44
esp ecial
Brasil
•
Ja pã o
Sol nascente na terra do verão sem fim
Em 18 de junho completaram-se 110 anos da imigração japonesa no Brasil. Qual o impacto desse evento na história nacional?
por andré cordeiro
DescenDo a rua são Joaquim a caminho
da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, o Bunkyo, algumas coisas passam pela cabeça. A primeira e mais visível são as luminárias japonesas do bairro da Liberdade. A segunda, são os pensamentos. Nós paulistanos estamos tão acostumados com a cultura nipônica que às vezes não percebemos o quão fantástico é ter essa presença em nossa cidade. Ainda na própria Rua São Joaquim: você sabia que ali, descendo apenas alguns quarteirões da estação de metrô que leva o mesmo nome da rua, você encontra um templo budista? E descendo mais um pouco se chega à Rua Galvão Bueno, que leva até a Thomaz Gonzaga, rua esta que rendeu uma matéria neste especial dedicada apenas à sua riqueza gastronômica. É simples, mas poderoso: quase que inconscientemente o pedestre entra em um novo mundo, em um microcosmo no centro de São Paulo, um pedaço do Japão. Quem recebeu a 29HORAS no Bunkyo foi a senhora Célia Abe Oi, Coordenadora de Comunicação. Jornalista e historiadora, Célia atuou entre 1998 e 2007 como diretora executiva do Museu Histórico da
Imigração Japonesa. Hoje, aos 68 anos, ela cuida da assessoria da entidade. Simpática, de cabelos curtos e óculos ovais, fala sorrindo sobre o aniversário de 110 anos da imigração japonesa. “Mais do que qualquer coisa, essa é a hora de celebrar”, ela frisa. “A palavra que define esse momento é “kansha”, gratidão em japonês. Gratidão com os pioneiros, que graças ao seus trabalhos deixaram uma imagem positiva dos japoneses aos brasileiros. E gratidão também pelo Brasil, que permitiu que os imigrantes construíssem suas vidas aqui”. Ela lembra, claro, que no começo nem tudo eram flores. O Japão de meados do século XIX era totalmente diferente do Japão que conhecemos hoje: um país fechado, feudal e com uma população empobrecida. Com o início da era Meiji, em 1868, começa a abertura e a modernização do país. Uma das medidas adotadas pelo governo foi estimular a emigração de japoneses, inicialmente para o Havaí e depois para os EUA, Canadá e Peru. Enquanto isso, no Brasil, o fim da escravatura e a expansão da cafeicultura no final do século XIX trazem crescentes