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Dulce Forte -A importância do autoinvestimento

Dulce Forte General Manager of DSolutions Group, Direction at AESS and Direction at AIIE

A IMPORTÂNCIA DO AUTOINVESTIMENTO á dias li uma história que terminava com este diálogo,Hpropósito da intervenção de um especialista numa empresa: a Durante os quase 30 anos de carreira profissional, fui desenvolvendo uma especialização profissional como consultora, fruto das empresas onde trabalhei e nos últimos anos, através da minha própria empresa. Nestes anos “ - Como é que o senhor quer cobrar um montante destes por uma única tenho investido muito “Tempo e Dinheiro” , em formações, especializações, martelada? seminários, entre outras formas de me capacitar e aceder a mais e melhor - Meu amigo, pela martelada em si cobrei um valor muito baixo. O que cobrei conhecimento para apoiar os clientes que recorrem aos serviços da minha verdadeiramente foi pelo saber do ponto exato no qual o golpe tinha de ser empresa. aplicado!” . Este ano, e apesar da pandemia, consegui manter o registo de frequentar Identifiquei nesta frase muito do que atualmente se passa com uma das formação que me traga valor e diferenciação enquanto profissional e, atividades que desenvolvo há quase 30 anos: consultoria a empresas numa consequentemente, à empresa que lidero e que é a minha imagem. Iniciei o área específica de projetos. No dicionário, consultor é uma “pessoa ano com uma formação especializada em Barcelona (Zen Business) com um qualificada que junto de uma empresa, dá pareceres e trata de assuntos investimento financeiro bastante elevado, não só pelo caráter inovador e técnicos da sua especialidade” . transformador da mesma, nas abordagem aos modelos de negócio, mas também pelas deslocações semanais a Barcelona durante um mês. Terminei Para que essa especialização exista, o consultor investe “Tempo e Dinheiro” precisamente uma semana antes de Portugal entrar em confinamento pelo na sua formação constante, para que possa dar esses pareceres e ajudar as que, posso dizer, que foi na hora certa! Conto organizar já no início de 2021 empresas a encontrarem soluções para os problemas que identificam nas uma edição online deste curso, porque acredito que o que me transforma a suas organizações. mim também transformará os que me rodeiam.

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Com todos os constrangimentos inerentes ao ano que está prestes a terminar, consegui ainda frequentar, e terminar com sucesso, uma formação de formadores em Literacia Financeira, em modo online, durante dois meses com uma intensidade e um grau de exigência bastante elevado, sobretudo ao nível das entidades avaliadoras. Esta formação permitir-me-á, em breve, transmitir conhecimentos ao nível de temas como crédito, mercado de capitais, seguros, entre outros, para micro e pequenos empresários através de programas específicos para o efeito.

Como balanço de 2020 questiono a mim mesma se este investimento trará retorno. Se os clientes e potenciais clientes irão reconhecer o esforço que foi feito, porque na hora de apresentar propostas e pedir honorários o mesmo será refletido. Vive-se em Portugal uma realidade onde para ser consultor, de micro e pequenas empresas, além de nos ser pedida polivalência, é-nos quase imposto que sejamos “sócios” das empresas clientes, dos amigos e dos conhecidos. É assumir o risco do investimento em consultoria e não ter acesso ao lucro dos resultados obtidos com esse investimento, porque apenas somos reembolsados pelos nossos honorários. Exagero? Talvez! Nesta atividade, e ao longo dos anos, conheci vários modelos de remuneração: o “chave na mão” , ou seja, o consultor faz o projeto, recebe, termina o trabalho e às vezes até desaparece do mercado. O modelo misto de uma remuneração fixa quando se entrega o projeto e o restante quando há uma aprovação. O modelo tripartido em que ao anterior acresce um fee de sucesso e finalmente a “estrela da companhia” dos últimos anos: o cliente só paga após aprovação.

Esta última vertente tem sido prática corrente num mercado saturado de “consultores” de tudo e mais alguma coisa que, para ganharem um cliente / projeto, oferecem os seus serviços no pressuposto da aprovação e desvirtuam os profissionais de carreira que investem em si, na sua formação e no objetivo de levar mais e melhor conhecimento aos seus clientes, trazendo assim valor para as organizações onde intervém.

Como profissional de formação, acredito que a mesma é um investimento e não um custo, por isso continuarei a manter um registo de autoinvestimento porque “se eu não me valorizar quem o irá fazer?” .

”Tempo é Dinheiro” livro de que sou co-autora em: https://bit.ly/38cqHL0

Festas Felizes

QUE JANELAS SE FECHARAM E QUE JANELAS SE IRÃO ABRIR, NA BIOINDÚSTRIA?

Filipa Sacadura Secretária-Geral da P-BIO (Associação Portuguesa de Bioindústria)

No final de 2019, era difícil de imaginar um ano como o de 2020. De facto, a pandemia provocada pelo vírus Sars-CoV-2 veio provocar mudanças drásticas a todos os níveis e obrigou a que todos, de forma mais ou menos vincada, se tivessem de readaptar a uma nova realidade. As empresas de biotecnologia em Portugal não foram exceção, tendo, desde o momento em que foi decretada a pandemia pela OMS, tido um papel ativo na luta global contra a Covid-19. A partir de março de 2020, foram várias as empresas biotecnológicas nacionais que adaptaram os seus planos de investigação e desenvolvimento ou as suas linhas de produção para poderem ter um contributo ativo no diagnóstico de infetados, no desenvolvimento de novas terapias para o tratamento de doentes ou até mesmo no estudo e desenvolvimento da tão desejada vacina para a Covid-19.

Outra das grandes mudanças de 2020 deu-se ao nível da perceção geral da importância da biotecnologia e das ciências da vida no dia a dia das pessoas. Se, no final de 2019, o conceito de biotecnologia era abstrato para a maioria das pessoas, em 2020 passou a fazer parte do léxico comum, havendo cada vez mais uma consciencialização da importância da biotecnologia e das ciências da vida para o futuro da nossa sociedade e da necessidade de se apostar mais nesta área, de forma a podermos ser mais proativos na resposta a situações como a que vivemos. O grande desafio para o período pós-Covid-19 é conseguir que o sector da biotecnologia e ciências da vida seja considerado um setor estratégico nacional e que receba investimento e políticas que sejam favoráveis ao seu crescimento. Isto aplica-se não só à biotecnologia aplicada à saúde, de forma a termos capacidade para responder melhor e de forma mais atempada a futuras crises sanitárias, mas também à biotecnologia aplicada à bioeconomia, de forma a podermos ter um papel ativo na resposta à crise climática global que certamente marcará a agenda pública dos próximos anos, e mesmo décadas.

Por isso, é fundamental que Portugal se posicione desde já como um player na criação de soluções baseadas em conhecimento e de elevado valor acrescentado que visem responder a desafios globais, o que só será possível com uma forte aposta no setor da biotecnologia e das ciências da vida e no desenvolvimento de novos negócios nesta área. Será essa a missão da P-BIO para 2021.

www-p-bio.org

“OS EPISÓDIOS DEPRESSIVOS AUMENTARAM”

A Clínica Navegantes, em Oeiras, dispõe de uma equipa clínica ligada à Psicologia e Pedopsiquiatria, que dá resposta aos problemas de saúde mental que afetam crianças e jovens. A psicóloga Sónia Serrão e a pedopsiquiatra Rita Teixeira esclarecem, em entrevista, como é possível identificar estes problemas e o que fazer para os resolver. Sónia Serrão Psicóloga

As crianças e os jovens são particularmente dependentes da As redes sociais podem servir de ponte para permitir o relacionamento entre os socialização – na escola e nos grupos de amigos. Como se pode jovens, a família e os amigos. Até que ponto, porém, estas podem ser fatores ajudar os adolescentes e as crianças a enfrentar um período de destrutivos da relação familiar pessoal e direta? maior escassez de socialização? (S.S.): Cada faixa etária tem uma relação distinta e um uso diferente das redes Sónia Serrão (S.S.): No caso das crianças são evidentes as necessidades de sociais e por isso quando falamos de família, falamos de diversidade. É, pois, brincar em grupo, a necessidade de interação social, de exploração do essencial que se definam regras em conjunto relativamente ao uso das redes ambiente, a aprendizagem em contexto social e cooperativa, sendo que é sociais, de forma a que se privilegie os momentos em família, as refeições, os precisamente no palco destas relações sociais que se desenvolvem serões. Quando as redes sociais assumem o lugar do diálogo em família, são competências diversas e comportamentos pró-sociais. Para os usadas para substituir o sentimento de solidão que se sente em adolescentes e jovens, o distanciamento social tem grandes impactos, família, um refúgio, significa que algo não está bem. pois estamos a falar de uma fase da vida em que os pares assumem um papel essencial. A impossibilidade de desfrutar de festas, de Como podem os pais reconhecer sinais de uma possível assinalar marcos e datas importantes com os amigos, a restrição de ansiedade ou início de depressão? atividades de lazer passaram a fazer parte deste “novo normal”. As (S.S.): Na ansiedade em crianças mais pequenas, devemos famílias têm um papel valioso na promoção e manutenção das estar atentos a sinais como um mal estar excessivo sempre relações sociais das crianças e jovens. No caso das crianças, podem que se antecipa um período de afastamento e separação aumentar o tempo de brincar e atividades de lazer em família, das figuras significativas, assim como maior irritabilidade e permitir a interação com vizinhos e amigos criando uma espécie oposição. Na idade escolar, existe a ansiedade de de “bolha” , atendendo às medidas de higiene e segurança desempenho, relacionada com o medo persistente e necessárias. acentuado dos testes, por exemplo ou a ansiedade

generalizada, que inclui preocupações excessivas difíceis de controlar sobre aspetos da vida quotidiana. Na adolescência, os tipos de ansiedade anterior podem também ocorrer, assim como a ansiedade social, traduzida no desconforto nas interações sociais e evitamento e o medo da avaliação negativa dos outros. Em termos gerais, devemos estar atentos à existência de muitas preocupações que são aparentemente desproporcionais em relação à realidade, à existência de pensamentos: “ E se...?, Será que?” , que refletem antecipações e previsões negativas sobre o futuro, a procura frequente de tranquilização, a dificuldade de lidar com a incerteza, dificuldades de atenção e concentração. Pode ser também frequente a autocrítica excessiva, pensamentos intrusivos e marcados pelo pessimismo. A par destes sintomas, podem existir dores de barriga, cefaleias, tremores, sudorese e alterações do apetite e do sono, insónias iniciais e pesadelos. No caso da depressão, os sinais e sintomas mais frequentes e visíveis são a presença de um humor persistente depressivo ou irritável, alterações do sono e apetite, baixa tolerância à frustração e dificuldades de autonomia. A partir da idade escolar e na adolescência já surge a verbalização de sentimentos depressivos, a autocrítica, perda de energia e interesse em atividades, sentimento de inferioridade, pessimismo, culpa exacerbada e por vezes ideação suicida.

Em casos em que a criança ou o jovem esteja deprimido, quais as ações recomendadas para ajudar a enfrentar a doença? Rita Teixeira (R.T.): Qualquer indivíduo diagnosticado com um episódio depressivo deve ser acompanhado em consultas de saúde mental. O diagnóstico deve ser realizado por um pedopsiquiatra, o qual em conjunto com os cuidadores e a criança, estabelece um projeto terapêutico que pode incluir intervenções no contexto, como a promoção de comportamentos saudáveis ou intervenções na escola e acompanhamento psicoterapêutico. Frequentemente, e porque a depressão afeta não só o próprio, mas também os que o rodeiam, é importante que seja incluído no plano um espaço para que os cuidadores possam abordar as suas preocupações e angústias.

Esta pandemia é um acontecimento que ficará registado nas mentes de todos. Que influência terá no comportamento e no desenvolvimento psicológico de cada um? (R.T.): Temos encontrado nas crianças e jovens marcado impacto nas rotinas do sono, particularmente no período de confinamento, com aumento do tempo de utilização de ecrãs. O isolamento dos núcleos familiares, bem como o distanciamento dos serviços de suporte à família, tem também contribuído para um agravamento de dinâmicas familiares disfuncionais. Do lado positivo, em contextos protetores, assistimos a um reforço das relações interpessoais com aumento das atividades de prazer e um maior envolvimento afetivo cuidadores-criança. Isto é particularmente verdade para as crianças mais pequenas, uma vez que os adolescentes estão numa fase de desenvolvimento em que o investimento relacional é realizado maioritariamente no grupo de pares.

O que antecipa relativamente aos problemas de saúde mental, sobretudo depressão, nos jovens, no futuro a médio prazo? (R.T.): A incidência do diagnóstico de episódios depressivos em idade pediátrica tem vindo a aumentar. Este facto está provavelmente relacionado tanto com o aumento dos fatores de risco para o desenvolvimento de doença, como com a maior valorização de sintomas de sofrimento emocional nestas idades. No contexto actual, podemos prever que este aumento se mantenha.

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