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Acultura queer tem cada dia conseguido criar o seu espaço há pelo menos algumas décadas, com muita batalha e resistência, seja para os artistas, políticos, ativistas, ou simplesmente para um público não tão atuante, mas que precisa ser representado. Porém, todos nós sabemos que ainda não estamos no mundo de arco-íris da bandeira.
Logo a Unclad vem como um veículo de comunicação, mas também de acolhimento para a comunidade. Um espaço que serve tanto de entretenimento, conhecimento e, às vezes, de provocação.
Um espaço para entrar na sua rotina que faça você se sentir a vontade de ser quem é, se sentir identificado pelo conteúdo e perceber que não está sozinho, ou...
Perceber que existe um universo maior, que você não conhecia e pode se inserir, mas, claro, se você se sentir confortável ou instigado.
Basicamente um lugar de várias trocas, sejam culturais ou pessoais, onde o objetivo é que você veja a Unclad como um lugar para se sentir livre com as suas



Fotografia e Direção

Giovana Heusi Comunicação

Rafael Lucena Redação

Shadi Design

Dante Redes sociais e Ilustração




sexuais, são elas:
Bondage: prática da restrição de movimento. Pode acontecer através de amarrações, algemas ou mesmo mordaças.
Dominação: é a prática da submissão e da disciplina. Nesta prática, existe uma espécie de jogo no qual se definem uma série de ações nas quais um manda e castiga e o outro obedece e é castigado.
Sadismo: esse é o fetiche em provocar dor ao outro, podendo utilizar toys como chicotes, palmatórias e etc.
Masoquismo: é o fetiche em sentir dor provocada pelo outro. É complementar ao sadismo.
Todas essas siglas são parte de um mesmo universo e, ao serem praticadas, precisam fornecer prazer para todos os envolvidos. Se este tipo de fetiche é considerado extremo para alguns, para outros representa uma fonte de prazer inesgotável. Vale então a pena se aventurar nesse caminho e descobrir onde você se encaixa.
Começando pelas referências visuais, a onda fetichista casa bem com elementos de couro, de cores escuras e com um toque mais pesado. Todos esses elementos criam um cenário que comunica o que já se considera proibido. Caso queira criar o cenário perfeito, recomendamos caprichar no visual dominatrix, com harness, strapons, máscaras e o bom e clássico couro ou látex preto.

O BDSM pode estar envolvido em várias etapas do sexo. Ele pode ser o caminho para as preliminares, seguir ativo durante todo o sexo ou, por si só, o prato principal. O importante é manter a novidade e a segurança. Se você está perdido e quer um kit BDSM iniciante, recomendamos a venda, as algemas e o chicote. Além de serem todos chamarizes para esse cenário, permitem que você explore várias sensações e formas.
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Não se esqueça também de criar papéis. Tudo é a materialização de uma grande fantasia e um jogo de role play pode ser magnífico, seja a dominatrix, o policial disciplinador, a sargenta e etc. Clichê ou não, tudo vale. Por último, as partes mais importantes são o consenso e a segurança. Por isso, não deixe de conversar muito bem com o seu parceiro ou sua parceira e escolher uma palavra de segurança que será respeitada a qualquer momento. Divirta-se com consciência e maturidade!




Gostou? Quer saber mais? Dê uma conferida em nosso Instagram @marycondom ou entre em contato conosco através de nossos canais de comunicação. Nós temos uma série de dicas, informações e produtos esperando pra te ajudar nessa jornada!
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É isso, um beijo da Mary! •

Olá, nos conte mais sobre você? Queremos ouvir sobre você, sua história, origem, trajetória acadêmica, profissional e/ou artística. E o que mais julgar relevante para sua apresentação. Olá, me chamo Luíza Lopes, mas todo mundo me conhece pelo meu nome artístico, Raio de Sol, tenho 27 anos, sou travesti e nasci aqui no DF mesmo. Sou artista e trabalho com dança de forma ampla sendo dançarina, coreógrafa, professora, diretora de grupo e mais outras funções que esse universo artístico me proporciona.
Minha trajetória na dança começou muito cedo quando eu, ainda criança, já pegava coreografias de vídeos musicais e shows com muita facilidade e, poucos anos depois e com apoio da minha família, comecei a realmente fazer aulas em estúdios e escolas de dança, o que me proporcionou um amadurecimento profissional, conhecimento de diversas cenas artísticas de Brasília e de fora do DF também e conexões com outras pessoas que me levaram a caminhos grandiosos durante a minha carreira e claro, meu encontro com a cultura Ballroom.
O que a Ballroom significa para você? Temos interesse em como conheceu. Como começou a participar, Como os eventos da Ballroom – bailes, ensaios, figurinos, etc - se encaixam na sua rotina?
A Ballroom significa para mim liberdade, potência, local seguro para ser quem eu sou, local de aprendizado e amadurecimento.
Conheci a cultura Ballroom através da minha mãe de Major/Mainstream House, Kona Zion, quando ela me viu em uma das minhas primeiras competições de danças urbanas em 2014. Me chamou para alguns treinos de vogue, que ela ministrava na época. Nesse momento ainda não tínhamos, nem em Brasília - nem no Brasil - uma cena Ballroom estabelecida e organizada como conhecemos hoje em dia. Tive o privilégio de fazer parte dessa construção e ver (e continuar vendo) a história sendo feita.
Atualmente, por conta de trabalho e rotina, não consigo estar presente em todas as balls que acontecem aqui no DF, mas com a estreia da nova casa que faço parte como madrinha, a casa de Rattura, tenho me organizado melhor para contribuir no desempenho dos meus irmãos e irmãs da casa, seja jogando ideias, construindo looks para as categorias, passando treinos e claro, dando suporte e jogando energia nos momentos Como começou a Ballroom e como chegou no Brasil?
Pode nos contar brevemente sobre o surgimento da Ballroom nas comunidades estadunidenses nos anos 70 e presença no Brasil? Como funcionam as Casas e 007? Nos conte breve sobre a importância das Casas e de pessoas 007, queremos saber sobre sua casa também. De forma resumida, a cultura Ballroom começou nos EUA, no final dos anos 70, quando, por conta da epidemia de HIV, pessoas negras e latinas da comunidade LGBT+ foram colocadas em situações de vulnerabilidade extrema devido ao preconceito e desinformação com relação ao HIV; dessa forma, as pessoas que foram marginalizadas por esse fator se uniram em busca de formar uma comunidade, onde pudessem se ajudar e gerar uma rede de apoio. Depois, os locais de socialização e empoderamento surgiram e se tornaram as balls (ou bailes) e a comunidade Ballroom como um todo. No Brasil, movimentos de suporte com relação ao HIV, como os que aconteciam nos EUA, já existiam, mas ainda não havia conhecimento sobre cultura Ballroom ou Vogue. Foi chegar mais a frente, com pessoas daqui que iam para fora estudar dança e tinham um pouco de contato com a dança Vogue e traziam informações não tão concretas. Mais para frente, com o auxílio da internet, foi que começamos a conseguir entender e pôr em prática de fato as ideias da cultura Ballroom aqui no Brasil.
As casas (houses) surgiram exatamente dessa necessidade das redes de apoio, onde as pessoas que estavam vulneráveis na época, se reuniam para tentar se ajudar a seguir adiante com a vida, morando juntas ou não, esses pequenos grupos começaram a seguir uma dinâmica familiar, com responsáveis e nomenclaturas que estabeleciam certa forma de respeito aos que já estavam ali a mais tempo. As pessoas que não estavam/estão em nenhuma casa são chamadas de 007, mas isso não as torna menos pertencentes à comunidade.
Já fui Mãe fundadora da casa de Oorun Odara, que se encerrou, mas que me fez aprender muito mais sobre a perspectiva de cuidado e responsabilidade com os outros e, depois de um tempo sendo 007, retornei como Legendary Godmother da casa de Rattura, muito mais madura e podendo proporcionar outros tipos de vivências dentro da ballroom para minha house. »

Como é a estrutura de uma Ball? Nos conte sobre a ordem dos acontecimentos. Que horas geralmente acontece, onde, quem é o público presente, também são de casas ou não? Abertura das Categorias, Prêmios, etc.
As balls acontecem em diversos lugares, geralmente pela parte da noite e em espaços culturais, eventos voltados a cultura e celebração da comunidade LGBT+, festas e muito mais. Com relação a estrutura, depende muito do porte ou do objetivo pelo qual estamos ali reunidos, mas coisas que sempre temos é o famoso momento do LSS, sigla em inglês para Legendarys, Statements e Stars, que são título de reconhecimento para pessoas que contribuem ou já contribuíram para o desenvolvimento da cena Ballroom local. O Roll Call, ou chamada, é o momento para enaltecer as pessoas que ainda não possuem algum título, mas estão presentes na cena e estão fazendo acontecer. Depois temos a abertura das categorias que já são pré divulgadas, para que as pessoas que vão batalhar possam organizar suas entradas, looks e assim conseguirem seu Grand Prize, o prêmio final de cada categoria, que pode ser em dinheiro ou não, mas um Aqué é sempre bem vindo, né? Dependendo do evento ou da organização da ball, temos um “afterzinho” para acalmar os ânimos. O público vai desde participantes da cena Ballroom até pessoas curiosas que ouviram falar por alto sobre Vogue e querem conferir como funciona.
Quem faz o quê em uma Ball? Poderia nos falar breve e citar sobre as Profissões e pessoas envolvidas? - Host, Chanter, DJ, Judges, um pouco sobre a função dessas pessoas na construção do evento.
Uma ball exige um trabalho coletivo enorme para ser formulada e paravacontecer de forma tranquila! O número de pessoas varia muito da organização. Pode ser feita por uma casa da cena local ou por um coletivo ballroom que não necessariamente precisa ser composto por pessoas da mesma casa. A parte da formulação, que geralmente quase ninguém vê, demanda uma organização financeira que pode vir através de projetos culturais financiados pelo governo, do próprio bolso de quem está organizando a ball ou de algum patrocinador (fica a dica sobre esse último aí rs); temos também a parte criativa, que vai formular qual será a temática que vamos abordar para gerar ideias de categorias e decoração, como e quais categorias vamos colocar, como será feita a identidade visual da ball e como serão
os cartazes de divulgação, se faremos grand prizes personalizados e várias outras mil ideias; temos a parte da produção e execução dessas ideias, quem vai arranjar o local, locomoção de materiais necessários para montar a estrutura física da ball, etc. Tudo isso podemos falar que se encaixa na famigerada frase ‘’ Quem vê close, não vê corre’’.
E da parte que geralmente é a mais conhecida, temos nossos DJ‘s da Ballroom que se dedicam bastante para criar nossas músicas e fazer as batalhas serem as mais impactantes possíveis - sem eles não existe ball certa! Temos também nossos Chanters, que ditam o ritmo das batalhas através de suas rimas e sonoridades e os Hosts que se encarregam de apresentar a ball, guiar o público e manter todos situados de tudo o que está acontecendo ali no momento; a bancada de júri (que também é escolhida pela parte organizacional), está ali para poder decidir, através dos 10s ou Chops (cortes), quem está apto ou não para cada categoria e, claro, decidir os vencedores de cada batalha até o prêmio final.
Temos de designers, produtores musicais, apresentadores, profissionais da dança e muitas outras profissões envolvidas na construção de uma ball e às vezes fazemos tudo isso de forma independente, por isso deixo aqui meu convite para vocês irem em balls não só para verem a parte bonita do evento, mas também para colaborarem com nosso trabalho, serão todes muito bem vindes!


Criado na favela de Por do Sol - DF, Lennon Rabi tem 24 anos e é graduando em audiovisual pela UnB. No cinema, escreveu e dirigiu videoclipes e curtas universitários. Compartilha conhecimento entre as artes, produzindo na música, dança, teatro e design. Através da ficção, histórias reais o inspiram a abordar narrativas relacionadas a sua própria identidade e do local onde vive, principalmente a vivência protagonizada por pessoas racializadas e LGBTQIAP+ pela periferia do DF.

Sabemos que á séculos se estabeleceu uma divisão que ditava como homens e mulheres deveriam se comportar. Ao longo das décadas, essa divisão deu origem a diversos padrões que ainda influenciam muitas pessoas até hoje. Esses padrões são especialmente evidentes na moda, um campo rigidamente segmentado em setores que raramente se sobrepõem.
É notável, principalmente na cultura ocidental, que certos tipos de tecidos, modelagens e cores que frequentemente aparecem na moda feminina, são pouco explorados na moda masculina. Mesmo hoje em dia a moda onde a moda é mais diversa; Tecidos brilhantes, cores vibrantes e modelagens mais curtas são geralmente associados ao feminino, e quem se aventura a adotá-los no universo masculino, muitas vezes é visto como alguém que desafia o padrão estabelecido. No entanto, na moda asiática, encontramos uma abordagem diferente. A sensibilidade e a doçura masculina são celebradas, o uso de maquiagem, cabelos coloridos e roupas vibrantes é amplamente aceito como uma estética atrativa e normal. Este contraste é especialmente evidente na cultura “kawaii”, um termo japonês que se refere a algo adorável e encantador.
Referências kawaii permeiam diversos aspectos da vida asiática, desde a televisão com animes e doramas, até clipes de artistas de k-pop, videogames, além de influenciar decorações e lojas temáticas pelas ruas. Essas influências não se limitam às fronteiras asiáticas e se tornaram parte significativa da economia e da cultura global.
Essa abordagem destaca como as normas de gênero na moda podem variar amplamente entre diferentes culturas, influenciando não apenas as tendências de vestuário, mas também os conceitos estéticos e sociais associados a elas.


O termo “otaku” é amplamente reconhecido e referese a um entusiasta dedicado à cultura pop asiática. Em outras palavras, pessoas ao redor do mundo que consomem e se identificam com as referências orientais formaram uma imensa rede de fãs. No Brasil, a influência da cultura asiática sempre esteve presente, mas atualmente estamos vivendo um auge sem precedentes. Desde a infância, lembro-me de assistir a animes como Dragon Ball Z, Sakura Card Captors, Naruto e muitos outros. Hoje, o Brasil se torna um dos países com uma das maiores bases de fãs de K-pop, recebendo diversos shows de artistas coreanos.
Essa explosão cultural também tem impactado o estilo, a moda e o consumo no Brasil. Nos últimos anos, observamos uma ascensão das plataformas asiáticas no mercado brasileiro de moda, com grandes investimentos em marketing digital. Marcas de roupas e produtos de beleza asiáticos conquistaram popularidade significativa entre os brasileiros, que buscam essas plataformas pela ampla variedade de produtos e fretes econômicos. Como resultado, o estilo de muitos brasileiros se expandiu para incorporar referências asiáticas, especialmente em festas, festivais e eventos que exigem looks mais ousados e chamativos.
Essa integração cultural tem não só diversificado o mercado de moda e beleza, mas também enriquecido a experiência cultural brasileira, proporcionando novas formas de expressão e identidade. O fenômeno é um reflexo da crescente globalização e da troca cultural contínua, demonstrando como diferentes partes do mundo podem influenciar e transformar os hábitos e preferências de outros locais.
Criada em 2016, Ayobambi é o nome dado a personagem drag queen do maquiador e designer de moda Igor Alessandro. Desde então vem atuando em diversos eventos de Brasilia com suas performances, Dj sets e trabalhos artísticos. Ayobambi começou a ficar conhecida através de postagens nas redes sociais de suas produções artísticas, a exemplo de maquiagens e performances.
BEM-VINDOS AO MAPAS DE AFETO, ONDE CELEBRAMOS A DIVERSIDADE E A INCLUSÃO AO DESTACAR LOCAIS SEGUROS PARA A COMUNIDADE LGBT+ EM BRASÍLIA. NESTA CURADORIA ESPECIAL, EXPLORAREMOS BARES, CAFETERIAS, ESPAÇOS CULTURAIS E OUTROS ESTABELECIMENTOS QUE NÃO APENAS ACOLHEM, MAS TAMBÉM CELEBRAM NOSSA INDIVIDUALIDADE E O AMOR EM TODAS AS SUAS FORMAS. CADA EDIÇÃO TRARÁ RECOMENDAÇÕES CUIDADOSAMENTE SELECIONADAS, ONDE VOCÊ PODERÁ SER AUTENTICO E SE SENTIR À VONTADE. JUNTESE A NÓS NESTA JORNADA PARA DESCOBRIR ESPAÇOS ONDE A INCLUSÃO E A DIVERSIDADE SÃO RESPEITADAS.


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ANTÔNIO ANTÔNIO @byanttonio
Engenheiro Cartógrafo e apaixonado por conectar pessoas e lugares Com olhar minucioso para aspectos geoespaciais e sensibilidade para experiências humanas, combina sua formação técnica com uma visão artística para criar mapas que celebrem a autenticidade e a diversidade de Brasília Assim surgiu o Mapas de Afeto, um canal para dar visibilidade a iniciativas por marketing e eventos, criando uma jornada de experiências nos cantinhos mais cool da cidade.






Fotos
Gabriel Tornich
Assistência de fotografia
Rafael Lucena
Maquiagem
Gabriela Rodrigues
Você veio pra Brasília com quantos anos?
Um e meio, dois, bem novinha.
Mas você tem alguma convivência com o Rio de Janeiro?
Toda minha família é do Rio, então eu sempre volto pra lá, porque só tem, assim, eu, meus pais e minha irmã aqui.
Como você se sentiu ao ser convidada para estas fotos?
Ah, eu achei muito interessante, porque eu nunca fui fotografada, eu nunca fui maquiada, e também achei muito interessante que a revista esteja expandindo o público, que está sendo fotografado, que está sendo conversado.









Acho que é a mesma coisa, a gente está sempre medindo o que a gente pode ficar mais confortável, onde a gente pode se abrir mais sobre alguma coisa, acho que nunca tem um espaço que vai ser 100% nosso, mas a gente tenta ficar o mais confortável, o mais aberto possível, da forma que dá, onde a gente possa ser acolhido de cada forma. Tanto como pessoa negra quanto queer. Acho que quando você faz parte de mais de uma minoria, sempre tem esse conflito, né, de: “poxa, eu me identifico tanto com essas pessoas, mas essas mesmas pessoas em outras situações são as pessoas que reproduzem as opressões contra mim”. Então acho que o que tem é um pertencimento com um conflito relacionado. »



Fotos
Gabriel Tornich
Texto
Rafael Lucena

Luyd é um dos grandes nomes que têm surgido na cena da moda em Brasília. Criado em Sobradinho e com apenas 23 anos, já teve desfiles marcantes e vestiu pessoas importantes. Conheça mais sobre a sua trajetória.

Como você começou como artista e estilista?
Desenho desde criança, desde que nasci. Então eu me considero, primeiro, ilustrador de moda, porque era o que eu gostava de fazer, ter a ideia na cabeça e depois colocar no papel. Comecei a costurar entre 13 e 14 anos, foi quando ganhei a primeira máquina da minha tia, que também é costureira, mora comigo e comecei a tirar as ideias do papel pra vida real. Assim foram três anos mais ou menos costurando sem parar, até falar que sei costurar como sei hoje em dia.
Então desde que você começou como artista, foi na moda?
Foi, sempre foi na moda. Na verdade, quando eu era pequeno, desenhava muitas coisas, mas o que eu amava desenhar era roupa. Também fazia caricatura de pessoas, mas minha paixão sempre foi desenhar.
Como descobriu que queria trabalhar com moda?
Quando eu era pequeno, era muito reprimido por desenhar roupas. Em casa, pelo meu pai, isso sempre foi coisa de menina: “você tem que desenhar carro”, coisas do tipo. Por isso que eu desenhava outras coisas que não fossem roupa. Depois de um tempo que foi quando chegou a favse rebelde da vida, com uns 12, 13, quando comecei a desenhar roupa e melhorar.
Foi quando ganhei a máquina da minha tia, ela falou pra eu treinar e passar a noite costurando. Foi assim que entendi que queria fazer minhas roupas. Vim de uma família humilde pra caramba, não tinha dinheiro pra comprar roupa em shopping e usava roupa de brechós, em Sobradinho, Planaltina... Daí comecei a customizar essas roupas e desenhar o que eu queria que elas se tornassem, foi quando falei que quero trabalhar com isso. »
Como começou a carreira?
Começou na internet, como influencer. Porque faço vídeos para internet desde os 10 anos de idade. E sempre fui uma criança meio diferente na época da escola. Tinha dificuldades de fazer amizades, por mais que eu seja muito sociável hoje. Foi uma coisa que fui adaptando na minha vida.
Mas o mundo da internet era o mundo onde eu queria estar, porque ali eu podia mostrar o que eu gostava. Depois no Instagram, onde tive uma virada de vida muito grande. Era um garotinho gordo de um metro e cinquenta de altura, até que emagreci e cresci e eu falei “o que está acontecendo?” Foi quando comecei a fazer publicação de looks e tudo mais. Por fazer minhas roupas e customizar, os meus amigos começaram a usar, daí parti para o mostrar isso na internet. Comecei a praticamente só usar roupa que eu tenha algo feito, nem que fosse cortar um cropped. Aprendi a costurar mais, a fazer roupa do zero, eu já tinha uns 18. Saía eu e todo mundo usando roupa minha, até hoje é assim, mas elas são melhores. Nisso eu vi minha marca começando a nascer, porque usavam roupas que tinham o meu nome escrito. Aí sim nasceu o Luyd estilista.
Medusa essa reunião, ela veio conversar com você”. Ela criou um projeto comigo em que ela fosse minha modelo, naquela época eu não vestia ninguém, só eu. Ela deu total liberdade criativa e foi meu manequim, cada um agrega no trabalho do outro. O projeto foi o Troca de Pele, porque era uma nova visão da drag que ela estava formando, que

esse ciclo, do projeto. Eu já me tornei o Luyd e ela a Medu

Antes eu só levava isso como um hobby. Aí, num dia aleatório no Instagram, uma drag veio falar comigo, e eu nunca tinha visto uma na vida, pessoalmente. A drag foi a Medu Zaa. Ela também estava começando a drag dela e queria mudar a imagem do que ela estava apresentando, porque era muito bonequinha e ela não queria ser isso. Foi um caminho árduo. Num café em sobradinho, quatro da tarde, quando olho pra porta, um ser humano gigante de dois metros de altura na luz do Sol, salto alto, peruca preta. Ela veio e falou a exata frase: “já que é sobre a
bullying na escola. Então eu odiava meu nome. E depois de todo mundo ver que eu não gostava e continuarem me chamando, eu acostumei e deixei. Vai ser Luyd mesmo, não conheço ninguém que tenha o nome escrito assim. Eu escrevia em algumas coisinhas, as pessoas gostavam ou estavam nem aí. Com o tempo fui aumentando o tamanho do nome. Se você ver qualquer pessoa com Luyd gigante escrito, é meu.
No Na Praia teve show do Calcinha Preta, eu vesti a Silvania Aquino. Primeira vez que vi o show do palco, aquele mar de gente, arrepio de lembrar. Tinha meu nome
gigante no telão, que era uma jaqueta com meu nome. Vi a Ruth Venceremos postando o telão com meu nome do nada. A Silvania não foi contra nada, ela falou que ia usar a jaqueta com meu nome e foi. Muito louco porque eles entraram em contato comigo e eu tive um dia e meio pra fazer tudo e tinha nenhum look pronto.
E fez eu pensar que a minha fase em Brasília tá chegandoonde eu quero, para ir para próxima fase, sabe?
Você separa seu nome real do seu nome artístico?
Sempre, principalmente hoje em dia, eu tô levando muito a sério, ao ponto de entender quem é o Felipe e quem é o Luyd. Quando eu tô maquiado, produzido, é festa, eu tô trabalhando e tal é o Luyd que eu não mudo o meu jeito, mas sei como agir em certas situações, sabe? E o Felipe é uma pessoa bem mais de boa com a vida. Então hoje em dia eu tenho entendido que é a minha persona e o que sou eu. Porque, hoje em dia, não é qualquer pessoa que você pode sair dando louco, pegando todo mundo e vivendo a vida e fazendo um monte de merda porque isso vai atingir o meu trabalho.
Então no meu ciclo social eu sou o Felipe e fora dele eu sou o Luyd. O Luyd é a minha persona, que é o estilista, que trabalha, que é perfeitinho e tal. Se você chega em casa nomeio de uma semana pra ver como eu tô, é outro ser humano.
“[...] EU TÔ NO CAMINHO, SÓ
Como começou sua marca de roupas?
Minha marca começou dia dois, do dois, de 2022, às 22 horas, no meu aniversário de 23 anos. Dei a doida e falei: “quer saber, eu vou começar isso, não vou mais esperar dar alguma coisa certo ou cair algum dinheiro”. Peguei um monte de roupa que eu tinha em casa, transformei todas, tirei foto delas na parede lá de casa, editei tudo e lancei a marca. E foi uma merda, juro. Porque você acha que vai ser incrível, todos vão falar da sua marca. Se eu vendi uma peça em um mês, foi muita coisa. Eu tinha muita expectativa, mas é porque eu fiz tudo muito no sofá, vai fazendo, vai fazendo.
Naquela época eu nem entendia muito o meu estilo. Vestia coisas que eu gostava e minha marca sempre foi sobre o estilo do que eu gosto de vestir. Só que hoje em dia eu vejo muito que o Luyd em si é um estilo. Já que todo mundo já usava, já que todo mundo já falava bem, então, tipo assim, vou fazer pra vender. Aquelas roupas eu usaria ainda, só que eu não me identifico mais tanto com o que era há dois anos atrás. Eu acho que evoluiu muito em muitas questões, até de me olhar no espelho e falar, isso aqui é muito mais minha marca hoje em dia do que o que era antes. Mas hoje em dia a marca está andando bem. Tá no caminho.
Brasília é muito difícil. A maioria dos meus trabalhos, tipo 90%, são para fora. Geralmente, quando é em Brasília, são artistas que vêm de fora pra cá e querem usar roupa, ou são pessoas do meio artístico, que sempre foi meu foco. Por mais que eu ame a vibe de ter uma loja no shopping, pra vestir pro dia a dia, Minha roupa começou dos meus amigos indo pra festa, então, são roupas feitas pra você dar o close e se sentir incrível. Sempre foi o ponto de autoestima que eu tinha e sentir. Quando eu colocava aquela roupa, eu me senti incrível. Eu ia pra festa, tava imbatível, eu podia falar com todo mundo. E era isso que eu queria transmitir. principalmente quando eu via meus amigos usando as roupas e sentindo a mesma coisa, sabe? Não é básico. Por mais que tenha o que tinha no jeans básico, eu tenho tentado muito fazer isso, deixar de ser básico. E tem ido bem hoje em dia, acho que eu tô no caminho, só que é um caminho muito longo, e se a gente não tiver paciência, é muito complicado.

Qual é o público que você mira?
A maioria das roupas que eu vendo, hoje em dia é muito mais roupas que eu já tenho do que roupas encomendadas. Isso é uma coisa que mudou muito desde que eu comecei. Porque hoje em dia as pessoas vêem me usando, vêem alguém usando e querem a roupa. Ou querem encomendar algo parecido com alguma alteração. Mas o começo da minha marca foi de roupas por encomenda. De quem vem até mim, vou fazer uma roupa pra você, eu vou olhar o seu estilo, que é o que eu mais amo fazer até hoje, é tipo, vou olhar quem você é, pra onde você vai, o que você quer tá transmitindo e vou criar uma roupa pra isso. Então eu falo que eu visto qualquer pessoa, independente do que ela seja, é sobre o que ela quer transmitir. Então eu não tenho um foco de só vender em tal lugar ou só vender pra tal pessoa. Eu quero vender pra todos os tipos de pessoas que virem até mim, sabe?
Então qual é o seu público?
Geralmente, a maioria deles são artistas, a maioria. Se bem que muitas das minhas últimas vendas foram de roupas de acervo que eu tinha, pra pessoas que vão pra festival, geralmente sempre tem esse ponto de vou pra tal lugar que eu tenho que estar muito arrumado, ou que eu quero estar mais fashionista, ou chamar a atenção. Geralmente são, e não tem. Uma coisa que é muito bizarro, não tem um público de uma idade definida. É 100% diverso mesmo. Desde mãe que quer uma roupa pra filha que tem 5 anos, até uma senhora de 60 anos que quer estar com um mini vestido de brilho, de jeans. Aconteceu semana passada.
Então o gênero também é diverso?
É muito diverso, por exemplo, as calças eu tenho feito muito mais pra hétero que o pra gays, ou LGBTs em geral. Mas, um público que eu tenho tido muito ultimamente, é de pessoas trans. São pessoas que não tem muito medo de ser ousados ou vão estar no palco, ou algo do tipo, assim. Se resume mais a esses clientes que vêm até mim. Não tem como hoje em dia eu te falar, meu público é de tal idade à tal idade, de tal gênero ao tal gênero, porque cada dia chega uma pessoa totalmente diferente da outra, tipo, pra falar comigo de questão de roupa.



Lá atrás você falou que era uma criança meio diferente, como assim?

Resumindo, um garoto muito afeminado, gordinho, que andava com as meninas. Eu já analisei muito e eu sempre fui uma pessoa de perguntar muito porque as pessoas faziam coisas comigo. E eu não sabia que era esse garoto, só estava sendo eu. Já apanhei na escola, de levar soco na cara. Minha mãe ir na escola brigar com o menino, outro dia o menino desapareceu com a minha mochila e não tenho mais material. E eu nunca ter falado oi com esse menino, eu não sabia quem era, até hoje eu não faço ideia de quem é. Então foi de graça. Logo, sempre vieram coisas na infância, era fora de casa, na escola, dentro de casa com meu pai, um homão padrãozão, forte, que veio do interior de Minas Gerais e tudo tem que ser do jeito certo. Ele já rasgou desenho na minha cara, desenho de roupa porque não era pra fazer aquilo. Eu sempre fui, assim, sabe, tipo, eu e minha mãe brigamos muito porque ela não queria que eu usasse roupa laranja, e eu falava, se eu não usar essa roupa que eu quero, eu não saia de casa. E eu ficar trancado dentro de casa e ela sair. Mas é porque isso foi algo sempre muito natural dentro de mim, sabe, de não tem porque eu não poder usar isso. E eu não estou falando de usar vestido ou algo que é considerado feminino. Ela queria que eu usasse uma roupa azul, é mais que uma disputa de ego, de você tem que obedecer porque você é uma criança, você não sabe o que é melhor. Mas eu fui aprendendo a logo da vida sobre esse ponto e é por isso que eu falo que eu era uma criança muito diferente em mil pontos. As pessoas sabiam que eu seria o que eu sou hoje, de como eu me visto e tudo mais, sabe. Mas hoje eles são bem de boas.
Você tem mais de 20 mil seguidores no Instagram e mais de 100 mil no tik tok. Como ser um influenciador digital se atrela a ser estilista?
Para mim, começou sendo influenciador digital. Aí eu mostrei minhas roupas na internet, as pessoas gostaram, e aí eu me tornei estilista. Creio que essa foi a timeline mais certa para explicar esse porquê do atrelamento dos dois. Inclusive estou tendo mais uma separação na cabeça das 10 mil pessoas que existem nela, porque existe o Felipe pessoal, o Luyd influencer e o Luyd marca. Porque hoje em dia eu vejo que a maioria das roupas que eu visto, é o que as pessoas querem comprar. Por exemplo, nas redes sociais eu mostro backstage do que eu faço na marca. No Instagram da marca, eu só tenho o resultado final. Lá na marca, vai ter o desfile acontecendo, »
vai ter os ensaios fotográficos, a modelo usando o look perfeito, eu usando o look perfeito, posando e tudo sendo lindo, mas no Instagram pessoal, você vê costurando, outro ponto de vista do que é o Luyd, entendeu? Porque aquilo é o estilo e no outro é a criação. Principalmente porque eu como influencer, também já vi trabalhos pra muitas marcas, já vi trabalhos com o Mercado Livre, pra Boca Rosa Beauty, pra muita marca, ser contratado para apresentar festa, que foi inclusive o que me fez querer insistir nisso, porque foi de onde veio muito do dinheiro que eu já tive na vida, veio disso. Meus maiores clientes vieram do TikTok, deu costurando as roupas. Então, eu falo que minha marca é uma marca da internet. Assim, eu hoje em dia não tenho vontade de ter uma loja física em algum lugar, eu quero ter um ateliê, que é pra onde eu vou levar as pessoas pra criar roupas pra elas ou algo do tipo. Mas eu quero o lado de influencer e o lado de marca, sejam dois pontos de rentabilidade diferentes, sabe? Até porque às vezes um dá mais dinheiro, o outro dá mais.
Se você deixasse de ser influenciador, conseguiria ser estilista? E se deixasse de ser estilista conseguiria ser influenciador?
Sim. As duas profissões, eu acho que são pontos que eu aprendi muito ao longo dos anos a dominar em todos os pontos. Sempre fui uma pessoa muito estratégica na minha em gestão de onde quero chegar na minha vida. Então, quando saí da escola, não fui fazer faculdade, porque eu fui trabalhar em shopping, não só queria ter dinheiro como um adolescente de 17 anos, mas eu queria saber o que o vendedor passa, eu queria saber como o gerente de loja age, como que uma loja de roupas acontece. Não é à toa que em 2 vezes trabalhei numa loja, eu me tornei subgerente e virei gerente depois. Eu dava minha alma para aquilo. Mas é porque eu queria muito entender como é que funcionava. Antes disso, eu fui fotógrafo por um tempo, já fui modelo. O fato de estar na internet é meio que ser modelo, porque você posar para fotos e saber todos esses pontos é algo bem crucial. Todos os lados de ser um dono de uma empresa, acho que é muito importante você saber o que as pessoas que trabalham para você têm que saber fazer e passam. Por exemplo, hoje, nos desfiles, quando vou com uma equipe que tem a pessoa do making of, a que vai tirar foto, a que vai ajudar a vestir a modelo, a que vai colocar a unha da modelo, a que está maquiando. Eu lá no meio tenho que estar pronto também. Então, pelo menos sei já o que delegar para cada pessoa fazer antes. Geralmente sempre me reúno com todo mundo e falo o que gente vai fazer e a hora. Tipo, se eu não for mais influencer, eu consigo abrir uma loja física e saber o que eu preciso ali como gerente e tudo mais para ter uma loja e ser um estilista que tem uma marca e só. E se eu não for mais estilista, eu sei o que fazer para a publicidade, como fechar publicidade. Por exemplo, no último desfile, eu fechei publicidade com 14 marcas sozinho. Eu vou atrás da marca, mando e-mail, faço a negociação, o planejamento do conteúdo. Faço uma planilha e mando para todas as marcas, falando o que eu preciso de material, como vai ser divulgado. E eu falo isso porque foi o desfile mais louco da minha vida, foi fechar todas as parcerias, gravar tudo, editar tudo, que eu edito também, fazer as roupas do zero, porque só eu que costurei, tive auxílio durante dois dias, das minhas tias que costuram, para fechar algumas coisas, mas a coleção inteira foi feita por mim. E ir atrás de equipe, ver o que eu ia ter de pós-desfile ainda, porque os conteúdos são prédurante pós. Por saber o que tem que ser feito em tudo. Foi muita preparação de vida, mesmo. »


E como foi a experiência de participar do Sense Moda?
Sense Moda foi o meu primeiro desfile da vida, eu nem esperava acontecer tão cedo, achava que eu ia ter um desfile com uns 26 anos de idade, ir pra São Paulo e ter um desfile. Lembro que foi um surto muito grande na minha cabeça, porque estava com medo de me inscrever. Tenho esses receios sobre muitas coisas, até hoje, de: será que eu vou? E aí eu só me inscrevi. O Sense fez eu descobrir meu estilo. Querer ir atrás de pegar roupas de brechós, transformar elas em uma outra coisa totalmente diferente.
“EU
A gente comprou 230 calças, desfez todas as calças e fez as roupas do desfile com tecido daquelas calças. Foi aí que eu vi o quanto eu amava lá jeans, já tinha isso antes, mas o quanto isso era muito meu estilo, foi minha escola. Foi a primeira vez que eu tinha uma equipe pra costurar roupa, tinha que ver o que modelo ia passar, a vibe de backstage, que é uma grande caos, e não tem como não ser, eu já aceitei isso, você pode ser a pessoa mais organizada do mundo, vai ser um caos, porque é muita gente envolvida. Essa foi a primeira experiência em que o time de desfile foi gratificante, só que, como as outras, ela foi uma decepção depois. Porque você sai do desfile achando que você vai ser incrível, vai vender tudo, vai se tornar o nome, nada disso acontece. Eu vendi quatro peças do desfile inteiro, vendi muito mais trabalhos que vieram por conta do desfile. Até hoje isso é uma coisa bem comum, esse ano eu tive a chance de ir de novo. Eu falei o ano inteiro que eu não ia me inscrever porque eu nãoachava justo tirar o lugar de pessoas novas. Só que uma vez, a Ruth Venceremos falou na minha cara bem assim: “quando você sabe o seu lugar, você não tira o lugar de ninguém”. Fui pensar sobre, fui pra terapia. O tema deste ano foi Moda Gênero. É algo que eu já faço naturalmente. Podem ir quatro amigos meus, dois masculinos e dois femininos, lá em casa, eles vão vestir as mesmas roupas e vão ficar legais do mesmo jeito. Eu só pensei no fato que eu quero estar em muitos lugares, mas enquanto eu não estiver, eu vou me colocar nesses lugares. Então, se eu vou fazer um desfile, eu quero contar sobre algo que tenha muito a ver comigo como artista. Eu queria falar sobre o que as crianças da
população queer passam e são negadas da infância. Colocar isso numa estética que foi uma coisa que foi o que mais me pegou. Porque ano passado, usei uma roupa que tinha um desenho meu de quando eu era criança nas costas, que eu pintei. É um desenho que tem na porta da minha casa até hoje. Foi o primeiro desenho que existe meu da vida. Eu desenhei isso nas minhas costas, na roupa do desfile que eu usei, foi o que mais repercutiu, foi a roupa que mais falaram. Então trouxe essa estética. Não me apegar a estar perfeito. Eu quis trazer muitos significados de coisas que eu tenho aprendido como artista, de sua arte não tem que ser perfeita. Você não tem que fazer ela ser impecável, às vezes a graça está no erro. Por exemplo, as roupas que faço, que tem um desfiado, tem um rasgado, às vezes aquilo ali foi algo que deu errado, que eu olhei e falei “nossa, ficou bom”. A maioria das vezes acontece isso.
Quis trazer isso no desfile desse ano, acho que esse foi um dos que eu mais aprendi como artista, de tudo que eu já fiz na minha carreira. Todos eles usavam balaclava, a maioria foi de jeans, feita à mão, eles eram como se fossem os bonecos de pano das crianças. Foi o primeiro tipo de roupa que eu fiz que era roupa de passarela, ela não foi feita pra você usar em outros ambientes. São para, no máximo, alguém usar num palco uma vez. O dinheiro foi investido pra fazer arte, não pra comercializar. As roupas eram gigantescas, o último vestido desse desfile, eu pintei ele na passarela. Era um vestido branco gigantesco, foi a roupa mais difícil que eu já fiz na minha vida. A gente fez armação de metal pro vestido ficar grande e tudo mais. Pintei no meio da passarela pra falar sobre o ponto de que a gente não precisava apegar a perfeição, era um vestido lindo, inteiramente em branco, porque ele foi lavado milhões de vezes. Eu grafitei ele inteiro na passarela, porque era sobre isso, de se desprender do que você já fez. A minha marca é sobre isso, é pegar uma roupa e transformar em outra roupa. Eles escolheram não pelo estilista, e sim pelo projeto que foi apresentado. Acharam que a história do que contei, o contexto, encaixava no que eles queriam transmitir. Queriam uma vertente mais artística, estilistas que trouxessem esse lado mais passarela artística, não comercial.

Você recentemente vestiu Silvania da Calcinha Preta e Danny Bond, e foi pra São Paulo fashion week. Como está sendo esse ponto de chegar a vestir pessoas famosas e ir pra lugares grandes na sua profissão?
Eu creio que é o lucro de muito esforço, só que ainda é só um comecinho, sabe? Por mais que pareça grande, é uma visão que eu sempre tenho. Parece algo muito grande, só que é algo minúsculo perto do que realmente é grande, sabe? Ano passado caiu no meu colo, assim, na semana antes do SPFW, de conseguir umas entradas. Me desesperei, tinha zero reais no meu bolso. Todo mundo falou: você vai, a gente dá um jeito, a gente faz vaquinha, grava um vídeo, faz uma rifa, valendo 2 looks, explica pro pessoal que você quer realizar esse sonho. Fiz o vídeo e eu vendi mais de 60 números da rifa em 4 dias e fui. Foi assustador, porque assim, pessoas que nem imaginava que eram contatos de trabalho que eu fiz. Por exemplo, a Ohana, dançarina da Anitta, principal dançarina do Brasil. Ela comprou 2 números da rifa. Os meninos do Diva Depressão compraram 12 números. Nossa, tem uma galera. Uma galera renomada e conhecida no meio artístico também ajudou nisso, sabe? E eu fui pra conhecer, porque pra mim era um mundo totalmente novo. Já fui pra São Paulo, meu sonho é morar em São Paulo, só que no meio artístico de São Paulo, você tem que ir entrando aos poucos, porque é tudo sobre contatos. Mas, abri o meu olho de um jeito muito diferente, existe minha cabeça como artista antes de São Paulo e depois. Em questão de ver os desfiles, como acontecia tudo, como a cidade funcionava, foi muito diferente. A partir disso, eu comecei a, começaram a chegar vários artistas até mim. A Danny Bond, que foi um amor ver ela vestida, todo mundo me mandando mensagem, na hora que ela subiu no palco sabiam que era roupa minha, ver que tá dando certo o ponto de tudo que sempre quis mostrar, criar uma imagem. Eu tô digerindo tudo que vem acontecendo, sabe? »

Quais são os próximos passos da sua carreira? Meus próximos passos, vendo tudo que tem acontecido, é terminar de me consolidar em Brasília, primeiro, no meio artístico, eu já tô tendo esse espaço, de ser um artista reconhecido em Brasília. Uma frase, que é a da minha vida, que eu escutei da Anitta na Netflix mas um dia vai ser ela falando pra mim, mas é “conquiste seu lugar para depois conquistar os outros”. E por isso que eu me dediquei sempre tanto a me consolidar no meio artístico de Brasília pra depois ir pra São Paulo. E depois ir pra outros lugares, sabe? Acho que assim, você cria uma cabeça melhor e um chão pra pisar em relação à carreira ao longo do tempo. Mas o meu próximo passo é conseguir ir pra São Paulo, criar meu network, conhecer uma galera, por mais que eu já conheça muita gente mais por redes sociais, e não pessoalmente de estar lá no meio artístico, que é muito maior do que eu conheço. Outra coisa é entrar no Corrida das Blogueiras, é um meio pra linkar isso tudo. Porque eu saindo de Brasília e entrar no Corrida, acho que pode mostrar muitas vertentes minhas como influencer e como estilista, juntas em um lugar só. Pra não sair daqui de mãos abanando e tendo o sonho do garoto do interior, que muitas vezes dá uma merda muito grande, e eu acho que já vou fazer coisas demais pra passar por isso, sabe? Pra mim, esse desfile do Sense desse ano foi o último. Porque, na minha cabeça, nos próximos cinco anos eu não penso mesmo em ter um desfile em Brasília. Pra mim, foi tipo assim... Isso era o que eu tinha pra apresentar pra vocês. Foi o que eu aprendi com vocês. Sou muito grato. Eu me esforcei pra caralho

Lucena
nessa coleção. Até a última gota de sangue e lágrimas tinha em todas aquelas roupas. Meus dedos todo furado, a minha mão toda fudida. Eu quase perdi meu dedo. Literalmente, a teoura atravessou meu dedo. Eu fui com o dedo enfaixado, com uma fitinha azul em volta. O povo achando que era estilo. Mas em questão de movimentar pra um evento onde eu vou fazer um desfile, não tenho vontade mesmo. Não digo que nunca de jeito nenhum. Vai, porque então o dinheiro a gente faz qualquer coisa. Mas é real. Foi um encerramento de um ciclo muito grande. A ponto de eu entrar na porra da passarela e graffitar um vestido inteiro no meio de todo mundo.
Como você vê o cenário de Brasília?
O cenário de Brasília tem se movimentado muito ultimamente. Só que de uma forma meio nichada. Mas por isso eu considero um movimento, atualmente, principalmente em questão de dar oportunidade pra galera se descobrir artista e se mostrar artista. Porque, por exemplo, desde o meu primeiro desfile, eu vi muita gente vindo falar que a partir de ver aquilo e aquela ação do evento, a gente na passarela se descobriu e se decidiu mostrar artista, sabe? Então isso pra mim é um movimento real de fazer as pessoas saírem do quarto, saírem do quadradinho delas e fazerem acontecer. Então, eu creio que a cena de arte de Brasília tá se movimentando, está acontecendo, ainda tá no começo, mas vem muita coisa boa por aí. Tem muita gente de fora vindo pra cá e vendo o que tá acontecendo. Então temos artistas muito fodas e temos muita fase ainda, mas tá acontecendo.
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Já fez várias escolhas erradas na vida mas que levaram para os lugares certos, como redator desta revista. Atualmente estudante e pesquisador de audiovisual, atuando na área, com curtas, videoclipes, cobertura de eventos... Só assume que entende de fotografia e produção, mas o que se dedica de verdade a escrita. Em um mundo tão sem sentido, só algo inútil como a arte para nós dar o real significado.


João Paulo Rodrigues, 25 anos, é artista visual, pintor e ilustrador. Vive em Luziânia, GO, e desde 2018 cursa Artes Visuais na Universidade de Brasília (UnB). Ele pesquisa as visualidades do seu cotidiano, além de temas como entomologia, botânica e mártires cristãos. No entanto, sua principal linha de pesquisa é o homoerotismo. João Paulo começou a se interessar pela pornografia vintage estadunidense em 2020, inspirado pelas capas da Honcho Magazine, e, desde então, pesquisa essa e outras publicações do segmento.
Sua mais recente série de ilustrações, composta por desenhos manuais digitalizados e agrupados digitalmente, retrata imagens de pornografia gay (vintage e atuais) encontradas na internet, combinadas com ícones do cinema de horror e anime/mangá. Segundo o artista: “A composição dessas imagens é uma tentativa de simular o ambiente virtual, onde elas aparecem para mim de forma frenética, como quando rolamos o feed. (...) Eu crio aquilo que gosto de consumir; não tenho muita intenção intelectual com essa série. Vou juntando as imagens que gosto e que me excitam, e depois as agrupo. Arte, para mim, é diversão.” •




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