Anderson Lima - Campo do Riso

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CAMPO DO RISO

Tomate ANDERSON - O Tomate é um mestre, para quem não o conhece e não é do ramo da palhaçaria, é uma das referências mundiais, um artista premiado internacionalmente, com circulação por mais de vinte países. Um trabalho muito grandioso, diferente no meio da palhaçaria. Um palhaço que trabalha no bufão a ternura, que consegue brincar com uma doçura muito grande e que emociona muita gente. Eu conheci o Tomate em Minas (MG), em um festival. Depois disso, você veio para Campo Grande (MS) na Pantalhaços, tivemos a oportunidade de ficarmos mais tempo juntos, você veio para a Pantalhaços duas vezes. Dito isso eu queria fazer a primeira pergunta. Com esse trabalho que você tem do Tomate esse arquétipo que você construiu, o entendimento que você tem sobre o trabalho do palhaço latino-americano. Com todas as possibilidades que nós temos ao longo da história dos palhaços, como que chegou o Tomate na sua vida? E o que é essencial no Tomate hoje? TOMATE - É complicada a pergunta. O Tomate chegou porque eu, desde muito novo, sempre fui muito independente. Fui embora da casa dos meus pais aos 15 anos, porque eu queria a minha vida. Então me tornei soldado da Infantaria da Marinha, naqueles anos em que a Argentina estava em guerra pelas Ilhas Malvinas, com os ingleses, e eu era soldado. Não fui para a guerra porque eu era muito novo, porque eu tinha entre 16, 17 anos ali no ano de 1981. E, depois estive pela patagônia com os ciganos vendendo cigarros, porcaria. Depois, trabalhei em uma oficina mecânica, vendia cursos. Fiz muitas coisas. Fabricava perfumes, fundia alumínio, alguns delitos menores também. Fiz muitas coisas. Mas não encontrei nada que eu gostasse verdadeiramente. Sempre pensava “eu não quero morrer fazendo isso”, e quando encontrei a palhaçaria, que foi algo casual, foi quando eu pensei: posso terminar a minha vida fazendo isso! Eu me apaixonei. Já tinha 27 anos, aprendi com um amigo que me ensinou os primeiros truques, os primeiros balões, as primeiras coisas para fazer. Comecei a trabalhar com ele e pouco tempo depois já fui trabalhar sozinho. Depois de trabalhar um ou dois anos na rua sozinho, eu pensei: cara, eu sou um ignorante. Vou começar a estudar e aí peguei livros, vídeos, comecei a fazer cursos. Fiz um curso no Centro Cultural Ricardo Rosas, na cidade de Buenos Aires, que é ligada a Universidade de Buenos Aires de La Uba, que é muito prestigiada. Depois fui integrante de circo por um ano. Após isso, fiz muitos seminários de mágica, acrobacia, de malabarismo, de composição de esquetes, números cômicos, mas, sobretudo de balões. O palhaço que eu trabalho e que muitos colegas definem com o seu fazer, é aquele palhaço que tem habilidade, que pode ser um palhaço malabarista, um músico excêntrico, mas, que sabe fazer alguma coisa. Meu amigo falava que a diferença entre um ator e um palhaço é que o palhaço tem que saber fazer algo. Acho que era Dario Fo que falava isso. Então comecei a pensar que eu tinha que fazer alguma coisa. E como tinha uma explosão de arte na rua em Buenos Aires, tinha muito malabarista que andava de monociclo, perna de pau, muitas outras coisas, procurei alguma coisa para me diferenciar de toda aquela turma, que foram os balões. Ninguém queria balões, por que acham

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