Jornal ufg 75

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JORNAL

Carlos Siqueira

ANO IX – Nº 75 NOVEMBRO/ DEZEMBRO 2015

Pesquisa analisa conforto térmico de feiras livres Temperaturas altas ocorrem até mesmo em horários amenos, como no início da manhã, o que provoca desconforto a quem frequenta esses ambientes p. 12 e 13

Entrevista com o diretor do Planetário, Juan Bernardino, destaca 45 anos de existência da unidade p. 3

Mesa-redonda discute a transexualidade e a luta pelo fim do preconceito p. 6 e 7

Laboratório promove inclusão digital para comunidade do município de Catalão p. 14


Opinião

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JORNAL

EDITORIAL

O balanço de um ciclo de trabalho Michele Martins*

A

última edição do ano do Jornal UFG, pela maior extensão, adquire um caráter especial para a equipe de Jornalismo da Ascom, além de representar o fechamento de um ciclo em nosso trabalho. Ao finalizarmos esta edição, percebemos com satisfação a variedade de temas abordados, os quais contemplam ações de ensino, pesquisa e extensão em todas as Regionais da instituição.

Ao longo deste ano nossa equipe conseguiu pautar assuntos relacionados à inclusão e à permanência no ensino superior, como foi o caso da acessibilidade e a adoção de cotas na pós-graduação. Nesta edição, dois temas ganharam destaque: a Transexualidade e o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). O primeiro foi abordado em uma mesa-redonda que revela um grande tabu na sociedade brasileira mantido pela falta de informação e pelo preconceito. Nesta seção, produzida em conjunto com a Rádio Universitária e a TV UFG, foi possível unir especialistas em um debate que expõe as dificuldades que os transexuais precisam superar para exercer seus direitos. Na Universidade existem vários exemplos de equipes dedicadas a oferecer à sociedade serviços e conhecimentos importantes. Uma destas equipes é a do Planetário UFG, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). Em outubro de 2015 ele completou 45 anos e, neste período, foi responsável por encantar e ensinar milhares de crianças e adultos que nunca esquecem do dia em que assistiram uma sessão dentro da cúpula. Em entrevista, o diretor do Planetário relata o imenso sentimento que o impulsiona a se dedicar diariamente a este importante espaço museológico.

Outro assunto de destaque é a pesquisa que estampa a capa: a variação nos parâmetros climáticos a partir de dados coletados na Feira Hippie e no Mercado Aberto de Goiânia. Vivemos um período de elevação na temperatura global, sentimos os seus efeitos diariamente e pesquisas como esta apontam para a necessidade de considerar as condições atmosféricas como subsídio ao planejamento e desenvolvimento urbano. Atividades relacionadas ao empreendedorismo crescem na universidade. Nesta edição, abordamos dois exemplos desenvolvidos na UFG. Uma na área de Educação Ambiental, com a empresa júnior dos cursos de Ciências Ambientais e Geografia da Regional Goiânia, e outra com a pesquisa financiada pelo Ministério da Cultura e CNPq na área da economia criativa, com participação de integrantes da comunidade da Regional Goiás.

Todo o conteúdo que pautou este jornal revela a maturidade e o protagonismo da UFG no cenário nacional. Essa maturidade abriu caminhos para oportunidades de ampliação do acesso ao ensino superior e motivaram a articulação política de gestores nas três esferas governamentais. Um dos mais importantes resultados dessas articulações foi anunciado no início de novembro: a criação de duas novas universidades no Estado de Goiás a partir da Regional Catalão e da Regional Jataí. Esperamos que juntas essas universidades possibilitem alavancar o desenvolvimento de nosso Estado e que exemplos de projetos de pesquisa, ensino e extensão continuem pautando o jornalismo. Tenham uma boa leitura! *Coordenadora de Imprensa da Ascom

Direto do Instagram @ufg_oficial

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Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 75 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2015 www.jornalufgonline.ufg.br – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa: Michele Martins; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Vitor Sousa Freitas (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz e Serena Veloso; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagiários: Italo Wolff e Wanessa Olímpio (Jornalismo); Bolsistas: Michel Gomes (Diagramação); Anna Carolina Mendes (Jornalismo); Adriana Silva e Camila Caetano (Fotografia); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial

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nos quais os alunos têm aulas no Planetário. Na extensão, atendemos uma quantidade significativa de estudantes da educação básica, cerca de 25 mil por ano. Atendemos os grupos de forma personalizada, por faixa etária e grau de escolaridade. Na área de pesquisa, temos vários projetos financiados pelo CNPq, que estão vinculados a projetos de pós-graduação. O Planetário tem uma função importante do ponto de vista institucional e continua sendo um espaço para a comunidade.

Quais os planos futuros para o Planetário?

Carlos Siqueira

Na área externa do Planetário temos um projeto, já aprovado pelo CNPq, de construir dois observatórios didáticos. Só depende da liberação do recurso. A infraestrutura física para a instalação será feita com recursos do próprio Planetário. Queremos construir uma pequena réplica de Stonehenge (ruínas da Inglaterra, que misturam conhecimento religioso com conhecimento astronômico, um símbolo da Astronomia antiga) e um Sistema Solar, ao longo do túnel do trenzinho no Mutirama. E também um laboratório didático de Astronomia e Astronáutica na parte superior do Planetário, que tem cerca de 450 metros de área, preservando a arquitetura do prédio.

Kharen Stecca

O

Planetário da UFG, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), completou, em outubro de 2015, 45 anos. O planetário mais antigo do Brasil, localizado no Parque Mutirama, é um marco tanto para a Universidade, quanto para a cidade de Goiânia. É um local onde conhecimento é gerado, mas também é um ponto turístico. Mais de 25 mil pessoas assistem por ano as sessões do Planetário que ocorrem todos os domingos e também com agendamento para escolas. Para falar um pouco sobre a trajetória desse espaço museológico, conversamos com o atual diretor do Planetário da UFG, Juan Bernardino Marques Barrio, que se dedica há 26 anos ao trabalho nessa Unidade. Confira a entrevista.

O que se destaca na história do Planetário da UFG?

O Planetário da UFG é o mais antigo em funcionamento no Brasil. Antes dele existiam apenas o Planetário do Ibirapuera, em São Paulo, e o da Escola Naval do Rio de Janeiro, ambos hoje fechados. Nós conseguimos ao longo desse período não parar de funcionar, exceto entre 1974 e 1977 quando, por problemas de infraestrutura física, houve um fechamento temporário. Uma característica do Planetário é que, nos últimos dez anos, entregamos para a sociedade mais do que atividades lúdicas e de extensão. Temos as disciplinas de graduação na Universidade e também um programa de pós-graduação de Mestrado e Doutorado em Educação em Ciências e Matemática. O Planetário tem sido sempre uma referência no país. Temos, hoje, quatro professores trabalhando no Planetário, o que não é comum. Todas as sessões do Planetário são ministradas por

um dos professores. Fazemos questão disso, o que faz diferença porque sempre realizamos um diálogo com os alunos após a sessão. Hoje o Planetário também é a sede permanente da Associação Brasileira de Planetários, da qual sou o atual presidente e o professor Paulo Henrique Sobreira, o tesoureiro. Isso nos dá também outra perspectiva dentro dos planetários brasileiros.

O aparelho é o mesmo desde a criação do espaço?

O aparelho é o mesmo e isso é um de nossos luxos. Esse tipo de aparelho antigo tem maior facilidade de manutenção com uma qualidade de céu que os novos equipamentos não têm. No Planetário Móvel – uma estrutura inflável que pode ser levada para outros locais a fim de realizar exibições – que é digital, fazemos projeções de filmes produzidos. No fixo, como é o nosso no Parque Mutirama, temos um céu permanente, onde trabalhamos com esse céu e, com os projetores auxiliares, fazemos novos efeitos. Brinco dizendo que temos um fusquinha que funciona perfeitamente. Às vezes é preferível um fusquinha do que uma Ferrari que você não consegue dar manutenção. E isso é o que acontece com os equipamentos modernos: de alto custo, com upgrades constantes e caros.

Qual a influência do Planetário hoje para Goiânia e para a UFG?

Internamente o Planetário atende ao tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Temos uma série de disciplinas na graduação para cursos como Física, Ciências Biológicas, Ciências Ambientais e Geografia, além dos Núcleos Livres,

O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível coletivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz O senhor está no Planetário desde 1989. O que significa, pessoalmente, o Planetário em sua vida? Em 2003 fui convidado a ficar na Europa dirigindo um espaço museológico, um Espaço da Ciência com Planetário. Um espaço novo, recém-inaugurado, para morar a 200 metros do local de trabalho, e não aceitei. Preferi voltar para o meu canto. O Planetário é uma constante fantasia, um sonho. É uma utopia. Não vou chegar no pote de ouro no final do arco-íris nunca, mas eu quero caminhar para lá. No nível coletivo, quero dar às pessoas o que acho fantástico, o que me faz feliz. Eu me sinto bem e ofereço às pessoas algo que acho fundamental, o conhecimento, podendo entendê-lo sem muito misticismo, mostrando a beleza de olhar para o céu. Nos últimos 12 anos, desde que voltei do doutorado, acredito que crescemos muito, mas ainda temos muito pela frente. Meus sonhos pessoais acabaram me levando para o Planetário. Muitos espaços museológicos têm um pouco de personalismo e há críticas quanto a isso, mas eu acho que se alguém não dá sequência ao trabalho, ele é interrompido e morre. Espaços museológicos precisam disso e, enquanto puder, o Planetário é a minha casa. Ver as pessoas saírem de lá felizes é o que é importante. Eu já poderia aposentar, inclusive, mas vou esperar que me mandem embora!

Você pode participar enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Entrevista Juan Bernardino Marques Barrio

Contemplar o céu é preciso

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Rede Pró Centro-oeste: Curraleiro e Bovino

Direito

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Estudo propõe selo de qualidade para produtos Kalunga Registro de indicação geográfica para produtos da região promove distinção e valorização no mercado Wanessa Olímpio

S

ituada no Nordeste de Goiás, a Comunidade Quilombola Kalunga reúne povoados situados em regiões de difícil acesso e longe de cidades. Os moradores destas localidades sobrevivem do plantio de roçados, da criação de animais e, em alguns lugares, do turismo. No entanto, estas práticas são insuficientes para garantir o sustento de muitas famílias. Atento a essa realidade, o advogado Rodolfo Franco desenvolveu em seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Direito Agrário da UFG uma dissertação, defendida em 2014, com a proposta de criação de arranjos produtivos locais (APLs) para os Kalungas. Os APLs são empreendimentos formados por uma comunidade ou um conglomerado de cidades próximas que produzem um determinado produto com características relacionadas à região de origem. A ideia é organizar um modelo assim na Comunidade Kalunga. Os produtos a serem comercializados seriam a carne e o leite do gado Curraleiro Pé-Duro, que é criado na região. Por esses animais se alimentarem apenas da pastagem nativa, seus sub-

produtos possuem um sabor que só é encontrado naquela localidade.

Devido aos atributos dos derivados desta espécie de bovino, Rodolfo Franco sugeriu em sua dissertação o reconhecimento de propriedade intelectual destes produtos, com o registro de indicação geográfica na modalidade denominação de origem, possibilitando a distinção no mercado destes artigos pelas suas particularidades. “A carne e o leite do bovino Curraleiro Pé-Duro têm composição e sabor diferenciados vinculados aos atributos da região como as pastagens, o tipo de água e de manejo”, detalha.

A proposta visa inserir os APLs Kalunga na Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) para que eles consigam apoio governamental. “Primeiro avaliamos a viabilidade econômica daquele produto, se a carne e o leite do bovino Curraleiro Pé-Duro terá retorno para aquela comunidade e para o próprio Estado e, então, tentamos lançar esse produto no mercado”, acrescenta Franco. Com a indicação geográfica, os produtos poderiam ser reconhecidos com um selo de qualidade, proporcionando aumento da renda dessa população.

Carne e leite do bovino Curraleiro Pé-duro tem composição e sabor diferenciados vinculados aos atributos da região, o que possibilita o registro de indicação geográfica

Regulamentação da terra Para prosseguir com o processo de registro da indicação geográfica é necessário que os moradores do Quilombo Kalunga tenham um documento que comprove que são donos das terras onde vivem, mas a maioria não possui tal titulação de posse. Segundo o pesquisador, Rangel Donizete, que escreveu uma dissertação sobre o tema em 2012 no Programa de Pós-graduação em Direito Agrário da UFG, o quilombo do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga é o maior em extensão territorial do país, abrangendo aproximadamente 262 mil hectares. O local não é ocupado apenas pelos Kalunga, a terra sofreu ação de grileiros e há também outros fazendeiros que possuem a certidão dos imóveis.

Para que as propriedades voltem a pertencer aos quilombolas, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) promove ações na justiça de desapropriação das terras. São averiguadas as fazendas nas quais os proprietários possuem o documento de propriedade da terra, estes são desapossados e recebem uma indenização pelo imóvel que, posteriormente, é devolvido aos Kalunga. Em seu trabalho, Rangel Donizete defende que a terra é o instrumento de subsistência daquela comunidade. “Espero poder influenciar nas

tomadas de decisões em todos os poderes, tanto na construção de novos instrumentos normativos no legislativo, quanto no julgamento das ações e na política de ações administrativas. Espero que o trabalho implique em melhoria de vida, não só para os quilombolas, mas para todos”, afirma Rangel Donizete. Os trâmites da desapropriação são promovidos individualmente em cada propriedade. “O processo ainda está lento. Na fase administrativa são definidos o perímetro da área e os marcos, além de avaliar a proposição de ações de desapropriação”, acrescenta ele. Segundo Rangel Donizete, todo esse processo pode levar mais de 30 anos, o que pode dificultar o pedido de registro da indicação geográfica e, consequentemente, a promoção dos APLs.

Gado Curraleiro

Desde 2000, a Pró-reitora de Pesquisa e Inovação da UFG e professora da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, Maria Clorinda Soares Fioravanti, desenvolve projetos para evitar a extinção do bovino Curraleiro Pé-Duro no Brasil. Na busca por exemplares da raça, a pesquisadora soube que havia alguns na região de Monte Alegre, Teresina e Cavalcante com os quilombolas Kalunga.

Devido a uma demanda da própria comunidade, que queria voltar a criar o bovino Curraleiro Pé-Duro em Cavalcante, a professora coordenou um projeto para reintrodução da raça na região. O projeto adquiriu 80 animais que foram repassados para dez famílias. Dois anos depois, receberam uma doação de mais 80 cabeças, que foram utilizadas para repor a perda de animais que faleceram e para aumentar as famílias participantes do projeto. A metade dos bezerros que nascem pertencem ao projeto e são utilizados para a formação de novos lotes para distribuição.

Com as frequentes visitas à comunidade, outras necessidades foram aparecendo. “Começamos a perceber outras demandas e daí nasceu o Kalunga Cidadão”, lembra Maria Clorinda Fioravanti. O Kalunga Cidadão é um projeto interdisciplinar que, desde 2011, organiza ações com o objetivo de levar inclusão a essas comunidades e que promove a inserção de outras áreas de conhecimento, como Direito, Odontologia, Geografia, Agronomia e Engenharia, visando levar mais qualidade de vida aos quilombolas Kalunga.


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Pesquisa financiada pelo Ministério da Cultura e CNPq avalia contribuição de trabalhadores da arte e cultura do município na dinâmica econômica do Estado Políticas públicas

Até o momento, 13 empreendedores foram entrevistados sobre a origem dos recursos de suas atividades, o modelo organizacional e a relação com suas histórias de vida. O estudo constatou que, em sua maioria, são mães e filhas que trabalham com artesanato e que, por meio de suas práticas de organização, contribuem para a reprodução cultural vilaboense, seja pela memória coletiva ou pela valorização histórica da cidade. “A pesquisa ajudará a compreender as práticas cotidianas destes empreendedores para o desenvolvimento de políticas e programas que atendam as necessidades locais e as rotinas de trabalho destas pessoas”, enfatiza Josiane Oliveira. Serena Veloso

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rimeira capital do Estado de Goiás, a antiga Vila Boa, hoje denominada Cidade de Goiás, guarda imensa riqueza histórica e cultural em cada uma de suas ruas, becos, praças e construções. Um pouco da trajetória de seus três séculos de história e do período colonial no Brasil se faz presente na cidade, desde seu traçado urbano, até o artesanato e a culinária típica. Não é por acaso que, em 2001, a cidade foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como Patrimônio Histórico da Humanidade, título que faz jus à memória histórica, tradição cultural e beleza natural conservadas durante tantos anos.

Graças às mãos de alguns dos empreendedores da cultura que vivem na cidade, essas tradições podem se perpetuar de geração em geração. Em reconhecimento à importância desses sujeitos não só para a história do município, mas para a economia do Es-

tado de Goiás, uma docente e quatro estudantes do curso de Administração da Regional Goiás da UFG estão desenvolvendo projeto que investiga a organização coletiva de pessoas que trabalham com arte e cultura na região.

O projeto, intitulado As práticas de organização dos empreendedores culturais: etnografando a cidade de Goiás, integra o Observatório de Economia Criativa de Goiás (OBEC-GO), sediado pelo laboratório Media Lab, da Regional Goiânia da UFG. Com financiamento do Ministério da Cultura e do CNPq, as atividades do projeto serão desenvolvidas até dezembro de 2016.

De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora da Regional Goiás, Josiane Oliveira, a ideia é entender os modelos de organização, a gestão desses empreendedores e cotidiano de trabalho, mas, também, os mecanismos utilizados para a sobrevivência a partir dessas atividades. “O que motivou as pesquisas foi a necessidade de compreender o processo de organização coletiva dos empreende-

dores culturais, destacando um olhar administrativo sobre essa dinâmica, o que ainda é incipiente”, explica.

Josiane Oliveira alega que, em geral, esses trabalhadores não possuem estrutura de trabalho, mercado, nem acesso a recursos e políticas públicas que apoiem o desenvolvimento de suas atividades, por isso a importância de pesquisar a fundo os impactos econômicos que têm na economia criativa de Goiás.

As informações levantadas também serão utilizadas para avaliar a dinâmica de ocupação do centro histórico da Cidade de Goiás pelas atividades de arte e cultura. Com base nisso, será construído um mapa com a localização geográfica dos empreendedores. Outra frente do projeto envolve o desenvolvimento de um banco de dados estatístico sobre os empreendedores culturais com informações quantitativas, como indicadores econômicos, disponibilizadas pelo IBGE e IPEA, e qualitativas, entre fotos, filmagens e textos produzidos pelas pesquisadoras.

Observatório de Economia Criativa O Observatório de Economia Criativa de Goiás (OBEC-GO) faz parte de uma rede de observatórios instituída em todo o país, em 2012, pela Secretaria da Economia Criativa, atualmente sob direção da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, com o objetivo de centralizar informações sobre mapeamento da dinâmica da área e agentes envolvidos no Brasil. Em Goiás, além da UFG, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) compõe o projeto. Outras instituições de ensino superior também integram a rede no país: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

Regionais

Empreendedorismo cultural contribui na manutenção histórica da Cidade de Goiás

Divulgação


Mesa-redonda

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Transexualidade e a luta para vencer o preconceito Ascom, Rádio Universitária e TV UFG A Transexualidade ainda é um tema de grande tabu na sociedade brasileira. A falta de informação e o preconceito fazem com que as pessoas transexuais encontrem barreiras para exercer seus direitos com plenitude. Dificuldades que chegaram a atingir, inclusive, o Projeto Transexualismo do Hospital das Clínicas (TX), referência nacional e internacional na área, mas que, por falta de profissionais, tem sua fila de espera, que conta com mais de 200 pacientes, parada há quase três anos.

Hoje a UFG, tem um coletivo de pessoas que vivem nessas condições de identidade de gênero, além de familiares e apoiadores. A Universidade tem 16 alunos que se reconheceram na condição de trans. Para discutir os desafios enfrentados por essa população, a mesa-redonda desta edição, realizada pelo Jornal UFG em parceria com a TV UFG e a Rádio Universitária, convidou a representante do Coletivo de Mulheres e Homens Transexuais, Transgêneras, Familiares Apoiadores da Causa Trans na UFG (TransAção), Ester Sales, a chefe de equipe do Projeto TX, Mariluza Terra, e a vicepresidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual da OAB e presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-GO, Chyntia Barcellos. Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Confira o vídeo completo do Programa Conexões no QR Code ao lado.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans em relação à família, ao mercado de trabalho e à saúde? Ester Sales – Ainda há um preconceito muito grande. As pessoas que nascem na condição de transexualidade enfrentam uma série de barreiras. A primeira é enfrentar a si mesma, enfrentar o seu próprio corpo, se autoconhecer, se reconhecer enquanto pessoa no mundo que nasceu em condição física totalmente diferente daquela de identidade de gênero, como se reconhece interiormente. Fazer esse enfrentamento é difícil e precisa de acompanhamento psicológico e apoio da família que, geralmente, a pessoa não tem. Então, quando finalmente consegue ter esse apoio, também precisa lidar com a questão social, porque ela vai fazer mudança de nome e mudanças físicas no seu corpo para que ele seja adequado a quem ela é interiormente, para que sinta-se plena e realizada enquanto pessoa que pode olhar-se no espelho e se ver como ser humano, como quem ela é no mundo, através do seu próprio corpo. Esse processo, que é muito rico para a pessoa que vivencia, mas não é fácil, também vai ao encontro não só de você consigo mesma, mas com o outro, tanto no mercado de trabalho que muitas vezes não recebe essa pessoa, não porque ela não tem qualificações profissionais, mas porque ela tem uma condição de identidade de gênero diferente daquela do padrão social. Na escola, a pessoa tem um comportamento diferenciado desde a infância e, na adolescência, isso se torna ainda mais visível quando a pessoa quer se expressar corporalmente através das roupas, a partir da sua identidade. E a escola é, em alguns casos, um espaço de exclusão. Além disso, quando a pessoa passa a assumir quem ela é, a família também exclui e essa pessoa, muitas vezes, vai parar na rua. Dessa forma, como o processo de exclusão é muito grande, poucas pessoas conseguem seguir uma carreira acadêmica. E nós temos, hoje, finalmente, um grupo que tem conseguido, apesar de tantas dificuldades, chegar ao nível superior. Temos pessoas transexuais e travestis que tem conseguido essas vitórias. Isso tem contribuído para quebrar um pouco o preconceito. Hoje a UFG têm um coletivo de pessoas que vivem nessas condições de identidade de gênero, familiares que participam, se envolvem e apoiadores. Nós já temos 16 alunos que se reconheceram nessa condição. Temos assim, ajudado a construir caminhos e políticas públicas.

De que forma o Direito atende às demandas dessa parcela da população? Ele tem conseguido acompanhar ou é preciso avançar?

Chyntia Barcellos – É preciso avançar bastante. Nós não temos ainda uma lei de identidade de gênero que autorize a mudança de nome e sexo pela simples ida a um cartório, como acontece na Argentina. Lá as pessoas travestis, transexuais e transgêneras podem se dirigir a um cartório e, pela simples afirmação de identida-

de, conseguem fazer essa alteração. No Brasil, precisamos de um processo judicial, vários documentos, laudos médicos, psicológicos e psiquiátricos. Não é um processo simples. É um processo rico para a pessoa transexual, porque é um processo de mudança interior e exterior, mas a justiça é lenta. Tivemos grandes avanços nessas decisões, não só em Goiânia, como em todo o Brasil. Já temos algumas decisões em que as pessoas não precisam se submeter à redefinição de sexo para conseguir alterar o nome judicialmente. Existem decisões nesse sentido, inclusive em Goiás, mas realmente a lei precisa existir para que as pessoas tenham garantia de sua dignidade, igualdade e liberdade, para que possam existir de uma forma fiel ao seu corpo e sentimento.

O sistema de saúde consegue atender a essas pessoas ou ele ainda passa por esse conflito da mudança?

Mariluza Terra – Não, o sistema de saúde não consegue atender a essas pessoas. O nosso projeto, o Projeto Transexualismo (TX), cuja finalidade principal é auxiliar essas pessoas, foi obrigado a parar de atender novos pacientes desde 2012 porque não tínhamos profissionais. Nossa equipe é uma das menores do Brasil e não tem condições de ajudar todas as pessoas que necessitam de nossos cuidados. Também na rede pública, essas pessoas não encontram a atenção que necessitam, não existe aqui nenhum posto de saúde com pessoas capacitadas pra atender a essa população.

Como funciona a cirurgia de redesignação de sexo no Projeto TX? Como a pessoa que se percebe transexual pode ter acesso a essa cirurgia?

Mariluza Terra – Em junho de 2015 nós perdemos o nosso endocrinologista e o nosso cirurgião principal. Com isso, as cirurgias pararam totalmente. Nós já havíamos fechado as inscrições para pacientes novos, mas as cirurgias continuaram. Nós fechamos porque tínhamos que dar conta da realização dessas cirurgias para os pacientes que já estavam lá há 4, 5 anos esperando, devido a essa capacidade pequena que nós temos de atender. Hoje temos aproximadamente 35 pessoas que estão prontas para serem operadas de masculino para feminino e que não podem ser por falta do médico cirurgião. Isso é uma coisa muito séria. E não é que nós não tínhamos pensado que poderíamos perder esses profissionais, sabíamos que esses profissionais iam se aposentar, tanto que nós fechamos para novas pessoas em 2012, mas nós não conseguimos treinar ninguém que pudesse ficar no lugar. O que acontece é que, infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam em tratar dessa população. Um elemento muito importante é o preconceito, temos que reconhecer. Eu sempre digo que existe um perfil específico do profissional que trabalha com essa população, não é qualquer profissional de saúde, tem que ser alguém que consiga olhar essas pessoas transexuais e enxergar através do corpo, ver a alma. Essas pessoas sofrem muito. Imagine você estar preso em um corpo que não te pertence. Todo mundo pode fazer esse exercício: você que é mulher, imagine que no dia seguinte acorde no corpo de um homem, como é que você vai se sentir? É isso que essa população sente, é um desacordo total. Portanto, nós estamos nesse momento vivendo uma situação terrível no projeto, porque 35 pessoas estão aguardando uma cirurgia e vocês podem imaginar quão desesperadas estão essas pessoas, que estão na expectativa, pois acharam que tinham uma luz no fim do túnel. Hoje estamos lutando para substituir esse cirurgião, estamos juntos tentando fazer o projeto funcionar como era antes.


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Ao reconhecer o nome você respeita naquela pessoa a dignidade de ser um ser humano no mundo, de ser alguém. Isso é fundamental

O Coletivo TransAção na UFG colocou em debate na Universidade a possibilidade de implementação de uma disciplina de sexualidade humana e suas temáticas nos currículos dos cursos de graduação da UFG, especialmente na área de saúde e afins. Quais são os objetivos dessa proposta? Como estão essas discussões?

Fotos: Adriana Silva

Ester Sales – O Coletivo TransAção identificou que o problema maior que nós tínhamos é de pessoal. Então precisamos pensar em como ter mais profissionais trabalhando no projeto e fazer com que o projeto seja sustentável, que os profissionais que se aposentarem possam ser, naturalmente, substituídos por novos profissionais. Nossa primeira ação foi a de captar profissionais individuais que já estão formados para entrar no projeto. É no que estamos trabalhando, trazendo um novo cirurgião e negociando a vinda de outros profissionais. O segundo passo é pensar na formação, porque o problema começou lá na formação familiar, na formação social, mas, também, na formação enquanto profissional de saúde, porque o profissional de saúde formado pela própria universidade federal e por outras

Chyntia Barcelos

Eu acredito que essas questões pontuais, como o uso do banheiro, nome em chamadas na escola, devem ser enfrentadas com naturalidade, simplicidade, sem preconceito...

Mariluza Terra

Todo mundo pode fazer esse exercício: você que é mulher, imagine que no dia seguinte acorde no corpo de um homem, como é que você vai se sentir? É isso que essa população sente, é um desacordo total A UFG adotou o uso do nome social. Em que medida ele auxilia em todo esse processo? Chyntia Barcellos – O nome social é uma garantia de qualquer pessoa. Independente se existe uma norma, a pessoa precisa se fazer respeitar e requerer sempre a utilização do nome social. Mesmo não tendo lei, as pessoas precisam fazer valer seus direitos constitucionais, sua dignidade, sua personalidade. Recentemente o Colégio de Presidentes do Conselho Federal da OAB decidiu pelo uso do nome social na carteira profissional, estamos avançando aos poucos também nas universidades. Mas a principal questão é que as pessoas exerçam seu direito de personalidade,

se empoderem de quem são, reconheçam o seu valor e busquem isso dentro da sociedade, não deixem passar, não contribuam com o preconceito. Isso é o combate à homofobia todos os dias!

Como enfrentar os preconceitos nessa sociedade que ainda não aceita o diferente?

Chyntia Barcellos – Eu acredito que essas questões pontuais, como o uso do banheiro, nome em chamadas na escola, devem ser enfrentadas com naturalidade, simplicidade, sem preconceito, olhando para a pessoa como ela se enxerga, com o direito de exercer a sua cidadania e a sua sexualidade da forma como bem entender. A mulher transexual deve utilizar o banheiro da forma que desejar e da mesma forma o homem transexual. Em casos de impedimento, já temos decisões judiciais caracterizando preconceito, a transfobia, com condenações. O preconceito é combatido todos os dias, as pessoas precisam passar a atentar para essas questões dentro do trabalho e na sociedade porque, aos poucos, a justiça está começando a responder ao preconceito. A forma de combater na justiça é criminal ou indenizatória e, nesses casos, doendo no bolso, as pessoas começam a se transformar. Isso não é o ideal. Necessitamos de uma lei, não só de identidade de gênero, mas que criminalize a homofobia. As transformações vêm acontecendo e a sociedade está começando a lidar de forma mais ampla e aberta, apesar das resistências. São problemas pontuais que precisam ser encarados, principalmente no âmbito social e no trabalho de forma humana. É preocupante esse preconceito recorrente. As empresas precisam estar atentas a essas questões com seus funcionários e seus dirigentes.

Mariluza Terra – Existe uma falsa impressão de que o ponto máximo da vida da pessoa transexual é a cirurgia. Não é bem assim. A cirurgia é extremamente importante, mas a mudança do nome e do sexo na certidão de nascimento, vocês nem podem mensurar o quanto é importante. Coisas simples para nós como, por exemplo, abrir uma conta no banco, algo banal, para essa pessoa que agora tem seu nome de acordo com o seu gênero, se torna uma forma de euforia muito grande, usar finalmente o seu nome. Essa sensação é inimaginável para nós que fazemos isso tranquilamente. É muito importante tentar se colocar no lugar dessas pessoas. Esse é um exercício saudável porque é uma vida muito difícil. Essas pessoas que conseguem passar e chegar lá, do outro lado, até onde pegam sua certidão de nascimento, os rapazes transexuais que pegam a certidão de reservista, nesse longo caminho, para mim são grandes heróis, porque é muito difícil. Totalmente diferente do que muitas pessoas acham, de que isso é safadeza, uma coisa que não é de Deus. Isso não é escolha e jamais será, porque ninguém escolhe sofrer e passar por esse processo.

Ester Sales – Temos que nos mobilizar para que o outro reconheça você como pessoa, como ser humano. Você, como pessoa, tem direito a ter um nome, você é alguém e tem direito a ser reconhecido como tal. Você tem direito que o outro te reconheça como quem você se reconhece, através do seu próprio nome. O quanto é gostoso alguém te chamar pelo seu nome e você atender, você gostar de ouvir a sua mãe, o seu pai, uma pessoa querida, às vezes te chamar até por um apelido carinhoso. É como se, ao nominar alguém, você trouxesse luz para aquela pessoa, destacando-a como um ser no mundo, individualmente reconhecido como ser naquele espaço. Quando você tira de uma pessoa o direito de ter um nome pelo qual ela se reconhece, você está tentando invisibilizar a existência daquela pessoa. Ao reconhecer o nome, você respeita naquela pessoa a dignidade de ser um ser humano no mundo, de ser alguém. Isso é fundamental. Quem não passa por esse processo, não tem noção de quantas vezes no dia a dia você tem que mostrar seu nome.

Mesa-redonda

Ester Sales

universidades não estuda sexualidade humana, não tem conhecimentos adequados. Quando estudam a sexualidade o foco é mais na dimensão fisiológica, assuntos muito específicos, como a reprodução feminina ou a disfunção erétil do homem. Isso é um erro, porque reduz a sexualidade à pura dimensão reprodutiva genital e a sexualidade é algo muito amplo na diversidade do ser humano, na forma como o ser humano vive e existe no mundo, como ele vive sua energia fundamental. Sendo assim, entender a sexualidade plena e ampla da mulher, do homem e de todas as pessoas, nas suas mais diversas formas, é importante, desde a infância, a adolescência, a fase adulta e a fase idosa, entender a sexualidade. Então, temos feito parcerias com a Coordenadoria de Ações Afirmativas da UFG (Caaf), o Coletivo e outras organizações sociais, como a Organização dos Homens e das Mulheres Transexuais do Brasil (Origem) e, também, na conversa com várias Pró-reitorias da UFG para dialogar sobre o assunto. Para aprofundarmos o debate, tivemos uma reunião ampliada com as coordenações de todos os cursos de saúde, o curso de psicologia, algumas Pró-reitorias, o Reitor, a direção do Hospital das Clínicas e a coordenadora do Projeto TX. Agora nós estamos discutindo no espaço interdisciplinar dos cursos de saúde, o Pró-Saúde, estudando ações em conjunto para criar meios de fazer com que os profissionais novos tenham conhecimento sobre sexualidade, possam abordar a sexualidade, atender bem e, inclusive, participar de projetos como o TX que são tão ricos para nós e que já produziram tanto conhecimento médico e científico.


Intercâmbio

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Transpondo o Atlântico Estudantes do continente africano fazem ensino superior na UFG por meio de convênio entre Brasil e países do Sul Wanessa Olímpio

C

ursar uma graduação em outro país e conhecer uma nova cultura são as expectativas de muitos estudantes estrangeiros que vêm para a Universidade Federal de Goiás. Alguns deles saíram de países africanos e ingressaram na Universidade pelo Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), uma parceria entre o Brasil e países africanos, asiáticos e latino-americanos, que conta atualmente com 40 estudantes na UFG.

O PEC-G, que completou 50 anos em 2014, visa oferecer cursos de ensino superior gratuitamente para pessoas dos países do Sul. São firmados convênios entre instituições federais, estaduais e particulares brasileiras e as embaixadas dos países do Sul. O candidato deve ter preferencialmente entre 18 e 23 anos, ensino médio completo e declarar que consegue se manter financeiramente no Brasil. Sendo aprovado, ele tem a permissão de permanecer no país até o término da graduação. “Por ser uma seleção internacional, é uma modalidade de ingresso disputada”, afirmou o coordenador de Inclusão e Permanência, da Pró-Reitoria de Graduação da (Prograd), Jean Baptista, responsável pela coordenação do PEC-G na UFG.

Chegada Alguns estudantes estrangeiros, ao chegarem no Brasil, se sentem apreensivos e desprotegidos por estarem em um país novo. “Existem pessoas muito diferentes aqui na Universidade, que trazem histórias de vida muito distintas. E, no caso dos estudantes estrangeiros, o desafio envolve a adaptação a uma sociedade e a uma cultura diferente da deles. Em alguns casos, inclusive, não falam português como a língua nativa,” afirmou o pró-reitor de Graduação, Luiz Mello. Muitos problemas e desencontros já ocorreram, acrescentou Saturni-

Semana da África ocorre anualmente na UFG e tem se consolidado como um espaço de esclarecimento sobre o continente

na da Costa, estudante do curso de Ecologia e Análise ambiental e proveniente da Guiné-Bissau. Segundo ela, uma moça que veio do seu país foi de Brasília a Uberlândia de táxi, pois o motorista disse que não havia ônibus para Minas Gerais.

Para evitar imprevistos na chegada, desde o início deste ano, a coordenação de Inclusão e Permanência vem contactando os estudantes a partir do momento em que são selecionados no PEC-G, antes mesmo deles marcarem a viagem para o Brasil. Eles também são recebidos no aeroporto, e convidados para conhecer a universidade e os serviços que existem. “São, também, vinculados ao Programa de Acompanhamento Acadêmico, criado pela Prograd em 2014, onde são ofertados Núcleos Livres, suporte psicopedagógico e um acompanhamento individual atento às demandas particulares de cada acadêmico”, salientou Jean Baptista. A Prograd também criou o Espaço de Convivência, localizado no segundo andar do Centro de Convivência da UFG, no Câmpus Samambaia, Regional Goiânia, onde concentramse ações e atendimentos ofertados pela Universidade para esses e outros acadêmicos.


9 Intercâmbio

Bolsas

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Existem duas modalidades de bolsa, no valor de R$ 622,00, que os estudantes que fazem parte do PEC-G podem concorrer. Uma é a do Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes), que é anual e é ofertada pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Educação. Os estudantes PEC-G concorrem entre si e o critério de classificação é por média global, IDH do país de origem, atuação acadêmica, entre outros aspectos. A UFG possuí 18 bolsas nesta modalidade. A outra é a Bolsa Mérito, ofertada em edital semestral e de concorrência nacional pelo Ministério das Relações Exteriores.

ior Jún

Outras bolsas ofertadas pela Universidade, tal qual as de ensino, pesquisa e extensão, são permitidas a esses estudantes, que podem concorrer como qualquer outro aluno. A partir de avaliação feita pela Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom), o estudante PEC-G que não possui Promisaes também pode receber da UFG auxílio-moradia ou bolsa permanência.

Mudança de ares

Inserir-se em uma nova cultura pode levar um tempo até a adaptação com as particularidades locais: “No meu país, o básico não é feijão, lá eu como uma ou duas vezes no ano, quando tem feijoada. Eu estranhei algumas coisas, como banana frita, que nunca havia comido”, conta a estudante de Ecologia e Análise Ambiental.

Outra estudante que ingressou na UFG pelo PEC-G foi a cabo-verdiana Osvaldina Soares. Ela está no 6º período do curso de Biotecnologia. Contou que estava no ensino médio quando soube que poderia disputar uma vaga de curso de graduação em outros países. “Eu concorri para Portugal e Brasil, e consegui a vaga para Goiânia e vim,” informou Osvaldina Soares. Quanto à adaptação ao Brasil, Soares afirmou que o que mais a afetou foi o clima.“O verão aqui é diferente do meu país. Aqui quando faz frio é mais intenso e, como eu sou asmática e Goiás é muito seco, isso me afetou muito.” Quanto à alimentação, foi tranquilo, “Tem comida que é muito parecida com as nossas. Mas eu experimentei muita coisa nova, tapioca e pamonha, que eu amei. Como quase todo final de semana,” afirma a estudante de Biotecnologia.

Fotos: Lorena Ribeiro

Essa iniciativa tem a intenção de deixá-los mais à vontade com o novo ambiente. “Possibilitar a integração desses estudantes é uma das metas do programa. Para que esse estudante não fique isolado, sobretudo durante o primeiro ano, considerado pelos veteranos como o mais difícil. Pretende-se promover sua integração com os demais estudantes, por meio de um contato mais caloroso e positivador das diferenças”, acrescentou o coordenador de Inclusão e Permanência.

A estudante Saturnina da Costa ficou sabendo do PEC-G por meio de um primo que a convidou para participar do processo de seleção. A intenção era fazer o curso de Engenharia Ambiental em Brasília ou em Fortaleza, mas foi encaminhada para Goiânia. “A embaixada envia a documentação para uma banca de seleção coordenada pelo Ministério das Relações Internacionais do Brasil. Se não for ofertado o curso almejado nas cidades escolhidas, o candidato é encaminhado para outra cidade que tenha vaga disponível e que possa recebê-lo,” explica a estudante.

A língua falada no Guiné-Bissau é o português, mas a estudante sentiu uma certa dificuldade com as particularidades brasileiras. “Quando eu cheguei aqui, eu falava tão rápido que às vezes a pessoa falava: o quê? Não estou entendendo nada. Agora eu estou falando um pouquinho mais devagar e as pessoas me entendem. As pessoas acham que eu falo errado, e eu acho que vocês é que falam errado”, acrescentou Saturnina da Costa.

Estudantes intercambistas divulgam riqueza artística de seus países de origem

Durante Semana da África 2015, diversas oficinas valorizaram a cultura africana


Bactérias são usadas para tratar rejeitos industriais

Resíduos saem das indústrias e passam para as caixas de gordura

Pesquisas da UFG buscam soluções para a remoção de gorduras e micropoluentes de efluentes líquidos industriais Italo Wolff

P

ara que uma indústria mantenha sua licença ambiental é necessário que, entre outras exigências, tenha seus despejos líquidos descartados em conformidade com as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Entretanto, o tratamento pode ser oneroso, especialmente se considerarmos que, de acordo com a última pesquisa do IBGE, em Goiás apenas 69 dos 246 municípios possuem redes de esgoto. Portanto, reduzir os custos do tratamento dos efluentes industriais é uma contribuição importante para a manutenção da qualidade dos corpos hídricos. Estudo da UFG coordenado pela professora Tatianne Ferreira de Oliveira, do Departamento de Engenharia de Alimentos da Escola de Agronomia, busca métodos alternativos de baixo custo para o tratamento de efluentes da indústria. A pesquisa consiste em isolar bactérias lipolíticas, ou seja, capazes de decompor gordura quimicamente e desenvolver um extrato enzimático que pode ser aplicado aos rejeitos industriais. O extrato produzido por essas bactérias apresenta baixo custo de produção e pode ser uma solução para o tratamento de efluentes.

A gordura existe em grande quantidade nos rejeitos da indústria alimentícia e é um problema grave quando presente nos corpos de água em níveis acima dos autorizados pelo Conama (50 miligramas de óleos vegetais ou gorduras animais por litro de água). Quantidades maiores podem entupir vias hídricas e obstruir o oxigênio de bactérias aeróbias que degradam detritos. Atualmente, para barrar a passagem da gordura para as fases posteriores do tratamento dos efluentes líquidos, são utilizadas caixas retentoras de gordura.

Na pesquisa, bactérias lipolíticas são encontradas na própria matéria que fica retida nessas caixas de gordura, isoladas e cultivadas em laboratório. Por se utilizar óleo vegetal comum para o cultivo dessas bactérias, o custo é relativamente baixo, mesmo para escalas industriais. O extrato enzimático produzido pode ser usado juntamente com a caixa retentora de gordura, aumentando sua eficiência. Segundo Tatianne Ferreira de Oliveira, o método – capaz de decompor gorduras, óleos e graxas – é útil na etapa de pré-tratamento, antes dos efluentes seguirem para as lagoas de estabilização, onde a maior parte dos poluentes é removida.

Micropoluentes

Outra pesquisa desenvolvida pela professora Tatianne Ferreira de Oliveira diz respeito à degradação de micropoluentes em rejeitos aquosos por meio de tecnologias avançadas. Micropoluentes são substâncias presentes em pequenas quantidades, mas que são altamente tóxicos e cancerígenos; podem ser produzidos pela indústria farmacêutica, química, entre outras. Atualmente, não há resoluções ou legislação específica para o tratamento desses compostos. De acordo com o professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental, Eraldo Henriques de Carvalho, os micropoluentes não são atualmente tratados por uma questão econômica, visto que, “50% dos municípios brasileiros não têm nem tratamento básico – que é a remoção de matéria orgânica e remoção de patogênicos. Por enquanto, tratar esse universo de hormônios e antibióticos está longe da nossa realidade”, explica. Para o professor, embora seja possível apresentar projetos para remoção de micropoluentes não se pode perder de vista o contexto econômico.

A pesquisa da professora Tatianne Ferreira de Oliveira procura a remoção de micropoluentes de rejeitos aquosos por meio de um tratamento oxidativo avançado. Apesar dos custos altos na remoção destes micropoluentes, ela acredita que o avanço das tecnologias nessa área pode contribuir para que esse processo seja barateado.

Elas são isoladas e criadas em laboratório, produzindo o extrato enzimático Bactérias lipolíticas são retiradas das caixas de gordura Extrato enzimático é aplicado ainda nas caixas de gordura

Efluente segue para lagoas de estabilização com menor carga de gordura

O lodo da lagoa deve ser retirado e enviado para processamento periodicamente

Cadeia de tratamento de rejeitos industriais Entenda como é aplicado o extrato enzimático na cadeia de tratamento dos rejeitos industriais

Após sedimentação da matéria pesada, o efluente retorna para o meio ambiente com alto nível de pureza

Reuben Lago

Pesquisa

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11 Pesquisa

Laboratório da UFG é pioneiro na produção de anticorpos Centro de Produção de Anticorpos também realiza projetos que geram avanços para Goiás em pesquisas científicas

Anna Carolina Mendes

A

tuando desde 2006, o Centro de Produção de Anticorpos do Centro-Oeste (Cepraco) é pioneiro na produção de anticorpos em Goiás. Com o projeto aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Cepraco é responsável por produzir e expandir hibridomas, células que dão origem a anticorpos. Para a produção, os pesquisadores do Cepraco utilizam as células dos camundongos. Apesar de localizado em um pequeno espaço próximo à Faculdade de Farmácia da UFG, o centro possui estrutura com tecnologia de ponta, contando com estufa para trabalho com cultivo celular, microscópio invertido, cromatógrafo, sala de imunoquímica e leitor de elisa, para os testes com anticorpos.

Biotecnologia

Segundo a coordenadora do Centro, Lucimeire Antonelli, na época em que o Cepraco foi implantado, a biotecnologia não tinha um desenvolvimento satisfatório no Estado: “Existia dificuldade por parte de nossos pares em entenderem a importância da Universidade se afirmar como polo produtor biotecnológico no Estado”, explica. Para ela, o Centro de Produção de Anticorpos surgiu em um contexto de emergência da área. A coordenadora enxerga no

aparato biotecnológico um meio inovador para o progresso da pesquisa que, por sua vez, pode vir a gerar patentes.

“Nunca vislumbrei a produção biotecnológica e a pesquisa como algo separado e incongruente, ao contrário, são complementares e uma pode fomentar e fortalecer a outra”, afirma Lucimeire Antonelli. Com a implantação do curso de Biotecnologia na UFG, esta área passou a se desenvolver com mais força dentro da Universidade, com o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) avançando no âmbito de pesquisas. A coordenadora acredita que o Cepraco tem potencial de atuação tanto no desenvolvimento de produtos e insumos biotecnológicos, dentro de sua área de atuação, quanto na pesquisa básica e aplicada.

Projetos

Os pesquisadores do Cepraco estão envolvidos em diversos projetos de pesquisa de mestrado, doutorado e em colaboração com professores do IPTSP e das faculdades de Farmácia e Química. Uma das pesquisas que mais chamam a atenção, devido ao seu valor científico, é o estudo da imunopatogênese da dengue, que busca entender o que acontece no organismo do indivíduo com dengue que o faz desenvolver a forma mais grave da doença.

Cepraco possui estrutura com tecnologia de ponta Segundo a estudante de doutorado do Programa de Medicina Tropical e integrante da pesquisa, Isabela Junqueira, o estudo tem como objetivo entender por que o indivíduo desenvolve a forma mais grave da doença, focando na resposta do indivíduo ao vírus, e não na questão viral em si. “Seria interessante detectarmos marcadores de que o paciente irá desenvolver a forma grave da doença antes que isto ocorra”, observa a estudante.

Outro importante projeto realizado no Cepraco busca alternativas para o tratamento de pacientes com tumor. Os tratamentos contra o câncer, em geral, são nocivos ao organismo. A intenção deste projeto é estimular o sistema imune para que ele regrida a massa tumoral, explica Layanny Kelly, uma das pesquisadoras do projeto. Para tanto, os pesquisadores utilizam adjuvantes, que são potencializadores da resposta imunológica, para fortalecer o sistema imune e combater o tumor.

Reconhecimento de projetos em premiações científicas Na esteira para conseguir mais visibilidade para seus projetos, o Cepraco foi premiado em 2010 com o projeto de adjuvantes na resolução do tumor na categoria Saúde pelo Banco Santander, na premiação de Ciência e Inovação. Desenvolvida pela coordenadora Lucimeire Antonelli, juntamente com o aluno de iniciação científica do curso de Medicina, Daniel Magalhães, a pesquisa foi uma das três selecionadas a nível nacional.

Fotos: Carlos Siqueira

O Cepraco ganhou, ainda, outro prêmio na categoria Biotecnologia, com o projeto de imunoterapia contra o câncer. O prêmio foi uma bolsa Ibero-americana, cujo valor em dinheiro deveria ser obrigatoriamente gasto em estágios ou cursos no exterior, por um período de pelo menos dois meses. “Utilizamos o recurso em estágio, treinamento e realização de experimentos no Center for Vaccine Research da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos”, detalha a coordenadora do Cepraco. Células de camundongos são utilizadas para produção de anticorpos


Pesquisa

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Estudo avalia conforto térmico em feiras livres de Goiânia Laboratório de Climatologia Geográfica da UFG coletou dados na Feira Hippie e no Mercado Aberto sobre a variação nos parâmetros climáticos em diferentes meses do ano

Variações na temperatura da Feira Hippie e do Mercado Aberto de Goiânia foram avaliadas entre 2013 e 2014 Serena Veloso

A

s feiras ao ar livre são uma das mais tradicionais formas de comércio popular em Goiânia e constituem parte da história da capital. Atualmente, a cidade possui mais de 150 feiras livres dedicadas ao comércio de alimentos, roupas, calçados, artesanatos, entre outros artigos, o que envolve um grande número de trabalhadores. Mas será que as estruturas e a organização desses espaços estão adequadas para os trabalhadores realizarem suas atividades? Uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Climatologia Geográfica do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG avaliou, entre 2013 e 2014, o conforto térmico em duas feiras abertas da capital: a Feira Hippie, localizada no setor central, e o Mercado Aberto de Goiânia, situado na avenida Paranaíba. A proposta era coletar os dados ao longo do ano nos dois ambientes e observar as variações nos parâmetros climáticos, principalmente nos períodos em que as condições climáticas favorecem a elevação da temperatura. A partir do levantamento, foram analisados os períodos do ano e os horários do dia com maior desconforto térmico para os comerciantes no desempenho de suas atividades. De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora da UFG, Gislaine Cristina Luiz, o crescimento urbano nos últimos anos tem influenciado na modificação da variação espacial e temporal da temperatura e umidade relativa do ar, o que favoreceu, também, a mudança na sensação de conforto térmico em diferentes épocas do ano, em especial nas áreas onde há maior ocupação demográfica. No

caso das duas feiras, essa mudança é perceptível, sobretudo, nos meses de agosto e setembro, quando o calor e a baixa umidade determinam maior desconforto térmico. Segundo a coordenadora da pesquisa, esses impactos apontam para a necessidade de considerar as condições atmosféricas como subsídio ao planejamento e desenvolvimento urbano. “O excesso de calor associado a baixos índices de umidade do ar, baixa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutura urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto”, explica Gislaine Cristina Luiz sobre o que motivou a realização do estudo, ligado a um projeto para detecção de ilhas de calor e frescor em Goiânia.

Um dos aspectos considerados pela pesquisa foi a sazonalidade climática de Goiânia. Com duas estações bem definidas, a capital goiana apresenta ao longo do ano um período marcado por elevadas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, especialmente no final do inverno e início da pri-

mavera, entre os meses de agosto e outubro; e outro chuvoso, que vai de outubro a março, momento de maior intensidade das chuvas. Nesse contexto, a pesquisadora ressalta que durante as estações da primavera e verão a temperatura do ar chega aos seus maiores índices de elevação, o

O excesso de calor associado a baixos índices de umidade do ar, baixa velocidade dos ventos, ruídos e, ainda, quando associados à estrutura urbana não adequada, afetam a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas provocando desconforto

Desconforto térmico é mais percebido nos meses de agosto e setembro


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Para fazer a avaliação, foi realizada mensalmente, em diferentes horários, a medição do índice de conforto térmico em cada uma das feiras e o acompanhamento das variações apresentadas na umidade do ar e na temperatura ao longo do dia. Com essas informações, foi traçado um comparativo dos meses e horários do dia em que os termômetros indicaram as temperaturas mais elevadas associadas a baixos índices de umidade. A partir daí, foi possível identificar os meses e os horários em que as condições climáticas de Goiânia, associadas às estruturas das duas feiras livres, propiciavam maior desconforto térmico.

Comércio popular x clima

Já o Mercado Aberto, instalado no canteiro central da Avenida Paranaíba, é mais recente, foi construído em 2003 pela Prefeitura de Goiânia como estratégia para a retirada dos ambulantes das ruas do centro da cidade e regularização das atividades por eles desenvolvidas. Ambas se situam justamente em uma área de grande impacto das ilhas de calor na cidade. Junto às condições climáticas, a pesquisadora alerta que a organização da estrutura dos espaços, a circulação de um grande número de pessoas, a dinâmica de funcionamento e a cobertura das barracas em lona provocam o aquecimento do local e dificultam a circulação de ar, o que incide na redução da umidade. “Principalmente nos meses de setembro e outubro, nós temos, nas duas feiras, um desconforto térmico já efetivado ao longo do dia para quem está transitando”, alega. A estudante do curso de Ciências Ambientais, Késia Christina Santos da Paixão, pôde experimentar a sensação térmica nesses comércios durante vários dias em que realizou a pesquisa de campo e confirmou: “É bem desconfortável ficar nesses locais, pois até em dias frescos ou em dias em que estava chovendo, com o aglomerado de pessoas que circulam no espaço, fazia bastante calor”, declara.

Fotos: Carlos Siqueira

Considerada a maior feira a céu aberto da América Latina, a Feira Hippie existe há mais de 30 anos e já funcionou em diversos locais nas proximidades da região central da capital goiana, até se estabelecer ao lado do Terminal Rodoviário, na Praça do Trabalhador. Criada inicialmente como espaço para venda de produtos artesanais, próximo ao Parque Mutirama, a feira logo se popularizou e alcançou grandes proporções, sendo transferida para diferentes pontos com o crescimento do comércio e o aumento do fluxo de pessoas. Além da importância econômica, Gislaine Cristina Luiz destaca o papel da área

comercial na reconfiguração espacial da cidade, já que, segundo ela, a feira "estimulou transformações socioespaciais que atingem, de forma significativa, as imediações da rodoviária de Goiânia".

Organização da estrutura das feiras é uma das responsáveis pelo aquecimento

Desconforto térmico prevalece A pesquisa demonstrou que na Feira Hippie o desconforto térmico predominava em grande parte do dia ao longo do ano e que, em alguns meses, as altas temperaturas causavam um aumento nesse índice, mesmo em horários com menor incidência solar, como às 8h da manhã. “Ao longo do período analisado, na Feira Hippie, apenas o mês de junho de 2013 se inseriu em condições favoráveis de conforto térmico ao longo do dia, com temperatura efetiva entre 23,2°C e 25,4°C”, comenta Gislaine Cristine Luz, que apontou a coincidência do conforto térmico no mesmo mês, além de julho, no Mercado Aberto. No mês de fevereiro, que corresponde a estação do verão, e setembro, início da primavera, foram registradas as maiores temperaturas em ambas as feiras. Na Feira Hippie, os termôme-

tros chegaram a marcar 43ºC, às 13h, horário com grande incidência solar; enquanto no Mercado Aberto, entre 15h e 17h, a temperatura chegava à casa dos 38ºC. Para a pesquisadora, um dos fatores que determinaram menores temperaturas no Mercado Aberto em relação à Feira Hippie é a própria distribuição das barracas, dispostas em sentido linear na feira da avenida Paranaíba e, também, o fato de se situar em uma via ampla, o que facilita a circulação do ar.

Segundo Gislaine Cristina Luiz, as condições de desconforto térmico têm sido apontadas como extremamente prejudiciais à saúde dos indivíduos, sendo responsável pelo agravamento de problemas cardiovasculares, respiratórios, alérgicos, sobretudo entre a população de crianças e idosos. Por isso, ela acredita que os resultados obtidos podem ter aplicabilidade em pesquisas diversas que relacionam as condições climáticas à saúde dos feirantes e dos frequentadores desses comércios.

Variações de temperatura nas feiras livres

Apenas no mês de julho foram registradas temperaturas dentro da faixa de conforto térmico nas duas feiras

Pesquisa

que influencia de forma determinante na sensação de desconforto térmico, principalmente se acompanhado de baixos índices de umidade.


Comunidade inserida na sociedade da informação

Fotos: Assincat

Regionais

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Associação, que funciona na Regional Catalão da UFG, oferece cursos e acesso a computadores para população Angélica Queiroz

A

cidade de Catalão tem mais de 90 mil habitantes e parte significativa dessa população ainda é excluída digitalmente. Atentos a essa realidade e visando romper com o processo de reprodução das condições de miséria, desesperança e falta de perspectivas das populações carentes, professores da UFG Regional Catalão, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) possibilitaram a implantação de um infocentro de inclusão digital na cidade, com a criação da Associação Infocentro e Cultura Digital de Catalão (Assincat). A associação foi instalada no início do ano numa sala localizada na Fundação Cultural Maria das Dores Campos, na Regional Catalão da UFG.

“Trata-se de uma iniciativa fundamental para incrementar a educação da população, assegurar a preservação cultural, iniciar a requalificação profissional de trabalhadores e incentivar a criação de postos de trabalho de maior qualidade”, detalha o coordenador da Assincat, André Carlos Silva. Em funcionamento desde o mês de junho, o local oferece gratuitamen“Já havia usado o computador antes, mas tinha dificuldades com o uso do Pacote Office. Agora, com as aulas, tenho muito mais facilidade para fazer textos no Word referentes aos trabalhos solicitados pelas professoras na escola”. Gabriel Alves de Souza, 11 anos

• A inscrição deve ser realizada junto à secretária da Fundação Maria das Dores Campos.

“Nunca tinha usado o computador antes e agora já tenho até Facebook”. Alda Maria Alves, 45 anos

Na Assincat, idosos aprendem noções básicas de computação te cursos voltados à inclusão digital, como nivelamento básico, internet, uso do Pacote Office e cursos mais avançados para públicos específicos, como Wix Web Design e AutoCad. São oferecidos, também, horários livres àqueles que necessitam utilizar a internet ou os computadores para desenvolver algum tipo de trabalho. Os professores são alunos graduandos e mestrandos da própria UFG, que possuem bolsa da Fapeg para se dedicarem às atividades do projeto. “Acredito que o diploma pode me ajudar a arrumar emprego”. Paula Andressa Antunes, 20 anos

Para André Silva, apesar de as primeiras turmas ainda estarem em andamento, já é possível identificar alguns resultados preliminares. “Existe alta carência por parte da comunidade catalana no conhecimento inicial sobre o uso de computadores, tanto que o curso mais procurado é o de nivelamento básico”, afirma. Segundo ele, a população de Catalão necessita de políticas de incentivo à inclusão digital, bem como dos serviços que o Infocentro oferece hoje. “Estamos focados em oferecer, além de qualidade nos cursos, cidadania aos nossos alunos, pois a cidadania está entrelaçada ao acesso à informação e pode ser melhor obtida através das tecnologias da informação”.

Foco na terceira idade Apesar de ser aberta a toda comunidade catalana, o foco do infocentro vem sendo a promoção da inclusão digital de alunos da terceira idade. “Notamos que existe alta carência por parte desse público no conhecimento inicial sobre o uso de computadores”, afirma o coordenador da Assincat. Atualmente, estão em funcionamento várias turmas de nivelamento básico específicas para esse público, nas quais são ensinadas noções iniciais como, por exemplo, domínio do mouse e teclado e uso de aplicativos e da internet, entre outros. Há ainda turmas de cursos específicos para artesãos e pequenos empreendedores, que compreendem tanto noções básicas de informática, como o uso das redes sociais e a criação de sites para a promoção de seus negócios. “Sabe-se que esse público é de grande importância para o desenvolvimento socioeconômico do município, sendo essencial o fomento e a expansão dos negócios desses alunos”, ressalta André Silva. “Há muito tempo estava com vontade de fazer curso de informática, mas não encontrava um local”.

“O curso tem me ajudado a abrir a mente. Acesso a internet para ver sobre desenhos, pois trabalho com desenhos de relógio”. Lucas Peixoto de Campos, 28 anos

Planos Para os próximos anos, a coordenação da Assincat planeja atender mais pessoas e criar cursos não só de inclusão digital, mas também voltados ao uso da informática para o fomento da cultura digital. “A Assincat, em parceria com a Fundação Cultural de Catalão, tem planos de, a partir desta etapa de nivelamento básico dos alunos, desenvolver cursos mais complexos, como a editoração de textos, produção de filmes em stop motion e desenhos digitais. Os recursos necessários para esse programa estão sendo providenciados pela Prefeitura de Catalão”, detalha André Carlos Silva. “Soube da Assincat em visita à Fundação Cultural, ao procurar outros cursos, como violão ou guitarra, mas preferi fazer o curso de informática. Quando crescer, vou trabalhar num emprego que possui computador”. Eduardo Henrique de Oliveira, 10 anos

Marcos Paulo Gonzaga Lopez, 12 anos

• Os interessados devem levar documentos pessoais como CPF, RG e comprovante de endereço. • Para a matrícula de menores de idade, o responsável deve comparecer e levar seus documentos, bem como os do futuro aluno. • Não existe nenhuma taxa ou mensalidade.

Alunos de todas as idades têm acesso gratuito a diversos cursos que vão do básico, como pacote Office, até específicos como AutoCAD


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Plantas de cobertura reduzem pragas e uso de herbicida em plantações Pesquisas demonstraram efetividade de espécies utilizadas na cobertura vegetal sobre o solo para a redução do uso de herbicidas em áreas de plantio direto Serena Veloso

O

controle de plantas daninhas em lavouras ainda é um problema sério encarado pelos agricultores no Sistema de Plantio Direto, pois tais plantas além de reduzirem a produtividade e eficiência da terra ao dificultarem o crescimento das culturas, aumentam os custos na produção. Atualmente, os produtores têm recorrido ao uso de herbicidas para o controle dessas plantas indesejadas. No entanto, tal ferramenta não tem agido com eficácia para essa finalidade, pois algumas espécies têm se mostrado resistentes a adoção de produtos químicos. Para pensar no manejo sustentável da produção agrícola, pesquisas desenvolvidas pela equipe do Laboratório de Plantas Daninhas (LPD), da Regional Jataí da UFG, investigaram espécies de plantas de cobertura que possam minimizar o impacto ocasionado pela disseminação de plantas daninhas resistentes nas culturas de oleaginosas e de cereais. As plantas de cobertura são resultantes do aproveitamento de plantas e de resíduos vegetais de outras safras, a chamada palhada, a qual favorece a cobertura do solo e tem auxiliado na supressão de pragas que podem se alastrar nas culturas.

Três espécies de plantas de cobertura foram identificadas como eficientes para reverter o problema no cultivo de soja e milho: a braquiária ruziziensis (Urochloa ruziziensis) e dois tipos de crotalárias (Crotalaria junceae e Crotalaria ochroleuca). “O cultivo de crotalárias e braquiárias, isoladas ou em cultivo simultâneo ao milho, tem se destacado no manejo de plantas daninhas de difícil combate, diminuindo-as em quase a sua totalidade em áreas com altas infestações”, salienta o pesquisador.

Sistema de Plantio Direto

Benefícios

O esquema de manutenção da qualidade do solo por meio da cobertura vegetal integra uma das práticas do Sistema de Plantio Direto. Atualmente, estima-se que 50% das plantações brasileiras de grãos utilizam essa modalidade para o manejo sustentável do solo, uma das alternativas que podem contribuir para reduzir os impactos causados por práticas da agricultura tradicional, como a aração e a gradagem, e trazer maior estabilidade na produção. Entre os pontos positivos, o sistema possibilita a redução das emissões de carbono pelas queimadas, as perdas de solo e água pelo processo erosivo e a compactação do solo.

Para Paulo César Timossi, um dos benefícios do manejo das plantas de cobertura é a diminuição do uso de produtos químicos nas lavouras. Ele explica que, atualmente, o Sistema de Plantio Direto no Cerrado tem se sustentado a partir do uso do herbicida glyphosate para o controle das plantas daninhas, em função das próprias características climáticas da região, que têm dificultado a alternância de culturas e, consequentemente, o estabelecimento da palhada na superfície do solo, de forma a favorecer o crescimento dessas plantas. Tais herbicidas não têm se mostrado eficientes, durante o processo de pré-semeadura, na redução da incidência de espécies de plantas daninhas como a buva (Conyza sp.), o capim-amargoso (Digitaria insularis), a erva-quente (Spermacoce latifolia) e a trapoeraba (Commelina benghalensis).

Isso porque, explica Paulo César Timossi, um dos pilares do modelo agrícola é a gestão da terra pela rotação de culturas, que permite, a partir dos resíduos vegetais e raízes deixadas por plantações anteriores, a manutenção permanente do solo. Esses restos das culturas contribuem para o enriquecimento do solo com matéria orgânica, que irá ser decomposta gradualmente e se tornará nutrientes importantes para o melhor desenvolvimento do plantio. A cobertura promove ainda melhor infiltração da água das chuvas no solo e, assim, reduz a ocorrência de erosões.

“Devido ao uso incorreto de tecnologias e excesso de uso do herbicida glyphosate, tem ocorrido a seleção de espécies de plantas daninhas tolerantes à molécula, o que tem levado alguns agricultores a retornar para o sistema convencional de cultivo por não conseguirem controlá-las quimicamente”, alerta o pesquisador, que acredita ser um retrocesso para a agricultura. No entanto, Paulo César

Timossi destaca que as crotalárias e braquiárias têm se adequado bem ao sistema de rotação de culturas no Cerrado e, por isso, têm possibilitado a diminuição do uso de herbicidas, sem, no entanto, dispensá-los. Isso tem sido possível desde que se adotem espécies que sejam sensíveis à molécula herbicida glyphosate.

Pesquisas do Laboratório de Plantas Daninhas, coordenada pelo professor Paulo César Timossi, aposta no manejo sustentável

Fotos: Paulo César Timossi

As pesquisas foram realizadas nas culturas de soja em primeira safra, na época da Primavera/Verão, e de milho em segunda safra, durante o Outono/Inverno, localizadas no sudoeste goiano. Segundo o coordenador das pesquisas, Paulo César Timossi, o objetivo é também buscar espécies que, além de influenciar na diminuição dessas plantas daninhas, se encaixem em programas de rotação de culturas, um dos pilares do Sistema de Plantio Direto.

Espécie de crotalária contribui na redução do uso de herbicidas em safrinha

Uso de braquiárias no cultivo de soja favorece a manutenção do solo e promove controle de plantas daninhas


Empresa júnior oferece consultoria ambiental Entre os projetos estão a adequação de mapas das cidades brasileiras e a promoção do correto descarte de bitucas de cigarro

Ações de educação ambiental com a população integram iniciativas da empresa júnior Serena Veloso

A

necessidade de um espaço para que pudessem colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula e ampliar a capacitação profissional como preparativo para o mercado de trabalho fez com que estudantes de Ciências Ambientais, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), se unissem em prol de uma ideia. Em 2012, foi criada a primeira empresa júnior da Unidade Acadêmica, gerida exclusivamente pelos discentes: a Gaia Consultoria Ambiental Júnior. A empresa, sem fins lucrativos, busca a integração acadêmica no desenvolvimento de projetos e serviços de cunho socioambiental, com a intenção de proporcionar aos estudantes experiência profissional e estimular suas habilidades de gestão e empreendedorismo. Atualmente, o curso de Geografia

também aderiu à iniciativa, da qual integram 25 estudantes, além de colaboradores externos, com orientação de professores do Iesa. Para o diretor vice-presidente da empresa júnior e estudante do curso de Ciências Ambientais, Humberto Vinícius Carrijo, a empresa vem complementar a formação acadêmica dos alunos. “Nós ganhamos muito na questão da experiência, não só de gerir, mas, também, na parte da nossa área de atuação”, destaca.

Dentre os serviços e projetos que envolvem a consultoria ambiental, a Gaia trabalha com mapeamento, geoprocessamento, licenciamento ambiental, sensoriamento remoto, educação ambiental e cadastro rural ambiental para empresas e órgãos governamentais. Segundo Humberto Vinícius Carrijo, alguns dos serviços oferecidos ainda são voltados para o atendimento de demandas da Universidade, no entanto, a ideia é ampliá-los para o público externo.

Projetos Para promover essa aproximação com o mercado, os estudantes também têm colaborado em projetos da iniciativa privada. Um deles, o Map Creator, criado por uma empresa desenvolvedora de aplicativos para celular e GPS, envolve diversas equipes em todo o país que trabalham na atualização e adequação de mapas de cidades brasileiras. Com mote competitivo, o projeto oferece premiação à equipe que realizar o maior número de atualizações no mês e aos integrantes que obtiverem destaque no trabalho. “Já ficamos em sexto lugar no Brasil e, em junho deste ano, tivemos três destaques individuais que estiveram no top 30 de editores”, comemora o diretor de projetos da Gaia, João Vitor Silva Costa.

Entretanto, não só demandas de organizações podem se tornar trabalho. Ideias que surgem na sala de aula acabam também sendo agregadas à rotina dos estudantes, como é o caso do projeto Bituca Zero. Desenvolvido durante a disciplina de Educação Ambiental do curso de Ciências Ambientais, em parceria com a Incubadora Social da UFG, o projeto visa conscientizar a comunidade universitária sobre o descarte correto de bitucas de cigarro. A proposta é espalhar bituqueiras feitas de PVC dentro do Câmpus Samambaia. “Esse é o início de um projeto que queremos desenvolver de coleta seletiva dentro do câmpus”, explica Humberto Vinícius Carrijo.

Educação ambiental

Além do desenvolvimento e participação em projetos, os estudantes também podem se envolver na organização de eventos voltados para a educação ambiental. Desde o ano passado, a Gaia, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realiza o Encontro de Pesquisa e Extensão do Vão do Paranã. Motivados por projetos científicos desenvolvidos em aulas de campo na região, que possui cinco Unidades de Conservação, graduandos da UFG e técnicos do ICMBio perceberam a necessidade de apresentar os resultados à comuni-

dade local, o que veio a convergir na proposta de realização do evento.

“O intuito é justamente proporcionar o conhecimento da região e tentar agregar mais pesquisas, principalmente nesses ambientes cársticos, que são extremamente frágeis e suscetíveis à contaminação de rios e cavernas, causada pelo avanço da agricultura extensiva no oeste da Bahia”, afirma o estudante do curso de Ciências Ambientais e coordenador geral do evento, Gustavo Rodrigues de Mendonça Neto. Preocupados, também, com a conscientização ambiental da população local, os estudantes incorporaram ao evento ações que envolvessem a comunidade e suas demandas, por meio de oficinas, minicursos, capacitações e vivências.

UFG Júnior Com o objetivo de estabelecer um sistema de acompanhamento, regulamentação, consultoria e apoio técnico às empresas juniores na Universidade, além de fomentar a cultura do empreendedorismo, o Conselho Universitário (Consuni) instituiu, em 2009, a resolução que cria o Programa de Empresa Júnior – UFG Júnior, vinculado a Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (Prpi).

O Coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica, Cândido Borges, explica que essas empresas não possuem fins lucrativos e são geridas por estudantes, onde têm “a oportunidade de desenvolver o comportamento empreendedor e aprender a gerir uma organização”. Cada curso da UFG pode ter apenas uma empresa júnior a ele vinculada. Os procedimentos e a documentação necessárias para a criação estão disponíveis no sítio da Prpi: <www.prpi.ufg.br>.

Fotos: Divulgação

Extensão

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Oficina sobre construção de horta escolar realizada durante evento da Gaia na cidade de Mambaí (GO) conscientizou crianças e jovens sobre importância da alimentação saudável


17 Universidade

ARTIGO

Periódicos Predatórios: o lado negro do open access

Divulgação

das editoras open access é fachada para aproveitadores que perceberam um mercado lucrativo em potencial. Eles estão interessados apenas em receber as taxas de publicação e nem um pouco preocupados com a qualidade da ciência publicada em suas revistas.

Daniel Brito*

A

comunidade científica vem debatendo melhorias na forma de divulgar suas descobertas. As revistas tradicionais, que cobram uma taxa para que o leitor tenha acesso aos artigos publicados, têm sido bastante criticadas. As revistas open access, onde os autores arcam com o custo de publicação, que é disponibilizada gratuitamente para o público, ganharam força. O número de editoras open access aumentou rapidamente. Em um mundo científico competitivo, este crescimento rápido e desregulado do sistema se mostrou um campo fértil para profissionais antiéticos, aproveitadores, pseudocientistas, e até mesmo criminosos.

Em 2013, um manuscrito com sérios erros de desenho amostral, análise de dados e interpretação de resultados, que seriam facilmente detectados por qualquer profissional, foi submetido para centenas de revistas do sistema open access. O manuscrito foi aceito na maioria delas, sem nenhum processo de revisão. Este é um exemplo, dentre uma quantidade crescente de evidências, que mostram que a maioria

Existem revistas com corpos editoriais fantasmas ou que usam indevidamente o nome de pesquisadores conhecidos. Uma revista chegou a incluir um pesquisador falecido como seu editor chefe! As editoras tradicionais apresentam um volume grande de submissões e uma dificuldade de encontrar revisores. Isso faz com que o processamento de um manuscrito dure meses.

Uma das iscas muito usadas por revistas open access é alardear um tempo incrivelmente rápido de processamento (de poucos dias ou semanas). Na maioria dos casos não existe processo de revisão por pares, e o que limita o tempo de publicação é o quanto os autores demoram para pagar a taxa de publicação. Pesquisadores antiéticos aproveitam para inflar seus currículos, publicando manuscritos que seriam rejeitados em revistas sérias. Pseudocientistas encontraram o veículo perfeito e publicam pseudo-artigos (“comprovando” astrologia, criacionismo, homeopatia, OVNIs, etc), dando um falso status de comprovação científica para temas que não possuem nada de ciência. Estas revistas inclusive são palco de crimes, onde cópias de outros artigos, livros e/ou teses são publicados. Como resultado destas práticas, as revistas open access estão recheadas de pseudociência, plágio e artigos de péssima qualidade. As consequências disso vão muito além de prejudicar o avanço da ciência. Um público leigo pode não saber distinguir entre uma revista confiável e uma fraudulenta, en-

tre um artigo científico e um pseudocientífico. Isso fica evidente quando a mídia divulga notícias de resultados “científicos” encontrados nestas revistas.

Um exemplo é o aumento de casos de diversas doenças erradicadas ou controladas nos Estados Unidos (ex: sarampo) em virtude de movimentos anti-vacinação. Estes movimentos usam argumentos pseudocientíficos publicados em artigos falaciosos para relacionar vacinas com aumento nos casos de autismo em crianças. Um grande volume de pesquisas sérias demonstram que tal relação não existe e as vacinas são seguras. Um problema de saúde pública que existe apenas por uma educação científica falha, e reforçado por pseudociência sendo publicada e divulgada como ciência séria.

O processo tradicional não é perfeito e tem muito o que melhorar, mas é definitivamente mais cuidadoso com a qualidade da informação. O sistema open access possui revistas sérias (por exemplo, as do sistema PLoS), mas estas são uma minoria em um imenso mar de lama. No Brasil, mais de 200 revistas predatórias estão no sistema QUALIS da CAPES. Ao incluir tais revistas nos sistemas nacionais de avaliação, estamos prejudicando pesquisadores éticos e responsáveis, e beneficiando pesquisadores antiéticos e/ou de baixa qualidade, além de prejudicar o avanço e a credibilidade da ciência e das instituições de pesquisa brasileiras. * Professor do Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação - Departamento de Ecologia, UFG O Jornal UFG não endossa as opiniões emitidas nos artigos, por serem de inteira responsabilidade de seus autores.

CAMINHOS DA PESQUISA

Kharen Stecca Durante o 12º Congresso de Ensino, Pesquisa e Pós-graduação foi realizado o Seminário de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. A palestra de abertura, ministrada pelo Consultor Legislativo do Senado Federal, ex-professor da UFG e UnB, Luciano Póvoa, tratou sobre o tema Pesquisa Acadêmica, Propriedade Intelectual e Desenvolvimento Social. A intenção era discutir como é possível unir essas três vertentes, fazendo com que a universidade possa trazer inovação de forma a garantir o desenvolvimento da economia e da sociedade. Conheça algumas das discussões apontadas por Luciano Póvoa sobre esse perfil brasileiro: • No Brasil as universidades lideram o registro de patentes. Em outros países, como os Estados Unidos, as empresas são responsáveis pelos primeiros lugares no ranking.

• Empresas investem pouco em inovação no Brasil. A ideia dos polos e parques tecnológicos é unir setor produtivo e universidades para buscar o aumento da inovação e facilitar sua chegada ao sistema produtivo.

Divulgação

Universidades lideram registros de patentes no Brasil • As áreas das patentes não condizem com as áreas em que mais produzimos conhecimento científico no Brasil, que são Agricultura, Física e Saúde.

• A Lei de Patentes (1996) potencializou o interesse em registro de patentes no país. Antes não havia entendimento sobre o registro, no caso de pesquisas de universidades. Hoje a patente é registrada conjuntamente entre instituição e pesquisador. • Entre as instituições que mais registraram patentes entre 2003 e 2012 estão a Petrobrás com 450 patentes, Unicamp com 395, USP com 284 e UFMG com 163 patentes. • Uma das grandes polêmicas é se a universidade deve registrar patentes, já que o conhecimento produzido por ela foi gerado com recursos públicos.

• Patentes não são suficientes para transferência de conhecimento tecnológico. Isso porque muito do conhecimento gerado na academia tem a ver com novos processos de produção, que tem baixa correlação com registro de patentes.

Pilão mecânico, desenvolvido por professor da Escola de Agronomia da UFG , Celso José de Moura, recebeu carta patente em setembro deste ano. Equipamento é a primeira patente de invenção da unidade. Registro foi solicitado em 2003.


18 Extensão

Núcleo de Estudos realiza pesquisa sobre doenças infectocontagiosas e promove ações de bem-estar e acolhida para população em situação de rua

Lorena de Sousa

H

á cerca de um ano e meio, o Núcleo de Estudos em Epidemiologia e Cuidados em Agravos Infecciosos, com ênfase em Hepatites Virais (Necaih) da Faculdade de Enfermagem da UFG realiza trabalhos de pesquisa com moradores de rua em Goiânia. A ação teve início quando os pesquisadores foram escolhidos para atuarem como parceiros em um levantamento nacional sobre o uso de drogas, comandado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Após a parceria, as atividades se desdobraram em projetos de pesquisas e extensão, envolvendo a população em situação de rua. “Por meio do levantamento da Fiocruz, percebemos que a maioria dos usuários de crack são moradores de rua e, por isso, decidimos realizar um trabalho envolvendo doenças infectocontagiosas”, conta Marcos André de Matos, coordenador do Necaih. As ações são feitas em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e a Secretaria da Saúde do Estado de Goiás em albergues, abrigos e nas ruas de Goiânia. Os indivíduos passam

por testes para apontar a presença das hepatites B e C, HIV e sífilis.

Casa de Acolhida

Integrantes do projeto, Haysa Nadinne de Faria, Jéssyca Pereira, Andressa Cunha e Wilian Santana comentam sobre as ações realizadas na Casa de Acolhida Cidadã, em Goiânia. Segundo eles, ao chegar ao local, o indivíduo responde a um questionário com cerca de 100 perguntas sobre detalhes de sua vida. Entre outras coisas, são contempladas questões sobre o uso de drogas, existência de doenças sexualmente transmissíveis e de fatores de risco. Os estudantes, por sua vez, recebem treinamento adequado para realizarem suas funções no projeto. Para os alunos, cria-se uma relação afetiva que vai além do lado profissional, já que é possível perceber as carências e dificuldades das pessoas atendidas. “Esse contato com eles não é só enfermeiro-paciente. O questionário tem perguntas bem íntimas, o que faz com que eles nos enxerguem como um amigo”, conta Wilian Santana. Para Haysa Nadin-

Fotos: Adriana Silva

Moradores de rua recebem atendimento e serviços

Kit é fornecido aos atendidos pelo Necaih. Eles também recebem bilhetes de ônibus para que possam frequentar o tratamento ne, o projeto proporciona um benefício para ambos os lados: “Fazemos nossa pesquisa e oferecemos esse serviço a eles. É muito gratificante pessoalmente, pois lidamos com histórias bem diversas”.

Depois desse primeiro momento, chamado de pré-aconselhamento, é realizada a coleta de sangue. “Coletamos o sangue e fazemos um teste rápido, que dá o resultado em 15 minutos”, explica Marcos André de Matos. Assim, as pessoas atendidas têm uma resposta imediata em relação à testagem. O passo seguinte é uma consulta de pós-aconselhamento em que são realizadas ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e sensibilização da vulnerabilidade a essas infecções.

Balanço positivo

Adalberto da Silva, morador da Casa de Acolhida Cidadã há mais de um ano, já foi atendido pelo projeto e faz um balanço positivo da ação. Ele

destacou o kit que recebeu, contendo uma mochila; itens para cuidado da higiene corporal e bucal; preservativos; folders educativos; e um chinelo. Além do kit, fornecido a todos os que participam do projeto, os indivíduos positivos para HIV são encaminhados para o Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) de Goiânia e recebem um bilhete de ônibus, para que possam receber tratamento.

Até outubro de 2015, em todas as ações realizadas, já foram coletadas amostras de sangue de 319 pessoas, sendo que dez delas apresentaram resultado positivo para HIV, onze para hepatite C, três para hepatite B e 55 para sífilis. O estudo confirmou a hipótese dos pesquisadores: 60% a 80% dos indivíduos testados são usuários de crack. Com base nas informações coletadas, foi constatado ainda que os indivíduos em situação de rua possuem grande necessidade de atendimento odontológico. Por isso, o Núcleo realizou uma parceria com a Faculdade de Odontologia para oferecer tratamento adequado a essa população. O Laboratório de Virologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG (Iptsp) também entrou como parceiro para trabalhar na redução de danos, estratégias de adesão ao tratamento e avaliar as características dos agentes infecciosos identificados.

Os desafios enfrentados pelos integrantes do Núcleo envolvem a sensibilização da população em geral sobre o atual descaso com os moradores de rua e a capacitação dos profissionais de saúde que atuam junto a essas pessoas. Além disso, o objetivo é fazer com que a população de rua busque atendimento de saúde, tenha condições de aderir ao tratamento e seja assistida de forma integral e humanizada.

Necaih

Endereço: Rua 227, quadra 68 Setor Leste Universitário Telefone: 3209-6280 Professor Marcos André coordena ações em parceria com a Semas e a Secretaria da Saúde do Estado de Goiás


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Em Goiás, o Programa Mais Médicos começou em outubro de 2013. Inicialmente a supervisão do programa ficou a cargo da Universidade de Brasília (UnB), sendo que, em março de 2014, a UFG assumiu essa tarefa. Desde então, a UFG é a instituição responsável pela tutoria desses médicos no Estado, dentro do Projeto Mais Médicos. A Universidade participa do projeto com oito professores tutores, que dão apoio acadêmico aos supervisores. Atualmente, 538 médicos integrantes do projeto realizam atendimento nas unidades de saúde em diversos municípios do Estado. Esses médicos são intercambistas individuais

Para a apoiadora institucional do Ministério da Educação (MEC), em Goiás, Cássia Carneiro, a avaliação do programa nesses dois anos é bastante positiva, pois impactou os indicadores do Estado, principalmente os relacionados a óbitos infantis e quantidade de consultas. Ela ressalta que os médicos do projeto não tomaram a vaga de outros médicos. “Não existiam médicos nesses locais”, afirma.

Desafios

A professora do IPTSP, Ana Maria Oliveira, é uma das tutoras do projeto. Segundo ela, a tutoria apresenta muitos desafios, como compatibilizar as atividades com as demais existentes, criar canais de comunicação com os supervisores para a educação continuada e propiciar ferramentas de educação permanente para os supervisores acompanhados pelos tutores. “A minha avaliação é de que ainda temos muitos desafios pela frente, mas a caminhada de mil passos começa com o primeiro. E o primeiro foi dado. Houve mudanças na forma de fazer saúde e na atenção básica; o cuidado em saúde tem chegado em locais nunca antes visitados”, afirma.

Agosto

Dezembro

Janeiro

Maio

Setembro

2015

TUTORES

1

3

4

5

6

7

8

SUPERVISORES

6

15

45

52

55

61

70

MÉDICOS

180 200 347 444 444 527 538

MUNICÍPIOS

68

80

120 132 132 143 144

Regiões de Saúde

12

14

16

Médicos com supervisão

38

141 347 419 438 496 538

Médicos sem supervisão

142

59

Fonte: IPTSP

C

om pouco mais de dois anos de existência, o Programa Mais Médicos, do Governo Federal, que abrange um conjunto de ações e iniciativas para o fortalecimento da atenção básica no país, tem impactado diretamente na vida de milhões de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Instituto de Pesquisas Sociais e Políticas e Econômicas de Pernambuco aponta aprovação de 95% entre as mais de 14 mil pessoas entrevistadas em cerca de 700 municípios. Os pontos mais citados na pesquisa foram mais atenção por parte dos médicos e mais consultas em lugares onde antes, muitas vezes, esse atendimento era inexistente.

oriundos de cerca de 180 países e, também, brasileiros. Os estrangeiros não têm registro nos conselhos regionais de medicina, mas possuem um registro do Ministério da Saúde, que os autoriza a trabalhar com atenção primária no país.

2014

Abril

Angélica Queiroz

Síntese Tutoria de 2014 a 2015

Março

Universidade participa dando apoio aos supervisores, que acompanham o trabalho dos médicos nos municípios

Saúde

UFG supervisiona Programa Mais Médicos

0

17

25

17

6

17

31

Reuben Lago

0

Para Ana Maria Oliveira, com o tempo devem ser criadas vagas permanentes para esses locais onde os supervisionados atendem. Segundo ela, a tendência é a de que haja ampliação da cobertura

no território brasileiro, com médicos com especialização em Saúde da Família. “Isso representa mais acesso da comunidade à assistência médica e, enfim, à atenção básica”, detalha.

Entre as metas do Programa Mais Médicos para o Brasil, está a de que o país saia de 374 mil para 600 mil médicos até 2026, atingindo a meta de 2,7 médicos por mil habitantes. Para formar mais profissionais com qualificação em Atenção Básica, já foram abertas 5,3 mil vagas de graduação distribuidas em universidades federais e instituições privadas, em todas as regiões do país. A meta é de que 11,5 mil novas vagas de graduação sejam criadas até 2017.

teriorização da formação. Nesse contexto, foi autorizada para a UFG a criação de dois novos cursos de Medicina nas Regionais Jataí e Catalão. Em Jataí são oferecidas 60 vagas desde o segundo semestre de 2014. Em Catalão, serão oferecidas 50 vagas e a previsão para o início do curso é 2017. De acordo com a Coordenadora de Projetos Especiais da UFG, Sandramara Matias Chaves, com os novos cursos a Universidade contribui “com a formação de médicos qualificados para atender às necessidades de saúde da população goiana e brasileira”.

Programa impactou na criação de novos cursos de Medicina na UFG

Outro objetivo do Programa é a in-

Como funciona o projeto?

A UFG tem 8 tutores. Cada tutor acompanha e presta orientação acadêmica a um grupo de cerca de 9 supervisores.

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O projeto conta, atualmente, com 71 supervisores, que acompanham o trabalho dos médicos com visitas mensais nas unidades para verificar como está sendo o atendimento e o acompanhamento dos pacientes.

538 médicos, entre intercambistas, cooperados e brasileiros, levam atendimento à 144 municípios goianos.


Pesquisa

Fotos: Divulgação

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UFG representa o Brasil em experimento com neutrinos Experimento NOvA, um dos maiores já concebidos no mundo, tem como objetivo entender o comportamento dessas abundantes partículas elementares Angélica Queiroz

O

Prêmio Nobel de Física 2015, anunciado em outubro, foi concedido a Arthur B. McDonald, da Queen's University, no Canadá, e a Takaaki Kajida, da Universidade de Tóquio, no Japão. Pesquisadores que lideraram experimentos, nos anos 90, sobre oscilação de neutrinos, o assunto do momento na Física. Mas, afinal, o que são neutrinos? Por que eles despertam tanto interesse dos cientistas? Neutrinos são partículas elementares resultantes de reações nucleares e, junto com os fótons, são as partículas mais abundantes no universo: cerca de um trilhão de neutrinos passam por nós a cada segundo. Apesar de abundantes, eles raramente interagem com a matéria, tornando muito difícil sua detecção. Por esse motivo, ainda há muito mistério sobre o comportamento dessas partículas, o que leva cientistas de todo o mundo a dedicarem-se a experimentos sobre o assunto.

A UFG possui um grupo de pesquisadores do Instituto de Física (IF) que estuda os neutrinos, colocando a Universidade como única representante do Brasil em um dos maiores experimentos do momento: o NOvA*, realizado no Fermilab, laboratório de

aceleradores de física de partículas mais importante da América, capaz de produzir o feixe de prótons mais intenso do mundo, o que é excelente para o estudo de neutrinos. O experimento NOvA é uma colaboração composta por 210 cientistas e engenheiros de 39 instituições nos Estados Unidos, Brasil, República Tcheca, Grécia, Índia, Rússia e Reino Unido. O grupo da UFG foi convidado a participar por sua experiência em física de neutrinos e de raios cósmicos. Segundo o professor do IF, Ricardo Gomes, que lidera o grupo brasileiro, os pesquisadores da área estão com as atenções focadas no experimento, um dos maiores já concebidos no mundo, com um detector de PVC e cintilador líquido de 14 mil toneladas: a maior estrutura de plástico autossustentável já feita. Para o professor, entender o comportamento dos neutrinos pode ajudar os pesquisadores a compreender alguns mistérios ainda não desvendados no universo.

Resultados e expectativas

Com pouco mais de um ano de dados do experimento NOvA, que deve coletar informações até 2020, cientistas já comemoram os primeiros resultados, apresentados na conferência da Divisão de Partículas e Campos da Ame-

rican Physical Society em Ann Harbor, Michigan. Segundo Ricardo Gomes, foi observada a primeira evidência de neutrinos oscilando no NOvA, “confirmando que o enorme detector construído para o projeto não apenas funciona tal como o planejado, mas também está fazendo um grande progresso em direção a seu objetivo, o que representa um grande passo na compreensão dessas partículas”. Experimentos de longa distância similares, como o T2K, no Japão, e o MINOS, no Fermilab, recentemente mediram precisamente os parâmetros da oscilação de neutrinos. O NOvA está observando resultados quase equivalentes em um intervalo de tempo mais curto, com apenas cerca de 8% do total de dados esperados para o experimento. “Já conseguimos ter um resultado muito competitivo com relação aos experimentos anteriores”, comemora Ricardo Gomes. O professor explica que a pesquisa não tem aplicações práticas imediatas, mas contribui para a compreensão do universo, embasamento de futuros estudos e formação de recursos humanos. Segundo ele, em breve, cientistas terão a chance de combinar os resultados de neutrinos obtidos por T2K e MINOS com o NOvA, produzindo respostas mais precisas sobre os neutrinos.

*NOvA é uma sigla para NuMI Off-Axis Electron Neutrino Appearance. NuMI, por sua vez, é uma sigla para Neutrinos from the Main Injector – o principal acelerador do Fermilab. O complexo de aceleradores do Fermilab é uma instalação do DOE Office of Science, maior fomentador de pesquisa básica em ciências físicas nos Estados Unidos.

O experimento O feixe de neutrinos gerado no Fermilab, localizado próximo a Chicago, nos Estados Unidos, atravessa um detector no subsolo, chamado de Near Detector, que serve para medir a composição do feixe de neutrinos antes que ele saia do laboratório. A partir daí, as partículas viajam por mais de 800 km através da crosta terrestre, oscilando até Minnesota onde está localizado outro detector, o gigante Far Detector. Aproximadamente uma vez por segundo, o Fermilab envia trilhões de neutrinos para Minnesota, mas apenas alguns, aqueles que realizam alguma interação, são registrados pelo Far Detector. Quando um neutrino se choca com um átomo no detector do NOvA, ele produz um sinal que é bem característico para cada tipo de neutrino: o eletrônico, o muônico ou o tauônico. O feixe original do Fermilab é composto quase que exclusivamente de um tipo de neutrino – o muônico – e cientistas conseguem medir quantos desses neutrinos muônicos desapareceram durante sua jornada e quantos deles reapareceram como neutrinos eletrônicos.

Far Detector é uma das maiores estruturas já construídas para um experimento

O acelerador principal do Fermilab já definiu um recorde mundial de intensidade para um feixe de neutrinos, mas está trabalhando para melhorar ainda mais para o NOvA e o futuro projeto DUNE (Deep Underground Neutrino Experiment), que deve começar em 2020. Pesquisadores esperam alcançar 700 kW no início do próximo ano, acumulando uma enorme quantidade de interações de neutrinos e triplicando a quantidade de dados até o final do próximo ano.


21 Pesquisa

Nanotecnologia pode ajudar em processos de despoluição Wanessa Olímpio

U

ma pesquisa realizada no Massachusetts Institute of Technology (MIT) em busca de novos nanomedicamentos resultou em um novo método que utiliza a luz ultravioleta para, rapidamente, extrair e isolar diversas moléculas contaminantes do solo e da água. A professora da Faculdade de Farmácia da UFG, Eliana Martins Lima, foi uma das responsáveis pela descoberta, junto com os pesquisadores Ferdinand Brandl e Nicolas Ber-

que quanto menor a nanopartícula, maior é a sua capacidade de apreender poluentes.

Para Eliana Martins, os resultados encontrados são importantes para processos de remoção de substâncias tóxicas do meio ambiente, principalmente em desastres e em áreas contaminadas com resíduos da indústria farmacêutica ou de pesticidas. A tecnologia tem, ainda, potencial para aplicações nas áreas farmacêutica, clínica e diagnóstica. “A partir desde princípio, a mesma

Como professora e pesquisadora, é um privilégio levar e elevar o nome da Universidade Federal de Goiás aos mais altos patamares da nossa missão maior, a de contribuir na geração de conhecimento novo e transmiti-lo no processo de formação de nossos alunos e orientandos

A pesquisadora da UFG esteve no MIT em um projeto de colaboração para estudar nanopartículas para a fabricação de nanomedicamentos, sua área de atuação na UFG. Durante as pesquisas, ela e os colegas encontraram um polímero (macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores) que não se mostrou adequado para a produção de medicamentos, mas que acabou servindo de base para a criação de um sistema capaz de eliminar resíduos tanto da indústria farmacêutica, como de outros poluentes do meio ambiente. “Foi uma dessas coincidências felizes”, conta a professora. A aplicação da nanotecnologia ao polímero pelos pesquisadores, inicialmente planejado para a preparação de nanopartículas para o transporte de fármacos a tecidos tumorais, resultava em partículas que sofriam agregação após exposição à radiação ultravioleta, o que abriu perspectivas para a investigação das propriedades destas partículas em adsorver e remover hormônios e outros contaminantes tóxicos do ambiente. Foi observado

Eliana Martins realizou pesquisa no laboratório do professor Robert Langer, no MIT abordagem pode ser utilizada como estratégia não apenas do ponto de vista da toxicologia ambiental, mas, também, da clínica e terapêutica”, afirma a professora.

Nature Communications No dia 21 de julho deste ano, o artigo referente à pesquisa do estágio sênior de pós-doutorado, do qual Eliana Martins é coautora, foi publicado na revista científica Nature Communications, uma das revistas mais lidas na comunidade científica internacional. De acordo com a professora, nas primeiras 48 horas após a publicação online do artigo, ele foi lido mais de 1.700 vezes, replicado em cinco dos maiores sítios de divulgação científica do mundo e compartilhado em contas de re-

des sociais de diversos países ao redor do planeta. “Como professora e pesquisadora, é um privilégio levar e elevar o nome da Universidade Federal de Goiás aos mais altos patamares da nossa missão maior, a de contribuir na geração de conhecimento novo e transmiti-lo no processo de formação de nossos alunos e orientandos”, comemora a pesquisadora. O Pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, José Alexandre F. Diniz Filho, também comemorou a publicação. Segundo, ele as revistas da Nature são, junto da Science, as publicações científicas mais importantes do mundo. “A publicação de um artigo em uma revista assim mostra que alguns pesquisadores da UFG estão fazendo pesquisa de alto nível, internacionalmente reconhecidas e de máxima qualidade”.

Nicolas Bertrand

trand, no laboratório do professor Robert Langer, no Koch Institute for Integrative Cancer Research do MIT.

Divulgação

Polímero, inicialmente planejado para a produção de medicamentos, é base para a criação de sistema capaz de eliminar resíduos do meio ambiente

As moléculas poluentes que não possuem afinidade com a água são atraídas pela superfície da nanopartícula, que também não possui afinidade com a mesma. Quando ocorre a aglomeração e precipitação das partículas induzidas pela radiação, as moléculas contaminantes são capturadas pela superfície das nanopartículas e depois removidas do meio


Extensão

22 processo terapêutico que consiste em vários encontros com frequência semanal. O paciente passa pelo acolhimento, pela entrevista musicoterapêutica, por avaliações que ocorrem durante todas as etapas do tratamento, por sessões de musicoterapia e, por fim, a alta.

Laborinter

Atendimentos são realizados por estagiários do curso de Musicoterapia, sob supervisão de professores

Terapia que vem da música Projetos de extensão do curso de Musicoterapia da Escola de Música e Artes Cênicas oferecem diversas ações à comunidade Lorena de Sousa

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Atualmente sob a coordenação da professora Tereza Raquel Alcântara-Silva, a Clínica de Musicoterapia foi criada em 1993 para atender demandas das turmas de especialização da Emac/UFG, ganhando força com a implantação do curso de graduação em Musicoterapia, em 1999. O local funciona como campo de estágio para os acadêmicos do curso e abriga, além da extensão, pesquisas de graduação e pós-graduação.

O campo de atuação do musicoterapeuta é extenso. A musicoterapia pode ser utilizada em indivíduos de qualquer idade, sem qualquer conhecimento musical prévio e se aplica tanto à prevenção quanto ao tratamento de doenças. Apesar de ofertado pela EMAC, Tereza Raquel Alcântara-Silva, coordenadora do curso de Musicoterapia, explica que ele integra a área da saúde, pois lida com aspectos de prevenção e tratamento de estados de adoecimentos e manutenção da saúde. Para ela, é importante enfatizar tal definição para compreender melhor o trabalho musicoterapêutico.

Clínica de Musicoterapia Para ter acesso ao atendimento na clínica, é preciso entrar em contato pelo e-mail amusicoterapiaemacufg@gmail.com ou pelo telefone (62) 3209-6090 e agendar uma entrevista inicial. Não há necessidade de conhecimentos musicais prévios e o tratamento é gratuito.

“O espaço está aberto para receber a comunidade interna e externa da UFG, por meio de encaminhamentos de profissionais, principalmente das áreas da saúde e da educação, além de demanda espontânea”, garante Tereza Raquel Alcântara-Silva. Os atendimentos são realizados, principalmente, por estagiários do curso de graduação em Musicoterapia sob a supervisão clínica semanal de professores do curso. O tratamento ocorre por meio de um

As ações envolvem diversas atividades de sensibilização utilizando temas relacionados à saúde. No ano passado, o projeto realizava, no mínimo, uma intervenção mensal dentro de escolas. “Com as ações dentro das escolas, começamos a ter o entendimento de que seus atores se sentem ilhados dentro da comunidade, então lançamos como proposta trabalhar os parceiros que estão envolta dela”, afirma Sandra Rocha. Dentro desta perspectiva, neste ano, diversas atividades de formação e capacitação têm sido oferecidas à equipe do laboratório. Fotos: Laborinter

estinado a habilitar profissionais musicoterapeutas desde 1999, o curso de Musicoterapia da Universidade Federal de Goiás (UFG) proporciona ao aluno uma formação interdisciplinar, que envolve conhecimento de três grandes áreas: música, que é sua linguagem principal; saúde e psicologia. Empenhados em levar esse trabalho até seu público-alvo, ações de extensão têm sido criadas e consolidadas por professores musicoterapeutas da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) e alunos de diferentes áreas de formação, dispostos a trabalhar para atender as demandas da comunidade.

Clínica de Musicoterapia

O Laboratório Interdisciplinar de Educação em Saúde Comunitária (Laborinter) conta com uma equipe interdisciplinar formada por alunos dos cursos de Musicoterapia, Pedagogia, Ciências Sociais, Artes Cênicas, Direção de Arte e Odontologia. São realizadas ações musicoterapêuticas de intervenção breve em espaços escolares e comunitários como creches, praças, entre outros locais, estabelecendo parcerias com instituições e pessoas dos territórios atendidos. A coordenação do Laborinter está nas mãos da professora e musicoterapeuta Sandra Rocha do Nascimento.

Ações envolvem atividades de sensibilização com temas relacionados à saúde

Laborinter Qualquer membro da comunidade pode solicitar o trabalho do Laborinter entrando em contato por meio do e-mail laborintereducarsaude@gmail.com ou do telefone da coordenadora do projeto, (62) 8186-5023. Todas as ações são gratuitas.


23 COMUNIDADE PERGUNTA

Programa fornece instrumentos odontológicos para estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica para cursar disciplinas práticas Cleomar Rocha, professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG

Fotos: Carlos Siqueira

As Faculdades de Odontologia e de Farmácia comemoraram 70 anos em 2015. Como isso é possível, já que a UFG faz 55 anos em 2015?

Verba do Pnaes possibilita empréstimo de intrumentos para aulas práticas Italo Wolff

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Programa Instrumental Odontológico de Incentivo à Permanência, desenvolvido pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (Procom) e a Faculdade de Odontologia (FO) da UFG, possibilita o custeio de instrumentos odontológicos àqueles alunos que se encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Utilizando verbas do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), o programa, que faz parte do conjunto de ações de apoio ao discente, contempla atualmente 36 alunos com instrumental clínico e laboratorial – 12,4% do total de alunos matriculados no Curso de Odontologia da UFG. Segundo a diretora da Faculdade de Odontologia, Enilza Maria Mendonça de Paiva, “as listas de instrumental, requisito para aulas práticas, mesmo em universidades públicas, representam barreiras na escolha da profissão e dificuldades para famí-

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lias de baixa renda”. Com o suporte do programa, os alunos contemplados recebem esses materiais, utilizam-nos no decorrer do curso e os devolvem para a instituição quando sua necessidade for superada. Para a diretora da FO, o programa tem vantagens comprovadas pela evasão universitária nula entre os alunos beneficiados. O programa vem crescendo desde sua criação, em 2009, ano em que contemplou cinco dos 60 alunos ingressantes. Enilza Paiva explica que este movimento busca acompanhar o aumento da política de cotas, já que em 2016, 50% das vagas serão destinadas a alunos cotistas. O programa é tido como exemplo e já despertou atenção de outras universidades, sendo debatido em eventos, como o Encontro Regional do Fórum Nacional de PróReitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), no qual o Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária, Elson Ferreira de Morais, explicou a pró-reitores de outras universidades seu funcionamento.

Nelson Cardoso Amaral , Assessor Especial da Reitoria A UFG foi criada em 1960, com a união de cinco escolas superiores existentes em Goiânia. A Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goiás era uma delas. Ela foi criada em 1945, por isso a unidade comemora em 2015, 70 anos, e não 55, como a UFG. As outras quatro escolas superiores eram: a Faculdade de Direito de Goiás, criada em 1898, na Cidade de Goiás, com o nome de Academia de Direito de Goyaz; a Escola de Engenharia do Brasil Central, autorizada a funcionar em 1954; a Faculdade de Medicina de Goiás, autorizada a funcionar em abril de 1960; e o Conservatório Goiano de Música, originalmente Instituto de Música, criado em 1955. Essas unidades acadêmicas, no ato de criação da UFG, passaram a denominar-se, respectivamente, Faculdade de Farmácia e Odontologia, Faculdade de Direito, Escola de Engenharia, Faculdade de Medicina e Conservatório de Música.

Serviço

Programa incentiva permanência de estudantes de Odontologia


24 Esporte

Badminton ganha adeptos no Brasil O esporte é o segundo mais praticado no mundo, mas só agora os brasileiros estão se interessando pela modalidade Wanessa Olímpio

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esde fevereiro deste ano, o Centro de Esportes Câmpus Samambaia promove um Projeto de Extensão que oferece aulas gratuitas de badminton para estudantes da Universidade e para pessoas da comunidade. Tudo começou com a ex-aluna do curso de Educação Física da UFG, Marianne Sousa, praticante de badminton desde os 13 anos de idade. “Dentro da faculdade, os meus professores sabiam que eu trabalhava com esse esporte, que é novo no Brasil, então a maioria dos meus trabalhos e a maioria das aulas experimentais que eu tinha que dar, o envolvia. O meu Trabalho de Conclusão de Curso também foi sobre a modalidade”, informou a licenciada.

O fato de o badminton ser um esporte pouco praticado no país despertou a curiosidade do estudante de Relações Públicas da UFG, Wildson Messias. Ele começou a participar dos treinos na Universidade em abril deste ano. “Quando eu pratiquei pela primeira vez ,percebi que é um esporte que trabalha com todo o corpo, inclusive com sua concentração. Além de ser bem divertido e de fácil aprendizado. Quando temos treinos o movimento é constante e, inclusive, consegui manter meu peso apenas com o badminton, mas isso exi-

ge dedicação”, explicou Wildson Messias.

A prática do esporte pode trazer alguns benefícios específicos para a saúde, de acordo com o Presidente da Federação Goiana de Badminton e professor de Educação Física, Saulo Soares: “O badminton é o esporte de raquete que mais queima calorias e ajuda quem tem problema de déficit de atenção. Pode ser jogado nas escolas, pois faz a criança focar na peteca”, explicou.

Paraolimpíadas

A partir de 2020, o badminton fará parte das paraolimpíadas, no Japão.

Marianne Sousa, que é deficiente física, está se preparando para conseguir uma vaga. “Eu estou em período de treinamento e, sempre que possível, vou aos campeonatos. Em 2013 fui a Teresina, no Piauí, foi o primeiro campeonato que joguei para-badminton. Nunca tinha jogado com outros deficientes”, explicou a atleta. Nesta competição, ela ficou em terceiro lugar na categoria feminino simples, individual, e em primeiro lugar em dupla com outro colega. Mas, como todo atleta amador de nosso país, Marianne Sousa está à procura de patrocínio para auxiliá-la nas despesas com o treinamento e as viagens para os campeonatos, para assim conseguir ter classificação no ranking de para-atletas. “Nos treinamentos, eu tenho me dedicado o máximo possível, mas viajar com o dinheiro próprio é complicado. E a maioria das competições é fora do Estado”, ressalta a atleta.

Badminton na UFG

Fotos: Adriana Silva

Após Marianne Sousa terminar a graduação, surgiram demandas de alunos de outros cursos com interesse em praticar o esporte e, assim, iniciou-se o projeto. Hoje, ela e seu pai, Saulo Soares, Presidente da Federação Goiana de Badminton, conduzem os treinos na UFG. O Centro de Esportes Câmpus

Samambaia foi inaugurado no ano passado com a proposta de incentivar a prática esportiva na comunidade acadêmica. De acordo com o coordenador de Esporte e Lazer e professor da Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD), Juracy da Silva Guimarães: “uma das primeiras coisas que nós fizemos questão foi buscar práticas que fugissem do convencional, que não ficassem restritas ao futebol de salão, basquete e vôlei. O badminton veio como uma dessas possibilidades”, afirmou Juracy Guimarães.

Projeto de Extensão oferece aulas gratuitas de badminton para comunidade acadêmica da UFG

Local: Centro de Esportes Samambaia. Contato: (62) 3521-1526 Horário: Terça-feira, das 14h às 16h; Domingo, das 9h às 12h Inscrição: Gratuita

Características O badminton é um esporte olímpico, originário na Índia e muito popular nos países asiáticos e europeus. Semelhante ao tênis, pode ser jogado entre duas duplas ou entre duas pessoas. Os instrumentos utilizados são uma raquete, uma rede e uma peteca. O objetivo do jogo é fazer com que a peteca caia no campo do adversário para marcar um ponto. A partida é composta por três sets de 21 pontos cada. A equipe que vencer dois dos três sets, ganha o jogo.


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