
Mapas de Afeto Santú e Jobim
Casas de BSB
Casa de Virgil Abloh
Entrevista
Paulo Sousa

Resenha
Now Apocalypse
Mary Condom
Sedenta por Oral
À Moda com Ayobambi
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Mapas de Afeto Santú e Jobim
Casas de BSB
Casa de Virgil Abloh
Entrevista
Paulo Sousa

Resenha
Now Apocalypse
Mary Condom
Sedenta por Oral
À Moda com Ayobambi


Acultura queer tem cada dia conseguido criar o seu espaço há pelo menos algumas décadas, com muita batalha e resistência, seja para os artistas, políticos, ativistas, ou simplesmente para um público não tão atuante, mas que precisa ser representado. Porém, todos nós sabemos que ainda não estamos no mundo de arco-íris da bandeira.
Logo a Unclad vem como um veículo de comunicação, mas também de acolhimento para a comunidade. Um espaço que serve tanto de entretenimento, conhecimento e, às vezes, de provocação.
Um espaço para entrar na sua rotina que faça você se sentir a vontade de ser quem é, se sentir identificado pelo conteúdo e perceber que não está sozinho, ou...
Perceber que existe um universo maior, que você não conhecia e pode se inserir, mas, claro, se você se sentir confortável ou instigado.
Basicamente um lugar de várias trocas, sejam culturais ou pessoais, onde o objetivo é que você veja a Unclad como um lugar para se sentir livre com as suas reflexões, com quem você é.

GABRIEL TORNICH EDITOR-CHEFE
LUCAS CALANDRELI ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
RAFAEL LUCENA EDITOR DE CONTEÚDO
SHADI DESIGNER
DANTE REDES SOCIAIS E ILUSTRAÇÃO
GIOVANA HEUSI ESTRATEGISTA DE MARKETING
VICTOR SILVA CONSULTOR JURÍDICO
GABRIELA RODRIGUES MAQUIADORA
JESSÉ OLIVEIRA REDATOR
ANNA VICTÓRIA COMUNICAÇÃO EXTERNA

O
Brasil

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Casas de BSB
Casa de Virgil Abloh

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Mary Condom Sedenta por Oral
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Mapas de Afeto Santú e Jobim

Apocalypse


14 À Moda com Ayobambi




A Sedenta por Oral é uma linha de géis com glitter e jambu que ajuda a estimular tanto quem pratica como quem recebe, com quatros sabores deliciosos para você mamar, sugar e lamber à vontade. O jambu é um excelente aliado nesses momentos, já que ele estimula a salivação. Ai, ai, Mary... só quem viveu sabe! Então não fique só na vontade e entre em contato conosco para você descobrir os sabores, adquirir o seu próprio produto e brilhar muito, porque é como diz o ditado: enquanto as más línguas falam, as boas causam orgasmos!
E lembre-se: a boca é uma verdadeira ferramenta para o artista, sempre pronta para encantar, entreter e, claro, devorar tudo que é gostoso, incluindo você!



Gostou? Quer saber mais? Dê uma conferida em nosso Instagram @marycondom ou entre em contato conosco através de nossos canais de comunicação. Nós temos uma série de dicas, informações e produtos esperando para te ajudar nessa jornada!
E não se esqueça do nosso Mary Mail! Você pode nos escrever com suas dúvidas e pedidos por meio de qualquer canal de comunicação e te responderemos em nossa coluna mensal.
É isso, um beijo da Mary!
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Nesta edição da Unclad, vamos conhecer mais sobre a Casa de Virgil Abloh, fundada há pouco mais de dois anos, através de uma das suas imperatrizes, a drag Griffinda.
Tenho 24 anos e drag há 5. Sou imperatriz da casa Virgil Abloh, como braço direito das mothers, que são Paju de Abloh, Santana de Abloh e Star Aurora de Abloh. Fundamos a casa juntas em 2022, após algumas de nós sairmos de nossas antigas casas (Casa de Kimera, Casa de Oorun Odara e House of Mamba Negra) e recrutar outras integrantes que já eram de nosso convívio dentro e fora da cena. Sou mais próximo das minhas irmãs e irmãos na cena do Distrito Federal, apesar de hoje em dia termos capítulos abertos em Goiânia, São Paulo e Minas Gerais, mas devido ao convívio presencial temos mais facilidade de troca umas com as outras por aqui mesmo. Não possuímos uma “sede”, como muitas pessoas pensam quando falamos sobre casa, mas nos reunimos semanalmente (quando é possível, claro) em nossas casas, na Universidade de Brasília ou até mesmo no bar da 102. O importante é estarmos juntas e fazer a manutenção da nossa relação enquanto família ballroom.
A casa de Virgil Abloh é uma casa majoritariamente composta por travestis, nascida na periferia da Ceilândia e outras cidades satélites fora do Plano Piloto. Surgimos com a ideia de descentralizar a cena Ballroom brasiliense e trazer esse resgate da moda e da estética. O nome da casa foi inspirado no famoso estilista americano Virgil Abloh, que se destacou na área de designer de moda em sua coleção Off-White para a Louis Vuitton, focando no street wear. Inclusive a nossa logo é inspirada na logo da LV. O estilista faleceu em 2021, mas deixou sua marca no mundo da moda e serviu como inspiração para muitos jovens como nós.
As casas são basicamente coletivos que se juntam em um bem comum, o acolhimento (em primeiro lugar). Para além dessa ideia fraternal de casa, onde existem as mães (mothers), pais (fathers) e filhos (children) dentro outros cargos como príncipe e imperatriz, as casas competem entre si nas Balls, os quais são espaços que utilizamos para celebrar nossos corpos. Assim, a própria casa não batalha contra si, e sim prepara seus integrantes com treinos e auxílio com figurinos para competirem contra as demais, sejam elas Kiki (regionais, de forma resumida), ou Mainstream, que são as casas lendárias com mais de 20 anos de existência.
As casas têm o papel primordial de acolher os integrantes e servir como um impulsionador para que estes ascendam socialmente, assim como em suas categorias nas Balls. Muitas pessoas, como amigas próximas que tenho, tiveram a oportunidade de explorarem e descobrirem (ou melhor, aflorarem) sua verdadeira identidade depois de conhecer a cultura Ballroom. É por isso que a própria comunidade fala que a Ballroom é feita, em sua maioria, por pessoas trans pretas e latinas e para pessoas trans pretas e latinas, pois é nesse espaço que sentimos segurança de sermos quem de fato somos, e se empoderar disso é não deixar que surjam apagamentos e apropriações sobre a história da cultura. Dessa forma, eu entendo que devo respeitar quem veio antes, e saber meu local enquanto pessoa branca dentro da ballroom, mas não quer dizer que não posso estar ativamente presente na cena, mas que devo preservar os seus primórdios e ser um aliado. Dentro da minha casa, por exemplo, meu papel enquanto imperatriz é auxiliar as mothers com os filhos no que estiver ao meu alcance: seja de forma social, como acompanhá-los em uma consulta médica, seja incentivar ao ingresso no mercado de trabalho, ou até mesmo reunir minhas irmãs e irmãos para um treino de vogue (que é o meu forte) de modo que não caminhemos numa ball de forma dura e desleixada. É estar de fato presente e um pelo outro. Isso é uma casa na cultura Ballroom.
Estamos produzindo uma ball na cena ballroom de Belo Horizonte (onde temos capítulo composto pela integrante Della de Abloh), que acontecerá neste mês de novembro, no dia 22/11. Inclusive, estamos com uma rifa em aberto para custear a produção da Ball, no valor de R$10. O prêmio é uma tatuagem no valor de R$300 com o tatuador @vertt.ink. O sorteio ocorrerá no dia 23/11, e outras informações podem ser encontradas no nosso perfil do instagram @casadeabloh, portal esse que divulgamos tudo sobre o coletivo - sejam movimentações feitas aqui no Distrito Federal quanto nas demais regiões do Brasil. É isso. Sintam-se à vontade para conhecer nosso mundo e ficar por dentro da cultura Ballroom e aproveitar esse espaço livre para nós pessoas LGBTQIAPN+. Um beijo da Griff.
Por Jessé Oliveira
Desde a colonização, os padrões patriarcais estabeleceram a monogamia como uma norma inquestionável e imutável. Fortalecida pela influência da Igreja e pelas cruzadas catequistas, culturas que praticavam formas diferentes de relacionamento foram forçadas a adotar um modelo baseado na dominação masculina, muitas vezes através de coerção violenta. No entanto, ao longo dos anos, movimentos sociais e marcos revolucionários, como o feminismo e as manifestações históricas de Stonewall, nos Estados Unidos, e o Levante do Ferro’s Bar, no Brasil, trouxeram uma série de conquistas. Essas lutas garantiram não apenas direitos fundamentais, como o casamento entre pessoas LGBTQIAPN+, mas também abriram espaço para debates sobre a pluralidade nas formas de amor.
Nesse contexto, a não monogamia surge como uma alternativa. Com base em acordos mútuos e comunicação aberta, sem julgamentos, essa forma de relacionamento permite que os envolvidos estabeleçam suas próprias regras, com foco na liberdade individual e no respeito mútuo. Diferente da poligamia, frequentemente associada a contextos machistas em algumas culturas islâmicas e africanas, onde um homem pode ter várias esposas ou concubinas em função de seu poder aquisitivo, a não monogamia promove a autonomia sobre o próprio corpo e emoções.
Conheça algumas das normas conhecidas nos relacionamentos não monogâmicos.
Saúde emocional e sexual: A prática de relacionamentos não monogâmicos pode exigir um foco especial na saúde sexual, com testes regulares e comunicação sobre práticas seguras. Estudos acadêmicos: Pesquisas sobre não monogamia estão crescendo, com foco em aspectos como a dinâmica familiar, a experiência emocional e a saúde mental. Perspectivas culturais: A aceitação e compreensão de relacionamentos não monogâmicos variam amplamente entre culturas e sociedades.
Você pode consultar artigos acadêmicos, livros e entrevistas de pessoas que vivem essas experiências. Algumas referências úteis incluem: “The Ethical Slut” de Dossie Easton e Janet W. Hardy. “Polysecure” de Jessica Fern. Revistas acadêmicas sobre estudos de gênero e sexualidade.
Definição: Relacionamentos onde os participantes mantêm múltiplas relações românticas e/ou sexuais, com o consentimento de todos; Aspectos emocionais: O poliamor enfatiza o amor e o compromisso, não apenas o sexo. As pessoas podem ter conexões emocionais profundas com múltiplos parceiros;
Desafios: Comunicação e gestão do tempo são cruciais. Ciúmes e inseguranças podem surgir, exigindo habilidades de negociação;
Definição: Troca de casais ou atividades sexuais em um ambiente social;
Motivações: Muitos participantes veem o swinging como uma forma de apimentar a relação monogâmica, explorando a sexualidade juntos; Dinâmica: Normalmente, os casais que praticam swinging têm regras claras sobre o que é aceitável, e a experiência é frequentemente consensual e mutual;
Definição: Casais que decidem ter relações sexuais ou românticas externas, enquanto ainda se comprometem um com o outro;
Flexibilidade: Permite uma variedade de experiências, desde sexo casual até relações mais profundas fora do casal; Comunicação: A comunicação é fundamental para garantir que ambos os parceiros se sintam confortáveis e respeitados;
Definição: Um grupo de pessoas que se comprometem a ter relacionamentos exclusivos entre si, sem envolvimentos externos; Estruturas: Pode se assemelhar a uma “família” ou comunidade, onde todos se consideram parceiros iguais; Desafios e vantagens: Como em qualquer relacionamento, a dinâmica grupal pode ser complexa, mas oferece suporte emocional e um senso de comunidade;
Definição: Uma abordagem que rejeita as normas tradicionais sobre relacionamentos e enfatiza a autonomia individual; Negociação contínua: Relações são formadas e reformadas de acordo com as necessidades e desejos de cada pessoa, sem regras fixas; Foco na comunicação: A transparência e a discussão aberta são essenciais para evitar mal entendidos.

Desde pequeno, sempre encontrei na moda uma forma de me expressar. Estava sempre vestido com estampas dos meus desenhos favoritos — e, acredite, isso ainda é uma parte importante de quem sou. No entanto, a moda infantil é frequentemente limitada por questões de gênero e, muitas vezes, pela aprovação dos pais. Essa limitação seguiu me acompanhando até a adolescência, quando comecei a explorar novas referências.
Na adolescência, a influência da cultura emo me chamou a atenção. Em um ambiente em que a maioria dos jovens se vestia de maneira uniforme para a escola, decidi pintar o cabelo de diversas cores-fantasia. Essa escolha não só me destacava, mas também desviava o foco da minha deficiência, e isso para mim fazia muito mais sentido; ser notado pelas minhas escolhas de estilo do que o olhar confuso sobre meu corpo.
Aos 17 anos, descobri o universo da arte drag e passei a me montar, explorando novas facetas da minha identidade por meio da maquiagem e do personagem que criei. Comecei a frequentar festas onde encontrava pessoas com interesses semelhantes e isso abriu um leque de possibilidades para minha autoexpressão. Entrei em uma fase experimental, na qual me permiti usar e fazer tudo que achava interessante, independente das amarras de gênero e das inseguranças ligadas à minha deficiência. Chega um momento em que precisamos nos libertar para realmente entender quem somos, e a arte drag foi fundamental nesse processo de autodescoberta.

Subir ao palco vestindo criações de estilistas da minha cidade, alinhadas com perucas, maquiagem e música escolhidas a dedo, proporciona uma força e uma energia incomparáveis. Essa experiência transforma a performance em um momento de pura energia e confiança. Após vivenciar isso, percebi que muitas chaves na minha mente se viraram. Comecei a incorporar elementos da minha persona drag no meu dia a dia como “Igor”: cuidados com a pele, produtos de beleza e acessórios se tornaram essenciais. Descobri que “Bambi” e “Igor” compartilham peças, pois uma mesma roupa pode se reinventar em diferentes contextos, seja no trabalho ou em momentos de lazer. Por isso, defendo que todos deveriam se permitir e experimentar se montar pelo menos uma vez.
A representatividade é fundamental. Quando nos vemos refletidos em algum lugar, entendemos que podemos ocupar aquele espaço. Antes de começar a me montar, a falta de referências — tanto de artistas drag quanto de maquiadores PCD — era um desafio constante. Na verdade, é difícil encontrar representatividade em qualquer área.
Subir ao palco montado foi um grande passo para mim. Enfrentei olhares de estranheza, mas cada instante de apreensão se torna insignificante diante do carinho e da valorização que recebo das pessoas que enxergam meu trabalho. A insegurança sempre esteve presente, e ainda tenho muito a superar. No entanto, hoje sou uma versão muito mais autêntica em relação a mim mesmo, menos preocupado com a opinião alheia. Meu foco é viver da minha arte e ser feliz.
Cada desafio é uma oportunidade de crescimento, e é através da arte que encontrei meu lugar. Acredito que, ao ocupar esses espaços, estou não apenas reivindicando meu direito de existir, mas também inspirando outros a fazer a mesma coisa. Desse modo, celebro a diversidade e força que cada um traz pro mundo.
Na infância, nos divertimos com cores, pinturas e criações; mas, em algum momento, somos levados a abandonar essa liberdade criativa em nome da “maturidade”. Apesar disso, não precisamos deixar a criatividade de lado para sermos adultos; a arte é parte fundamental da essência humana. Acredito, por experiência própria, que minha vida seria vazia sem a arte. Então, abrace sua criatividade e redescubra o prazer de se montar e se expressar livremente.
Criada em 2016, Ayobambi é o nome dado a personagem drag queen do maquiador e designer de moda Igor Alessandro. Desde então vem atuando em diversos eventos de Brasilia com suas performances, Dj sets e trabalhos artísticos. Ayobambi começou a ficar conhecida através de postagens nas redes sociais de suas produções artísticas, a exemplo de maquiagens e performances. •







Nascida em Araxá, Minas Gerais, mas criada em Brasília, se mudou praticamente bebezinha para nossa cidade. Tem 27 anos e é drag desde os 18.



Ficou feliz de ser convidada para ser modelo desta edição, porque é extremamente amante da arte em todas as suas formas, seja em fotografia, design, qualquer coisa do tipo, é completamente apaixonada e são vários artistas aqui, na capital.
A revista tem um trabalho artístico e ela tem outro, logo essa mescla cria uma nova forma de arte, “fazendo um babado chique e bem bonito”, palavras dela. »
3, 2, 1...

























E quem quiser mais detalhes, a Ayobambi é uma das colunistas dessa revista e o Sense Moda Criativa foi bastante falada pelo estilista Luyd, entrevistado da última edição da Unclad. •

Aascensão da cultura Drag Queen no Brasil é uma história vibrante, cheia de cores e expressões artísticas que refletem a diversidade e a luta por direitos. Nos anos 80, as drags começaram a ganhar visibilidade nas grandes cidades, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, impulsionadas pela cena gay que se fortalecia após a ditadura militar.
Festas, bares e concursos de drag começaram a brotar, criando um espaço de resistência e celebração da identidade LGBTQIA+. Na década de 90, a explosão da cultura pop, com a influência de ícones como RuPaul nos EUA, ajudou a popularizar ainda mais as drags no Brasil. O movimento ganhou força com eventos como o “Glamour Drag” e o surgimento de programas de televisão que exploravam essa estética.
Nos anos 2000, a internet e as redes sociais revolucionaram o cenário. As drags brasileiras começaram a se conectar e compartilhar suas performances, alcançando um público muito mais amplo. A chegada de plataformas como YouTube e Instagram possibilitou que artistas como Pabllo Vittar e Gloria Groove se tornassem verdadeiros fenômenos, não só no Brasil, mas internacionalmente.

Na foto: Eva Mugler Fotografo: Arthur Lopes @arthurlopesph
Styling: Luyd @useluyd
Hoje, a cultura drag no Brasil é um verdadeiro fenômeno cultural, com performances que vão de shows de música a teatro e arte contemporânea. A luta por direitos e visibilidade continua, com as drags utilizando seu espaço para falar sobre questões sociais e políticas, celebrando a diversidade e desafiando preconceitos.
Assim, a cultura Drag Queen no Brasil se firmou como um símbolo de resistência, criatividade e inclusão, colorindo a paisagem cultural do país de maneira inconfundível!
Nos últimos anos, a mídia tem sido um grande catalisador para a popularização das drags. Programas como Queen Stars, da HBO, e Caravana das Drags, que trouxe uma competição entre drags de diferentes estados, ajudaram a dar visibilidade a artistas talentosos e a promover a diversidade dentro da comunidade LGBTQIA+.
Um marco importante foi a estreia do Drag Race Brasil em 2022, que trouxe a franquia de sucesso mundial para o país. O programa não só elevou o status das drags brasileiras, mas também fomentou o interesse do público em suas histórias e performances, gerando uma legião de fãs. A visibilidade na TV e nas plataformas de streaming contribuiu significativamente para que o Brasil se tornasse um dos maiores centros de cultura drag no mundo.
Sobre a quantidade de artistas transformistas no Brasil, é desafiador ter números exatos, mas estima-se que existam milhares de drags ativas, com uma cena muito rica e diversificada. A comunidade é especialmente forte em capitais como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, onde eventos e festas dedicadas a drags são comuns. Além disso, várias associações e coletivos têm se formado para apoiar e promover a arte, proporcionando espaço para novas vozes e talentos.
A crescente aceitação e celebração da cultura drag também se reflete em eventos como a Parada do Orgulho LGBT, onde as drags desempenham um papel central, atraindo milhões de participantes e espectadores.
Com isso, a cultura no Brasil não apenas se solidificou, mas também se tornou um importante meio de expressão artística e social, impulsionando a luta por direitos e a visibilidade da comunidade LGBTQIA+.


Mas apesar do grande mainstream que faz da arte transformista uma idealização de vida glamurosa, as artistas que dão vida a tantos personagens icônicos da cultura pop contam as dores e delícias de ser uma famigerada Queen.
Cassandra Monster, artista transformista a mais de 10 anos na capital federal nos narra a sua experiência com a arte da seguinte maneira “No início do sonho, antes mesmo de ingressar de forma definitiva nesse mundo louco eu tinha aquela expectativa que a maioria das pessoas que ingressam nessa arte tem - os holofotes, tudo é lindo e mágico. Com o decorrer dos anos aí vem a realidade de forma crua : que é mais dor do que glamour.”
Eva Mugler também de Brasília diz que muitos artistas têm nascido seduzidos pelo glamour da televisão, mas que no dia a dia a realidade é muito diferente, a cena ainda não fornece oportunidades suficientes, primeiramente pela falta de fomento da cultura pelo público e também pela baixa quantidade de casas que contratam artistas transformistas em Brasília. »

O mais importante pra arte é o fomento e a participação da comunidade nos eventos que contratam artistas transformistas no Brasil. Diferente dos Estados Unidos onde além dos seus cachês as Queens também recebem gorjetas do público. Aqui no Brasil, a realidade muitas vezes faz com que artistas transformistas paguem para trabalhar e mostrar sua arte. O que afeta não só as artistas transformistas, mas todos os que vivem de arte e de cultura.
Piper Impéria da Haus of Impéria de Brasília, fala que por mais que este seja o sonho de toda artista, ainda é impossível viver apenas de arte, e que concilia com dificuldade os desafios de ser um adulto funcional e produzir todo o conteúdo necessário para sua arte: “Ultimamente está tudo uma bagunça, pois estou me adaptando ainda a essa nova fase da minha vida que é morar sozinho, mas geralmente depois que chego do trabalho e faço as coisas da casa eu tento ter novas ideias e criar croquis para novos looks.”
Já para Cassandra Monster a vida de artista se tornou sustentável não só com arte transformista, mas também com a arte cosplay. “Apesar de ter que “ralar” bastante para ter uma vida minimamente confortável, consigo levar a vida só trabalhando com isso e com outras coisas dentro desse tema, mas em nenhum aspecto, na realidade da minha visão o Brasil em si não oferece esse suporte para a arte, principalmente a arte drag.
Isso nos frisa a importância de não só ajudar, mas prestigiar todas as formas de manifestação da arte transformista. É o que vem fazendo o Distrito Drag, que também ajuda a criar projetos que dão profissionalização e oportunidades para artistas LGBTQIA+. Victor Baliane, um dos diretores, diz que com isso vemos que não só de mainstream vive a arte e que apesar das dificuldades, artistas transformistas permanecem sempre na resistência.
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Paulo, você foi modelo da primeira edição da Unclad, mas não tivemos tanta chance de conversar sobre você, nos conte mais e sobre você também ser ator.
Ah, eu sou Paulo Souza, tenho 24 anos, sou de Brasília, mais específico do Gama e sou artista já há uns 10 anos. Isso me deixa muito surpreso saber que no final das contas estou me tornando um artista, eu acho que é uma das carreiras mais difíceis de se seguir na vida humana e só quem é doido faz esse tipo de coisa, acho que sou doido e eu posso me considerar uma pessoa doida e amo pessoas doidas, quem é doido é quem vai libertar essa sociedade, esse mundo todo e quem não é doido é doido de verdade. Então, acho que isso que é o mais interessante do artista e da arte no geral, é que você pode explorar várias facetas diferentes, várias coisas diferentes, fazer coisas que você não imaginava, ser profissões que você não imaginava, criar histórias, falar coisas que você não imaginava e eu acho que isso define o ser humano completo. É um lugar de experimentação muito gostoso e para mim é isso que me define como artista e como pessoa, é gostar de fazer coisas diferentes, é gostar de ser diferente, de poder brincar, poder ser uma coisa totalmente maluca, conversa muito sobre mim. O lado artístico é uma das coisas que me mantém vivo e me mantém com o coração pulsando pra fazer alguma coisa nesse planeta e que me dá significado, então eu acho que é isso, todo mundo é doido e eu sou só mais um, só que com a carteira assinada.
Você vê diferença em ter se exposto com o corpo e agora se expor sobre você?
Primeiro foi que eu fui fotografado, né? E agora eu estou sendo entrevistado. Acho que você estar sendo fotografado é um outro tipo de vulnerabilidade. Foi mais fácil pra mim do que ser entrevistado. Esse é um dos motivos pelo qual eu sou ator, porque é mais fácil de me expressar através do meu corpo. E quando é pra falar, é muito mais difícil pra mim contar uma coisa ou buscar palavras pra descrever um sentimento ou um momento da minha vida.
Você voltou aos cinemas agora, com o filme O vazio de domingo a tarde, de Gustavo Galvão, como foi essa experiência?
Está sendo muito emocionante estar de volta aos cinemas. Eu estreei em Brasília e em São Paulo até então e foram duas noites muito incríveis, porque tem oportunidade de se ver na tela grande, assim, é sempre uma experiência muito surreal, porque eu sempre tive um passado com cinemas, com filmes, com arte cinematográfica no geral, então me ver na tela atuando é sempre uma coisa muito doida de ver. Eu sempre fico me julgando muito e analisando tudo. Às vezes eu acho que eu sou aquela pessoa que não consigo assistir a própria atuação, porque estou sempre só me analisando em tela, mas é sempre gratificante demais o final. No cinema, estou podendo mostrar esse trabalho para as outras pessoas, um trabalho que também é sobre cinema, também fala sobre cinema, fala sobre artes cênicas, atuação, então foi muito bom ter feito esse filme. Eu acho que me fez entender muitas coisas também sobre a minha profissão, acho que me identifico um pouco com ele e, vai estreia agora no dia 14 de novembro nos cinemas, então estou bem feliz. Já estreou, na verdade.
E sobre o seu personagem?
O Elton é esse personagem que eu faço no filme, ele está apaixonado por uma das personagens, está encantado pela beleza dessa garota do interior que sonha em ser atriz. O filme é basicamente uma comparação de vidas entre uma atriz muito famosa e uma garota que quer ser atriz e como as duas elas passam por cada tipo de situação por conta dessas duas diferenças. E o Elton é um desses personagens que aparece na vida da Kelly e ele é um reflexo da cultura misoginia do homem hetero, acho que isso responde a muita coisa e diz muita coisa sobre todos os temas que a gente trata no filme. Enfim, não posso dar muita spoiler, né, mas espero que quem vai assistir entenda o que eu estou falando e o que eu quis dizer aqui.
Como você vê a questão do filme ser em Brasília, a nossa cidade?
Sobre o filme ter sido gravado em Brasília, foi uma das coisas que me deixou mais feliz, porque eu acho uma cidade muito bonita, é um cenário, é um lugar grande, muito fotográfico. E a gente vê nos filmes brasileiros mais famosos, que Rio de Janeiro, São Paulo, sempre são esses os palcos das grandes aventuras, né, mas eu acho que Brasília tem tanto potencial pra ter grandes histórias, pra ter a cidade com o pano de fundo, e é isso que a gente entrega nesse filme e um dos motivos pela qual eu acho ele tão bonito e tão especial. Ele retrata bem as pessoas que moram na cidade, até as que moram nos arredores também, ou no Goiás, por exemplo, eu acho que as personalidades estão lá. A gente consegue ouvir o sotaque, a gente consegue ouvir o nome das cidades. Cada cidade diferente, a gente dá pra ouvir sobre o Valparaíso no filme, sobre o Gama. Então é muito gostoso ver um filme assim no cinema, um filme da minha cidade no cinema. É como ver minha realidade ali, a realidade do Paulo, estampada no cinema também. Então tá tudo completinho, é o que eu sinto. É muito, muito, bom estar num filme que representa a Brasília assim.
“[...]
também,
Tem alguma diferença o fato de ser em Brasília?
A fotografia do filme valoriza também muito a cidade, então pontos turísticos e também pontos que só o morador de Brasília reconheceria, são perfeitamente filmados e enquadrados em cena, é muito foda ver um artista dando atenção, um artista do cinema dando esse tipo de atenção para o cenário da nossa cidade. Acho que toda a simetria de Brasília ajuda muito também, é uma cidade que chegaria a ser até um desafio para quem é cineasta novo quanto um mais experiente. Porque é uma cidade que tem sua própria definição já desenhada, você teria que se ajustar a cidade. Por isso a fotografia também é um dos pontos que mais me deixam felizes sobre esse filme. Mas só vendo para ver para entender.
E como está o futuro da sua carreira? Algum projeto que queira divulgar?
Bom, no momento, a minha carreira está num momento de pausa, eu acredito que ser artista às vezes é isso também, às vezes é respirar mesmo e buscar outras coisas, pesquisar outras coisas, ir atrás, até pra se inspirar também. Acho que é um tempo pra analisar o futuro. Então, por enquanto, sem novidades. O meu grupo, ÍMPAR, ele continua ativo, mas sem a minha participação, então se quiserem seguir os próximos passos deles, que é magnífico e que já trabalhei muito junto também, podem seguir lá no @impardancateatro no Instagram e por enquanto é só.
Por Ana Luísa Alvarenga
Ainvisibilidade da comunidade LGBT+ nas estatísticas oficiais brasileiras é um obstáculo significativo para a criação de políticas públicas inclusivas. Embora o Brasil tenha avançado em termos de reconhecimento de direitos civis, como o casamento igualitário e a criminalização da LGBTfobia, ainda falta uma base de dados sólida para compreender a realidade dessa população. O IBGE, responsável pelo censo e outras pesquisas essenciais para o planejamento público, ainda não inclui perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero em seus principais levantamentos, como o Censo Demográfico.
Em 2019, houve um pequeno avanço com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que coletou dados sobre orientação sexual da população adulta pela primeira vez. No entanto, a pesquisa não contemplou questões sobre identidade de gênero, ignorando a população trans e não binária, que enfrenta desafios únicos, como altas taxas de violência e discriminação no acesso ao trabalho e à saúde.
Essa lacuna estatística tem consequências graves. Sem dados detalhados, não é possível dimensionar as necessidades de saúde, educação, segurança e mercado de trabalho da população LGBT+, o que impede a criação de políticas eficazes. Além disso, a falta de dados dificulta a responsabilização do Estado e a alocação adequada de recursos para a criação de programas de proteção e inclusão.
É importante ressaltar que a coleta de dados desagregados por orientação sexual e identidade de gênero é uma demanda antiga de movimentos sociais e especialistas. Eles argumentam que a ausência de estatísticas impede o Brasil de lidar com questões urgentes, como o combate à violência e a promoção da igualdade de oportunidades. A transparência desses dados permitiria o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências, promovendo mais inclusão e justiça social.
A resistência à inclusão dessas questões nos censos se deve, em parte, à falta de consenso político e ao receio de um possível backlash social. No entanto, diversos países já avançaram nesse campo. O Reino Unido, por exemplo, incluiu perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero no seu censo de 2021, demonstrando que esses dados são essenciais para garantir os direitos e a dignidade de todas as pessoas.
Compreende-se, portanto, que a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras, visto que os estudos necessários para melhorar a realidade dessa parcela da população não são realizados. O IBGE, como principal órgão de estatísticas do país, tem um papel crucial nesse cenário. A inclusão de questões sobre diversidade sexual e de gênero não é apenas uma questão técnica, mas também uma ação necessária para garantir que as políticas públicas cheguem a todos, de modo a promover a pluralidade da sociedade brasileira.
A visibilidade estatística da população LGBT+ é um passo essencial para a construção de uma sociedade mais inclusiva. Apenas com dados claros será possível avançar no combate à discriminação e criar políticas que realmente respondam às necessidades dessa parcela da população.
a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande parte, invisível nas decisões governamentais brasileiras a comunidade LGBT+ continua, em grande 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Uma série sobre a geração que não consegue
encontrar seu espaço no capitalismo tardio, na sua
vida sexual e durante uma invasão alienígena de lagartos antropomorfizados estupradores
Vivemos num tempo que volta e meia saem notícias dos jovens de vinte e poucos anos sentirem repulsa, ficarem desconfortáveis ou são contra cenas de cunho sexual nos filmes e séries que assistem. Mas, em 2019, chega a série Now Apocalypse — criada, dirigida e escrita por Gregg Araki, veterano cineasta conhecido por ter participado do movimento new queer cinema. Então ele parece estar alheio a essa geração criada por filmes assexuados ao mesmo tempo que está muito atento e retrata de forma muito sincera essa mesma geração, mas com vida sexual ativa e sem estar envergonhada dela. Aqui você acompanha três núcleos em Los Angeles: o da melhor amiga do protagonista, que é camgirl e está descobrindo novos fetiches com seu namorado hétero top, que é um ator ruim; também do amigo que divide apartamento com o protagonista, que está tentando ser roteirista num mundo que só se importa com o corpo dele, ao mesmo tempo que está tentando descobrir coisas novas sexualmente com sua namorada, que não parece tão apaixonado por ele quanto ele é por ela; e o núcleo do protagonista que só está tentando encontrar um parceiro legal enquanto tem alucinações de uma conspiração de lagartos alienígenas estuprando homens secretamente, mas talvez não seja alucinação.
Nessa dinâmica, a série consegue ter oportunidades de tratar de diversos conflitos que a geração de vinte e poucos anos passa com muito bom humor, dramas ordinários e sem ser superficial, mas impactantes, quando precisa. Muita coisa que tratamos como tabu, aqui é tratada como uma descoberta saudável mas que ainda traz consequências, como fetiches estranhos e a diversão mesclada com necessidades sexuais.
Com o plano de fundo sendo esse mundo onde os jovens se veem sem espaço econômico nessa sociedade onde não nos foi planejado um futuro tão definido como dos nossos pais. A geração que não consegue encontrar empregos bons, casa própria, sustentar uma família, então, o que nos resta, é tentar transar.
Claro que a retratação mais íntima é a do personagem principal, onde ele fantasia com seu colega de apartamento hetero, mas sabe que nunca vai acontecer nada; o quanto ele usa com frequência aplicativos de relacionamento, tendo vários parceiros casuais, mas sempre se apaixonando até perceber que foi casual; ele chega a entrar em dúvida se é realmente gay depois de ter gostado muito de ter tido uma relação com uma mulher, coisa rara de se ver sendo retratada.
Mesmo quando ele encontra alguém para ter uma relação mais profunda, existe a ansiedade de viver um amor intenso logo, sem mal conhecer a pessoa. Essa é a parte onde os autores parecem estarem fazendo praticamente uma biografia real. É muito honesto e eles se sentem muito a vontade de como contá-lá.
Claro que os outros personagens também entram em conflitos parecidos: o hétero tentando ser bisexual para agradar a namorada; a amiga que, para ter uma vida sexual, atura homens que falam e pensam coisas horríveis.
A questão da invasão alienígena não é desenvolvida como deveria, pois a série foi cancelada na primeira temporada. E dá para entender o porquê, ela foge muito das estéticas narrativas que fazem sucesso hoje. Ela tem um estilo muito alternativo para se sustentar com um público grande que os streamings exigem. Mas mesmo sendo “inacabada”, a experiência de assistir essa temporada é bem completa e fecha muito bem seus dramas, mostrando que o humor dela foi usado para deixar suas tensões ainda mais fortes.

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