conhecer a fundo a obra que com tanto acerto e inspiração fundara o Marechal Teixeira Rebelo. Haviam terminado os tempos em que Portugal e Espanha se encontravam de costas voltadas, para voltarem a olhar-se como nos períodos mais florescentes da sua História com vantagem para ambas as Pátrias: o tempo da conquista, o dos Descobrimentos e o então vivido, que felizmente, embora alterado muito o presente em relação à época focada, não o está nesse particular. O Ministro do Peru dirigiu-se aos alunos do Colégio em termos bem diferentes, mas também muito estimulantes e lisonjeiros. Referiu-se a que a história do Peru mostrava que se tratava o seu de um povo pacifista, talvez melhor quisesse dizer pacífico. Jamais provocara uma guerra injusta, nem se houvera enriquecido com bens alheios. As brilhantes tradições diplomáticas do seu país falavam bem claro do amor à paz, à justiça, ao direito, e do seu comprovado espírito de

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sacrifício ao serviço desses altos ideais da humanidade. Mas esclareceu, logo em seguida, que ser pacifista não era ser imprudente. A história de todos os povos mostrava como muitas vezes são terríveis as consequências funestas da imprevidência. Rendia, por isso, culto a uma paz irmanada com a fortaleza, e entendia dever-se ser pacifista sendo também forte, porque uma paz débil estará sempre cheia de perigos e ameaças, repetindo o conhecido conceito de que a melhor maneira de garantir a paz é viver constantemente a preparar-se para a guerra. O seu Presidente aprendeu a amar o Peru e jurava sacrificar tudo para o servir. Para ele o uniforme militar é o complemento da bandeira, porque, se este era o símbolo da Pátria, o uniforme era a expressão mais pura do patriotismo. Em razão disso, deslocava-se ao prestigioso Colégio Militar para colocar uma placa de bronze em homenagem a essa grande figura que foi o Marechal Teixeira Rebelo, forjador material e espiritual deste Instituto, que da sua tumba contemplava com orgulho o progresso de Portugal e aqueles jovens militares do futuro que eram a cristalização da sua obra, e seguindo a auréola luminosa do Fundador, hão-de corresponder, preservar e acrescenta os brilhantes brasões da nação portuguesa. No final da década, em 1959, o Colégio Militar pôde iniciar o intercâmbio com o seu congénere do Rio de Janeiro, dada a circunstância de no Brasil existir uma Escola idêntica, ao contrário do que acontecia em relação a Espanha e à maioria dos países. Coube ao Colégio da Luz a primeira visita de uma delegação sua ao Rio de Janeiro e essa visita alcançou um êxito similar ao de Madrid. Além do convívio amistoso e cordial proporcionado, o Governo Brasileiro, por decreto de 9 de Setembro de 1959 concedeu ao Colégio a Ordem de Mérito Militar do Brasil. No dia 19, na Praça Tomás Coelho do Colégio Militar do Rio de Janeiro, ocorreu a cerimónia da imposição das insígnias da condecoração na Bandeira Colegial integrada na formatura da delegação visitante. Presidiu o Chefe do Estado-maior do Exército Brasileiro, general Floriano de Lima Brayner, e o Batalhão do Colégio Militar anfitrião prestou a guarda de honra. De tudo nasceram laços de afecto e recordações assaz fortes a deixarem o desejo de novo reencontro, que veio a ter lugar no ano seguinte, em ambiente de aprofundada amizade e entusiasmo, com a vinda em 1960 do Colégio do Rio a Lisboa, onde os “Meninos da Luz” lhe proporcionaram uma afectuosa e festiva recepção.


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...ao mesmo tempo que se cultiva o dever, a lealdade e o patriotismo e se formam intelectualmente os alunos, fomenta-se o espírito de camaradagem que os há-de unir através de todas as vicissitudes da vida, simbolicamente ligados ao emblema da “barretina” e, espiritualmente, ao amor da Pátria, o que faz dele a melhor escola de cidadania. Durante alguns anos o intercâmbio dos Colégios Militares do Brasil e de Portugal interrompeu-se, até que em 1990 a Associação dos Antigos Alunos dos Colégios Militares do Brasil iniciaram diligências para o seu reinício. Em Maio de 1992 uma pequena delegação de ex-alunos brasileiros deslocou-se ao Colégio Militar da Luz para quebrar o hiato existente. A diligência resultou, e em 1995 os Colégios Militares do Brasil organizaram uma visita ao nosso Colégio Militar, condecorando-o com a Medalha do Pacificador. Seguiu-a em 1997 a visita à Luz de um grupo de ex-alunos dos Colégios Militares do Brasil. Em consequência, no ano seguinte, o Colégio Militar, beneficiando da diligência da sua Associação dos Antigos Alunos, voltou a ser convidado para visitar o do Rio de Janeiro a quem levou, para impor durante a visita, a Medalha de Serviços Distintos do Exército Português. Este impulso proveniente da Associação dos Antigos Alunos merece um comentário especial pelo significado de que se reveste, mas, sobretudo pela sua importância prática. Reservá-lo-emos para um pouco mais adiante. A vontade de não deixar morrer um intercâmbio gerador de laços tão frutuosos continuou a crescer, e em 1999 deslocou-se ao Colégio Militar da Luz uma comitiva brasileira, maior do que qualquer outra. Trouxe com ela a Medalha Marechal Trompowsky, do Instituto dos Docentes do Magistério Militar Brasileiro, para agraciar a Instituição sua anfitriã. Os convidados consideraram inesquecíveis para todos o carinho e a receptividade cons-

tantes de que os Portugueses os rodearam. Em 2000 o intercâmbio prosseguiu e foram agora recebidos, não só os finalistas do Colégio Militar, mas também alunas do Instituto de Odivelas e os representantes da Associação dos Antigos Alunos, sendo a comitiva chefiada pelo Tenente-General Samuel Matias do Amaral. Ao Comandante do Colégio Militar do Rio foi entregue um brasão em mosaico do Colégio da Luz, e o Presidente da Associação dos Antigos Alunos, acompanhado pelo seu homólogo brasileiro, descerrou uma placa alusiva ao acontecimento. A visita culminou com uma formatura geral em que, perante o Batalhão Escolar do Rio, acompanhado pelas delegações portuguesas, foi plantada uma árvore em terras brasileiras e portuguesas, para simbolizar a amizade que unia as duas nações. No mundo globalizado de hoje todo este intercâmbio ganhou valor especial, não só pela troca de experiências docentes e formativas, mas para através do reforço afectivo, levarmos por diante duas iniciativas, de que muito se fala, mas bem pouco se tem realizado em favor delas: a concretização, dinamização e articulação de interesses objectivos e concretos da CPLP e a defesa da língua portuguesa. A ausência total de referência a Portugal no discurso de posse do novo Presidente do Brasil é um facto a que não podemos nem devemos ficar indiferentes e, por não augurar nada de bom, não nos dispensa de colectivamente nos esforçarmos por vencer distâncias que teimam em prevalecer. Mais se valoriza e merece ser sublinhado que o Colégio Militar, pelo que se expôs, tenha cumprido bem a sua parte. Brigitte Henningsen, uma dinamarquesa jornalista do jornal Politiku do seu país, veio

a Portugal para assistir ao 3 de Março de 1988, e publicou uma reportagem em que, ao relatar a cerimónia, procurou perscrutar as razões de ser da excelência deste colégio interno que continuava a fornecer quadros e chefes a Portugal. Ao fazê-lo, não deixou de se deter na referência a algumas facetas que o tornam menos apetecido para uns tantos. O seu primeiro olhar debruçou-se sobre as 459 espingardas que, em obediência a vibrantes vozes de comando, manejavam nos claustros aqueles outros tantos rapazes, com as suas barretinas seguras pelos francaletes na ponta do queixo, sem mexerem um músculo da cara, mesmo os mais novos de apenas dez anos e ainda muito apegados às recordações familiares. Impressionou-a que, no manejo das velhas Mausers do tempo da Primeira Grande Guerra, elas se movimentassem do ombro e baixassem batendo ruidosamente no chão ao prestarem honras às muitas entidades do Governo, da Hierarquia das Forças Armadas e de outras autoridades civis. Depois à voz de “Em frente marche” todo o Batalhão, com a farda de gala e não de serviço, porque se trata das cerimónias do aniversário do Colégio, rompeu a marcha. O programa encimado pelo Brasão de Armas do Colégio, incluía discursos, entrega de prémios, imposição de condecorações e finalmente o desfile. A finalidade continuava a ser igual à dos tempos do Real Colégio Militar: dar uma boa instrução aos alunos, só que agora já não se tornava necessário que todos seguissem a carreira militar. Notou haver quem considerasse cara a sua frequência, mas a jornalista estrangeira achou que não se podia dizer isso, uma vez

A diligência resultou, e em 1995 os Colégios Militares do Brasil organizaram uma visita ao nosso Colégio Militar, condecorando-o com a Medalha do Pacificador. Seguiu-a em 1997 a visita à Luz de um grupo de ex-alunos dos Colégios Militares do Brasil. Em consequência, no ano seguinte, o Colégio Militar, beneficiando da diligência da sua Associação dos Antigos Alunos, voltou a ser convidado para visitar o do Rio de Janeiro a quem levou, para impor durante a visita, a Medalha de Serviços Distintos do Exército Português. Este impulso proveniente da Associação dos Antigos Alunos merece um comentário especial pelo significado de que se reveste, mas, sobretudo pela sua importância prática.


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Em 2000 o intercâmbio prosseguiu e foram agora recebidos, não só os finalistas do Colégio Militar, mas também alunas do Instituto de Odivelas e os representantes da Associação dos Antigos Alunos... que se tratava de uma escola em internato com alojamento, alimentação e uniformes, e era o Exército Português que pagava muito equipamento, uniformes e inúmeras outras coisas. Comentou ainda que hoje qualquer jovem português pode pedir admissão ao Colégio. Dos 459 alunos cerca de 2/3 provinham de famílias de oficiais e sargentos e 1/5 ingressara nas Escolas de Ensino Superior Militar. Seja qual for a carreira, porém, os alunos do Colégio recebem preparação para ascenderem a elevadas funções sociais e, enquanto 91% dos que completam o curso do Colégio ascendem ao ensino superior, nos restantes liceus a percentagem é de 31%. Quanto à qualidade do ensino, por lá passaram Ministros e 6 dos 13 Presidentes da República, além de destacados compositores, escritores e filósofos portugueses. Colocou depois a questão: qual o segredo deste sucesso? Atribui-o em parte ao facto

Mais se valoriza e merece ser sublinhado que o Colégio Militar, pelo que se expôs, tenha cumprido bem a sua parte. Brigitte Henningsen, uma dinamarquesa jornalista do jornal Politiku do seu país, veio a Portugal para assistir ao 3 de Março de 1988, e publicou uma reportagem em que, ao relatar a cerimónia, procurou perscrutar as razões de ser da excelência deste colégio interno que continuava a fornecer quadros e chefes a Portugal.

...qual o segredo deste sucesso? Atribui-o em parte ao facto do Batalhão estar dividido em 4 Companhias, constituindo 16 pelotões de cerca de 30 alunos cada. Aos alunos do último ano são reservados os comandos do Batalhão, das Companhias e dos Pelotões, cabendo a todos funções de chefia, acrescentando-se a estas as das camaratas, com mais de cem camas cada, das mesas do refeitório e outras. Sem dúvida que esta prática constitui um factor fundamental da acção formativa do Colégio sobre os que concluem o curso, com vista a prepará-los para o desempenho futuro de cargos de chefia e responsabilidade... do Batalhão estar dividido em 4 Companhias, constituindo 16 pelotões de cerca de 30 alunos cada. Aos alunos do último ano são reservados os comandos do Batalhão, das Companhias e dos Pelotões, cabendo a todos funções de chefia, acrescentando-se a estas as das camaratas, com mais de cem camas cada, das mesas do refeitório e outras. Sem dúvida que esta prática constitui um factor fundamental da acção formativa do Colégio sobre os que concluem o curso, com vista a prepará-los para o desempenho futuro de cargos de chefia e responsabilidade, não obstante desvios que naturalmente existam, mas estão longe de bastar para desvalorização do método. Outro aspecto fundamental foi também mencionado pela jornalista. O do lema do Colégio inscrito no brasão, igual ao dos Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas, como disse: Um por Todos Todos por Um. Também ele está sujeito, naturalmente, a interpretações exageradas ou distorcidas, mas tem uma importância enorme por constituir factor primordial para quebrar as tentativas preconceituosas que se têm manifestado contra a existência do Colégio. Assume dois reflexos principais e qualquer deles muito importante. Fomenta a amizade e a camaradagem e um modo de agir para com os colegas, que prevalece para a vida inteira e é factor de aproximação e entendimento entre os

que usam a barretina na lapela, mesmo que não tenham frequentado juntos o Colégio nem hajam convivido, ou sequer conhecido antes de mutuamente se identificarem, pois logo se encaram como ligados pelo laço da frequência do mesmo estabelecimento de ensino, e dos mesmos hábitos vividos e de idênticas durezas de vida vencidas tornadas em geral, com o passar do tempo, em reminiscências de que se orgulham e têm como factores de valorização pessoal. Tão forte é este vínculo, e esse será o segundo aspecto a salientar, que, por perdurar para além da frequência do Colégio, gerou um espírito corporativo forte, a dar lugar à Associação dos Antigos Alunos, com uma dinâmica e objectivos próprios, mas também muito ligados à casa Mãe, que se reflecte em carinhosa camaradagem aos novos alunos que nela vão entrando ano a ano. E dos muitos benefícios que daí resultam, acautelados excessos, um há que se me afigura incontestável. É a ligação continuada e sempre disponível em baterem-se pela razão de ser da sua existência – o Colégio em si – à qual se deve, em boa parte, que a mudança dos tempos não tenha permitido alterações do Colégio no essencial e, muito menos que algo ou alguém tenha impedido de ele vir a comemorar duzentos anos. Brigitte Henningsen não se eximiu a analisar, por outro lado, o que para alguns cons-


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A finalidade continuava a ser igual à dos tempos do Real Colégio Militar: dar uma boa instrução aos alunos, só que agora já não se tornava necessário que todos seguissem a carreira militar. titui factores de crítica ou de inadaptação ao Colégio Militar. Isso pode referir-se sem representar depreciação a afectar uma Instituição que bem se pode orgulhar de si própria. O choque da vida dura das obrigações dos alunos sofrido sobretudo no ingresso em idade tão infantil, a inadaptação ao distanciamento do ambiente familiar e à sua substituição por outro bem mais frio e por vezes agreste, faz com que nem todos os que lhe passam os umbrais se adaptem e se afeiçoem a ele. Daí pode resultar, ou uma insensibilidade algo desumanizada, ou mesmo a vontade sentida de deixar o Colégio. O Director do Colégio com quem a jornalista falou confirmou-lhe não ser fácil frequentá-lo e a sua frequência não agradar a todos, uma das razões pela qual só cerca de metade dos admitidos chega a concluir o curso.

O mais importante, porém, é que, em geral, como o Director de então esclareceu, os que concluem esse curso saem com hábitos de disciplina, determinação, amor-próprio e uma aptidão cultural acima da média. Disso beneficiou amplamente também a Revista Militar que pôde contar com seis alunos do Colégio para seus Sócios Fundadores, dando-lhe também, em contrapartida, três desses Fundadores para seus Directores. Fartas razões existem para que a esta secção de Notícias do Mundo Militar seja bem

grato pronunciar-se com a Revista Militar quando ela rende homenagem ao Colégio Militar no Segundo Centenário da sua Fundação, registando alguns acontecimentos por ele protagonizados no estrangeiro ou com estrangeiros que, ao darem lustre ao seu Brasão, bem prestigiaram e enalteceram igualmente o nome de Portugal.

O mais importante, porém, é que, em geral, como o Director de então esclareceu, os que concluem esse curso saem com hábitos de disciplina, determinação, amor-próprio e uma aptidão cultural acima da média.


Mandela - O rebelde exemplar O Soldado clarim

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Mandela O rebelde exemplar N

o anfiteatro do Colégio teve lugar o lançamento do livro Mandela o Rebelde Exemplar, da autoria do Antigo Aluno António Pedro Feio Ribeiro Mateus (57/1970), cuja apresentação esteve a cargo do Dr. António Vitorino. A escolha das instalações do Colégio para lançamento do livro visa assumidamente, nas palavras do seu autor, prestar homenagem a uma Instituição Escolar onde a sua família agregou valores durante três gerações. António Mateus, repórter e correspondente da Agencia de Notícias Portuguesa LUSA e da cadeia de televisão RTP, em Moçambique e Joanesburgo, acompanhou Nelson Mandela durante uma década desde a sua libertação até à retirada da vida pública.

O Soldado clarim E

m 18 de Março, pelas quinze horas, foi apresentado na Livraria Verney, em Oeiras, o livro O Soldado clarim, da autoria do Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950). O Soldado clarim é o 13.º volume da Colecção «Fim do Império», complementar das tertúlias com o mesmo nome que se têm desenvolvido em Oeiras, Lisboa e Porto, nas quais se procura reflectir de forma serena e objectiva sobre a última fase das possessões portuguesas no mundo. Da apresentação feita pelo Manuel Júlio Matias Barão da Cunha (150/1948) respiga-se: “O presente livro é um romance histórico, cheio de contrastes e que envolve três gerações, incluindo a da personagem principal, o soldado clarim Ramiro Espada, um português nascido, em 1885, no interior de Angola, em Amarante, depois Silva Porto e agora Bié, julgo. Incorporado em 1904, acompanhou o lendário capitão João de Almeida nas campanhas do Cuamato e dos Dembos, o que acabou por proporcionar ter-se tornado, posteriormente, um importante fazendeiro de café. Mas também a geração do pai, Mateus, de carácter duvidoso e de origem escondida, e do seu capataz negro, João, cujo filho Munima foi o grande amigo de Ramiro, acompanhando-o na escola, na vida militar e na fazenda. A amizade entre os dois consegue resistir às diferenças de estatuto da época. Munima não era considerado um cidadão como

Ramiro, apenas um «indígena», à face da lei de então. E, ainda, a geração seguinte, a dos respectivos filhos, com relevo para Laura e o seu marido Diogo. Esta personagem proporciona outra dicotomia interessante, para além da de branco/negro, a do aristocrata leviano face à força da natureza dos homens da terra. Outra dicotomia talvez seja a das pessoas atentas aos outros, em contraste com as egoístas, como o pai Mateus ou o genro Diogo. Parece providencial que Ramiro, «criado por um pai descuidado e por uma mãe ausente», seja um homem bom. «Em boa verdade, aquilo que ele era aos 20 anos devia-se, muito mais do que aos pais, à influência de três pessoas com quem partilhava o quotidiano. Com Armando, aprendera a tocar clarim e a depreciar os valores que sustentavam o dia-a-dia do Mateus: o preço do marfim, a superioridade da raça branca, o sexo roubado nas sanzalas. João era o homem de confiança, alguém que valia muito mais do que a sua omnipresença silenciosa sugeria, o companheiro que não hesitaria em oferecer o peito às balas que um dia demandassem Ramiro. Munima, por fim, era o amigo (…) » A acção vai desde finais do século XIX, incluindo personagens históricas como Silva Porto, Artur de Paiva, João de Almeida, Roçadas, Paiva Couceiro, Norton de Matos e David Magno, até 1961, integrando o terrorismo inicial no Norte de Angola e a onda de repressão que provocou, descritos com grande realismo.


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Mandela - O rebelde exemplar O Soldado clarim

©Foto Sérgio Garcia (326/1985)

O autor procura ter um olhar descomprometido para com as coisas boas e as menos boas da nossa presença histórica em África, como, por exemplo, quando escreve: «Formada em Benguela com os vagares típicos de uma Administração pelintra, sem recursos próprios e desabituada de tomar iniciativas, a coluna só chegou a Belmonte três meses mais tarde, sob o comando do capitão Artur de Paiva. Este não era homem para evasivas (…)». Ou: «O estado natural do relacionamento entre brancos e negros, na região, era de confrontação. (…) Entre si, os negros não viviam mais pacificamente.» A vida militar foi uma fase com balanço positivo na vida de Ramiro Espada, nomeadamente por haver objectivos a cumprir. Embora não o fosse para o seu amigo Munima. Também aqui, o autor aponta os aparentes paradoxos humanos, designadamente quanto às dificuldades sofridas pelo capitão João de Almeida: «Como todos os paladinos, não conseguia furtar-se à malquerença dos medíocres, essa comunidade de imbecis que, com o Governador à cabeça, tudo faziam para lhe dificultar o cumprimento da missão.» A 1.ª parte do livro começa com o final da história, mas recua logo a seguir para referir, essencialmente, a infância e a juventude de Ramiro no planalto onde nasceu, em Benguela onde estudou e na vida militar até decidir-se por voltar à região dos Dembos. A 2.ª começa na fazenda do café, uma das grandes riquezas da região, tendo Ramiro já 65 anos, ou seja, em 1950. Um dos episódios marcantes é o da luta entre Ramiro e o comerciante Moreira, em prol de restituir a dignidade ao amigo Munima e que se arrastou por dois anos. Por outro lado, o único filho deste, Munima Ramiro, reúne-se clandestinamente, no Congo, com Holden Roberto, o primeiro responsável pelos massacres da UPA, e com Savimbi. Kasavubu e Lumumba são, também, referidos. Sobre a História de Angola portuguesa, há pelo menos dois romances que me lembram a trilogia O Tempo e o Vento, do escritor brasileiro Eurico Veríssimo, designadamente, a também trilogia Caçador de Brumas, de João Sena, o primeiro preletor da tertúlia Fim do Império, e a presente obra. Não tenho encontrado muitos autores que consigam articular tão bem dotes de investigador e de ficcionista, como os dois anteriormente referi-

ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA

dos, os coronéis João Sena e Nuno Mira Vaz, sendo este, igualmente, um autor com quem foi fácil trabalhar em equipa. A capa deste livro baseia-se num quadro do grande artista do final do império, Albano Neves e Sousa.”


Flagrantes da Vida Real...

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António Rafael Passarinho Franco Preto 67/1950

Flagrantes da Vida Real... N

o nosso último almoço mensal (do curso que saiu em 1957 e de todos aqueles que por ele passaram ao longo da sua trajectória no Colégio e que por qualquer razão sentem que pertencem ao curso) o Gonçalo – o sábio Matos, o 371 – ficou sentado ao meu lado direito e a certa altura perguntou-me – certamente relembrando os inúmeros artigos passados – se eu andava a fazer pesquisas que pudessem ser objecto de artigos para a ZacatraZ. A conversa sobre o tema terminou com o meu compromisso de procurar dentre os meus escritos algo que pudesse ser tema de um artigo para a nossa revista. Os antigos leitores das Selecções do Reader’s Digest lembram-se certamente dum espaço que com o título Flagrantes da Vida Real estava presente em todas as edições. Neste meu artigo vou limitar-me a descrever alguns episódios que na altura em que se passaram se gravaram na minha memória com profundidade suficiente para nela permanecerem indiferentes ao passar dos tempos e que podem ser tomados como exemplos do que posso denominar como Um Choque de Culturas. Por isso permaneceram na minha memória. Uns positivos, outros negativos, outros neutros (mas que considerei muito interessantes). Sempre que há um novo emigrante num país estranho esse choque de culturas é inevitável. O dito emigrante considerará o modo de viver dessa sociedade como positivo nalguns casos e negativo noutros. É inevitável.

Vou descrever-vos sucintamente (ao género do estilo utilizado pelos Flagrantes da Vida Real das Selecções do Reader’s Digest) alguns dos episódios que me lembro de ter vivido durante a minha estadia em Inglaterra no triénio 1976-1979. Terminarei com um episódio vivido recentemente em Estocolmo por outro emigrante Português (mostrando que há situações que se mantêm como que imutáveis ao longo dos tempos, pois ... o Choque de Culturas não escolhe nacionalidades). Desafio antecipadamente todos os leitores a procurarem na sua memória episódios interessantes (Flagrantes da Vida Real) e enviá-los para o Gonçalo Leal de Matos, por email - gosalema@gmail.com – ou pelo correio. Ele se encarregará de os colocar na nossa revista (isolados ou em conjunto com outros ...com autor ou sem autor referenciado ... conforme for vosso desejo) ! Colaborem!

Inglaterra, 1976 - 1979 EXAME DE CONDUÇÃO Residente com a família em Inglaterra por um período de 3 anos (1976-1979) tive que voltar a fazer exame de condução. Só os turistas podiam continuar a conduzir usando as suas cartas de condução nacionais. Os estrangeiros residentes tinham que fazer novo exame de condução.

Inglesices... Fiquei espantado quando recebi a nova carta habilitando-me a conduzir até aos meus 70 anos de idade. Aproveitei esse facto para mostrar ao meu chefe na altura (um Inglês) que Portugal era mais cuidadoso com esse aspecto pois tínhamos que fazer exame médico aos 5055-60 e 65 anos de idade e não só aos 70, como os Ingleses. Resposta-comentário do Inglês: Para quê? Se não se sente bem não conduz, porque conduzir é perigoso.

CONTRATOS DE FORNECIMENTO DE GÁS, ELECTRICIDADE, TELEFONE Quando fiz contratos para fornecimento de gás, electricidade e telefone (a água era gratuita por ser uma necessidade vital para qualquer indivíduo...) tive que depositar, adicionalmente a cada contrato, um sinal de 30 libras como garantia de pagamentos futuros. Passados 2 anos, recebi – com pequenos intervalos – cartas dos 3 fornecedores que diziam mais ou menos o mesmo. Dado ter pago sempre atempadamente as suas contas, enviamos em anexo um cheque de 30 libras acrescido dos juros vencidos. O nosso negócio é fornecer gás / electricidade / telefone. Contamos mantê-lo como nosso cliente.


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Flagrantes da Vida Real...

A POLÍCIA Teddington era uma típica vila inglesa da 2ª metade da década de 1970: calma, pacata, bem organizada e preservada pelos seus habitantes que nunca se deslocavam a Londres – a menos que lá trabalhassem – (que estava localizada uns 25 kms para Nordeste… longíssimo e onde havia muito barulho e muitos estrangeiros!). Como todas as vilas inglesas, tinha uma rua principal onde estava localizado 95% do comércio e que atravessava a vila de uma ponta a outra. Para não destoar das suas milhares de congéneres espalhadas por toda a Inglaterra tinham todas o mesmo nome: High Street! Notável de imaginação! Vivíamos numa moradia numa área muito sossegada dessa pacata vila Inglesa. O nível de segurança das casas era mínimo (eu diria que era abaixo do mínimo). A missão da polícia era eminentemente cívica e tomar conta e auxiliar a população à sua responsabilidade. Uma das 1ªs coisas que fiz – logo que nos mudamos para a moradia – foi ir à esquadra da polícia identificar-me (dizendo onde morava) e explicar-lhes por que é que ali estava a viver, dizer que me iria ausentar bastantes vezes para a Europa mas que a minha mulher ficava sozinha em casa com os 2 miúdos (de 3 e 1 ano). Tomaram nota de tudo e disseram que iam tomar isso em conta nas suas rondas! Aprendemos com os nossos vizinhos que quando saíssemos de casa devíamos deixar as cortinas todas para trás (quando nós inicialmente fazíamos precisamente o contrário!)! Para quê? Para dizer à polícia (que passava por lá nas suas rondas umas 5 a 10 vezes por dia) que estávamos ausentes e que portanto a casa estava à responsabilidade das autoridades policiais (e só com as cortinas para trás lhes era possível ver se estava tudo bem)! O que é facto é que – durante aqueles 3 anos – o sistema funcionou correctamente!

OS CORREIOS E O PASSAPORTE A estação dos Correios da vila servia para tudo (no que respeitava a colocação de anúncios de tipo pessoal: preciso dum jardineiro, preciso de domestic help, tenho um carro para vender,…) e até para a actividade normal de correio! Éh, éh, éh! Quando estávamos a uns dois meses de regressar resolvi pedir um passaporte de ‘British Citizen’ para o meu recente 3º filho Luís Filipe nascido em Wimbledon em Abril de 1978 (fazem ideia do drama que será cá em Portugal para os pais estrangeiros de um puto cá nascido,

conseguirem-lhe um passaporte português?). Pois foi muito simples: Fui aos Correios dizer o que queria. Comprei por uns cêntimos a papelada. Preenchi-a em casa, juntei uma foto do recém-nascido, uma certidão de nascimento (a maternidade onde ele nasceu em Wimbledon, tinha-me dado à saída 3 certidões de nascimento dele, o que era um procedimento standard!) um cheque de uma meia dúzia de libras e o meu chefe, que era Inglês, assinou os impressos e a parte de trás da foto do miúdo inscrevendo lá o número do seu passaporte. Enviei tudo pelo o correio para o ‘Home Office’ em Londres. Duas semanas depois recebi o passaporte do puto na caixa do correio! ‘Éh, éh, éh! (até dá vontade de chorar…).

A SUPERIORIDADE INGLESA Íamos de férias para Maiorca e até parecíamos uma família inglesa (os 2 putos eram loiros, a minha mulher podia passar por Inglesa e eu ia muito folclórico). Havia duas bichas no aeroporto para controle de saída: uma enorme (para non-UK passports) e outra às moscas (para UK passports). Quando nos colocamos na bicha certa, apareceu um prestável polícia que me indicou a outra bicha. Eu disse que não tínhamos passaportes ingleses, o que o levou a comentar: Oh, but you look like, Sir! Muito seraficamente, perguntei-lhe com toda a inocência: Is that a compliment, Sir? Ficou pior que estragado! Então havia um sacana dum estrangeiro que não preferia ser Inglês? Na realidade fiquei um pouco aborrecido comigo próprio por ter tido tal desplante...

CALCANDO OS ESTRANGEIROS No regresso de mais uma viagem europeia (Munique, julgo eu) trazia a duty free shop bag completamente cheia, mas dentro do limite (isto porque havia uma lei na altura que nos permitia trazer 4 litros de vinho de mesa se tivessem sido comprados numa loja normal e não no duty free shop). Isto, para além do tabaco para um amigo, da garrafa de gin e dum perfume para a minha mulher. Contra o costume, fui mandado parar na alfândega. Coloquei a bag à frente do inspector e fiquei paulatinamente à espera. Pediu-me o bilhete de avião (para ver de onde eu vinha) e começou também paulatinamente a tirar tudo

de dentro da bag. No final, fez as suas contas e disse: Just under the limit, Sir! Fiquei quieto. O inspector elevou a voz um pouco e disse: You can go, Sir! Mantive-me imperturbável. Ele perguntou-me se havia algum problema. Respondi-lhe que sim. Qual era a situação, perguntou (num tom já ríspido)? You have to put everything back in my bag as it was…! Olhou-me com um mal disfarçado ódio e enquanto fazia o que tinha de fazer por lei, perguntou-me: Are you a resident, Sir? (assim como quem diz: porra, parece que tu nos conheces…) Obteve a resposta que adivinhava (e num tom apropriado) : Oh, yes, I am! Daquela vez não calcou ninguém (teve azar)!

AMIZADE LOCAL Tendo uma posição internacional, viajava com frequência para o continente europeu e regressava normalmente às sextas-feiras à tar-


Flagrantes da Vida Real...

e convidou-me a visitá-lo lá (o que fiz uns dias depois). Mostrou-se muito pesaroso com a minha pouca sorte de ter de ir tantas vezes ao continente (como eles diziam referindo-se à Europa) e prometeu estar atento à minha chegada às sextas-feiras à tarde! E assim fez! Vezes e vezes sem conta ouvi nos altifalantes (poucos minutos depois de estar na tal bicha interminável): Please Mr. Preto, go directly to booth nº X! E assim poupava algo como uma hora, o que não era desprezável, depois de alguns dias a saltitar de país em país! (As culturas nacionais são o que são, mas os seus membros são indivíduos)! Felizmente.

CORRIGINDO OS ESTRANGEIROS

de, chegando ao aeroporto de Heathrow entre as 5 e as 8 da tarde. Enormes bichas me esperavam no serviço de estrangeiros e fronteiras para entrar em Inglaterra. Havia uns 30 e tal funcionários (cada um em sua cabine devidamente numerada) e outro no princípio da bicha (de várias centenas de pessoas, fazendo vários Ss apertados) que indicava ao 1º da bicha para que cabine devia ir. Numa das 1ªs viagens de regresso dei com um funcionário mais ou menos da minha idade, cujo interesse aumentou visivelmente quando leu a minha documentação (numa altura em que o governo trabalhista tinha fechado a emigração para Inglaterra, não era muito normal aparecer alguém que tinha tido esse privilégio por possuir qualificações que não existiam em Inglaterra reunidas numa só pessoa). A sua pergunta inicial foi totalmente inesperada e espantosa: What’s your pub? (Qual o pub que frequenta?) Dei-lhe o nome do pub mais perto da moradia onde vivia; ele deu-me o nome do seu, pois acontecia também viver em Teddington,

Por muito bem que se fale uma língua que não é a nossa e que aprendemos quando adolescentes ou adultos, dificilmente conseguimos pronunciá-la como um nativo (falo por mim...). Não só na correcta pronúncia de algumas palavras mas igualmente – e mais difícil para nós – nos diversos, variados e minúsculos intervalos de tempo que os nativos dessa língua, utilizam ao longo das frases, dando-lhes uma inflexão e ritmo próprios. Vivendo numa vila tipicamente Inglesa (onde os estrangeiros eram raríssimos) tive que me habituar a ser corrigido pelas empregadas das lojas que amiúde repetiam a frase que eu tinha dito – antecedendo-a de um Ah... . Muitas vezes não achava nenhuma diferença significativa entre as duas pronúncias mas elas certamente eram diferentes (que má educação... pensava eu nos primeiros tempos ... gostava de as ver a falar Português!...). Enfim, tive que me habituar. Diz-se que os miúdos absorvem as línguas e culturas estrangeiras como se tivessem uma esponja no cérebro. Aconteceu isso com o meu filho mais velho que tendo chegado a Inglaterra com 3 anos – e depois de entrar mudo e sair calado durante uns 4 meses na escola infantil – começou subitamente a falar inglês. Acontece que o puto absorveu também a cultura local e começou a corrigir-me! Era só o que me faltava! Esqueceu essa área cultural depois de eu lhe ter prometido um tabefe na próxima vez que ele me emendasse! Éhéhéh! Demos então um salto de 35 anos e terminemos com a descrição dum episódio ocorrido recentemente em Estocolmo.

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Estocolmo - Suécia 2014 UM PORTUGUÊS, UM ISRAELITA E UM SUECO... a falarem sobre os correios locais.

(A conversa começa entre o Português e o Israelita) - Isto de termos de mandar esta documentação por correio é uma chatice, diz o Português. - É verdade – diz o Israelita. - Por acaso sabes como se envia uma carta registada aqui na Suécia? - Pois é, ainda mais essa, tem que ir por carta registada!! Vamos perguntar ao nosso amigo Sueco, diz o Israelita. (A conversa prossegue agora com o envolvimento do amigo Sueco) - Como é que se envia uma “carta registada” aqui na Suécia? - “Carta registada?”...Acho que não temos isso ... Para que precisam de enviar uma “carta registada” pergunta o Sueco com um ar verdadeiramente surpreendido. - Para termos um comprovativo de que enviamos a documentação, responde o Português. - Comprovativo? Para quê? Os correios entregam sempre as cartas que lá são colocadas. O serviço dos correios tem 99,995% de sucesso. As cartas são sempre entregues! ...diz o Sueco. - Então e se o teu caso for o 0,005%?, pergunta o Português. - Ah, nunca tinha pensado nisso... Mas então, eles devem-me telefonar a perguntar porque não enviei a documentação... diz o Sueco. - E tu o que respondes? – pergunta o Israelita. - Que enviei a documentação pelo correio! Responde naturalmente o Sueco sem perceber as caras de espanto do Português e do Israelita. - E eles acreditam? ... perguntam os dois em simultâneo. - Claro! Porque não haveriam de acreditar! ... responde o Sueco. O Choque de Culturas mantém-se.


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Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas Eusébio e o Colégio Militar

Eusébio e o Colégio Militar Adenda

N

o artigo «Eusébio e o Colégio Militar», publicado no nº 194, Janeiro/Março de 2014, desta nossa revista, recordei um episódio passado com o curso anterior ao meu, numa estadia no Hotel da Meia Praia, em Lagos, cujo proprietário era o Antigo Aluno João Cândido Furtado de Antas (387/1923). Escrevi nesse artigo o seguinte: «À chegada aos quartos encontraram um cartão de boas-vindas com uma quadra, que, se bem me lembro, era a seguinte: Se o tempo voltasse atrás Como a sonhar eu supus Queria voltar a ser menino Para ser Menino da Luz era uma daquelas quadras de que qualquer um de nós gostaria de ter sido autor». Tal como indicado, a quadra foi transcrita de memória, só que esta já não é o que era e, volta não volta, deixa-me ficar mal, o que agora aconteceu. Poucos dias depois da publicação do número da revista agora em causa, recebi um telefonema do Carlos Beja (268/1953), a pôr-me na ordem, dizendo-me que os dois primeiros versos da quadra publicada eram fruto da minha imaginação delirante, embora não andassem muito longe dos versos originais. A quadra, tal como produzida pelo seu autor, era a seguinte: Se dominasse o destino Como, sonhando supus Queria voltar a ser menino Para ser Menino da Luz Os versos originais são de facto bem melhores do que os saídos da minha imaginação. Explicou-me o Carlos Beja que os seus pais e os pais Antas se reuniam com os seus filhos, Alunos do Colégio, todos os anos após os desfiles do 3 de Março, num almoço no hotel Eduardo VII, para em conjunto comemorarem aquela data. Foi justamente num desses almoços que o pai Antas surgiu com aquela quadra, que o Carlos Beja em boa hora guardou. Obrigado caro Carlos pela tua atenção. Mantêm-te atento, para o caso de eu voltar a ter qualquer novo lapso de memória. Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957

Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas NOTA PRÉVIA Já a última revista ZacatraZ se encontrava na tipografia a ser impressa, quando chegaram à Redacção dois depoimentos relacionados com o Nuno Mira Vaz. O Nuno, que faz parte do Corpo Redactorial da ZacatraZ, manifestou logo a opinião de que já havia sido feita referencia à sua passagem pelas Tropas Pára-quedistas, pelo que o assunto estava encerrado. Não foi esse o entendimento dos restantes membros, entendimento esse que se fundamentou nos aspectos de serem esses depoimentos mais um contributo válido para o registo que se pretende o mais possível fiel do passado e, também, pelo respeito que nos merecem os nossos Camaradas que se disponibilizam a prestar a sua colaboração à ZacatraZ . Não seria correcto a não publicação desses textos, apenas porque já havia sido feita referência a este Antigo Aluno no número anterior e, também, porque se assim acontecesse estaríamos a desincentivar a colaboração com a revista, factor essencial para levar a bom termo a tarefa que nos foi cometida. Aproveitamos também para publicar novamente a relação dos Antigos Alunos que serviram nas Tropas Pára-quedistas por, entretanto, nos ter sido dado conhecimento da existência de uma falta nessa lista. Do total conhecido de trinta e seis AA Pára-quedistas, apenas doze foram referenciados na ZacatraZ, por falta de elementos para o fazer tal como já referido anteriormente. Apelamos para que nos façam chegar contributos que permitam continuar este registo para a posteridade colegial.

Coronel Pára-quedista Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950)

C

onheci o antigo aluno 277/1950 na Guiné, em 1969, quando o meu Pai Coronel Pára-quedista Alcínio Ribeiro (43/1930) estava numa das suas comissões, neste caso como Comandante do CAOP na Guiné e eu passava lá as minhas férias grandes depois de ter completado o 1º ano do Colégio Militar (actual 5º ano). Habitualmente, o meu Pai (para eu não incomodar; leia-se chatear), no seu tom de voz característico mandava-me “pastar”, isto é, ir apanhar ar lá para fora “tomar conta dos mosquitos”. Numa noite de finais de Junho (as aulas acabavam a 10 de Junho para quem não tinha exames) desse ano e na Messe da Força Aérea em Bissau andava eu a “pastar”. Como tinha a mania que era desembaraçado e era da Classe Especial do Colégio, andava a fazer uns pinos na varanda do Clube e eis que aparece o então Capitão Mira Vaz, aca-


Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

bado de regressar de uma operação e acompanhado da sua simpática mulher a Senhora Dona Madalena Mira Vaz. Como sabia quem eu era, deu-me uns “calduços” e “flatetes” (era como todos os mais velhos me tratavam mas leia-se com carinho, afirmo eu, não vão eles ser acusados de maus tratos a menores….) e disse-me que eu não percebia nada de pinos. Realmente, depois de ter arrancado um pino olímpico na perfeição, reduzi-me à minha insignificância e continuei a treinar pinos nessas férias, mas às escondidas e longe do olhar do Capitão Mira Vaz para não ser mais enxovalhado… Ele na sua maneira de ser muito simpática e afável, disse-me que tinha aprendido estas habilidades e outras no Colégio onde também tinha pertencido à Classe Especial. Ficámos ali a falar e a trocar impressões sobre o Colégio durante uns breves momentos. Gostava de acrescentar que o meu Pai, Coronel Pára-quedista já nesta altura e um dos fundadores das Tropas Pára-quedistas em Portugal, tinha um carinho especial pelo 277/1950 por várias razões, entre elas o de lhe reconhecer competências profissionais e humanas, o de ambos serem antigos alunos do Colégio, o de serem oriundos da Arma de Cavalaria e o de serem Pára-quedistas, tinham portanto várias pontos comuns. Devo dizer ainda que quer o meu Pai quer a minha Mãe achavam o casal Mira Vaz (penso que nesta altura, anos 69, ainda não tinham nascido os filhos) um casal muito educado, com sentido de humor, criando muito bom ambiente o que faziam com que tivessem muito apreço, simpatia e consideração pela Senhora Dona Madalena e pelo Senhor Capitão Nuno Mira Vaz. Anos mais tarde as nossas vidas voltaram-se a cruzar quando em 1977 fui voluntário para os “Páras” e a 24 de Novembro desse ano fui incorporado na BETP (Base Escola das Tropas Pára-quedistas) onde o 2º Comandante da Unidade era o então Tenente-Coronel Nuno Mira Vaz. Como já vinha “treinado” do Colégio em que nessa altura (agora não sei como é…) nós os alunos evitávamos cruzarmo-nos com o “Dito” (Director do Colégio), com o Sub (Subdirector do Colégio) e com o Comandante do Corpo de Alunos, assim na BETP adoptei a mesma táctica, ou seja, não me cruzar nem com Comandante nem com o 2º Comandante. Só quando fui Aspirante a Oficial Miliciano (já em 1988) é que naturalmente nos cruzávamos quer no dia-a-dia, quer nos saltos, quer no Bar de Oficiais. Foi sempre muito correcto, de uma simpatia contagiante, sempre com o seu sorriso na cara, muito ponderado e com um carinho especial por todos os que estavam de baixo do seu Comando e em especial pelos antigos alunos. Melhor do que eu para falar deste Homem Grande (como se diz na Guiné), convidei um amigo comum, o Sargento-Mor Pára-quedista Joaquim Pedro Rasgado, na altura Furriel, que partilhou com o 277/1950 Nuno Mira Vaz uma dura comissão na Guiné e onde ambos, individualmente, foram distinguidos com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe. António Victor Reynaud da Fonseca Ribeiro 43/1968

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Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas

Nuno Mira Vaz (277/1950) por Joaquim Pedro Rasgado “Durante o meu período de vida nos Pára-quedistas, tive o privilégio de me cruzar com Homens de grande coragem, nobreza, carácter, com elevadas aptidões, morais, cívicas e capacidade de Comando. Entre eles destaco a pessoa do, à data, Capitão Pára-quedista Nuno Mira Vaz, Foi meu Comandante de Companhia no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12 (BCP12) na Guiné, onde generosamente fizemos a nossa “comissão de serviço”. Homem de grande valor e sensatez em todos os actos que lhe observei, tanto no trato com os homens que comandava, como na coragem que evidenciava aquando de acções de fogo a que juntamente fomos submetidos. Muito sereno nas suas intervenções, evidenciando, apraz-me dizer, a coragem dos humildes com a força que sabia, por vezes, ser necessária aos que comandava, pois liderar em combate uma Companhia de Pára-quedistas no Teatro de Operações da Guiné não era para todos. A minha admiração por este Homem fundamenta-se em todos os valores que lhe conheci, que marcam de uma forma muito positiva a sua maneira de estar perante a vida. Vivemos juntos muitos momentos difíceis, corremos riscos, que hoje posso dizer, não tiveram consequências mais graves, pela coragem, valentia e saber do Homem que tinha a responsabilidade do Comando da Companhia de Pára-quedistas 121 (CCP 121) do BCP12 na Guiné, o então Capitão Nuno Mira Vaz. Estas recordações estão bem vivas e para sempre gravadas na minha memória. Saliento uma história curiosa entre os dois, numa altura em que a CCP 121 operava numa zona difícil e onde se fez inopinadamente um assalto a um quartel do Inimigo (IN). Tivemos muita dificuldade pois a resposta do IN foi muito superior ao que prevíamos, em virtude do seu elevado potencial de fogo e com o qual não contávamos. Mas nós não estávamos “programados” para não cumprir missões, fossem elas de que natureza fossem. Após o assalto, depois de tomado o quartel do IN, quando se “calaram” as armas e após momentos de elevada adrenalina, quando ambos já sacudíamos a terra dos camuflados verificando os estragos, saí de baixo de uma velha mangueira (onde teríamos, quem sabe, bebido uma cerveja bem fresca juntos, que muito teria ajudado a retemperar os nervos) e o “Meu” Capitão Mira Vaz com a calma dele, depois de uma complicadíssima situação, no seu jeito tranquilo, faz-me esta revelação: “Rasgado, era para lhe dizer só quando chegássemos a Bissau, mas dado o momento difícil, que acabámos de viver, fica a saber que para a próxima semana, o Rasgado, vai de licença à Metrópole com o Prémio Governador Geral já proposto anteriormente por mim”. Lembra-se disto Meu Coronel? Percebia-se neste homem, o sentido do dever, do saber e de valores que estariam muito para além da responsabilidade de Comando de uma Companhia, mesmo que de Pára-quedistas se tratasse. A mim e aos seus comandados, todos estes atributos não passaram despercebidos. Anos mais tarde, quando regressados a tempos diferentes, aí temos nós, o Nosso Coronel Mira Vaz, publicando como autor vários livros, um dos quais com a Tese do seu Doutoramento. Por tudo o que disse e muito mais haveria para dizer, aqui fica o meu humilde reconhecimento ao Valor deste Homem. Bem haja Capitão Nuno Mira Vaz. Joaquim Pedro Rasgado Sargento-Mor Pára-quedista

Antigos Alunos nas Tropas Pára-quedistas 43/1930

Alcínio Pereira da Fonseca Ribeiro (falecido)

11/1941

Rafael Ferreira Durão (falecido)

38/1944

Guilherme José de Gouveia Leite Ferraz

252/1946

Joaquim Manuel Trigo Mira Mensurado

385/1949

Luís Manuel da Fonseca Lobo de Oliveira

277/1950

Nuno António Bravo Mira Vaz

76/1951 220/1951 91/1955

Eduardo Maria Passarinho Franco Preto António Manuel Ribeiro Pinto Assoreira (falecido) Paulo Jorge da Costa Ventura da Cruz

555/1961

Fernando Martins Machado da Silveira

269/1964

Luís Augusto de Noronha Krug

496/1967

Nuno Rolando Fernandes Thomas Ferreira

43/1968

António Victor Reynaud da Fonseca Ribeiro

261/1968

Victor Manuel Baptista Leitão

521/1968

António José de Rogado Serra

289/1968

José Manuel Adão de Castro Lousada

132/1969

João Francisco Braga Marquilhas

171/1969

Nuno Miguel de Azevedo Mafra Guerra

512/1969

Pedro Luís da Câmara Santa Bárbara

566/1969

Luís António de Lima Tinoco Tovim

646/1969

José António Nobre Pires

574/1970

Paulo Renato Faro Geada

648/1970

Nuno Maria Rocha e Melo de Castro

407/1971

José Alberto de Magalhães Valdez Bragança Moutinho

329/1972

Carlos Alberto Grincho Cardoso Perestrelo

661/1972

Daniel Henrique Andrade de Carvalho

487/1973

Jorge Manuel Campos de Lima Gonçalves Damásio

445/1973

Luís Filipe Pinto Cavaleiro

579/1973

Filipe Luís Carvalho de Castro

604/1973

Frederico Manuel Assoreira Almendra

3/1974

Luís Filipe da Silva Malheiro de Passos Ramos

258/1974

Boanerges Fernando Macedo Lobato de Faria

404/1974

José Eduardo Cacela Pesquinha da Silva

689/1974

Rui Manuel Silva Ribeiro Pedro

171/1985

Pedro Miguel da Silva Pimentel

92/1991

Hugo Ribeiro da Silva Pugsley Inocêncio


Os que nos deixaram

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Os que nos deixaram Eduardo Augusto Ribeiro de Sousa (525/1960) Professor Universitário Nasceu a 29 de Agosto de 1950 - Faleceu a 18 de Setembro de 2012

Caro Eduardo, Estou a escrever-te de Luanda, onde estou de passagem, terra bem do teu agrado e parte dos teus negócios. Faz algum tempo que partiste, mas só agora começo a desbloquear-me do choque que de tal maneira me perturbou os sentimentos que, na altura da tua despedida, somente fui capaz de dizer umas breves palavras. Conhecemo-nos desde os 10 anos quando entrámos para o Colégio Militar e ambos ficamos no 1º D, onde rapidamente te tornaste conhecido pelas partidas que pregavas aos outros e pelas quais ganhaste a tua alcunha colegial. Ao longo do tempo que passamos no Colégio, por vezes, fizemos parte da mesma patrulha nos exercícios anuais em Mafra, muitas vezes fui a casa dos teus Pais para “soi-disant” estudarmos e, quando saímos para a “peluda”, fomos ambos para o Técnico (ainda que para cursos diferentes). Encontrávamo-nos então na Alameda, na varanda do quarto do 113, convenientemente localizada para ver as pequenas da Guerra Junqueiro e na Mexicana; invejei aquela descrição da via-

gem que tu e o Barata fizeram ao Norte (Suécia creio eu) lá por 68 ou 69. Foram bons momentos de gracejos e piadas próprias da juventude. Pouco depois a vida mudou, conheceste a Ana com quem acabaste casado. E, lá estávamos nós a não perder a oportunidade de atrapalhar a tua noite de núpcias com uma partida que a noiva não apreciou. Lembro-me da tua ida para a Marinha, para o Ministério e da partida para o Doutoramento nos EUA, acompanhado pela Ana e já pela vossa primeira filha Rita. Após teres regressado reencontramo-nos no colégio Inglês de Lisboa – o Queen Elizabeth’s School, onde ambos pusemos os filhos. A Rita e a minha filha Teresa foram para a mesma aula, tendo ficado conhecida pela Rita “inglesa”, por se exprimir quase sempre em inglês. O tempo foi passando e, embora afastados pelos diferentes rumos das nossas vidas, encontrávamo-nos frequentemente nos jantares de curso e nos 3 de Março, onde éramos “passageiros frequentes”.

Entretanto, criaste a tua primeira empresa, a que se seguiu a actual Aquasis, sempre no universo das águas. Quando o meu percurso profissional me conduziu aquele universo, foi contigo a primeira aproximação; tu nas Olaias e eu do lado de uma empresa de Consultoria. Desta vez, um reencontro na área profissional. Para me actualizar, consentiste que assistisse às tuas aulas no IST e, mais tarde, acabei por fazer parte da tua empresa, no projecto de Manutenção. Aliar a parte profissional à amizade entre dois velhos amigos, desencadeou de parte a parte sentimentos contraditórios, mas ambos rapidamente descobrimos que afinal era bem possível compatibilizar a amizade com o profissionalismo. Aprendi a apreciar o trabalho da tua vida – a empresa que, conjuntamente com o Ulisses e o José António, moldaste e fizeste crescer. Durante este período houve oportunidades de encontros com as respectivas famílias e amigos comuns e frequentemente cavaqueávamos sobre o nosso dia a dia. Penso que eras feliz na tua vida familiar, social e na empresa da qual te orgulhavas. Ocorrem-me histórias simples que me relatavas com ar deliciado, tal como o ires buscar os netos às quintas-feiras e deixares que se portassem como diabretes (sem a avó e as mães saberem)... Inesperadamente, deixaste-nos enquanto davas a primeira aula do ano no “Técnico”, o teu IST onde tiveste um honroso percurso académico. Poder-se-ia dizer um final feliz se não fosse cedo demais. Foi pena, fazes falta. Até Sempre! João Sanches de Miranda Mourão 552/1960 Outubro de 2013


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Os que nos deixaram

Rui Manuel Marques Salgado Lameiras (297/1964) Engenheiro Civil Nasceu a 17 de Janeiro de 1953 - Faleceu a 26 de Fevereiro de 2014

N

o passado dia 26 de Fevereiro, faleceu em Salamanca, Espanha, o 297 de 64, natural de Coimbra e que frequentou o Colégio até ao então 5.º ano do liceu, saindo nesse ano lectivo de 1969/70. Quem frequentou o Colégio nessa época lembrar-se-á, certamente, do “Olívia Palito”, alcunha que ganhou por força da sua magreza e altura, e que eu, seu irmão mais velho um ano, acabei também por ter. Mas não foi a alcunha que lhe deu fama no Colégio, mas sim a sua permanente boa disposição e uma queda muito especial para tirar partido das mais variadas situações, especialmente das adversas, donde se livrava com espantosa habilidade e graça, embora nem sempre reconhecida pelos professores. Essa boa disposição, aliada a uma enorme capacidade de gerir as relações humanas, foi determinante no seu percurso profissional. Licenciado em engenharia civil pela Universidade de Coimbra, nunca foi homem de se acomodar no trabalho, optando permanentemente por novos desafios e novas terras, que o levaram, factualmente, às mais diversas partes do mundo. Após breves passagens por Figueira da Foz (Soporcel) e Porto (Sonae), rumou à então Estalinegrado (actual Volvogrado), na ainda URSS (1987), com o objectivo, oculto, de proteger os trabalhadores portugueses que eram sistematicamente despedidos pela

empresa contratante sempre que os resultados obtidos não eram do agrado do dono de obra. Voltou assim que conseguiu inverter o destino dos nossos compatriotas, que passaram a ser considerados como mais valia da empresa, dada a sua eficácia e produtividade. Não precisou de mais de 6 meses para o conseguir. Entretanto contrai matrimónio em Espanha, donde lhe veio bom vento e bom casamento, e continua o seu périplo pelo mundo, sempre como Director de Obra ou Gestor de Projecto: um pouco por toda a Espanha, Taipé (Taiwan), Fortaleza (Brasil), Ushuaia (Argentina), Pusan (Coreia do Sul), na construção de grandes unidades comerciais ou industriais; Varadero (Cuba), Tenerife e Palma de Maiorca (Espanha) na construção de unidades hoteleiras. Em reconhecimento do seu trabalho foi convidado para Director do Departamento de Gestão de Projectos do ING-RED, em Madrid, um dos maiores bancos do mundo no ramo imobiliário, onde esteve a partir de 2005 até 2012, altura em que rumou para a América do Sul para montar e dirigir os negócios da Martifer na Colômbia, Venezuela e Perú. Tive o prazer de conhecer muitos dos seus colegas e subordinados por onde passou e sempre me foram feitas as mais elogiosas referências à sua capacidade de relacionamento e comando de equipa, ao empenho

em defender os seus e ao seu elevado grau de camaradagem, para o que contribuiu, seguramente, a passagem pelo Colégio Militar. A saudade que deixa é imensurável, mas fica o testemunho e exemplo da sua vida. Descansa em paz. José António Salgado Lameiras 281/1963)


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