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Marginalização trava crescimento do carnaval

Realizado em região periférica e com pouca estrutura, o evento não atrai turistas e afasta os moradores de Porto Alegre das manifestações culturais

Por Rafael Renkovski

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Há quase 20 anos, os desfiles das escolas de samba de Porto Alegre são realizados no Complexo Cultural do Porto Seco, na Zona Norte da capital. Outros espaços, no entanto, situados principalmente entre as regiões do Centro e da Cidade Baixa, já foram palco das celebrações carnavalescas. O processo de periferização do evento e a promessa de valorização da região conduziram o carnaval para perto da fronteira com o município de Alvorada, que agrupado ao baixo investimento público gera, até hoje, o descontentamento das entidades e o afastamento dos turistas. Superando diferentes gestões municipais, a pista de desfiles do Porto

Seco, implantada com a finalidade de ser um polo de desenvolvimento econômico e social para a localidade, visando a profissionalização do carnaval como um “evento de ano inteiro”, não recebe obras desde a sua inauguração, em 2004. O espaço permanece com as arquibancadas e camarotes provisórios e há relatos recorrentes de insegurança. “Segue sendo uma maquete”, afirma o coordenador de Cultura da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), jornalista Vinicius Brito.

“O Complexo Cultural do Porto Seco agudizou o processo de apagamento e sombreamento do carnaval de Porto Alegre”, reflete Brito, complementando que ocorreu um “movimento de tirar do coração da cidade esse som negro e diaspórico para levar aos limites, onde ninguém vê”.

Em concordância, o presidente da Copacabana, última campeã da Série Prata do carnaval porto-alegrense, Antônio Ricardo Silveira, o Chula, afirma que a cidade foi expandindo e “mandando os negros para as regiões periféricas”. Ele exalta, contudo, que apesar das circunstâncias adversas, as agremiações não fecham as suas portas ao longo do ano e seguem realizando eventos culturais como forma de sobrevivência.

Muitos dos compositores gaúchos estão inseridos também nos carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo, considerados os maiores do país, fato que ressalta o elevado nível artístico de Porto Alegre. É evidente, porém, a pouca atratividade para os investidores da região. No último carnaval, apenas órgãos públicos patrocinaram o evento.

Secretário-adjunto de Cultura de Porto Alegre, Clóvis André Silva da Silva afirma que os investidores “precisam ver a cultura como um negócio para garantir visibilidade e oportunidade”. Na mesma linha, Brito diz que o carnaval carioca é “onde o Moinhos de Vento (bairro nobre de Porto Alegre) vai”, salientando o sucesso comercial e o glamour das celebrações no Rio, em contraste ao evento sediado na capital gaúcha.

O Complexo Cultural do Porto Seco agudizou o processo de apagamento e sombreamento do carnaval de Porto Alegre”

Vinicius Brito, jornalista

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