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Imigrantes LGBTQIA+ em busca de acolhimento no Brasil

Na América Latina, apenas sete países reconhecem o casamento igualitário, motivo que faz muitas pessoas deixarem sua terra natal para fugir do preconceito e já passou por alguns dos estados. Hoje vive em São Paulo. Laura deixou a Venezuela em 2018, quando a crise socioeconômica se agravou. “Viajei porque precisava resguardar minha vida por vários motivos”, explica. Ela conta que fazia parte de vários movimentos de oposição ao governo. não corresponda a seu gênero possa alterá-lo, na prática, a realidade é outra. Além disso, direitos que no Brasil já são assegurados por lei - mesmo que há pouco tempo - como o casamento homoafetivo, lá ainda são ilegais.

Só em 2021, o Brasil recebeu mais de 150 mil imigrantes em busca de novas oportunidades. Para a comunidade LGBTQIA+, a jornada de adaptação é ainda mais complexa, pois além de barreiras como idioma e documentação, a lgbtfobia agrava ainda mais este processo. É nesta jornada que histórias como de Lufer Sattui, Laura Camacho e Cholita Florência se encontram.

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Ainda no Peru, país de origem de Lufer, a artista já exercia a arte Drag Queen. Desde a infância, grandes nomes da cultura Pop fomentaram sua paixão pelas performances artísticas. Apesar do custo mais acessível para manter o trabalho no Peru, Lufer não se sentia segura. “Lá eu era xingada, saia montada e era olhada com desaprovação. Aqui as pessoas olham, é claro, mas não com o mesmo julgamento”, diz.

Há seis anos, a peruana fez do Brasil seu novo lar, mais especificamente a cidade de São Paulo, onde desembarcou em 2017 para visitar a irmã, que já morava há cerca de um ano na capital paulista. “No segundo dia eu estava totalmente apaixonada pela cidade, era uma sensação de liberdade, de que eu podia ser eu mesma sem ter medo de alguém me bater”, relembra.

Lufer é uma mulher transgênero que encontrou no Brasil o amparo necessário para realizar a transição hormonal. Com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), pessoas trans de todas as idades e nacionalidades podem fazer o processo de transição de forma gratuita - desde que apresentem o Registro Nacional de Estrangeiros (RNE) e o cadastro no SUS.

De acordo com a UNFPA, órgão das Nações Unidas para saúde sexual e reprodutiva, a comunidade LGTBQIA+ é uma das mais discriminadas (71%) no Peru. Apesar da escassez de estatísticas oficiais sobre a violência contra a comunidade, um estudo realizado pelo Ministério Público peruano entre 2012 e 2021 consegue dimensionar de forma aproximada a realidade desta violência: mulheres trans ocupam o segundo lugar em assassinatos, com 36,4% de casos registrados, atrás de homens gays, com 55,8% de casos.

Escravidão moderna

Laura Camacho e Cholita Florencia compartilham vivências semelhantes de trabalhos análogos a escravidão. “Em Manaus, fui enganada. Trabalhei, mas não recebi no final o que seria meu por direito”, revela Laura. Humberto Soares, ou Cholita Florencia - seu nome artístico - , está no Brasil desde 2014, e já foi também vítima deste crime. Sem saber falar português, Cholita deixou a Bolívia em busca de novas oportunidades no Brasil.

Durante três meses, trabalhou em uma jornada de 17h diárias, recebendo menos que o salário mínimo da época. Conseguiu libertar-se quando, em uma parada gay, encontrou alguns conterrâneos na Praça da República. Um maquiador que conheceu sua história o alertou sobre a ilegalidade da situação. Foi então que surgiu a oportunidade de trabalhar em uma fábrica de perucas.

Refúgio e proteção

Por trás da estatística sobre o número de imigrantes, encontra-se outro grupo social, os refugiados LGBTQIA+. De acordo com o último relatório divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), somente em 2021, o número de solicitações de reconhecimento da condição de refugiado foi 29.107, e entre eles Venezuela, Angola e Haiti ocupam as primeiras posições. Ainda segundo dados do MJSP, entre 2000 e 2022, das 49.630 decisões de mérito para as solicitações de refúgio, 500 delas apontavam “Grupo Social” como motivo do reconhecimento.

Cholita Florência, imigrante boliviana

Quem também deixou tudo para trás foi a venezuelana Laura Camacho. A programadora e técnica em informática está em solo brasileiro há cinco anos,

Assim como Lufer, Laura chegou ao Brasil em um momento em que uma onda de conservadorismo estava prestes a eclodir. “Senti muito medo por ser uma mulher lésbica e por ver como as relações homoafetivas estavam sendo satanizadas por parte do governo”, afirma.

Na Venezuela, apesar da legislação prever que qualquer pessoa que se sinta lesada pelo próprio nome ou que este

As redes de apoio estão espalhadas pelo Brasil, e uma delas é a Rede Milbi. Localizado na capital paulista, o coletivo de mulheres imigrantes lésbicas, bissexuais e pansexuais acolheu Cholita e Laura. “É onde você se sente seguro ao saber que existem outras vidas que passam por essa transição. São muitas histórias que vemos dentro do movimento e fazem com que fiquemos unidos e sigamos lutando”, diz Laura sobre a importância desses espaços.

Um levantamento feito pela ACNUR, a agência da ONU para refugiados, mapeou redes comunitárias e de serviços para refugiados e migrantes LGBTQIA+. No Rio Grande do Sul, há pontos nas cidades de Pelotas, Caxias do Sul e, majoritariamente, em Porto Alegre. Os locais podem ser encontrados pelo site acnur.org.

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