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[MADE IN PORTUGAL]
from Spell Work, nr. 0
Punk o seu tempo é a crise, o seu espaço é a rua, o seu deus é a provocação, a sua temática é alimentar “clichés” para enganar e combater o aborrecimento. Nós já éramos todos punks, antes da moda surgir! Punk ou Rock (eis a questão), ambos vivem os mesmos problemas, ligados pelo mesmo conceito musical.] Falar de punk em Portugal, é curto e por vezes absurdo! Em relação à força que o mesmo teve noutros países, a qualidade na produção quase sempre foi débil e fraca, pecando pelo material que nos era acessível na altura.
Opessimismo foi talvez omaior inimigo do rock nacional, o momento foi quase que oportuno para dar voz ao ruído sonoro que enchia os cantos vazios deixados pela amargura do totalitarismo que fez estagnar o intelecto de cada um, era fundamental começar a criar algo de novo que tivesse um cariz popular e ao mesmo tempo marginal, sem qualquer tipo de censura pelo meio, era necessário dar vida aos delírios interiores de cada um, foi através de um sorriso tímido (diria) que começaram a surgir os primeiros grupos de rock, poucos mas bons, sito: os Tantra bastante na linha do rock progressivo em parceria com os Perspectiva; numa área diferente surgem bastante menos homogéneos os Ananga Ranga que souberam e bem encaixar o seu estilo musical no jazz-rock, ou, recordando os bons e velhos Arte & Oficio que trouxeram na bagagem os sons da revolta, o hard rock estava-lhes no sangue e a energia musical era intensa.
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1978, o punk criava as suas primeiras raízes em Portugal, chegava já tardio. Mas esse fato não impediu que uma antítese fosse surgindo aos poucos para desse modo cortar laços com o passado musical que já se estava a tornar algo monótono e repetitivo a segunda vaga rockeira]ganhou força através de nomes como: Os Faíscas, foram uma das bandas pioneiras do movimento, rotulados de punks pela revista Música & Som não deixaram qualquer tipo de registo, surgiram através de um grupo de amigos que paravam numa cervejaria algures na Trindade. “Começamos a tocar porque a música estava parada, depois apareceu o movimento ‘punk’ com o qual nós temos a fi nidades” O grupo era formado por Rocky Tango (guitarra & voz); Lee Finuras (guitarra); Gato Dinamite (bateria) e Dedos de Tubarão Júnior (baixo e voz). O grupo durou muito pouco tempo, oreportório do mesmo era todo ele baseado nos velhos clássicos de rock´n´roll dos anos cinquenta, com um agradável cheirinho chuckberryano, “Roll Over Beethoven“, todos eles tocados de uma forma esgalhada e eufórica acompanhados por riffs hilariantes. Os Faíscas foram o embrião de inúmeros projetos que marcaram música portuguesa nos anos 80, após o split do grupo surgiu, em Julho de 1979, os Corpo Diplomático, com uma formação reforçada, foi desta forma que editaram um dos melhores álbuns da década de 80, que deram o nome de Musica Moderna, considerado como um ícone da New Wave portuguesa. As letras deixaram de falar apenas de amor e liberdade para ganharem contornos + violentos e chocantes, algo que veio estimular e ao mesmo tempo agredir de uma forma direta e indireta o pensar e agir da sociedade vigente.
“Há que violentar o sistema”, gritavam os Aqui d´el rock, baseados num som distorcido & ensurdecedor, mas onde a principal atitude era combater e criticar a política dessa época.
Parte dos elementos da banda surgiram de meios muito pobres da sociedade, tendo como exemplo o Zé Serra (baterista) e o Fernando (baixo), ambos oriundos de um bairro de barracas, o “Relógio”. Óscar (vocalista), estudante em economia e sem qualquer esperança em encontrar trabalho no futuro; por último oAlfredo Pereira (guitarra e homem das letras da banda), estudante em economia e professor de Filosofia. O grupo editou dois singles, oprimeiro trabalho do grupo Há que violentar o sistema foi retirado de circulação por fazer referência, de uma forma indireta, ao governo e a política por ele praticada.
Minas & ArmadilhasFaziam parte da formação:
Paulo Ramos (guitarra);
Paulo Borges (voz); Zé Eduardo (baixo); e o Peter Machado (bateria). Deram vários concertos, o primeiro serviu de referência à divulgação do grupo, no liceu D.Pedro V. em parceria com os Xutos & Pontapés, em 1979, e em seguida participaram do “Festival Antinuclear“ com várias bandas no Parque Eduardo VII. Algo peculiar que fez dos Minas e Armadilhas um grupo original para a época, criaram um fanzine que recebeu o nome de Estado de Sítio, editado pelo vocalista, onde focavam as últimas novidades referentes ao punk e de igual modo informava fatos sobre a atividade da banda. Assim foram tal e qual os Faíscas, uma banda com uma curta duração sem qualquer tipo de registo discográ fi co.

As editoras avançaram com cuidado porque havia ainda algum receio e uma enorme responsabilidade, os riscos eram muitos, os discos começaram a surgir através de edições bastante limitadas, nunca ultrapassando os 1000 exemplares. SW
Depeche Mode retorna com seu SPIRIT, mais politizado do que nunca. Onde está a Revolução?


Éassim que o grupo de rock eletrônico, com quase quatro décadas em atividade, inicia o primeiro single extraído do primeiro disco de inéditas em quatro anos, o 14° álbum de estúdio da banda, lançado em 17 de março deste ano. A nova música mostra o trio em fase politizada, algo não
Construction Time , disco de 1983 que trazia “Everything Counts” como carro-chefe. A letra de “Where´s the Revolution” conclama uma revolução e é das mais diretas já lançadas
Musicalmente, a faixa se mostra pesada e sombria, com um refrão forte e poderoso marcada pela inconfundível voz de Dave Gahan, que funciona bem quando é executada ao vivo, nos shows da turnê do álbum — todos em estádios ou arenas ao ar livre (já com data confirmada para passar pelo Brasil, em única apresentação em São Paulo, no Allianz Park em 27 de março de 2018, após 24 anos desde a sua última e única passagem por aqui).
Na sequência do lançamento do single oDepeche lançou o clipe da música de trabalho, dirigido pelo aclamado diretor/fotógrafo holandês Anton Corbijn, que tem em seu currículo vídeos de grupos como
Nirvana, U2 e Coldplay, e no cinema dirigiu Control, de 2007, sobre Ian Curtis (vocalista do icônico Joy Division), além de The American, em 2010, e O Homem Mais Procurado, em 2014. Esta parceria com o Depeche Mode já dura mais de três décadas, desde que dirigiu o clipe de A Question of Time, de 1986.
No vídeo de “Where´s the Revolution” (em preto e branco), vemos Dave Gahan cantando a letra em cima de um palanque, dançarinos fazem um balé com bandeiras e até o trio usando barbas de Karl Marx. Um flerte com a esquerda.
Spirit, o álbum, que teve produção de James Ford (do Simian Mobile Disco), aborda temas que tenham significado atual e com sonoridade não datada, o que é bem difícil para grande parte das bandas que permanecem tanto tempo na ativa.
O disco abre com “Going Backwards” que chega como um soco, cheia de frases falando sobre a realidade de hoje, na qual é possível ver pessoas morrendo em tempo real, mas ninguém “Sente mais nada”.
Vale ressaltar que as músicas foram com- postas antes de todos os acontecimentos políticos e econômicos que tem ganhado destaque ao redor do planeta. E esse fator dá uma aura ainda mais interessante ao projeto que chega como um gatilho para fazer pensar e refletir. As letras de Martin Gore exalam uma frustração que coincide com a chegada do controverso Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, a ascensão do populismo de extrema-direita e ao Brexit.
“The Worst Crime”, mais uma vez comentando sobre o que move as pessoas para direções tão arbitrárias em relação a tudo. Dave Gahan, afirmou em entrevista à revista Rolling Stone que a letra dessa faixa é sobre mudança. Afirmou ele:
Você precisa fazer algo diferente ou agir diferente. [...] Individualmente, eu acredito que as pessoas são inerente- mente boas, mas nós somos distorcidos pela informação que chega até nós e reagimos com essa informação por medo.
Após esse momento, o álbum ganha uma sonoridade mais sombria com “Scum”, “You Move”, a primeira faixa a deixar a política de lado e partir para os relacionamentos, seguida por “Cover Me”, que se mantém na mesma seara, falando sobre um relacionamento que está acabando, e que encanta por uma certa sonoridade contemplativa que evolui em uma cadência mais rápida até alcançar o auge e te colocar para dançar. Ao todo são 12 faixas de um Depeche maduro, crítico e sonoramente atemporal. No final das contas, temos o Depeche Mode colocando no mercado um daqueles efeitos colaterais que só tempos difíceis conseguem produzir e equalizar. A criatividade sonora mantém tudo fresco para quem busca boa música e infinitas possibilidades de ser influenciado por boas coisas, mas o período que estamos agora e a forma como a obra cai no colo do público é excepcional. SW