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Inteligência artificial já é realidade no Rio Grande do Sul

Inovações tecnológicas desenvolvidas no estado gaúcho estão impulsionando setores públicos e privados

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Por Petra Karenina

Arecente difusão das inteligências artificiais (IA) de fácil acesso, como o ChatGPT, amplificou a discussão ética e social que permeia as novas tecnologias. Apesar da necessidade desta reflexão, já convivemos com muitos sistemas inteligentes que têm transformado diversos setores da sociedade, e impulsionado o desenvolvimento econômico.

A expansão da Inteligência Artificial no Rio Grande do Sul é notável, tanto em termos de pesquisa quanto de aplicação prática. De acordo com um levantamento realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, divulgado em setembro de 2021, a região sul do Brasil detém o maior número de parques tecnológicos do país, totalizando 28, em paralelo com os 30 parques restantes que estão espalhados entre as demais regiões.

Exemplo dessa atuação é o Instituto SENAI de Inovação em Soluções Integradas em Metalmecânica (ISI SIM), situado em São Leopoldo, que atua, principalmente, em projetos de inovação e pesquisa aplicada para o aumento da produtividade da indústria brasileira. O ISI SIM, inaugurado em abril de 2017, faz parte dos 26 institutos SENAI de Inovação, e faz o papel de ponte entre o meio acadêmico e o setor industrial.

Um dos projetos que aplica inteligência artificial, desenvolvido no local, utiliza um sensor com reconhecimento de conteúdo visual para manutenção preditiva de máquinas agrícolas. Essa abordagem envolve o uso de algoritmos de aprendizado de máquina e visão computacional para analisar imagens ou vídeos e identificar padrões ou anomalias. A tecnologia monitora as condições de funcionamento do equipamento, trazendo benefícios significativos, como redução de custos e melhor planejamento de manutenção, gerando aumento da vida útil do aparelho e reduzindo o tempo de inatividade não planejado.

Padrões variados

O conceito de inteligência artificial utiliza a ciência de dados para o aprendizado de máquina. De acordo com Wilson Gavião Neto, cientista de dados sênior e líder de projetos na área de ciência de dados e inteligência artificial do ISI SIM, o grande mérito dos algoritmos atuais está na variabilidade de padrões. “Seja padrão visual, seja padrão textual, com a abun- dância de dados que existe hoje, esses algoritmos são capazes de generalizar esse padrão, mas não que ele seja capaz de fazer um raciocínio”, relata o pesquisador. É uma funcionalidade que pode ser aplicada para resolver inúmeros problemas complexos, para qualquer setor, sendo necessário um conjunto de dados para servir como entrada, um algoritmo que define a estrutura do sistema de IA e hardware com capacidade computacional para realizar o treinamento contínuo do modelo. Quanto mais diversificado e abrangente for o conjunto de dados, melhor será o seu desempenho.

O setor público gaúcho também tem incentivado o desenvolvimento da Inte- ligência Artificial no estado. Programas pioneiros como o Smart Cities AI Hub, lançado pela Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre (Procempa), buscam por soluções inovadoras através da colaboração e ações integradas. O Hub Colaborativo de Inteligência Artificial para a área pública, lançado em março deste ano, já apresenta soluções para análise de pavimento. A rede neural reconhece a qualidade da via mediante foto ou câmera acoplada na placa de um veículo. A avaliação parte do resultado que varia de 0 a 1. Quanto mais perto do zero, melhor a condição do pavimento, enquanto retornos entre 0.20 e 0.70 demonstram alguma rachadura ou um pequeno buraco, e acima de 0.70 representam danos graves ao solo, como rachaduras e buracos de grandes dimensões.

Até o momento, o IA Hub da Procempa disponibiliza três modelos: o sistema inteligente para análise de pavimentos; outro denominado “O Olho Mágico”, que detecta a partir de uma foto se alguém está ou não utilizando máscara facial, e o “IA de análise de veículos”, que utiliza câmeras do cercamento eletrônico de Porto Alegre e pode identificar carros, motos, caminhões e pessoas.

Os modelos estão à disposição para uso por outros municípios, ou podem ser baixados por usuários cadastrados para colaborar com envio de dados e auxiliar no seu aprimoramento. Também é possível propor novos modelos. “A ideia do hub colaborativo é essa, a gente poder trocar experiências e projetos já em andamento para o benefício do cidadão”, informa Letícia Batistela, presidente da Procempa.

À medida que a IA começa a se integrar às jornadas de trabalho, surgem dúvidas e anseios sobre o futuro de muitas profissões. Conforme o pesquisador e cientista de dados Bruno Alano, nos próximos cinco anos, vamos testemunhar profissionais alinhados com a inteligência artificial, não substituídos por ela. “O profissional que se beneficia vai conseguir ter uma produtividade maior que o seu concorrente, que não está se digitalizando”, analisa Alano.

Com o incentivo público, o fortalecimento das parcerias entre empresas, instituições de pesquisa e universidades, e o contínuo desenvolvimento de soluções inovadoras, a IA no Rio Grande do Sul tem o potencial de impulsionar a economia local, atrair investimentos e posicionar o estado como referência nacional e internacional no campo da tecnologia.

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