Poesia Livre
O rouxinol ainda canta 1.º prémio UATI 2015
Enquanto o rouxinol ainda canta Saltitando nos arbustos floridos Que a nostalgia na memória planta Avivo os gestos empalidecidos Até sentir, com um nó na garganta, Aquele aroma de frutos colhidos Na berma dos afetos percorridos, Isso me encanta.
Sentado no vetusto e grão penedo Eu sou do imenso vale a sentinela; De noite, amarro os fantasmas e o medo Filhos das trevas aninhadas nela; Ao acordar, ainda manhã cedo, Ordenho as ovelhas, tiro a cancela E aceito a bênção da última estrela, O meu segredo.
O dia entristece com um lamento, A montanha suspira, dando ais: É o meu 'spírito, transformado em vento, Que passa murmurando nos pinhais E espadeirando põe em movimento As velas de moinhos ancestrais, Gigantes façanhudos, bem reais, Mas que eu invento.
Quando, enfim, o sol cai sobre o poente E, envolta no crepuscular palor,