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Déficit de vagas na educação infantil na capital aumenta 10,5%

Mesmo com investimento 30% maior que em 2022, mais de 6 mil crianças estão fora da rede pública de ensino de Porto Alegre em 2023

Por Felipe Machado

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Oano de 2023 segue causando dor de cabeça em quem procura vagas nas creches municipais de Porto Alegre. Atualmente, 6.390 crianças de zero a cinco anos estão na fila de espera das instituições. O problema já é recorrente na capital, e vem piorando a cada início de período letivo, com cada vez mais mães não tendo onde deixar seus filhos nos primeiros anos da vida escolar.

O acesso às creches e pré-escolas é direito assegurado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e, segundo a doutora em educação infantil e professora da UFRGS Simone Albuquerque, a discussão sobre o tema não é de competência somente dos órgãos de educação ou das mães. “Quando uma sociedade como a nossa não garante uma oferta educacional na sua primeira etapa de vida, as consequências serão sentidas lá na frente em todas as áreas”, afirma.

Em janeiro de 2022, o número de crianças sem vagas era de 5.779, 10,5% menor em comparação com janeiro deste ano. Apesar do déficit, o investimento orçado pela Prefeitura da capital para 2023, cerca de R$ 296,5 milhões, é 30% maior que o total investido no ano anterior, que fechou em R$ 226 milhões. Ainda assim, o montante não será suficiente para suprir a demanda.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, de 2021 até agora já foram abertas 3 mil vagas, mas o impacto da pandemia na renda das famílias fez com que a procura pelo ensino público aumentasse significativamente. Ainda de acordo com a pasta, seriam necessários de R$ 70 milhões a R$ 84 milhões a mais para zerar o déficit. O diagnóstico feito pela Smed é de que os recursos próprios são insuficientes, considerando o custo anual de R$ 14 mil por aluno. Ao todo, Porto Alegre tem, no momento, capacidade de atender 28.128 crianças.

Mães na espera

Com a oferta de novas vagas ficando para 2024, por meio da construção de novas escolas e abertura de novas oportunidades oriundas de parcerias público-privadas, casos como o de Clarice Manci, 32 anos, são cada vez mais comuns. Mãe do Caio, de três anos, a moradora da Vila Elizabeth, localizada na zona norte de Porto Alegre, está há um ano e meio esperando uma vaga para o filho na rede municipal. Segundo ela, já preencheu todos os formulários possíveis informando a necessidade da vaga, mas não obteve retorno.

Clarice trabalha como atendente em um supermercado, o que dificulta os horários de cuidado do filho, além de estar preocupada com a aprendizagem do menino: “Ficamos sem saber o que fazer. Às vezes preciso deixar ele com a vó ou até com a minha vizinha. Queria que ele pudesse estar aprendendo algo nesse tempo, sei que isso vai atra- palhar ele depois”. Clarice contou que frequentou a educação infantil e sabe da importância deste processo.

As diretoras das EMEIs foram procuradas para sanar dúvidas sobre o processo de administração das vagas, mas há uma orientação por parte da Smed para que não falem à imprensa sem autorização, o que não foi obtido pela reportagem.

Promessas de soluções

Em março deste ano, buscando novas vagas, a Prefeitura de Porto Alegre lançou um edital para o credenciamento público de escolas privadas de educação infantil. O governo tem em Belo Horizonte a sua inspiração, onde uma PPP entre prefeitura e empresas de gestão comercial vem funcionando muito bem.

Na capital mineira, a empresa parceira fica responsável pela construção e manutenção da estrutura física, enquanto a prefeitura direciona os profissionais de educação e nutrição. Dados divulgados em janeiro deste ano mostram que todas as crianças de zero a cinco anos cadastradas na rede municipal de BH foram atendidas, totalizando cerca de 80 mil efetivas. Em 2013, a capital mineira possuía 17 mil crianças de zero a seis anos sem vagas no ensino público.

A construção de novas escolas é outra saída para suprir a demanda. A retomada das obras das unidades Clara Nunes, no bairro Lajeado; Moradas da Hípica, na Hípica; Colinas da Baltazar e Raul Cauduro, ambas no Rubem Berta; e Jardim Leopoldina II, no bairro homônimo, só são possíveis devido ao acordo de cooperação técnica firmado com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no valor de R$ 32,3 milhões. Segundo a Smed, a parceria irá oferecer 1.272 novas vagas, o que representa quase 20% do atual déficit. Ainda de acordo com o governo, o prazo de entrega das obras pertence ao cronograma da Unesco, não do município.

A secretária de Educação de Porto Alegre, Sônia Rosa, contou à Zero Hora que negocia com o Governo do Estado para utilizar espaços em escolas estaduais, a fim de implementar creches e pré-escolas nestes ambientes. Apesar das várias alternativas, as soluções para o déficit de vagas na educação infantil da capital gaúcha não devem se confirmar para este ano letivo. Enquanto isso, casos como o de Clarice e Caio continuarão a acontecer.

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