29HORAS - agosto 2018 - ed. 106

Page 56

esp ecial

saúd e

Onde tudo começa conversamos com especialistas sobre uma visceral questão: o parto POr andré cordeiro

“O melhOr tiPO de PartO é aquele que conduz a mãe com segurança para o momento que pode ser uma das coisas mais mágicas e maravilhosas do mundo”, afirma a Dra. Luciene Miranda Barduco, de 52 anos, especializada em Ginecologia e Obstetrícia. “O nascimento de um filho é uma experiência fantástica. Resgata na mulher aquilo que ela tem de mais primitivo, no sentido de gestar, de cuidar daquela gravidez. Eu sempre vi o parto como algo sagrado. E sempre preferi o parto natural”. A prática de cesariana, contudo, sempre foi majoritária no Brasil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, nós somos o segundo país do mundo a ter mais da metade de todos os nascimentos (55,6%, segundo dados de 2016) feitos por essa cirurgia. Estamos atrás apenas da República Dominicana, que ostenta 56% de cesáreas. Na Europa, a taxa média de cesáreas é de 25% e nos Estados Unidos é de 32,8%. A cirurgia é recomendada apenas quando o parto natural pode levar a complicações que coloquem em risco

a saúde da mãe e do bebê. Para a OMS, a porcentagem adequada de cesáreas gira em torno dos 15%. “Entre outras coisas, a cesárea vem de um vício histórico que começou no SUS”, explica Luciene. “Em hospitais públicos, uma prática muito comum era oferecer laqueadura às gestantes. Acontece que o SUS só pagava o procedimento se a laqueadura estivesse associada a uma cesariana. Então tinha isso: ‘vou fazer cesárea para já aproveitar e fazer a laqueadura’”. Na rede particular, a médica comenta que a cirurgia predominava por outras questões. “Quando comecei a atender em consultório, às vezes chegava uma paciente já dizendo: ‘olha, eu tenho convênio e quero optar pela cesariana’. A ideia era que, se ela tivesse um convênio, teria a oportunidade de escolher pela cirurgia”. Além disso, havia muitas conveniências também. Para a paciente, era uma forma de poder controlar o nascimento do filho. “E os motivos para isso eram vários, desde a gestante estar cursando uma pósgraduação ou prestando vestibular

foto julie johnson | unsplash

54


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.