Spell Work, nr. 0

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L ote 1 | Tiragem 100 magaZine comportamento | música | literatura | artes visuais | circulando publicação independente Edição ZERO dez. 2017

Varal de recordações e ações ativas: forma de traçar o histórico dos fanzines... e, também, a colcha de retalhos que é a vida de quem produz fanzines. [Marcus ASBarr]

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ADRIANA CABRAL | ComportAmento

Um universo paralelo com realidade aumentada está em plena atividade nos grandes centros urbanos. Confira!

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uma viagem no tempo

THINACURTIS | CirCulAndo

Um lugar inspirador situado em cidade histórica no coração de Minas Gerais.

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punk made in portugal

ANTÓNIO CAEiRO | INTERNACIONAL

Ummergulhonacena punk lusitana, comsuaspeculiaridades,resistênciae ativismocaracterísticodogênero.

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depeche

mode — spirit

MARCELO VITORINO | músiC A

Analise por uma autoridade quando o tema ronda a referencial banda inglesa.

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ian curtis fora de contato ALINE DAKA&GLEITONLENTZ | HQ

Traços vigorosos e expressivos dão o tom obscuro para harmonizar com o protagonista desta HQ conceitual.

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ExpEdiEntE

Edição ZERO

Projeto Gráfico/Design/Diagramação

Marcus ASBarr (BioDiverCidade Produções)

Produção/Edição

Thina Curtis & BioDiverCidade Produções

Colaboradores

Julio Shimamoto (capa), Celso Marchini (fotos editorial). Wandeclayt M. (pág. 30)

Banco de Imagens/Ilustrações/Gráficos

projeto jardim limpão

THINA CURTIS | Ação soCiAl e CulturAl

Não basta se colocar como criativo para mudar o mundo a sua volta... tem de ser ativista para movimentar este mundo.

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thedreamsneverend ANtÓNiOCAEIRO |ENTREVISTA

Correspondente português nos revela a música e ideias desta banda talentosa.

derbaum

THINACURTIS | ENTREVISTA

Apaixãopelostimbresanalógicosepor sonsdosemblemáticosanos1980são osingredientesdiferenciaisdoprojeto

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intercâmbio do sentir p oesi A | l itteris

editorial

Conversa com Thina Curtis 03

Visão abrangente sobre ativismo em meio as mudanças na publicação.

Temos aqui dois temas fortes, onde os olhares atentos e poéticos são lançados sobre eles com suas impressões sensitivas e decodificadoras.

magaZine SUMÁRIO
steampunk

ed I t ORI al

Os fanzines atuais vivem um momento de renascimento e efervescência cultural. Eu me recordo ainda da primeira edição do Spell Work, lançada em março de 2004, quando surgiu com propostas de linguagem e estética simples. Eram duas páginas e um olhar mais próximo da realidade, por questões de identidade e afinidades com a cultura urbana e o underground brasileiro. O SW, por si só, é uma intervenção cultural de resistência... e vem resistindo.

A ideia por trás desse esforço hercúleo é de comunicação aberta sem restrições, para quem o lê e absorve um sentido mais amplo da arte na sociedade atual. Estas páginas apresentam um pouco mais sobre a arte e os artistas que realmente vivem e fazem o que acreditam, pessoas que são verdadeiras inspirações. Uma proposta de publicação orgânica, visceral, fora da grande mídia, é assim que vivemos o DIY. Fanzine é um instrumento de partilha de ideias e conhecimentos com outras pessoas e, acima de tudo, exercício de cidadania. A publicação dá acesso ao entendimento de uma cultura universal. O underground tem

as mesmas características em qualquer lugar do planeta. Estabelece os elos que nos fazem diferentes e tão intensos, pois todo fanzineiro é no fundo um idealista sonhador, que objetiva divulgar ativistas, artistas e os seus projetos, que merecem o devido reconhecimento e apoio. Um espaço real. Enquanto escrevo este editorial me emociono ao lembrar por onde este zine já me levou, conhecendo pessoas e lugares. Quantas cartas e mimos recebi, quantos zines troquei.

Agradecer a todos que colaboram, de tantas formas, e que me reanimam na dificuldade e no cansaço... que contribuem para manter vivo este trabalho, nosso trabalho. Tenham todos uma ótima Leitura! Enviem sugestões de pauta, reclamações, criticas, elogios, leiam zines, façam zines, divulguem zines!!! DIY!!! SW

Thina Curtis

Arte-Educadora, Poeta, Fanzineira, Quadrinista, Produtora Cultural, Ativista. oficinadefanzine@gmail.com

Grupo Fanzinada

Fanzines: A maioria das pessoas desconhecem a sua existência, a produção de artistas — geralmente do underground —, que precisam se expressar e utilizam os fanzines para dialogarem e difundirem suas ideias. Fanzines são objetos para se criar e se reinventar. [Thina Curtis]

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Texto: AdriAnA CAbrAl Fotos: divulgAção

Submarinos, monstros remendados, fórmulas científicas e muito vapor. Viagens ao fundo do mar ou ainda da terra à Lua eram relatadas nas grandes aventuras do autor francês

Jules Verne (Júlio Verne), e a inglesa Mary Shelley imortalizava seu monstro criado pelo imoral Doutor Frankenstein nos idos do Século XIX.

Mas foi em 1987 que o autor americano K. W. Jeter cunhou o termo steampunk para classificar os romances retrofuturistas, isto é, grosso modo, histórias que utilizam tecnologias anacrônicas.

situando a ideia

O Steampunk é ambientado na Era Vitoriana (de meados do Século XIX até início do Século XX) e Era Eduardiana (até os anos 1910), e tem como característica fundamental o impacto social que uma tecnologia à frente de seu tempo pode causar. Então, são autômatos, dirigíveis bélicos, armas, foguetes e um sem fim de aparatos que a criatividade de cada autor permite desenvolver em seu mundo fictício.

Romances como A Máquina

Diferencial, dos autores Bruce Sterling e William Gibson ou

a graphic novel de Alan Moore, A Liga Extraordinária, são ótimos exemplos do que é a literatura Steampunk do Século XX. No entanto, mesmo antes do termo ser criado, já líamos Steampunk em livros como Vinte Mil Léguas Submarinas e Da Terra à Lua, de Júlio Verne; Frankenstein, de Mary Shelley; O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson; entre outros.

O Steampunk também está na música. Temos algumas bandas consideradas como

estilo e comportamento...

steampunks, como no caso do “Abney Park”, que conta histórias retrofuturistas em suas letras.

Algumas outras como “Steam Powered Giraffe” e a britânica “Birthrite” são outros exemplos. Sei que tem bandas que adotam o visual em um clipe ou outro, como no caso da “Panic!

At the Disco” no clipe The Ballad of Monalisa.

Por falar em visual, entra aqui uma das partes mais sedutoras deste subgênero: indumentária. Ela engloba chapéu para ambos os sexos, tons de marrom, muito metal dourado e os inseparáveis goggles — óculos de proteção típicos para se trabalhar nas caldeiras dos trens e navios ou para aviadores —, que ganharam outros significados no steampunk como sendo lentes de cientistas malucos, visão noturna ou qualquer outra coisa que a imaginação do steamplayer (quem se veste de steampunk) permitir.

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Os acessórios são muito variados e criativos e, na maioria das vezes, mais importantes que as roupas em si. São armas mirabolantes, cintos de utilidades variadas, bússolas, relógios de bolso, bengalas que viram armas etc.

No geral, compor a roupa masculina é simples: uma roupa social com calça, camisa, suspensório, colete. As moças usam belos vestidos decotados e o espartilho fica por cima da roupa, mostrando uma atitude desafiadora. Muitas vezes a parte da frente da saia é levantada acima do joelho, indo contra os padrões sociais de uma época altamente puritana, na qual a rainha dizia para cobrir até as pernas das mesas!

A mulher steampunk tem um papel importante. Ela luta,

ela tem voz. Algumas grandes mulheres da história são tidas como musas para este subgênero da ficção, como Ada Lovelace (considerada a primeira programadora da história), Amelia Earhart (pioneira na aviação dos EUA e ícone da luta pelos direitos das mulheres, apesar de já ser das primeiras décadas do Século XX) e as suffragettes, mulheres que lutavam pelo direito ao voto.

Temos encontros steampunks ocorrendo ao longo do ano em piqueniques, cafés e eventos de outros fã-clubes como Star Wars, Dia do Fã, Star Trek, Doctor Who, entre outros.

No entanto, o maior evento steampunk brasileiro é o SteamCon, que está em sua terceira edição, a última ocorreu em agosto, dias 5 e 6, na Vila de Paranapiacaba, uma vila ferroviária tombada pela Unesco e mantida nos moldes ingleses, que tem tudo a ver com o tema. Uma vila ferroviária do Século XIX em pleno Século XXI!

A SteamCon surgiu da ideia do Fernão de Quintana, um confrade nosso, de fazer uma imersão cultural. Já existia a ideia de um grande evento, mas uma imersão, com mais de 24h de programação que varia entre palestras, filmes, música, dança, oficinas e muita literatura, foi uma ideia calorosamente abraçada por todos nós, fãs da ficção científica retrofuturista. SW

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Os encontros steampunks ocorrem ao longo do ano, mas se reunem também em encontros de outros fã-clubes.
... e uma arte que paixona!

no tempo no tempo

Pousada Trem do Imperador é rústica e sofisticada. Em uma cidade mineira que há alguns séculos inspira poetas, músicos, fotógrafos e pintores, enfim artistas no geral, além de arrancar suspiros dos turistas e moradores. Um destino fascinante para visitar e conhecer com fácil acesso ao centro histórico e aos principais atrativos turísticos da cidade de Tiradentes – MG.

O visual de cinema, carregado de romantismo do Século XIX, é só mais um detalhe do cenário, com infraestrutura temática na época dos trens de passeio, que dá ainda mais charme e encantamento ao local, um diferencial deste lugar inspirador. Suas suítes são réplicas de vagões de trem e compõe um conjunto harmonioso de diversão, privacidade, mergulho

na cultura, história e tradições mineiras. Café Colonial de fazer inveja aos deuses! Um lugar que é um mimo, muito acolhedor e charmoso. Eu já disse charmoso? (risos).

E independente se você for em passeio com família, amigos ou algo mais intimista e romântico, vai curtir e se deleitar com a estadia da mesma forma. Para pessoas, como eu, que são apaixonadas por locais rústicos e bucólicos fica a dica! SW

POUSADA TREM DO IMPERADOR

Av. Conde De Assumar - Nº 116 - Bairro Parque dos Bandeirantes – Tiradentes/MG Contatos: (32) 3355-2161 ou e-mail: contato@pousadatremdoimperador.com.br

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Texto: Thina Curtis Fotos: Divulgação

[MADE IN PORTUGAL]

Punk o seu tempo é a crise, o seu espaço é a rua, o seu deus é a provocação, a sua temática é alimentar “clichés” para enganar e combater o aborrecimento. Nós já éramos todos punks, antes da moda surgir! Punk ou Rock (eis a questão), ambos vivem os mesmos problemas, ligados pelo mesmo conceito musical.] Falar de punk em Portugal, é curto e por vezes absurdo! Em relação à força que o mesmo teve noutros países, a qualidade na produção quase sempre foi débil e fraca, pecando pelo material que nos era acessível na altura.

Opessimismo foi talvez omaior inimigo do rock nacional, o momento foi quase que oportuno para dar voz ao ruído sonoro que enchia os cantos vazios deixados pela amargura do totalitarismo que fez estagnar o intelecto de cada um, era fundamental começar a criar algo de novo que tivesse um cariz popular e ao mesmo tempo marginal, sem qualquer tipo de censura pelo meio, era necessário dar vida aos delírios interiores de cada um, foi através de um sorriso tímido (diria) que começaram a surgir os primeiros grupos de rock, poucos mas bons, sito: os Tantra bastante na linha do rock progressivo em parceria com os Perspectiva; numa área diferente surgem bastante menos homogéneos os Ananga Ranga que souberam e bem encaixar o seu estilo musical no jazz-rock, ou, recordando os bons e velhos Arte & Oficio que trouxeram na bagagem os sons da revolta, o hard rock estava-lhes no sangue e a energia musical era intensa.

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Fotos: Reprodução público punk Texto: João Paulo Cabral Lopes

1978, o punk criava as suas primeiras raízes em Portugal, chegava já tardio. Mas esse fato não impediu que uma antítese fosse surgindo aos poucos para desse modo cortar laços com o passado musical que já se estava a tornar algo monótono e repetitivo a segunda vaga rockeira]ganhou força através de nomes como: Os Faíscas, foram uma das bandas pioneiras do movimento, rotulados de punks pela revista Música & Som não deixaram qualquer tipo de registo, surgiram através de um grupo de amigos que paravam numa cervejaria algures na Trindade. “Começamos a tocar porque a música estava parada, depois apareceu o movimento ‘punk’ com o qual nós temos a fi nidades” O grupo era formado por Rocky Tango (guitarra & voz); Lee Finuras (guitarra); Gato Dinamite (bateria)

e Dedos de Tubarão Júnior (baixo e voz). O grupo durou muito pouco tempo, oreportório

do mesmo era todo ele baseado nos velhos clássicos de rock´n´roll dos anos cinquenta, com um agradável cheirinho chuckberryano, “Roll Over Beethoven“, todos eles tocados de uma forma esgalhada e eufórica acompanhados por riffs hilariantes. Os Faíscas foram o embrião de inúmeros projetos que marcaram música portuguesa nos anos 80, após o split do grupo surgiu, em Julho de 1979, os Corpo Diplomático, com uma formação reforçada, foi desta forma que editaram um dos melhores álbuns da década de 80, que deram o nome de Musica Moderna, considerado como um ícone da New Wave portuguesa. As letras deixaram de falar apenas de amor e liberdade para ganharem contornos + violentos e chocantes, algo que veio estimular e ao mesmo tempo agredir de uma forma direta e indireta o pensar e agir da sociedade vigente.

“Há que violentar o sistema”, gritavam os Aqui d´el rock, baseados num som distorcido & ensurdecedor, mas onde a principal atitude era combater e criticar a política dessa época.

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Parte dos elementos da banda surgiram de meios muito pobres da sociedade, tendo como exemplo o Zé Serra (baterista) e o Fernando (baixo), ambos oriundos de um bairro de barracas, o “Relógio”. Óscar (vocalista), estudante em economia e sem qualquer esperança em encontrar trabalho no futuro; por último oAlfredo Pereira (guitarra e homem das letras da banda), estudante em economia e professor de Filosofia. O grupo editou dois singles, oprimeiro trabalho do grupo Há que violentar o sistema foi retirado de circulação por fazer referência, de uma forma indireta, ao governo e a política por ele praticada.

Minas & ArmadilhasFaziam parte da formação:

Paulo Ramos (guitarra);

Paulo Borges (voz); Zé Eduardo (baixo); e o Peter Machado (bateria). Deram vários concertos, o primeiro serviu de referência à divulgação do grupo, no liceu D.Pedro V. em parceria com

os Xutos & Pontapés, em 1979, e em seguida participaram do “Festival Antinuclear“ com várias bandas no Parque Eduardo VII. Algo peculiar que fez dos Minas e Armadilhas um grupo original para a época, criaram um fanzine que recebeu o nome de Estado de Sítio, editado pelo vocalista, onde focavam as últimas novidades referentes ao punk e de igual modo informava fatos sobre a atividade da banda. Assim foram tal e qual os Faíscas, uma banda com uma curta duração sem qualquer tipo de registo discográ fi co.

As editoras avançaram com cuidado porque havia ainda algum receio e uma enorme responsabilidade, os riscos eram muitos, os discos começaram a surgir através de edições bastante limitadas, nunca ultrapassando os 1000 exemplares. SW

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Depeche Mode retorna com seu SPIRIT, mais politizado do que nunca. Onde está a Revolução?

Éassim que o grupo de rock eletrônico, com quase quatro décadas em atividade, inicia o primeiro single extraído do primeiro

disco de inéditas em quatro anos, o 14° álbum de estúdio da banda, lançado em 17 de março deste ano. A nova música mostra o trio em fase politizada, algo não

Construction Time , disco de 1983 que trazia “Everything Counts” como carro-chefe. A letra de “Where´s the Revolution” conclama uma revolução e é das mais diretas já lançadas

Musicalmente, a faixa se mostra pesada e sombria, com um refrão forte e poderoso marcada pela inconfundível voz de Dave Gahan, que funciona bem quando é executada ao vivo, nos shows da turnê do álbum — todos em estádios ou arenas ao ar livre (já com data confirmada para passar pelo Brasil, em única apresentação em São Paulo, no Allianz Park em 27 de março de 2018, após 24 anos desde a sua última e única passagem por aqui).

Na sequência do lançamento do single oDepeche lançou o clipe da música de trabalho, dirigido pelo aclamado diretor/fotógrafo holandês Anton Corbijn, que tem em seu currículo vídeos de grupos como

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Texto: Marcelo Vitorino Fotos: Divulgação

Nirvana, U2 e Coldplay, e no cinema dirigiu Control, de 2007, sobre Ian Curtis (vocalista do icônico Joy Division), além de The American, em 2010, e O Homem Mais Procurado, em 2014. Esta parceria com o Depeche Mode já dura mais de três décadas, desde que dirigiu o clipe de A Question of Time, de 1986.

No vídeo de “Where´s the Revolution” (em preto e branco), vemos Dave Gahan cantando a letra em cima de um palanque, dançarinos fazem um balé com bandeiras e até o trio usando barbas de Karl Marx. Um flerte com a esquerda.

Spirit, o álbum, que teve produção de James Ford (do Simian Mobile Disco), aborda temas que tenham significado atual e com sonoridade não datada, o que é bem difícil para grande parte das bandas que permanecem tanto tempo na ativa.

O disco abre com “Going Backwards” que chega como um soco, cheia de frases falando sobre a realidade de hoje, na qual é possível ver pessoas morrendo em tempo real, mas ninguém “Sente mais nada”.

Vale ressaltar que as músicas foram com-

postas antes de todos os acontecimentos políticos e econômicos que tem ganhado destaque ao redor do planeta. E esse fator dá uma aura ainda mais interessante ao projeto que chega como um gatilho para fazer pensar e refletir. As letras de Martin Gore exalam uma frustração que coincide com a chegada do controverso Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, a ascensão do populismo de extrema-direita e ao Brexit.

“The Worst Crime”, mais uma vez comentando sobre o que move as pessoas para direções tão arbitrárias em relação a tudo. Dave Gahan, afirmou em entrevista à revista Rolling Stone que a letra dessa faixa é sobre mudança. Afirmou ele:

Você precisa fazer algo diferente ou agir diferente. [...] Individualmente, eu acredito que as pessoas são inerente-

mente boas, mas nós somos distorcidos pela informação que chega até nós e reagimos com essa informação por medo.

Após esse momento, o álbum ganha uma sonoridade mais sombria com “Scum”, “You Move”, a primeira faixa a deixar a política de lado e partir para os relacionamentos, seguida por “Cover Me”, que se mantém na mesma seara, falando sobre um relacionamento que está acabando, e que encanta por uma certa sonoridade contemplativa que evolui em uma cadência mais rápida até alcançar o auge e te colocar para dançar. Ao todo são 12 faixas de um Depeche maduro, crítico e sonoramente atemporal. No final das contas, temos o Depeche Mode colocando no mercado um daqueles efeitos colaterais que só tempos difíceis conseguem produzir e equalizar. A criatividade sonora mantém tudo fresco para quem busca boa música e infinitas possibilidades de ser influenciado por boas coisas, mas o período que estamos agora e a forma como a obra cai no colo do público é excepcional. SW

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Ilustração/arte VIsual: Aline Daka tradução: Gleiton Lentz

Projeto Jardim Limpão

Daniel Melim é um artista que transcende sua arte. Grafiteiro, artista plástico, arte-educador, ativista cultural entre tantas outras qualidades.

O olhar do artista sobre a comunidade de sua cidade (São Bernardo do Campo) fez surgir um projeto único.

Um projeto de extrema relevância na percepção consciente e crítica do mundo contemporâneo.

Texto: Thina Curtis Fotos: Divulgação

OJardim Limpão acontece de forma atraente, lúdica e provocadora, sem fins lucrativos. Daniel Melim, através de sua arte — do stencil e do grafitti —, com o sentimento do it yourself , transforma e dá visibilidade para as pessoas desta comunidade, em especial as crianças e adolescentes, que aprendem brincando e fazendo arte, literalmente.

O projeto vem acontecendo desde 2003 em dois bairros da região: Jardim Regina e Jardim Limpão. Abordagens alternativas dinamizam a ocupação dos espaços públicos da cidade de São Bernardo do Campo, e possibilita aos habitantes novas formas de interação e fruição artístico-cultural.

Transformar e resgatar a vida social, através da arte e cidadania, em locais esquecidos pelo governo e mal vistos pela sociedade, afinal é uma “favela” e ainda existe um forte preconceito sobre as pessoas que moram nestas comunidades. É uma resistência cultural louvável e única, do artista e dos moradores, que também se envolvem no projeto. Diante deste cenário, intervenções artísticas promovem transformações ou reações, sejam elas intelectuais sensoriais ou físicas.

O Jardim Limpão ganhou destaque na mídia, mas de forma negativa, no ano de 2003, pois lá era onde morava, e foi encontrado, o assassino do fotografo Luiz Antônio da Costa, que foi executado no episódio de reintegração de posse do terreno da Volkswagen. Esse projeto vem sendo realizado desde 2006, de forma independente e contando apenas com o apoio da própria comunidade, tendo em moradores como Fábio Mendonça e Vanderlei Viana, que desenvolvem de forma voluntaria treinos de capoeira angola para as crianças de região, o suporte fundamental.

Foi no muro da casa do Vanderlei, na Travessa d’Água, que surgiu o primeiro graffiti e com ele o intuito de trabalhar em forma de workshop com as crianças e adolescentes do bairro, garantido acesso à cultura, lazer e educação através da arte.

Além dos workshops, o projeto também visa registrar através da fotografia esses painéis, capturando também o dia a dia da comunidade.

A realidade dessas comunidades é marcada pelo intenso tráfico de drogas e atos de extrema violência, além da completa falta de estrutura básica para seus moradores. Mas a ideia do projeto e do registro fotográfico não

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dial, mas apresentar o cidadão/trabalhador comum que se esforça para sobreviver nesses “quilombos modernos”, com renda média em torno de R$ 300,00 por mês, tendo pouco acesso à cultura e ao lazer.

Em 2007, foi lançada uma publicação independente intitulada Projeto Comunidade Limpões, contendo alguns desses registros fotográficos e painéis criados junto as comunidades. Essa publicação alcançou visibilidade em vários lugares, no Brasil e no Exterior, sendo pauta para materiais em diversos jornais e revistas de âmbito regional e nacional. Através das cores o grafitti nada mais é que uma intervenção utópica e poética.

pessoas a ficarem atentas à sua cidade, seu espaço.

É para que percebam, depois dessas mudanças e transformações, que é possível promovê-las. Dar qualidade de vida é possível! Mudar!!!... nem que seja somente um pouquinho.

O Spell Work acredita e se motiva com ações como essa. Parabéns Melim por fazer acontecer sem esperar por ninguém. Acreditar no que se faz com amor faz toda a diferença! Parabéns!

Para quem se interessar em saber mais do projeto, entrar em contato para o e-mail:

melimdaniel@yahoo.com.br SW

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the dreams never end

Projeto oriundo de Odivelas (Lisboa, Portugal), em que a sua sonoridade assenta nas linhas alternativas do chamado Minimal Wave, Coldwave, Electronic, Darkwave e ou Synthwave

Formados em novembro de 2014, por Carlos Magalhães, que em outros tempos foi baterista e membro fundador do projeto Khaos e Lacrima Christi, e que trabalhou com os projetos Kausa, Pátria e Clã Mórbido.

Em setembro de 2015, The Dreams Never End veem o seu núcleo reforçado, com a entrada de

Virgílio Santos para os sintetizadores. Músico que nos anos 1980/1990 andou pelos projetos Khaos, Mea Culpa, Kem Candle e foi também membro fundador da banda Lacrima Christi.

Depois de algumas aparições em compilações, surge em dezembro de 2016 o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado Walk Blindly. Ao longo das dez mú sicas que o compõem, somos intuídos a percorrer um uni verso onde pontificam as ambiências eletrônicas, ora pintadas de cinzento claro e ora salpicadas de cinzento escuro.

diSCOGRAFiA:

CD / Álbum / Walk Blindly / Edição de Autor / Dezembro 2016

DIGITAL / Compilação / Various Artists — “Expressionism Noir” Do What Thou Wilt Records / 2016

CD-R / Compilação / Stimmen Der Seele / Edição da Die Seele (Grécia) / Abril 2016

CASSETE / Compilação / Ventos Acinzentados / Edição da ANTI-DEMOS-CRACIA (Portugal) / Dezembro 2015

CD / Compilação / Day Of The Lords — Tributo a Joy Division / Edição da Z22 (Portugal) / Outubro 2015

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Fotos: Armindo Silva Texto: António Caeiro

the dreams never end

António Caeiro: O que os move a fazer música?

The Dreams Never End: A paixão e o amor que temos pela música desde há muitos anos, pelo prazer que nos dá quando estamos envolvidos com a mesma, necessidade de nos superarmos, e por ser um fenômeno anti-stress.

AC: O vosso nome deriva de um tema dos New Order. Subentende-se que continuam ainda bastante ligados à corrente de Manchester de outrora?

TDNE: Não foi por esse motivo, obviamente que a corrente de Manchester é uma influência, como muitas outras, acontece que quando estava à procura de um nome para a banda, dei comigo a ouvir o primeiro álbum dos New Order, o Movement e a primeira música é o “Dreams Never End”, achei que este título ter tudo a ver com os motivos porque iniciei este projeto.

AC: Atualmente a par de alguns bons festivais de música alternativa, no Verão, já é possível ver, em Portugal, apresentações ao vivo durante o resto do ano em espaços que apostam nesta sonoridade, concordam?

TDNE: Felizmente que existem pessoas que por puro amor à música e principalmente a estas sonoridades mais alternativas, vão trazendo a Portugal, nomes e projetos que de outra forma, nunca cá viriam, porque mesmo na maioria dos ditos festivais de verão a oferta de música e sonoridades alternativas é muito reduzida e em muitos mesmo inexistente, por isso é de louvar o trabalho desses promotores que muita vez por conta e risco nos trazem projetos que primam pela diferença aproveitando espaços que hoje existem espalhados pelas cidades do nosso país.

AC: Os “media” continuam a fazer-se esquecidos desta vertente musical, sendo esporadicamente lembrados por força dos tais festivais anuais que (felizmente) ainda acontecem, o que vos parece atualmente a atitude dos media relativamente à chamada “música alternativa” feita em Portugal?

TDNE: A atenção dada pelos “media” a esta vertente musical é praticamente inexistente ou muito, muito esporádica, as várias rádios passam playlists praticamente iguais umas às outras, apostando na quase totalidade

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Aldeia de Paio Pires – Portugal Entrevista, janeiro/2017 Fotos: Divulgação

em nomes mais mainstream pouca aposta na música portuguesa e a atenção, é regra geral sempre sobre os mesmos, aquela música politicamente correta, não arriscam um milímetro a dar conhecer novos projetos e novas sonoridades em suma, muito pouca ou nenhuma atenção, divulgação e apoio. Ao nível da televisão e imprensa escrita a atitude é praticamente a mesma.

AC: O vosso álbum de estreia, é uma edição de autor, podem resumidamente, descrever o conteúdo de Walk Blindly , assim como quem fez a produção, quem elaborou a capa?

TDNE: É um álbum com dez temas, alguns dos temas são instrumentais, temas que chamam a atenção a vários assuntos da vida de todos nós, do nosso dia a dia, relações pessoais, causas etc. A produção do álbum foi feita em conjunto com o Virgílio e com a ajuda de alguns amigos tal como a capa. A capa é uma fotografia trabalhada de uma fachada de um prédio que existe em Leipzing (Alemanha) e que eu achei lindíssimo, sempre achei que daria uma boa capa de álbum.

AC: É possível adquirir o CD e/ou existe algum sitio na internet onde o possamos ouvir?

TDNE: A edição que fizemos está neste momento esgotada mas equacionamos a possibilidade de uma segunda edição, de qualquer maneira o álbum está disponível em formato digital na plataforma Bandcamp.

AC: Existem perspectivas de ver ao vivo os

TDNE em 2017?

TDNE: Estamos a ensaiar para ver se damos uns concertos no decorrer deste ano.

AC: Falem-nos um pouco sobre o vídeo do tema “UVB 76”, que foi produzido pela artista francesa Myriam Hory (Audrynna Von Succubya).

TDNE: O tema é sobre uma frequência de rádio russa que emite desde o período da guerra fria e que suscita a curiosidade, porque ninguém sabe o sítio de onde emite, achei interessante o assunto e compus o tema, a Myriam Hory (Audrynna Von Succubya) é uma amiga que faz vídeos por hobby e à qual pedimos ajuda para nos fazer o nosso sobre o tema, escusado será dizer que ficamos muito contentes e agradecidos com o excelente trabalho dela. SW https://thedreamsneverend.bandcamp.com

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Afaixa “Stop Confusion” (um atraente clip também) do EP mais recente da banda intitulado We already live in the Future foiproduzidopelaMondoCãoFilmes comparticipaçãoespecialdoChuck.Elaé daquelasfaixasquedáparadizerfacilmente que foi lançada nos anos 1980. Carregando uma combinação de estilos e referências musicais.ComoinfluênciastemosTheCure, SiouxieandTheBanshees,JoyDivision,The Smiths, Wolfsheim e New Order. Bem audível,numclimão new wave e synth-pop reproduzdeformasagazesseestilocultuadopela cultura dark ealternativa.

Formado por Fernanda Gamarano (guitarristaevocalista),IanVeiga(tecladistaevoz), fael Pires (guitarrista e vocalista), Luca

Você prefere o som dos synths análogos ou digitais? E por que?

Der Baum: Nós estamos sempre à procura de evoluir nosso som e usar instrumentos que nos possibilitam ampliar as opções de timbres e efeitos. Como os membros da banda são multi-instrumentistas temos a possibilidade de utilizar por exemplo, pads digitais como elementos percussivos e as vezes também revezamos alguns instrumentos. Como a percussionista Amanda Buttler também toca

teclado Cassio produzido nos anos 1980 em nossos shows e gravações. Também temos dois sintetizadores muito bons cheios de possibilidade, são dois Rolland Phantom. Eles possibilitam muitas opções de efeitos como simulador de Theramin e Também pads analógicos para utilizar samples. Nossa ideia de sonoridade é justamente a mistura do som analógico dos anos 1980 com uma roupagem mais atual que nossas referencias mais recentes acabam nos direcionando.

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TC: Do que falam suas letras?

DB: Falamos do cotidiano, um pouco esculachado as vezes, e também fazemos letras futuristas, como em nosso primeiro EP chamado The Archicteture of the City.

TC: O ABC (Região industrial São Paulo) já foi o berço da música eletrônica. Atualmente a cena brasileira de música eletrônica anda bastante parada. Vocês têm uma influência forte de bandas inglesas e alemãs e lá a cena continua forte e surgindo vários nomes e estilos. Como vocês veem o futuro da cena brasileira? Como vocês veem o atual cenário musical no ABC e São Paulo atualmente?

DB: A cena atual onde nós somos mais ativos seria, é claro, a cena de rock independente da nossa Região. Além de tocarmos nos espaços também organizamos alguns eventos, como o“Future Basement”. Essa atividade nos permite perceber como a produção musical

anda no momento. E estamos muito felizes em reparar que cada vez mais bandas surgindo e se estabelecendo. Criar um material original é definitivamente o que fará que seu projeto se destaque e é isso que tentamos fazer na DER BAUM.

TC: O visual é um importante complemento para a música de vocês?

DB: Sim! Nos importamos com o visual, não só de nossas roupas, mas também como um todo. Acho que a aparência de como a banda se mostra ao público é importante, porque de alguma forma fica marcado.

TC: O que esperar da Der Baum?

DB: Esperamos que ela de frutos (trocadilho bobo pois o significado de Der Baum é A árvore [risos]), esperamos que de alguma forma alcance um ótimo público e com isso ter o retorno do valor ao nosso trabalho, a nossa arte, de ser reconhecidos!

Esperamos fazer muito barulho por ai!

TC: Deixe seus comentários pessoais aos leitores do Spell Work! Grata pela atenção!

DB: Espero que nosso som agrade além do esperado, obrigado!

E muito rock’n’roll a todos! SW

Campo de Guerra

(Carlos Matos [Broto Verbo]) (1970 - Leiria - POR)

O meu peito é um campo de guerra. É uma vala-comum a céu aberto, infestada de odores a nados-mortos amores, que defuntos à nascença, em mim decompuseram…

Estou preso assim ao eterno velar deste sepulcro. Trincheira funda de mil sangues que as minhas veias irriga…

E nas manhãs dos dias escuros que nestas fossas eu esculpo, ergo o albergue da sina atroz que alada vã em mim se abriga…

Trovadora Poesia

também sou uma trovadora

Mulher visceral maternal que não liga pros olhares dos inquisidores

também tenho meus poderes

meus mistérios meus segredos sem vestígios

faço meu próprio destino sou ficção

história

Um melômano, poeta, sonhador… Enfim, coisas que não nos levam a lado nenhum mas que nos permitem ir a todo o lado!

/carlosbrotoverbomatos brotoverbo@gmail.com

memória pronome sujeito hiato

(Thina Curtis) (1975 - São Paulo)

Ativista incondicional, idealista e propulsora de ideias e sonhos… Tudo exposto de forma poética, contornando os percalços da vida!

alfabeto simplicidade em forma poética mulher que sonha e se alimenta de palavras...

/thina.curtis oficinadefanzine@gmail.com

23 de julho de 2016, 01: 05

magaZine 30

Vemmuitomais Nãoporaí.perca

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